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Princípios de uso de antibióticos

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Eugênio S. Ramos – Medicina UFRN P4 
I2 PRINCÍPIOS DO USO DOS ANTIBIÓTICOS 
Antibiótico – substância natural ou semi-sintetizadas 
com atividade contra organismos vivos. As sulfas, não 
são encontradas na natureza são quimioterápicos, um 
grupo de fármaco do qual os antibióticos fazem parte. A 
rigor, as sulfas são antimicrobianos. Na prática, costuma-
se chamar esses medicamentos de antibióticos pela sua 
ação anti-infecciosa. 
Conhecer a farmacocinética e a farmacodinâmica do 
antibiótico é essencial, como no emprego de todo 
fármaco. Deve ser lembrado, ademais, que o alvo nas 
doenças infecciosas são os microrganismos, tornando a 
escolha da droga mais complexa. Portanto, a droga pode 
agir no indivíduo, com potenciais efeitos adversos. Além 
disso, há a possibilidade de desenvolvimento de 
resistência ou diminuição de suscetibilidade ao 
fármaco, devido às características inerentes dos agentes 
infecciosos. 
Por exemplo, um paciente com HIV não tratado pode 
adquirir resistência a antirretrovirais. Por isso, é 
fundamental que o paciente compreenda essa 
possibilidade, favorecendo o sucesso da terapêutica. 
1 – IDENTIFICAR O AGENTE 
É fundamental que o antibiótico usado tenha ação sobre 
o agente. No entanto, poucas vezes o agente está isolado 
no início da terapia. Antes de introduzir o 
antimicrobiano, portanto, é fundamental começar o 
cultivo de cultura. Numa situação ideal, convém que o 
agente seja pesquisado, pela cultura apropriada. Porém, 
NÃO RETARDAR O INÍCIO DA TERAPIA – risco de fazer 
sepse. 
A cultura tem importância por permitir: identificar o 
agente e fazer o teste de sensibilidade (antibiograma) – 
reconhecer os antibióticos com maior eficácia contra o 
agente, com possibilidade de aumentar a dose, e ajustar 
o esquema terapêutico mais adequado. 
Por essas razões, a terapia inicial é evidentemente 
empírica, tomando por base a experiência clínica do 
médico. Se a clínica é muito sugestiva, esses 
procedimentos não são mandatórios. Esses casos 
configuram exceções, como em infecções por S. 
pyogenes (ex: faringoamigdalite estreptocóccica - 
quadro típico) e S. pneumoniae, os quais desenvolvem 
pouca ou nenhuma resistência. Como dito, nem sempre 
essa previsibilidade é possível. 
2 – OBSERVAR O HOSPEDEIRO 
Consiste em considerar aspectos da farmacocinética 
(absorção, distribuição, metabolização e eliminação) e 
farmacodinâmica (mecanismo de ação), relacionando 
com a fisiologia do hospedeiro. Por exemplo, um 
paciente com insuficiência renal não dialítico tem maior 
risco de toxicidade pela droga, pela eliminação deficiente 
da mesma. Assim, é preciso avaliar a função renal 
(clinicamente ou por laboratório) antes de usar drogas 
nefrotóxicas, como no uso do tenofovir, para pacientes 
infectados com o HIV. Além da função renal, conhecer a 
função hepática tem importância semelhante, pois está 
relacionado com metabolismo e eliminação. Com o uso 
de certos antibióticos, pode haver piora da função 
hepática ou uma elevação da toxicidade. 
Outro ponto importante é a possibilidade de alergia, 
como com o uso de penicilina, pois o paciente corre o 
risco de ter uma reação anafilática ou um rash cutâneo 
induzidos pela terapia. Essa alergia pode ser prévia ou se 
desenvolver no curso da terapia. Um antígeno é um 
elemento proteico que pode induzir a produção de 
anticorpos. Mesmo que os antibióticos não constituam 
antígenos, alguns podem levar à produção de anticorpos 
e induzir uma reação alérgica. Assim, perguntar se o 
paciente tem alergia previamente, além de alertar que é 
possível que esse quadro pode se desenvolver e a 
importância de readequar a terapia nesse caso. 
Além disso, há fatores genéticos ou outras 
comorbidades que podem influenciar no metabolismo 
da droga. Por exemplo, uma deficiência de G6PD, em 
paciente que recebe prescrição de sulfas, pode ter um 
quadro de hemólise induzido. Em pacientes diabéticos, 
alguns ATBs alteram a glicemia para mais ou para menos, 
como a ciprofloxacina/levofloxacina. 
A gravidez também é uma questão preocupante, pois em 
alguns casos há a possibilidade de haver malformações 
no feto a partir da passagem da droga via placentária. 
Um exemplo é o grupo dos aminoglicosídeos, que podem 
levar a um quadro de surdez. Deve-se fazer o teste em 
caso de dúvida se há gravidez ou não em pacientes em 
idade reprodutiva. No caso dos homens, há ATBs que são 
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transmissíveis pela via sexual, podendo apresentar o 
mesmo risco teratogênico. 
3 – CONSIDERAR O SÍTIO DE INFECÇÃO 
Deve-se atentar se a droga consegue penetrar no local 
em que instalou o agente. Para certos quadros, isso 
suscita uma preocupação necessária, como no caso de 
uma meningite, na qual o ATB deve atravessar a BHE; ou 
na osteomielite, em que o fármaco deve penetrar o osso. 
Sem conhecer o sítio de infecção, portanto, fica inviável 
fazer a melhor escolha antibiótica. 
4 – USAR ANTIMICROBIANO ISOLADO OU 
COMBINAÇÃO? 
Em geral, se uma combinação for vantajosa, deve ser 
feita associação. As principais situações são: 
a) Infecção mista – mais de 2 agentes 
b) Infecção muito grave – dificuldade de identificar 
o agente 
c) Possibilidade de haver resistência ao 
antimicrobiano – aumenta a probabilidade de 
sucesso terapêutico  EVITAR CEPAS 
RESISTENTES 
d) Combinação permite redução da dose – ↓ 
toxicidade 
e) Efeito sinérgico – acelera a eliminação do agente 
infeccioso 
Nem toda associação é benéfica, sendo possível que haja 
antagonismo, por características relacionadas ao 
mecanismo de ação do antibiótico. Ex: bactericida + 
bacteriostático. 
Por outro lado, é possível que a associação não implique 
em efeitos adversos quaisquer. 
5 – CUSTO 
Deve-se ponderar as condições de acesso do paciente, 
não levando em conta apenas o valor financeiro, mas 
também a logística de administração da droga, que 
também representa um custo. 
6 – EFEITOS ADVERSOS 
O médico deve se atentar aos efeitos adversos e 
reconhecê-los como tal, seguindo o tratamento e 
correção da dose. Assim, esses efeitos devem ser 
pesquisados e monitorados. Os efeitos podem ser 
imediatos ou mais arrastados. Por exemplo, amicacina e 
risco de insuficiência renal em paciente séptico. 
7 – VIA DE ADMINISTRAÇÃO 
A via de administração tem grande dependência com a 
situação clínica. Há particularidades que contraindicam a 
via oral, em um processo infeccioso: 
 ↓ Nível de consciência 
 Íleo paralítico 
 Vômitos 
 Náusea 
 Infecção grave 
De modo geral, se há dúvidas quanto à farmacocinética 
(se o fármaco será absorvido, distribuído e terá ação), 
deve-se usar a via IV ou IM. São situações em que não se 
pode ter dúvida se o ATB vai atuar, como em uma 
meningite ou numa sepse, objetivando a certeza de um 
nível sérico apropriado. 
8 – NÍVEL SÉRICO 
Em alguns casos particulares, como no caso da 
administração de vancomicina, é preciso monitorar o 
nível sérico do antibiótico.

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