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Extra MPL SP 2011 Balanço das ações

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09/06/2016 O Movimento Passe Livre São Paulo e a Tarifa Zero : Passa Palavra
http://www.passapalavra.info/2011/08/44857 1/6
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O Movimento Passe Livre São Paulo e a Tarifa Zero
16 de agosto de 2011   
Categoria: Brasil
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Destacamos que a Tarifa Zero garante outro direito fundamental: o direito de poder se movimentar pela própria cidade, e a partir disto conhecê­la,
refletir sobre ela e produzir as ferramentas para transformá­la. Por Legume Lucas e Mariana Toledo [*]
Do passe livre estudantil ao projeto de Tarifa Zero
As lutas por transporte no Brasil ganharam grande destaque nos noticiários e na sociedade com as revoltas contra o aumento da tarifa de 2003 em
Salvador, 2004 em Florianópolis e 2005 em Florianópolis e Vitória.
Manifestação pelo passe livre estudantil em 2005
Também  em São Paulo  as mobilizações  do Movimento  Passe Livre  remontam  aos  anos  de  2004  e  2005. Em grande  parte  inspirados  por  estas
revoltas  citadas, diversos  estudantes  secundaristas  e universitários  recém  ingressos na  faculdade começaram a organizar núcleos  em escolas das
regiões  Noroeste  e  Sudoeste  de  São  Paulo  em  defesa  do  passe  livre  estudantil,  argumentando  que  somente  pela  gratuidade  nos  transportes  se
conseguiria garantir aos estudantes o direito à educação. Foi a partir deste trabalho de base que foram feitas as mobilizações contra o aumento das
passagens em janeiro de 2005, três manifestações pequenas que ocuparam os terminais Bandeira e Lapa.
Esta organização em núcleos, de maneira horizontal, atraiu para o movimento pessoas que não se identificavam com estruturas hierárquicas e desta
forma não viam um espaço de atuação política dentro do movimento estudantil.
No ano de 2005 começamos a ter contato com Lúcio Gregori, ex­secretário municipal de transportes e um dos criadores do projeto de Tarifa Zero na
década  de  1990.  O  projeto  defendia  que  o  serviço  de  transporte  coletivo  fosse  custeado  de  maneira  indireta,  como  os  serviços  de  saúde  e
educação. A lógica era pagar estes custos por meio de uma maior tributação das camadas mais ricas da população.
Nos fins de 2006 as tarifas aumentaram novamente, chegando a R$2,30. Era o primeiro aumento após o crescimento do movimento e a ampliação
dos trabalhos; a expectativa dos resultados deste trabalho e da reação ao aumento era grande. Antes do aumento ser efetivado, o MPL­SP convocou
uma manifestação que ocupou o Terminal Parque Dom Pedro; nesta manifestação parte dos manifestantes começou a abertura de portas de ônibus
09/06/2016 O Movimento Passe Livre São Paulo e a Tarifa Zero : Passa Palavra
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[autocarros] para que os usuários andassem gratuitamente, e outra parte dos manifestantes trancava a saída do terminal. O ato foi dispersado com
intensa repressão da Polícia Militar e a noite terminou com várias pessoas no hospital e na delegacia [esquadra]. A repressão violenta da primeira
manifestação marcou toda a organização posterior da luta contra o aumento. Em todas as reuniões da Frente de Luta contra o aumento a entrada, ou
não, em terminais era objeto de disputa acalorada. Por conta do medo da repressão não entramos em nenhum terminal até o fim da jornada.
Assembleia em ato contra o aumento em 2006
Conseguimos  realizar  diversos  atos  contra  o  aumento  da  passagem  e  inauguramos  uma  perseguição  ao  prefeito  em  eventos  públicos:  onde  ele
aparecia  os manifestantes  também  apareciam  questionando  o  aumento  da  tarifa  do  transporte.  Estas  ações  conseguiam  uma  grande  visibilidade
midiática,  apesar  dos  poucos  militantes  necessários  para  executá­las.  Tentamos  também  neste  momento  pautar  em  nossos  atos,  panfletos  e
entrevistas a Tarifa Zero, mas em meio a tantas demandas este tema não conseguiu ganhar grande repercussão na sociedade.
A  visibilidade  da  luta  atraiu  a  atenção  dos mais  diversos  grupos  políticos,  com  as mais  diversas  intenções.  O MPL­SP  não  tinha  uma  prática
estabelecida  para  lidar  com  estes  grupos,  ainda  não  tinha  refletido  sobre  as  potencialidades  e  limites  de  se  trabalhar  junto  com  eles.  Surgiram
também  inúmeros  oportunistas  que  tentavam  fazer  da  luta  seu  espaço  de  realização  individual  de  confronto  com  a  polícia.  Esta  confluência  de
problemas teve algumas consequências sérias, como a perda de um dedo por uma militante do MPL, ocasionada por um estilhaço de bomba lançado
pela polícia, e a ameaça de morte (feita por alguns dos oportunistas) a três outros militantes. A não reversão do aumento, a falta de um planejamento
do  que  fazer  após  o  aumento  e  as  tensões  descritas  tiveram  forte  impacto  interno:  os militantes  estavam  estafados,  exaustos,  várias  pessoas  se
afastaram e o movimento entrou em uma longa fase de reestruturação.
Apesar de não  ser visto pela maioria  como uma conquista do movimento,  entre os  anos de 2007 e 2010 a  tarifa de ônibus em São Paulo  ficou
congelada. O que não impediu que o transporte fosse palco de embates entre os políticos paulistanos, com o atual prefeito Gilberto Kassab chegando
a declarar durante a campanha eleitoral de 2008 que “não ia descansar enquanto a tarifa não fosse zero”.
O MPL, enquanto isto, percebeu que precisava diversificar suas frentes de atuação iniciando trabalho em algumas comunidades, destacadamente na
Zona Sul. O projeto era ampliar as bases sociais do movimento. Uma vez que não se defendia mais apenas o passe livre estudantil, as possibilidades
de trabalho se ampliavam e estava presente o anseio de envolver na luta por transporte a população da periferia de São Paulo.
No  trabalho comunitário era  inevitável nos depararmos com as dificuldades presentes,  tais como: a diversidade de  interesses e necessidades dos
moradores da região – as mobilizações se orientavam em torno de demandas imediatas, como a resistência à remoção de residências; a existência de
mais organizações atuantes com projetos específicos – são associações comunitárias, partidos políticos, ONGs, tráfico de drogas; além do fato de
várias  pessoas,  por  vezes,  precisarem  escolher  entre militar  e  trabalhar.  Somado  a  isto,  as  distâncias  prejudicavam  o  trabalho,  uma  vez  que  os
militantes não moravam nestas comunidades e utilizavam o transporte coletivo para chegar nelas; também por não morar nelas, não possuíam os
laços de pertencimento formados nestes bairros, e não era cogitado mandar um militante ir morar em um bairro para atuar ali politicamente. Todas
estas dificuldades implicam, necessariamente, em resultados mais lentos, em uma mobilização menos intensa que a característica dos estudantes.
Este  trabalho  em  comunidades  contribuiu  para  uma maior  legitimidade  do MPL perante  a  sociedade  e  para  a  formação  política  dos militantes,
aprofundando a reflexão do movimento sobre a cidade.
Repressão a manifestação contra o aumento em
2010
Em paralelo, o MPL­SP começou a aprofundar  seus conhecimentos  sobre o  transporte, organizamos atividades para entender a organização dos
transportes  em  São  Paulo,  a  construção  de  uma  cidade  segregada,  pensando  desde  os  aspectos  infra­estruturais  até  os  custos  do  sistema.  A
compreensão deste sistema nos fez resgatar a luta histórica da população pelo transporte, manifestada mais claramente nas revoltas populares contra
os  aumentos  da  tarifa,  os  chamados  quebra­quebras.  Esta  consolidação  de  conhecimentos  sobre  o  transporte,  combinada  com  uma  política  de
alianças com movimentos sociais, serviu para que o MPL­SP passasse a ser considerado umareferência no debate do transporte.
Em parte, a luta contra o aumento de 2010 refletiu estas opções do movimento. Apesar dos materiais de qualidade produzidos, da participação da
09/06/2016 O Movimento Passe Livre São Paulo e a Tarifa Zero : Passa Palavra
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bateria da Unidos da Lona Preta em um ato, estas manifestações não contaram com a ampla base secundarista que protagonizou os atos de 2006. O
congelamento das tarifas por dois anos torna a aparente legitimidade social do aumento maior, mesmo que o valor a ser pago (2,70) fosse alto e
significasse uma maior exclusão do sistema de transporte.
Durante o ano de 2010 o MPL passou por uma série de reestruturações internas com a saída de diversos militantes e o afastamento de outros tantos.
Em  setembro  de  2010,  em meio  à  campanha  eleitoral,  foi  anunciado  um  possível  aumento  das  tarifas,  que  seria  o  segundo  aumento  acima  da
inflação  em  um  ano;  a  notícia  logo  foi  abafada  por motivos  eleitoreiros. A  campanha  contra  o  aumento  passou  a  ser  organizada  por meio  da
divulgação que este aumento iria acontecer e que era necessário se mobilizar contra ele; fez­se uma lista de contatos em escolas e começamos a
fazer  atividades  com  estes  estudantes. A  partir  da  articulação  destes  estudantes  dois  atos  foram  feitos  ainda  em  2010,  antes  do  aumento  ser
oficialmente  anunciado,  o  que  fortaleceu  um  grupo  de  militantes  para  tocar  [desenvolver]  a  longa  campanha  contra  o  aumento  em  2011.  Em
momentos  como  o  de  aumento  de  tarifas,  as  contradições  do  transporte  ficam mais  evidentes:  uma  tarifa  de  R$  3,00  tem  um  grande  peso  no
orçamento das famílias. Aliado a isto, a conjuntura da cidade de São Paulo, de tensionamento político com o prefeito Gilberto Kassab. Todos estes
fatores contribuíram para que as mobilizações se mantivessem com força ao longo de quatro meses.
Ato contra o aumento em 2011
A força desta jornada foi obtida por uma forte unidade na luta com movimentos sociais, entidades estudantis, grupos autônomos, trabalhadores dos
transportes, partidos políticos e parlamentares. A partir deste consenso propiciado pela mobilização contra o aumento, o problema dos transportes
em São Paulo foi trazido a público, permitindo que se pautasse de maneira ampla a reivindicação da Tarifa Zero, tanto na mídia quanto nas ruas.
A experiência acumulada ao longo destes cinco anos de luta permitiu ao MPL pensar em uma estratégia clara e bem definida para a continuidade da
luta por transporte ainda durante o ascenso das manifestações. A força obtida nos atos e as alianças estabelecidas nos possibilitaram um passo maior,
a proposição da Tarifa Zero para a cidade de São Paulo. Optamos por fazer um projeto de lei, construído com o nosso esforço militante, que fosse
pensado e discutido dentro do movimento, ao mesmo tempo garantindo a nossa independência e materializando as discussões feitas ao longo dos
anos. A escolha da forma de propor este projeto também não foi aleatória. A iniciativa popular demonstra que, apesar de estarmos mobilizados em
torno de uma  lei,  acreditamos que ela deve  ser discutida nas  ruas, diretamente com as pessoas. Além disso, o processo de coleta de assinaturas
constrói uma mobilização da sociedade, que será necessária se pretendemos aprovar o projeto.
Tarifa Zero é uma luta de todos e muda tudo
Nas mobilizações contra o aumento no ano de 2011, ficou clara a possibilidade e a necessidade da pauta do transporte aglutinar as mais diversas
lutas, uma vez que todos aqueles que vivem na cidade são afetados pelo aumento, porque sempre que aumenta a tarifa, mais gente fica excluída do
sistema de transporte. Neste sentido, é fundamental deixar claro por que a defesa da Tarifa Zero se faz imprescindível.
Tarifa Zero na prática
Os  transportes coletivos urbanos devem ser encarados como um serviço público essencial, e nessa condição devem caminhar  rumo à gratuidade
total e universal. Somente desta maneira se poderá garantir o acesso a direitos sociais como saúde, educação e cultura. Destacamos que a Tarifa
Zero garante outro direito fundamental: o direito de poder se movimentar pela própria cidade, e a partir disto conhecê­la, refletir sobre ela e produzir
as ferramentas para transformá­la.
A efetivação do acesso à cidade em sua plenitude só pode ser obtida com a ampliação dos limites impostos à nossa mobilidade urbana e, para isto, é
necessário que o transporte seja verdadeiramente público, ou seja, que todos possam usá­lo sem restrições. Evidentemente, o acesso aos diferentes
espaços de uma cidade não  irá  fazer  com que  estes  espaços  sejam planejados  e  construídos pensando no bem­estar  dos  trabalhadores, mas  este
acesso permite a observação e a reflexão sobre este espaço, aclarando as contradições presentes na cidade.
A efetivação da Tarifa Zero, por meio da mobilização popular, pode demonstrar de maneira clara que a partir da organização, articulação e  luta,
podemos conquistar avanços na nossa sociedade e transformar a cidade em que vivemos. Neste sentido, a Tarifa Zero abre a possibilidade para o
fortalecimento e a ampliação das lutas políticas e sociais na cidade.
[*] Legume Lucas e Mariana Toledo são militantes do Movimento Passe Livre.
Este artigo faz parte do dossiê temático DOSSIÊ: Campanha Tarifa Zero 2011
09/06/2016 O Movimento Passe Livre São Paulo e a Tarifa Zero : Passa Palavra
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Etiquetas: Outras_lutas, Transportes
Comentários
7 Comentários on "O Movimento Passe Livre São Paulo e a Tarifa Zero"
1. Fátima Ayache em 26 de outubro de 2011 02:51 
Não é exatamente um comentário, mas sim uma pergunta.
O Tarifa Zero ou Passe Livre, é um movimento anarquista?
2. Legume em 27 de outubro de 2011 13:00 
Não, o MPL é um movimento autônomo do qual participam pessoas com as mais variadas concepções políticas.
3. Maria Ester Sicito em 29 de setembro de 2012 19:33 
Voces deveriam usar seu tempo para fazer um trabalho de respeito com as pessoas e nao badernar a inaguraçao de uma praça que durante
muito tempo foi um centro de drogas e pessoas desocupadas fazer barrulho para usufluir de proveito proprio sao iguais aos politicos se que
unem com ideais e filosofias diferentes no intuito de ganharem as eleçoes a qualquer custo. ejam mais inteligentes respeite o direito dos
outros, pois voces parem um bando de baderneiros.
4. Legume em 29 de setembro de 2012 21:02 
Oi Maria Ester,
O MPL faz um trabalho de base por outra proposta de transporte público, tentamos assim transformar a cidade em que vivemos. Se você
procurar aqui no Passa Palavra irá encontrar diversos relatos destes trabalhos.
Quanto ao ato na Praça Roosevelt você pode ler mais aqui: http://passapalavra.info/?p=64918
Sinceramente acho que inaugurar uma praça as vesperas da eleição com o custo de mais de 55 milhões é eleitoreiro, já se manifestar contra
uma política urbana autoritária, higienista e excludente, como fazemos há anos me parece uma luta popular.
5. shalia santos em 7 de junho de 2013 15:26 
oi gostaria de participar da manifestação que terá hoje dia 07­06­2013, pelo que vi será proximo a Faria Lima gostaria de confirmar o local e
em qual altura??
6. Passa Palavra em 7 de junho de 2013 15:31 
Shalia,
Por favor, veja aqui:
http://passapalavra.info/2013/06/78554
A concentração é hoje, dia 7 de junho, às 17h, no Largo da Batata, próximo ao metrô Faria Lima.
7. fernando Maioni em 8 de junho de 2013 23:28 
Parabenizo a conquista do espaço na mídia.só isso já é gratificante porque ela está atrelada com o governo e não deixa passar nada que
favoreça realmente o povo. só espero que não caiam na ilusão de aceitarem partidos políticos no movimento.Podem crer esse movimento tem
tudo para vencer e, outros iguais a esse virão .Abraços!!
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09/06/2016 O Movimento Passe Livre São Paulo e a Tarifa Zero : Passa Palavra
http://www.passapalavra.info/2011/08/44857 5/6
Citando… Giuseppe Tomasi di Lampedusa
Se queremos que tudo continue como está, é preciso que tudo mude. Giuseppe Tomasi di Lampedusa (1896­1957), escritor italiano.
Flagrantes Delitos
Nota de rodapé
Muito se fala sobre a baixa votação favorável à renda mínima em recente plebiscito na Suíça (22%). Pouco se fala sobre a alta votação
favorável (61%), no mesmo dia, à realização de testes genéticos em embriões antes que eles sejam inseridos no útero feminino, em caso de
fertilizações in vitro. E nada se fala sobre o que isto quer dizer, quando lido junto na mesma notícia (ver aqui). Passa Palavra
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