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Sequestro como medida cautelar no Direito Processual Civil

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL
Prof. Thyago Barreto Braga
SEQUESTRO
1. Classificação 
a) Medida cautelar típica, posto que expressamente prevista no CPC, precisamente nos art. 822 a 825 do código processual.
b) Quanto ao momento de requerimento, o sequestro pode ser: preparatório ou incidental. 
Observação: O sequestro incidental pode ser requerido através de simples petição nos autos do processo principal já existente ou através de ação cautelar própria. 
2. Finalidade
a) Apreensão judicial (constrição judicial) de bem certo e determinado, evitando que eles sejam alvos de alienação ou perecimento durante a tramitação do processo principal;
b) Resguardar a efetividade de um processo de execução para a entrega de coisa certa;
c) Garantir a entrega de bem certo e determinado, cujo direito de propriedade ou posse esteja sob discussão judicial. 
3. Definição
Considerando a classificação e finalidade do sequestro cautelar, acima apresentados, pode-se construir a sua definição:
“O sequestro é uma medida cautelar típica, cuja finalidade é a constrição judicial de bens certos e determinados, portanto, infungíveis, cujo direito de propriedade ou posse esteja sob discussão judicial, para fins de garantir a efetividade de um processo de execução para a entrega de coisa certa.”
4. Efeitos do sequestro
a) Indisponibilidade dos bens constritos, os quais ser tornam inalienáveis;
b) Preservação da integridade dos bens sequestrados, evitando sua destruição ou perecimento.
5. Dos bens que podem ser objeto de sequestro
a) móveis, semoventes e imóveis;
b) bens certos e individualizados, portanto infungíveis (razão por que o autor da demanda cautelar deve individualizar, na petição inicial, o bem objeto do sequestro, possibilitando sua constrição);
c) bens penhoráveis ou impenhoráveis. 
Acerca de se tratar de bem penhorável ou impenhorável, ensina Rinaldo Mouzalas:
“Todo e qualquer bem determinado (móvel ou imóvel – alvo da obrigação) pode ser objeto do sequestro, até mesmo os impenhoráveis, considerando-se que se pode estar discutindo sua propriedade. Perceba-se que o sequestro incide sobre o próprio bem da obrigação de entregar coisa certa, não havendo que se defender em impenhorabilidade do bem em posse do requerido, porque ela socorre ao proprietário.” (grifo nosso)
(Processo Civil – Volume Único, Salvador: Editora JusPodium, 4ª edição, revista, ampliada e atualizada, 2011, p. 994)
6. Do sequestro dos bens móveis
Ao arrestar bens móveis, o oficial de justiça deve lavrar o Auto de Sequestro, ocasião em que individualizará o(s) bem(ns) constrito(s), bem como individualizará o estado de conservação destes bens. Ato contínuo, o oficial deverá lavrar o Auto de Depósito,� momento em que o depositário nomeado pelo juiz – e que aceitou o encargo de zelar pelos bens apreendidos – receberá os bens sequestrados. 
Observação: De acordo com o art. 824 do CPC, o juiz dever nomear o depositário dos bens sequestrados, podendo a escolha recair:
I – em pessoa indicada, de comum acordo pelas partes;
II – em uma das partes, desde que ofereça maiores garantias e preste caução idônea.
Caso não haja consenso na escolha do depositário, o juiz decidirá a questão e escolherá o depositário.
Observação: Ao encampar a tese de supralegalidade, o STF decidiu que a legislação infraconstitucional que amparava a prisão do depositário infiel perdeu sua eficácia, isto em decorrência da recepção da Convenção Americana de Direitos Humanos pelo ordenamento jurídico pátrio. Nesse norte, não é mais adequado, atualmente, permitir que o próprio requerido seja o depositário dos bens apreendidos, pois não se pode decretar sua prisão para fins de obrigá-lo a entregar os bens que estavam sob sua guarda.
Nesse sentido, corrobora Rinaldo Mouzalas de Souza e Silva, ao expor: 
“[...] críticas sobejam na possibilidade de permanência do bem na posse do requerido, tendo em vista a impossibilidade de decretação da prisão civil do depositário infiel. De fato, se o requerido ficasse na posse do bem alvo do sequestro, enormes riscos haveria de o bem perecer ou até ser alienado de forma irregular para tentar frustrar a obrigação de entregar coisa certa, a qual, indiscutivelmente, é a que melhor atende aos interesses da parte requerente.
A par disso, a entrega dos bens ao depositário far-se-á logo depois que este assinar o compromisso, Se houver resistência por quem detenha o bem, o depositário solicitará ao juiz a requisição de força policial. Para resguardar as partes de prejuízos, o juiz haverá de determinar os limites da administração dos bens sequestrados, estabelecendo os direitos e deveres do administrador, se for o caso.”
(grifo nosso)
(Processo Civil – Volume Único, Salvador: Editora JusPodium, 4ª edição, revista, ampliada e atualizada, 2011, p. 995)
7. Do sequestro dos bens imóveis
Ao deferir o sequestro de bem imóvel, o juiz expedirá mandado ao Cartório Extrajudicial de Imóveis para determinar que o tabelião responsável registre a existência do sequestro na matrícula do bem. Por conseguinte, não poderá haver translação de domínio do imóvel para terceiros, pois, com a averbação do sequestro, o bem se torna indisponível.
8. Dos requisitos legais da medida cautelar de sequestro
a) fumaça do bom direito (aparência de ser proprietário ou possuidor do bem objeto de litígio); 
b) perigo na demora (possibilidade de que o bem seja alienado ou destruído pelo requerido).
Em que pese a necessidade de respeito aos aludidos requisitos, o STJ ainda afirma que o sequestro deve respeitar uma das hipóteses do art. 822 do CPC: 
“Art. 822. O juiz, a requerimento da parte, pode decretar o seqüestro:
I - de bens móveis, semoventes ou imóveis, quando lhes for disputada a propriedade ou a posse, havendo fundado receio de rixas ou danificações;
II - dos frutos e rendimentos do imóvel reivindicando, se o réu, depois de condenado por sentença ainda sujeita a recurso, os dissipar;
III - dos bens do casal, nas ações de separação judicial e de anulação de casamento, se o cônjuge os estiver dilapidando;
IV - nos demais casos expressos em lei.”
Observação: Alguns doutrinadores entendem que esse rol seria exemplificativo, pois a medida cautelar de sequestro seria possível sempre que fossem demonstrados os requisitos da fumaça do bom direito e do perigo na demora. Entretanto, o STJ entende que o rol é taxativo (RESP nº 29503). Por conseguinte, não caracterizada uma das hipóteses do art. 822 do CPC, será o caso de requerer uma medida cautelar inominada para fins de constrição dos bens. 
Em que pese à decisão do STJ acima mencionada, fato é que se trata de entendimento extremamente formalista, consoante lembrado por Rinaldo Mouzalas:
“Se a finalidade do sequestro e da medida cautelar inominada é idêntica (indisponibilizar bens para garantir cumprimento de obrigação de entregar coisa certa), era melhor colocar as hipóteses de sequestro como sendo exemplificativas.
Tal facilitaria a provocação do exercício da atividade jurisdicional. Inaceitável, contudo, é que se tente colocar o nome da providência cautelar como requisito da petição inicial, limitando-se o nome 'sequestro' a determinadas hipóteses, ao passo que se possibilita a adoção de providência idêntica através de medida cautelar inominada. É homenagear-se 'formalidade inexistente' (nome da ação) em detrimento da efetividade da prestação jurisdicional e da própria fungibilidade das medidas cautelares.” (grifo nosso)
(Processo Civil – Volume Único, Salvador: Editora JusPodium, 4ª edição, revista, ampliada e atualizada, 2011, p. 995/996)
9. Do pedido liminar de sequestro 
De acordo com o art. 823 do CPC, aplica-se ao sequestro, no que couber, o que o Código dispõe acerca do arresto. 
Portanto, presentes os requisitos legais, o juiz pode deferir a medida cautelar de forma liminar, podendo, se entender necessário,determinar a realização de audiência de justificação, a qual será realizada em segredo de justiça, conforme determinado pelo art. 815 do CPC:“A justificação prévia, quando ao juiz parecer indispensável, far-se-á em segredo e de plano, reduzindo-se a termo o depoimento das testemunhas.” (art. 815 do CPC). Ou seja, não haverá a participação do réu na audiência de justificação, sob pena de que este adote medidas tendentes a impedir a concretização do sequestro. 
10. Inaplicabilidade da regra da conversão do sequestro em penhora
Como a medida cautelar não possui correlação com dívida em dinheiro, o sequestro não se converterá em penhora. Com efeito, como o bem não será levado para a hasta pública para fins de alienação, pois será entregue ao efetivo proprietário ou possuidor, revela-se inaplicável a regra prevista no art. 818 do CPC. 
11. As hipóteses de suspensão do Arresto (art. 819 do CPC) não são aplicáveis ao sequestro
Como o autor pretende obter o próprio bem – e nenhum outro – não há falar em suspensão do sequestro através de depósito de dinheiro ou oferta de caução. 
12. Cessação do sequestro
As hipóteses do art. 820 do CPC – precisamente o pagamento e a novação – não são aplicáveis ao sequestro, pois o autor da ação judicial deseja a entrega do bem certo e individualizado. 
Entretanto, há doutrinadores que defendem a aplicabilidade da transação como hipótese de cessação do sequestro.�
De qualquer forma, existem outras hipóteses de cessação do sequestro que não estão previstas no art. 820 do CPC, quais sejam:
declaração de prescrição ou decadência do direito, improcedência, renúncia ao direito, extinção do processo sem resolução de mérito, revogação da medida cautelar, além das hipóteses previstas no art. 808 do CPC.
�	Na praxe forense, é comum lavrar um único Auto para o sequestro e para o depósito. 
�	Após melhor ponderar sobre a questão, este professor passou a concordar com esta possibilidade, posto ser possível que o autor da cautelar realize acordo e, através deste, abra mão do direito de posse ou de propriedade, razão por que, nessa hipótese, o sequestro cessará, afinal não mais existirá o requisito do perigo na demora.

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