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6) DA DETENÇÃO
a) Introdução
Nosso Código Civil adotou a teoria objetiva, como já visto, e não distinguiu estruturalmente a posse da detenção. Apenas criou obstáculos objetivos para diferenciar ambos institutos. A princípio, quem reúne poderes fáticos sobre a coisa, semelhantes aos poderes do proprietário, é possuidor. Somente não o será se uma barreira legal, criada pelo legislador, retirar os efeitos possessórios de tal comportamento.
b) Obstáculos legais que degradam situações de posse, rebaixando-as para detenção:
1º. Servidão de Posse (art. 1198 do CC). Primeiro obstáculo que retira de uma situação tipicamente possessória os seus efeitos naturais, rebaixando-a para detenção. Trata-se do caso do fâmulo ou servo da posse, ou seja, aquele que, achando-se em relação de dependência para com outro, conserva a posse em nome deste, em cumprimento de ordens e instruções suas. É o detentor da posse alheia, por isso essa figura recebe os nomes de servidão da posse, detenção dependente e detenção subordinada. Ex1: Do operário em relação às ferramentas e utensílios do patrão que ele usa em seu mister. Ex2: Do empregado que zela pelos objetos do patrão e os conserva. Ex3: Do caseiro de chácara.
2º. Atos de Mera Permissão (art. 1208). Permissão é a declaração de vontade do possuidor pela qual este, sem renunciar à posse nem fazer nascer para si qualquer obrigação que anteriormente não existia, confere a terceiro – o detentor – a faculdade de realizar, com relação à coisa, atos que, sem isso, seriam ilícitos. Exemplos clássicos são os empréstimos momentâneos de coisas, sem que o possuidor perca o controle sobre elas. Ex: Alguém que recebe um hóspede em sua residência, cedendo-lhe o uso de um cômodo por curto período.
3º. Atos de Tolerância (art. 1208). Tolerância é o comportamento de inação, omissivo, consciente ou não do possuidor que, mais uma vez, sem renunciar a sua posse, admite a atividade de terceiro em relação à coisa ou não intervém quando ela acontece. Caracteriza-se por uma mera indulgência, uma simples condescendência, não implica transferência de direitos. Ex: Alguém utiliza, diariamente, terreno de possuidor para pastagem de seu semovente.
4º. Atos violentos ou clandestinos (art. 1208, primeira parte). Dizem respeito às detenções autônomas e ilícitas. Para a doutrina tradicional (Clóvis Bevilaqua), seriam casos não de detenção, mas sim de posse injusta e inábil para usucapião, enquanto não cessada a violência ou clandestinidade. Pelo Código Civil anterior, a partir do momento que a violência e a clandestinidade cessassem, a posse começaria a firmar-se utilmente (posse justa), desde que, passados anos, não fosse o possuidor despojado dela, simplesmente, por esse vício originário. 
Outros autores, com pouca variação, atestam que a violência e a clandestinidade, enquanto perduram, tornam a posse injusta. Cessados os vícios, nasce a posse justa; ela convalesce como se nunca tivesse sido viciada. Para Carvalho Santos, a posse passa a ser útil, como se nunca tivesse sido eivada de tal vício. Esse possuidor adquire a posse para a usucapião. (J.M Carvalho Santos – Código Civil Brasileiro interpretado - 11ª edição, vol VII). Diz o doutrinador: "o que quer dizer que desde que a violência cessou, os atos de posse daí por diante praticados constituirão o ponto de partida da posse útil, como se nunca tivesse sido eivada de tal vício".
Segundo doutrinadores que criticam a doutrina tradicional, a parte final do art. 1208 do CC não alude à posse injusta ou inábil para usucapião, mas dispõe que os atos violentos ou clandestinos não autorizam a aquisição da posse, enquanto não cessarem seus ilícitos. Para eles, trata-se de mais um obstáculo que degrada uma situação aparentemente possessória, aviltando-a em detenção, dispondo que somente no momento em que cessam os vícios é que nasce a posse, mas injusta. Tal doutrina, que parece assistir à razão, é muito bem explanada pelo Desembargador do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo Francisco Eduardo Loureiro, quando tece seus comentários ao artigo 1.208, do Código Civil Comentado (editora Manole – ed. 2007, página 1.008): "Via de conseqüência, nos exatos termos da segunda parte deste artigo, enquanto perduram a violência e a clandestinidade, não há posse, mas simples detenção. No momento em que cessam os mencionados ilícitos, nasce a posse, mas injusta, porque contaminada de moléstia congênita. Dizendo de outro modo, a posse injusta, violenta ou clandestina, tem vícios ligados a sua causa ilícita. São vícios pretéritos, mas que maculam a posse mantendo o estigma da origem. Isso porque, como acima dito, enquanto persistirem os atos violentos e clandestinos, nem posse haverá, mas mera detenção."
Uma outra posição defendida por grandes juristas como Silvio Rodrigues, Maria Helena Diniz e Flávio Augusto Monteiro de Barros, sustenta que a posse injusta pode, sim, transformar-se em justa, basta que se passe ano e dia de quando cessar a violência, ou de quando a posse se tornar pública. Essa posição não ficou imune às críticas. O lapso temporal de ano e dia é notoriamente reconhecido para a questão do possuidor mantido na posse sem ter contra ele uma liminar, devido à contumácia do antigo possuidor, que deixou ultrapassar mais de ano e dia para bater nas portas do judiciário (posse velha: mais de ano e dia – ações possessórias seguem o rito ordinário; posse nova: menos de ano e dia e permite a concessão de liminar, pelo rito especial, art. 928 do CPC). Tanto que, mesmo depois de ano e dia, o proprietário esbulhado pode recuperar a coisa mesmo depois desse prazo.
Já Flávio Tartuce e José Fernando Simão entendem que a análise da cessação dos vícios, e possibilidade de convalidação ou não, dever ser feita à luz da função social da posse, diante de caso a caso. Posição de grande peso, porém, muito moderna, tendente a angariar muitos adeptos por ser convidativa.
Conciliando tudo o que acima foi dito com o artigo 1.203, do Código Civil, chega-se à conclusão de que a presunção de que a posse mantém o mesmo caráter com que foi adquirida, trazida pelo o dispositivo legal, é relativa. Diante disso, basta fazer prova de que cessaram os atos de violência, e de que a posse passou a ser pública, e o sujeito, então, quebra a presunção da posse viciada.
OBS1. Todas as espécies de detenção são iguais? 
Primeiramente é preciso ressaltar que existem duas espécies de detenção. A primeira delas, considerada dependente e lícita, é aquela trazida pelo Código Civil, no artigo 1.198, em que se considera detentor aquele que, achando-se em uma relação de dependência para com outro, conserva a posse em nome deste e em cumprimento de ordens ou instruções suas. ("fâmulo da posse"). Considera-se, também, detenção dependente e lícita aquela derivada de mera permissão ou tolerância. Já a detenção, oriunda da violência ou clandestinidade, pertence a outra espécie de detenção, chamada de detenção autônoma ou interessada, que também é considerada ilícita.
OBS2: Em que momento é considerada cessada a violência ou a clandestinidade?
A violência (à coisa ou pessoa) cessa quando o antigo possuidor (esbulhado), diante da ciência do vício, não mais resiste à violência (deixa de resistir seja por deixar de exercer a autotutela, ou autodefesa, seja por não se valer dos interditos possessórios para a defesa de sua posse, seja por transacionar com o esbulhador), ou ainda, quando a posse transmuda das escuras, do ilícito, para o conhecimento do esbulhado ou conhecimento público. 
OBS3: 
Posse violenta (vi) é aquela adquirida por ato de força, natural ou física (vis absoluta), ou ameaça (vis compulsiva). A violência física supõe a ausência de vontade daquele que foi usurpado. A ameaça, ou violência moral, deve ser séria e injusta, de modo que o usurpado entrega a coisa para não sofrer o mal pretendido. Conseqüência disso é que não constituem atos de violência o exercício regular de um direito ou mesmo o temor reverencial. Embora haja controvérsias, entende-seque a violência contra a coisa também estigmatize a posse, pois se trata de ilícito. À posse violenta se contrapõe a posse mansa e pacífica, ou tranqüila, não só durante a aquisição, como também durante a sua persistência, o que é importante para fins de usucapião. Exemplo de exercício regular de direito: Credor que, avisando o devedor que remeterá o título a protesto, ou ajuizará ação de cobrança, e recebe dação em pagamento, com transferência da coisa adquirida, não pratica ato violento.
OBS4 - Posse clandestina (clam) é aquela adquirida via processo de ocultamento, de ilícito, em relação àquele contra quem é praticado o apossamento. Oculta-se da pessoa que tem interesse em retomar a posse, embora possa ser ela pública para os demais. Cessa a clandestinidade quando a posse torna-se pública e nasce para a vítima (esbulhado) a possibilidade de conhecer o esbulho. Portanto, não é necessária, ao esbulhado, a ciência inequívoca de que a coisa acha-se nas mãos do possuidor injusto, segundo melhor entendimento.
OBS5: Importante observar que, embora o detentor não tenha direito à tutela possessória para a sua defesa, por ser mero instrumento de terceiro, existe uma única exceção, o caso do ocupante violento ou clandestino fazer jus à tutela possessória contra ataque injusto de terceiros, que não a vítima, de quem obteve o poder imediato de modo vicioso, segundo entendimento atual.
c) Ilegitimidade do detentor para ações possessórias
O detentor não tem independência, porque exerce o poder de fato sobre a coisa por conta, ordem e em razão de interesse alheio. Assim, se o esbulhador invade um terreno que é guardado por um preposto, este pode exercer a autotutela, mas em nome do possuidor. Caso seja vencido em sua resistência, a legitimidade para ajuizamento de ações possessórias é do possuidor e não do detentor. 
A autotutela trata de um meio de autodefesa, exercido segundo o critério de proporcionalidade, atuando em duas situações: legítima defesa e desforço incontinenti. Tais atos de defesa devem ser moderados e mediante o uso dos meios necessários (art. 1210, parágrafo primeiro do Código Civil).
d) Principais distinções entre Posse Direta e Detenção
1º. A tutela possessória somente pode ser invocada pelo possuidor, nunca pelo detentor;
2º. O possuidor direto, embora tenha a obrigação de devolver a coisa ao possuidor indireto após certo tempo, enquanto permanece com ela tem certa autonomia e exerce poderes imediatos em proveito próprio. Já o detentor não goza de independência nem de autonomia; age ele em proveito, por conta do possuidor; dá à coisa o destino e a utilização que lhe determina o possuidor.
e) Presunção Relativa da Detenção
O comportamento do detentor, agindo em relação de dependência para com outro, faz presumir a detenção, até prova em contrário. Portanto, quem assim age, presume-se detentor, cabendo-lhe o ônus da prova, porque a presunção é relativa de demonstrar o contrário.
7) DA POSSE JUSTA E INJUSTA
a) Definição
Posse Justa é aquela não marcada pelos vícios da violência, clandestinidade e precariedade. A injusta, por sua vez, é o inverso.
Devido à dificuldade do intérprete de lidar com as enumerações dos vícios da posse, a jurisprudência alargou as hipóteses, para chegar ao que preconiza Marcus Vinicius Rios Gonçalves, que assim define:
“Posse viciosa é aquela obtida por esbulho, contra a vontade do possuidor anterior, por meios ilícitos, ainda que não se consiga a priori enquadrá-la em nenhuma das situações previstas no art. 1200 do Código Civil” (Gonçalves, Marcus Vinicius Rios. Dos vícios da posse. São Paulo, Oliveira Mendes, 1998, p. 50)
O que importa para a caracterização dos vícios é a razão, a forma da aquisição da posse (causa possessionis).
Marcus Vinicius Rios Gonçalves, em sua obra que esgotou o tema (Dos vícios da posse, 3ª edição – Editora Juarez de Oliveira), critica o Código Civil no momento em que taxa os vícios da posse nessas três hipóteses. Assevera que: "se o Código Civil limitasse os vícios da posse àquelas três, chegar-se-ia à conclusão de que o que esbulhou a céu aberto, sem empregar violência, ou sem abusar da confiança, não tornou viciosa a posse que adquiriu." Continua o Ilustre Magistrado Paulista: "melhor seria que o Código Civil Brasileiro tivesse também optado por uma solução genérica, estabelecendo que a posse é viciosa sempre que oriunda de esbulho, ou seja, sempre que obtida contra a vontade do anterior possuidor, por meios ilícitos. Infelizmente, o novo Código Civil manteve a sistemática antiga, de enumeração dos vícios". O autor sugere seguir o Código Civil Alemão e o Código Civil Suíço, que adotaram a forma genérica.
b) Dos vícios (art. 1200, do CC)
1º. Posse violenta (vi) é aquela adquirida por ato de força, natural ou física (vis absoluta), ou ameaça (vis compulsiva). A violência física supõe a ausência de vontade daquele que foi usurpado. A ameaça, ou violência moral, deve ser séria e injusta, de modo que o usurpado entrega a coisa para não sofrer o mal pretendido. Conseqüência disso é que não constituem atos de violência o exercício regular de um direito ou mesmo o temor reverencial. Ex: Credor que, avisando o devedor que remeterá o título a protesto, ou ajuizará ação de cobrança, e recebe dação em pagamento, com transferência da coisa adquirida, na pratica ato violento.
OBS1: Embora haja controvérsias, entende-se que a violência contra a coisa também estigmatize a posse, pois se trata de ilícito.
OBS2: À posse violenta se contrapõe a posse mansa e pacífica, ou tranqüila, não só durante a aquisição, como também durante a sua persistência, o que é importante para fins de usucapião. É claro que a resistência do possuidor legítimo à eventual turbação, ou esbulho, não torna injusta a posse. Nesse caso, a autotutela do possuidor molestado é lícita, amparada pelo art. 1210, § 1º, do CC.
2º. Posse clandestina (clam) é aquela adquirida via processo de ocultamento, de ilícito, em relação àquele contra quem é praticado o apossamento. Oculta-se da pessoa que tem interesse em retomar a posse, embora possa ser ela pública para os demais.
OBS1: Cessa a clandestinidade quando a posse torna-se pública e nasce para a vítima (esbulhado) a possibilidade de conhecer o esbulho. Portanto, não é necessária, ao esbulhado, a ciência inequívoca de que a coisa acha-se nas mãos do possuidor injusto, segundo melhor entendimento.
3º. Posse Precária (precário) é aquela em que o possuidor recebe a coisa com a obrigação de restituí-la e, abusando da confiança, deixa de devolvê-la ao proprietário, ou possuidor legítimo. O vício inicia-se no momento em que o possuidor se recusa a devolver o bem a quem de direito. A posse que era justa, tornou-se injusta. Torna-se injusta não porque mudou somente o animus do possuidor, mas porque mudou a causa, a razão pela qual se possui. Via de regra, a posse precária nasce da posse direta, no momento em que há quebra do dever de devolução da coisa. A posse direta não é precária, porque sua causa é lícita, entregue que foi pelo possuidor indireto. Ex: Comodato. A posse é justa durante o prazo convencionado, porque há uma razão jurídica que justifique a posse, vale dizer que a sua causa é lícita. Expirado o prazo convencional, a posse que era justa torna-se injusta, porque houve quebra do dever de restituição, desapareceu a razão jurídica que amparava a posse e praticou o possuidor, agora precário, ato ilícito contra o ex-possuidor.
OBS: 
1º. No que se refere à temporariedade ou perpetuidade dos vícios, a doutrina tradicional diz que a clandestinidade e a violência são temporários, mas o vício da precariedade nunca convalesce (RODRIGUES, Silvio. Direito civil, 27. ed. São Paulo, Saraiva, 2003, v. V, p.29). Há nessa posição, segundo doutrinadores que contrariam referida teoria, um erro de perspectiva, pois entendem que enquanto perdurar a clandestinidade e a violência, nem posse existe, mas mera detenção. Quando cessam é que nasce a posse injusta. Aposse injusta somente se converte em justa se se mudar o que ela tem de ilícito, ou seja, a sua causa. Logo, somente com a inversão da causa possessionis, da razão pela qual se possui, é possível a conversão da posse injusta para justa, porque se retira a ilicitude de sua origem. Tome-se como exemplo o caso do esbulhador clandestino, violento ou precário que consegue com a vítima um prazo para a desocupação da coisa, mediante contrato de comodato. No ato de esbulho, devido à existência dos vícios, não havia posse, mas mera detenção. Cessados os vícios, surge a posse injusta (causa - vícios). A posse injusta converte-se em justa, porque mudou sua causa (causa – contrato de desocupação). Porém, presume-se manter a posse o mesmo caráter com que foi adquirida, salvo prova em contrário (art. 1203 do CC). Pode ser convertida a posse justa em injusta e vice-versa, mas o ônus da prova cabe ao possuidor. A só vontade do possuidor, porém, não altera o caráter viciado da posse. Há necessidade de inversão do título, com alteração de fundamento jurídico, ou ato manifesto de contradição.
2º. Com relação aos efeitos da posse injusta, causa espanto a possibilidade de gerar benefícios a quem praticou um ato ilícito. A mácula dos vícios, na verdade, acarreta ao esbulhador uma conseqüência negativa fundamental: a possibilidade de perder a coisa para o esbulhado, que pode retomá-la pela autotutela ou usando os interditos possessórios. Gera, porém, a posse injusta, efeitos positivos para o possuidor, como a tutela possessória perante terceiros ou mesmo em decorrência de um ato ilícito da vítima, para evitar a disseminação de novos atos ilícitos. Se o possuidor estiver de boa-fé, sua posse, apesar de viciada, gerará inúmeros outros efeitos em relação ao esbulhado, como indenização por benfeitorias, ou percepção de frutos.
3º. A posse injusta pode ser ad usucapionem? 
Alguns autores dizem que a posse deve convalescer (passar de injusta para justa), ou ter purgados os vícios (devem cessar os vícios), para gerar usucapião. Não é bem assim. As posses violenta e clandestina (injustas em decorrência dos vícios e que se mantêm como injustas por sua causa original), na verdade, somente nascem quando cessam os ilícitos. Enquanto perduram, são simples detenção. O que se exige é que durante o prazo necessário à usucapião não haja atos violentos ou clandestinos, embora a posse seja injusta, porque a sua causa original é ilícita. Prova intuitiva e maior disso é que, se alguém invadir com violência uma gleba de terras e, cessada a reação do esbulhado (deixar de resistir), permanecer por mais quinze anos sem ser molestado (posse mansa, pacífica, pública, contínua e com animus domini), terá usucapião, apesar da injustiça original de sua posse. Nessa linha, a posse injusta, que possui seu vício na origem, com a consumação dos requisitos da usucapião, passa a ser posse justa (e não quando cessados os vícios), pois a prescrição aquisitiva é modo originário de adquirir a propriedade, sanando qualquer vício que a acompanhe.
4º. A posse precária pode gerar usucapião? 
A precariedade é imprestável para usucapião não porque é injusta, mas porque o precarista não tem animus domini, uma vez que reconhece a supremacia e o melhor direito de terceiro sobre a coisa. Caso, porém, não reconheça ou deixe de reconhecer essa posição e revele isso de modo inequívoco e claro ao titular do domínio, para que este possa reagir e retomar a coisa, nasce, nesse momento, o prazo para usucapião, porque o requisito do animus domini estará então presente. Na lição de Lenine Nequete, há uma inversão da causa da posse, “mas os fatos de oposição, por seu turno, devem ser tais que não deixem dúvida quanto à vontade do possuidor de transmudar a sua posse precária em posse a título de proprietário e quanto à ciência que dessa inversão tenha tido o proprietário: pois que a mera falta de pagamento de locatícios ou outras circunstâncias semelhantes das quais o proprietário não possa concluir claramente a intenção de se inverter o título não constituem atos de contradição eficazes”. (Da prescrição aquisitiva, 3. ed., Porto Alegre, Ajuris, p. 123). Lembre-se de que o art. 1238, que trata do usucapião extraordinário, não exige posse justa e dispensa expressamente a boa-fé. A alusão à falta de boa-fé nada mais é do que a ignorância dos vícios que maculam a posse.
08) DA POSSE DE BOA-FÉ
Para o Código Civil de 2002, existem duas espécies de boa-fé: a boa-fé objetiva e a subjetiva.
a) Boa-fé objetiva: prevista como cláusula geral nos arts. 113 e 442 do CC, consistente em uma norma de conduta eivada de um mínimo ético e leal (boa-fé conduta), de modo a não fraudar a confiança, as justas expectativas que os atos e negócios jurídicos despertam na contraparte.
b) Boa-fé subjetiva: estado de ignorância dos vícios que atingem determinada situação jurídica (boa-fé ignorância). No caso específico da posse, é a ignorância dos vícios ou dos obstáculos impeditivos à aquisição da coisa.
OBS: Basta a ignorância do vício (concepção psicológica) ou é exigível um estado de ignorância desculpável (concepção ética) para a caracterização da boa-fé?
R: O melhor entendimento é que somente o erro escusável (desculpável) é compatível com a boa-fé, para evitar que a pessoa mais previdente sofra as conseqüências negativas de conhecer aquilo que ignora o relapso. Isto significa que só persiste a boa-fé enquanto o possuidor não sabia e nem tinha como saber o vício que ela tem. Assim, se o possuidor desconhece, mas por um erro não escusável, a posse já é de má-fé.
c) Sistema Canônico da Boa-fé
Nosso direito adotou o sistema canônico, de modo que não basta a boa-fé no momento de aquisição da posse, mas se exige a continuidade de tal qualidade. No exato momento em que cessa a boa-fé, porque o possuidor passa a conhecer o vício que afeta a sua posse, cessam ex nunc os efeitos benéficos da situação anterior, tais como a percepção de frutos, a indenização por benfeitorias ou o direito de retenção.
A posse de má-fé (consciência da existência dos vícios) superveniente, porém, não tem o condão de afetar as vantagens pretéritas hauridas quando ainda se ignorava o vício, que continuam a regular-se pelas regras da posse de boa-fé.
d) Presunção Relativa da Boa-fé para o possuidor com Justo Título
A presunção da boa-fé para o possuidor com justo título é relativa. Isto significa que pode ser destruída por prova de quem pretende retomar a coisa, de que o possuidor, apesar de munido de justo título, conhecia dos vícios de sua posse, ou, então, quando a própria lei não admitir a presunção.
Justo Título é uma causa jurídica que justifica a posse, é sua razão eficiente. Pode ser um compromisso de compra e venda, um contrato de locação, um contrato de comodato, ainda que verbal.
O termo justo título não é unívoco no Código Civil, tanto que para efeito de usucapião ordinário (art. 1242), a expressão justo título tem outro significado, qual seja, o título potencialmente hábil para transmissão da propriedade, mas que não o faz pela existência de vício substancial ou formal. Ex: O comodatário e o locatário têm justo título para efeito de presunção e boa-fé, mas não para gerar usucapião.
e) Perda da Boa-fé
Tendo em vista que a ignorância do vício que macula a posse é um elemento interior, cuja prova nem sempre á fácil, o legislador preocupou-se com sinais, evidências e presunções de boa-fé.
Embora o possuidor com justo título tenha a presunção relativa de boa-fé, o justo título não é requisito para a posse de boa-fé. O desconhecimento do vício funda-se, via de regra, em um erro de fato ou de direito. Se há uma razão jurídica que justifique a posse, o erro, a princípio, será escusável, nascendo daí a presunção relativa de boa-fé.
Não havendo justo título, ainda assim cabe ao retomante demonstrar a má-fé do possuidor. Essa prova, porém, torna-se mais fácil, decorrente das circunstâncias indicativas do conhecimento do vício pelo possuidor, como por exemplo,a confissão do possuidor de que nunca teve título, nulidade manifesta do título e existência de instrumentos repugnantes à legitimidade da posse em poder do possuidor.
A posse de boa-fé pode transmudar-se em posse de má-fé, tendo como marco o momento em que as circunstâncias do caso concreto indiquem o conhecimento dos vícios. Constituem marcos dessa mudança em especial a citação em processo judicial ou notificação formal ao possuidor, quer judicial, quer extrajudicial. Nada impede, porém, que se faça, ainda que por testemunhas, prova de que conhecia o possuidor os vícios que afetavam sua posse.
OBS: A ação judicial movida pelo retomante contra o possuidor implica necessariamente a posse de má-fé?
R: Via de regra sim, porque será, na pior das hipóteses, o marco da ciência dos vícios que afetam a situação jurídica. Em casos especiais, nos quais houver fundada dúvida sobre a legitimidade da posse, pode a boa-fé persistir após a citação. Basta que o possuidor, apesar de ciente do pleito judicial, confie na qualidade de sua posse, não admitindo, por sólidas razões, os argumentos do retomante.
09) DA POSSE AD INTERDICTA
É a posse que admite, em sua defesa, a utilização dos Interditos Possessórios, e um dos requisitos para a concessão será a existência da melhor posse (causa possessionis), porém não admite a aquisição da propriedade por usucapião; inexiste a intenção de ser dono, o elemento animus. Ex: posse do locatário, do depositário, do comodatário. 
Dessa feita, chega-se ao raciocínio de que a posse justa é extremamente relevante para a disputa entre possuidores. O titular de posse justa pode obter a proteção possessória, inclusive contra o proprietário que lhe deseja esbulhar ou turbar a posse, pois tem a melhor posse. Em rigor, a posse que não é eivada de vícios possui proteção possessória. Pode até ser que, posteriormente, ao final da ação, não lhe seja deferida a posse, porém, durante o trâmite processual, ela será protegida pelo fato de ter melhor posse. 
Isso não ocorre com a posse injusta. Diante dessa posse, não lhe será deferida a proteção possessória quando pleiteada pelo antigo possuidor, pois foi adquirida irregularmente. Assim, no confronto direto entre esses, a melhor posse é daquele que foi esbulhado. Contudo, perante terceiros, que não o antigo possuidor, a proteção possessória será deferida, por o atual possuidor ter posse justa. Tal orientação ressalta a importância da melhor posse, tanto enfatizada pelo Código Civil de 1916, que, conjugada com a posse justa, garante a efetivação dos interditos possessórios.
10) DA POSSE AD USUCAPIONEM
A posse ad usucapionem caracteriza-se por ser a posse com objetivo de se adquirir a propriedade pelo usucapião. Nesta posse, encontramos os dois elementos da Teoria Subjetiva de Savigny: corpus e animus.
Antes de mais nada, importante mencionar que Nosso Código Civil inclinou-se pela teoria objetiva, embora em alguns artigos pontuais faça concessões à teoria subjetiva, como ocorre na posse usucapionem.
Dessa feita, a posse justa ou injusta (desde que ambas sejam posse ad usucapionem) se mostra de menor importância, pois, para a aquisição originária da propriedade por esse instituto, basta tão somente posse (mansa, pacífica, contínua, ininterrupta, pública e com intenção de ser dono – “animus domini”, pertencendo este último à Teoria Subjetiva). Nessa linha, a posse injusta, que possui seu vício na origem, com a consumação dos requisitos da usucapião, passa a ser posse justa, pois a prescrição aquisitiva é modo originário de adquirir a propriedade, sanando qualquer vício que a acompanhe.
Manoel Rodrigues, jurista português, defende que a prescrição aquisitiva alcança tanto a posse justa como a posse clandestina e argumenta com os artigos 487, 524 e 526, do Código Civil de Portugal revogado. Seu raciocínio é o seguinte: se o esbulhado não reage ao esbulho, omitindo-se quanto ao uso de defesas legais, inclusive judiciais, o esbulhador adquire a posse, iniciando, a partir daí, o cômputo da posse ad usucapionem (A posse, Editora Almedina, Coimbra 4º edição, 1996, p.287). No vigente estatuto, a situação não muda (artigo 1.297), afirmando Oliveira Ascenção (sobre a posse prescricional) que "se a posse tiver sido constituída com violência ou tomada ocultamente, os prazos de usucapião só começam a contar desde que cesse a violência ou a posse se torne pública" (Direitos Reais, Coimbra Editora, 5º edição, 1993, p. 299)
Diante da exposição, deve-se dar uma atenção especial para dois requisitos da usucapião: posse pacífica e pública. Pode-se chegar à conclusão equivocada de que a posse violenta ou clandestina não se harmoniza com a posse pública e pacífica. A questão é que tais vícios estão presentes no momento da aquisição da posse, e, depois que cessam a violência e a clandestinidade, ela passa a existir, e começa correr o tempo para a usucapião. Durante esse prazo, é que não pode haver violência, pois, caso contrário, a posse deixa de ser pacífica. Marcus Vinicius Rios Gonçalves explica bem: "Na verdade a pacificidade, tida como cessação da violência, é requisito da posse. De sorte que, nesse sentido, a expressão posse pacífica é redundante, porquanto, não sendo pacífica, isto é, não havendo cessação da violência, não haverá posse, mas mera detenção. Destarte, o único sentido útil que se pode dar à expressão posse pacífica é o daquela em cujo decurso não há emprego da violência."
Com tudo isso, tecendo minúcias sobre esse tema extremamente teórico, chega-se a clarear a aplicação dos institutos da posse, não restando qualquer dúvida acerca da sua justiça ou injustiça.
A discussão de posse e domínio muitas vezes envolve propriedades imensuráveis, que foram adquiridas com o fruto de muito esforço e dedicação. Às vezes, trata-se de uma pequena casinha, mas que tem uma grande importância, e que se levou uma vida inteira para adquirir e, em um piscar de olhos, tudo se pôde perder. É diante dessa realidade social que assola os brasileiros, que os Juízes devem dar especial atenção para esses institutos, refletindo sobre eles e dedicando-se ao estudo da posse e propriedade e suas aplicações práticas e teóricas. Só dessa maneira é que se pode restaurar a esperança dos cidadãos no judiciário.
11) DA POSSE NOVA x POSSE VELHA
Posse Nova: é o poder de fato exercido sobre uma coisa corpórea em menos de 1 (um) ano e 1 (um) dia.
Posse Velha: é o poder de fato exercido sobre a coisa corpórea por período superior a 1 (um) ano e 1 (um) dia. 
12) DA COMPOSSE
a) Introdução
Como uma das características da posse é a exclusividade, tal como ocorre com a propriedade, vale dizer que a posse de uma pessoa anula a de outra ou é antinômica a dela. Entretanto, em determinadas situações, pode instituir-se a composse.
b) Definição
COMPOSSE é a aparência da propriedade exercida por uma pluralidade de titulares, sendo que cada compossuidor tem direito à mesma parte ideal do bem, não podendo existir fracionamento em partes certas. (coisa indivisa)
c) Características
1ª. Perante terceiros, os compossuidores procedem como se fossem um único sujeito;
2ª. Cada um pode defender a posse do todo, ainda que individualmente;
3ª. A cada um é assegurada a utilização da coisa, contanto que não exclua o direito dos demais. Os compossuidores podem, inclusive, acordar acerca da utilização da coisa em comum em determinadas datas, ou por certo tempo;
4ª. Cada um dos compossuidores tem legitimidade para ajuizar ação possessória contra atos ilícitos de terceiros;
5ª. Se um dos compossuidores invadir o exercício de fato dos poderes dos demais (uso ou fruição exclusiva da coisa), qualquer um dos compossuidores terá legitimidade para ajuizamento da ação possessória contra aquele.
6ª. A composse decorre de relações jurídicas diversas e rotineiras, como o casamento, a união estável, a herança e áreas comuns de condomínio edilício.
7ª. A composse cessa pela divisão em partes certas do todo (posse pro diviso) ou pela posseexclusiva de um dos possuidores sem oposição ou com exclusão dos demais.
13) DA AQUISIÇÃO DA POSSE
 a) Aspectos Gerais
Para verificar se alguém adquiriu a posse, basta constatar se ocorre uma situação de fato análoga à conduta do proprietário em relação às suas coisas.
O exercício dos poderes deve ser em nome próprio, para distinguir a posse da detenção.
A posse pode ser adquirida por ato unilateral, bilateral ou por sucessão causa mortis.
Na aquisição por ato unilateral, diz-se que a posse é adquirida a título originário. Já na aquisição por ato bilateral ou por sucessão hereditária, diz-se que a posse é adquirida a título derivado.
b) Constituto Possessório
Embora o Código de 2002 não faça referência expressa ao Constituto Possessório, cuida-se de instituto ainda aplicável, porque se amolda ao art. 1203. No Constituto Possessório, o possuidor de uma coisa em nome próprio passa a possuí-la em nome alheio. Exemplo clássico é o que se verifica quando o alienante conserva a coisa em seu poder mediante cláusula contratual denominada cláusula constituti. O alienante apenas deixa de possuir para si mesmo e passa a possuir em nome do adquirente, ou seja, sem nenhum ato exterior que ateste essa mudança.
Operação inversa ocorre na traditio brevi manu, pela qual o possuidor de uma coisa em nome alheio (detentor – fâmulo, ato de permissão ou tolerância), ou com mera posse direta (locatário, comodatário, usufrutuário etc.), passa a possuir ou em nome próprio ou com posse plena, sem necessidade de se promover ato físico de entrega da coisa.
c) Legitimação (art. 1205)
Podem adquirir a posse, segundo o inc. I, do art. 1205, a própria pessoa que a pretende, ou o seu representante.
No caso da própria pessoa, podem adquirir tanto a pessoa natural como a pessoa jurídica, esta mediante a atuação de seus órgãos. Não podem adquirir a posse, portanto, as pessoas jurídicas irregulares, porque não são dotadas de personalidade. Já no que se refere às pessoas naturais, cabe uma distinção: se a posse é adquirida por simples ato jurídico de apreensão, desprovido de vontade negocial, pode o incapaz realizá-la por si, independentemente de representação. São os casos do estudante que apreende livros, ou da criança que se apossa de um brinquedo. São atos-fato, em que não se cogitam os requisitos de validade do art. 104 do Código Civil. Caso, porém, a posse seja adquirida por negócio jurídico, o incapaz somente pode adquiri-la por atuação de seu representante.
No caso da posse adquirida por representante, bem fez o legislador não mencionar, porque dispensável, a figura do procurador. A representação, na dicção do art. 115 do Código Civil, pode ser legal ou convencional. Logo, tanto podem o pai, o tutor e o curador adquirir a posse da coisa em nome do filho, do pupilo e do curatelado, como o procurador em nome do representado. Note-se que o corpus é do representante, que, porém, age em nome do representado e com o animus exercido em proveito deste. O representante, então, tem a mera detenção, porque age em nome do representado, este o verdadeiro possuidor.
Mesmo aqueles não instituídos de poderes para praticar atos em nome do representado podem adquirir a posse em nome alheio. É o caso da detenção dependente, em que não há propriamente representação, mas uma incumbência, um vínculo jurídico que faz alguém atuar em proveito de outrem ou em cooperação com outrem, como o empregado e o preposto sem poder de representação.
Também há a possibilidade da posse ser adquirida por terceiro, sem mandato, dependendo de ratificação. É o caso do gestor de negócios, em que uma pessoa age no interesse de outra, sem ter recebido essa incumbência. Note-se que o gestor age espontaneamente, sem conhecimento do dono do negócio, mas a ratificação retroage ao começo da gestão e produz todos os efeitos do mandato.
d) Transmissão da Posse (art. 1206)
O princípio consagrado em nosso Código é da “saisine” – le mort saisit lê vif , de modo que, com a morte do possuidor, a posse transmite-se imediatamente e sem necessidade de apreensão da coisa pelos herdeiros.
Na transmissão da posse por ato causa mortis, denominada successio possessionis, a posse do de cujus incorpora-se na posse dos herdeiros e legatários com todos os seus caracteres. Se tinha o falecido posse direta/indireta, posse justa/injusta, posse de boa-fé/má-fé, posse ad interdicta/ad usucapionem, as mesmas qualidades, os mesmos vícios ou limitações terão os herdeiros e legatários. Até mesmo a ignorância dos herdeiros e legatários quanto a eventuais vícios não é levada em conta se o falecido os conhecia.
Há continuação da posse do antecessor, de modo que o herdeiro simplesmente fica no lugar do falecido, como se fossem uma só pessoa. A posse transmite-se como um todo, com os elementos objetivo e subjetivo que tinha o de cujus. Disso decorre que herdeiros e legatários podem invocar a posse que tinha o falecido para ajuizar ações possessórias que este poderia propor, assim como para somar prazo necessário a usucapião.
d1. Efeitos da transmissão e da conjunção da posse (art. 1207)
O sucessor universal continua de direito a posse de seu antecessor. Trata-se da figura da sucessio possessionis, na qual a transmissão se opera ex lege. A posse é uma, de modo que não pode o possuidor atual descartar a posse do transmitente, porque maculada por vícios que não lhe convêm. Em termos diversos, não pode o sucessor inaugurar um novo período possessório, desprezando a posse de seu antecessor.
A questão maior está na exata compreensão da expressão “sucessor universal”. Sabendo-se que a transmissão pode dar-se a título universal ou singular. Universal quando se transmite todo o patrimônio ou fração ideal dele. Singular quando se transmite coisa certa ou destacada do patrimônio. Via de regra, a sucessão universal dá-se a título causa mortis e a singular a título inter vivos, por exemplo no casamento pelo regime da comunhão universal de bens, ou pela incorporação/fusão de pessoas jurídicas, assim como a transmissão singular causa mortis, como nos legados.
Embora controverta a doutrina a respeito do tema, a interpretação sistemática dos arts. 1207 e 1206 leva à conclusão de que o termo “a título universal causa mortis” atinge não somente o herdeiro como também o legatário. Isso porque, como observa Clóvis Bevilaqua, com razão, o legatário, embora sucessor a título particular, sucede por herança, de modo que, com a morte do testador, a posse dos bens transfere-se aos herdeiros, e estes a entregam ao legatário, sem alteração ou solução de continuidade (direito das Coisas, 3. ed., Rio de Janeiro, Freitas Bastos, 1951, v. I, p. 52).
Cabe, porém, destacar que a regra da transmissão da posse a título universal – impossibilidade de descartar a posse anterior – atinge também atos inter vivos, acima mencionados. Tomem-se como exemplos o casamento pelo regime da comunhão universal de bens ou a incorporação/fusão de pessoas jurídicas, em que não cabe ao adquirente desprezar a posse anterior, uma vez que a transmissão é de todo o patrimônio, ou de parte ideal dele, de modo que a posse é uma. Em termos diversos, a posse tem fundamento no título primitivo do antecessor do adquirente e não no ato ou negócio em que interveio pessoalmente, razão pela qual não pode ser desprezada, para efeito de contagem de tempo.
Já na aquisição de modo derivado, a título singular, por ato inter vivos, denominada de acessio possessionis, o adquirente recebe nova posse, podendo juntá-la ou não à posse anterior. Cuida-se de mera faculdade do possuidor, que pode ou não acrescer o tempo do antecessor, para determinados efeitos, especialmente de usucapião.
d2. JUS POSSIDENDI x JUS POSSESSIONES/ EXCEÇÃO DE DOMÍNIO 
A posse poder ser disputada com base em dois fundamentos: jus possidendi e jus possessiones.
O Jus possidendi é o direito de possuir, ou seja, o direito de ter a posse com fundamento em uma relação jurídica preexistente;é a posse como efeito de um direito anterior. O direito mais comum que se invoca é a propriedade. Quando envolve a propriedade, utiliza-se a ação reivindicatória (ação petitória).
O jus possessiones é disputar a posse com base na mera relação fática, sem título preexistente. O que se discute é quem tinha a posse e como ela foi perdida, independentemente da existência de outro direito. 
Portanto, nas ações possessórias, somente é discutido o jus possessiones, ou seja, discute-se apenas quem tinha a posse e porque a perdeu, para evitar que o pretenso dono faça justiça com as próprias mãos. 
Assim, pelo teor do art. 1210, parágrafo 2º. do Código Civil, verifica-se que a exceção de domínio está eliminada do direito possessório, segundo o qual a alegação de propriedade ou de outro direito sobre a coisa, não obsta a manutenção ou reintegração na posse.
A súmula 487 do STF diz que será deferida a posse a quem evidentemente tiver o domínio, se com base nele a posse for discutida. Isto significa, nas ações petitórias.
e) Obstáculos que não autorizam a posse (art. 1208)
1º. Servidão de Posse (art. 1198 do CC). Primeiro obstáculo que retira de uma situação tipicamente possessória os seus efeitos naturais, rebaixando-a para detenção. Trata-se do caso do fâmulo ou servo da posse, ou seja, aquele que, achando-se em relação de dependência para com outro, conserva a posse em nome deste, em cumprimento de ordens e instruções suas. É o detentor da posse alheia, por isso essa figura recebe os nomes de servidão da posse, detenção dependente e detenção subordinada. Ex1: Do operário em relação às ferramentas e utensílios do patrão que ele usa em seu mister. Ex2: Do empregado que zela pelos objetos do patrão e os conserva. Ex3: Do caseiro de chácara.
2º. Atos de Mera Permissão (art. 1208). Permissão é a declaração de vontade do possuidor pela qual este, sem renunciar à posse nem fazer nascer para si qualquer obrigação que anteriormente não existia, confere a terceiro – o detentor – a faculdade de realizar, com relação à coisa, atos que, sem isso, seriam ilícitos. Exemplos clássicos são os empréstimos momentâneos de coisas, sem que o possuidor perca o controle sobre elas. Ex: Alguém que recebe um hóspede em sua residência, cedendo-lhe o uso de um cômodo por curto período.
3º. Atos de Tolerância (art. 1208). Tolerância é o comportamento de inação, omissivo, consciente ou não do possuidor que, mais uma vez, sem renunciar a sua posse, admite a atividade de terceiro em relação à coisa ou não intervém quando ela acontece. Caracteriza-se por uma mera indulgência, uma simples condescendência, não implica transferência de direitos. Ex: Alguém utiliza, diariamente, terreno de possuidor para pastagem de seu semovente.
4º. Atos violentos ou clandestinos (art. 1208, primeira parte). Dizem respeito às detenções autônomas e ilícitas. Para a doutrina tradicional (Clóvis Bevilaqua), seriam casos não de detenção, mas sim de posse injusta e inábil para usucapião. Pelo Código Civil anterior, a partir do momento que a violência e a clandestinidade cessassem, a posse começaria a firmar-se utilmente, de modo que, passados anos, não fosse o possuidor despojado dela, simplesmente, por esse vício originário. Os demais autores, com pouca variação, atestam que a violência e a clandestinidade, enquanto perduram, tornam a posse injusta. Cessados os vícios, nasce a posse justa; ela convalesce como se nunca tivesse sido viciada. Segundo doutrinadores que criticam a doutrina tradicional, com razão, a parte final do art. 1208, do CC, não alude à posse injusta ou inábil para usucapião, mas dispõe que os atos violentos ou clandestinos não autorizam a aquisição da posse, enquanto não cessarem seus ilícitos. Portanto, trata-se de mais um obstáculo que degrada uma situação aparentemente possessória, aviltando-a em detenção. Ademais, no momento em que cessam os vícios, nasce a posse, mas injusta, porque contaminada de doença congênita.

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