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Conceitos Basicos de Logoterapia Viktor E. Frankl (1)

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Viktor E. Frankl 
Conceitos Básicos de 
Logoterapia 
 
 
 
Mens Sana 
Publicações Eletrônicas 
Para Ler e Pensar 
Viktor E. Frankl 
Conceitos Básicos de Logoterapia 
 
Texto original: “Basic Concepts of Logotherapy” 
Tradução de: Walter O. Schlupp 
 
 
Transcrição e Reprodução Eletrônica: 
Luiz Edgar de Carvalho 
 
 
 
 
© Logotipo criado por Ricardo Ferreira de Carvalho 
 
Mens Sana 
Publicações Eletrônicas 
Para Ler e Pensar 
Março, 2011 
Prefácio 
 
LOGOTERAPIA: O HOMEM EM BUSCA DE SENTIDO 
 
Por que existo? A vida tem sentido? Vale a pena sofrer? Por que aceitar 
uma doença incurável, se não há remédio para a morte? Há motivos para eu vi-
ver? 
Quem não se surpreende, inúmeras vezes, fazendo-se esse tipo de per-
gunta, diante de uma situação difícil ou de um sofrimento muito grande? E por 
tratar-se de questões fundamentais ao ser humano, as respostas a tais indagações 
precisam ser significativas, uma vez que delas dependem a vida e a felicidade 
do homem. 
Algum tempo atrás alguém já se questionou a esse respeito, em situações 
nada parecidas com as nossas, procurando respostas à angústia que o dominava. 
Foi Viktor Frankl, um médico psiquiatra vienense, de raízes judaicas, quando se 
encontrava nos campos de concentração de Auschwitz condenado à morte, com 
milhares de companheiros. Em meio a intenso sofrimento e degradação, teve a 
sensibilidade de perceber que muitos colegas de infortúnio dirigiam-se para o 
forno crematório de cabeça erguida; outros, embora proibidos de se locomover, 
dedicavam-se a confortar os mais atingidos pelas privações. Ele próprio, em 
vista de tais exemplos, dedicou-se aos doentes tifóides, a fim de dar um sentido 
à própria morte, refletindo, dentro de si, que algo muito forte impelia, interior-
mente, aqueles que não abdicavam do exercício da própria Liberdade, mesmo 
num campo de concentração. 
Tendo por berço esse cenário e como motivação às interrogações profun-
das sobre o sentido da vida, nasceu a logoterapia, uma nova teoria psicológica 
que vem revolucionando as proposições de Freud e Adler, constituindo a Ter-
ceira Escola de Psicoterapia de Viena. Com efeito, as propostas de Frankl, com 
relação à psicoterapia representam, hoje, um avanço considerável na "reumani-
zação da psicologia". 
LOGOS, que em grego significa sentido, define bem o que o fundador da 
logoterapia pretendia ao criar essa nova teoria. Fundamentada em três alicerces: 
a Liberdade da escolha, vontade de sentido e o sentido da vida, ela se propõe 
ajudar o ser humano a ser feliz, descobrindo o sentido da própria existência. 
Assim, a logoterapia responde, plenamente, aos anseios mais profundos do ho-
mem moderno. 
 
 
Introdução 
Leitores da minha breve narrativa autobiográfica costumam pedir uma ex-
plicação mais completa e específica da minha doutrina terapêutica. Para vir ao seu 
encontro, acrescentei à edição original de "Um Psicólogo no Campo de Concen-
tração" um breve resumo sobre logoterapia. Mas isto não foi suficiente, e tenho 
sido assediado por muitos que solicitam um tratamento 'mais detalhado da maté-
ria. Por este motivo, reescrevi por completo e ampliei consideravelmente o meu 
relato na presente edição. 
Não foi tarefa fácil. Transmitir ao leitor, dentro de um espaço restrito, todo 
o material que ocupa catorze volumes em língua alemã, é empreendimento quase 
impossível. Isso me lembra aquele médico americano que certa vez apareceu em 
minha clínica em Viena e perguntou: "Então, doutor, o Sr. é psicanalista?", ao que 
respondi: "Não bem psicanalista. Digamos um psicoterapeuta," Continuou ele: 
"Qual a escola que o Sr. representa?" Respondi: “É minha própria teoria. Chama-
se logoterapia." - "Poderia o Senhor dizer-me, numa única sentença, o que quer 
dizer logoterapia, ao menos qual a diferença entre psicanálise e logoterapia?" - 
"Sim", repliquei, "mas, em primeiro lugar, pode o Senhor dizer-me com uma só 
sentença o que pensa ser a essência da psicanálise?" Eis a sua resposta: "Durante a 
psicanálise o paciente precisa deitar-se num sofá e contar coisas que às vezes são 
muito desagradáveis de se contar." Ao que retruquei imediatamente com o seguin-
te improviso: "Bem, na logoterapia o paciente pode ficar sentado normalmente, 
mas precisa ouvir certas coisas que às vezes são muito desagradáveis de se ouvir". 
É claro que eu disse isso na brincadeira, sem a intenção de fornecer uma 
fórmula concentrada da logoterapia. Entretanto, ela não deixa de ter sua razão, 
uma vez que, se comparada à psicanálise, a logo terapia é menos retrospectiva e 
menos introspectiva. A logoterapia se concentra mais no futuro, ou seja, nas tare-
fas e no sentido a serem realizados pelo paciente em seu futuro. Ao mesmo tempo 
a logoterapia tira do foco de atenção todas aquelas formações tipo círculo vicioso 
e mecanismos retroalimentadores que desempenham papel tão importante no sur-
gimento de neuroses. Assim é quebrado o autocentrismo (self-centeredness) típico 
do neurótico, ao invés de se fomentá-lo e reforçá-lo constantemente. 
Obviamente esta formulação simplifica demais as coisas; mesmo assim a 
logoterapia de fato confronta o paciente com o sentido de sua vida e o reorienta 
para o mesmo. Minha definição improvisada de logoterapia, por isso, confere no 
sentido de que o indivíduo verdadeiramente neurótico procura fugir à consciência 
plena da tarefa de sua vida. Conscientizá-lo dessa tarefa, despertá-lo para uma 
consciência mais viva da mesma pode contribuir em muito para sua capacidade de 
superar a neurose. 
Quero explicar porque tomei o termo "logoterapia" para designar minha 
teoria. O termo "logos" é uma palavra grega que significa "sentido"! A logo-
terapia, ou, como tem sido chamada por alguns autores, a "Terceira Escola Vie-
nense de Psicoterapia", concentra-se no sentido da existência humana, bem como 
na busca da pessoa por este sentido. Para a logoterapia, a busca de sentido na vida 
da pessoa é a principal força motivadora no ser humano. Por esta razão, costumo 
falar de uma vontade de sentido, a contrastar com o princípio do prazer (ou como 
também poderíamos chamá-Io, a vontade de prazer) no qual repousa a psicanálise 
freudiana, e contrastando ainda com a vontade de poder, enfatizada pela psicolo-
gia adleriana. 
A Vontade de Sentido 
A busca do indivíduo por um sentido é uma força primordial em sua vida, 
e não uma "racionalização secundária" de impulsos instintivos. Esse sentido é 
exclusivo e específico, uma vez que precisa e somente pode ser cumprido por 
aquela determinada pessoa. Somente então esse sentido assume uma importância 
que possa satisfazer à sua própria vontade de sentido. Alguns autores sustentam 
que sentidos e valores são "ainda mais que mecanismos de defesa, formações rea-
tivas e sublimações". Mas, pelo que toca a mim, eu não estaria disposto a viver 
em função dos meus "mecanismos de defesa". Nem tampouco estaria pronto a 
morrer simplesmente por amor às minhas "formações reativas", O que acontece, 
porém, é que o ser humano é capaz de viver e até de morrer por seus ideais e va-
lores! 
Faz poucos anos, realizou-se na França uma pesquisa de opinião pública. 
Os resultados mostraram que 89% das pessoas consultadas admitiram que o indi-
víduo precisa de "algo" em função do qual viver. 61% admitiram haver algo ou 
alguém em suas próprias vidas, pelo qual estariam até prontas a morrer. Repeti 
essa pesquisa na minha clínica em Viena, entre pacientes e funcionários, e o re-
sultado foi praticamente igual àquele obtido entre milhares de pessoas pesquisa-
das na França; a diferença foi de apenas 2%. Em outras palavras: Na maioria das 
pessoas, a vontade de sentido é fato, e não fé. 
Naturalmente pode haver casos em que a preocupação de um indivíduo 
com valores é, na realidade, uma camuflagem de conflitos interiores ocultos;mas 
estes casos são, antes, exceções à regra, e não a regra em si. Ali se justifica uma 
interpretação psicodinâmica que procure descobrir a dinâmica subjacente. Nesses 
casos, estaremos realmente lidando com pseudovalores (um exemplo que cabe 
muito bem aqui é o do santarrão), e como tais eles terão que ser desmascarados. 
O desmascaramento, entretanto, deveria cessar no momento em que nos deparar-
mos com o que é autêntico e genuíno na pessoa, como por exemplo, o desejo do 
ser humano por uma vida tanto quanto possível dotada de sentido. Caso não se 
parar ali, a pessoa que está fazendo o desmascaramento apenas trairá a sua pró-
pria vontade de depreciar as aspirações espirituais dos outros. 
Temos que nos resguardar contra a tendência de tratar valores como se 
fossem mera auto-depressão da própria pessoa humana. Isto porque logos, ou seja 
"sentido", não é apenas algo que emerge da existência em si, mas constitui em si 
mesmo algo que confronta a existência. Caso o sentido a ser cumprido pela pes-
soa humana realmente não passasse de mera expressão do eu (self), ou nada mais 
fosse que uma projeção dos seus anseios (wishfuI thinking) ele perderia de ime-
diato o seu caráter de exigência e desafio; o sentido não mais poderia chamar e 
engajar a pessoa. Isto vale não só para a 'assim chamada sublimação dos assim 
chamados impulsos instintivos, mas ainda para aquilo que C. J. Jung chamou de 
"arquétipos" do "inconsciente coletivo", uma vez que estes também seriam auto-
expressões, ou seja, da humanidade como um todo. Isto é válido também para a 
tese de alguns pensadores existencialistas, de que os ideais do ser humano nada 
mais são que suas próprias invenções. De acordo com Jean-Paul Sartre é o ser 
humano que se inventa a si mesmo, ele é quem concebe a sua própria "essência", 
ou seja, aquilo que ele é essencialmente, incluindo o que ele deveria ser ou tor-
nar-se. Penso, entretanto, que o sentido da nossa existência não é inventado por 
nós mesmos, mas é, antes, detectado por nós. 
A investigação psicodinâmica na área dos valores é legítima; a questão é 
se ela sempre é indicada. Sobretudo, precisamos ter em mente que qualquer in-
vestigação exclusivamente psicodinâmica pode, em princípio, vir a revelar ape-
nas aquilo que representa uma força propulsora dentro da pessoa. Valores, entre-
tanto, não impulsionam uma pessoa; eles não a empurram, mas antes a puxam. 
Aliás, esta é uma diferença da qual sou constantemente lembrado sempre que 
entro num hotel americano. 
Uma porta precisa ser puxada, e a outra, empurrada. Se digo, agora que a 
pessoa precisa ser puxada por valores, quero dar a entender implicitamente que 
isto sempre envolve liberdade: a liberdade do ser humano de optar entre aceitar 
ou rejeitar uma oferta, isto é, de cumprir uma potencialidade de sentido ou, en-
tão, pô-la a perder. 
Entretanto é preciso deixar bem claro que não pode existir no ser humano 
algo como um impulso moral ou mesmo um impulso religioso - da mesma forma 
como dizemos que o ser humano é determinado por instintos básicos. O ser hu-
mano jamais é impelido à conduta moral; em cada caso é ele quem decide pro-
ceder moralmente. A pessoa humana não o faz com a finalidade de satisfazer um 
impulso moral ou de ter a consciência tranqüila; ela age assim em função de uma 
causa por ela assumida, ou de uma pessoa amada, ou por amor ao seu Deus. Se 
realmente o fizesse com o objetivo de ter uma consciência tranqüila, tornar-se-ia 
um fariseu e deixaria de ser uma pessoa verdadeiramente moral. Penso que até 
mesmo os santos não se importavam com outra coisa senão simplesmente com o 
servir a Deus, e duvido que jamais tivessem em mente tomar-se santos. Fosse 
este o caso, simplesmente se teriam tornado perfeccionistas, e não santos. Sem 
dúvida, "uma consciência tranqüila é o melhor travesseiro", reza o ditado ale-
mão; porém a moral verdadeira é mais do que apenas um sedativo ou tranqüili-
zante. 
 
 
Frustração Existencial 
A vontade de sentido também pode ser frustrada; neste caso, a logoterapia 
fala de "frustração existencial". O termo "existencial" pode ser usado de três ma-
neiras: referindo-se (1) à existência em si mesma, isto é, um modo especificamen-
te humano de ser; (2) referindo-se ao sentido da existência; (3) referindo-se à bus-
ca por um sentido concreto na existência pessoal, ou seja à vontade de sentido. 
Frustração existencial também pode resultar em neurose. Para esse tipo de 
neurose a terapia cunhou o termo "neurose noogênica", a contrastar com a neurose 
na significação habitual da palavra. isto é, a neurose psicogênica. Neuroses noo-
gênicas têm Sua origem não na dimensão psicológica, mas antes na dimensão 
"noológica" (do termo grego "nous" que significa "mente") da existência humana. 
Este é outro conceito logoterapêutico que designa qualquer aspecto pertinente ao 
cerne "espiritual" da personalidade. É preciso salientar que, dentro do quadro de 
referências da logoterapia, "espiritual" não tem uma conotação primordialmente 
religiosa, mas se refere a uma dimensão especificamente humana. 
 
Neuroses Noogênicas 
Neuroses noogênicas não surgem de conflitos entre impulsos e instintos, 
mas de conflitos entre valores diferentes, em outras palavras, de conflitos, morais, 
ou em termos mais genéricos, elas surgem de problemas espirituais. Entre esses 
problemas a frustração existencial muitas vezes desempenha importante papel. 
É óbvio que em casos noogênicos a terapia apropriada não é a psicoterapia 
de um modo geral, mas antes a logoterapia: ou seja uma terapia que ousa' penetrar 
na dimensão espiritual da existência humana. E de fato, logos em grego não signi-
fica apenas "sentido", mas também "espírito". Questões espirituais, como por e-
xemplo o anseio da pessoa humana por uma existência dotada de sentido, bem 
como a frustração desse anseio, são tratadas em termos espirituais, na logoterapia. 
Elas são encaradas com sinceridade e seriedade, e não como derivadas de raízes e 
fontes inconscientes, caso em que seriam tratadas simplesmente em termos instin-
tivos. 
Sempre que um terapeuta falhar na distinção entre a dimensão espiritual' e 
a instintiva, pode surgir uma confusão perigosa. Quero citar um exemplo: um di-
plomata americano de alto escalão dirigiu-se a meu consultório em Viena a fim de 
continuar o tratamento psicanalítico iniciado cinco anos antes com um analista de 
Nova Iorque. Logo de início perguntei-lhe por que pensava precisar da análise, 
por que, em si, começara com a análise. Revelou-se que o paciente estava descon-
tente com a sua carreira e tinha extrema dificuldade em concordar com a política 
exterior dos Estados Unidos. Seu analista, no entanto, lhe havia dito repetidamente 
que ele devia tentar reconciliar-se com seu pai, porque o governo dos Estados U-
nidos bem como os seus superiores eram "nada mais que" imagens paternas, e 
consequentemente a insatisfação com o seu emprego se devia ao ódio inconsciente 
contra o pai. Uma análise que já vinha durando cinco anos induzira o paciente a 
aceitar cada vez mais as interpretações de seu analista, até que, de tantas árvores de 
símbolos e imagens, ele não mais conseguiu ver a floresta da realidade. Após al-
gumas poucas entrevistas, ficou evidente que a sua vontade de sentido estava sendo 
frustrada por sua profissão, e que ele na realidade ansiava por engajar-se em outra 
espécie de trabalho. Como não havia motivo para não largar a profissão e abraçar 
outra, ele assim o fez, com os mais gratos resultados. Em sua nova ocupação ele 
está satisfeito já faz mais de cinco anos, conforme relatou há pouco tempo. Duvido 
que, neste caso, eu estivesse lidando com um estado neurótico, e esta é a razão 
porque pensei que ele não precisava de qualquer psicoterapia, nem mesmo de logo-
terapia, pela simples razão de, na realidade, não ser nem mesmo um paciente. Nem 
todo conflito énecessariamente neurótico; certa dose de conflito é normal e sadia. 
De forma similar, sofrimento não é sempre um fenômeno patológico; em vez de 
sintoma de neurose, sofrimento pode ser perfeitamente um mérito (achievement) 
humano, especialmente quando o sofrimento emana de frustração existencial. Eu 
negaria categoricamente que a busca por um sentido na existência da pessoa ou 
mesmo sua desorientação a respeito sempre provenha de alguma doença ou mesmo 
resultante de doença. Frustração existencial em si mesma não é nem patológica 
nem patogênica. A preocupação ou mesmo o desespero da pessoa sobre se a sua 
vida vale a pena ser vivida é uma angústia espiritual, mas de forma alguma uma 
doença mental. É bem possível que, se um terapeuta interpretar aquela angústia 
como doença, ele pode ser levado a soterrar o desespero existencial do seu paciente 
debaixo de um monte de tranqüilizantes. Sua função, no entanto, é de pilotar o pa-
ciente através das suas crises existenciais de crescimento e desenvolvimento. 
A logoterapia considera tarefa sua ajudar o paciente a encontrar sentido em 
sua vida. Na medida em que a logoterapia o conscientiza do logos oculto de sua 
existência, trata-se de um processo analítico. Até esse ponto a logoterapia se asse-
melha à psicanálise. Entretanto, quando a logoterapia procura conscientizar a pes-
soa novamente de alguma coisa, ela não restringe sua atividade a fatos instintivos 
dentro do inconsciente do indivíduo, mas se preocupa também com realidades es-
pirituais, : tais como o sentido em potencial de sua existência, ainda por ser cum-
prido, bem como a sua vontade de sentido. Qualquer análise, mesmo que se abste-
nha de incluir a dimensão noológica ou espiritual em seu processo terapêutico, 
procura tomar o paciente consciente daquilo que ele realmente anseia na profundi-
dade do seu ser. A logoterapia se desvia da análise na medida em que considera o 
ser humano um ente cuja preocupação principal consiste em cumprir um sentido e 
em realizar valores, e não na pura e simples gratificação e satisfação de impulsos e 
instintos, na mera reconciliação dos reclamos conflitantes de id, ego e superego, ou 
na adaptação e no ajustamento à sociedade e ao meio ambiente. 
 
 
Noodinâmica 
A busca por sentido e valores pode inclusive causar tensão interior em vez 
de equilíbrio interior. Entretanto, esta tensão é justamente um pré requisito indis-
pensável para a saúde mental. Ouso dizer que nada no mundo contribui tão efetiva-
mente para a sobrevivência, mesmo nas condições mais adversas, como saber que a 
vida da gente tem um sentido. Há muita sabedoria nas palavras de Nietzsche: 
"Quem tem porque viver, suporta quase todo como viver". Nestas palavras eu vejo 
um lema válido para qualquer psicoterapia, Nos campos de concentração nazistas, 
podia-se observar algo posteriormente confirmado por psiquiatras americanos no 
Japão e na Coréia: os prisioneiros que ainda tinham pela frente uma missão a cum-
prir, apresentavam maiores possibilidades de sobrevivência. 
Quanto a mim, quando fui levado para o campo de concentração em Ausch-
witz (1), apreenderam um manuscrito meu, que estava pronto para ser publicado. 
Não há dúvida de que a minha grande preocupação em reescrever o manuscrito me 
ajudou a sobreviver aos rigores do campo de concentração, Assim, por exemplo, 
quando fui atacado por tifo exantemático, rabisquei muitos apontamentos em peda-
cinhos de papel para depois conseguir reescrever o manuscrito, caso um dia voltasse 
à liberdade. Tenho certeza de que essa tarefa de reconstituir o manuscrito perdido, 
levada a cabo na penumbra dos barracões de um campo de concentração na Bavie-
ra, ajudou-me a superar o perigo de colapso. 
Pode-se ver, assim, que a saúde mental está apoiada em certo grau de tensão, 
tensão entre aquilo que já se alcançou e aquilo que a pessoa ainda está por alcançar, 
ou a lacuna entre o que se é e o que se deveria vir a ser. 
Essa tensão é inerente ao ser humano e por isso indispensável ao bem-estar 
mental. Não deveríamos, então, hesitar em desafiar a pessoa com um sentido em 
potencial a ser por ela cumprido. Somente assim despertaremos do estado latente a 
sua vontade de sentido. Considero perigosa e errônea a noção de higiene mental que 
parte do pressuposto de que a pessoa necessita em primeiro lugar do equilíbrio, ou 
como se diz na biologia: de "homeostase", ou seja, de um estado livre de tensão. O 
que o ser humano realmente precisa não é um estado livre de tensões, mas, antes, a 
busca e a luta por um objetivo que seja digno da pessoa em questão. O que ela ne-
cessita não é a descarga de tensão a qualquer custo, mas antes, o desafio de um sen-
tido em potencial à espera do seu cumprimento. O ser humano não precisa de ho-
meostase, mas daquilo que chamo de "noodinâmica", isto é, da dinâmica espiritual 
num campo polarizado de tensões, onde um pólo está representado por um sentido a 
ser cumprido e o outro pólo pela pessoa que o deve cumprir. E ninguém pense que 
isto é válido somente em situações normais; isto vale mais ainda para indivíduos 
neuróticos. Quando arquitetos querem salvar uma arcada que ameaça desabar, au-
mentam a carga por ela sustentada, para que, assim, seus componentes se juntem e 
se firmem melhor. Da mesma forma, quando terapeutas desejam fomentar a saúde 
mental de seus pacientes, não deveriam ter receios de aumentar aquela carga atra-
vés da re-orientação para o sentido da sua vida. 
Uma vez mostrado o impacto benéfico da orientação para o sentido, volto-
me agora para a perniciosa influência daquela sensação da qual se queixam tantos 
pacientes hoje em dia, ou seja, de uma total e extrema falta de sentido em suas 
vidas. Eles carecem da consciência de um sentido pelo qual valesse a pena viver. 
Sentem-se perseguidos pela experiência de seu vazio interior, de um abismo den-
tro de si mesmos; estão presos pela situação que costumo chamar de "vácuo exis-
tencial". 
 
O Vácuo Existencial 
O vácuo existencial é um fenômeno bastante difundido no século XX. Isso 
não causa surpresa; pode-se atribuí-lo talvez a uma dupla perda sofrida pelo ser 
humano depois que se tornou um ser verdadeiramente humano. No início da his-
tória humana, o homem perdeu alguns instintos animais básicos, que regulam o 
comportamento do animal e asseguram sua existência. 
Esta segurança o ser humano perdeu para todo o sempre. Ele precisa fazer 
opções. Acresce-se ainda que o ser humano sofreu mais outra perda em seu de-
senvolvimento mais recente. As tradições, que serviam de apoio para seu com-
portamento, atualmente vêm desaparecendo com grande rapidez. Nenhum instin-
to lhe diz o que deve fazer, e não há tradição que lhe diga o que ele deveria fazer; 
dentro em breve ele não saberá o que quer fazer. Cada vez mais, será governado 
por aquilo que outros querem que faça, acabando vitimado pelo conformismo. 
Um levantamento estatístico de um grupo representativo dos pacientes e 
do pessoal de enfermaria, realizado pela minha equipe no setor de neurologia do 
Hospital Policlínico de Viena, revelou que 55% das pessoas questionadas mos-
travam um grau maior de vácuo existencial. Em outras palavras, mais da metade 
tivera a experiência da perda de sensação de que a vida tem um sentido. 
Esse vácuo existencial se manifesta principalmente num estado de tédio. 
Agora podemos entender porque Schopenhauer disse que, aparentemente, a hu-
manidade estava fadada a oscilar eternamente entre os dois extremos da angústia 
e do tédio. É fato concreto que atualmente o tédio está causando e certamente 
trazendo aos psiquiatras mais problemas do que o faz a angústia. E estes proble-
mas estão se tornando cada vez mais agudos, uma vez que o crescente processo 
de automação provavelmente conduzirá a um aumento enorme das horas de lazer 
do trabalhador médio. Lastimável é que muitos deles nem saberão o que fazer 
comseu tempo livre. 
Pensemos, por exemplo, na "neurose dominical", aquela espécie de de-
pressão que acomete pessoas no momento em que passa o corre-corre da semana 
atarefada e elas precisam encarar o abismo dentro de si mesmas; então se consci-
entizam da falta de conteúdo em suas vidas. Não são poucos os casos de suicídio 
atribuídos a este vácuo existencial. Fenômenos tão difundidos como o alcoolismo 
e a delinqüência entre os jovens não podem ser entendidos se não reconhecermos 
o vácuo existencial subjacente. O mesmo é válido também para crises de aposen-
tados e idosos. 
Existem ainda diversas máscaras e disfarces sob as quais transparece o vá-
cuo existencial. Às vezes a vontade de sentido frustrada é vicariamente compen-
sada por uma vontade de poder, inclusive pela mais primitiva forma da vontade 
de poder, que é a vontade de dinheiro. Em outros casos o lugar da vontade de sen-
tido frustrada é tomado pela vontade de prazer. É por isso que muitas vezes a 
frustração existencial acaba em compensação sexual. Podemos observar nestes 
casos que a libido sexual assume proporções descabidas no vácuo existencial. 
Algo análogo ocorre em casos de neurose. Existem certos casos de meca-
nismos retroalimentadores e de configurações tipo círculo vicioso que ainda dis-
cutirei adiante. Pode-se observar em casos e mais casos, entretanto, que esta sin-
tomatologia invadiu um vácuo existencial no qual ela continua em plena flores-
cência. No caso desses pacientes não estamos lidando com neuroses noogênicas. 
Entretanto jamais conseguiremos que o paciente supere sua condição se não su-
plementarmos o tratamento psicoterapêutico com logoterapia. Isto porque, ao se 
preencher o vácuo existencial, o paciente estará prevenido contra relapsos. Por 
isso a logoterapia não só é indicada em casos psicogênicos, e particularmente no 
que tenho chamado do "'(pseudo) - neuroses somatogênicas". Sob esta luz se jus-
tifica uma afirmação feita certa vez por Magda D. Arnold: "Toda terapia precisa, 
de algum modo, por mais restrita que seja, ser também uma Iogoterapia". (2). 
Vejamos o que se pode fazer quando um paciente pergunta qual é, afinal, o senti-
do de sua vida. 
 
O Sentido da Vida 
Não creio que terapeuta algum possa responder esta questão em termos 
genéricos. Isto porque o sentido da vida difere de pessoa para pessoa, de um dia 
para outro, de uma hora para outra. O que importa, por conseguinte, não é o sen-
tido da vida de um modo geral, mas antes o sentido específico da vida de uma 
pessoa em um dado momento. Formular esta questão em termos gerais seria 
comparável a perguntar a um campeão de xadrez: "Diga-me, mestre, qual o me-
lhor lance do mundo?" Simplesmente não existe algo como o melhor lance sepa-
rado de uma situação específica num jogo e da personalidade peculiar do adversá-
rio. O mesmo é válido para a existência humana. Não se deve procurar um senti-
do abstrato da vida. Cada qual tem sua própria vocação ou missão específica na 
vida; cada um precisa executar uma tarefa, concreta que está a exigir cumprimen-
to. Nisto a pessoa não pode ser substituída, nem pode sua vida ser repetida. As-
sim a tarefa de cada um é tão singular como a sua oportunidade específica de le-
vá-la a cabo. 
Uma vez que cada situação na vida representa um desafio para a (cada) 
pessoa e lhe apresenta um problema para resolver, pode-se, a rigor, inverter a 
questão pelo sentido da vida. Em última análise a pessoa não deveria perguntar 
qual o sentido da sua vida, mas antes deve reconhecer que é ela que está sendo 
indagada. Em suma, cada pessoa é questionada pela vida; e ela somente pode res-
ponder à vida respondendo por sua própria vida; à vida ela somente pode respon-
der sendo responsável. Assim sendo, a logoterapia vê na responsabilidade (res-
ponsibleness) a essência propriamente dita da existência humana. 
 
A Essência da Existência 
Esta ênfase sobre a responsabilidade se reflete no imperativo categórico da 
logoterapia, que reza: "Viva como se já estivesse vivendo pela segunda vez, e co-
mo se na primeira vez você tivesse agido tão errado como está prestes a agir ago-
ra!" Parece-me que nada estimula tanto o senso de responsabilidade de uma pes-
soa como esta máxima, a qual convida a imaginar primeiro que o presente é pas-
sado, e em segundo lugar, que o passado ainda pode ser alterado e corrigido. Se-
melhante preceito a confronta com a finitude da vida e com a finalidade (fina-
lity) daquilo que ela faz de sua vida e de si mesma. 
Logoterapia procura criar no paciente uma consciência plena de sua própria 
responsabilidade; por isso precisa deixar que ele opte pelo que, perante que ou 
perante quem ele se julga responsável. Eis que um logoterapeuta é, dentre todos os 
psicoterapeutas, o que menos se vê tentado a impor julgamentos de valores a um 
paciente, porque jamais permitirá ao paciente transferir ao psicoterapeuta a res-
ponsabilidade de julgar. 
Por isso é o paciente quem decide se deve interpretar a tarefa de sua vida 
como pessoa responsável perante a sociedade ou perante a sua própria consciên-
cia. A maioria, entretanto, se considera responsável perante Deus; são aqueles que 
não interpretam suas próprias vidas simplesmente em termos de uma tarefa a eles 
designada, mas também em função de um contramestre que lhes atribuiu a tarefa. 
Logoterapia não é instrução nem pregação. Ela está tão distante do arrazo-
ado lógico como da exortação moral. Em linguagem figurada, o papel do logote-
rapeuta é antes o de um oculista que de um pintor. O pintor procura transmitir-nos 
uma imagem do mundo como ele o vê; o oculista procura capacitar-nos a enxergar 
o mundo como ele é na realidade. O papel do logoterapeuta consiste em ampliar e 
alargar o campo visual do paciente de modo que todo o espectro de sentido e de 
valores se tome consciente e visível para ele. Logoterapia não tem necessidade de 
impor quaisquer julgamentos ao paciente, uma vez que, na realidade, a verdade se 
impõe por si mesma e não carece de intervenção. 
Ao declarar que o ser humano é uma criatura responsável e precisa realizar 
o sentido potencial de sua vida, quero salientar que o verdadeiro sentido da vida se 
encontra no mundo, e não dentro da pessoa humana ou de sua psique, como se 
fosse um sistema fechado. Por isso, o verdadeiro alvo da existência humana não 
pode ser encontrado no que se chama de auto-realização. Existência humana é, 
por essência, autotranscendência, e não autorealização. Auto-realização, a priori, 
não é um alvo possível, pela simples razão de que, quanto mais uma pessoa a 
buscar, menos ela a alcançará. Pois apenas na medida em que a pessoa se con-
sagra ao cumprimento do sentido de sua vida ela também se realiza a si mesma. 
Em outras palavras, a auto-realização não pode ser conseguida caso dela se fi-
zer um fim em si mesmo, ela é alcançada apenas como efeito colateral da auto-
transcendência. 
O mundo não pode ser considerado mera expressão da própria pessoa 
(self). Nem tampouco pode ser o mundo considerado mero instrumento ou 
meio para o fim da auto-realização. Em ambos os casos, a cosmovisão, a Wel-
tanschauung, vira uma Weltentwertung, isto é, uma depreciação do mundo. 
Até aqui mostramos que o sentido da vida sempre se modifica, mas ja-
mais pára de existir. De acordo com a logoterapia podemos descobrir na vida 
este sentido de três diferentes formas: 1. praticando um ato; 2. experimentando 
um valor; 3. sofrendo. A primeira forma, a de feito ou conquistada, é bastante 
evidente. A segunda e terceira ainda precisam ser detalhadas. 
A segunda forma de encontrar um sentido na vida está na experiência de 
algo como uma obra da natureza ou da cultura; ela também ocorre no ato de se 
experimentar o encontro com alguém, isto é, no amor. 
 
O Sentido do Amor 
O amor é a única maneira de captar a outro ser humano no mais íntimo 
dasua personalidade. Ninguém consegue ter consciência plena da essência úl-
tima de outro ser humano sem amá-lo. Através do ato espiritual do amor a pes-
soa se toma capaz de ver os traços característicos e as feições essenciais do ser 
amado; mais ainda, ela vê o que está potencialmente contido nele, aquilo que 
ainda não está realizado, mas ainda deveria ser realizado. Além disso, através 
do seu amor a pessoa que ama capacita a pessoa amada a realizar estas potenci-
alidades. Conscientizando-a do que ela pode ser e do que ela deveria vir a ser, 
aquele que ama faz com que estas potencialidades venham a se realizar. 
Na logoterapia, o amor não é interpretado como mero epifenômeno de 
impulsos e instintos sexuais no sentido de uma assim chamada sublimação. O 
amor é um fenômeno tão primário como o sexo. Normalmente sexo é uma mo-
dalidade de expressão do amor. O sexo se justifica e é até santificado no mo-
mento em que, e apenas enquanto for um veículo do amor. Desta forma o amor 
não é entendido como mero efeito colateral do sexo, e sim o sexo é entendido 
como um meio de expressar a experiência daquela união última chamada de 
amor. 
Uma terceira forma de encontrar o sentido da vida está no sofrer. 
 
 
O Sentido do Sofrimento 
Sempre que a pessoa é confrontada com uma situação inexorável e ine-
vitável, sempre que alguém precisa encarar um destino que não pode ser altera-
do, por exemplo, uma doença sem cura como o câncer inoperável, precisamente 
então ela recebe uma chance última de realizar o valor supremo, de cumprir o 
mais profundo dos sentidos, o sentido do sofrimento. Pois o mais importante de 
tudo é a atitude que tomamos em relação ao sofrimento, a atitude com que assu-
mimos o nosso sofrimento. 
Quero citar um exemplo bem claro: Certa vez um clínico geral de mais i-
dade veio consultar-me por causa de sua depressão muito profunda. Ele não con-
seguia superar a perda de sua mulher, que falecera fazia dois anos a qual ele ama-
ra acima de tudo. Bem, como poderia eu ajudá-lo? Que poderia lhe dizer? Absti-
ve-me de lhe dizer qualquer coisa e, ao invés, confrontei-o com a questão: "Que 
teria acontecido, doutor, se o senhor tivesse falecido primeiro e sua esposa tivesse 
que lhe sobreviver?" – “Ah!", disse ele, "isso teria sido terrível para ela; ela teria 
sofrido muito!" Ao que retruquei: "Veja bem, doutor, ela foi poupada deste so-
frimento e foi o senhor que a poupou desse sofrimento; mas agora o senhor preci-
sa pagar por isso sobrevivendo a ela e chorando a sua morte". Ele não disse mais 
palavra, apertou a minha mão e calmamente deixou meu consultório. Sofrimento 
de certo modo deixa de ser sofrimento no instante em que se vê um sentido, como 
o sentido de sacrifício. 
É claro que esta não foi propriamente uma terapia, uma vez que em pri-
meiro lugar o seu desespero não era nenhuma doença; em segundo, eu não podia 
alterar a sua sina, não podia ressuscitar a sua esposa; mas o que eu consegui na-
quele momento foi ajudar a sua atitude frente ao destino inalterável, visto que a 
partir daquela ocasião ele pelo menos podia ver um sentido em seu sofrimento. 
Um dos princípios fundamentais da logoterapia está em que a preocupação mais 
importante da pessoa humana não consiste em ter prazer ou evitar a dor, mas an-
tes em ver um sentido em sua vida. Esta é a razão porque o ser humano está pron-
to até a sofrer, sob a condição, é claro, de que o seu sofrimento tenha um sentido. 
Não é preciso explicar que o sofrimento não tem sentido, se não for abso-
lutamente necessário; assim, por exemplo, um câncer que pode ser curado por 
cirurgia não deve ser carregado por um paciente como se fosse a sua cruz. Isso 
seria masoquismo, e não heroísmo, Mas se um médico não pode nem curar a do-
ença nem aliviar o doente de sua dor, ele deveria apostar na capacidade do paci-
ente de cumprir o sentido de seu sofrimento. A psicoterapia tradicional tem pro-
curado restaurar a capacidade da pessoa de trabalhar e gozar a vida; a logoterapia 
inclui estas coisas, mas vai além, fazendo com que o paciente reconquiste sua 
capacidade de sofrer, caso necessário, assim encontrando sentido até mesmo no 
sofrimento. Neste contexto Edith Weisskopf-Joelson, docente de psicologia na 
Universidade de Purdue, sustenta em seu artigo de logoterapia que "nossa filoso-
fia corrente sobre higiene mental enfatiza a noção de que as pessoas deveriam ser 
felizes, que infelicidade é sintoma de desajustamento. Esse sistema de valores 
poderia ser responsável pelo fato de o fardo de infelicidade inevitável ser acresci-
do da infelicidade de a pessoa ser infeliz". (4). 
Em outro ensaio, ela manifesta a esperança de que a logoterapia "possa 
ajudar a reagir contra certas tendências pouco sadias na atual cultura dos Estados 
Unidos, onde o sofredor incurável recebe muito pouca oportunidade de ter orgu-
lho do seu sofrimento e de o considerar enobrecedor, ao invés de degradante", 
tanto é que "ele não só é infeliz, mas também tem vergonha de ser infeliz". (5). 
Existem situações em que se está impedido de trabalhar ou de gozar a vi-
da; o que, porém, jamais pode ser excluído é a inevitabilidade do sofrimento. Ao 
aceitar esse desafio de sofrer com bravura, a vida recebe um sentido até o seu 
derradeiro instante, mantendo este sentido literalmente até o fim. Em outras pa-
lavras, o sentido da vida é um sentido incondicional, por incluir até o sentido 
potencial do sofrimento. 
Gostaria de recordar aquilo que foi, talvez, a mais profunda experiência 
por que passei no campo de concentração. As possibilidades de sair dali com 
vida não passavam de uma em vinte, como se pode verificar facilmente em esta-
tísticas exatas. Não era provável nem mesmo possível que o manuscrito do meu 
primeiro livro, que ocultei dentro da minha capa ao chegar em Auschwitz, ja-
mais pudesse ser salvo. Assim, tive que sofrer e superar a perda do meu filho 
espiritual. Parecia agora que nada nem ninguém sobreviveria a mim; nem filho 
físico nem filho espiritual que fossem meus! Vi-me assim confrontado com a 
questão se, dentro dessas circunstâncias, minha vida carecia de qualquer sentido, 
em última análise. 
Eu ainda não percebera que uma resposta para esta questão com que me 
debatia tão desesperadamente, já estava à minha espera e que pouco depois ela 
me seria dada: Foi quando tive de entregar minha roupa e, em troca, herdei os 
trapos surrados de um recluso que fora mandado para a câmara de gás, logo de-
pois de sua chegada à estação ferroviária de Auschwitz; em lugar do grande nú-
mero de páginas do meu manuscrito, encontrei no bolso da capa recém-adquirida 
uma única página, arrancada de um livro de orações hebraico, contendo a princi-
pal oração judaica, o Chemá Yisrael. Como interpretar semelhante "coincidên-
cia" senão como um desafio no sentido de viver meus pensamentos, em vez de 
simplesmente colocá-los no papel? 
Lembro-me que pouco depois me pareceu que eu morreria em futuro pró-
ximo. Dentro dessa situação crítica, entretanto, eu tinha uma preocupação dife-
rente da maioria dos meus companheiros. A pergunta deles era: "Será que vamos 
sair com vida do campo de concentração? Caso contrário, todo esse sofrimento 
não tem sentido". A pergunta que atormentava a mim era: "Será que tem sentido 
todo esse sofrimento, toda essa morte ao nosso redor? Caso contrário, em última 
análise não faz sentido sobreviver; uma vida cujo sentido depende de semelhante 
eventualidade - escapar ou não escapar - em última análise nem valeria a pena 
ser vivida". 
 
Problemas Metaclínicos 
O médico é cada vez mais confrontado com as perguntas: Que é a vida? A-
final, que é sofrimento? De fato, contínua e incessantemente o psiquiatra hoje em 
dia é consultado por pacientes que o confrontam mais com problemas humanos 
que com sintomas neuróticos. Algumas pessoas que atualmente apelam para o 
psiquiatra, emoutra época se teriam dirigido a um pastor, sacerdote ou rabi. Ago-
ra, porém, eles se recusam a ser passados para as mãos de um clérigo, de modo 
que o terapeuta se vê confrontado mais com questões filosóficas que com conflitos 
emocionais. 
 
Um Logodrama 
Gostaria de citar o seguinte exemplo: Certa feita, a mãe de um menino que 
morrera na idade de onze anos deu entrada em minha clínica, após uma tentativa 
de suicídio. Meu colega, Dr. Kocourek, convidou-a a participar de um grupo tera-
pêutico, Ocorreu que em certa ocasião eu entrei na sala da clínica em que ele diri-
gia um psicodrama. Ela estava contando a sua história. Quando seu filho morreu, 
ficou sozinha com outro filho, mais velho, que era aleijado, vítima de paralisia 
infantil. O pobre rapaz estava preso a uma cadeira de rodas. Sua mãe, entretanto, 
rebelou-se contra o destino. Mas quando tentou o suicídio juntamente com ele, foi 
o filho aleijado quem a impediu; ele gostava de viver! Para ele a vida continuara a 
ter muito sentido. Por que não se dava o mesmo com sua mãe? Como poderia a 
vida dela continuar a ter um sentido? E como poderíamos ajudá-la a conscientizar-
se disso? 
Improvisando, entrei no diálogo e perguntei a outra mulher no grupo por 
sua idade, ao que ela responde: "Trinta anos". Repliquei: "Não, você agora não 
está com trinta anos, mas sim com oitenta, deitada no seu leito de morte. E agora 
você olha para trás, para sua vida, uma vida sem filhos, mas plena de sucesso fi-
nanceiro e prestígio social". Convidei-a então a imaginar como ela se sentiria den-
tro dessa situação. "Que você acha disso? O que vai dizer para si mesma?" Vou 
citar o que ela realmente disse, de uma fita gravada naquela sessão: "Ah, casei 
com um milionário, tive uma vida fácil, cheia de amenidades; e aproveitei bem! 
Flertei com homens, provoquei-os; mas agora estou com oitenta anos; não tenho 
filhos próprios. Olhando para trás, como mulher de muita idade, não consigo ver 
para que foi tudo isso; na realidade preciso dizer que a minha vida foi um fracas-
so!" 
Convidei então a mulher que tinha o filho paralítico que se imaginasse em 
situação idêntica, repassando a sua vida. Vejamos o que ela disse, conforme está 
gravado na fita: "Desejei ter filhos, e este desejo me foi concedido; um menino 
morreu, mas o outro, o aleijado, teria sido mandado para uma instituição, se eu 
não tivesse ficado com ele, cuidando dele. Mesmo que ele seja aleijado e comple-
tamente dependente, não deixa de ser o meu filho, Assim eu fiz com que ele pu-
desse ter uma vida mais completa; fiz do meu filho uma pessoa humana melhor." 
Neste ponto, houve uma explosão de lágrimas e choro; ela continuou: "Quanto a 
mim, posso encarar tranqüila a minha vida passada; porque posso dizer que mi-
nha vida foi rica em sentido e dei duro para realizá-lo, fiz o melhor que pude - 
dei a meu filho o melhor de mim. Minha vida não foi um fracasso!" Encarando 
sua vida passada como se estivesse no leito de morte, ela repentinamente pôde 
ver um sentido em sua vida, um sentido que incluía até mesmo todos os seus 
sofrimentos. Da mesma forma ficara igualmente claro que uma vida de pouca 
duração, como por exemplo de seu filho morto, podia ser tão rica em alegria e 
amor a ponto de conter mais sentido que uma vida que durasse oitenta anos. 
Pouco depois passei para outra questão, dirigindo-me desta vez ao grupo 
inteiro. Lancei a questão se um macaco utilizado para produzir soro contra poli-
omielite e que, por esta razão, fosse picado vez após vez, jamais seria capaz de 
captar o sentido do seu sofrimento. O grupo negou unanimemente: pois com sua 
inteligência limitada ele não poderia entrar no mundo dos seres humanos, ou 
seja, o único mundo no qual o seu sofrimento seria inteligível. Fui em frente 
com a seguinte pergunta: "E como é com a pessoa humana? Vocês têm certeza 
de que o mundo humano é um ponto final na evolução do cosmo? Não é conce-
bível que ainda haja outra dimensão possível, um mundo além do mundo huma-
no? Um mundo em que a pergunta pelo sentido último do sofrimento humano 
encontraria uma resposta?" 
 
O Supra-sentido 
Esse sentido último necessariamente excede e ultrapassa a capacidade in-
telectual finita do ser humano; na logoterapia falamos neste contexto de um su-
pra-sentido. O que se requer da pessoa não é aquilo que alguns filósofos exis-
tenciais ensinam, ou seja, suportar a falta de sentido da vida: o que se propõe é, 
antes, suportar a incapacidade de captar, em termos racionais, o fato de que a 
vida tem um sentido incondicional. O logos é mais profundo que a lógica. 
Um psiquiatra que vai além do conceito do supra-sentido, mais cedo ou 
mais tarde acabará embaraçado por seus pacientes, como se deu comigo quando 
minha filha de seis anos me perguntou: "Por que dizemos que o Senhor é bom?" 
Eu repliquei: "Faz algumas semanas você teve sarampo, e então o Senhor, em 
sua bondade, fez você sarar completamente". Mas a pequena não se deu por sa-
tisfeita e retrucou: "Mas ora, pai, foi ele que me fez pegar o sarampo!" No en-
tanto, quando o paciente está sobre o chão firme da fé religiosa, não se pode 
objetar ao uso do efeito terapêutico das suas convicções religiosas, aproveitando 
seus recursos espirituais. Para esse fim o psiquiatra eventualmente precisará 
colocar-se no lugar do paciente. Fiz isto certa vez, por exemplo, quando um rabi 
de um país oriental veio ter comigo e me contou sua história. Ele tinha perdido 
sua primeira esposa e seus seis filhos no campo de concentração de Auschwitz, 
onde foram mortos na câmara de gás e agora se evidenciava que sua segunda 
mulher era estéril. Observei que a procriação não é o único sentido da vida, por-
que então a vida em si perderia o sentido, porque algo em si mesmo não tem 
sentido, não pode ganhar sentido simplesmente através de sua perpetuação. En-
tretanto o rabi encarava a sua sorte como um judeu ortodoxo, ou seja, no desespe-
ro de não ter um filho próprio que pudesse pronunciar o Caddich (6) para ele, 
quando morresse. 
Não desisti. Fiz uma última tentativa de ajudá-lo, perguntando se ele não 
esperava ver os seus filhos novamente no céu. Minha pergunta entretanto, desen-
cadeou uma torrente de lágrimas, e agora sim, veio à tona o verdadeiro motivo do 
seu desespero; explicou ele que seus filhos, uma vez que morreram como márti-
res inocentes, (7) mereceriam o mais elevado lugar no céu; mas ele mesmo, um 
velho pecador, não esperava receber o mesmo lugar. Ainda não desisti e retru-
quei: "Não se poderia conceber, rabi, que foi este justamente o sentido de o se-
nhor sobreviver a seus filhos, para que fosse purificado por estes anos de sofri-
mento, de modo que o senhor, embora não inocente como seus filhos, possa afi-
nal tornar-se digno de juntar-se a eles no céu? Não está escrito nos salmos que 
Deus guarda todas as suas lágrimas? (8) Assim talvez nenhuma de suas dores foi 
em vão." Pela primeira vez em muitos anos ele se sentiu aliviado do seu sofri-
mento, pela nova perspectiva que lhe pude abrir. 
 
A Transitoriedade da Vida 
Entre as coisas que parecem tirar da vida humana o seu sentido não estão 
apenas o sofrimento e a angústia, mas também a morte. Nunca me canso de dizer 
que os únicos aspectos realmente transitórios da vida são as potencialidades: mas 
no momento em que estas são realizadas, elas se transformam em realidades; elas 
são resgatadas e entregues ao passado, no qual elas ficam a salvo e resguardadas 
da transitoriedade. Isto porque no passado nada está irremediavelmente perdido, 
mas tudo está irrevogavelmente guardado. 
Sendo assim, a transitoriedade da nossa existência de forma alguma lhe ti-
ra o sentido. Na verdade ela constitui a nossa responsabilidade, porque tudo de-
pende de nos conscientizarmos das possibilidades essencialmente transitórias. O 
ser humano está constantemente fazendo uma opção diante da massa depotencia-
lidades presentes; quais delas serão condenadas a não-ser, e quais serão concreti-
zadas? Qual opção se tomará realidade uma vez e para sempre imortal "pegada 
nas areias do tempo"? A todo e qualquer momento a pessoa precisa decidir para o 
bem ou para o mal, qual será o monumento de sua existência. 
Não há dúvida de que geralmente a pessoa somente leva em conta o campo 
de restolhos da transitoriedade e se esquece dos abarrotados celeiros do passado, 
onde ele guardou de uma vez por todas os seus atos, suas alegrias e também seus 
sofrimentos. Nada pode ser desfeito, nada pode ser eliminado; eu diria que ter 
sido é a mais segura forma do ser. 
Ao considerar a transitoriedade essencial da existência humana, a logote-
rapia não é pessimista, mas antes ativista. Em linguagem figurada poderíamos 
dizer que o pessimista parece um homem que observa com temor e tristeza que o 
seu calendário na parede vai ficando mais fino a cada dia que passa. Por outro 
lado a pessoa que enfrenta ativamente os problemas da vida é como o homem 
que, dia após dia, vai destacando cada folha do seu calendário e cuidadosamente 
a guarda junto às precedentes tendo primeiro feito no verso alguns apontamentos 
referentes ao dia que passou. É com orgulho e alegria que ele pensa em toda a 
riqueza contida nessas anotações, em toda a vida que ele já viveu em plenitude. 
Que lhe importa notar que está ficando velho? Terá ele alguma razão para ficar 
invejando os jovens que ele vê, ou de cair em nostalgia por ter perdido a juventu-
de? Que motivos terá ele para invejar uma pessoa jovem? Pelas possibilidades 
que estão à frente do jovem, do futuro que o espera? "Eu agradeço", é o que ele 
vai pensar. "Em vez de possibilidades, realidades, realidades é o que tenho no 
meu passado, não apenas a realidade do trabalho realizado e do amor vivido, mas 
também a realidade do sofrimento que passei. Estas são as coisas das quais me 
orgulho mais, embora não sejam coisas que possam causar inveja". 
 
A Logoterapia como Técnica 
Um medo realista como o medo da morte não pode ser amenizado nem e-
liminado por sua interpretação psicodinâmica; de outro lado, um medo neurótico 
como a agorafobia não pode ser curado pela compreensão filosófica. Entretanto a 
logoterapia desenvolveu uma técnica especial para lidar também com estes casos. 
Para entender o que ocorre ao se aplicar esta técnica, tomamos como ponto de 
partida uma condição freqüentemente encontrada em indivíduos neuróticos, qual 
seja, a ansiedade antecipatória. Característico deste temor é que ele produz exa-
tamente aquilo que o paciente teme. Assim por exemplo um indivíduo que está 
com medo de enrubescer ao entrar num salão e enfrentar muitas pessoas, acabará 
enrubescendo mesmo. Neste contexto poder-se-ia transpor o ditado "o desejo é 
pai do pensamento" para "a ansiedade é mãe do evento". 
Ironicamente, da mesma forma como o medo faz acontecer aquilo de que 
se tem medo, uma intenção forçada toma impossível aquilo que se deseja com 
intensidade. Esta intenção excessiva, ou "hiper intenção" como eu a chamaria, 
pode ser observada particularmente em casos de neurose sexual. Quanto mais um 
homem procura demonstrar sua potência sexual, ou quanto mais a mulher tenta 
mostrar a sua capacidade de experimentar o orgasmo, menos chances de sucesso 
terão. O prazer é e deve permanecer efeito colateral, ou produto secundário; ele 
será anulado e comprometido na medida em que dele se fizer um objetivo em si 
mesmo. 
Além da intenção excessiva descrita acima, também a atenção excessiva 
ou "hiper reflexão" como é chamada na logoterapia, pode ser patogênica (ou seja, 
pode levar à doença). O seguinte relato clínico ilustrará o que quero dizer. Uma 
mulher jovem dirigiu-se a mim queixando-se de sua frigidez. O histórico do caso 
mostrou que em sua infância ela tinha sido agredida sexualmente por seu pai. En-
tretanto, não foi esta experiência traumática em si mesma que fizera surgir a sua 
neurose sexual, como podia ser facilmente verificado. Isto porque se mostrou que a 
paciente, lendo literatura psicoanalítica popular, vivera o tempo todo na temerosa 
expectativa do pesado tributo que sua experiência traumática lhe cobraria algum 
dia. Esta ansiedade antecipatória resultou tanto na intenção excessiva de confirmar 
a sua feminilidade como na atenção excessiva centrada nela mesma, ao invés de no 
seu parceiro. Isto bastou para incapacitar a paciente para a experiência do auge do 
prazer sexual, uma vez que o orgasmo fora transformado em objeto de intenção e 
em objeto de atenção, em vez de permanecer um efeito não-intencionado do seu 
devotamento ao parceiro. Depois de se submeter à uma logoterapia de pouca dura-
ção, a atenção e intenção excessivas da paciente, voltadas para a sua capacidade de 
experimentar orgasmo, acabaram sendo "des-refletida" (com o que estamos introdu-
zindo outro termo logoterapêutico). Quando a sua atenção foi focalizada para o ob-
jeto apropriado, ou seja, o parceiro, o orgasmo surgiu espontaneamente. (9) 
Nesta dupla constatação de que o medo torna realidade aquilo que se teme, e 
de que a hiperintenção impossibilita aquilo que se deseja, a logoterapia baseia a sua 
técnica chamada de "intenção paradoxal". Nesta abordagem o paciente que sofre da 
fobia é convidado a intencionar precisamente aquilo que ele teme, mesmo que ape-
nas por um momento. 
Vou lembrar um caso. Um jovem médico me consultou por causa do seu 
medo de transpirar. Sempre que ele esperava uma emissão de suor, esta ansiedade 
antecipatória já era suficiente para precipitar a transpiração excessiva. Com a finali-
dade de romper este círculo vicioso, aconselhei o paciente a que, quando voltasse 
essa transpiração, deliberadamente mostrasse às pessoas o quanto ele conseguia 
suar. Uma semana depois ele voltou, relatando que sempre que encontrava alguém 
que nele provocasse ansiedade antecipatória, ele dizia para si mesmo: "Antes eu só 
conseguia suar meio litro, mas agora eu vou despejar pelo menos cinco litros!" O 
resultado foi que, depois de sofrer desta fobia durante quatro anos, com uma única 
sessão ele foi capaz de se libertar da mesma permanentemente, em questão de uma 
semana. 
O leitor perceberá que este procedimento consiste numa inversão da atitude 
do paciente, uma vez que seu temor é substituído por um desejo paradoxal. Através 
deste tratamento tira-se o vento das velas da ansiedade. 
Semelhante procedimento, entretanto, precisa fazer uso da capacidade espe-
cificamente humana do auto-distanciamento, inerente a um certo senso de humor. 
Esta capacidade básica da pessoa distanciar-se de si mesma entra em ação sempre 
que se aplica a técnica logoterapêutica chamada "intenção paradoxal". Ao mesmo 
tempo, capacita-se o paciente a colocar-se numa posição distanciada de sua própria 
neurose. 
Gordon W. Allport escreve: "O neurótico que aprende a rir de si mesmo po-
de estar a caminho da autogerência (self-management), talvez da cura" (10). A in-
tenção paradoxal é a validação empírica e aplicação clínica da afirmação de Allport. 
Vejamos mais alguns casos que ajudarão a esclarecer este método. Outro 
paciente foi um contador, tratado por muitos médicos em diversas clínicas, sem 
obter sucesso terapêutico. Ao chegar à minha clínica, estava desesperado e ad-
mitia estar perto do suicídio. Fazia anos que vinha sofrendo de uma "cãibra de 
escritor", que recentemente se tornara tão grave a ponto de quase perder o seu 
emprego. Por isso somente uma terapia imediata, a curto prazo, poderia remedi-
ar a situação. Ao iniciar o tratamento, meu colega associado recomendou ao 
paciente que fizesse exatamente o oposto do que ele costumava fazer, ou seja, 
ao invés de escrever da forma mais legível e estética possível, que escrevesse 
com os piores garranchos possíveis. Ele recebeu o conselho de dizer para si 
mesmo: "Agora vou mostraràs pessoas os garranchos que sei fazer!" E no mo-
mento em que deliberadamente procurou rabiscar de forma ilegível foi incapaz 
de fazê-lo, "Procurei bagunçar minha letra, mas simplesmente não consegui." 
Dentro de quarenta e oito horas, o paciente livrou-se de seu mal, continuando 
livre durante todo o período de observação depois do tratamento. Ele é nova-
mente um homem feliz e plenamente capaz de trabalhar. 
Caso semelhante, relacionado entretanto com a fala, não com a escrita, 
foi-me contado por um colega do setor de laringologia do Hospital Policlínico. 
Fora o mais grave caso de gagueira que ele vira em muitos anos de profissão. 
Ao que o gago podia se lembrar, nunca em sua vida estivera livre de seu pro-
blema de fala, nem sequer por um momento, com uma única exceção. Esta o-
correu quando ele tinha doze anos, ao andar de bonde sem pagar passagem. Ao 
ser pego pelo cobrador, pensou que a única maneira de se safar seria a de con-
quistar a simpatia dele, fazendo-se de pobre coitadinho que sofria de gagueira. 
No momento em que tentou gaguejar, foi incapaz de fazê-lo. Sem querer, 
ele pusera em prática a intenção paradoxal, embora não para fins terapêuticos. 
Esta apresentação, no entanto, não deveria deixar a impressão de que a 
intenção paradoxal somente funciona em casos menos sintomáticos. Com esta 
técnica logoterapêutica meus colaboradores no Hospital Policlínico de Viena 
conseguiram trazer alívio até em neuroses de caráter obsessivo-compulsivo da 
maior gravidade e duração. Refiro-me, por exemplo, a uma mulher que durante 
sessenta dos seus sessenta e cinco anos de vida sofrera de uma compulsão de 
limpeza tão grave que pensei na lobotomia como a única maneira possível de 
lhe trazer algum alívio. Entretanto, meu colega começou um tratamento logote-
rapêutico baseado na intenção paradoxal, sendo que dois meses mais tarde a 
paciente estava em condições de levar uma vida normal. Antes de dar entrada na 
clínica, ela confessara que "a vida era um inferno para ela". Tolhida por sua 
compulsão e obsessão bacteriológicas, ela acabou ficando acamada o dia inteiro, 
incapaz de fazer qualquer trabalho caseiro. Não seria exato dizer que ela agora 
está completamente isenta de sintomas, pois uma obsessão ainda pode subir à 
sua mente. Entretanto, ela é capaz de "fazer troca de idéia", segundo diz, ou seja, 
em outras palavras, aplicar a intenção paradoxal. 
A intenção paradoxal também é aplicável em casos de distúrbios do sono; 
o medo da insônia (11) resulta numa hiper-intenção de pegar no sono, o que, por 
sua vez, incapacita o paciente de fazê-lo, Para superar este medo em particular, 
costumo aconselhar o paciente a não tentar dormir, mas antes fazer justamente o 
contrário, ou seja, ficar acordado tanto quanto possível. Em outras palavras, a 
hiper-intenção de adormecer, oriunda da ansiedade antecipatória de não conseguir 
fazê-lo, precisa ser substituída pela intenção paradoxal de não pegar no sono, o 
que logo será sucedido pelo sono. A intenção paradoxal é um instrumento muito 
útil no tratamento de condições obsessivo-compulsivas e fóbicas, especialmente 
em casos com ansiedade antecipatória subjacente. Além disso, constitui-se tam-
bém em um dispositivo terapêutico a curto prazo; entretanto ninguém deveria 
concluir daí que semelhante terapia a curto prazo resulta necessariamente em e-
feitos terapêuticos apenas temporários. Escreve Emil A. Gutheil que uma das 
"mais generalizadas ilusões da ortodoxia freudiana é de que a duração dos resul-
tados corresponde à duração da terapia" (12). Em meus arquivos existe, por e-
xemplo, o relatório do caso de um paciente tratado com a intenção paradoxal há 
mais de vinte anos; o efeito terapêutico, mesmo assim, demonstrou ser permanen-
te. 
Um fato muito notável é que a intenção paradoxal é eficiente independen-
temente da etiologia do caso. Isto reforça uma afirmação de Edith Weisskopf-
Joelson: "Muito embora a psicoterapia tradicional tenha insistido em que as práti-
cas terapêuticas precisam basear-se em constatações etiológicas, é possível que 
certos fatores causem neuroses durante a primeira infância, e que fatores comple-
tamente diferentes remediem neuroses durante a vida adulta" (13). Fatores muitas 
vezes considerados causas de neuroses, como complexos, conflitos e traumas, são 
muitas vezes sintomas das neuroses, ao invés de suas causas. Um recife que apa-
rece durante a maré baixa com certeza não é a causa da maré baixa; antes é a ma-
ré baixa que faz o recife aparecer. Agora, que é a melancolia senão uma espécie 
de maré baixa emocional? Os sentimentos de culpa tão típicos das "depressões 
endógenas" (as quais não devem ser confundidas com as neuróticas!) não são a 
causa desse tipo particular de depressão. O inverso é verdade, uma vez que esta 
maré baixa emocional faz com que esses sentimentos de culpa venham à tona, a 
nível consciente, os traz apenas para o primeiro plano. 
Quanto à real causa de neurose, afora os elementos constitutivos de natu-
reza somática ou psíquica, os mecanismos retroalimentadores, como a ansiedade 
antecipatória, parecem constituir importante fator patogênico. Dado sintoma des-
perta uma fobia, a fobia provoca o sintoma e o sintoma por sua vez reforça a fo-
bia. Uma cadeia como esta pode ser observada em casos obsessivo-compulsivos, 
nos quais o paciente combate as idéias que o perseguem (14). Desta forma, po-
rém, ele aumenta o poder que elas têm, de perturbá-lo, uma vez que pressão pro-
voca contrapressão, e mais uma vez é reforçado o sintoma! Por outro lado, assim 
que o paciente para de combater suas obsessões, procurando ridicularizá-las, tratan-
do-as com atitude irônica, aplicando a intenção paradoxal, interrompe-se o círculo 
vicioso, o sintoma diminui e acaba atrofiando. No caso em que não haja um vácuo 
existencial propiciando o sintoma e convidando-o a se instalar, o paciente consegui-
rá ridicularizar o medo neurótico , e, finalmente, terá sucesso em ignorá-lo, Estamos 
vendo que a ansiedade antecipatória precisa ser combatida através da intenção para-
doxal; a hiper-intenção bem como à hiper-reflexão é preciso opor a des-reflexão; 
des-reflexão, em última análise, não é possível a não ser através de reorientação do 
paciente para a sua vocação e missão específica na vida (15). 
Não é a preocupação do neurótico consigo mesmo, seja ela de auto-
consideração ou de desprezo, que vai romper o círculo vicioso; a chave para a cura 
está no "auto-engajamento" (self-commitment)! 
 
A Neurose Coletiva 
Cada época tem sua própria neurose coletiva, e cada época necessita de sua 
própria psicoterapia para enfrentá-la. O vácuo existencial, que é a neurose em mas-
sa da atualidade, pode ser descrito como forma privada e pessoal de niilismo; por-
que niilismo pode ser definido como a posição que diz não ter sentido o ser. Quan-
to à psicoterapia, porém, ela jamais será capaz de enfrentar esse estado de coisas em 
escala maciça, se não se mantiver livre do impacto e da influência das tendências 
contemporâneas de uma filosofia niilista; caso contrário, ela mesma representará 
um sintoma da neurose de massa, ao invés de sua possível cura. A psicoterapia re-
fletiria uma filosofia niilista, e, mesmo sem saber e sem querer, transmitiria ao pa-
ciente o que, na verdade, é uma caricatura, e não uma imagem verdadeira do ser 
humano. 
Antes de mais nada, há um perigo na doutrina do "nada-mais-que" aplicado à 
pessoa humana, a teoria de que o ser humano é "nada mais que" o resultado de con-
dicionantes biológicas, psicológicas e sociológicas, produto da hereditariedade e do 
meio ambiente. Semelhante visão da pessoa humana transforma-a num robô, não 
num ser humano. Esse fatalismo neurótico é fomentado e reforçado por uma psico-
terapia que nega ser livre a pessoa humana. 
Sem dúvida, o ser humano é um ser Imito, e sua liberdade é finita. Não se 
trata de uma liberdadede condicionantes, mas da liberdade para tomar uma posição 
frente aos condicionantes, por exemplo, não ser responsável pelo fato de ser grisa-
lho; entretanto, sou responsável pelo fato de não ter ido ao cabeleireiro tingir o meu 
cabelo - como bom número de senhoras o teria feito. Por conseguinte, cada indiví-
duo tem certa margem de liberdade, mesmo que ela se reduza à opção de tingir o 
cabelo ou não. 
 
Crítica do Pandeterminismo 
A psicanálise muitas vezes tem sido criticada por seu chamado pansexualis-
mo. Eu, para começar, não creio que esta censura jamais tenha sido legítima. Pare-
ce-me, entretanto, que a psicanálise parte de um pressuposto ainda mais errôneo e 
perigoso, que eu chamo de "pandeterminismo". Refiro-me à visão do ser humano, 
que descarta a sua capacidade de tomar uma posição sob condicionantes quaisquer 
que sejam. O ser humano não é completamente condicionado e determinado; ele 
mesmo determina se cede aos condicionantes ou se lhes resiste. Isto é, o ser huma-
no é autodeterminante, em última análise. Ele não simplesmente existe, mas sempre 
decide qual será a sua existência, o que ele se tornará no momento seguinte. 
Da mesma forma, todo ser humano tem a liberdade de mudar a qualquer ins-
tante. Por isso, podemos predizer o seu futuro somente dentro de um quadro muito 
amplo de um levantamento estatístico relativo a um grupo inteiro; a personalidade 
individual, entretanto, permanece essencialmente imprevisível. A base para qual-
quer previsão estaria constituída pelas condições biológicas, psicológicas ou socio-
lógicas. Mesmo assim, uma das principais características da existência humana está 
na capacidade de se elevar acima dessas condições e transcendê-las. Do mesmo 
modo, o ser humano, em última análise, transcende-se a si mesmo. O ser humano é 
um ser que se transcende a si mesmo. 
Permitam-me citar o caso do Dr. J. Foi ele o único homem que encontrei em 
minha vida e que eu ousaria chamar de um "ente mefistofélico", uma figura diabóli-
ca. Naquela ocasião ele era comumente chamado de o "carniceiro de Steinhof", em 
alusão a um grande hospital psiquiátrico em Viena. Quando os nazistas começaram 
seu programa de eutanásia, ele era a pessoa chave, tão fanático em sua função que 
não deixava um único indivíduo psicótico escapar da câmara de gás. Depois da 
guerra, quando voltei a Viena, perguntei o que sucedera ao Dr. J. "Os russos o 
prenderam numa das celas isoladas de Steinhof", contaram-me. "No dia seguinte, 
entretanto, a porta da cela estava escancarada e o Dr. J. nunca mais foi visto". Eu 
estava convicto de que, com a ajuda de seus companheiros, ele rumara mais tarde 
para a América do Sul, como vários outros. Mais recentemente, entretanto, fui con-
sultado por um ex-diplomata austríaco que estivera por muitos anos encarcerado do 
outro lado da Cortina de Ferro, primeiro na Sibéria, depois na famosa prisão de Li-
ublianca, em Moscou. Durante um exame neurológico, ele, de repente, me pergun-
tou se, por acaso, conhecia o Dr. J. Eu disse que sim, e ele continuou: "Conheci-o 
em Liublianca. Ali ele morreu com cerca de quarenta anos, de câncer na bexiga. 
Antes de morrer, ele foi o melhor companheiro que se pode imaginar! Dava confor-
to a todo mundo. Vivia segundo os mais altos padrões morais que se pode conceber. 
Foi o melhor amigo que jamais encontrei em todos os meus longos anos na prisão! 
Esta a história do Dr. J., "o carniceiro de Steinhof", Quem ousará prever o compor-
tamento de uma pessoa? Pode-se predizer os movimentos de uma máquina, de um 
autômato; até mais do que isto, pode-se tentar predizer até mesmo os mecanismos ou 
"dinamismos" da psique humana; mas o ser humano é mais do que psique. 
O pandeterminismo parece uma doença infecciosa inoculada nos educadores; pa-
rece que ela atingiu até muitos adeptos da religião, e, ao que tudo indica. eles não se dão 
conta de que assim estão minando a própria base de suas convicções; porque de duas 
uma: ou se reconhece a liberdade da pessoa humana de decidir a favor ou contra Deus, 
bem como a favor ou contra o ser humano, ou a religião é um embuste, uma educação 
para a ilusão. Ambas pressupõem a liberdade, caso contrário foram mal-entendidas. 
A avaliação pandeterminista da religião sustenta que a vida religiosa de uma 
pessoa está condicionada, uma vez que depende das experiências na primeira infância. 
Diz ela ainda que o conceito de Deus depende da imagem que se tem do pai. Contras-
tando com este modo de ver, sabe-se muito bem que o filho de um beberrão não se tor-
nará necessariamente um beberrão, da mesma forma uma pessoa pode resistir à influên-
cia perniciosa de uma imagem amedrontadora do pai, para entrar numa relação sadia 
com Deus. Mesmo a pior das imagens paternas não impede necessariamente alguém de 
estabelecer uma boa relação com Deus; antes, uma vida religiosa profunda dá à pessoa 
os recursos necessários para superar o ódio pelo pai; inversamente, nem sempre uma 
vida religiosa precária está necessariamente condicionada por fatores presentes no de-
senvolvimento da pessoa (16). 
No momento em que interpretamos a religião como mero produto da psicodinâ-
mica, de forças motivadoras inconscientes, não acertamos o essencial e perdemos de 
vista o fenômeno autêntico. 
Essa concepção errônea faz com que a psicologia da religião muitas vezes acabe 
virando psicologia como religião, na qual a psicologia é, por vezes, cultuada e transfor-
mada numa explicação para tudo. 
 
O Credo Psiquiátrico 
Não se pode conceber algo que condicione o ser humano a ponto de deixá-lo 
sem a menor das liberdades. Por isso um resíduo de liberdade, por mais limitada que 
seja, ainda resta à pessoa em caso de neurose ou mesmo de psicose. Na verdade, o mais 
íntimo cerne da personalidade de um paciente nem é tocado pela psicose. Lembro-me 
de um homem de seus sessenta anos que trouxeram a mim por causa de alucinações 
auditivas que já duravam décadas. Vi-me frente a uma personalidade arruinada. Ficou 
evidente que todo mundo no meio em que ele circulava o considerava um idiota. Mas 
que estranho charme esse homem irradiava! Quando criança ele quisera tomar-se um 
sacerdote. Entretanto teve que se contentar- com a única alegria que lhe era dada, de 
cantar no coro da igreja aos domingos pela manhã. Sua irmã, que o acompanhava, con-
tou que às vezes ele ficava extremamente agitado, mas que, no último instante, sempre 
conseguia recuperar o auto-controle. Fiquei interessado pela psicodinâmica subjacente 
ao caso, porque pensei haver uma fixação muito forte do paciente em sua irmã; quis 
saber como ele conseguia recuperar o auto-controle: "Por amor a quem você age 
assim? (17). Houve alguns segundos de silêncio, quando o paciente respondeu: 
"Por amor a Deus". Neste exato momento, revelou-se a profundidade de sua per-
sonalidade, e no chão dessa profundeza, a despeito da precariedade de seus dons 
intelectuais, revelou-se uma autêntica vida religiosa. 
Um indivíduo incuravelmente psicótico pode perder sua utilidade, mas 
conservar a dignidade de um ser humano. Este é meu credo psiquiátrico. Sem ele, 
para mim não valeria a pena ser psiquiatra. Por amor a quem? Simplesmente por 
amor a uma máquina cerebral danificada, que não pode ser consertada? Se o pa-
ciente não fosse categoricamente algo mais do que isso, a eutanásia estaria justi-
ficada. 
 
Reumanizando a Psiquiatria 
Por longo tempo, durante meio século, a psiquiatria tentou interpretar a 
mente humana simplesmente como um mecanismo, e consequentemente a terapia 
da doença mental simplesmente foi encarada como uma técnica. Eu acredito que 
esse sonho acabou. O que desponta agora no horizonte não são os contornos de 
uma medicina psicologizada, mas antes, de uma psiquiatria humanizada, 
Um terapeuta, entretanto, que continuasse entendendo o seu próprio papel 
principalmente como o de um técnico, confessariaque não vê em seu paciente 
mais do que uma máquina, em vez de enxergar o ser humano que está por trás da 
doença! 
O ser humano não é uma coisa entre outras; coisas se determinam mutua-
mente, mas o ser humano, em última análise, se determina a si mesmo. Aquilo 
que ele se toma - dentro dos limites dos seus dons e do meio ambiente - é ele 
quem faz de si mesmo. Nos campos de concentração, por exemplo, nesse labora-
tório vivo e campo de testagem que foi, observamos e testemunhamos alguns dos 
nossos companheiros se portarem como porcos, ao passo que outros agiram como 
se fossem santos. A pessoa humana tem dentro de si ambas as potencialidades; 
qual será concretizada, depende de decisões e não de condições. 
Nossa geração é realista porque chegamos a conhecer o ser humano como 
ele de fato é. Afinal, ele é aquele ser que inventou as câmaras de gás de Ausch-
witz; mas ele é também aquele ser que entrou naquelas câmaras de gás de cabeça 
erguida, tendo nos lábios o Pai Nosso ou o Chemá Yisrael. 
 
NOTAS 
1. Trata-se da primeira versão do meu primeiro livro, cuja versão inglesa foi publicada em 1955 por 
Alfred A. Knopf, Inc., Nova lorque, sob o título The Doctor and the Soul: An Introduction to Logo-
therapy. 
2. Magda B. Arnold e John A. Gasson, The Human Person (Nova lorque, The Ronald Press Com-
pany, 1954, p. 618. 
3. Fenômeno que ocorre como resultado de um fenômeno primário. 
4. Edith Weisskopf-Joelson, "Some Comments on a Viennese School of Psychiatry", in: The Journal 
of Abnormal and Social Psychology, Vol. 51, pp. 701-703 (1955). 
5. Edith Weisskofp-Joelson, "Logotherapy and Existential Analysis" in: Acta psichotherapeutica, 
vol. 6, pp. 193-204 (1958). 
6. Oração pelos mortos. 
7. L'QIDDUS HASEM, isto é, para santificação do nome de Deus. 
8. "Contaste os meus passos quando sofri perseguições; recolheste as minhas lágrimas no teu odre; 
não estão elas inscritas no teu livro?" (SI 56,8). 
9. Para o tratamento de casos de impotência sexual, desenvolveu-se na logoterapia uma técnica espe-
cífica, baseada na teoria logoterápica da hiperintenção e hiperreflexão, conforme descrito acima. 
Naturalmente não podemos entrar em detalhes neste resumo dos princípios da logoterapia. 
10. Gordon W. Allport, The Individual and His Religion (Nova lorque, The Macmillan Company, 
1956), p.92. 
11. O medo de insônia, na maioria dos casos, deve-se à ignorância do paciente em tomo do fato de 
que o organismo se provê da quantidade mínima de sono realmente necessária. 
12. Emil A. Gutheil, American Journal of Psychotherapy, vol. 10, p. 134 (1956). 
13. Edith Weisskopf-Joelson, "Some Comments on a Viennese School of Psychiatry", in: The Jour-
nal of Abnormal and Social Psychology, Vol, 51, pp. 701-703 (1955). 
14. A motivação para isto está, muitas vezes, no medo do paciente de que suas obsessões indiquem 
uma psicose iminente ou mesmo real; o paciente não sabe do fato empírico de que uma neurose ob-
sessivo-compulsiva o está imunizando contra uma psicose formal, em vez de fazê-lo caminhar nesta 
direção. 
15. Esta convicção tem o apoio de Allport, que escreveu: "Na medida em que o empenho é transferi-
do de conflito para alvos fora da própria pessoa (selfless), a vida como um todo se torna mais sadia, 
mesmo que a neurose possivelmente jamais desapareça por completo" (op. cit., p.95). 
16. Um levantamento estatístico representativo realizado por minha equipe no Hospital Policlínico 
de Viena revelou que cerca de um terço dos pacientes que haviam passado pela experiência de uma 
imagem paterna positiva, largaram a religião em sua vida posterior, ao passo que a maioria dos que 
tiveram uma imagem paterna negativa, não obstante conseguiram criar uma atitude positiva em rela-
ção a assuntos religiosos. 
17. "For whose sake", no original, poderia ser traduzido também por "por causa de quem", "em con-
sideração a quem" ou "em função de quem". A expressão volta várias vezes em seguida no texto. 
Optamos por aquela versão que melhor combina com a resposta do paciente: "For God's sake"; que 
no linguajar coloquial significa "Pelo amor de Deus". (Nota do tradutor). 
 
Viktor Frankl – Dados biográficos 
Fonte: Wikipédia, a enciclopédia livre. 
Viktor Emil Frankl (Viena, 26 de março de 1905 — 2 de setembro de 1997) foi um 
médico e psiquiatra austríaco, fundador da escola da Logoterapia, que explora o sentido 
existencial do indivíduo e a dimensão espiritual da existência. 
 
Juventude 
No início da década de 1920, quando tinha quinze anos de idade, Frankl passou a se 
corresponder com Sigmund Freud. Em 1921, deu sua primeira conferência, sobre o 
tema A respeito do sentido da vida. A seguir, Frankl torna-se membro ativo de 
organizações de trabalhadores socialistas jovens. 
Em 1925, como estudante de medicina, Frankl encontra-se pessoalmente com Freud e 
se aproxima do círculo intelectual liderado por Alfred Adler. No ano seguinte, ele é 
excluído da Association de Psychologie Individuelle, em razão de suas divergências 
com Adler. 
De 1933 a 1936, Frankl é diretor do pavilhão das mulheres suicidas do hospital 
psiquiátrico de Viena. Quando os nazistas tomam o poder na Áustria, Frankl, correndo 
risco de perder a vida, sabota as ordens que recebera de proceder à eutanásia de doentes 
mentais sob seus cuidados. 
 
Segunda Guerra Mundial 
Em setembro de 1942, Viktor, mulher grávida e família, porque judeus, são deportados 
para diferentes campos de concentração, tendo ele recebido a tatuagem de prisioneiro nº 
119.104. 
Libertado somente ao fim da guerra, Frankl toma conhecimento de que sua mulher 
morreu de esgotamento simultaneamente à liberação do campo de Bergen-Belsen. 
Perdeu além dela, seus pais e irmão no Holocausto nazista. 
Esta indelével experiência pessoal será marcante em sua obra terapêutica e em seus 
escritos, tendo sido capaz de manter, em tal situação desumanizadora, a capacidade de 
conservar a liberdade do espírito. 
 
Maturidade 
Nos 25 anos subseqüentes à guerra, Frankl será o diretor da policlínica de neurologia de 
Viena. 
Em 1948, obtém seu doutorado em filosofia com o tema: "O Deus inconsciente". Em 
1955, torna-se professor de neurologia da Universidade de Viena. 
Em 1970, em San Diego, Califórnia (em cuja universidade federal passara a lecionar), é 
fundado o primeiro instituto de logoterapia do mundo. 
Foi nos Estados Unidos - país em que também lecionou como professor visitante nas 
Universidades de Harvard, Dallas e Pittsburgh - que a figura de Frankl atingiu 
notoriedade mundial, a despeito de suas teses contrariarem as correntes psicanalíticas 
tradicionais e dominantes. 
Ao longo de sua vida, os livros de Viktor Frankl serão traduzidos em mais de 30 
idiomas. 
Frankl recebeu o título de doutor honoris causa de diversas instituições de ensino do 
mundo inteiro, inclusive da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, no Brasil. 
Como conferencista, Frankl visitou muitos países ao longo de sua vida, tendo passado 
pelo Brasil em 1984 (Porto Alegre), 1986 (Rio de Janeiro) e 1987 (Brasília). 
Atualmente, institutos, centros de estudos e associações de logoterapia podem ser 
encontrados em mais de 30 países. 
 
Panorama de sua obra 
A obra de Frankl é relativamente pouco conhecida nos países de língua portuguesa e é 
comumente ignorada pelas principais correntes da psicanálise (como Sigmund Freud, 
Carl Gustav Jung, Alfred Adler e Jacques Lacan). 
De uma forma prática e simples assim diferenciava a Psicanálise da Logoterapia: Na 
psicanálise, o paciente tem de deitar-se num divã e contar coisas que, às vezes, são 
muito desagradáveis de serem contadas. Pois na logoterapia o paciente pode ficar 
sentado normalmente, mas tem de ouvir coisas que, às vezes, são muito desagradáveis 
de serem ouvidas.(in Sede Sentido, São Paulo: Quadrante, 1999). 
O fundador

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