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DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 1 AULA EXTRA 02 DIREITO DAS OBRIGAÇÕES (arts. 233 a 420, CC) ���Itens específicos previstos no edital e que serão abordados nesta aula: Obrigações: modalidades das obrigações, transmissão, adimplemento, extinção e inadimplemento. Subitens: Direito das Obrigações. Teoria Geral. Conceito. Elementos Constitutivos. Classificação. Cláusula Penal. Adimplemento e Extinção das Obrigações. Pagamento. Direto e Indireto. Dação em Pagamento. Novação. Confusão. Compensação. Remissão das Dividas. Arras ou Sinal. Cláusula Penal. Extinção da obrigação sem pagamento. Execução forçada por intermédio do Poder Judiciário. Consequências da inexecução da obrigação por fato imputável ao devedor (mora, perda e danos e cláusula penal). Transmissão (cessão de crédito, cessão de débito e cessão do contrato). Declaração unilateral de vontade: promessa de recompensa, gestão de negócios, pagamento indevido e enriquecimento sem causa e títulos de crédito. Meus amigos e alunos Com essa aula, encerramos nosso curso de Direito Civil, ficando o mesmo rigorosamente de acordo com o Edital de ESAF, publicado no dia 06 de julho de 2012. Este ponto é uma novidade! Até agora ele nunca tinha sido exigido nos concursos para AFRFB e mesmo para o AFT. Vamos a ele.... CONCEITO DE OBRIGAÇÃO Em nosso dia-a-dia assumimos diversas “obrigações”. Com a nossa família ou com vizinhos, com a religião que adotamos, com nosso País, etc. Mas a obrigação que nos interessa é a “obrigação civil”, ou seja, ligada ao direito. Todo direito traz a ideia de obrigação. Isto porque não existe direito sem obrigação e nem obrigação sem o correspondente direito. Em um conceito completo e técnico dizemos que: “Obrigação é a relação jurídica, de caráter transitória, estabelecida entre devedor e credor e cujo objeto consiste numa prestação pessoal econômica, positiva ou negativa, devida pelo primeiro ao segundo, garantindo-lhe o adimplemento (cumprimento) através de seu patrimônio”... ufa! Mas em um conceito mais resumido podemos dizer que obrigação é o direito do credor contra o devedor! Ou seja, confere-se ao credor (sujeito ativo) o direito de exigir do devedor (sujeito passivo) o cumprimento de determinada prestação economicamente apreciável, sendo que no caso de descumprimento poderá o credor satisfazer-se no patrimônio do devedor (art. 391, CC). Bem... com base nestes conceitos, veremos agora cada um dos elementos de uma obrigação. DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 2 ELEMENTOS CONSTITUTIVOS 1. Elemento Pessoal ou Subjetivo. São os sujeitos (ou as partes) da obrigação: • Sujeito Ativo: é o credor, o beneficiário da obrigação; é a pessoa (física ou jurídica) a quem a prestação (positiva ou negativa) é devida, tendo o direito de exigir o seu cumprimento. • Sujeito Passivo: é o devedor; aquele que deve cumprir a obrigação, de efetuar a prestação, sob pena de responder com seu patrimônio. Observação Cada um desses polos (ativo ou passivo) pode haver mais de um credor ou devedor: “A” e “B” são credores e “C” e “D” são devedores. E, como veremos, estas posições nem sempre são estáticas. Ex.: digamos que “A” pratique um ato ilícito contra “B”. “A” é o devedor.”B” é o credor. Aqui sabe-se exatamente quem é o credor e quem é o devedor. Mas em uma compra e venda... quem é quem? Aqui temos uma relação complexa; ambos são credores e devedores simultaneamente: o comprador é credor da coisa, mas é devedor do dinheiro; já o vendedor é credor do dinheiro, mas devedor da coisa... 2. Elemento Material ou Objetivo. É o objeto de uma obrigação. Para a maioria da doutrina, o objeto da obrigação é a prestação imediata, que é sempre uma conduta humana. Esta pode ser positiva (ação: obrigação de dar ou fazer) ou negativa (omissão: obrigação de não fazer). Veremos esta classificação logo adiante de forma detalhada. Já o objeto mediato é o bem, propriamente dito. Exemplo: “A” deve entregar um quadro a “B”. O objeto imediato, que é a prestação; no caso é a obrigação de dar. Já o quadro é o bem sobre o qual recai o direito, sendo considerado como o objeto mediato. O objeto (prestação), para ser válido, deve ser lícito, possível (física e juridicamente), determinado ou determinável e economicamente apreciável (patrimonialidade). É admissível a obrigação que tenha por objeto um bem não econômico, desde que seja digno de tutela o interesse das partes. 3. Elemento Imaterial ou Vínculo Jurídico. É o vínculo que liga os sujeitos ao objeto da obrigação; é o elo que sujeita o devedor a determinada prestação (positiva ou negativa) em favor do credor. Ex.: um acidente de trânsito gera um ato ilícito; um acordo de vontades produz o contrato). Abrange o dever da pessoa obrigada (debitum) e sua responsabilidade em caso de não cumprimento (obligatio). FONTES DAS OBRIGAÇÕES Como surgem as relações concretas entre os particulares? Costuma-se dizer que a lei é a fonte primária ou imediata de qualquer obrigação (“Ninguém é obrigado a fazer ou deixar de fazer senão em virtude de lei”). Já as fontes mediatas seriam: • Negócio Jurídico Bilateral: duas pessoas criam obrigações entre si. Ex.: os contratos de uma forma geral (compra e venda; locação, etc.). É a principal e maior fonte de obrigação. DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 3 • Negócio Jurídico Unilateral: nestes casos só há uma vontade, ou seja, apenas uma pessoa se obriga. Ex.: promessa de recompensa (perdeu-se cachorrinho... recompensa-se bem). Com isso eu me obrigo perante quem cumpre a tarefa. • Atos Ilícitos: quem comete um ato ilícito (art. 186, CC) fica obrigado a reparar o dano (art. 927, CC) dele decorrente. CLASSIFICAÇÃO GERAL DAS OBRIGAÇÕES I. QUANTO À NATUREZA DO OBJETO A) Positivas 1. Obrigação de Dar a) coisa certa b) coisa incerta 2. Obrigação de Fazer a) fungível b) infungível B) Negativas 1. Obrigação de Não Fazer II. QUANTO A SEUS ELEMENTOS A) Simples – um sujeito ativo, um sujeito passivo e um objeto. B) Compostas – pluralidade de objetos ou de sujeitos. 1. Pluralidade de Objetos a) cumulativa b) alternativa 2. Pluralidade de Sujeitos (Solidariedade) a) ativa b) passiva III. QUANTO AOS ELEMENTOS ACIDENTAIS • puras e simples • condicionais • a termo • modais IV. OUTRAS MODALIDADES • líquidas ou ilíquidas • divisíveis ou indivisíveis • de resultado, ou de meio, ou de garantia • instantâneas, fracionadas, diferidas ou de trato sucessivo • principais ou acessórias DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 4 • propter rem • naturais I. OBRIGAÇÃO POSITIVA DE DAR Obrigação de dar é aquela em que o devedor se compromete a entregar alguma coisa (certa ou incerta). A obrigação de dar confere ao credor somente o direito pessoal e não o direito real. Isto é, o contrato cria apenas a obrigação, mas não opera a transferência da propriedade. Esta somente se concretiza com a tradição (entrega - bens móveis) ou pelo registro (bens imóveis). Ela pode ser dividida em: a) específica: obrigação de dar coisa certa (ex.: uma joia, um carro, um livro, etc.); b) genérica: obrigação de dar coisa incerta (ex.: a obrigação de dar um boi, dentre uma boiada). Vejamos. A) OBRIGAÇÃO DE DAR COISA CERTA (arts. 233/242, CC) O devedor se obriga a entregar uma coisa certa e determinada, perfeitamente individualizada, que possaser diferenciada de outras da mesma espécie (ex.: a vaca Mimosa ou a camisa do Pelé), podendo ser móvel ou imóvel. ���Regra básica: o credor não é obrigado a receber outra coisa, ainda que mais valiosa (art. 313, CC). Abrange a obrigação de transferir a propriedade (ex.: compra e venda), ou a de entregar a posse (ex.: locador ou comodante que deve entregar a coisa). Se a coisa a ser entregue tiver um acessório, a obrigação principal abrange também os acessórios, salvo se as partes estipularem de modo diverso (art. 233, CC). Ex.: vendo a chácara “Alegria”, mas estabeleço que posso retirar todos os bens móveis da chácara; vendo meu carro, mas estabeleço que posso retirar o “som” nele instalado. O devedor deve conservar adequadamente a coisa que irá entregar ao credor, bem como defendê-la contra terceiros, como se fosse sua. Mas mesmo assim a coisa pode se perder. Até a entrega da coisa esta ainda pertence ao devedor. 1) Consequências jurídicas do perecimento (perda ou destruição total) da coisa: a) Sem culpa do devedor (caso fortuito ou força maior). Se a perda ocorreu antes da tradição resolve-se (extingue-se) a obrigação, para ambas as partes, que voltam à situação primitiva; se o vendedor já recebeu o preço da coisa que pereceu, deve devolvê-lo com correção monetária; o prejuízo é do vendedor. Se a perda ocorreu após a tradição o negócio está mantido e o prejuízo é do comprador. b) Com culpa do devedor. Indenização pelo valor da coisa (o equivalente em dinheiro) mais perdas e danos. 2) Consequências jurídicas da deterioração (perda ou destruição parcial) da coisa antes da tradição (arts. 235/236, CC): DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 5 a) Sem culpa do devedor. Credor escolhe: resolve-se a obrigação, com restituição do preço mais correção monetária ou pode receber a coisa no estado que está, com um abatimento proporcional no preço que se perdeu. b) Com culpa do devedor. Credor pode optar: extingue-se a obrigação pagando o devedor o equivalente em dinheiro mais perdas e danos ou recebe a coisa no estado em que se encontra recebendo uma indenização pelos prejuízos causados. Antes da tradição Sem culpa do devedor Com culpa do devedor Perda (extinção total) da coisa (art. 234, CC). Extingue a obrigação. Devolução da quantia paga. Indenização (valor da coisa) mais perdas e danos. Deterioração (extinção parcial) da coisa (arts. 235/236, CC). Extingue a obrigação ou abatimento proporcio- nal do preço. Indenização (valor da coisa) mais perdas e danos ou aceita a coisa mais perdas e danos. ���Atenção: só haverá perdas e danos se houver culpa do devedor ��� A obrigação de dar a coisa certa se equipara à obrigação de restituir (ou de devolver). A obrigação de restituir se difere da obrigação de dar, pois nesta a coisa pertence ao devedor até a tradição (entrega), enquanto na obrigação de restituir a coisa pertence ao credor, apenas sua posse é que foi transferida ao devedor. Ex.: quando se aluga um carro, a locadora continua sendo proprietária dele; é apenas a posse que se transfere ao cliente. Então na locação o cliente/devedor tem a obrigação de restituir o bem ao locador após o prazo acertado, pois a propriedade já era do credor antes do surgimento da obrigação. Locação e empréstimo (comodato e mútuo) são exemplos de obrigação de restituir, ficando a coisa em poder do devedor, mas mantendo o credor direito de propriedade sobre ela. ���Importante ��� Tanto na obrigação de dar coisa certa, como na de restituir (locação, comodato e mútuo), aplica-se a regra res perit domino (ou seja, a coisa perece para o dono). No caso da restituição, como a coisa pertence ao credor, o extravio antes da devolução traz prejuízo ao próprio credor. Assim, se a obrigação for de restituir coisa certa e esta se perder antes da tradição, sem culpa do devedor, sofrerá o credor a perda e a obrigação se extinguirá, ressalvados os seus direitos até o dia da perda. Já na obrigação de dar o extravio antes da tradição traz prejuízo ao devedor, pois este ainda é o seu proprietário. Cômodos (art. 237, CC): são as vantagens produzidas pela coisa. Até a tradição (entrega) a coisa pertence ao devedor, com todos os seus melhoramentos e acrescidos, pelos quais poderá pedir aumento no preço. Ex.: uma pessoa vende a vaca Mimosa, que antes da entrega deu uma cria. Observem que o devedor se obrigou a entregar a vaca, não sendo obrigado a DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 6 entregar o bezerro. Surgem então duas opções: a) devedor entrega o filhote, podendo exigir um aumento no preço; b) se o credor não aceitar a pagar o aumento resolve-se (extingue-se) a obrigação. Neste caso não podemos dizer que o bezerro é um acessório; ele não acompanha o principal. Quanto aos frutos: os percebidos até a tradição pertencem ao devedor; já os pendentes pertencem ao credor (são acessórios que acompanham o principal). B) OBRIGAÇÃO DE DAR COISA INCERTA (arts. 243/246, CC) Coisa incerta indica que a coisa não é única, singular e exclusiva, como na obrigação de dar coisa certa. O objeto é indicado apenas de forma genérica no início da obrigação. No entanto ele deve ser determinável pelo gênero e quantidade (art. 243, CC), faltando determinar a qualidade. Ex.: entregar dez bois. Trata-se de uma obrigação de dar coisa incerta. A princípio parece ser uma obrigação de dar coisa certa. No entanto eu tenho uma boiada de mil bois e devo entregar dez! Quais os dez bois que eu irei entregar? Eles ainda não foram individualizados! Por isso chamamos de obrigação de dar a coisa incerta (ou genérica). Coisa incerta não quer dizer “qualquer coisa”. Mas sim coisa sujeita a determinação futura. Observem que já há determinação quanto ao gênero=bois. E também quanto à quantidade=dez. Falta individualizar quais os bois que serão entregues. A coisa está indeterminada, porém será suscetível de determinação futura; o estado de indeterminação é transitório. A individualização se faz pela escolha da coisa devida, pela média qualidade. Trata-se de um ato jurídico unilateral, também chamado de concentração, que se exterioriza pela pesagem, medição, contagem, etc. A escolha cabe, em regra, ao devedor (art. 244, CC) salvo se for estabelecido de modo diverso no contrato. Neste caso, por exceção, a escolha caberá ao credor ou a uma terceira pessoa estranha ao negócio. Realizada a escolha acaba a incerteza. A obrigação genérica, inicialmente de dar a coisa incerta, se transforma em obrigação de dar a coisa certa (havendo a individualização da prestação), aplicando-se todas as regras que vimos mais acima (art. 245, CC). Segundo o art. 246, CC, antes da escolha não pode o devedor alegar perda ou deterioração da coisa, ainda que por força maior ou caso fortuito (genus nunquam perit: o gênero nunca perece). Os riscos correm por conta do devedor. Exemplo: se “A” deve mil laranjas a “B”, ele não pode deixar de cumprir a obrigação alegando que as laranjas que colheu se estragaram, pois ‘mil laranjas são mil laranjas’. Se a plantação de “A” se perder ele pode comprar as frutas em outra fazenda para cumprir a obrigação assumida. No entanto, após a escolha, caso as laranjas se percam (ex.: incêndio no armazém) a obrigação se extingue, voltando as partes ao estado anterior, devolvendo-se eventual preço pago, sem se exigir perdas e danos. ���Atenção!! ���Na falta de disposição contratual, estabelece a lei que o devedor não poderá dar a coisa pior, nem ser obrigado a prestar melhor (art. 244, CC). DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSORLAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 7 Obrigação Pecuniária Obrigação pecuniária ou obrigação de solver dívida em dinheiro é uma espécie de obrigação de dar que abrange prestação em dinheiro, reparação de danos e pagamento de juros. Segundo o art. 315, CC, o pagamento em dinheiro será feito em moeda corrente. Deve ser realizado no lugar do cumprimento da obrigação e pelo seu valor nominal, ou seja, em real (que é nossa unidade monetária atual). São nulas as convenções de pagamento em ouro ou em moeda estrangeira (chamamos isso de obrigação valutária – valutaria = valuta = divisa, moeda estrangeira), salvo os contratos e títulos referentes à importação e exportação (art. 318, CC). Outras formas de pagamento (ex.: cheque, cartão de crédito ou débito, etc.) são facultativas, podendo o comerciante (fornecedor) optar em não recebê-los. Alguns estabelecimentos colocam uma placa bem à mostra “não aceitamos cheques”. Isso é permitido? –Sim!! Trata-se de um risco que o comerciante está assumindo em não atrair clientes que iriam pagar com cheques. II. OBRIGAÇÃO POSITIVA DE FAZER (arts. 247/249, CC) Obrigação de fazer consiste na prestação de uma atividade (prestação de um serviço ou execução de uma tarefa) positiva (material ou imaterial) e lícita do devedor (ex.: trabalho manual, intelectual, científico ou artístico, etc.). Pergunto agora: o que ocorre quando o devedor não faz o que deveria fazer? Resposta: a impossibilidade do devedor de cumprir a obrigação de fazer, bem como a recusa em executá-la, acarretam o inadimplemento contratual (não cumprimento do contrato). Sim... mas e se eu desejo que o ato ou serviço seja realizado? Posso obrigá-lo a cumprir a tarefa? Vimos que nas obrigações de dar é possível a atuação do Estado no sentido de se obter a execução específica da obrigação, por meio das ações judiciais. Mas... e nas obrigações de fazer? Nestas, geralmente ocorre o contrário, porquanto é difícil compelir compulsoriamente o devedor a realizar uma prestação que se obrigou, já que a nossa ordem jurídica repudia o emprego de força física para isso. Portanto, em primeiro lugar precisamos saber se o devedor agiu com culpa. Nos termos do art. 248, CC, se não houver culpa (força maior ou caso fortuito) resolve-se a obrigação sem indenização. Ex.: cantor que ficou afônico, mercadoria que deveria ser entregue não é mais achada no mercado, etc. Repõem-se as partes no estado anterior da obrigação. Por outro lado, se o próprio devedor criou a impossibilidade, ele responderá por perdas e danos. A recusa voluntária induz culpa do devedor. Mas a obrigação em si será cumprida? Resposta: depende se esta obrigação de fazer é fungível ou infungível. Vejamos. Espécies: Obrigação de Fazer Fungível: fungível quer dizer que a prestação do ato pode ser realizada pelo devedor ou por terceira pessoa, sem prejuízo para o credor (ex.: obrigação de pintar um muro – em tese qualquer pessoa pode pintar um muro, por isso é uma obrigação fungível). Se houver recusa DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 8 ou mora (que é o atraso, a demora) no cumprimento da obrigação, sem prejuízo da cabível ação de indenização por perdas e danos, o credor pode mandar executar o serviço à custa do devedor. O credor está interessado no resultado da atividade do devedor, não se exigindo capacidade especial deste para realizar o serviço. Trata-se da aplicação do art. 249 do Código Civil e dos arts. 633 e 634 do Código de Processo Civil. Obrigação de Fazer Infungível (personalíssima ou intuitu personae) – a prestação só pode ser executada pelo próprio devedor ante a sua natureza (aptidões ou qualidades especiais do devedor) ou disposição contratual; não há a possibilidade de substituição da pessoa que irá cumprir a obrigação, pois esta pessoa, contratualmente falando, é insubstituível. Ex.: contrato um artista famoso para pintar um quadro; ou um cirurgião especialista para realizar uma operação, etc. A recusa ao cumprimento da obrigação resolve-se, tradicionalmente, em perdas e danos (art. 247, CC), pois não se pode constranger fisicamente o devedor a executá-la. No entanto, atualmente, admite-se a execução específica da obrigação. Isto é, pode ser imposta pelo Juiz (e somente pelo Juiz), uma multa periódica, chamada de astreinte (observem o art. 461 e seu §4º do CPC). O inadimplemento de emitir declaração de vontade no caso de um compromisso de compra e venda dá ensejo à propositura de ação de adjudicação compulsória. Resumindo: inadimplemento da obrigação de fazer A) Sem culpa do devedor → extinção da obrigação sem qualquer indenização; volta-se tudo ao estado anterior (devolve-se a importância recebida). B) Com culpa do devedor: 1) Prestação fungível → credor manda a obrigação ser realizada por terceiro e executa o devedor inicial, ressarcindo-se pelas despesas no cumprimento da obrigação, mais perdas e danos. 2) Obrigação não fungível (ou infungível) a) indenização por perdas e danos. b) ação judicial requerendo o cumprimento da obrigação. Imposição de astreinte. Em algumas situações → adjudicação compulsória. Distinção: obrigação de dar X obrigação de fazer Enquanto na obrigação de dar o objeto da prestação é a entrega de uma coisa, na obrigação de fazer o objeto da prestação é um serviço (ex.: ministrar uma aula, fazer um show, construir um muro, etc.). Na obrigação de dar o devedor não precisa fazê-la previamente, enquanto na obrigação de fazer o devedor deve confeccionar a coisa para depois entregá-la. Além disso, na obrigação de dar, que requer a tradição, a prestação pode ser fornecida por terceiro, estranho aos interessados, enquanto na obrigação de fazer, em princípio, o credor pode exigir que a prestação seja realizada exclusivamente pelo devedor. Concluindo e perguntando: se eu quero comprar um quadro e encomendo a um artista, a obrigação será de fazer ou de dar? Resposta: DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 9 depende... se o quadro já estiver pronto a obrigação será de dar; se o artista ainda for confeccionar o quadro a obrigação será de fazer. III. OBRIGAÇÃO NEGATIVA DE NÃO FAZER (arts. 250/251, CC) Obrigação de não fazer é aquela pela qual o devedor se compromete a não praticar certo ato que até poderia livremente praticar se não houvesse se obrigado. Seu conteúdo é uma omissão ou abstenção, um ato negativo. Ex.: proprietário se obriga a não construir um muro acima de certa altura para não obstruir a visão do vizinho; inquilino se obriga a não trazer animais domésticos para o cômodo alugado, um comerciante se obriga a não se estabelecer em determinado bairro para não fazer concorrência a outro estabelecimento, etc. Estas obrigações podem ser bem variadas, mas é evidente que as imorais e antissociais, ou as que sacrifiquem a liberdade das pessoas são proibidas. Além disso, pode haver um limite temporal para a obrigação. Se a pessoa praticar o ato que se obrigou a não praticar, ela se tornará inadimplente e o credor poderá exigir o desfazimento do que foi realizado. Entretanto há casos em que somente resta o caminho da indenização. Ex.: pessoa se obriga a não revelar um segredo industrial. A obrigação de não fazer é sempre uma obrigação pessoal, devendo ser cumprida pelo próprio devedor (personalíssima e indivisível). Por isso se “A” se comprometer a não elevar o muro a certa altura e depois de algum tempo ele vender a propriedade, quem comprou não terá essa obrigação (a menos que se faça um novo contrato). Lembrando que o direito das obrigações vincula as pessoas entre si... A saída então é fazer uma servidãopredial (direito das coisas). Neste caso todos os futuros proprietários estarão vinculados. Isto porque o direito das coisas vincula a pessoa à coisa (observem como o Direito das Coisas é “mais forte” que o Direito Obrigacional). E só para completar: e se a Prefeitura obrigar José a aumentar o muro por uma questão de urbanismo ou segurança? Neste caso o muro deve ser erguido e a outra parte nada poderá fazer (o Direito Público predomina sobre o Direito Privado; é o chamado “Fato do Príncipe”, em alusão aos monarcas que governavam os países na Europa medieval). ���Observação. Sempre que houver urgência na obrigação de fazer (art. 249, parágrafo único, CC) ou na de não fazer (art. 251, parágrafo único, CC) credor pode mandar fazer ou desfazer independentemente de autorização judicial e sem prejuízo de posterior ressarcimento. Resumindo: descumprimento da obrigação de não fazer A) Sem culpa (impossibilidade da abstenção do fato sem culpa do devedor: alteração de uma lei) → exoneração do devedor. B) Com culpa (inexecução culposa do devedor) → desfazimento do ato à sua custa e ressarcimento das perdas e danos ou reparação do prejuízo, ante a impossibilidade de desfazimento do ato. OBRIGAÇÕES QUANTO A SEUS ELEMENTOS 1. OBRIGAÇÕES SIMPLES (ou singulares). São as que se apresentam com um sujeito ativo, um sujeito passivo e um único objeto, destinando-se a produzir um único efeito. DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 10 2. OBRIGAÇÕES COMPOSTAS (complexas ou plurais). São as que apresentam uma pluralidade de objetos (obrigações cumulativas ou alternativas) ou uma pluralidade de sujeitos (obrigações solidárias – ativa ou passiva). a) Obrigações Cumulativas (ou conjuntivas): são as compostas pela multiplicidade de prestações. O devedor deve entregar dois ou mais objetos, decorrentes da mesma causa ou do mesmo título (ex.: obrigação de dar um carro e um apartamento) devidamente especificado. O inadimplemento de uma prestação envolve o descumprimento total da obrigação; o devedor só se desonera cumprindo todas as prestações. Dependendo de ajuste prévio entre as partes, o pagamento pode ser simultâneo (tudo de uma vez) ou sucessivo. Mas o credor não é obrigado a receber, nem o devedor a pagar por partes, se assim não se ajustou. b) Obrigações Alternativas (ou disjuntivas – arts. 252/256, CC): também são compostas pela multiplicidade de prestações heterogêneas, porém estas estão ligadas pela disjuntiva “ou”. Assim, embora a obrigação tenha duas ou mais prestações, apenas uma delas será cumprida como pagamento. O devedor se desonera com o cumprimento de qualquer uma delas. Ex.: obrigo- me a entregar um touro ou dois cavalos; vendo a casa por cem mil ou troco por dois terrenos na praia. Nas obrigações alternativas, a escolha, em regra, pertence ao devedor, se o contrário não for estipulado no contrato (pode ser do credor, de um terceiro ou até mesmo escolhido por sorteio). Comunicada a escolha (concentração), não se pode mais modificar o objeto. Se uma das prestações não puder ser objeto de obrigação, ou se tornar inexequível, subsistirá o débito quanto à outra. Ex.: devo entregar um touro ou quatro cavalos; o touro morreu sem culpa das partes; deve-se então cumprir a obrigação que restou: a entrega dos cavalos. Se a impossibilidade for de todas as prestações (sem que haja culpa do devedor), resolve-se (extingue-se) a obrigação, sem que haja o dever de indenização. E se houver culpa do devedor? Neste caso, depende: Se a escolha cabia ao devedor, ficará ele obrigado a pagar o valor da que por último se impossibilitou (mais perdas e danos). Mas se a escolha pertencia ao credor, pode ele (credor) exigir o valor de qualquer das prestações (mais perdas e danos). Não confundir com a obrigação de dar coisa incerta (nesta também há escolha), pois na alternativa há pelo menos dois objetos. Resumindo a responsabilidade na obrigação alternativa A) Perecimento de uma das obrigações 1) Escolha do devedor: havendo ou não culpa do devedor, subsiste o débito quanto à outra obrigação. 2) Escolha do credor: a) não havendo culpa do devedor, subsiste o débito quanto à outra obrigação; b) havendo culpa do devedor o credor pode optar pela prestação subsistente ou o valor da que pereceu mais perdas e danos. B) Perecimento das duas obrigações DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 11 1) Escolha do devedor: a) não havendo culpa do devedor, extingue-se a obrigação; b) havendo culpa do devedor, há indenização pelo valor da que se impossibilitou por último, mais perdas e danos. 2) Escolha do credor: a) não havendo culpa do devedor extingue-se a obrigação; b) havendo culpa do devedor há indenização pelo valor de qualquer uma das obrigação mais perdas e danos. c) Obrigações Facultativas: são variantes das obrigações alternativas, aceitas pela doutrina, mas não previstas em lei. A obrigação inicialmente é simples (há apenas uma prestação), mas há a possibilidade do devedor substituir o objeto. Ex.: quem encontra coisa perdida deve restituí-la ao dono, sendo que este fica obrigado a recompensar quem a encontrou. No entanto o dono pode, ao invés de pagar a recompensa, simplesmente abandonar a coisa, e aí quem encontrou a coisa poderá ficar com ela. Pagar a recompensa é a prestação principal do devedor; o abandono da coisa é prestação facultativa do dono. O abandono não é obrigação, mas faculdade do dono. Outro exemplo: agência de viagens que oferece determinado brinde, mas se reserva no direito de substituí-lo por outro. Na obrigação facultativa (ao contrário da alternativa) o credor não opção, só podendo exigir a prestação principal; somente o devedor é pode optar pela prestação facultativa. d) Obrigações Solidárias (arts. 264 a 285, CC): ocorre quando há pluralidade de credores ou devedores (ou de ambos), sendo que eles têm direitos e/ou obrigações pelo total da dívida. Havendo vários devedores cada um responde pela dívida inteira, como se fosse um único devedor. O credor pode escolher qualquer um e exigir a dívida toda. Mas se houver vários credores, qualquer um deles pode exigir a prestação integral, como se fosse único credor (art. 264, CC). Nota-se, portanto, três espécies de obrigações solidárias: • Solidariedade Ativa: pluralidade de credores. Ex.: na conta bancária “e/ou” qualquer correntista é credor solidário dos valores depositados e pode exigir do banco a entrega de todo o numerário. Outro exemplo: mandato outorgado a vários advogados, sendo que qualquer um deles poderá exigir os honorários integralmente do cliente. Observem também o art. 2° da lei de locações (Lei n° 8.245/91). • Solidariedade Passiva: pluralidade de devedores. Ex.: o credor pode demandar tanto o devedor principal, como o seu avalista, pois ambos são devedores solidários. Exemplo de solidariedade passiva decorrente de lei: art. 585, CC: “Se duas ou mais pessoas forem simultaneamente comodatárias de uma coisa, ficarão solidariamente responsáveis para com o comodante”. • Solidariedade Mista (ou recíproca): neste caso há uma pluralidade de devedores e de credores. ���Regra básica: “A solidariedade não se presume, resultando da lei ou da vontade das partes” (art. 265, CC). 1) SOLIDARIEDADE ATIVA DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 12 • Cada um dos credores pode exigir a prestação por inteiro (art. 267, CC). Ou seja, o devedor não pode pretender pagar a dívida ao credor demandante de forma parcial (apenas a sua quota-parte), sob a alegação de que deveria ratear a quantiaentre os demais credores. Ele deve pagar tudo a quem lhe exigir a prestação. • Cada um dos credores poderá promover medidas assecuratórias do direito do crédito e constituir o devedor em mora, sem o concurso dos demais credores. • Qualquer um dos credores poderá ingressar em juízo visando à satisfação patrimonial; mas só poderá executar a sentença o próprio credor-autor, e não outro estranho à lide. • Se um dos credores se tornar incapaz, este fato não influenciará a solidariedade prevista. • Enquanto não for demandado por algum dos credores, o devedor pode pagar a qualquer um (art. 268, CC). • O pagamento feito a um dos credores extingue inteiramente a dívida, o mesmo ocorrendo em caso de novação, compensação e remissão. • A conversão da prestação em perdas e danos não extingue a solidariedade; ela continua existindo para todos os efeitos (art. 271, CC). Os juros de mora revertem em proveito de todos os credores. • O credor que tiver remitido (perdoado) a dívida ou recebido o pagamento responde aos outros pela parte que lhes caiba (art. 272, CC). • O julgamento contrário a um dos credores solidários não atinge os demais, entretanto o julgamento favorável aproveita-lhes, exceto se baseado em exceção pessoal ao credor que o obteve (art. 274, CC). Isto quer dizer que se uma ação entre um dos credores solidários e o devedor for julgado procedente, esta decisão é extensível aos demais credores (isto porque satisfaz o interesse dos demais credores solidários, sem causar prejuízo injustificado ao devedor, pois ele teve oportunidade de se defender no primeiro processo); no entanto se este credor perdeu a demanda esta decisão não é extensiva aos demais credores solidários (evitando-se, assim, que estes sejam afetados pela inépcia ou pouca diligência do credor acionante na condução do processo – ou mesmo evitando-se um possível conluio do credor perdedor da ação e o devedor). • Não importará renuncia à solidariedade a propositura de ação pelo credor contra um ou alguns dos devedores (art. 275, parágrafo único, CC). Extinção da solidariedade • Se os credores desistirem dela (da solidariedade) pactuando que o pagamento da dívida será pro rata (ou seja, por rateio), cada credor será responsável por sua quota. • Se um dos credores falecer seu crédito passará a seus herdeiros sem a solidariedade (salvo se a prestação for indivisível – ex.: entregar um cavalo). 2) SOLIDARIDADE PASSIVA DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 13 • O credor pode escolher qualquer devedor para cumprir a prestação; pode exigir e receber de um ou de alguns dos devedores, parcial ou totalmente o valor da dívida comum; se o pagamento for parcial, mantém-se a solidariedade passiva quanto ao remanescente (art. 275, CC). • Morrendo um dos devedores solidários, a dívida se transmite aos seus herdeiros, mas cada herdeiro só responde por sua quota da dívida, salvo se indivisível a obrigação; neste caso, todos os herdeiros reunidos são considerados como um devedor solidário em relação aos demais devedores (art. 276, CC). Ex.: A, B e C são devedores solidários. “A” faleceu deixando dois filhos (D e F). Pergunta-se: os filhos de “A” continuam devedores solidários? Resposta: se o objeto da prestação for divisível (dinheiro), extingue-se a solidariedade e cada um responde apenas com seu quinhão na herança; se o objeto for indivisível (um touro reprodutor) a solidariedade permanece. Isso ocorre não pela solidariedade em si, mas pela indivisibilidade • O pagamento parcial feito por um devedor ou a remissão (perdão da dívida) obtida só aproveitam aos demais devedores pelo valor pago ou relevado (art. 277, CC). • Nenhuma cláusula estipulada entre um devedor e o credor pode agravar a situação dos demais devedores, sem o consentimento deles (art. 278, CC). • Impossibilitando-se a prestação: a) sem culpa dos devedores → extingue a obrigação; b) por culpa de um devedor → a solidariedade continua para todos; todos os devedores continuam com a obrigação e responderão pelo equivalente em dinheiro; mas só o devedor culpado responderá pelas perdas e danos (art. 279, CC). • Todos os devedores respondem pelos juros de mora, ainda que a ação tenha sido proposta contra um, mas o culpado responde aos outros pelo acréscimo (art. 280, CC). • Propondo a ação contra um devedor, o credor não fica inibido de acionar os demais. • O devedor demandado pode opor as exceções (formas de defesa) pessoais e as comuns a todos; porém não pode opor as pessoais de outro devedor (art. 281, CC). Ex.: A e B devem para C. No entanto C também deve para B. Por este dispositivo, somente B pode alegar a compensação, pois esta é considerada como uma "exceção pessoal". E continuando: B não pode alegar a eventual compensação entre A (o outro devedor) e C, pois esta é uma exceção pessoal de A e não de outro devedor. • Se o credor renunciar à solidariedade em favor de um ou de alguns devedores, só poderá acionar os demais abatendo o valor do débito a parte ou àqueles correspondentes, entretanto, se um dos coobrigados for insolvente, o rateio da obrigação atingirá também o exonerado da solidariedade (art. 282, parágrafo único, CC). Ex.: “A” é credor de “W”, “X”, “Y”, “Z”, no valor de 200 (50 cada devedor) sendo que ele renuncia à solidariedade em relação a “W”. Neste caso “A” somente pode demandar “X”, “Y” e “Z” solidariamente por 150. “A” continua credor de “W” no valor de 50. DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 14 Mas sem a solidariedade. Vejam que houve renúncia à solidariedade. E não renúncia ao crédito. • O devedor que paga toda a dívida tem o direito de regresso, isto é, pode exigir a quota dos demais devedores, rateando-se entre todos, o quinhão do insolvente, se houver; presumem-se iguais as partes de cada devedor; essa presunção admite prova em contrário (juris tantum - art. 283, CC). • Se a dívida interessa apenas a um dos devedores, responde este perante o qual a paga. Ex.: avalista que paga uma nota promissória; como garantidor da obrigação, ele deve ser reembolsado pelo total pago; neste caso não se fala em quotas (art. 285, CC). Extinção da solidariedade • Morrendo um dos codevedores, desaparece a solidariedade em relação a seus herdeiros, embora continue a existir quanto aos demais coobrigados. • Renúncia total do credor. Observação Se um devedor solidário for demandado sozinho em um processo de conhecimento (réu), poderá, no prazo da contestação, trazer os demais devedores a este processo (no polo passivo da lide), utilizando-se do instituto “chamamento ao processo”, que é uma forma de intervenção de terceiros provocada a fim de que a sentença disponha sobre a responsabilidade de todos os envolvidos. Assim, o devedor que quitar a dívida ficará sub-rogado nos direitos do credor, podendo exigir dos demais a respectiva cota (arts. 77 a 80, CPC). OUTRAS IMPORTANTES MODALIDADES DE OBRIGAÇÃO A) Obrigações quanto ao Conteúdo (de resultado, meio ou garantia). 1) Obrigações de Resultado (ou de fim): quando só se considera cumprida com a obtenção de um resultado, geralmente oferecido pelo próprio devedor. Ex.: contrato de transporte (levar o passageiro a seu destino são e salvo); a doutrina costuma também citar o exemplo do médico especialista em “cirurgia plástica-estética”. Na obrigação de resultado o devedor responde independentemente de culpa (há, portanto, responsabilidade objetiva). Ou seja o credor deve apenas provar que o resultado não foi atingido. Porém, é possível a demonstração de que o resultado não foi alcançado por fator alheio à atuação do devedor (ex.:caso fortuito, força maior, culpa exclusiva do credor, etc.), o que excluiria sua responsabilidade. 2) Obrigações de Meio (ou de diligência): quando o devedor só é obrigado a empenhar-se para conseguir o resultado, mesmo que este não seja alcançado. Ex.: o advogado em relação ao cliente; ele não se obriga a vencer a causa, mas trabalhar com empenho para ganhá-la. Se o resultado visado não for alcançado só poderá ser considerado o inadimplemento do devedor se se provar a sua falta de diligência (ou seja, a sua culpa: responsabilidade subjetiva). O mesmo ocorre com um médico para salvar a vida de um paciente. DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 15 3) Obrigações de Garantia: seu objetivo é a estipulação de uma garantia pessoa em um contrato (ex.: fiança). B) Obrigações quanto à Divisibilidade 1) Obrigações Divisíveis (art. 257, CC): são as que comportam fracionamento, quer quanto à prestação, quer quanto ao próprio objeto sem prejuízo de sua substância ou de seu valor. Havendo pluralidade de credores ou devedores será feito um rateio (ou concurso) entre eles (“as partes se satisfazem pelo concurso”). A obrigação presume-se dividida em tantas partes iguais e distintas, quantos forem os credores ou devedores. 2) Obrigações Indivisíveis (art. 258 CC): são aquelas em que a prestação é única. Devido à convenção das partes (ex.: pagamento à vista) ou, dada a natureza do objeto (ex.: um cavalo, um touro), não admitem cisão na prestação. Ainda que o objeto seja divisível (ex.: dinheiro) não pode o credor ser obrigado a receber em partes, se assim não se ajustou. Regras aplicáveis às obrigações indivisíveis: • Havendo dois ou mais devedores cada um será obrigado pela dívida toda. O devedor que paga a dívida inteira sub-roga-se no direito do credor, havendo ação de regresso em relação aos demais coobrigados. • Havendo pluralidade de credores, o devedor (ou devedores) somente se desobrigará pagando a todos conjuntamente ou a um dos credores, dando este caução (garantia) de ratificação dos outros credores. • Caso somente um dos credores receba toda a dívida, os demais poderão exigir deste a parte que lhes cabia em dinheiro. • No caso de remissão (perdão) por parte de um dos credores, a obrigação não ficará extinta em relação aos demais, que poderão exigir as suas quotas, descontada a parte remitida. • Se o objeto vier a perecer por culpa do devedor, a obrigação passa a ser de perdas e danos. Neste caso o objeto perde a indivisibilidade e passa a ser divisível, pois o objeto primitivo (indivisível) será substituído pelo equivalente em dinheiro, mais perdas e danos (que é divisível). Se houver culpa de todos os devedores, responderão todos por parte iguais; se a culpa for só de um, somente este responderá pelas perdas e danos. • As obrigações de dar e fazer podem ser divisíveis ou indivisíveis. Já as de não fazer somente podem ser indivisíveis. Exemplo Clássico. Imaginem que “A” e “B” se obrigam a entregar a “C” um touro reprodutor, premiado em exposições. Esta é uma obrigação divisível ou indivisível? É indivisível, claro! Pois um touro reprodutor não pode ser dividido, dada a sua natureza. E a obrigação de entregar o touro é solidária? Como vimos anteriormente a solidariedade não se presume! Ela deve estar expressa na lei ou no contrato (vontade das partes). Como a pergunta nada menciona sobre a solidariedade, devemos entender que a obrigação é apenas indivisível (e não solidária). Desta forma, se o examinador deseja perguntar algo sobre a solidariedade, deve deixar isto bem claro na questão. E se o touro morrer antes DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 16 da entrega, por culpa do devedor? Como vimos, a obrigação de entregar o touro que morreu será substituída pela indenização (dinheiro – que é divisível) e por tal motivo a obrigação passará a ser divisível. Solidariedade X Indivisibilidade a) Na indivisibilidade, se ocorrer a conversão em dinheiro, ela deixa de existir (a obrigação passa a ser divisível). No entanto se a obrigação é solidária e a coisa pereceu, a solidariedade continua. Ex.: um boi (objeto de uma obrigação solidária) morreu; neste caso a obrigação se transforma em dinheiro; o credor continua com a possibilidade de exigir a quantia integral de qualquer um dos devedores. No caso da indivisibilidade as perdas e danos só podem ser exigidas do culpado pelo perecimento do objeto (arts. 263, §2°, CC); já na solidariedade a prestação e as perdas e danos podem ser exigidas de qualquer um dos codevedores, mas quem pagou tem ação de regresso contra os demais, acrescido, contra o culpado das perdas e danos (arts. 271 e 279, CC). b) A solidariedade está baseada em relação jurídica subjetiva, resultante da lei ou da vontade das partes, trazendo maior garantia ao credor; já a indivisibilidade está baseada em relação jurídica objetiva, em razão da natureza indivisível do objeto da prestação. c) A solidariedade cessa com a morte, não se transmitindo aos sucessores; já a obrigação indivisível se transmite aos sucessores tal como pactuada (ou seja, a obrigação, mesmo com a morte de um dos contratantes, não se desnatura; continua sendo indivisível). OUTRAS CLASSIFICAÇÕES A) QUANTO AOS ELEMENTOS ACIDENTAIS 1) Obrigações Puras e Simples: são as que não estão sujeitas a nenhum elemento acidental, como a condição, o termo ou o encargo. 2) Obrigações Condicionais: são as que contêm cláusula que subordina seu efeito a evento futuro e incerto (ex.: eu lhe darei um carro se você entrar em uma universidade pública). 3) Obrigações a Termo: são aquelas que contêm cláusula que subordina seu efeito a evento futuro e certo (ex.: eu lhe darei um carro no fim deste ano) 4) Obrigações Modais: são as oneradas de um encargo, um ônus à pessoa contemplada pela relação jurídica (ex.: dou-lhe dois terrenos, mas em um deles deve ser construída uma escola). B) QUANTO À AUTONOMIA DE EXISTÊNCIA (INDEPENDÊNCIA) 1) Obrigações Principais: são as que independem de qualquer outra para ter validade (ex.: compra e venda, locação, etc.); são dotadas de vida própria e autònoma. 2) Obrigações Acessórias: são as que têm sua existência subordinada a outra relação jurídica (ex.: a fiança é uma obrigação acessória em relação ao contrato de locação; da mesma forma a multa contratual é acessória em relação a uma obrigação qualquer, etc.). A extinção, ineficácia, nulidade ou prescrição da obrigação principal reflete-se na acessória. Lembre-se da regra segundo a DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 17 qual o acessório segue a sorte do principal (princípio da gravitação jurídica). O inverso, porém, não é verdadeiro, pois se houver algum vício na obrigação acessória, em nada afetará a principal. C) QUANTO À LIQUIDEZ 1) Obrigações Líquidas: são aquelas certas quanto à existência e determinadas quanto ao objeto. Ex.: entregar uma casa; entregar R$1.000,00, etc. Nelas se acham especificadas, de modo expresso, a quantidade, a qualidade e a natureza do objeto devido. O inadimplemento de obrigação positiva e líquida constitui o devedor em mora de pleno direito se não for cumprida no prazo (falaremos da mora ainda nesta aula). 2) Obrigações Ilíquidas: são aquelas incertas quanto à sua quantidade; dependem de uma apuração prévia, posto que o montante da prestação ainda é indeterminado. D) QUANTO AO MOMENTO PARA O CUMPRIMENTO 1) Obrigações Instantâneas: são as que são cumpridas no momento em que o negócio é celebrado (ex.: compra e venda à vista).2) Obrigações Fracionadas: quando o objeto do pagamento é fracionado em prestações. A obrigação de pagar o preço é uma só, mas a execução de cada uma delas é feita ao longo do tempo (ex.: compro um terreno por 10 mil, pagando mil por mês, durante dez meses). 3) Obrigações Diferidas: quando a execução é realizada em um único ato, porém em momento posterior ao surgimento da obrigação (ex.: compra e venda com pagamento à vista, mas a entrega da coisa se dará em 30 dias). 4) Obrigações de Trato Sucessivo (ou periódicas ou execução continuada): quando o cumprimento se dá por meio de subvenções periódicas (se protrai no tempo), resolvendo-se em intervalos de tempo (regulares ou não). Ex.: obrigação do inquilino em pagar aluguel; a do condômino em pagar as despesas condominiais. Quando uma parcela é paga a obrigação está quitada. Mas neste instante inicia-se a formação de outra prestação que deverá ser paga no fim do próximo período. Observação. A doutrina, além de todas estas espécies de obrigações, ainda acrescenta outras: • Obrigações Propter Rem: são obrigações híbridas, ou seja, parte direito real, parte direito pessoal (alguns autores as chamam de reipersecutórias ou ambulatórias). Elas recaem sobre uma pessoa (daí ser um direito pessoal), mas por força de um direito real (como por exemplo, a propriedade). O devedor não se obriga por sua vontade, mas sim por ser proprietário do bem. Ex.: obrigação de um proprietário de não prejudicar a segurança, sossego e saúde dos vizinhos; a do condômino de contribuir para a conservação da coisa comum ou de não alterar a fachada externa do edifício; adquirente de imóvel hipotecado de pagar o débito que o onera, etc. Os exemplos mais comuns são os das taxas de condomínio e do pagamento do IPTU. DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 18 • Obrigações Naturais (também chamadas de imperfeitas ou incompletas): são aquelas em que o credor não possui instrumento judicial para exigir a prestação do devedor. A dívida existe: há um credor e um devedor, mas falta a garantia jurídica por meio da qual o devedor seria compelido a pagar. O devedor só paga se quiser, pois não há um direito de ação protegendo o credor. No entanto, tais obrigações podem gerar efeitos, pois se o devedor capaz pagar a dívida, o pagamento é considerado válido e irretratável, sendo que ele não pode pedir de volta o que foi pago. Ex.: dívida prescrita; dívidas resultantes de jogo e apostas não permitidas legalmente (arts. 814 e 815, CC): seu pagamento não é obrigatório; mas se o devedor pagar... valeu. CLÁUSULA PENAL (arts. 408/416, CC) É a penalidade imposta pela inexecução parcial ou total da obrigação (infração contratual) ou pela mora (atraso ou demora) no cumprimento da obrigação. É pactuada pelas partes no caso de violação do contrato, motivo pelo qual é também chamada de multa contratual ou convencional. Trata-se de obrigação acessória que visa garantir o cumprimento da obrigação principal, bem como fixar o valor de eventuais perdas e danos no caso de eventual descumprimento (caráter condicional). Pode ser estipulada no próprio contrato ou em ato posterior. Para se exigir a multa não é necessário que o credor alegue prejuízo; ela decorre do próprio descumprimento do contrato. Funções • Coerção: intimida o devedor a saldar a obrigação principal para não ter que pagar a acessória; possui caráter preventivo, pois reforça o vínculo obrigacional e a necessidade de cumprir a obrigação. • Ressarcimento: pré-fixação das perdas e danos no caso de inadimplemento da obrigação; caráter repressivo. Espécies • Compensatória: estipulada para a hipótese de total inadimplemento (inexecução) da obrigação – art. 410, CC. • Moratória: estipulada para evitar o retardamento culposo no cumprimento da obrigação ou em segurança especial de outra cláusula determinada – art. 411, CC. Limite O limite da cláusula penal compensatória é o valor da obrigação principal (art. 412, CC). Tal valor não pode ser excedido. Se um eventual excesso estiver estipulado em um contrato, o Juiz determinará a sua redução. Algumas leis limitam ainda mais o valor da cláusula penal moratória. Ex.: 10% da dívida ou do valor da prestação em atraso no compromisso de compra e venda de imóveis loteados; 02% da dívida em contratos sob a égide do Código de Defesa do Consumidor (Lei n° 8.078/90); 02% da dívida em condomínio edilício, etc. Se houver o cumprimento parcial da obrigação ou se o valor da penalidade for manifestamente excessivo o valor pode ser reduzido equitativamente pelo Juiz (art. 413, CC - Princípio da Função Social do DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 19 Contrato, que veremos na próxima aula), daí se dizer que há uma “imutabilidade relativa” quanto ao seu valor. Cláusula Penal X Perdas e Danos Diferem-se porque na cláusula penal o valor é antecipadamente pactuado pelos próprios contratantes. Nas perdas e danos o valor será fixado pelo Juiz com base nos prejuízos alegados e provados (danos emergentes e/ou lucros cessantes). Cláusula Penal X Arras A cláusula penal é exigível em caso de inadimplemento ou mora; as arras (ou sinal) são pagas por antecipação, servindo para garantir o cumprimento do contrato. A cláusula penal pode ser reduzida pelo Juiz; já o valor das arras pode ser pactuado livremente pelas partes. Cláusula Penal nas Obrigações Indivisíveis e Divisíveis Referindo-se à obrigação indivisível, e existindo mais de um devedor, incorrendo um devedor em falta, todos estarão incorrerão na pena (ex.: dois locatários do mesmo imóvel; se um deles transgredir o contrato, os dois serão penalizados). A pessoa que não for culpada terá direito de ação regressiva contra o que deu causa à aplicação da pena. Referindo-se à obrigação divisível, e existindo mais de um devedor, incorrendo apenas um devedor em falta, só ele responde e incorre na pena (ex.: dois compradores de uma boiada, metade para cada um, atrasando um no pagamento quanto a sua quota, somente ele responderá pela penalidade). PERDAS E DANOS (arts. 402/405, CC) Perdas e danos constituem o equivalente do prejuízo ou dano suportado pelo credor, em virtude do devedor não ter cumprido, total ou parcialmente a obrigação, expressando-se em uma soma de dinheiro correspondente ao desequilíbrio sofrido pelo lesado. Abrange: • Danos Emergentes (ou Positivos): trata-se do prejuízo real e efetivo no patrimônio de um dos contratantes. • Lucros Cessantes (ou frustrados) ou Danos Negativos: trata-se do lucro que o contratante deixou de auferir, em razão do descumprimento da obrigação pelo devedor. Em qualquer das duas situações acima é necessária a comprovação do nexo de causalidade entre a inexecução da obrigação pelo devedor e os eventuais prejuízos. As perdas e danos também incluem atualização monetária segundo os índices oficiais, cláusula penal (se houver previsão no contrato), juros, custas e despesas processuais, além dos honorários advocatícios. Os juros de mora devem ser contados desde a citação inicial no processo. DOS EFEITOS DAS OBRIGAÇÕES DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 20 Constituída a obrigação, deverá ser cumprida, de modo que o credor poderá exigir a prestação e o devedor terá o dever de efetuá-la. O Código Civil estabelece algumas regras gerais sobre a extinção das obrigações, e sobre as consequências de sua inexecução, que é o descumprimento da obrigação ou inadimplemento. Regra geral: “A obrigação, não sendo personalíssima, opera entreas partes e entre seus herdeiros”. Isto quer dizer que, em regra, as obrigações se transferem aos herdeiros (ou seja, elas se transmitem aos sucessores em caso de morte do devedor), que deverão cumpri-las até o limite das forças da herança, salvo quando se tratar de obrigação personalíssima, isto é, contraída em atenção às qualidades especiais do devedor (ex.: obrigação de um pintor famoso que faleceu sem realizar a obra: por ser uma obrigação personalíssima, não se transmite aos seus herdeiros). EXTINÇÃO DAS OBRIGAÇÕES I. PAGAMENTO DIRETO (arts. 304 a 333, CC) As obrigações extinguem-se normalmente pelo pagamento direto. Pagamento é sinônimo de solução, cumprimento, adimplemento, implemento, execução, etc. O pagamento deve ser realizado no tempo, forma e lugar previstos no contrato. São seus requisitos essenciais: a) existência de um vínculo obrigacional, decorrente da lei ou de um negócio jurídico, pois o pagamento pressupõe a existência de uma dívida. b) animus solvendi (intenção de solver, de pagar), pois o pagamento é execução voluntária. c) cumprimento exato do que é devido: o devedor exonera-se da obrigação entregando efetivamente a coisa devida (obrigação de dar), ou praticando determinada ação (obrigação de fazer), ou abstendo-se de certo ato (obrigação de não fazer). Como vimos, o credor não pode ser compelido a receber coisa diversa da pactuada mesmo que mais valiosa (art. 313, CC) e o devedor não pode compelir o credor a receber em partes aquilo que foi convencionado de ser pago por inteiro (art. 314, CC), da mesma forma que o devedor deve satisfazer a execução pelo modo devido, pontualmente e no lugar determinado. d) presença da pessoa que efetua o pagamento (solvens) e da pessoa que recebe o pagamento (accipiens). Vejamos agora os elementos que compõe o pagamento: A) ELEMENTOS SUBJETIVOS DO PAGEMENTO: solvens e accipiens. 1) SOLVENS – É a pessoa que deve pagar; geralmente é o próprio devedor, principalmente se a obrigação for personalíssima. No entanto, o pagamento também pode ser realizado por outras pessoas que não o devedor. Vejamos: • Qualquer pessoa interessada na extinção da dívida. Trata-se, evidentemente de um interesse jurídico-patrimonial. O “interesse” é DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 21 usado em sentido técnico. Ou seja, qualquer pessoa que eventualmente possa ser responsabilizada pelo débito. O exemplo clássico é o do fiador que acaba pagando a dívida para não agravar sua responsabilidade no futuro (como multas, juros, etc.). Pagando, o fiador se sub-roga nos direitos do credor, sendo-lhe transferidos todos os direitos, ações e garantias do primitivo credor (arts. 304 e 346, CC). Outros exemplos: sublocatário que paga a dívida do inquilino principal perante o locador (pois caso contrário será ele quem sofrerá o despejo), avalista, coobrigado, herdeiro, adquirente de imóvel hipotecado, etc. • Terceiro não interessado (juridicamente). É aquele que não está vinculado à relação obrigacional existente entre credor e devedor (embora possa ter um interesse moral ou afetivo: pai que paga a dívida do filho). Situações: A) Se o terceiro age em seu próprio nome tem direito ao reembolso do que pagou (art. 305, CC), por meio de uma ação movida contra o devedor (chamada de in rem verso), mas não se sub-roga nos direitos de credor. Por outro lado, o credor não pode recusar o pagamento de terceiro, mesmo sendo do terceiro desinteressado (salvo se houver cláusula expressa proibindo ou nas obrigações intuitu personae, ou seja, personalíssimas). Mesmo que o devedor se oponha ao pagamento por parte do terceiro, este pode ser feito. Ou seja, a oposição do devedor não impede ou invalida o pagamento. B) Se o terceiro não interessado age em nome e por conta do devedor, há uma subdivisão. Em algumas situações ele age assim, representando o devedor. Vamos supor que eu viaje e deixe uma pessoa encarregada de pagar o condomínio em meu nome ou que haja uma imobiliária que paga ao locador a dívida de uma locação que está sob sua administração. Nestas hipóteses não há um interesse (jurídico) daquele que pagou a dívida (pois não são fiadores, coobrigados, etc.). Mesmo assim, quem pagou tem direito ao reembolso da quantia paga (embora não haja a sub-rogação). Já em outras situações, o terceiro age por mera liberalidade (isso deve ficar expresso no documento), como se fosse uma doação. Nestas hipóteses não poderá reaver o que pagou. E se o devedor se opuser ao pagamento do terceiro não interessado? Neste caso, segundo parte da doutrina o terceiro não teria direito algum. No entanto, a teoria majoritária é que mesmo havendo oposição, o terceiro que pagou em nome do devedor continuaria com o direito de reembolso. Isso é assim baseado no princípio da proibição do enriquecimento sem causa; nosso Código não admite o ganho de uma pessoa em detrimento de outra, sem que haja uma justificativa legal. No entanto, não haverá reembolso ao terceiro (seja interessado ou não) se o devedor tinha meios de evitar a cobrança (art. 306, CC). Ou seja, por algum motivo (prescrição, pagamento anterior, compensação, etc.), se o credor cobrasse a dívida do devedor, não iria conseguir o seu intento. Não há cabimento algum exigir do devedor que reembolse o terceiro uma quantia que ele não pagaria ao credor, caso fosse acionado. Além disso, em qualquer DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 22 hipótese o pagamento de terceiro não pode piorar a situação do devedor. Exemplo: se o terceiro paga a dívida antes do vencimento, somente poderá exigir do devedor eventual reembolso da quantia paga após o vencimento da dívida 2) ACCIPIENS – É a pessoa a quem se deve pagar. Em regra é o credor. O credor não é obrigado a aceitar pagamento parcial. O pagamento deve ser feito ao(s): • Credor, propriamente dito. • Representantes legais (ex.: pais, tutores, curadores) ou convencionais (mandatários com poderes especiais para receber o pagamento) do credor. • Sucessores do credor (ex.: herdeiros, legatários, etc.). Fora daí, o pagamento só vale se o credor ratificar (confirmar) o recebimento ou se este, comprovadamente, reverter em seu proveito (art. 308, CC). O pagamento também não valerá se: a) o devedor efetua o pagamento a credor incapaz de quitar (ex.: absolutamente incapaz); b) o credor estiver impedido legalmente de receber (ex.: crédito penhorado). Lembrem-se do brocardo: "Quem paga mal ... paga duas vezes" Há uma exceção a esta regra: o pagamento feito de boa-fé ao credor putativo (onde há uma suposição de legitimidade) é válido, ainda que provado depois que ele não era credor verdadeiro (art. 309, CC). Ou seja, se o devedor, agindo de boa-fé, paga para uma pessoa a quem aparentava ser credor (mas não o era), o pagamento, ainda que feito de forma errônea, é considerado válido. Ex.: herdeiro aparente, herdeiro excluído posteriormente da sucessão por indignidade, procurador cujo mandato foi revogado sem conhecimento de terceiros, etc. Exigem-se dois requisitos: a) accipiens tinha aparência de verdadeiro credor; b) boa-fé do solvens. A) ELEMENTOS OBJETIVOS: objeto e prova do pagamento (arts. 313/326, CC). O objeto do pagamento é a prestação. Pelo art. 313, CC o credor pode se negar a receber outra prestação da que lhe é devida, mesmo que mais valiosa. Já pelo art. 314, CC o credor não é obrigado a receber, nem o devedor a pagar em partes, salvo previsão expressa no contrato, mesmo que o objeto seja divisível. A entrega, quando é feita em dinheiro faz-se em moeda corrente e pelo valor nominal (art. 315, CC: princípio do nominalismo).Na hipótese de pagamento de prestações sucessivas, é lícito convencionar o aumento progressivo no valor destas prestações (art. 316, CC). O art. 318, CC determina que são nulas as convenções de pagamento em ouro ou em moeda estrangeira, bem como para compensar a diferença entre o valor desta e o da moeda nacional, excetuados os casos previstos na legislação especial (ex.: contratos referentes a importação e exportação de mercadorias). Pelo princípio da justiça contratual pode o Juiz corrigir o valor da prestação, para mais ou para menos, quando verificar que há uma desproporção DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 23 significativa entre o valor vigente quando do negócio e aquele verificado quando do cumprimento da obrigação (art. 317, CC). O devedor que paga tem direito à quitação, fornecida pelo credor (art. 319, CC). A quitação é a prova efetiva de que houve o pagamento; é um documento pelo qual o credor reconhece que recebeu o pagamento e exonera o devedor da obrigação. Trata-se do que conhecemos por recibo. Se o credor promover a cobrança judicial da dívida, cabe ao devedor o ônus de demonstrar que o pagamento foi realizado. A quitação pode ser dada por instrumento particular (ainda que a obrigação resulte de instrumento público), devendo ter os elementos do art. 320, CC (valor e espécie de obrigação, identificação de quem está pagando, tempo, lugar, assinatura do credor ou de quem o represente, etc.). No entanto estes elementos não são essenciais; ainda que eles faltem, valerá a quitação se houver prova de que o valor foi revertido para o credor. Se o credor não der a quitação, o devedor pode exigi-la judicialmente. A regra é que a quitação da última prestação ou quota periódica faz presumir a quitação das anteriores, salvo prova em contrário (art. 322, CC). Trata-se de uma presunção relativa, que admite prova em contrário (juris tantum). Por isso, no caso de pagamento de despesa condominial do último mês, não se presume a quitação dos meses anteriores. C) Do Lugar do Pagamento (arts. 327/330, CC) Lugar do pagamento é o local estabelecido para o cumprimento da obrigação. Onde o pagamento deve ser feito? Estabelece o art. 327, CC que “efetuar-se-á o pagamento no domicílio do devedor, salvo se as partes convencionarem diversamente, ou se o contrário resultar da lei, da natureza da obrigação ou das circunstâncias”. Como no Código Civil predomina a autonomia das vontades, na prática o lugar do pagamento é o estipulado no próprio título constitutivo do negócio jurídico (princípio da liberdade de escolha). Ou seja, o próprio contrato estipula o domicílio onde devem se cumprir as obrigações e se determina a competência do juízo onde eventual ação será proposta em caso de descumprimento do contrato (vejam, também, o art. 78, CC). Mas se o contrato for omisso o lugar será no domicílio do devedor (art. 327, CC). Se forem designados dois ou mais lugares para o pagamento é o credor quem escolherá em qual deles a prestação será realizada. E se o pagamento consistir na entrega de imóvel (ou em prestações relativas a imóvel), este deverá ser feito no lugar onde estiver situado o bem (art. 328, CC). O art. 329, CC prevê que ocorrendo motivo grave (a lei não diz quais são eles) para que não se efetue o pagamento no lugar pactuado, o devedor poderá fazê-lo em outro, sem prejuízo para o credor. Com isso, está se mitigando a força obrigatória de um contrato, em razão do princípio da função social do contrato. ���Importante ��� O pagamento reiteradamente feito em outro local faz presumir que o credor renunciou ao previsto no contrato (art. 330, CC). Trata- se de outra presunção relativa (admite prova em contrário), relativizando mais DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 24 uma vez a rigidez do contrato. A doutrina chama este fenômeno de supressio, ou seja, para o credor há a perda de um direito (no caso do pagamento ser feito no local combinado), pelo seu não exercício durante certo tempo, não mais podendo exercê-lo sem contrariar a boa-fé. Por outro lado, essa inércia do credor faz surgir um direito subjetivo ao devedor de efetuar o pagamento em outro local, diverso do pactuado (surrectio). Sobre o local do pagamento existem duas situações. A primeira quando se paga no domicílio do devedor (neste caso dizemos que a dívida é quérable) e a outra quando se paga no domicílio do credor (dizemos que a dívida é portable). Vejamos: QUÉRABLE (quesível: deriva do verbo latino quaerere=procurar →→→ o credor “procura” o devedor para receber): quando o pagamento se faz no domicílio do devedor. Quando não houver nada estipulado, há uma presunção de que o pagamento é quesível (esta é a regra geral), uma vez que deve ser procurado pelo credor no domicílio do devedor, salvo se o contrato, nas circunstâncias, a natureza da obrigação ou a lei impuserem em contrário. PORTABLE (portável): quando se estipula expressamente no contrato que o local do cumprimento da obrigação é o domicílio do credor (ou de uma terceira pessoa); o devedor deve levar o título e oferecer o pagamento nesse local (o devedor porta o título e o paga no domicílio do credor). Observação Para não confundir as situações, recomendo a memorização do seguinte esqueminha: = Q.D. P.C. = (Quérable → Devedor – Portable → Credor) D) Tempo do Pagamento (arts. 331/333, CC) Quando deve ser feito o pagamento? O momento em que se pode reclamar a dívida chama-se vencimento, que é o momento a partir do qual se verifica a exigibilidade da obrigação (princípio da pontualidade). A data do pagamento também pode ser fixada livremente pelas partes no contrato. A regra é de que o credor não pode cobrar a dívida antes do vencimento, nem o devedor pagar após a data prevista (sob pena de mora - atraso). O devedor também não pode forçar o credor a receber antes do vencimento. Salvo disposição em contrário, não se ajustando uma data determinada para o pagamento, o credor pode exigir seu cumprimento imediatamente (satisfação imediata). No entanto a doutrina entende que a expressão “imediatamente” (do art. 331, CC) não deve ser entendida “ao pé da letra”, pois às vezes é necessário que haja um certo tempo (por menor que ele seja) para que a prestação seja cumprida. E isso irá depender da natureza do negócio, do lugar onde será cumprida a obrigação (que muitas vezes pode ser diverso do local da celebração) ou de suas circunstâncias. É o que se chama de “tolerância de prazo moral ou razoável”. Como o vencimento é uma data que favorece o DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 25 devedor ele pode optar por pagar antes do vencimento. Já as obrigações condicionais comprem-se na data do implemento da condição. O credor não pode exigir o pagamento antes do vencimento (sob as penas do art. 939, CC). No entanto, admite-se a cobrança antecipada da dívida em situações excepcionais, previstas no art. 333, CC: • Abertura de concurso creditório, ou seja, uma ação de execução contra o devedor (insolvência civil), ou quando ele falir, etc. • Se os bens dados em garantia real (hipoteca, penhor ou anticrese) forem penhorados em uma ação de execução por outro credor. • Se cessarem ou tornarem-se insuficientes as garantias reais ou fidejussórias e o devedor se negue a reforçá-las. Melhor esclarecendo: Garantia Real é o penhor, a hipoteca e a anticrese. Garantia Fidejussória é o mesmo que garantia pessoal, ou seja, a fiança e o aval. MORA (arts. 394/401, CC) Uma obrigação surge para ser cumprida. E o modo normalde seu cumprimento é o pagamento. Havendo o pagamento, a obrigação se extingue de forma normal. No entanto, às vezes, a obrigação não se desenvolve normalmente e o devedor deixa de cumprir a prestação devida. Trata-se do inadimplemento (não cumprimento) da obrigação, que pode ser: a) Absoluto ou Definitivo (arts. 389 e 395, parágrafo único, CC): quando o cumprimento se torna impossível ou quando houver a perda do interesse do credor (já que neste caso o pagamento se tornou inútil para ele). Havendo o inadimplemento total o devedor responderá com todos os seus bens (art. 391, CC) pelas perdas e danos (danos emergentes e lucros cessantes – art. 402, CC), juros, atualização monetária, custas, honorários de advogado e a cláusula penal (se houver previsão expressa no contrato). b) Relativo: quando ainda é possível e útil a realização da prestação. Neste caso estamos diante da mora. Assim, mora é o retardamento ou o imperfeito cumprimento da obrigação, desde que não tenha ocorrido caso fortuito ou força maior. Dispõe o art. 394, CC: “Considera-se em mora o devedor que não efetuar o pagamento e o credor que não o quiser recebê-lo no tempo, lugar e forma que a lei ou a convenção estabelecer”. Situações O não cumprimento de obrigação positiva (dar ou fazer) no dia do seu vencimento constitui em mora o devedor (art. 397, CC) de imediato. Não havendo um prazo determinado para o dia do vencimento é necessária uma interpelação judicial ou extrajudicial (art. 397, parágrafo único, CC). Nas obrigações provenientes de ato ilícito, considera-se o devedor em mora desde que o praticou (art. 398, CC). Ou seja, desde o momento da prática do evento danoso, independentemente de qualquer notificação ou interpelação judicial. DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 26 Já na hipótese de obrigação negativa (não fazer) considera-se o devedor em mora no dia em que executar o ato de que deveria se abster (art. 390, CC). Devemos lembrar que, nos termos do art. 396, CC não havendo fato ou omissão imputável ao devedor, não incorre este em mora. Tanto o devedor, quanto o credor podem incidir em mora. Vejamos: 1) Mora do Devedor (mora solvendi ou debitoris). Ocorre quando o devedor não cumpre, por culpa sua, a prestação devida na forma, tempo e lugar estipulados. Neste caso, os principais efeitos da mora são: responsabilização por todos os prejuízos causados ao credor, que pode exigir além da prestação propriamente dita, também os juros moratórios, a correção monetária, a cláusula penal (se houver previsão expressa) e a reparação de qualquer outro dano ou prejuízo que porventura tenha sofrido. A mora do devedor pode ser dividida em: 1.1) Mora ex re: decorre de fato previsto em lei ou em contrato. Quando a obrigação é positiva (dar, fazer) e líquida (certa quanto à existência e determinada quanto ao valor), com data fixada para o pagamento, o seu não cumprimento (inadimplemento) implica na mora do devedor de forma automática, sem necessidade de qualquer providência do credor. O simples não pagamento no dia determinado já é o suficiente para a caracterização da mora de pleno direito (art. 397, caput, CC). 1.2) Mora ex persona: quando não houver estipulação de uma data certa para a execução da obrigação, a mora depende de uma providência do credor (ex.: interpelação judicial ou extrajudicial, notificação, etc.) do credor, conforme o art. 397, parágrafo único, CC. 2) Mora do Credor (arts. 394, segunda parte e 400, CC – mora accipiendi ou creditoris) - Como vimos, o credor também pode incidir em mora. Ela ocorre quando o credor se recusa aceitar o adimplemento (cumprimento) da obrigação no tempo, lugar e forma devidos, sem ter um motivo justo para assim proceder. A mora do credor subtrai o devedor, isento de dolo, à responsabilidade pela conservação da coisa. Isto é, se o credor não quiser aceitar a coisa e esta vier a estragar, o devedor não responderá por estes danos. Além disso, obriga o credor a ressarcir as despesas empregadas na conservação da coisa, e o sujeita a recebê-la pela sua mais alta estimação, se o seu valor oscilar entre o tempo do contrato e o do pagamento. Acrescente-se que a mora do credor possibilita a ação de consignação em pagamento (falaremos sobre isso logo adiante, ainda na aula de hoje) da coisa pelo devedor. ���Observação ��� Quando as moras são simultâneas, ou seja, mora do devedor e mora do credor ao mesmo tempo (ex.: nenhum dos contratantes comparece ao local escolhido para o pagamento), uma elimina a outra, como se nenhuma das partes houvesse incorrido em mora. A doutrina chama isso de “compensação dos atrasos”. Juros Moratórios (arts. 406/407, CC) DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 27 Juros são os frutos ou rendimentos do capital empregado. Eles são considerados como bens acessórios. Há duas espécies de juros: 1) Juros Compensatórios: decorrem de uma utilização consentida do capital alheio. É o empréstimo de dinheiro a juros. Normalmente é objeto de convenção (contrato) entre os interessados, como ocorre no mútuo feneratício (empréstimo de dinheiro a juros). Ainda que o mutuário pague em dia, quando devolver o empréstimo deve pagar os juros pela remuneração do uso do dinheiro. 2) Juros Moratórios: constituem uma pena imposta ao devedor pelo atraso no cumprimento da obrigação, atuando como se fosse uma indenização. São devidos a partir da constituição em mora, independentemente da alegação de prejuízo. Podem ser convencionais ou legais. Ocorrem os juros moratórios convencionais no caso em que as partes estabelecem a taxa de juros (até 12% anuais ou 1% ao mês – era a sistemática do art. 192, §3° da CF/88 que foi revogado pela Emenda Constitucional n° 40/03). Já os juros moratórios legais ocorrem quando as partes não os convencionam. Mas, mesmo não convencionados os juros moratórios são devidos, na taxa que estiver em vigor para a mora do pagamento de impostos devidos à Fazenda Nacional (art. 406, CC: trata-se da taxa SELIC). Seja em um caso, seja noutro, ainda não há um consenso sobre qual o critério a ser utilizado diante da redação do art. 406, CC. Saliente-se que o Superior Tribunal de Justiça (STJ) tem entendido que o critério correto é o que consta do art. 161, §1° do Código Tributário Nacional (1% ao mês). Por isso entendemos que esta questão não pode cair em concurso por ser muito polêmica. Se cair a sugestão é de se adotar a posição do STJ. Purgação da Mora (art. 401, CC) Purgar (ou emendar) a mora é neutralizar os efeitos da mora. Ou seja, a parte que incorreu em mora, corrige, sana a sua falta, de forma voluntária, cumprindo a obrigação que fora anteriormente descumprida. Deve ressarcir, também, os eventuais prejuízos causados à outra parte. Purgação da mora feita pelo devedor: é a oferta da prestação (ou seja, o pagamento da dívida principal), acrescida da importância dos prejuízos ocorridos até o dia deste pagamento (juros, correção monetária, multa, honorários advocatícios, etc.). Purgação da mora feita pelo credor: quando este se oferece para receber o pagamento, sujeitando-se aos efeitos da mora já ocorridos. Há casos em que a lei permite ao devedor a purgação da mora para impedir que o contrato seja resolvido (extinto), desde que o faça durante o prazo de resposta da ação judicial proposta pelo credor. Ex.: ação de despejo – art. 62 da Lei do Inquilinato. ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 28 Enriquecer sem causa é enriquecer de forma repentina e sem motivo