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AÇÃO POSSESSÓRIA na Justiça do Trabalho

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Ação Possessória na Justiça do Trabalho. Aspectos Gerais 
	
	
A teor dos artigos 1.210 do Código Civil e 926, e seguintes, do Código de Processo Civil, o possuidor tem os seguintes direitos, conforme a lição de Cléber Lúcio de Almeida (2009:920): 1) de ser mantido na posse – tendo sua posse molestada (turbada) deverá propor ação de manutenção de posse; 2) de ser restituído na posse – perdendo, efetivamente, a posse (esbulho), pode demandar ação de reintegração de posse; 3) de ser assegurado contra violência iminente – se tiver o possuidor justo receio de ser molestado em sua posse, cabe-lhe propor ação preventiva (interdito proibitório).
Nas relações de trabalho, ocorre, até com certa freqüência, de a prestação de serviços exigir que o empregado resida no próprio local de trabalho, como é o caso, por exemplo, do zelador de condomínio, do caseiro de sítios e chácaras (trabalhador doméstico), encarregado de serviços gerais nas empresas, guarda de obra, etc. No tocante, o empregador fornece o bem imóvel para a ocupação do empregado. Também há, na relação de trabalho, exercício possessório de bens móveis, como é o caso, por exemplo, de ferramentas e utensílios; o empregado utiliza-as como elemento essencial na execução de suas tarefas. Muitas profissões exigem, aliás, que o empregado se utilize de ferramentas próprias (hipótese comum na área médica), de maneira que o empregador, conforme o caso, detém, provisoriamente, respectiva posse.
Pois bem, embora o contrato de trabalho já tenha sido rescindido, pode ocorrer de o empregado permanecer, indevidamente, no imóvel cedido pelo empregador, sendo este obrigado a demandar na Justiça para obter a desocupação do imóvel. Nesse caso, qual a Justiça competente? A Comum (cível), ou a do Trabalho? A doutrina é praticamente unânime quanto ao cabimento das ações possessórias na Justiça do Trabalho desde que tenham relação com o contrato de trabalho, ainda mais, atualmente, por força do art. 114, I e IX, da Constituição Federal:
Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar:
I - as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes de direito público externo e da administração pública direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. (...)
IX - outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho, na forma da lei. (…)
Deveras, a competência processual da Justiça do Trabalho, na hipótese vertente, deve derivar de duas hipóteses: 
1) o bem imóvel (ou móvel) seja concedido como parcela salarial, isto é, “in natura” (salário utilidade, tal que o bem é fornecido como contraprestação dos serviços)
2) o bem imóvel (ou móvel) seja fornecido como “ferramenta” essencial à execução dos serviços (como, por exemplo, ferramentas do trabalhador mecânico)
Fora dessas duas situações, a demanda sobre posse, em tese, é da competência da Justiça Comum, 
Por sinal, é corriqueiro, na prática, formular o empregador contrato de locação com o empregado, fornecendo-lhe ocupação de imóvel. No entanto, se o bem é fornecido como parcela “in natura”, como normalmente ocorre, por exemplo, com o zelador de condomínio, não vislumbramos necessidade de formular “contrato de locação”, já que se trataria a habitação de mera cláusula do contrato de trabalho. Aliás, é justamente a elaboração da "locatio", nesses casos, não obstante o característico de contraprestação pelos serviços, que gera uma série de discussões sobre competência processual. De qualquer forma, Wagner D. Giglio (2002:302) assevera que, quanto às ações possessórias sobre bens imóveis, necessário se distinguir três hipóteses:
1) existindo dois contratos autônomos, de trabalho e de locação, sobre este último a competência é da Justiça Comum, porquanto o contrato de trabalho não absorve o de locação, tal que a demanda se processa entre locador e locatário, e não entre empregado e empregador
2) o empregador aluga imóvel para seu empregado, sem qualquer relação com o contrato de trabalho: a relação jurídica restringe-se ao âmbito do proprietário do imóvel e o locatário, regida, portanto, pela lei de locação, cuja competência é da Justiça Comum;
3) o imóvel é fornecido como contraprestação dos serviços (“in natura”), nos termos do art. 458 da CLT; a competência é da Justiça do Trabalho.
No entanto, ocorre, por vezes, de o mau empregador mascarar salário “in natura”, parcela salarial, portanto, como “contrato de locação autônomo”. Como ficaria, então, a questão da competência nesse caso? O contrato, formalmente, enquadra-se no item “2” supra, não por direito, mas, por fraude. Ora, de quem é a competência para dizer se determinado título é salarial, ou não? Do juiz do trabalho, é claro. Por isso, há tanta divergência jurisprudencial sobre o tema. A propósito, concordamos com a posição de Christovão Piragibe Tostes Malta, para quem o rito da ação possessória na Justiça do Trabalho é o da reclamação trabalhista comum (2005:390):
“A possessória trabalhista segue o rito das reclamações comuns, consoante a praxe, mas não há jurisprudência definitiva sobre a matéria. O reclamado é notificado para comparecer à audiência, pode contestar, é ouvido sobre a possibilidade de acordo, as partes produzem provas e aduzem razões, preferindo-se finalmente sentença. Discutem os doutos sobre o deferimento de medidas liminares na possessória. Essa reclamatória não oferece peculiaridade em matéria de liminar. A reintegração liminar de empregadores em imóveis ocupados por empregados que se recusam a sair após o término do contrato de trabalho não tem sido tolerada pela jurisprudência dominante”.
Assim, o empregador que pretenda reaver posse sobre imóvel concedido ao empregado, como parcela salarial, ajuizará reclamação trabalhista comum. Destaque-se que essa ação também pode ser movida pelo empregado – é o caso, por exemplo, de o empregador possuir, indevidamente, ferramentas de propriedade do empregado.
Referências bibliográficas:
ALMEIDA, Cleber Lúcio de. Direito processual do trabalho, 2ª Ed. – Belo Horizonte : Del Rey, 2008.
GIGLIO, Wagner D. Direito Processual Trabalho, 12ª Ed. – São Paulo : Saraiva, 2002.
MALTA, Christovão Piragibe Tostes. Prática do processo trabalhista, 33ª Ed. – São Paulo : LTr, 2005.

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