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Aula 3 MARTINS e CORDEIRO Revolta popular o limite da tática Passa Palavra

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09/06/2016 Revolta popular: o limite da tática : Passa Palavra
http://www.passapalavra.info/2014/05/95701 1/11
Quinta­feira, 09 de Junho de 2016
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Revolta popular: o limite da tática
27 de maio de 2014   
Categoria: Ideias & Debates
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Violenta e generalizada, a quebra da ordem que ocorre com a explosão da revolta traz consigo um vislumbre da possibilidade de transformação
social; mas ao existir na  tensão entre uma minoria organizada e uma maioria não organizada, a  revolta popular  limita a  si mesma. Por Caio
Martins e Leonardo Cordeiro
Na luta contra o aumento até a Choque treme
Não tem pra PE, Civil, nem pra PM
A luta está presente em todo o Brasil
Isso não é mais só movimento estudantil
Agora é espalhar a revolta popular [1]
“Se a tarifa aumentar, a cidade vai parar”, avisavam cartazes espalhados desde um mês antes, convocando uma mobilização para o início de junho.
O primeiro ato acontece em uma quinta­feira e  invade de assalto a  rotina da cidade ao bloquear com pneus em chamas uma avenida do centro.
Surpreendida  e  desorientada,  a  Polícia Militar  não  consegue  reprimir  com  eficácia  e,  conforme  os manifestantes  se  dispersam  e  reagrupam,  o
confronto  se  espalha  por  um  raio  cada  vez  maior,  prolongando  a  batalha  noite  adentro.  Corre  a  notícia  da  repressão  e  do  enfrentamento  e  o
movimento chama um ato para o dia seguinte, no qual cinco mil pessoas mar cham por uma das maiores vias expressas da metrópole sem conflito
com a polícia.
Essa poderia ser a descrição dos primeiros momentos da jornada de luta contra o aumento da tarifa
em São Paulo em 2013, mas é também a narração exata da luta contra o aumento em Vitória no Espírito Santo em 2011. A coincidência de roteiros
não é mera casualidade. Revela a existência de uma estratégia comum, construída por esses movimentos ao longo da última década, que tem em seu
cerne as revoltas populares contra os aumentos das tarifas.
A cada ano, as mobilizações contra o aumento das passagens do transporte se revelaram mais centrais na luta urbana. Do norte ao sul do país, das
cidades médias às grandes metrópoles, se construiu uma cultura de luta em que toda tentativa de aumento é respondida por protestos. Esses talvez
tenham sido, durante muito tempo, os raros atos de rua organizados pela esquerda a ganharem tanto eco e adesão popular que terminavam sempre
maiores do que começavam – embora, é claro, não raro fossem reprimidos.
Enquanto os ascensos de outros movimentos urbanos – de moradia, por exemplo – dificilmente ultrapassam o limite de sua ocupação ou bairro, nas
lutas contra o aumento a mobilização tem a tendência a tomar conta de toda a cidade, a se generalizar como revolta. Talvez porque o transporte não
seja um problema  restrito a um determinado  local ou categoria,  e  sim uma questão que atravessa a vida de  toda cidade. Concentra­se nele uma
experiência  de  sofrimento  enfrentado  conjuntamente  pelos  trabalhadores,  um  cotidiano  comum  de  exploração  em  que  é  possível  reconhecer­se
09/06/2016 Revolta popular: o limite da tática : Passa Palavra
http://www.passapalavra.info/2014/05/95701 2/11
(como  classe?). De  sentimento  compartilhado,  a  revolta  sai  de  dentro  do  transporte:  explode  como  ação  conjunta,  nos  ônibus  incendiados,  nas
catracas quebradas ou nos trilhos ocupados.
“Revolta”  foi  precisamente  o  nome  dado  aos  acontecimentos  de  Salvador  em  2003  e  Florianópolis  em  2004  e  2005.  Revelando  a  potência  do
caminho que se abria, a Revolta do Buzú e as duas Revoltas da Catraca estabelecem o paradigma para as lutas contra o aumento de toda a última
década; entram no imaginário da militância como horizonte dos movimentos por transporte. Ao afirmar de maneira explícita que era preciso “fazer
Florianópolis  aqui”  ou  simplesmente  espelhar­se  naquela  forma  de  luta  como  referência  difusa,  as  lutas  em  diversas  cidades  do  país  enxergam
naquelas experiências o desfecho culminante a ser atingido. Assim, traçam de forma tácita, nem sempre enunciada, uma mesma estratégia.
O roteiro emblemático que se desenha de Salvador a Florianópolis traz alguns elementos que se repetiriam em inúmeras cidades nos anos seguintes,
com ou sem sucesso. A constelação desses elementos desenha uma tática que podemos chamar de “revolta popular”: um processo de fôlego curto,
mas explosivo, intenso, radical e descentralizado. As primeiras manifestações atuam como ignição de uma mobilização que extrapola o controle de
quem a iniciou – que perde toda a capacidade de interrompê­la. Há uma escalada de ação direta: ocupação massiva e travamento de importantes
artérias da cidade, enfrentamento com a polícia, ataques ao patrimônio público e privado, saques. Ao prejudicarem a circulação de valor e lançarem
uma ameaça de caos – desobediência generalizada –, os protestos, que não respondem a um representante com quem seja possível uma negociação,
forçam o governo a recuar para restabelecer a “ordem”.
Salvador e Florianópolis se repetiram com sucesso em Vitória, Teresina, Porto Velho, Aracajú, Natal,
Porto Alegre, Goiânia, até à derrubada das tarifas em São Paulo, Rio de Janeiro e mais de 100 cidades em junho de 2013. Com um olhar que viveu
esse último momento, especificamente em São Paulo, este texto busca enxergar todo aquele processo.
A direção da revolta
Se, por um lado, o roteiro da revolta investe na perda de controle e na explosividade, por outro, ele depende quase sempre de um polo altamente
organizado da luta, uma organização que elabora e formaliza seu sentido e lhe garante alguma coesão, permitindo que as mobilizações avancem de
forma autônoma,  seguindo a direção primordial:  a  reivindicação de  revogação do aumento. Ora,  segundo a narrativa  assumida pelo Movimento
Passe Livre  [2],  foi  justamente  por  não  possuir  esse  polo  articulado  que  a Revolta  do Buzú  não  foi  vitoriosa:  o  espaço  vazio  foi  ocupado  por
dirigentes de entidades estudantis burocratizadas e partidos políticos. Já em Florianópolis, uma organização independente de juventude, racha de um
grupo trotskista do PT, assumiria esse papel, elaborando uma estratégia para alcançar a vitória. Era a Campanha pelo Passe Livre – mais tarde, MPL
–, que no levante de 2005 cumpriria, nos termos de um então militante, o papel de uma “boa direção”, que soube “jogar, compor e criar com as
práticas produzidas de forma autônoma pela movimentação social”:
Quando falo de direção não falo de mando e obediência, e nem de manipulação das massas. Falo de um grupo que pensa, planeja,
discute e estuda as questões sociais em torno do levante popular, assim como o dia­a­dia do levante, de modo a se chegar à conquista
das  reivindicações  do movimento. Ora,  tal  papel  de  direção  se  faz  necessário  partindo  do  pressuposto  que,  deixada  à  sua  própria
dinâmica, a revolta popular somente por acaso e pouco provavelmente se efetivaria nas conquistas almejadas. Esse direcionamento,
esse grupo articulador, propulsionador e pensante, visaria portanto aumentar a probabilidade de que a revolta popular se reflita no
atendimento ou conquista das  reivindicações.  (…) com certa composição social a única direção efetiva, possível e desejável, não é
aquela que tenta disciplinar, moldar ou controlar o comportamento social a um ideal, mas aquela que consegue encontrar e pôr em
uma sequência virtuosa as práticas diversas, aparentemente antagônicas e espontâneas, que surgem da movimentação social [3].
Esse  “grupo que  pensa,  planeja,  discute  e  estuda”  as  questões  sociais  em  torno  do  transporte  e  das  lutas  contra  o  aumento  da  tarifa  durante  as
mobilizações planejaráseus passos nas ruas “de modo a se chegar à conquista das reivindicações” e por vezes assume também o papel de produzir a
revolta,  isto  é,  de  criar  as  condições  para  ela  por  meio  de  trabalhos  de  mobilização,  agitação  e  propaganda,  e  impulsionando  as  primeiras
manifestações.  Em  meio  aos  protestos,  a  formalização  construída  pelo  polo  organizado  garante  a  coesão  entre  práticas  diversas,  e  mesmo
contraditórias (do vandalismo aos “coxinhas”), direcionando­as para um norte comum. Esse momento de controle é essencial para seu momento
oposto, de perda de controle.
Conforme irrompiam lutas contra o aumento nas cidades de todo o Brasil, foram se constituindo agrupamentos que assumiriam esse papel diretivo.
Ocupariam  tal  lugar  especialmente  os  vários  “comitês  de  luta  pelo  passe­livre”,  articulados  nacionalmente  no  MPL  desde  2005.  Expressão
proeminente  (mas não única  [4])  dos  polos  organizativos  das  revoltas,  o Movimento  aponta,  ao mesmo  tempo,  para  além delas,  já  que  põe  em
questão a própria tarifa e o modelo atual de transporte. Contraditoriamente, ao nascer do entusiasmo das revoltas, como tentativa de elaboração do
sentido daquelas experiências, o MPL orienta­se sobretudo para as lutas contra o aumento, numa tensão permanente entre a dimensão reativa dessas
jornadas e a construção de um outro transporte. Com isso, a articulação nacional pelo passe livre toma, com o tempo, a forma de uma articulação
entre grupos dirigentes das lutas contra aumentos.
O papel de direção assumido nas revoltas entra em conflito com os princípios da horizontalidade e da autonomia, tão caros ao movimento. Durante
a luta contra o aumento, portanto, sua forma só pode ser a de uma direção que se nega a si mesma, que não se afirma como tal e por vezes nem
sequer se enxerga assim; que não ambiciona o controle total e, mais do que isso, tem como fim perder completamente o controle.
Controle e perda de controle
09/06/2016 Revolta popular: o limite da tática : Passa Palavra
http://www.passapalavra.info/2014/05/95701 3/11
Junho de 2013 em São Paulo parece ser um momento em que o movimento acredita ter clareza sobre
que fazer no decorrer da revolta e assume, assim, o papel de direção da forma mais consciente e visível. O MPL­SP colocou para si a  tarefa de
elaborar sozinho um planejamento detalhado da luta, a partir da dinâmica que se podia apreender das experiências concretas anteriores: para triunfar
ela deveria ser radical, intensa e descentralizada. Não houve assembleias abertas ou uma frente ampla, as articulações foram extremamente seletivas
para evitar desgastes como os enfrentados em jornadas anteriores. Tudo que parecia desnecessário ao roteiro definido foi relegado ao segundo plano
ou  descartado.  O  trajeto  de  cada  ato,  decidido  pelo  restrito  grupo  de  militantes  do  MPL­SP,  era  taticamente  secreto:  informado  a  algumas
organizações próximas, mas nunca revelado à imensa maioria dos manifestantes. E, mesmo que a “revolta popular” e a “perda de controle” tenham
aparecido  no  discurso  público  do movimento  logo  no  primeiro  dia,  aquele  pequeno  grupo  de  pessoas manteve,  apesar  da  retórica,  um  controle
razoável  sobre  as manifestações  até  às  vésperas  da  revogação  do  decreto. Mesmo  na  imensa marcha  da  segunda­feira,  17  de  junho  –  da  qual
participaram, sem exagero, mais de um milhão de pessoas –, o grupo dirigente conseguiu executar o trajeto que definira, dividindo o ato em duas
frentes que reencontraram­se na Ponte Estaiada (apesar de outras divisões). Ao longo das três semanas de luta, a primeira vez que o MPL­SP não
conseguiu conduzir uma manifestação segundo o trajeto decidido foi na terça­feira seguinte.
Nos dias 18 e 19 de junho os protestos se descentralizaram de fato, e espalharam­se pela cidade os quebra­quebras e os saques. O Movimento não
conseguiu sequer conduzir o início da manifestação e era impossível ter ideia de tudo que se passava. Enquanto centenas de milhares de pessoas
tomavam a avenida Paulista e a Consolação, o centro de São Paulo torna­se uma espécie de zona liberada: ocorrem numerosos saques a lojas de
grandes  cadeias,  um  carro  da Record  é  incendiado,  fachadas  de  bancos  e  vitrines  saem  destruídas. Depois  de  derrubar  o  portão  do  Palácio  do
Governo  do  Estado  no  dia  anterior,  manifestantes  tentam  invadir  a  Prefeitura,  destroem  seus  vidros  e  a  cobrem  de  pixações.  “Funcionários  e
assessores do prefeito chegam a se armar e erguer barricadas” [5].
Simultaneamente, mas fora das câmeras, manifestações autônomas eclodiam em vários pontos da cidade. Nas linhas Esmeralda e Rubi da CPTM
(Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), após panes, passageiros ocupam os trilhos, quebram os trens e sabotam as vias. Em Cotia, cerca de
cinco mil pessoas trancam os dois sentidos da Rodovia Raposo Tavares. Protestos bloqueiam a Ponte do Socorro e a Estrada do M’Boi Mirim. No
Grajaú,  junto  a  uma  onda  de  saques,  fala­se  em mais  de  89  ônibus  danificados. Na  zona  leste,  o  impacto  foi  tamanho  que,  no  dia  seguinte,  o
Consórcio Leste 4 colocou menos da metade da frota em operação. Em Guarulhos, manifestantes bloqueiam por horas a via de acesso ao Aeroporto
Internacional.
Violenta  e  generalizada,  a  quebra  da  ordem  que  ocorre  com  a  explosão  da  revolta  traz  consigo  um  poderoso  vislumbre  da  possibilidade  de
transformação social. Ao descrever esse momento em Florianópolis, no ano de 2004, um militante afirma que “o ultimato dado pelo movimento, a
convocação de megamanifestações e a desobediência civil generalizada, deixaram a cidade em verdadeiro clima pré­insurreicional.” Suas palavras
poderiam muito bem se referir aos últimos dias de luta em São Paulo quase dez anos depois: “era difícil prever o que poderia ocorrer […] caso a
classe dirigente não houvesse revogado o aumento das tarifas”; “a situação poderia sair completamente do controle das autoridades constituídas (e
destituídas!)“ [6].
Greve geral, ocupação dos prédios públicos, tomada da cidade por barricadas em cada bairro, expropriação de frotas… eis alguns desdobramentos
que  o  ascenso  popular  abria  à  imaginação  às  vésperas  do  anúncio  da  revogação  do  aumento.  É  precisamente  a  ameaça  de  um  enorme  salto
organizativo dos trabalhadores que alarma a classe dominante – o “caos social” bate à porta e deve ser contido pelo governo, cedendo [7]. A tática
histórica das  luta  contra o  aumento,  que  aqui  chamamos de  “revolta popular”,  aposta para  seu  sucesso nessa  ameaça  e,  no  entanto depende,  ao
mesmo tempo, de que ela não se realize. Para conquistar a reivindicação central, a revolta deflagra um processo explosivo, que é necessariamente
freado no momento em que se atinge a conquista.
Se a  tática é eficiente, o salto organizativo  já nasce castrado e vai existir apenas como vislumbre. A breve perda de poder sobre as ruas permite
entrever  outro  poder,  um  poder  popular,  tão  palpável  quanto  inalcançável  naqueles  dias. Ao  existir  justamente  na  tensão  entre  uma  minoria
altamente organizada e uma maioria não organizada, a revolta popular limita a si mesma. Pois ao mesmo tempo que na luta contra o aumento de São
Paulo a população agiu diretamente sobre sua vida, não é menos certo que existia um comando que decidia o que fazer. Se depois de junho uma
parte da esquerda avaliou que o problema no processo era a carência de uma “direção revolucionária”, nos parece o contrário: nas revoltas contra o
aumento,  o  que  falta  –  e  por  isso  se  trata  de  revoltas  –  é  horizontalidade,  ou  seja,  poder  direto  dos  que  estavam nas  ruas  sobre  o  que  estavam
fazendo, algo que depende da existência de estruturas enraizadas no dia a dia dos trabalhadores.
Entre governo e desgoverno
Nas palavras de um militante do MPL de São Paulo:
Junho  com  certezanão  teria  acontecido  do  jeito  que  aconteceu  se  não  existisse  esse  grupo  de  pessoas  analisando,  fazendo  os
planejamentos e  ralando para que  fossem cumpridos,  isso é uma certeza que eu  tenho hoje, mas  isso  foi uma  limitação que estava
colocada para as coisas acontecerem do jeito que aconteceram naquele contexto. Era um problema que só esse grupo decidisse tudo
que ia acontecer, foi uma limitação não existirem organizações de bairro ou local de trabalho que conseguissem intervir no que estava
acontecendo por toda a cidade. (…) Um dos objetivos do MPL é a gestão popular no transporte, [algo que] é mais do que claro que
aquele  grupo  não  poderia  conseguir  realizar,  justamente  porque  isso  só  pode  acontecer  se  houver  organizações  em  cada  bairro
organizando o transporte por si mesmas e não sendo organizadas por outras pessoas. [8]
Tal limitação “que estava colocada” à luta é a própria limitação do contexto histórico no qual surgem as revoltas. Ora, o chamado trabalho de base
há anos desapareceu da prática política da esquerda brasileira. A organização popular que era a base da esquerda foi o custo do projeto de governar
gestado por esta no fim dos anos 70 – foi um preço pago à medida que esse projeto se realizava [9]. Ao subir rumo ao governo, o PT alça consigo a
direção  dos  movimentos  populares  e  a  insere  plenamente  nos  mecanismos  da  gestão  dos  conflitos  sociais  (dos  canais  governamentais  de
“participação” ao “Terceiro Setor” em expansão). Não à  toa, a  tônica do discurso é a da  inclusão. Marcadas por uma crescente distância entre a
cúpula  e  a  base,  enquadradas  pelas  ditas  “políticas  públicas”  (desenvolvidas  a  partir  do  conhecimento  acumulado  pelos  próprios militantes),  as
organizações  populares  sofrem  um  esvaziamento  que  as  atrela  a  uma  enorme máquina  burocrático­eleitoral  [10]. As  “bases”,  agora,  só  podem
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existir  como  contingentes  coisificados,  devidamente  domesticados  e  representados,  de  trabalhadores  –  tratadas  como  moeda  de  troca  das
burocracias.
O sentimento generalizado de impotência, com raízes fincadas na própria esquerda, se alastra entre o
conjunto  dos  trabalhadores  e  encontra  coro  também nos  “radicais”  de  fora  do  governo. Adequadamente  escorado  nos  clichês  de  um marxismo
determinista  (seja  o  das  análises  “realistas”  do  governo  ou  o  de  uma  oposição  de  esquerda  em  defensiva),  o  consenso  imobilizante  sobre  “a
correlação de  forças” naturaliza  a  injustiça  e o  sofrimento – medir  forças  contra o  capital  é  perda de  tempo. Foi  levada  a  cabo uma verdadeira
domesticação: “críticas”, nas palavras de Paulo Arantes (em quem nos apoiamos um tanto nessa análise), “só propositivas e com indicação da fonte
de financiamento” [11].
“Nessa espantosa fábrica de consensos e consentimentos em que o país se converteu”, as engrenagens da inclusão estão intimamente ligadas a um
projeto  de  “pacificação  armada”  [12].  As  peças  institucionais  não  funcionam  sem  os  mecanismos  de  exceção:  ambos  se  complementam  na
empreitada de conquistar e gerenciar indivíduos, divididos em territórios. Com a multiplicação sem precedentes das tecnologias sociais de controle
vivida pelo país, aparecem “policiais que realizam atividades de educadores ou animadores sociais,  (…) gerentes de banco que funcionam como
conselheiros de negócio e empreendimento, comerciantes que viram caixa de banco,  líderes comunitários que gerenciam programas de governo,
gestores públicos que transacionam empreendimentos privados” [13].
Era de se esperar que a resposta viesse como perda de controle. Para os pequenos grupos que se mantinham na esquerda à margem do governo,
disparar o desgoverno da revolta era a possibilidade de fazer  frente àquela gigantesca estrutura de gestão da  luta de classes. A explosão política
violenta  das  ruas  recusa  os mecanismos de  participação  e  reage  à  repressão  armada.  – Em São Paulo,  a  tática  do movimento  é  assumidamente
elaborada para enfrentar a estratégia de diálogo esperada de uma Prefeitura petista [14].
Embora  nos  falte,  aqui,  analisar  o  lugar  do  transporte  na  estrutura  gerencial  da  cidade  e  na  recusa  dela  [15],  é  evidente  que  a  revolta  aparece
justamente como crítica destrutiva, como negação do consenso  imobilista. Reação explosiva e de  tiro curto, ela  responde ao projeto eleitoral da
esquerda dentro da lógica que ela imprimiu à luta social: o espetacular, o tempo midiático, as quedas de popularidade. A revolta é, talvez, o avesso
daquela imobilidade, a tradução política daquele sentimento de impotência – finalmente ecoa uma dissonância na monótona paralisia entoada pelos
mais  diferentes  setores  políticos. Mas,  enquanto mero  eco  da  potência  esquecida  da  classe  trabalhadora,  vislumbre  de  um  antagonismo  real,  a
revolta está limitada. Com um pé (ou dois?) na política do espetáculo, ela não pode ir além da impotência.
O sentido da revolta
O aparente  imediatismo da  revolta,  um  tempo de  acontecimentos  imediatos,  é  também um  tempo profundamente mediado  –  por  um  teatro  que
transcorre  em  separado  da  vida  cotidiana.  E  conforme  a  tática  de  revolta  passa  a  orientar  toda  a  construção  estratégica  do MPL,  aquele  ritmo
acelerado é transposto para o dia a dia do movimento. Seus esforços se resumem recorrentemente, assim, à preparação das mobilizações, na lógica
da agitação e propaganda[16]. Sem estruturas de base, o elo entre os manifestantes e a organização é mediado, nas lutas contra o aumento, quase
que exclusivamente pela internet (inicialmente pelo CMI, mas desde 2011 principalmente pelo Facebook), pela televisão e por jornais impressos.
Foram esses canais – na maior parte controlados pela classe dominante – os principais meios usados pelo movimento para convocação dos atos,
divulgação das pautas e posicionamentos [17].
A  fragilidade  do  elo  entre  os  dois  polos  ameaça  permanentemente  a  direção  da  revolta:  seu  sentido  pode  ser  apropriado  –  e  os  meios  de
comunicação estão em posição privilegiada para  fazê­lo. Assim foi em  junho de 2013, quando a  imprensa burguesa, diante da massificação das
manifestações, trabalhou pela diluição da pauta dos 20 centavos em meio à evocação difusa da corrupção.
Essa perda de sentido assombra a perda de controle. Se a mobilização deve transbordar o controle do MPL, ela deve necessariamente transbordar a
pauta construída desde o início pelo movimento. Por isso, a cada vez que reafirmava o sentido único dos protestos, o Passe Livre reafirmava a si
mesmo enquanto direção do processo. Contudo, a potência transformadora que a revolta deixa entrever tem que ir muito além dos 20 centavos – é
uma  força de mudança  total. A explosão da  revolta  é, portanto,  também a explosão do  sentido e, na medida em que essa explosão  tem que  ser
contida, a manutenção da pauta (em que se empenha o MPL) cumprirá um papel limitador fundamental. Depois da redução da passagem, resta uma
mobilização sem direção cujo sentido será  facilmente disputado pelos antigos  intermediários. Entretanto, o além­dos­20­centavos, que só existia
dentro da luta pelos 20 centavos, já não é nada.
Em junho de 2013, o processo encontrou seu limite de modo muito forte em São Paulo – justamente
onde os  20  centavos  definiram claramente  a  direção da  revolta. É  verdade que o  refluxo paulistano  atinge  logo  em  seguida  as  cidades  onde  as
manifestações explodiram movidas pela repercussão dos acontecimentos difundidos pela mídia. Entretanto, onde a finalidade dos protestos esteve
mais dispersa,  desagregada,  como no Rio de  Janeiro,  o  final do processo  também  foi diluído, num  longo  rescaldo que  se  estendeu pelos meses
seguintes. Como as ruas cariocasnão tinham um sentido predominante – a revolta não era uma tática planejada por um grupo dirigente com um
objetivo claro –, elas não perdem completamente o sentido após a redução da tarifa.
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Junho passou
A elaboração tática da revolta popular, gestada desde 2003, foi levada às últimas consequências. O novo caminho da luta urbana que se desdobrava
nas  diferentes  jornadas  contra  cada  aumento  no  país  bate  no  topo  em  junho. Atingindo  uma  dimensão  inédita,  o  sucesso  definitivo  da  revolta
enquanto tática em 2013 é também o esgotamento dela.
Na  luta de  rua,  já não parece possível driblar as  forças  repressivas com as mesmas manobras dos últimos anos. A  insistência nelas desenha um
cenário de gestão de motins,  já espalhado pelo mundo: mesmo os mais violentos protestos, enquadrados na rotina e cirurgicamente contidos pela
polícia, já não são tão capazes de abalar a ordem. Dos serviços de inteligência à justiça, a repressão estatal aprimora seu produto [18]. Os protestos
entram nos cálculos dos políticos, da imprensa e das seguradoras. A rua como fim em si mesma é um beco sem saída. Os enfrentamentos com a
polícia, resumidos a um desgaste inócuo, se esvaziam tanto quanto o modelo dos “grandes atos” – organizados por articulações que não se cansam
de buscar a bandeira sob a qual voltará a se forjar “a unidade da esquerda”. Parece que se alastrou uma fixação pelo passado que impede de projetar
no horizonte algo além da mera repetição do que já foi: “junho não acabou”, as “jornadas de agosto”, “tô na rua outra vez”, “outros junhos virão”…
por aí vai.
E não foi apenas em um de seus polos (a rua) que se esgotou a tática de revolta; o mesmo acontece com o outro (o coletivo organizado): descolado
do processo de mobilização, o grupo que ocupou o papel de direção perde o sentido. Quando cai a tarifa em São Paulo e outras centenas de cidades,
a  forma  organizativa  da  direção  das  revoltas  contra  o  aumento  completa  sua  empreitada,  que  se  desenhava  a  cada  ano:  abrir  uma  fissura  no
consenso. Orientado por  e para  as  revoltas,  o  formato  assumido pelo MPL perde  seu  lugar. Talvez por  isso, muitos dos  coletivos que dirigiram
grandes jornadas de luta e alcançaram vitórias procuraram, em seguida, reformular sua atuação. Todavia, é possível enxergar práticas que indicam
uma forte tendência a insistir no antigo papel de direção.
Por um lado, aquele grupo que esteve ligado a algo muito maior que si volta­se para a manutenção de sua própria estrutura: para continuar existindo,
ele  se  isola  cada  vez mais  das  lutas  sociais  e  de  seus  lutadores  [19].  Por  outro  lado,  acelerado  pelo  ritmo  dos  acontecimentos  na  revolta,  ele
desperdiça cegamente suas forças na ânsia em responder às crescentes cobranças de um jogo político em que recentemente foi considerado ator –
incluindo aí os pedidos de entrevista e de posicionamento, a assinatura de variados manifestos e ações, as pesquisas acadêmicas, os convites para
mesas e palestras, o interesse dos gestores públicos e privados [20]. O reconhecimento pelos demais “atores políticos”  transmite à organização a
dinâmica desse teatro. Se ela não tem um novo horizonte, inevitavelmente se apega ao passado e reafirma a forma morta – sobra apenas uma marca
a ser administrada [21].
Dizer que a tática histórica que aqui chamamos de “revolta popular” se esgotou não é, em nenhuma
instância, decretar o fim da revolta – aquela atitude que há séculos pulsa entre os dominados. Ao contrário, esta nunca esteve tão presente: desde
junho, a disposição à luta só cresceu. Mas o que construímos além dessa disposição? Milhões saíram às ruas e, de volta à casa, ao bairro, ao local de
trabalho,  voltaram  à  rotina  de  sofrimentos  e  humilhações  (talvez  um  pouco  mais  indignados)?  Embora  tenha  produzido  ecos,  o  momento  de
mobilização não conseguiu ir além de si mesmo, não encontrou continuidade em um momento de organização.
Se não saímos de 2013 com um aumento na organização dos de baixo, talvez o terreno para essa organização esteja mais fértil. Ao apontar para algo
vivo  para  além  do  cotidiano morto  de  consensos  e  consentimentos,  junho  quebrou  o  feitiço.  Era,  porém,  ainda  uma  recusa  impotente:  apenas
entrevimos  a  possibilidade de um outro mundo. Como  fazer  com que o vislumbrado passe do possível  para o  real? É no mínimo  indispensável
superar a centralidade da tática de revolta e formular uma perspectiva estratégica mais ampla, a perspectiva de uma recusa mais potente, enraizada
no cotidiano. É preciso construir o que se tornou imaginável.
Notas
[1] Paródia do funk “Morro do Dendê” (da trilha sonora do filme Tropa de Elite) cantada na luta contra o aumento de Vitória (ES).
[2] Essa é a narrativa que aparece, por exemplo, no artigo assinado pelo MPL de São Paulo no livro Cidades Rebeldes (São Paulo: Boitempo, 2013).
[3] Leo Vinicius. Guerra da Tarifa 2005. São Paulo: Faísca, 2005. pp. 60­61.
[4]  Há  todo  um  imaginário  comum  da  história,  da  estética,  dos  princípios,  propostas  e  táticas  da  luta  do  transporte  que  é  em  grande  parte
formalizado  em  torno  do MPL, mas  do  qual  fazem  parte  outras  organizações.  Para  citar  alguns  exemplos  atuais:  o Movimento  Não  Pago  em
Aracajú,  o Bloco  de Lutas  pelo Transporte  Público  em Porto Alegre,  o Tarifa  Zero  em Belo Horizonte,  os movimentos  Pula Catraca  e Contra
Catraca no interior de São Paulo, entre outros inúmeros comitês, fóruns e frentes de luta espalhados pelo país.
[5] Elena Judensnaider e outros. Vinte centavos: a luta contra o aumento. São Paulo: Veneta, 2013.
[6] Leo Vinicius. A Guerra da Tarifa. São Paulo: Faísca, 2005. pp. 60­61.
[7]  Na  primeira  Revolta  da  Catraca,  a  ameaça  foi  explícita:  “Depois  de  quase  duas  semanas  de  revolta,  os  estudantes  deram  um  ultimato  e
convocaram um protesto monstro que deveria reunir mais de vinte mil pessoas. O movimento deixou vazar para as autoridades que se não houvesse
revogação  do  aumento  das  passagens,  tentariam  uma  ocupação  da  câmara  e  da  prefeitura  decretando  um  governo  municipal  por  conselhos
populares.  Misto  de  bravata,  estratégia  e  ingenuidade,  a  ameaça  surtiu  efeito.  Ante  a  iminência  de  uma  passeata  de  enormes  proporções  e
consequências imprevisíveis, um juiz federal da cidade simplesmente revogou o aumento, poucos momentos antes da manifestação, alegando temor
pelo “caos social” gerado pelos ”’combates’ nas ruas de Florianópolis” na luta contra os ‘exorbitantes preços atribuídos às passagens do transporte
coletivo’.”  (Pablo  Ortellado.  “Um  movimento  heterodoxo”.  CMI  Brasil,  2004.  Em:
http://www.midiaindependente.org/pt/red/2004/12/296635.shtml).  Em  junho  de  2013,  logo  antes  do  anúncio  da  revogação  do  aumento  em  São
Paulo, a proposta de convocar uma greve geral para a semana seguinte ganhava eco entre as mais diversas organizações de esquerda (a proposta
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inclusive teve desdobramentos, e a tal greve aconteceu, mas como farsa, descolada da revolta).
[8] O comentário é do camarada Arabel, publicado em um grupo de discussão em uma rede social.
[9]  Sobre  o  ineditismo  dessa  esquerda  que  se  propôs  a  governar,  ver  a  participação  de  Paulo Arantes  no  Seminário  “Governar  após  junho”
promovido pelo PSOL em São Paulo. Em: youtu.be/wM4WoY8hqQM (a partir de 00:32:00, com péssimo áudio).
[10] O artigo “Estado e movimentos sociais” reflete mais profundamente sobre a relação entre esquerda no governo e os movimentos sociais. Em:
http://passapalavra.info/2012/02/52448.
[11]  Paulo  Eduardo Arantes.  “Fim  de  um  ciclo  mental”  em  Extinção  (SãoPaulo:  Boitempo,  2007),  p.  250,  entre  outros  artigos  e  entrevistas
compilados no mesmo volume, em especial nas partes 3, 4 e 5. Ver também “O ‘pensamento único’ e o marxista distraído”, do mesmo autor (Zero à
esquerda. São Paulo: Conrad, 2004). Em reunião com o movimento em junho, quando “Haddad pede a definição de uma fonte orçamentária do
subsídio que reivindicam (…) o MPL diz que não cabe ao movimento encontrar soluções técnicas para uma demanda social” (Judensnaider, 2013).
Para uma possível origem das “críticas propositivas” na esquerda brasileira, ver http://passapalavra.info/2012/05/58422.
[12] Continuamos na trilha de Paulo Arantes, agora no ensaio “Depois de junho será a paz total”, no novo livro O novo tempo do mundo (São Paulo:
Boitempo, 2014), que aproveitamos de última hora, quando já terminávamos de escrever este texto.
[13]  Livia  de  Tommasi  e  Dafne  Velazco.  “A  produção  de  um  novo  regime  discursivo  sobre  as  favelas  cariocas  e  as  muitas  faces  do
empreendedorismo de base comunitária”. Texto apresentado na 35ª reunião da Anpocs (Caxambu, 2011) e citado por Paulo Arantes em “Depois de
junho será a paz total”.
[14] Em abril de 2013, durante uma marcha dos movimentos de moradia, Fernando Haddad desceu do gabinete e discursou para os manifestantes,
transformando o ato em um comício. No primeiro grande ato de junho, a prefeitura esperava receber uma comissão do movimento, para colocá­la,
ao que tudo indica, “numa dispersiva mesa de negociação técnica” (Judensnaider, 2013).
[15] Parece que ainda falta muita reflexão sobre esse lugar. Em “Depois de junho a paz será total”, Paulo Arantes faz considerações interessantes e
indica algumas  referências  (ver pp. 404­424). Outros apontamentos nessa direção  foram  feitos em “Violência e  imaginação: quando o cotidiano
desce do ônibus” (http://tarifazero.org/2014/05/17/violencia­e­imaginacao­quando­o­cotidiano­desce­do­onibus/).
[16] Apesar  de  explorar  bem  a  dimensão  lúdica  e  artística,  esse  tipo  de  ação  quase  sempre  constitui  uma  intervenção  pontual,  descontínua,
desenraizada, dispersa. O movimento se apropriou e desenvolveu diferentes formas de agitar a cidade e propagandear a luta: atividades em escolas,
panfletagens, escrachos às autoridades, cartazes, pixações, catracaços, divulgação nas redes sociais, ações midiáticas, pequenos protestos, artigos e
reportagens da imprensa, entre outras.
[17] A centralidade da mídia na atuação do MPL aparece na própria origem do movimento, herdeiro do Centro de Mídia Independente (CMI) e de
uma  cultura  ativista  que  remonta  à Ação Global  dos Povos. Para  uma  crítica mais  profunda dessa  cultura  ativista,  ver Felipe Corrêa.  “Balanço
crítico acerca da Ação Global dos Povos no Brasil”. Publicado em seis partes: http://passapalavra.info/2011/07/42773.
[18]  Para  mais  sobre  esse  cenário,  ver  “Teoria  do  Caos”,  originalmente  publicado  em  Police  Reviews  e  traduzido  pelo  Passa  Palavra
(http://passapalavra.info/2014/03/92961)  e  “A  mais­valia  relativa  da  polícia:  sobre  repressão  e  controlo  social”  no  mesmo  site
(http://passapalavra.info/2014/04/93676). Não custa dizer que a tática policial do encapsulamento, novidade de 2014 da PM paulista, já era usada
desde 2006 em Santa Catarina – não por acaso.
[19] Não importa o tamanho desse burô, seja ele formado por quatro ou por quarenta pessoas, porque há o que Felipe Corrêa chama de “desperdício
de força social”: “há excesso de processos e estruturas, pessoas fazendo o que não é necessário, pouca gente envolvida com atividades importantes
(trabalho de base, por exemplo) etc.”  (“Movimentos  sociais, burocratização e poder popular. Da  teoria à prática. 3) Mecanismos e processos de
burocratização” em http://passapalavra.info/2010/11/31590)
[20] Para mais sobre esse momento perverso em que “a base social da luta não se interessa mais pelo movimento, mas os gestores públicos sim”,
ver o artigo “Buro­ácrata” de Grouxo e Legume em http://passapalavra.info/2014/04/94231 .
[21]  Como  se  vê,  por  exemplo,  na  recente  nota  publicada  pela  federação  nacional  do  MPL  “Sobre  o  sequestro  de  sigla”
(http://saopaulo.mpl.org.br/2014/05/13/nota­da­federacao­nacional­do­mpl­sobre­o­sequestro­de­sigla/).
Os leitores portugueses que não percebam certos termos usados no Brasil
e os leitores brasileiros que não entendam outros termos usados em Portugal
encontrarão aqui um glossário de gíria e de expressões idiomáticas.
Etiquetas: Burocratização, Transportes
Comentários
12 Comentários on "Revolta popular: o limite da tática"
1. Leo Vinicius em 27 de maio de 2014 13:54 
Excelente texto! Muitas questões trazidas e bem formuladas.
Tenho falado depois de junho, para uma ou outra pessoa, inclusive semana passada para um companheira, exatamente que acho que o
paradigma da “revolta” se esgotou, nas lutas pelo transporte. Junho ele bateu no teto. E como bem aponta o texto, não é mais surpresa, já
entrou na contabilidade do poder, que já tem desenvolvido formas de contenção.
E se as revoltas serviam para alçar ao debate público questões que estavam confinadas a pequenos grupos, como a municipalização do
transporte a tarifa zero, no entanto falta uma estratégia efetiva para, por exemplo, alcançar a tarifa zero.
2. Eduardo Tomazine em 27 de maio de 2014 16:44 
09/06/2016 Revolta popular: o limite da tática : Passa Palavra
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Parabéns aos autores pelo texto. Ele realmente levanta algumas questões centrais a respeito da luta pela mudança dos transportes públicos e,
além disso, como bem destacou o Leo Vinicius, tais questões foram muito bem formuladas.
Eu quero discutir uma conclusão a qual vocês chegaram, traduzida pelo seguinte trecho: “Se não saímos de 2013 com um aumento na
organização dos de baixo, talvez o terreno para essa organização esteja mais fértil.” Será mesmo que não houve ganhos organizacionais entre
os de baixo? Eu confesso que me faltam elementos que sustentem um veredito bem abalizado nesse sentido. Afinal, é de se esperar que se
muitos entre os de baixo – nas favelas, escolas, ocupações, universidades, empresas, bairros etc. – estejam se organizando agora, ou passaram
a se organizar mais intensamente com esse “terreno mais fértil” derivado dos acontecimentos de junho, tal organização ainda esteja nos
“subterrâneos”, ocorrendo de modo silencioso e que, portanto, seus frutos mais vistosos ainda estejam por ser colhidos. Como saber?
Eu conheço, aqui no Rio de Janeiro, um ou outro grupo ou coletivo de moradores de favela que surgiram a partir de junho, os quais estão se
articulando, ganhando em acúmulo de discussões e refinando sua práxis. Mas isso é uma amostra muito reduzida da realidade, insignificante
quase, de modo que eu não faço ideia se estes casos que conheço estão mais para exceção ou para a regra. Os autores e demais leitores aqui
desconhecem exemplos similares aos que eu trouxe?
Dialogando ainda com os autores – e com o Leo Vinicius: as recentes greves selvagens dos rodoviários em diversas cidades pelo Brasil, bem
como a vitoriosa greve selvagem dos garis, no Rio, a massificação dos protestos convocados pelo MTST e o ascenso do protagonismo das
bases entre os trabalhadores da educação (superando o imobilismo costumeiro dos seus sindicatos) não seriam, justamente, indícios de
avanços da organização dos de baixo decorrentes dos acontecimentos de junho? Ou seriam apenas manifestações oportunas em uma
conjuntura favorável às reivindicações?
Sei que tudo isso é ainda muito recente para termos uma boa visão de conjunto, mas uma coisa me parece certa: o repertório de ação dos
movimentos e a disposição para mobilizações entre a classe trabalhadora são muito maiores hoje do que há um ano. A despeito disso, penso
que ganhos de mobilização e até mesmo conquistas de certas reivindicações não devem serconfundidos com ganhos organizacionais e
programáticos. Atendidas as reivindicações ou esgotado o repertório de ação, as lutas tendem a declinar, a não ser que se aprofunde a
organização, se avancem os programas e, sobretudo, se formule e se dissemine amplamente um projeto de sociedade. Me parece que este é o
salto qualitativo que nos faz falta.
3. Leandro Senna em 28 de maio de 2014 00:50 
Parabéns pelo texto! queria contribuir também com o debate, me desculpem o embaralhamento de conceitos, vou tentar expor aqui o que
penso do assunto.
Um dos principais paradigmas na construção de junho pelo mpl era a construção ou resgate de uma “cultura de luta”, traduzida no texto pela
quebra da lógica do “cotidiano morto de consenso e consentimentos”, um objetivo no plano cultural, estético. O mpl sempre colocou a disputa
estética com as formas predominantes dentro da esquerda, seja na forma de organizar os atos, seja em sua forma de organização interna, a
horizontalidade, como primordial. A tática da revolta popular, ao seguir os preceitos do direito a cidade, aponta como ideal um quadro em que
a máquina estatal se encontre permanentemente como refém da insatisfação popular, ao contrário dos programas revolucionários que se
dirigem a tomada do poder. As reivindicações ligadas ao direito a cidade (transporte, moradia, questões ambientais, etc) tem como
característica o imediatismo das demandas cotidianas (“O aparente imediatismo da revolta, um tempo de acontecimentos imediatos,…”).
Coloca­se em conflito a realidade da cidade (esfera da vivência cotidana, em oposição ao plano da política nacional, por exemplo) frente às
utopias veiculadas pelas engrenagens do espetáculo, fazendo assim ruir pelo contraste o hipnotismo coletivo. Este imediatismo na medida em
que se esquiva de apontar caminhos a longo prazo, estimula na mente de todos a reflexão sobre a realidade imediata, sobre a política presente
no cotidiano, no corpo, levando a uma mudança de postura com relação ao espaço em que se vive, a um empoderamento. Há uma mudança de
“ponto de vista”, neste sentido uma mudança estética.
As táticas inerentes à ideia de direito a cidade abrem a possibilidade de se levar a cabo a luta dos de baixo dentro da sociedade espetacular ao
trazer a política para perto, negando a mediação espetacular. Os protestos são convocados pela internet, mas aqueles que comparecem são
movidos pela memória recente do sufoco diário no transporte gravada em seus corpos.
A bandeira da tarifa zero, como forma bem acabada de reinvidicação do direito a cidade, encontra sua força não em sua capacidade de
implementação, mas no horizonte estético que desenha, integrando o espetáculo da cidade­modelo a uma quebra dos paradigmas do capital. O
ganho aqui também é cultural.
Partindo destas premissas, acredito que junho foi um passo fundamental nesta construção de um novo imaginário, de uma nova estética para a
esquerda, para além das conquistas das reivindicações(que entretanto tiveram um forte papel nesta mudança de perspectiva estética). Acredito
também que o caráter imediatista destas lutas seja inerente ao deslocamento do ponto de vista sobre as questões socias, ao foco que se
concede à vida cotidiana em detrimento das “amplas questões” da política institucional. É com certeza uma vitória se hoje um punhado de
pessoas pelo país estiverem mais preocupadas em como tomar uma decisão coletivamente, acerca do problema mais “mesquinho”, do que
pensando em quem votar na próxima eleição.
A prática da autogestão por natureza se debruça mais sobre si mesma, em uma constante autocrítica, em profundas análises sobre método, do
que outros modelos de gestão. Penso que é esta a cultura que devemos difundir, a cultura da busca da horizontalidade. Talvez seja este o
principal papel a ser desempenhado pelas organizações de esquerda neste novo momento, em paralelo à agitação. Difundir a cultura da
autogestão, do sentido de coletividade, nos núcleos de organização embrionários gestados pela revolta. Os grandes programas revolucionários
inevitavelmente afastam a população ao afastar a política da vida cotidiana.
Enfim, talvez o papel do mpl em junho não tenha sido propriamente o de direção , mas algo mais parecido com o de um artista empenhado em
dar coerência a sua obra(obra que assim como no teatro, não existe em si, mas na relação presente em um dado contexto), em assegurar esta
virada no imaginário, a mudança dos paradigmas. O caminho até aqui foi bem trilhado, e depende agora da articulação (premeditada ou não)
de diversos agentes, novos e antigos, neste novo cenário. Passar do levante ao processo revolucionário depende do enraizamento das
conquistas no plano cultural.
4. Caio de Andrea em 28 de maio de 2014 06:37 
Olá Caio e Leo, bom dia.
muito bom ler o texto crítico, denso, reflexivo, às portas de novo junho, pois, justamente, “junho passou”…
O texto anima: “o além­dos­20­centavos, que só existia dentro da luta pelos 20 centavos (…)” não existiu, afinal, somente dentro da luta pelos
20 centavos!
Compreender e assimilar o comprimido de alguns limites e algumas possibilidades do passado (do futuro?), procurando fornecer sentido para
09/06/2016 Revolta popular: o limite da tática : Passa Palavra
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um tempo que se quer destinado à liberação de um infinito de possibilidades políticas – tão queridas para os que apostam no seu conteúdo
emancipador, dedicando­se à construí­lo também, claro, seja lá como for (nunca de qualquer jeito), no esfôrço das tentativas, no espírito das
composições das lutas populares, ﷲ ءﺎﺷ ﻥﺍ… – essa é tarefa da maior importância…
Lembrei de “Junho”, mas para os não se afogarão em “aquários fundos, cristalinos”, “entre peixinhos de geléia azul”… (ver aqui:
http://grooveshark.com/s/Junho/5aPq9p?src=5)
Abração!
5. Leo Vinicius em 30 de maio de 2014 00:27 
Creio que foi o melhor texto de reflexão, formalização dos impasses e análises das lutas pelo transporte público e gratuito no estado em que se
encontram.
Mas de tão bom, autocrítico e persuasivo, creio que deve­se ter cuidado de, a partir desse entendimento dos limites e necessidade de
superação de um paradigma da revolta popular, deixar esse potencial explosivo que apresentam por vezes os aumentos de tarifa, e no seu
lugar acabar não se construindo nada que na prática se mostre como um passo além. Por vezes quando movimentos percebem uma limitação
de uma tática, buscam outras tentando ir além mas acabam ficando aquém.
O texto aponta muito bem situações que devem ser evitadas da forma como as lutas tem se dado. Mas não aponta na prática “o que fazer”.
Claro, isso não é demérito nenhum. Quem souber exatamente o que fazer, que aponte.
Enraizar­se no cotidiano significa o que? Essa é a questão prática. Intensificar trabalho de base? Certamente é um dos significados. Mas de
certa forma isso é um pressuposto também para fomento das revoltas populares, e do papel de “boa direção” nelas. Nesse sentido intensificar
o trabalho de base é pressuposto para qualquer tática, mesmo a da revolta popular.
A grande questão, pensando na conquista de tarifa zero é pensar o caminho para conquista­la: a partir de que tipo de ação, de que tipo de
mobilização?
É possível ir além da ‘revolta popular’ quando a tarifa aumenta (e lembrando que são relativamente poucas vezes que há manifestações com
forte adesão quando elas aumentam), em direção a uma construção/situação de conflito permanente? É possível ir da greve na cidade­fábrica
à construção do conflito permanente na cidade­fábrica? É possível construir um conflito cotidiano, permanente no transporte coletivo, que
torne cada vez mais insustentável a forma de organização/gestão do transporte abrindo caminho para a tarifa zero? Se sim, como?
6. Pablo em 30 de maio de 2014 16:55 
Também gostei muito do texto, pela forma e, claro, conteúdo. Gostaria apenas de pontuar que o crescimento da “disposição” para a luta,mencionado no fim do texto, já é por si só um legado de valor inestimável para a esquerda anti­capitalista brasileira. As iniciativas
organizacionais de periferia, em (lenta?) construção pós­junho, mencionadas no comentário do Eduardo Tomazine, a Greve dos Garis, a greve
dos rodoviários, atualmente em curso e já vitoriosa por ser feita pela base, inclusive à revelia do sindicato da categoria, tudo isso, essa
fermentação de greves e lutas sociais pelo país, já são por si só ganhos políticos para a classe, e não me parece que devamos nutrir um tipo de
pessimismo histórico ou político por conta do tempo (lento?) dos avanços organizacionais e das lutas com pautas mais radicais. O tempo das
lutas oscila muito, e o conceito de aceleração da história só existe porque existe também a toupeira, que faz a história parecer desacelerada em
dias anteriores às erupções. Enfim, meu otimismo é por causa do histórico das lutas de classes no Brasil. Estamos ainda encerrando o ciclo do
PT, um ciclo que vinha de fins dos anos 1970, nas lutas ofensivas contra a ditadura, e que transcorreu em 30 anos uma trajetória de passagem
da radicalidade à acomodação à ordem: primeiro o PT, indo para a tática eleitoral de busca pelo poder político a qualquer custo, assimilando e
engolindo a CUT, e mais recentemente o MST, passando da luta pela reforma agrária (e potenciais revolucionários) à luta por maior
competitividade no mercado capitalista de produtos alimentícios, “contra o agronegócio” não enquanto inimigo de classe, mas como inimigo,
digamos, comercial. Num texto meu publicado nesse mesmo site, ainda em junho, afirmei que:
a ausência de espaços políticos atraentes e de um bom trabalho de base da esquerda organizada criou uma espécie de vácuo de espaços de
sociabilidade da classe que foi rapidamente aproveitado por setores conservadores da sociedade, os quais souberam fazer trabalho de base e
lograram canalizar para si grande parcela das camadas sociais desfavorecidas […]
Vendo o quão trágico é o cenário histórico da política no Brasil, há motivos de sobra para o militante de esquerda se empolgar com as recentes
manifestações pela baixa da tarifa, no Brasil todo. Num país dominado pela resistência sociopática à mudança, onde a burguesia tem medo­
pânico das classes trabalhadoras descerem o morro e não ser carnaval (como diz o samba), há portanto que alimentar o “otimismo da
vontade” e ir às ruas, lutar para que o movimento resulte no maior ganho possível para a classe trabalhadora, especialmente, a meu ver, no
âmbito de alimentar uma cultura política de luta e conquistas, de baixo para cima. Conquistar, portanto, algum grau de autonomia política de
classe. (http://passapalavra.info/2013/06/80009)
Um ano depois, e tantos avanços e recuos, mantenho meu otimismo da vontade, pois acredito q os avanços da luta podem até ter sido menores
do que esperávamos naqueles dias de aceleração da história, estando a classe (um ano depois) ainda patinando nesse modelo tático de “revolta
popular” sem saber exatamente como levar a luta para o patamar mais avançado, de “conflito permanente e radical contra a ordem”. Mas
ainda assim foram gigantescos os pequenos passos dados, justamente por terem se dado no Brasil de 2013/2014, um Brasil que ainda está
encerrando o ciclo do PT e que tem sua esquerda histórica totalmente desmantelada. Daí a necessidade do trabalho de base, bem pontuada
pelos autores e alguns outros (por exemplo: http://www.brasildefato.com.br/node/13389).
Outra questão importante que, salvo engano, não foi mencionada no excelente texto de vocês, é a questão de que essas lutas no modelo ainda
defensivo de “revolta popular” (defensivo apesar de sua ofensividade enquanto reação largamente “espontânea” da classe; defensivo porque
ainda desorientado do inimigo principal, o capital enquanto modo de controle da sociabilidade) forjam lutadores. E são esses que, educados
na prática e forjados ontem, forjarão as lutas mais ofensivas de amanhã. O que me lembra do texto “Lutas precisam­se, lutadores também”,
publicado aqui. Ora, forjando lutadores, essas lutas ainda defensivas com pautas específicas e limitadas acabam preparando o terreno para as
lutas mais radicais de amanhã, também porque o sistema talvez, mas só talvez, passe a enfrentar crises que o impossibilitem até mesmo de
garantir no futuro as pautas mais singelas, como por exemplo a revogação do aumento (sem esquecer que foi via concessão de isenção de
impostos às empresas…). No Rio o cancelamento do aumento em junho durou apenas 6 meses; já em janeiro a tarifa aumentou novamente.
Ora, me parece que aumentou justamente para impor uma pauta política regressiva às nossas lutas, anunciadas, (a pauta então passa a ser
novo cancelamento do aumento, em vez de, por exemplo, redução para um valor menor ou até mesmo a almejada tarifa zero…). Esse motivo
pode ser também de cunho econômico: empresa + Estado não aguentariam uma redução da tarifa, que seria onerosa aos superlucros e
compromissos $$ entre empresas e governo…
Em todo caso, o nosso foco deve ser a criação de lutadores e órgãos de luta organizados suficientemente para sermos capazes de, uma vez
radicalizadas as lutas, propormos a “ocupação da câmara e da prefeitura decretando um governo municipal por conselhos populares”. Sem
09/06/2016 Revolta popular: o limite da tática : Passa Palavra
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que isso seja um “Misto de bravata, estratégia e ingenuidade”, mas sim a concretização de uma estratégia realista.
7. Ana Elisa em 31 de maio de 2014 00:54 
Caros Camaradas,
Texto como o de vcs faz pensar. Me fez sair de lado, fumar um cigarro, antes de escrever um comentário publico, coisa que tenho, e ainda
tenho, gde receio em fazer.
O seu pessismismo realista quanto à tática da revolta é um belo banho de água fria nos nossos desejos militantes mais profundos (ainda que
saibamos que não vai rolar como gostaríamos no fim das contas), e é corajoso pois nesse período pré­copa poderiam estar se refestelando com
as possibilidades de recriar a experiência de junho. E, aí sim, se consolidarem de fato como atores desse teatro que descreveram, e, talvez
pior, seriam bons interlocutores, negociáveis, dialogáveis, pros governos aqui aí estão. Um intelectual, militante e bom amigo, me perguntou
esses dias, em terras cariocas, se os meninos do passe livre não seriam sugados por essa mesma bolha semi­ inescapável que traga a esquerda.
Respondi que não tinha vacina, que era possível sim que fossem. Mas que vcs tinham TODA consciencia desse risco. E que de gaiatos não
entrariam nesse navio. E que isso fazia toda diferença. Esse texto de vcs só reforçou essa impressão, de uma militante distante e “quase”
isolada nesse mundão difícil dos agora “esquerdistas banidos por conta própria” dos espaços da ordem velada. Depois desse desabado, queria
dialogar com vocês em dois pontos.
1 – Vocês foram atores centrais em criar desordem social. Nessa falência completa das organizações da esquerda, que abarca partidos,
sindicatos, e infelizmente, os mortos­vivos movimentos, foi forjada uma experiência distinta. Inclusive, e talvez principalmente, porque vocês
“perderam o controle”. Isso não pode sair de foco. A tática das ruas, agora manjada pelos senhores da ordem e as seguradoras do capital
(containers em frente às concecionarias em BH!), gerou uma experiência nova e, mais importante, trouxe as ruas setores revoltosos quase
irreconheciveis. De onde saíram? De que classe são? Onde entram em nossos manuais esquerdistas? Será que Marx ou Bakunin os
identificaram em 1800 e alguma coisa? quem nos salva?
Esse sentimento é precioso. De não saber. De termos que entender a NOSSA realidade. Parece que nós, da esquerda inteirinha, esquecemos o
que é isso.
2­ Que fazer a partir desse cenario? (e olha que não sou leninista. gosto do lenin dos soviets. rápida, e precipitadamente, abandonado por todo
mundo. rs)
Que novas experiências criarquando a estrategia não esta formulada? Não sairá da cabeça de nenhum iluminado, nem pequeno grupelho de
iluminados. Brotará da experiêncais de luta, das trincheiras e escaramuças. Muitas, espero, brotarão por aí. E a grande maioria será
absolutamente essencial. Quais serão as nossas próximas, caros camaradas?
8. Emerson em 1 de junho de 2014 18:24 
Só corrigindo uma informação. No Grajaú foram 80 ônibus depredados no dia 18 de junho. A fonte é um blog que, diga­se de passagem, é
bastante instrutivo por mostrar o que os de cima tem a dizer sobre o transporte.
http://blogpontodeonibus.wordpress.com/2013/06/19/viacao­cidade­dutra­com­menos­onibus­e­anchieta­com­fogo­na­pista/
“Na noite de ontem, na zona Sul da Capital Paulista, diversos ônibus da Viação Cidade Dutra foram danificados durante os protestos.
Não há um balanço oficial, mas cerca de 80 veículos foram danificados na manifestação. Ao menos foram 79 pichados, amassados e
depredados e um foi queimado.”
E ainda pretendo deixar meu comentário, mas antes quero ler o texto com mais calma.
9. VUNUS BUNUS CANIS em 9 de junho de 2014 16:01 
O artigo contém toques de realismo parcial, desejos de factualidades e retórica, a de convencer de que o MPL foi motor da “Primavera
Brasileira” de junho de 2013. O MPL merece reconhecimento do seu papel de coadjuvante na grande mobilizaçao popular que colocou em
espanto o mundo inteiro. Se nao houve continuidade do movimento popular sui generis nao foi porque o MPL se limitou em organizaçao e
estratégias. O movimento passe livre foi apenas mais um dos inúmeros movimentos que explodiam a época de junho de 2013 integrados no
conjunto do movimento popular, excluídas todas as demais entidades organizadas,cotumazes na conduçao dos movimentos populares. Elas,
estas entidades institucionalizada também é expressao desse Estado opressor.
O que ressalta no artigo de Caio e Leonardo é a omissao de registro, detalhado, do comando do MPL­SP quando escolhido para responder
como líder do Movimento de Junho. (Na imprensa está a opiniao expressada pelos líderes do MPL, nao podendo ser negada e tampouco
distorcida)
A verdade sobre o importante papel na mobilizaçao da massa em todo amplo territorio do Brasil foram os ANONYMOUS. A esses anonimos
muito se deve agradecer pela deflagraçao da Primavera Brasileira. Historiar sobre o papel dos ANONYMOUS nas mobilizaçoes de junho de
2013 nao será tarefa fácil aos estudiosos e analistas. É justamente a condiçao de anonimato e sem organizaçao convencional dos grupos
anonymous que impossibilita tal tarefa. Os ANONYMOUS estao presentes e atuantes em todo o mundo, o que nao seria diferente no Brasil.
Há, sim, diversos respeitáveis estudos procurando identificar o núcleo animus incitatio do movimento de junho, muitos desses estudiosos
detectam os anonymous como aglutinadores de insatisfaçoes individuais, de causas de pequenos e grandes grupos organizados inseridos na
margem dos movimentos sociais propriamente ditos. Enfim, isto é assunto de análise e registro pelos futuros historiadores, isentos de
ideologias. Afinal, a açao política dos anonymous tal como se dizem anonimos, por certo também será anonima.
10. São Lucas em 9 de junho de 2014 17:39 
ah, vunus, só não pode esquecer Jesus. Ele também está sempre ajudando as pessoas sem que elas percebam. Ele está presente e atuante em
todo o mundo, e sem dúvida foi o principal protagonista nas Jornadas de Junho no Brasil. Mas é assim desde os tempos da cruz, vão dizer que
é mentira, vão perseguir os crentes, jogá­los aos leões. Pode até vir ser objeto de estudo de futuros historiadores, mas a história já está escrita.
11. Emerson em 9 de junho de 2014 21:00 
09/06/2016 Revolta popular: o limite da tática : Passa Palavra
http://www.passapalavra.info/2014/05/95701 10/11
Um dos pontos que mais me chamou a atenção no texto foi a caracterização do MPL como uma “articulação entre grupos dirigentes das lutas
contra aumentos”. Aqui, na minha opinião, se encontra o ponto­chave. Afinal, como passar da luta reativa contra os aumentos a uma real
remodelação do transporte coletivo? E aqui não me refiro apenas a uma remodelação “autogestionária”, mas também à mera remodelação
capitalista. Basta notar que as jornadas de junho não impuseram nenhuma alteração significativa na legislação sobre os transportes.
E é aí que a limitação da “forma” MPL transparece de maneira mais nítida (tal como muito bem colocou o Leo Vinícius acima): “A grande
questão, pensando na conquista de tarifa zero é pensar o caminho para conquista­la: a partir de que tipo de ação, de que tipo de
mobilização?”. Um dos caminhos em que diversos coletivos do MPL se enveredaram foi a criação de listas de abaixo­assinados para tentar
aprovar projetos de lei de iniciativa popular. Assim foi feito em Florianópolis com a Lei do Passe Livre Estudantil. Da mesma forma em São
Paulo, logo após a luta contra o aumento de 2011. O resultado todos nós sabemos: nada saiu do papel.
Que caminho seguir então? Não me atreveria a dizer aqui que tenho a resposta, mas ouso palpitar alguns pontos que acho importantes.
1)A criação de organizações de usuários.
Como o texto mostra, a estratégia da revolta popular vive da “tensão entre uma minoria altamente organizada e uma maioria não organizada”
e dessa forma “limita a si mesma”. Sendo assim, um primeiro passo na construção de um outro transporte está justamente na criação de
processos de organização entre os usuários do transporte. Nesse sentido acho de suma importância as recentes lutas contra os cortes de linhas
e a experiência de uma linha popular no extremo sul de São Paulo (http://passapalavra.info/2014/04/94048).
2)Estabelecimento de pautas e lutas comuns com os trabalhadores do transporte.
As recentes greves de rodoviários e a atual greve dos metroviários em SP serviram sobretudo para demonstrar a necessidade de superar o
abismo que existe entre os trabalhadores e os suários do transporte. A atitude de reprovação às greves de grande parte da população foi fator
fundamental nas derrotas dos rodoviários de RJ e SP. Ao mesmo tempo, a importância de tal unificação se tornou clara nos catracaços
realizados em apoio à greve dos metroviários.
Além disso, se estamos aqui falando de controle sobre o transporte – de autogestão portanto ­, bastaria lembrar que uma das questões
colocadas pelos motoristas de Salvador durante a greve era justamente manter os ônibus em suas mãos, fora do controle das empresas. Ou
seja, são eles que podem exercer o controle de maneira mais direta.
Tenho consciência de que o que está aqui colocado não é nenhuma novidade para ninguém, todos já sabiam, só não sabiam como colocar isso
em prática. No entanto, creio que os últimos meses deram pistas importantes de como proceder nesse ciclo que se abriu a partir de junho de
2013.
E mais uma vez parabéns aos autores pelo artigo!
12. Calm like a bomb em 8 de julho de 2014 10:02 
Como diz a música do Rage Against the Machine, a revolta é a rima dos sem voz:
And the riot be the rhyme of the unheard
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Citando… Giuseppe Tomasi di Lampedusa
Se queremos que tudo continue como está, é preciso que tudo mude. Giuseppe Tomasi di Lampedusa (1896­1957), escritor italiano.
Flagrantes Delitos
Nota de rodapé
Muito se fala sobre a baixa votação favorável à renda mínima em recente plebiscito na Suíça (22%). Pouco se fala sobre a alta votação
favorável (61%), no mesmo dia, à realização de testes genéticos em embriões antes que eles sejam inseridos no útero feminino, em caso de
fertilizações in vitro. E nada se fala sobre o que isto quer dizer, quando lido junto na mesma notícia (ver aqui). Passa Palavra
Leia outros Flagrantes Delitos
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A luta é pelo direito ao transporte e à cidade
09/06/2016 Revolta popular: olimite da tática : Passa Palavra
http://www.passapalavra.info/2014/05/95701 11/11
A LUTA É PELO DIREITO...
A luta é pelo direito ao transporte e à cidade
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