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TX 11 Mediação Mônica Galano

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Mediação - Uma Nova Mentalidade
A mediação se diferencia do ato de mediar e/ou da qualidade de ser mediador ou repartir perdas e ganhos, trazendo a ideia de equidade num mundo onde a diversidade contempla e legitima as diferenças.
Sumário: A mediação propõe que as partes retomem a comunicação e o trabalho de construir uma nova história do conflito abrindo espaço para a possibilidade de um acordo.
DO VERBO AO SUBSTANTIVO
A palavra mediação vem do latim “mediare” e quer dizer dividir ao meio, repartir em duas partes iguais. Ficar no meio de dois pontos. Mediar como ação, como verbo, sempre deu a idéia de que quem o fazia dividia em partes iguais ganhos e perdas. Muitas pessoas, países ou instituições – como a ONU, por exemplo – têm se colocado como mediadores de conflitos, ajudando as partes a achar um ponto de encontro entre suas demandas. Pretende-se que as partes cheguem a um acordo quando existem divergências de interesses e desencontros de desejos.
Essa ação parece-nos corriqueira: é comum no cotidiano das pessoas que alguém comente que “mediou” a briga entre dois amigos ou entre filhos, ou entre diferentes departamentos de uma empresa. Sempre se colocou a ação de mediar como a possibilidade de que alguém, sem defender especialmente nenhuma das partes, pudesse aproximar os pontos de vista diversos, ajudando cada um a entender os interesses do outro, transformando uma visão unívoca numa divergência aceitável e passível de resolução. Esta necessidade de resolver as disputas responde ao perigo que representa uma confrontação direta. Seja no campo público ou privado, conhecemos os efeitos devastadores que os litígios representam na vida das pessoas e das sociedades.
O ato de mediar necessita, também, que se “contenham as emoções”, tanto das partes quanto do mediador, para que se possa construir uma solução sem ceder aos impulsos destrutivos, de vingança, ou de ganhar a qualquer preço. O mediador terá que manejar uma distância possível entre as partes estabelecendo uma certa ordem para que o caos emocional não destrua a possibilidade de um acordo.
Portanto, é necessário explicitar as diferenças. A negociação é sempre a conseqüência da intenção de resolvê-la sem reprimi-las.
Às vezes uma contenção estática (Muldoon, 1998) permite uma estratégia defensiva onde o caos consome-se em si mesmo, é só deixar passar. Mas, muito mais ambiciosa é a contenção dinâmica, que transforma o caos em ordem (uma nova ordem), onde por um processo ativo com estratégias determinadas transforma-se o conflito numa disputa resolvível, quando encontra-se uma solução satisfatória para ambas as partes.
Escolher uma ou outra dependerá das circunstâncias, do grau de intensidade em que o caos tomou conta da situação, em outras palavras, da potencialidade destrutiva que o conflito representa para o vínculo.
Como adjetivo, o mediador seria a pessoa que faz ou que tem a capacidade de realizar esta ação de mediar, de conter ao outro sem dominá-lo. De ajudar nesta passagem de conflito extremo e desesperado para uma diferença reconciliável.
Ele tem que ser capaz de observar o drama da disputa, sem perder a capacidade de reflexão e sem tomar partido.
Então, o que há de novo nesta figura do mediador? Por que precisamos dele?
O mediador como profissão transdisciplinar, a mediação torna-se substantivo.
Mas, antes de continuar, permitam-me colocar o contexto histórico em que este objeto nasce.
O MUNDO EM QUE VIVEMOS
Segundo as estimativas, calcula-se que no ano 2000 a população mundial alcance 6 bilhões de pessoas (Gottheil e Schiffrin, 1996), com o crescimento de um milhão de pessoas a cada quatro ou cinco dias. Isso torna o fenômeno populacional único, notável e até mesmo assustador, tanto pela quantidade quanto pela característica excepcional da mobilidade.
Nunca antes os seres humanos tiveram a possibilidade de deslocar-se de uma ponta a outra do planeta com tanta rapidez. Seja numa efêmera visita turística onde a troca cultural é quase que virtual; ou num intercâmbio escolar de adolescentes, que marca para sempre os protagonistas; ou na instalação de fugitivos de regimes políticos ou de economias degradadas, que se dilaceram na tentativa de adaptação aos novos idiomas e novas culturas. Na última década uma maré inquietante rasga o planeta numa incessante mistura de peles, cores, odores e sons.
O fato é que homens e mulheres de sociedades diferentes na busca de seu lugar no mundo, derrubam fronteiras, iniciam relações, criam famílias e novas redes simbólicas com pessoas de outras culturas, outras religiões e outras raças. O que antes podia ser proibido pelas leis, pela moral ou simplesmente pela geografia, agora torna-se permitido, incentivado e “politicamente correto”.
O que acontece quando as visões culturais diferentes coexistem, sobrepõem-se, colonizam umas às outras, misturando-se com diversos graus de privilégios e tolerâncias?
Como é possível manejar os conflitos derivados da diversificação cultural? Qual é a Lei, a Instituição, a Organização pública ou privada, a Autoridade capaz de abranger tamanha diversidade? Ou, que código tem a capacidade de compreender, legislar, julgar e estabelecer punições? Qual é a noção de justiça que deve prevalecer numa sociedade onde seus cidadãos provêm de culturas diferentes?
Certamente o choque, o conflito e a tentativa de prevalecer, ou mesmo dominar, uma sobre as outras ou de criar uma mistura, acarretará suas conseqüências ao longo do tempo e através do espaço mental e cultural da humanidade.
O que é necessário que aconteça e o que é possível acontecer?
AS TRANSFORMAÇÕES
Este mundo que vive em constante movimento, entretanto, herdou um modelo de ciência que explicava a realidade como uma realidade controlável, linear, simples e previsível. Como diz Muldoon (op.cit) a história nos oferece dramáticos exemplos do fracasso do pensamento linear, orientado para a ação “os estrategistas militares americanos, aplicando uma análise linear subestimaram fatalmente a vontade dos vietcongues: aplicando a idéia de cada vez mais força, mais ação era necessária para conseguir o controle, e conseguia-se cada vez menos”.
Nossas sociedades atuais estão cada vez mais longe da idéia de um mundo mecânico, de um universo infinito, eterno, sem tempo nem história. Em poucas décadas a ciência tem mudado de forma espetacular sua teoria do universo e dos seres humanos.
Este novo mundo bombardeado de imagens e de informações parece estar mais perto da idéia de um “sistema complexo longe do equilíbrio” dominado pelas leis termodinâmicas, onde o caos e a ordem lutam e alimentam-se de uma entropia que parece inevitável.
Seguindo a Kunn (1990) em seu conceito de Paradigmas, como um modelo teórico da realidade, podemos dizer que neste momento a ciência busca novas formas de enfocar antigos problemas. Hoje o universo é visto, não mais como uma massa estática, e sim, em constante expansão, em contínua transformação. Onde a própria realidade não é única, é uma convenção relativa ao observador – ou ao consenso de observadores – não há uma verdade e si mesma.
Existe uma contínua composição e recomposição de mapas cognitivos impulsionando esquemas menos rígidos e visões mais flexíveis da realidade.
Só que agora a comunidade de observadores é enorme, multifacetada, onipresente, onde “tudo se vê, de tudo se fala”. Mas, as falas podem ser diversificadas, opostas contraditórias e, ao mesmo tempo, serem todas válidas. Se todas as subjetividades devem ser legitimadas abrem-se mais possibilidades ao conflito de interesses, especialmente num mundo onde e interdependência das sociedades submete-se a uma economia globalizada.
As transformações políticas dirigem seu ataque aos governos totalitários derrubando regimes fechados e obrigando-os a abrirem suas economias, criando infinitas trocas e possibilidades comerciais. Porém, paralelamente, expondo-os à intempérie de uma competição que cria tanto riqueza quanto miséria. Ao mesmo tempo, a complexidade tecnológica, que provoca interdependência, aumenta, também,o clamor por uma autonomia nacional ou regional. A democracia de mercado abre as portas aos concorrentes e janelas às máfias.
Também transformam-se as circunstâncias profissionais: o local de trabalho sobre uma flexibilização: os negócios podem ser realizados na própria casa, na rua ou dirigindo o carro. Mudam as relações trabalhistas, cada vez mais livres e mais instáveis. Muda o perfil do trabalhador, que sofre uma constante pressão para estar em constante atualização.
Interessantemente a passagem de uma economia que dependia da força física para outra, com base nas capacidades mentais e emocionais, diminuem as diferenças entre homens e mulheres. Nas últimas décadas, nos centros urbanos, as mulheres têm saído do segundo lugar de meros auxiliadores na hierarquia profissional, passando a colocar-se na frente de atividades de direção. Ninguém melhor do que a mulher para saber negociar os conflitos emocionais que permeiam as relações humanas, e que agora são reconhecidas como fazendo parte do dia a dia das empresas. O treinamento para administrar as relações domésticas parece ter propiciado à mulher a capacidade de adaptação necessária de técnicas gerenciais modernas onde se exige um estilo participativo, holístico e menos calcado em estratégias militares.
Estamos, então, frente a uma realidade complexa, onde diversas lógicas coexistem, onde novas circunstâncias criam novos homens e mulheres que criam novas circunstâncias. Onde mudanças de paradigma trazem um novo “bom senso”. Onde transformações macropolíticas misturam-se no tecido das mudanças quotidianas, pois, nunca antes como agora existiu uma visibilidade e legitimidade das minorias de sexo, raça ou religião, que lutam constantemente para que e abra um espaço privilegiado, valorizando e defendendo suas especificidades.
IMPACTOS NA FAMÍLIA
Ao ampliar os direitos individuais das mulheres, das crianças e adolescentes democratizam-se as relações familiares permitindo uma maior igualdade entre os membros, protegendo-os de violências e arbitrariedades. Equiparando os direitos do matrimônio legal ao concubinato, ou dos filhos do casamento extraconjugais, cria-se, também, uma labilidade dos compromissos familiares provocando uma instabilidade matrimonial e um afrouxamento nos laços familiares. Torna-se, assim, uma responsabilidade mais fácil de ser esquecida.
Num mundo “narcísico” (Lasch, 1991) onde a busca da felicidade e da satisfação do indivíduo sobrepõem-se aos interesses do grupo e da comunidade, aumentam as exigências pessoais e, portanto, aumentam as frustrações.
A diversidade de culturas e a coexistência de visões de mundos diferentes, opostas ou estanhas cria maiores conflitos de interesses, desentendimentos e divórcios.
Sobre esse problema existem estatísticas que indicam que nos USA 50% dos casamentos terminam em divórcio, na França 1 em cada 3, e no Brasil sabemos que, as separações, nos últimos 10 anos aumentaram 300% (fonte IBGE). Entretanto, a ruptura dos laços matrimoniais não devem ou não deveria dissolver os laços parentais. As pessoas se divorciam de seus cônjuges, não de seus filhos, porém, a continuidade dessas relações está ameaçada pelas vicissitudes dos conflitos conjugais.
O eco disso é que em USA existem atualmente 11 milhões de famílias abandonadas pelo pai; o n[úmero de famílias chefiadas por mulheres dobrou em 15 anos, e existem bairros onde essa proporção chega a 40% ou mais. No Brasil segundo o IBGE de cada cinco famílias uma é chefiada por mulheres.
Esses dados revelam que cada vez mais a mulher terá que multiplicar seus papéis sociais: pai/mãe/dona de casa/profissional e, eventualmente, compartilhar direitos e deveres com ex-cônjuges e suas novas companheiras e filhos.
A família nucelar abre espaço para a consolidação de uma nova família extensa com outros pais, outros irmãos, outros parentes, então a noção de direitos e de justiça ficam tão confusos que é preciso pensar a resolução das diferenças em termos de necessidades e de desejos de cada parte.
Porém, a proteção e os cuidados necessários para o desenvolvimento das crianças demanda dos pais, de ambos, acordos constantes e suficientemente flexíveis como para permitir serem revisados no transcurso do tempo, já que as circunstâncias de vida mudam constantemente.
Alguns adultos demandam que o outro seja responsável da sua proteção, legitimando e consolidando sua própria incapacidade. Muitas vezes a mulher delega ao homem essa proteção ilusória, vitalícia, e o homem aceita essa imagem de protetor natural que impede acordos mais satisfatórios e amadurecidos. Pois, já que não existe uma proteção eterna, é necessário que exista um período de crescimento e reorganização para que todos, pais e filhos, adquiram os recursos para potencializar um desempenho autônomo.
A CONSCIÊNCIA GAIA
O desastroso impacto que a civilização industrial avançada provocou na natureza alertou a humanidade sobre a necessidade de uma nova ordem ecológica mundial. A natureza não têm fronteiras: o solo, o ar, os rios, as florestas, os oceanos pertencem a todos, à nossa geração mas, sobretudo, às gerações futuras. Jogar lixo no vizinho é jogá-lo no nosso quintal. Os fenômenos de macro contaminação apontaram para o fato de que o verdadeiro inimigo da natureza é o próprio ser humano que tentou esquecer a interligação planetária dos elementos. Foi a consciência ecológica que despertou a humanidade para a inter-conexão global alertando contra o perigo das decisões baseadas em visões regionalistas.
Então, como manejar tanta diversidade?
A JUSTIÇA E A INSTÂNCIA JUDICIAL
O sentido de “justiça” entra em colapso. Porque o sentido de justiça não é um critério “objetivo”, eterno, a-histórico, é o resultado de um consenso social. Acordo social que muda através dos tempos. Antes era justo que os brancos, ou os homens tivessem certos privilégios; agora no mundo ocidental isto é denunciado como uma discriminação contra as mulheres, os homossexuais ou os negros, e eventualmente, sobre uma punição legal ou social. Mas, sem dúvida, esse não é um critério universal. A aplicação do critério de justiça para resolver os conflitos não ajuda resolvê-los. Em especial no campo privado. É necessário apoiar os direitos não somente na idéia de justiça; é necessário levar em conta as diferenças através de uma ética solidária.
Pela primeira vez na história estamo-nos perguntando qual é o melhor caminho que permite, no meio de uma disputa, preservar tanto as pessoas quanto as relações.
Como se tentou resolver, até agora, os conflitos?
Desde o conflito interpessoal ao conflito inter-grupal os seres humanos sempre têm tido motivos para discordar e guerrear pelas diferenças.
Historicamente a forma de resolver os conflitos tem-se modificado, e também coexistido.
Se inicialmente usava-se a força como forma de impor a solução à outra parte aquilo que possibilitava essa imposição eram elementos diferentes:
Primeiro, quando a base dessa força residia no poder, seja militar, político, religioso, mágico ou uma combinação deles, quem tivesse mais poder impunha sua solução do conflito ao outro, criando vencedores e vencidos.
Segundo, quando a base da força se apóia nos direitos: numa instância superior reconhecida, a lei, que determina esses direitos e a forma de fazê-los cumprir. Ela legisla sobre quem tem razão e quem não. Portanto, cria ganhadores e perdedores.
Agora, num mundo onde diminui o poder arbitrário e se respeita mais os direitos pessoais e, ao mesmo tempo, aumenta a heterogeneidade, aumentaram paralelamente as situações conflitivas.
A forma tradicional, que respeita as diferenças, sempre foi a de resolver por via judicial, mas a conseqüência de um aumento de legitimação é um aumento das disputas sobrecarregando o judiciário de demandas e processos.
Entretanto, existe um terceiro caminho que permite resolver os conflitos quando tem base no respeito aos interessados das partes e na equiparação dos valores. Isso significa que a razão e o poder são iguais para ambas as partes e o que decide o conflito éa capacidade de construir acordos que beneficiem a ambos.
Mas, para que isso seja possível é necessário abandonar a idéia de que se pode chegar a uma verdade única que a justiça pode impor. A própria idéia de justiça merece uma transformação.
TRANSFORMANDO AS MENTALIDADES
Evidentemente para que se abandone uma postura beligerante, onde as partes querem ganhar do outro a qualquer preço é necessário criar uma nova mentalidade, uma nova ética ou melhor dizendo, uma meta-ética que permita levar em conta a diversidade de valores e de interpretações. Seja no âmbito internacional, onde cuidar do seu mundo é cuidar do meu mundo. Seja no âmbito privado, onde respeitar a si mesmo é respeitar o outro. Descobrindo finalmente, a importância de preservar os vínculos e, também, a possibilidade de poder colocar, frente a soluções massificantes, soluções particulares que levem em conta as especificidades de cada caso.
Estas reflexões implicam passar de uma lógica conflitante a uma lógica consensual.
As novas necessidades do mundo criam novas soluções. É uma passagem desde uma cultura do conflito para uma cultura do consenso (dentro do dissenso).
Diálogo e comunicação
O problema nasce ao perguntar-nos sobre como chegar a um acordo quando as partes interromperam a comunicação. Esse transmitir idéias sobre coisas e informações sobre as relações que estão presentes em todo ato comunicativo (Watzlawick, 1976).
Numa disputa as partes perdem esse espaço para poderem dialogar, o fazem através de representantes que re-interpretam os interesses de seus clientes. Cada parte constrói uma história sobre conflito e encontra alguém, o advogado, que funciona como uma testemunha desta verdade.
Esse sistema de delegação poupa as partes do incômodo de um confronto cara a cara, mas também consolida e expande posições extremas que dificultam a possibilidade de um acordo. Muitas vezes o tema da disputa está misturado com tentativas de mostrar poder e salvar as aparências ou a imagem. Se brigar por ter “razão até morrer”. O motivo inicial se perde numa escalada onde cada parte aumenta constantemente seu poder de fogo e destruição. A intensificação do conflito leva a ver o outro como o “inimigo”.
Constrói-se, então, uma história de impossibilidades de acordos onde somente um terceiro ou uma instância hierarquicamente superior, o juiz, terá o poder de resolver o conflito.
MEDIAÇÃO COMO SUBSTANTIVO
A mediação propõe que as partes retomem a comunicação e o trabalho de construir uma nova história do conflito onde existia a possibilidade de um acordo.
A mediação como substantivo se diferencia do ato de mediar ou da qualidade de ser mediador, de saber dividir ao meio, porque não contempla este ato de dividir ou de repartir em partes iguais. Ela traz a idéia de equidade: como a disposição de reconhecer igualmente os direitos de cada um. De ter um sentimento de justiça sem um critério de julgamento. Uma justiça não em base do direito objetivo e sim das necessidades das partes.
Essencialmente, levando em conta que é preciso preservar as relações pós-litígio, seja dentro das relações familiares, seja nas relações comerciais ou comunitárias.
Porém, para que isso seja possível é necessário um salto de consciência em todos os setores da sociedade.
Os seres humanos vêm tecendo suas redes de relações na tentativa de protegerem-se da intempérie da vida, criando nichos públicos e privados; armando estratégias para impor seus interesses aos outros. Porém, se necessita uma nova compreensão da interdependência social, da urgência das mudanças, da participação nas decisões e na recuperação dos poderes delegados.
A mediação propõe uma retomada dos poderes e responsabilidades individuais antes transferidos ao Estado e outras Instituições que paternalizam a vida coletiva.
Hoje a sociedade civil reclama uma descentralização de poderes, a privatização que devolve o poder de decisão ao mercado e o “protagonismo” como a possibilidade de retornar esse poder ao indivíduo.
Mas, isso não será fácil nem acontecerá de imediato. Voltar a ter as rédeas e o controle da resolução dos conflitos interpessoais não é um treinamento comum na nossa sociedade.
Se as pessoas não conseguem ou não querem resolver pela força, o fazem por meio de uma instância hierarquicamente superior. A proposta de uma mediação transformadora é as partes aprenderem a resolver o litígio através de um critério de equidade. O que se logra por meio de um processo de retomada da comunicação, da escuta e do entendimento do outro.
Estamos num momento histórico onde a diversidade é a regra e é um fato que irá crescendo constantemente. Sabemos que a diversidade sempre foi uma ameaça porque ela cria conflito, e o conflito implica uma divergência de interesses em relação a uma mesma situação, mas ele é, também, o motor do processo social, do progresso humano e suas mudanças.
Sabemos que o litígio não foi algo procurado pelas partes, contudo, quando se instala, muitos dariam “uma boiada” para não sair dele.
Quando o conflito é visto como um problema a ser solucionado pelas partes e não criado pela outra parte permite-se potencializar os recursos, as habilidades das pessoas para encontrar caminhos mais satisfatórios.
O mediador é esse terceiro treinado para fazer possível a mediação, para ajudar neste trabalho de construir uma solução equitativa. O que não é uma solução imutável, para sempre, ela deve conter a possibilidade de futuras negociações sempre que as mudanças das relações e dos contextos interpessoais assim o requeiram.
Uma mediação bem sucedida leva a semente da resolução de conflitos que as divergências podem criar no futuro. Ela retoma o canal da comunicação e dá os elementos às partes para que possam mantê-la.
BIBLIOGRAFIA
Gottheil, J e Schiffinl, A. “Mediacion. Una transformacion en lá cultura”, Paidos, 1996.
Kuhn, Thomas. “A estrutura das revoluções científicas”, Editora Perspectiva, 1990.
Lasch, C. “Refúgio num mundo sem coração”, Paz e Terra, 1991.
Muldoon, B. “El corazon del conflicto”, Paidos, 1998.
Suarez, M. “Mediacion. Conduccion de disputas. Comunicacion y técnicas”, Paidos, 1996.
Watzlawick, P. et ali. “Teoria de La comunicacion humana”, Ed Tiempo Contemporaneo, 1976.
Autor: 
Mônica Haydee Galano - Licenciada em Psicologia pela Universidade Nacional de Buenos Aires, com especialização em Terapia Familiar pelo MRI (Mental Research Institute – Palo Alto. USA). Doutora em Psicologia pela PUC/SP. Curso de Mediação pelo Institut de Sciences de la Famille pela Université Catholique de Lyon France. Atualmente é professora na PUC/SP (departamento de pós-graduação em Psicologia Clínica) e na graduação em psicologia na UNIP. Ministra cursos no CLAMA e é terapeuta familiar com diversos artigos publicados.
http://mediacao.epd.edu.br/artigo/media%C3%A7%C3%A3o-uma-nova-mentalidade

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