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Proteção Legal ao Bem de Familia

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CENTRO UNIVERSITÁRIO SALESIANO DE SÃO PAULO 
ALINNE TORRES SOARES 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PROTEÇÃO LEGAL AO BEM DE FAMÍLIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
AMERICANA 
2013 
 
CENTRO UNIVERSITÁRIO SALESIANO DE SÃO PAULO 
ALINNE TORRES SOARES 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PROTEÇÃO LEGAL AO BEM DE FAMÍLIA 
 
Trabalho de Conclusão de Curso 
apresentado como exigência parcial para 
obtenção do grau de Bacharel em Direito 
no Centro Universitário Salesiano sob a 
orientação do Professor Mestre Alexandre 
Seiffert Nunes. 
 
 
 
AMERICANA 
2013 
 
 
 
ALINNE TORRES SOARES 
PROTEÇÃO LEGAL AO BEM DE FAMÍLIA 
 
Trabalho de Conclusão de Curso 
apresentado como exigência parcial para 
obtenção do grau de Bacharel em Direito 
no Centro Universitário Salesiano sob a 
orientação do Professor Mestre Alexandre 
Seiffert Nunes. 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso defendido e aprovado em 11/11/2013, pela 
comissão julgadora: 
 
 
 
 
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AMERICANA 
2013 
 
 
 
Agradecimentos 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Agradeço a Deus, por ter me dado à vida e a família maravilhosa que me apoia 
sempre. 
 
Agradeço a minha mãe a ao meu pai, não só pelo apoio financeiro que tornou 
possível minha graduação, mas sobretudo o apoio emocional e a fé que sempre 
tiveram em mim. Por tudo isso e por serem pessoas maravilhosas, meu muito 
obrigado. 
 
Agradeço ao meu orientador, Professor Alexandre, que sempre, com muita 
sabedoria e delicadeza, me auxiliou na condução do tema. 
 
 E a todos que direta ou indiretamente colaboraram para a realização deste 
trabalho. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Resumo 
 
 
 
O ponto de partida deste trabalho é o estudo da proteção dada ao bem de família na 
legislação brasileira. Com o objetivo de mostrar um pouco dos aspectos, exceções e 
aplicações do bem de família, fez-se uma análise dos institutos análogos em 
legislações de outros países, bem como um exame do bem de família anterior a lei 
8009 de 29 de março de 1990, a lei que dispõe sobre a impenhorabilidade do bem 
de família. Posteriormente, ocorreu o estudo de como o instituto do bem de família é 
tratado no Código Civil de 2002, e na lei supra citada, bem como jurisprudência e 
doutrinas sobre o tema e sobre a interpretação dos artigos de ambos dispositivos 
legais. Conclui-se que o bem de família é, sobretudo, uma proteção à família, e não 
ao devedor, com o intuito de garantir uma vida digna mesmo em tempos de 
dificuldade financeira, tomando como base o artigo 226 da Constituição da 
República Federativa do Brasil de 1988, que dispõe que a família é a base da 
sociedade e, portanto, merece proteção especial do Estado. 
 
Palavras-chave: Bem de família. Lei 8009 de 1990. Imóvel. Impenhorabilidade. 
Exceções. 
 
 
Sumário: 
 
Introdução ...................................................................................................................... 6 
1. Bem de Família - Considerações Históricas ............................................................ 8 
1.1. Considerações sobre a origem da família e da propriedade privada ....................... 8 
1.2. Considerações históricas sobre o instituto do bem de família ................................ 10 
1.2.1. O bem de família no Direito Romano. ............................................................. 10 
2.1. Definição geral de bem .......................................................................................... 15 
2.2. Conceito de Bem de Família .................................................................................. 17 
3. Características do bem de família .......................................................................... 19 
3.1. Bem Imóvel ............................................................................................................ 19 
3.2. Um único imóvel .................................................................................................... 21 
3.3. Amplitude ............................................................................................................... 22 
4. Espécies de bem de família ................................................................................... 26 
4.1. Bem de família convencional ................................................................................. 26 
4.2. Bem de família legal .............................................................................................. 36 
4.2.1. Bem de família retratado na lei 8009/90.......................................................... 37 
5. Aspectos gerais sobre a impenhorabilidade do bem de família ............................. 42 
5.1. Impenhorabilidade dos bens do locatário ............................................................... 43 
6. Exceções a impenhorabilidade de acordo com a Lei 8009/90 ............................... 46 
6.1. Bens excluídos da impenhorabilidade e a interpretação jurisprudencial ................ 46 
6.2. Exceção à impenhorabilidade quanto à oponibilidade de credores ....................... 48 
6.3. Exceção à impenhorabilidade por créditos trabalhistas ......................................... 49 
6.4. Exceção à impenhorabilidade por créditos para construção ou aquisição do 
imóvel.......... ......................................................................................................... ........51 
6.5. Exceção à impenhorabilidade por créditos alimentícios ......................................... 52 
6.6. Exceção à impenhorabilidade de créditos tributários e contribuições em função do 
imóvel. .......................................................................................................................... 54 
6.7. Exceção à impenhorabilidade de créditos hipotecários. ........................................ 56 
6.8. Exceção á impenhorabilidade de bem de família com aquisição criminosa. .......... 61 
7. Aquisição de má-fé de imóvel mais valioso. .......................................................... 67 
 Considerações Finais ............................................................................................ 69 
 Referências ............................................................................................................ 71 
 
 
6 
Introdução 
 
Desnecessário falar sobre a importância da família no desenvolvimento 
social, moral, psicológico e financeiro de qualquer ser humano. É no seio familiar 
que se constroem cidadãos. 
 A Constituição Federal de 1988, no caput de seu art. 226, mostra que a 
família é a base da sociedade, merecendo assim, proteção do Estado e cuidados 
especiais. 
No que tange a proteção estatal à família, é que se destaca o tema da 
presente monografia: o bem de família. 
O instituto do bem de família é um meio de assegurar um mínimo para 
uma vida digna de uma das mais importantes instituições: a própria família. 
Esse tema é de grande importância para a família, que é visto de maneira 
muito breve nos cursos de graduação, ante a amplitude do conteúdo que deve ser 
estudado. 
Busca tratar ainda, os dois tipos de bem de família, o convencional (ou 
voluntário) e o legal (ou involuntário). 
 
O bem de família convencional, é também conhecido como bem de 
família voluntário, uma vez que advém da vontade do proprietário, por necessitar de 
escritura pública, ou testamento, é pouco utilizada. Quando utilizada, é normalmentepelas famílias mais abastadas, que podem suportar o ônus do registro. 
 
Ainda porque, não são muitas famílias que podem sustentar a 
imobilização de um terço do patrimônio da família. As famílias que não tem essa 
disponibilidade de dinheiro para proteger seu patrimônio contra os altos e baixos 
financeiros que podem ocorrem estavam, assim, desprotegidas. 
 
Tal problemática foi resolvida com a lei 8009 de 1990 que, com poder de 
ordem pública, rege que o imóvel utilizado como residência de uma entidade familiar 
7 
 
é impenhorável, e não responde por qualquer tipo de dívida civil, comercial, fiscal, 
previdenciária ou de outra natureza, contraída pelos cônjuges ou pelos pais ou filhos 
que sejam seus proprietários e nele residam, salvo nas hipóteses previstas na 
própria lei. 
 
A presente monografia elucida também, alguns conflitos jurisprudenciais e 
doutrinários, com base nos dispositivos legais, no intuito de expor questões 
controvetidas a respeito do instituto do bem de família. 
Assim, para o estudo deste importante instituto, inicialmente foram feitas 
considerações históricas sobre a origem da própria família e da propriedade privada, 
bem como sobre o conceito de “bem”. 
 
Realizou-se uma revisão dos institutos que deram origem ao instituto 
estudado e a definição e características do bem de família 
 
Posteriormente tratou-se das duas espécies, do bem de família como 
tratado no Código Civil de 2002 (bem de família convencional) e na lei que trata de 
sua impenhorabilidade, a Lei 8009 de 29 de março de 1990 (bem de família legal). 
 
Será realizada a análise e interpretação jurisprudencial de cada um dos 
incisos que tratam da impenhorabilidade do bem de família legal. 
 
Dessa forma, o objetivo do presente trabalho é estudar as características 
ao instituto do bem de família na nossa legislação, que almejam a proteção da 
família. 
 
 
 
 
 
 
 
8 
 
1. Bem de Família - Considerações Históricas 
 
1.1. Considerações sobre a origem da família e da propriedade privada 
 
A família, de acordo com Friedrich Engels, tem seu inicio na pré-história, pois, 
na concepção materialista os fatores decisivos para a sobrevivência foram à 
produção e reprodução de vida imediata. Ou seja, antes de qualquer coisa, se fazia 
necessário ampliar as fontes de existência. Engels reflete também sobre a ordem 
social e a família: 
 
A ordem social em que vivem os homens de determinada época ou 
determinado país está condicionada por essas duas espécies de 
produção: pelo grau de e desenvolvimento do trabalho, de um lado, e 
da família, de outro [...] Contudo, no marco dessa estrutura da 
sociedade baseada nos laços de parentesco, a produtividade do 
trabalho aumenta sem cessar, e, com ela, desenvolvem-se a 
propriedade privada e as trocas, as diferenças de riqueza [...]. 
(ENGELS, 2000, p. 03) 
 
 
 Portanto, a família teve sua origem juntamente com a propriedade privada, 
propiciando as trocas e as desigualdades e por consequência a primeira noção de 
comércio, que acompanha a sociedade até hoje. 
 
 Álvaro Villaça Azevedo explica as várias teorias sobre a origem da família, 
enfatizando, contudo, a incerteza a respeito deste fato. Cita a teoria do sistema 
poligâmico, pelo qual uma pessoa possui diversos cônjuges (poliginia: um homem 
tem várias mulheres ou poliandria: a família vive numa espécie de matriarcado) e 
também a monogâmica, formada por um par andrógino, sem características de 
matriarcado ou patriarcado. Mostra também outras teorias: 
 
Contudo, outra teoria há que nega a própria existência da família nos 
primeiros tempos, pregando, como realidade inicial, a promiscuidade 
entre seres humanos [...] Analisando essas teorias, existe muito mais 
razão para se pensar tenha sido o homem nos primevos, polígamo 
polígino, convivendo assim um homem com várias mulheres e prole, 
sob organização familiar em forma de patriarcado poligâmico, para 
depois ser monogâmico [...] (AZEVEDO, 2002, p. 15) 
 
9 
 
 Pietro Coglioto ensina que a organização familiar primitiva era também 
organizada em patriarcado, sendo que as mulheres, servos e filhos ficavam sujeitos 
ao poder ilimitado do pai, pois as sociedades tinha por base o medo e no respeito 
pelo homem sadio mais forte. (COGLIOTO, 1888, apud AZEVEDO, 2002, p. 15 e 
16). 
 
 Em sua obra, Engels discorre sobre os diversos tipos de família, como a 
família sindiásmica, com casamentos, que começavam a formar uniões por pares 
(um homem principal e uma mulher principal, para cada um dentre vários homens e 
mulheres com quem poderia também se relacionar), a família punulana que, após 
excluir relações sexuais entre pais e filhos, excluiu também tal fato entra os irmãos, 
entre outras que existiram ao longo da história. 
 
A evolução da família nos tempos pré-históricos, portanto, consiste 
numa redução constante do círculo em cujo seio prevalece à 
comunidade conjugal entre os sexos, círculo que originariamente 
abarcava a tribo inteira. A exclusão progressiva, primeiro dos 
parentes próximos, depois dos parentes distantes e, por fim até das 
pessoas vinculadas apenas por aliança, torna impossível na prática 
qualquer matrimônio por grupos; como último capítulo, não fica 
senão o casal, unido por vínculos ainda frágeis - essa molécula com 
cuja dissociação acaba o matrimônio em geral. (ENGELS, 2000, p. 
49) 
 
 
 No que se refere à propriedade, esta não se iniciou com os imóveis, mas sim 
com animais domésticos e com a criação de gado. Os animais, como cavalos, 
camelos, bois, asnos, entre outros, se transformaram em verdadeiras riquezas, que 
necessitavam, tão somente de vigilância, uma vez que com a reprodução, forneciam 
farta fonte de alimentos e leite. Logo após, foram considerados propriedade privada 
também os escravos (ENGELS, 2002, p. 57-58): 
Principalmente depois que os rebanhos passaram definitivamente á 
propriedade da família, deu-se com a força de trabalho o mesmo que 
havia sucedido com as mulheres, antes tão fáceis de obter e que 
agora já tinham seu valor de troca e eram compradas. A família não 
se multiplicava com tanta rapidez quanto o gado. Agora eram 
necessárias mais pessoas para os cuidados com a criação; podia ser 
utilizado para isso o prisioneiro de guerra que, além do mais, poderia 
multiplicar-se tal como o gado. Convertidas todas essas riquezas em 
propriedade particular das famílias, e aumentadas depois 
rapidamente, assestaram um rude golpe na sociedade alicerçada no 
10 
 
matrimônio sindiásmico e na gens baseada no matriarcado. O 
matrimônio sindiásmico havia introduzido na família um elemento 
novo. Junto á verdadeira mãe tinha posto o verdadeiro pai, 
provavelmente mais autêntico que muitos "pais" de nossos dias.” 
(ENGELS, 2000, p. 58) 
 
 Com o nascimento da família monogâmica, com domínio do homem sobre a 
mulher, os casamentos não podiam ser desfeitos facilmente pela vontade de uma 
das partes, mas só pelo homem. Os homens, além disso, a exemplo do Código de 
Napoleão tinham o direito à infidelidade, desde que não levassem a concubina ao 
domicilio conjugal. Já as mulheres, deveriam guardar sua castidade e fidelidade para 
o respectivo marido. (ENGELS, 2000, p. 66-67) 
 
 Deste modo tem-se que a monogamia se aplicava apenas à mulher, que era 
tão somente mãe dos herdeiros legítimos, a pessoa que governava a casa, e vigiava 
as escravas, que na maioria das vezes eram também concubinas (na Grécia). 
 
O casamento monogâmico foi à primeira forma de família que se baseava em 
condições econômicas e não naturais, “e concretamente no triunfo da propriedade 
privada sobre a propriedade comum primitiva, originada espontaneamente”(ENGELS, 2000, p. 70), não mantendo, portanto nenhuma relação com o amor 
sexual, como se poderia imaginar. 
 
1.2. Considerações históricas sobre o instituto do bem de família 
 
1.2.1. O bem de família no Direito Romano. 
 
O instituto do bem de família não existiu de fato no direito romano. Acerca 
deste assunto, o que existiu, no período da República, foi à proibição da alienação 
do patrimônio da família, posto que este era considerado sagrado, sendo uma 
desonra sua venda. 
 
Já no século II, com o império e as transformações, tanto na sociedade quanto 
da própria família, surgiu a necessidade de proteger o patrimônio família. Para tanto 
11 
 
foram criadas clausulas de alienabilidade que eram, a priori1, colocadas nos 
testamentos. (AZEVEDO, 2002, p. 20) 
 
Em Roma existia, por exemplo, o instituto da ad rogatio, pelo qual se 
agregava a uma família o pater famílias2 de outra, com todos os seus 
dependentes e com todo seu patrimônio [...] em Roma, ela consistia 
na adoção de um cidadão livre, em virtude da qual um pater famílias, 
com todos seus dependentes (parentes e escravos) e todos os bens 
pertencentes ao conjunto familiar passava a autoridade de outro 
chefe de família, da qual ficava fazendo parte, o que convertia, por 
isso, a posição jurídica do ad-rogado, que, de sui iuris passava a 
alieni iuris (de independente a dependente). (AZEVEDO, 2002, p. 
20) 
 
O tema bem de família teve seu início de fato, com um tratamento específico 
em 1839, nos Estados Unidos, mais precisamente na Republica do Texas, sendo 
criado o homestead (local do lar), que tinha como principal objetivo a proteção dos 
lavradores no cultivo da terra, dando-lhes isenção da penhora da área cultivada, de 
modo que esta se separava do patrimônio da família, constando inclusive nas 
constituições locais de Estados da União Norte-Americana, fundamentando sua 
democracia. (MONTEIRO, 2010, p. 603 e VASCONCELOS, 2002, p.24) 
 
Homestead significa local do lar (home = lar; stead = local), surgindo 
em defesa da pequena propriedade. Mostra-nos Pierre Jolliot que a 
origem e a razão de ser do instituto do homestead se encontra no 
espírito do povo americano, dentre outras causas, pelo respeito da 
atividade e da independência individual, pelo sentimento herdado da 
nação inglesa, de considerar a casa como um verdadeiro castelo 
sagrado e pela necessidade de estimular, por todos os meios, os 
esforços do colono ou do imigrante, no sentido de uma maior 
segurança e proteção em caso de infelicidade.[...] a ocupação do 
solo pelo proprietário só fortalece as qualidades e os sentimentos, 
que dão aos Estados seus verdadeiros 
cidadãos.(VASCONCELOS,2002, p.25) 
 
Na Alemanha o instituto similar foi o Hofrecht, com a finalidade de transmitir 
imóvel rural integralmente aos sucessores do proprietário, instituiu sua 
 
1
 A priori: antes, em princípio; 
2
 Pater famílias (plural: patres famílias) era o mais elevado estatuto familiar (status famíliae) na Roma 
Antiga, sempre uma posição masculina. O termo é latim e significa, literalmente, "pai da família". 
12 
 
indivisibilidade. No Código suíço existe a previsão de tal instituto, chamado “asilo de 
família”. (MONTEIRO, 2010, p. 603) 
 
Já na França, o bem de família existe desde 1909. (MONTEIRO, 2010, p. 
603). Editou-se a lei sobre bien de famille3, que foi regulamentada em 26 de março 
de 1910. Contudo, desde 1886, existiam iniciativas e projetos de lei com o intuito de 
criar tal instituto, inicialmente aos agricultores, no regime legal francês, incentivados 
por massiva propaganda do homestead dos Estados Unidos. (AZEVEDO, 2002, p. 
54) 
Em 30 de dezembro de 1903, o Governo francês unificou todos os projetos eu 
um só e o apresentou ao Conselho de Estado, e após manifestação das Cortes de 
apelação, entregaram o projeto à apreciação do Ministro da Agricultura e a Câmara 
dos Deputados, no dia 31 de janeiro de 1905. (AZEVEDO, 2002, p. 55). 
Em 13 de abril de 1906, a Câmara submeteu o projeto à sessão, onde foi 
acolhida. Ao ser encaminhado ao Senado, ele foi reexaminado e suavemente 
alterado pelo Sen. Guillier, e após as modificações foi levado à votação nas sessões 
de 10 de dezembro de 1908, 28 de janeiro de 1909 e 04 de dezembro de 1909. 
(AZEVEDO, 2002, p. 55). 
Nasceu assim o bien de famille francês, que com o tempo sofreu algumas 
alterações ao longo dos anos. (AZEVEDO, 2002, p. 55) 
No Brasil, o bem de família teve sua primeira previsão em 1893, no Projeto de 
Código Civil de Coelho Rodrigues, que denominava o instituto de “constituição do lar 
de família”. (AZEVEDO, 2002, p. 87) 
Em 1900 no Congresso Jurídico Americano, que aconteceu no Rio de Janeiro 
organizado pelo Instituto da Ordem dos Advogados Brasileiros, ocorreu a discussão 
sobre o tema “O homestead satisfaz melhor do que a enfiteuse o instituto do 
aproveitamento das terras públicas?”. 
No mesmo ano, enquanto se discutia o então projeto de Código Civil de 
 
3
 Bien de famille, do francês, significa “propriedade da família” . 
13 
 
Clóvis Beviláqua, esclareceu seu autor que o conselho de Barradas sugeriu que, a 
exemplo do Projeto de Coelho Rodrigues, fossem acrescentados alguns artigos a 
respeito do homestead. Contudo, o pensamento não obteve apoio. (AZEVEDO, 
2002, p. 86-87) 
Após diversas tentativas de incluir o instituto do bem de família no Código 
Civil de 1916, sendo uma delas, inclusive aprovada pela Câmara, não obteve êxito 
no Senado. No entanto, tal inclusão ocorreu: 
 
Como se vê, o Projeto Beviláqua chegou a Câmara do Senado sem o 
instituto jurídico do bem de família [...] na Comissão Especial do 
Senado presidida por Feliciano Penna, sendo o primeiro relator Sá 
Freire e segundo Fernando Mendes, no parecer apresentado em 
1.12.1912, uma emenda de seu presidente, mandando incluir no 
Código, após o art. 33, quatro artigos regulando o homestead, os 
quais passaram, com insignificantes modificações da redação, a 
constituir o bem de família do Código Civil (AZEVEDO, 2002, p.88). 
 
 
O bem de família, no Código Civil de 1916 se encontrava na parte geral. Já no 
Código Civil de 2002, se localiza no livro de Direito de Família, nos artigos 1711 a 
1722. Segundo o celebre professor Washington de Barros Monteiro: 
 
bem de família é relação jurídica de caráter especifico e não genérico 
[...] seu lugar apropriado seria o direito de família, já que a finalidade 
do instituto é a proteção da família, proporcionando-lhe abrigo 
seguro. (MONTEIRO, 2010, p. 603) 
 
 No entanto, a primeiro momento, tal instituto estava inicialmente no Livro de 
Pessoas, e após censura de Justiniano de Serpa, bacharel em direito, escritor e 
político, que na época era senador, foi transferida para o Livro dos Bens, ainda na 
Parte Geral. (AZEVEDO, 2002, p.89) 
 
“Esta figura jurídica, introduzida, por emenda do Senado, no corpo do 
14 
 
projeto do Código Civil, está, evidentemente, mal colocada no 
capítulo das pessoas jurídicas”, terminando por evidenciar que “não 
há, realmente, um terceiro caminho. Ou o instituto entra no direito de 
família, como o direito de alimentos, como a tutela e todas as 
instituições garantidoras ou protetoras da família, ou será uma forma 
do direito das coisas. Na parte geral, entre as pessoas jurídicas, 
será, no meu sentir, um desvio de classificação tão manifesto quanto 
o que, na gramática, denominasse sujeito a um predicado, ou, em 
história natural, pusesse a borboleta na classe dos pássaros”. 
(SERPA, apud AZEVEDO, 2002, p. 90). 
 
 Contudo, do Código Civil, de 10 de janeiro de 2002 (Lei 10.406), o institutoem 
estudo encontra-se na parte que trata de Direito de Família, nos arts. 1711 a 1722, 
posto que este trata de proteção não só ao patrimônio, mas á própria família. 
(AZEVEDO, 2002, p. 92) 
 
Na realidade, não há outro lugar, no sistema legislativo, do que o 
Direito de Família para agasalhar esse instituto, que deve fazer parte 
do conjunto de normas reguladoras das atividades familiares, com 
cuidados especiais, para que o Estado intervenha, sempre e de 
forma categórica, por sua vontade soberana, no tratamento dessa 
que é a figura jurídica preservadora da própria existência dos 
indivíduos, em seu grupo mais íntimo, que mais merece a cura do 
Direito (AZEVEDO, 2002, p. 92). 
 
 O bem de família se encontra no Livro IV, Titulo II, Subtítulo IV do Código Civil 
de 2002, e também na Lei 8009/90, que trata de sua impenhorabilidade (AZEVEDO, 
2002, pp. 156 e 165), como veremos a seguir. 
 
 
 
 
 
 
15 
 
2. Bem de família: Considerações Gerais. 
 
2.1. Definição geral de bem 
 
 
Os homens só se apropriam de objetos que lhes são úteis. Todos os objetos 
úteis aos homens são bens. Além disso, se o bem for inesgotável, existir em 
abundância ou for de uso da comunidade, a exemplo da luz do sol e o ar 
atmosférico, inexiste motivo para sua apropriação. (RODRIGUES, 2002, p.165) 
 
Portanto o homem só se apropria de bens úteis e raros, que possuem valor 
econômico e podem ser objeto de uma relação jurídica (DINIZ, 2010, p. 337). 
 
Agostinho Alvim revela que “bens são as coisas materiais ou imateriais que 
tem valor econômico e que podem servir de objeto a uma relação jurídica.” (ALVIM, 
apud DINIZ, 2010, p.339). 
 
A título de exemplo, podem ser citados como bens imateriais (aqueles não 
tangíveis) as patentes, direitos autorais, etc. 
 
Por outro lado, valores existem que se não corporificam em coisas, 
mas que, por terem um conteúdo econômico, são objetos de 
regulamentação por parte do Direito Civil. São os bens incorpóreos, 
tais como o direito autoral. 
 
Silvio Rodrigues chama esses bens suscetíveis de apropriação de “bens 
econômicos” e dá sua definição: 
 
Desse modo, poder-se-iam definir bens econômicos como aquelas 
coisas que, sendo úteis aos homens, existem em quantidade limitada 
no universo, ou seja, são bens econômicos as coisas úteis e raras, 
porque são elas são suscetíveis de apropriação. (RODRIGUES, 
2002, p.115-166) 
 
 
No mesmo sentido, nos mostra Serpa Lopes: 
16 
 
Sob o nome de coisa, pode ser chamado tudo quanto existe na 
natureza, exceto a pessoa, mas como bem só é considerada aquela 
coisa que existe proporcionando ao homem uma utilidade, porém 
com o requisito essencial de lhe ficar suscetível de apropriação 
(LOPES, apud VENOSA, 2002, p. 304). 
 
 
Tem-se, portanto que todos os bens são coisas, mas nem todas as coisas são 
bens. São bens apenas as coisas que forem úteis ao ser humano. De modo que se 
conclui que coisa é gênero e bem é espécie. (RODRIGUES, 2002, p.166) 
 
Coisas é tudo que existe objetivamente, com exclusão do homem [...] 
Bens são coisas que, por serem úteis e raras, são suscetíveis de 
apropriação e contêm valor econômico (RODRIGUES, 2002, p.166). 
 
 
Tendo a definição de bens, cabe uma pequena explicação no que diz respeito 
à classificação pertinente ao objeto estudado. Dentre as várias classificações dos 
bens, uma que se faz importante citar é aquela referente à patrimonialidade ou não: 
a de bens patrimoniais que são aqueles que fazem parte do patrimônio da pessoa e 
não patrimoniais, que não o fazem. 
 
A esses podemos chamar bens patrimoniais e àqueles primeiros, 
bens não patrimoniais, porque uns fazem parte, e outros não do 
patrimônio da pessoa (RODRIGUES, 2002, p.116). 
 
Sabe-se, com um estudo mais aprofundado, que o patrimônio de uma pessoa 
é formado pelo conjunto de seus bens, conversíveis em dinheiro. 
 
 Outra classificação de bens é a de bens imóveis. A impenhorabilidade do bem 
de família se dá a priori, ao imóvel, urbano ou rural da entidade familiar. 
 
Silvio Venosa nos dá a diferenciação de bem móvel e bem imóvel: 
 
Imóveis são aqueles bens que não podem ser transportados sem 
perda ou deterioração, enquanto móveis são os que podem ser 
removidos, sem perda ou diminuição de sua substância, por força 
própria ou estranha (VENOSA, 2002, p.306). 
 
 
 
17 
 
 A princípio, o único bem imóvel que existe, do ponto de vista estritamente 
natural, é o solo, o terreno, uma porção de terra do globo terrestre. O legislador, no 
entanto, se utilizando do pressuposto de mobilidade acima citado, idealizou uma 
imobilidade para bens que são materialmente móveis (VENOSA, 2002, p. 307). 
 
Os imóveis, edificados ou não, denominam-se prédios [...] são 
prédios rurais, segundo Clóvis (1980:181), os terrenos situados fora 
dos limites das cidades, vilas e povoações, destinados à agricultura 
ou aos campos de criação, ou incultos. São prédios urbanos os 
situados nos limites das cidades, vilas e povoações, ainda que não 
cultivados nem edificados. Pouco importará o tipo de construção e a 
destinação do prédio. (VENOSA, 2002, p.308). 
 
 
 Definidos os bens em geral e tendo em mente algumas de suas 
classificações, passa-se ao estudo do bem de família. 
 
2.2. Conceito de Bem de Família 
 
Ensina Maria Helena Diniz, que o bem de família, instituto originário do 
homestead do Texas, nos Estados Unidos, conforme já visto anteriormente, tem por 
objetivo assegurar um lar à família, pondo esse bem imóvel ao abrigo de penhoras 
por débitos posteriores à instituição. (DINIZ, 2004, p. 203). 
 
A ideia de proteger o lar familiar se proliferou e encantou juristas em todo o 
mundo. O bem de família é na visão de Álvaro Villaça Azevedo: 
 
[...] é um meio de garantir um asilo à família, tornando-se o imóvel 
onde a mesma se instala domicilio impenhorável e inalienável, 
enquanto forem vivos os cônjuges e até que os filhos completem sua 
maioridade. (AZEVEDO, 2002, p. 93) 
 
A Lei 8009/90 trata o bem de família, diferentemente do Código Civil de 2002, 
como sendo o “imóvel residencial, urbano ou rural, próprio do casal ou da entidade 
familiar, e/ou móveis da residência, impenhoráveis por determinação legal”. 
(AZEVEDO, 2002, p. 167). 
 
Segundo Silvio de Salvo Venosa, o bem de família é: 
18 
 
 
[...] uma porção de bens que a lei resguarda com características de 
inalienabilidade e impenhorabilidade, em beneficio da constituição e 
da permanência de uma moradia para o corpo familiar. (VENOSA, 
2002, p.333) 
 
Contudo, a essa “impenhorabilidade” há exceções, como o exemplo das 
penhoras que advém de tributos não quitados relativos ao prédio ou despesas 
condominiais, uma vez que tais obrigações tem natureza propter rem4, posto que 
decorrem da titularidade do domínio ou da posse (DINIZ, 2004, p. 204). As demais 
exceções serão tratadas nos próximos capítulos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4
 propter rem: advém do latim, e numa tradução grosseira, significa “em razão de”. 
19 
 
3. Características do bem de família 
 
3.1. Bem Imóvel 
Como já dito anteriormente, a proteção do bem de família, em um primeiro 
momento recai sobre um imóvel de propriedade de uma ou mais das pessoas da 
entidade familiar. 
Segundo Azevedo: 
O objeto do bem de família é o imóvel, urbano ou rural, destinado à 
moradia da família, não importando a forma de constituição desta [...] 
o legislador ressalta que, é principalmente imóvel residencial próprio 
ou dafamília” (AZEVEDO,p. 167- 168, 2002). 
 
O artigo 70, do Código Civil de 1916, dispôs que o bem de família era 
instituído pelo chefe família era constituído por um prédio destinado ao domicilio 
familiar. Já o Código Civil atual, em seu artigo 1712, mostra que o bem de família 
“consistirá em prédio residencial urbano ou rural, [...] destinando-se em ambos os 
casos a domicílio familiar”. (AZEVEDO, 2002) 
A lei 8009/90, que dispõe sobre a impenhorabilidade do bem de família, 
demonstra em seu primeiro artigo, que a proteção recai, ab initio5, sobre um imóvel: 
Art. 1º O imóvel residencial próprio do casal, ou da entidade familiar, 
é impenhorável e não responderá por qualquer tipo de dívida civil, 
comercial, fiscal, previdenciária ou de outra natureza, contraída pelos 
cônjuges ou pelos pais ou filhos que sejam seus proprietários e nele 
residam, salvo nas hipóteses previstas nesta lei. 
Parágrafo único. A impenhorabilidade compreende o imóvel sobre o 
qual se assentam a construção, as plantações, as benfeitorias de 
qualquer natureza e todos os equipamentos, inclusive os de uso 
profissional, ou móveis que guarnecem a casa, desde que quitados. 
 
No concernente ao parágrafo único, são impenhoráveis o terreno e a 
construção, com as demais acessões e benfeitorias, mesmo que voluptuárias: 
 
5
 ab initio
: 
desde o começo. 
20 
 
Inclui, ainda, o legislador de emergência as benfeitorias de qualquer 
natureza, o que implica em entender que estariam cogitadas todas 
elas, desde as necessárias, as uteis e até as voluptuárias. Desse 
modo, por exemplo, uma casa com piscina e aparelhos de sauna. 
(AZEVEDO, p. 176, 2002) 
 
Para Azevedo, o termo “casa” do parágrafo único foi mal utilizado, devendo, 
em seu lugar, ser usada a palavra “residência”, pois não restaria nenhuma dúvida de 
que apartamentos, bem como os moveis que o guarnecem, estão protegidos pelo 
instituto em questão. 
 A respeito do parágrafo único do artigo primeiro da Lei 8009/90, o autor ainda 
critica o termo “desde que quitado”: 
Também a expressão “desde que quitados” não é das mais felizes; 
pois, não sendo os moveis de propriedade de qualquer dos 
integrantes da família, não podem ser penhorados, por débitos deles; 
podendo ainda estar sendo adquiridos por eles, em prestações, 
devendo quita-se, após algum tempo. (AZEVEDO, 2002, p. 177). 
 Contudo, em relatório do REsp nº 554.768/RS o ministro Humberto Gomes 
de Barros defende que a utilização do termo “desde que quitado” na seguinte 
hipótese: 
O legislador pretendeu evitar que o indivíduo incapaz de honrar o 
pagamento do bem adquirido, realize a compra já antevendo a 
possibilidade de evitar futura penhora. Assim, evitou a má-fé do 
devedor. (REsp 554.768 / RS, relator Ministro Humberto Gomes de 
Barros, 3ª turma, julgado em 13/03/2007 e publicado no DJE em 
04/08/2009). 
 
Os imóveis rurais são impenhoráveis quando trabalhadas pela família, e de 
acordo com o inciso XXVI, do artigo 5º da Constituição Federal, não respondem por 
débitos advindos de suas atividades produtivas. (AZEVEDO, p. 177, 2002) 
 No que se refere ao valor do bem, o art. 1711 do Código Civil , em seu 
caput, nos mostra que o bem de família (imóvel e valores mobiliários) não pode ter 
valor superior a “um terço do patrimônio líquido existente ao tempo da instituição 
(MONTEIRO, p. 604, 2010). 
21 
 
 Já a Lei 8009/90 nada diz a respeito do valor do imóvel, apenas que ele deve 
ser próprio da entidade familiar, e deve servir como residência para a mesma: 
Contudo, resta evidente que a lei em geral, não procurou defender os 
economicamente fracos;ao contrário, pôs a salvo de penhora, 
principalmente bens imóveis (AZEVEDO, 2002, p. 177) 
 
 O entendimento, de acordo com a lei 8009, não existe um limite de valor para 
o imóvel, se ele for o único de propriedade da entidade familiar, e sirva de residencia 
para a mesma6. 
 
Contudo, será ressaltado que a lei é mais abrangente, assegurando bens 
além do imóvel, como veremos a seguir. 
 
3.2. Um único imóvel 
Como visto anteriormente, o bem de família não é apenas, mas 
principalmente, um imóvel. Além disso, a impenhorabilidade poderá ser dada a 
apenas um imóvel, não havendo necessidade de ser o único imóvel da família. 
 
No caso de o casal ou a entidade familiar ter vários imóveis que sirvam de 
residência, é considerado bem de família legal o de menor valor, exceto “se outro 
tiver sido registrado com essa finalidade, na circunscrição imobiliária”, na forma do 
art. 1711 e seguintes do Código Civil. (DINIZ, 2004, p. 202). 
 
 
6
 PROCESSUAL CIVIL. FALTA DE PREQUESTIONAMENTO. SÚMULA 211/STJ. BEM DE FAMÍLIA. 
LEI Nº 8.009/09. IMÓVEL DE ELEVADO VALOR. RESTRIÇÕES À GARANTIA DA 
IMPENHORABILIDADE. INEXISTÊNCIA. 1. A tese desenvolvida com esteio no art. 274 do Código 
Civil não foi objeto de análise pela instância ordinária, o que configura falta de pré-questionamento e 
impede o acesso da matéria a este Superior Tribunal de Justiça. Incidência da Súmula 211/STJ. 2. A 
recorrente pretende afastar o regime protetivo da Lei nº 8.009/90 sob a justificativa de que o único 
bem imóvel pertencente ao executado, e que serve de morada para sua família, possui valor bastante 
elevado, caracterizando-se como residência luxuosa de alto padrão - casa situada no bairro do 
Leblon, Município do Rio de Janeiro/RJ. 3. A Lei nº 8.009/90 não estabelece qualquer restrição à 
garantia do imóvel como bem de família no que toca a seu valor nem prevê regimes jurídicos diversos 
em relação à impenhorabilidade, descabendo ao intérprete fazer distinção onde a lei não o fez. 4. 
Independentemente do elevado valor atribuído ao imóvel pelo Fisco, essa variável não abala a razão 
preponderante que justifica a garantia de impenhorabilidade concebida pelo legislador: de modo 
inequívoco, o bem em referência serve à habitação da família. É o bastante para assegurar a 
incidência do regime da Lei nº 8.009/90. 5. Recurso especial conhecido em parte e não 
provido.(REsp 1320370 / RJ) 
22 
 
Cumpre ressaltar que não se trata do único bem imóvel da família, mais sim 
do imóvel que é usado como residência. Se a entidade familiar for proprietária de 
apenas um imóvel residencial, por obvio este imóvel receberá as características de 
impenhorabilidade da lei 8009/90. 
 
Além disso, os móveis que guarnecem o lar, desde que indispensáveis à 
sobrevivência digna da família, também dispõem de tais características. 
 
A lei 8009/90, instituindo o bem de família legal, estabelece, com o intuito de 
preservar o patrimônio familiar, a impenhorabilidade não só do único imóvel rural ou 
urbano da família, destinado para moradia permanente, excluindo as casas de 
campo e a de praia, abrangendo a construção, plantação e benfeitorias, mas 
também os equipamentos de uso profissional e os móveis que o guarnecem, desde 
que quitados (DINIZ, 2004, p.202). 
 
Outro ponto a ser tratado é da família que reside em imóvel alugado. Neste 
caso, a impenhorabilidade se refere aos moveis já quitados que guarnecem o lar, 
uma vez que são pertencentes ao locatário (DINIZ, 2004, p.203). 
 
3.3. Amplitude 
 Em que se pese o disposto no artigo 391 do Código Civil, o qual dispõe que 
“pelo inadimplemento das obrigações respondem todos os bens do devedor”, e o 
artigo 591 do Código de Processo Civil, que dispõe que “o devedor responde para o 
cumprimento de suas obrigações, com todos os seus bens presentes e futuros, salvo 
as restrições estabelecidas em lei”, o bem de família, seja legal ou instituído, pode 
ser visto como uma exceção ao principio geral do Direito das Obrigações, porfazer 
parte das referidas “restrições estabelecidas em lei”. (RITONDO, p.21, 2002). 
O artigo 1712, do Código Civil permite que o bem de família, além de ser 
constituído por imóvel urbano ou rural, inclua também “suas pertenças e acessórios”: 
Art. 1.712. O bem de família consistirá em prédio residencial urbano 
ou rural, com suas pertenças e acessórios, destinando-se em ambos 
os casos a domicílio familiar, e poderá abranger valores mobiliários, 
cuja renda será aplicada na conservação do imóvel e no sustento da 
família. 
23 
 
 
Devem sempre as pertenças e acessórios, para receber a proteção legal, 
destinar-se à sobrevivência familiar. Contudo, as “pertenças e acessórios”, mesmo 
que forem isoladamente móveis, serão consideradas como bem de família voluntário 
imóvel, uma vez que integram o mesmo prédio (AZEVEDO, 2002, p. 160). 
A última parte do artigo acima estabelece que de além do prédio, o bem de 
família pode incluir “valores mobiliários”. 
No entanto, essa inclusão só será permitida se os rendimentos desses 
valores forem aplicados na conservação do prédio e no sustento da família. Esses 
valores não podem existir isoladamente, destinando a finalidade prevista, conforme o 
artigo 1713 do Código Civil, não excedendo o valor do prédio (AZEVEDO, 2002, 
p.160). 
Art. 1.713. Os valores mobiliários, destinados aos fins previstos no 
artigo antecedente, não poderão exceder o valor do prédio instituído 
em bem de família, à época de sua instituição. 
 
 Após essa disposição, seguem três parágrafos, que demonstram não haver 
dúvida quanto à vontade do legislador de afirmar que valores mobiliários não podem 
constituir bem de família isoladamente (AZEVEDO, 2002, p.160). 
O primeiro parágrafo do artigo em referência dispõe que esses valores devem 
ser pormenorizados no instrumento de constituição: 
§ 1º Deverão os valores mobiliários ser devidamente individualizados 
no instrumento de instituição do bem de família. 
 
 Mais uma vez, reforçando a ideia acima, o segundo parágrafo trata da 
situação em que o instituidor deseja incluir títulos nominativos: 
§ 2º Se tratar de títulos nominativos, a sua instituição como bem de 
família deverá constar dos respectivos livros de registro. 
 
Ou seja, o valor mobiliário deverá constar nos livros de registro juntamente 
com o imóvel em que é agregado. O terceiro e último parágrafo do art. 1713 do 
24 
 
Código Civil estabelece a possibilidade de terceiro, por exemplo, uma instituição 
financeira, administrar o bem de família, estabelecendo a forma de pagamento da 
renda aos beneficiários, obedecendo sempre o contrato de deposito: 
§ 3º O instituidor poderá determinar que a administração dos valores 
mobiliários seja confiada à instituição financeira, bem como 
disciplinar a forma de pagamento da respectiva renda aos 
beneficiários, caso em que a responsabilidade dos administradores 
obedecerá às regras do contrato de depósito. 
Neste caso, os administradores da instituição financeira são depositários dos 
valores e bens administrados. 
Já no tocante à lei 8009/90, o parágrafo único do artigo 1º, expõe que o bem 
de família, além do imóvel, residencial ou urbano, ”em que se assentam a 
construção” compreende também “as plantações e as benfeitorias de qualquer 
natureza, mas também todos os equipamentos, inclusive os destinados ao uso 
profissional”. (AZEVEDO, p. 176, 2002). 
 
3.1.1. Bens de Uso Profissional 
A impenhorabilidade dos bens de uso profissional está prevista no parágrafo 
único do artigo 1º da Lei 8009/90. 
Parágrafo único. A impenhorabilidade compreende o imóvel sobre o 
qual se assentam a construção, as plantações, as benfeitorias de 
qualquer natureza e todos os equipamentos, inclusive os de uso 
profissional, ou móveis que guarnecem a casa, desde que quitados. 
(grifou-se) 
 E também no artigo art. 649, V, do Código de Processo Civil: 
 
Art. 649 – São absolutamente impenhoráveis: 
V- os livros, as máquinas, as ferramentas, os utensílios, os 
instrumentos e outros bens móveis necessários ou úteis ao exercício 
de qualquer profissão; 
 
Por equipamentos de uso profissional entende-se “livros, maquinário, 
utensílios, instrumentos” e ferramentas úteis ao exercício de qualquer profissão, 
como estabelece também o art. 648, inciso VI do Código do Processo Civil. 
(AZEVEDO, p. 176, 2002) 
25 
 
Os equipamentos de uso profissional mencionados na regra são aqueles que 
guarnecem a casa, por exemplo, computador para o advogado, o fogão industrial 
para o chefe de cozinha, etc. 
O Desembargador Luiz Felipe Brasil Santos, na Apelação Cível nº 
70011593233, no Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, entendeu, 
em uma Execução de Alimentos, que não poderia ser oposta a utilização do bem em 
exercício profissional, uma vez que essa (prestações alimentícias) se encontra nas 
exceções do artigo 3º da lei 8009/90: 
 
APELAÇÃO CÍVEL. ALIMENTOS. EMBARGOS Á EXECUÇÃO. 
ALEGAÇÃO DE IMPOSSIBILIDADE DE PAGAMENTO E 
DESNECESSIDADE DA PENSÃO POR PARTE DOS 
EXEQÜENTES MAIORES. 1. As alegações de impossibilidade de 
pagamento e de desnecessidade da verba não têm cabimento no 
âmbito dos embargos à execução, vez que não elencadas no art. 741 
do CPC. 2. Pagamento se comprova mediante recibo, inexistente 
aqui. 3. A impenhorabilidade do bem utilizado no exercício da 
profissão não pode ser oposta em execução alimentar. 
Inteligência do art. 3º, inc. III, da Lei 8.009/90. 4. A alegada 
ausência de citação no processo de conhecimento resultou 
absolutamente desprovida de prova. NEGARAM PROVIMENTO. 
UNÂNIME. 
 
 Todavia, o desembargador mudou seu posicionamento, em relatório do 
Agravo de Instrumento nº 70050747849, de modo que comprovado que o veiculo é 
um bem de uso profissional, ele não pode ser penhorado, mediante vedação 
expressa do art. 649, V, do Código de Processo Civil. 
 
Isto porque, revendo posicionamento que adotei quando do 
julgamento da apelação cível nº 70011593233, entendo que, uma 
vez demonstrado inequivocamente que o veículo penhorado é 
utilizado para o exercício da atividade profissional do agravado, não 
pode ser submetido à constrição, ante a vedação expressa no 
disposto no art. 649, V, do CPC. (AI nº 70050747849/ RS) 
 
 
 
 
 
26 
 
4. Espécies de bem de família 
Cumpre destacar que o bem de família pode ser de duas espécies: bem de 
família legal e bem de família convencional (ou voluntário). 
O bem de família legal que é aquele que ocorre por imposição do Estado, que 
advém de ordem pública não se fazendo necessária qualquer manifestação de 
vontade por parte dos integrantes da entidade familiar para sua constituição, 
bastando que cumpra os requisitos da lei especifica, ou seja, da Lei 8009/90. 
Já o bem de família convencional (ou voluntário) que é aquele instituído por 
meio de escritura pública e por vontade das partes, tratada principalmente nos 
artigos 1711 e seguintes do Código Civil de 2002. 
 
4.1. Bem de família convencional 
 Enquanto o bem de família intitulado legal advém de legislação específica 
mais precisamente a Lei 8009/90, o bem de família convencional, também conhecido 
como bem de família voluntário, se encontra disciplinado no Código Civil atual. 
 
 O artigo 1711 do dispositivo legal supracitado diz: 
 
Art. 1.711. Podem os cônjuges, ou a entidade familiar, mediante 
escritura pública ou testamento, destinar parte de seu patrimônio 
para instituir bem de família, desde que não ultrapasse um terço do 
patrimônio líquido existente ao tempo da instituição, mantidas as 
regras sobre a impenhorabilidade do imóvel residencial estabelecida 
em lei especial. 
 
 
Há, portanto duas formas de constituir o bem de família voluntário:uma é por 
escritura pública e a outra por testamento, desde que não ultrapasse um terço do 
patrimônio liquido existente, permanecendo as regras sobre a impenhorabilidade da 
lei 8009 de 1990 (AZEVEDO, 2002, p. 159). 
 
Sobre o bem de família instituído por testamento, nos mostra Maria Helena 
Diniz: 
 
27 
 
Se os cônjuges ou companheiro o instituírem por testamento, com o 
óbito, os filhos ficarão beneficiados com a herança, mas os credores 
dos falecidos poderão habilitar-se no inventário para receber o 
crédito, anterior a instituição a bem de família, que só de deu com a 
abertura da sucessão e não por ocasião da efetivação daquele 
testamento. Por isso, mais conveniente será que a instituição do bem 
de família se de por escritura pública. Com isso, o patrimônio do 
instituidor, apesar de desfalcado do objeto do bem de família, que 
ficará isento de execução, deverá ter condições de assegurar a 
satisfação integral de todas as dividas do instituidor (DINIZ, 2004, p. 
204). 
 
 
A mesma posição, que entende que o bem de família instituído por 
testamento é menos vantajoso é adotada por Álvaro Villaça de Azevedo: 
 
 
Admitamos que, por testamento, os cônjuges ou os conviventes 
destinam parte de seu patrimônio a servir como bem de família; 
falecendo os testadores, além de restarem beneficiados seus filhos 
com a herança, com esta protegidos, nada impede que aos credores 
dos falecidos de habilitar seus créditos no inventário destes, pois 
serão sempre anteriores à constituição que por testamento só se 
concretiza a partir do falecimento. Realmente os efeitos do negocio 
jurídico, realizado por testamento, começam a fluir depois da 
abertura sucessória. Melhor seria que o artigo citado mencionasse, 
tão-só, a constituição do bem de família pelos cônjuges ou pela 
entidade familiar, por meio de escritura pública, a qualquer tempo 
(AZEVEDO, 2002, p.159). 
 
 
 Percebe-se, portanto, que o bem de família convencional (ou voluntário) 
instituído por escritura pública é mais vantajoso, posto que protegerá o bem desde o 
registro da escritura, e não somente com a abertura da sucessão, como ocorreria 
com o bem de família instituído por testamento. 
 
Nesse ponto do estudo, se faz oportuno mostrar quem tem legitimidade para 
instituir o bem de família. 
 
Ainda analisando o art. 1711, Maria Helena Diniz ensina: 
 
Somente pessoas casadas conviventes ou integrante-chefe da 
família monoparental poderão constituir bem de família. A sua 
instituição competirá, por exemplo, ao marido e à mulher, tendo-se 
em vista que, em certas hipóteses, um deles poderá estar na chefia, 
se for viúvo ou se assumiu a direção da família sozinho, ante o fato 
28 
 
de o outro estar preso, ter sido declarado ausente ou ter sofrido 
processo de interdição. Logo, pessoa solteira, sem prole, mesmo que 
viva em concubinato, tutor ou curador ou avô não poderão instituir 
bem de família. Mas há decisão entendendo que solteiro ou dois 
irmãos solteiros que residam no mesmo imóvel têm direito de instituir 
bem de família, pois o solteiro pode constituir família e os irmãos 
podem ser tidos como entidade familiar (DINIZ, 2006, p. 1400) 
 
 
Álvaro Villaça de Azevedo, contudo, discorda da opinião acima citada, e 
assevera que: 
 
Entendo diferentemente desse posicionamento contrário à proteção 
do solteiro ou do que vive solitariamente. Eles não podem ser 
excluídos da proteção da lei, porque cada pessoa, ainda que vivendo 
sozinha, deve ser considerada como família, em sentido mais estrito, 
já que o homem, fora da sociedade deve buscar um ninho, um lar, 
para proteger-se das violências, das agruras e dos revezes que 
existem na sociedade. (AZEVEDO, 2002, p. 173-174). 
 
Já o parágrafo único do art. 1711 do Código Civil mostra a possibilidade de 
terceiro instituir o bem de família: 
 
Parágrafo único. O terceiro poderá igualmente instituir bem de família 
por testamento ou doação, dependendo a eficácia do ato da 
aceitação expressa de ambos os cônjuges beneficiados ou da 
entidade familiar beneficiada. 
 
 
Silvio de Salvo Venosa, em sua obra, numa comparação do Código Civil de 
1916 com o Código Civil de 2002, doutrina a respeito da instituição do bem de 
família por terceiro: 
 
Não pode também instituí-lo o avô, pois com o casamento é criada 
uma nova família. É essa a intenção da lei. Desse modo, um terceiro 
não pode instituir o bem de família. O novo Código Civil autoriza 
terceiro a fazer tal instituição, por testamento ou doação, com 
aceitação expressa dos cônjuges beneficiados [...] Nesse caso, como 
terceiro, o avô pode fazer a instituição, desde que o faça com os 
próprios bens (VENOSA, 2002, p. 340). 
 
 
 
Álvaro Villaça Azevedo, no entanto, se manifesta no sentido de demonstrar 
que, apesar de abrir a possibilidade de terceiro instituir o bem de família, a lei nada 
29 
 
mencionou no que concerne à reserva da propriedade do imóvel ao instituidor, no 
caso de extinção do bem de família, uma vez que não pode se aplicar o art. 547 do 
Código Civil, uma vez que as causas de extinção do bem de família são distintas. 
(AZEVEDO, 2002, p. 160) 
 
Existiam, antes, diversas opiniões a respeito da possibilidade da mulher 
casada constituir o bem de família, conforme disposto no art. 251 do Código Civil de 
1916. Segundo o doutrinador Agostinho Alvim: 
 
Pensamos que não. Estabelecer bem de família é útil, mas não 
necessário. Não seria prudente que a mulher o fizesse nesse período 
anormal e temporário pelo qual o casal está passando (ALVIM, apud 
AZEVEDO, 2002, p. 94). 
 
Já Álvaro Villaça Azevedo discorda da opinião acima, uma vez que o art. 70 
do Código Civil de 1916 afirmava que o chefe de família poderia instituir o instituto 
ora tratado, não distinguindo sexo: 
 
A lei não estabelecia qualquer óbice a essa chefia, mesmo que 
provisória; pelo contrário, o art. 251 do Código Civil, especificando os 
casos em que a mulher assumia a direção e a administração do 
patrimônio familiar, outorgava-lhe até o poder de “alienar os imóveis 
comuns e os do marido, mediante autorização especial do juiz (inciso 
IV) (AZEVEDO, 2002, p. 95). 
 
No que concerne a esse assunto, Silvio Venosa, num estudo comparado do 
Código Civil de 1916 e do Código Civil atual nos leciona: 
 
No entanto, perante a igualdade de direito dos cônjuges atribuída 
pela Constituição, há que se atribuir legitimidade a ambos os 
cônjuges para a instituição. Esse é o sentido do novo Código 
também (VENOSA, 2002, p.339). 
 
30 
 
 Vemos, portanto, que no ordenamento jurídico atual, esse questionamento 
não tem razão de ser, uma vez que cada vez mais as mulheres vêm assumindo a 
chefia da família. Além do mais, o art. 5, inciso I, da Lei Maior mostra: 
 
I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos 
termos desta Constituição; 
 
 
Conforme o tempo, a sociedade muda, e ao mudar, o direito deve 
acompanhar. Conforme afirmação de José Afonso da Silva: 
 
Importa mesmo é notar que é uma regra que resume décadas de 
lutas das mulheres contra discriminações [...] Aqui a igualdade não é 
apenas marido e mulher. Não se trata apenas da igualdade no lar e 
na família. Abrange também essa situação, que, no entanto, recebeu 
formulação especifica no art. 226, §5º [...] Vale dizer: nenhum pode 
mais ser considerado cabeça do casal, ficando revogados todos os 
dispositivos da legislação ordinária que outorgava primazia ao 
homem.” (SILVA, 2010, p. 217). 
 
 A igualdade entre os cônjuges, além de ser incluído na igualdade entre os 
sexos, se encontra em outra parte, conforme demonstrou o doutrinador supracitado, 
dessa vez, mais especificada, no art. 226 da Carta Magna, em seu parágrafo 5º:Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do 
Estado. 
§ 5º - Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são 
exercidos igualmente pelo homem e pela mulher. 
 
Desaparece, assim, o poder marital, a posição de superioridade do homem 
perante a mulher, não existindo mais a pessoa do chefe de família. Em 
contrapartida, a igualdade também de estende às obrigações, tais como o sustento 
dos filhos e prestar alimentos se o marido necessitar. 
 
Segundo Maria Helena Diniz: 
 
Com este princípio desaparece o poder marital, e a autocracia do 
chefe de família é substituída por um sistema em que as decisões 
devem ser tomadas de comum acordo entre conviventes ou entre 
marido e mulher, pois os tempos atuais requerem que marido e 
mulher tenham os mesmos direitos e deveres referentes à sociedade 
31 
 
conjugal. O patriarcalismo não mais se coaduna com a época atual, 
nem atende aos anseios do povo brasileiro; por isso juridicamente, o 
poder de família é substituído pela autoridade conjunta e indivisiva, 
não mais se justificando a submissão legal da mulher. Há uma 
equivalência de papéis, de modo que a responsabilidade pela família 
passa a ser dividida igualmente entre o casal. (DINIZ, 2004, p. 19). 
 
 
 Com o tempo a figura do pater famílias foi alterando e diminuindo de modo 
que ambos os cônjuges tem igual importância na condução do lar. 
 
Hoje a instituição do bem de família pode ser feita pelos cônjuges (ou 
entidade familiar), pelo separado, pelo divorciado judicialmente ou de fato pelo viúvo 
ou viúva, pelo solteiro e por terceiros, conforme o caso, com seus bens particulares. 
 O estado de solvência do instituidor é requisito essencial para a instituição do 
bem de família, não se anulando mesmo que apareça título de divida anterior, se a 
esse tempo não era insolvente o instituidor (DINIZ, 2004, p.204). 
O bem de família pode ser instituído pelos cônjuges ou companheiros e pelos 
separados e divorciados que detiver a guarda dos filhos menores ou incapazes. 
(AZEVEDO, 2002, p.94) 
O artigo 1714 do Código Civil estabelece que o bem de família, seja ele 
instituído pelos cônjuges (abrangendo também a entidade familiar, apesar de não 
constar no dispositivo) ou por terceiro, deverá ser incluso no Registro de Imóveis 
(AZEVEDO, 2002, p.161): 
Art. 1.714. O bem de família quer instituído pelos cônjuges ou por 
terceiro, constitui-se pelo registro de seu título no Registro de 
Imóveis. 
 
Essa norma procedimental consta também no artigo 261 da Lei 6.015/73, a 
Lei de Registros Públicos: 
 Art. 261. Para a inscrição do bem de família, o instituidor 
apresentará ao oficial do registro a escritura pública de instituição, 
para que mande publicá-la na imprensa local e, à falta, na da Capital 
do Estado ou do Território. 
 
32 
 
Por sua vez, o artigo 1715 do Código Civil, ainda tratando do bem de família 
convencional, demonstra que a isenção da execução se faz apenas por dívidas 
posteriores a sua instituição: 
Art. 1.715. O bem de família é isento de execução por dívidas 
posteriores à sua instituição, salvo as que provierem de tributos 
relativos ao prédio, ou de despesas de condomínio. 
 
Ressalva, contudo, que além das dividas provenientes de tributos do prédio, a 
isenção também não se aplica ainda as despesas de condomínio, uma vez que essa 
tem natureza propter rem, sendo considerada benfeitoria, e não pode deixar de ser 
liquidada. 
Essa despesa é benfeitoria, quando aprovada pela assembleia de 
condomínios, não podendo deixar de ser paga, sob pena de 
execução do bem que a gerou, ainda que seja bem de família. Essa 
exceção é inevitável, para todos os condôminos, sob pena de um 
lucupleta-se à custa do outro (AZEVEDO, 2002, p.161). 
 
 O parágrafo único do art. 1715 do Código Civil assevera que, na ocasião de 
execução das dividas citadas, o eventual saldo será aplicado em outro imóvel, a 
título de bem de família. 
Parágrafo único. No caso de execução pelas dívidas referidas neste 
artigo, o saldo existente será aplicado em outro prédio, como bem de 
família, ou em títulos da dívida pública, para sustento familiar, salvo 
se motivos relevantes aconselharem outra solução, a critério do juiz. 
 
 O parágrafo único cita a possibilidade de o saldo ser aplicado em títulos da 
dívida pública, voltadas para o sustento da família. Mostra ainda que o juiz, a seu 
critério, mediante motivos relevantes, pode dar outra solução para que haja maior 
proveito por parte dos beneficiários (AZEVEDO, 2002, p.161). 
 
Entendo da grande valia essa participação do juiz, porque no mais 
das vezes, a aplicação desse saldo, como determinado pela lei, pode 
não corresponder à verdadeira defesa da família, que é, realmente, o 
escopo maior do instituto sob estudo (AZEVEDO, 2002, p. 161). 
33 
 
 
O artigo 1716 do Código Civil, completando o anterior, dispõe sobre a duração 
do bem de família: 
 
Art. 1.716. A isenção de que trata o artigo antecedente durará 
enquanto viver um dos cônjuges, ou, na falta destes, até que os 
filhos completem a maioridade. 
 
 Os bens de família não podem ser alienados sem o consentimento dos 
interessados, ou de seus representantes, ouvido o Ministério Público, como 
disciplina o art. 1717 do Código Civil: 
 
Art. 1.717. O prédio e os valores mobiliários, constituídos como bem 
da família, não podem ter destino diverso do previsto no art. 1.712 ou 
serem alienados sem o consentimento dos interessados e seus 
representantes legais, ouvido o Ministério Público. 
 
Existe, contudo, o entendimento doutrinário de que a última parte do artigo 
acima, a qual assevera que a alienação do bem de família pode ser feito sem 
autorização judicial, deveria ser retirado, pois não representa a melhor solução. 
Uma vez que o artigo 1719 do Código Civil exige a autorização judicial para a 
extinção ou sub-rogação do bem de família, e a alienação implica em extinção do 
instituto, essa também deveria ser realizada mediante autorização judicial (DINIZ, 
2004, p.205-206). 
 O artigo 1718 do Código Civil disciplina que em caso de falência da entidade 
financeira administradora, disposta no parágrafo terceiro do artigo 1713 do Código 
Civil, a liquidação não poderá atingir o bem de família por ela administrado: 
 
Art. 1.713. Os valores mobiliários, destinados aos fins previstos no 
artigo antecedente, não poderão exceder o valor do prédio instituído 
em bem de família, à época de sua instituição. 
34 
 
§ 3º O instituidor poderá determinar que a administração dos valores 
mobiliários seja confiada à instituição financeira, bem como 
disciplinar a forma de pagamento da respectiva renda aos 
beneficiários, caso em que a responsabilidade dos administradores 
obedecerá às regras do contrato de depósito. [...] 
 
Art. 1.718. Qualquer forma de liquidação da entidade administradora, 
a que se refere o § 3o do art. 1.713, não atingirá os valores a ela 
confiados, ordenando o juiz a sua transferência para outra instituição 
semelhante, obedecendo-se, no caso de falência, ao disposto sobre 
pedido de restituição. 
 
 Deverão esses valores, mediante ordem judicial, ser transferidos a entidades 
semelhantes e “no caso de falência dessa empresa os bens a ele confiados devem 
ser objeto de pedido de restituição” (AZEVEDO, 2002, p.162). 
 Na hipótese da impossibilidade de manutenção do bem de família, poderá ele 
ser extinto, com autorização judicial para, por exemplo, pagar despesas de 
internação em UTI (DINIZ, 2004, p. 206). 
Art. 1.719. Comprovada a impossibilidade da manutenção do bem de 
família nas condições em que foi instituído, poderá o juiz, a 
requerimento dos interessados, extingui-lo ou autorizar a sub-
rogação dosbens que o constituem em outros, ouvidos o instituidor e 
o Ministério Público. 
 
 Pode, sempre mediante autorização judicial, sub-rogar os bens que o 
constituem em outros, ouvidos o Ministério Público e o instituidor. 
O artigo 1720 do Código Civil ajusta a administração do bem de família a 
ambos os cônjuges, incluídos ai igualmente os conviventes. Deve o juiz resolver, em 
caso de divergência entre eles (AZEVEDO, 2002, p. 162). 
 
Art. 1.720. Salvo disposição em contrário do ato de instituição, a 
administração do bem de família compete a ambos os cônjuges, 
resolvendo o juiz em caso de divergência. 
Parágrafo único. Com o falecimento de ambos os cônjuges, a 
administração passará ao filho mais velho, se for maior, e, do 
contrário, a seu tutor. 
 
35 
 
Entretanto, essa disposição não é de ordem pública, posto que existe a 
possibilidade de se dispor ao contrário, na ocasião da instituição. O parágrafo afirma 
que com o falecimento de ambos os cônjuges, a decisão deve ser tomada pelo filho 
mais velho, e se esse ainda for menor de idade, a responsabilidade passa a ser de 
seu tutor (AZEVEDO, 2002, p.162). 
O artigo 1721 do Código Civil, como complemento do artigo 1716 do referido 
diploma legal, mostra que a dissolução da sociedade conjugal não extingue o bem 
de família, uma vez que essa durará enquanto for vivo um dos cônjuges/conviventes 
e, na falta deles, até os filhos completarem a maioridade (AZEVEDO, 2002, p.162). 
Art. 1.721. A dissolução da sociedade conjugal não extingue o bem 
de família. 
Parágrafo único. Dissolvida a sociedade conjugal pela morte de um 
dos cônjuges, o sobrevivente poderá pedir a extinção do bem de 
família, se for o único bem do casal. 
 
No caso de todos os filhos completarem a maioridade, mas algum deles 
estiver sujeito à curatela, o instituto deverá persistir. 
 
Art. 1.722. Extingue-se, igualmente, o bem de família com a morte de 
ambos os cônjuges e a maioridade dos filhos, desde que não sujeitos 
a curatela. 
 
No caso de falecimento de apenas um dos cônjuges ou conviventes, o bem 
de família não será extinto, não podendo ser objeto de inventário, enquanto o 
cônjuge/convivente supérstite nele permanecer. 
Falecidos os instituidores e não mais residindo no prédio constituído como 
bem de família o filho menor de idade, tal prédio deverá ser partilhado (DINIZ, 2004, 
p.206). 
Nas palavras de Maria Helena Diniz: 
O Código Civil procurou disciplinar o bem de família de modo a torna-
lo suscetível de realizar, com efetividade, a sua função social, 
conjugando a destinação de um imóvel para a residência familiar 
36 
 
com uma reserva de recursos para fins de manutenção, inclusive 
mediante intervenção de entidade financeira (DINIZ, 2004, p 207). 
 
 O bem de família convencional recebe algumas criticas, pois apenas as 
famílias mais abastadas poderiam arcar com o custo do registro do instituto, e que 
embora bem detalhado, tem uma efetivação muito complexa, além da paralisação 
patrimonial que não poderia ser suportado pelas entidades familiares menos 
favorecidas economicamente. 
Essa problemática é resolvida pela Lei 8009/90, a qual, além de dispor sobre 
a impenhorabilidade do bem de família, criou outra espécie: o bem de família legal. 
 
4.2. Bem de família legal 
 
A Lei 8009/90 de 29 de março de 1990 dispôs sobra a impenhorabilidade do 
bem de família, que inclui o imóvel residencial e os móveis em algumas 
circunstâncias e instituiu o chamado bem de família legal, quer é feito por imposição 
do Estado. 
 
No Código Civil de 1916, em seu art. 70, nos mostrava: 
 
Art. 70. É permitido aos chefes de família destinar um prédio para 
domicílio desta, com a cláusula de ficar isento de execução por 
dívidas, salvo as que provierem de impostos relativos ao mesmo 
prédio. 
Parágrafo único. Essa isenção durará enquanto viverem os cônjuges 
e até que os filhos completem sua maioridade. 
 
 
Porém, com a Lei 8009/90, logo em seu art. 1º, nos mostra: 
 
Art. 1º O imóvel residencial próprio do casal, ou da entidade familiar, 
é impenhorável e não responderá por qualquer tipo de dívida civil, 
comercial, fiscal, previdenciária ou de outra natureza, contraída pelos 
cônjuges ou pelos pais ou filhos que sejam seus proprietários e nele 
residam, salvo nas hipóteses previstas nesta lei. 
 
Parágrafo único. A impenhorabilidade compreende o imóvel sobre o 
qual se assentam a construção, as plantações, as benfeitorias de 
qualquer natureza e todos os equipamentos, inclusive os de uso 
profissional, ou móveis que guarnecem a casa, desde que quitados. 
 
37 
 
 
Entende-se que o imóvel utilizado pelo casal, ou entidade familiar, como 
domicilio, é impenhorável, não necessitando de escritura pública que o declare 
manifestamente bem de família por manifestação de vontade das partes. 
Deste modo, o bem de família legal, baseado em norma de ordem pública, 
goza de proteção patrimonial, abrangendo todas as famílias que possua imóvel (eis). 
Segundo Venosa: 
A lei 8009/90, com todas as suas falhas, foi evidentemente muito 
mais avançada, fazendo com que a impenhorabilidade do imóvel de 
moradia decorra imperativamente da lei, independendo da vontade 
do titular do direito [...] Como visto, essa lei que institui sobre o bem 
de família por imperativo legal, desestimula e suprime utilidade para 
a instituição voluntária, custosa e procedimental (VENOSA, 2002, 
p.347). 
 
Com essa disposição da lei sobre a impenhorabilidade do bem de família, faz 
o bem de família convencional (ou voluntário) perder muito de sua utilidade, uma vez 
que esse processo é custoso, como veremos a seguir. (MONTEIRO, 2010, p.607) 
Estado tem a obrigação de dar amparo e proteção à família, vez que ela é o 
alicerce da sociedade conforme dispõe o artigo 226 da Constituição Federal: “A 
família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado”. 
Apesar de o bem de família legal ter quase que tirado a utilidade do bem de 
família voluntário (convencional) de que trata o Código Civil de 2002, este ainda se 
faz útil para as entidades familiares que possuem vários bens e tem o objetivo de 
manter parte do patrimônio familiar, ao abrigo de penhoras de alguns tipos de débito. 
4.2.1. Bem de família retratado na lei 8009/90 
Diferentemente do descrito no Código Civil, o bem de família retratado na lei 
8009, de 29 de março de 1990 é o bem de família legal, aquele que advêm da lei, 
criado por ordem publica. 
Em seu artigo primeiro, demonstra alguns requisitos a serem cumpridos: 
38 
 
Art. 1º O imóvel residencial próprio do casal, ou da entidade familiar, 
é impenhorável e não responderá por qualquer tipo de dívida civil, 
comercial, fiscal, previdenciária ou de outra natureza, contraída pelos 
cônjuges ou pelos pais ou filhos que sejam seus proprietários e nele 
residam, salvo nas hipóteses previstas nesta lei. 
 
Para um bem ser considerado bem de família, e ser objeto da 
impenhorabilidade que trata a lei é necessário ser “imóvel residencial próprio do 
casal, ou da entidade familiar”, ou seja, ser propriedade de, pelo menos, uma 
pessoa integrante da entidade familiar. 
Entende-se por entidade familiar tanto os cônjuges, quanto a união estável e 
inclusive a comunidade formada por um dos pais e os filhos. Não cabe a lei encolher 
o modo de constituir família, uma vez que é uma instituição social, de nascimento 
espontâneo. 
Para Álvaro Villaça Azevedo: 
Um dos requisitos a que se constitua o bem de família esse mesmo 
imóvel é que deve ser propriedade do casal, ou da entidade familiar, 
diz o dispositivo legal sob estudo. Todavia, nada impede que esse 
imóvel seja de propriedade de um dos cônjuges, se, por exemplo, 
não foremcasados pelo regime de comunhão de bens. O mesmo 
pode acontecer com um casal de conviventes, na união estável ou 
com integrantes de outra entidade familiar, sendo um só deles 
proprietário do imóvel residencial em que vivem. Basta, assim, que 
um dos integrantes do lar seja proprietário do imóvel residencial em 
que vivem (AZEVEDO, 2002, p. 169). 
 
Destaque-se, neste momento, que o direito à impenhorabilidade do único bem 
imóvel da “entidade familiar” se estende aos casais que mantém união estável 
homoafetiva, como resta demonstrado na decisão a seguir: 
Bem de família. Art. Iº da Lei 8.009, de 1.990. Interpretação 
teleológica. Benefício deferido ao devedor solteiro. Norma que não 
excepciona nenhum devedor, colhendo todos, seja solteiro, casado, 
concubinato, em união estável, heterossexual ou homoafetiva. A lei é 
a mesma para todos; todos são iguais perante ela. Arts. 5º, "caput", e 
6º da Constituição Federal. Direito social. Direito à moradia. Direito 
natural que deve ser preservado com a exclusão da interpretação 
restritiva para colher tão só o devedor casado, em afronta à 
interpretação teleológica do seu art. 1º. Benefício mantido. Contrato 
bancário. Lei 8.009, de 1.990. Comissão de permanência. Súmulas 
39 
 
294 e 296, expedidas pelo Egrégio Superior Tribunal de Justiça. 
Limitação aos juros remuneratórios fixados no contrato firmado pelas 
partes, a época. Multa. Fixação em 10% em afronta ao disposto no 
art. 52, § 1º, com a limitação em 2%.Recurso de apelação a que se 
nega provimento. (TJSP, AC 991070582883, Rel. Mauro Conti 
Machado, j. 30/06/2010). 
 
 Deste modo, todas as entidades familiares ficam asseguradas pelo instituto 
em estudo, uma vez que são todos iguais perante a lei. 
 Portanto, as palavras “casal” e “entidade familiar” devem ser interpretadas no 
sentido social da norma, incluindo pessoas ligadas por laços sanguíneos, 
casamento, união estável (inclusive aquela que envolve pessoas do mesmo sexo, 
aqui chamadas de “união estável homoafetiva”) ou descendência, incluídos nesse 
âmbito, a pessoa solteira, irmãos que moram juntos, um dos pais e os filhos, entre 
outros. (AZEVEDO, 2002, p. 174-175). 
Assim, o instituto estará “protegendo a família, seja ela matrimonializada ou 
oriunda de união estável, bi parental ou monoparental, estará o Estado tutelando o 
ser humano, garantindo-lhe dignidade e permitindo-lhe um total desenvolvimento 
pessoal” (VANCONCELOS, p. 95). 
Contudo, não basta a propriedade. Para que receber o beneficio da 
impenhorabilidade é necessário que a família resida no imóvel. Segundo Azevedo: 
O imóvel é residencial quando servir de local em que se estabeleça 
uma família, centralizando suas atividades. Ele é, propriamente, o 
domicílio familiar, em que existe a residência de seus integrantes, em 
um lugar (elemento objetivo) e o ânimo de permanecer (elemento 
subjetivo), de estar nesse local em caráter definitivo. (AZEVEDO, 
2002, p. 171). 
 
 Sobre esse requisito, há certas particularidades. O Superior Tribunal de 
Justiça decidiu que é impenhorável o imóvel do devedor que, apesar de não residir 
no único imóvel, deu a sua genitora o usufruto do bem: 
PROCESSO CIVIL. DIREITO CIVIL. EXECUÇÃO. LEI 8.009/90. 
PENHORA DE BEM DE FAMÍLIA. DEVEDOR NÃO RESIDENTE EM 
VIRTUDE DE USUFRUTO VITALÍCIO DO IMÓVEL EM BENEFÍCIO 
DE SUA GENITORA. DIREITO À MORADIA COMO DIREITO 
FUNDAMENTAL. DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA. ESTATUTO 
40 
 
DO IDOSO. IMPENHORABILIDADE DO IMÓVEL. 
1. A Lei 8.009/1990 institui a impenhorabilidade do bem de família 
como um dos instrumentos de tutela do direito constitucional 
fundamental à moradia e, portanto, indispensável à composição de 
um mínimo existencial para vida digna, sendo certo que o princípio 
da dignidade da pessoa humana constitui-se em um dos baluartes da 
República Federativa do Brasil (art. 1º da CF/1988), razão pela qual 
deve nortear a exegese das normas jurídicas, mormente aquelas 
relacionadas a direito fundamental. 2. A Carta Política, no capítulo 
VII, intitulado "Da Família, da Criança, do Adolescente, do Jovem e 
do Idoso", preconizou especial proteção ao idoso, incumbindo desse 
mister a sociedade, o Estado e a própria família, o que foi 
regulamentado pela Lei 10.741/2003 (Estatuto do Idoso), que 
consagra ao idoso a condição de sujeito de todos os direitos 
fundamentais, conferindo-lhe expectativa de moradia digna no seio 
da família natural, e situando o idoso, por conseguinte, como parte 
integrante dessa família. 3. O caso sob análise encarta a 
peculiaridade de a genitora do proprietário residir no imóvel, na 
condição de usufrutuária vitalícia, e aquele, por tal razão, habita com 
sua família imóvel alugado. Forçoso concluir, então, que a 
Constituição Federal alçou o direito à moradia à condição de 
desdobramento da própria dignidade humana, razão pela qual, quer 
por considerar que a genitora do recorrido é membro dessa entidade 
familiar, quer por vislumbrar que o amparo à mãe idosa é razão mais 
do que suficiente para justificar o fato de que o nu-proprietário habita 
imóvel alugado com sua família direta, ressoa estreme de dúvidas 
que o seu único bem imóvel faz jus à proteção conferida pela Lei 
8.009/1990. 4. Ademais, no caso ora sob análise, o Tribunal de 
origem, com ampla cognição fático-probatória, entendeu pela 
impenhorabilidade do bem litigioso, consignando a inexistência de 
propriedade sobre outros imóveis. Infirmar tal decisão implicaria o 
revolvimento de fatos e provas, o que é defeso a esta Corte ante o 
teor da Súmula 7 do STJ. 5. Recurso especial não provido. (REsp 
950663 / SC RECURSO ESPECIAL 2007/0106323-9 Relator (a) 
Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO (1140) Órgão Julgador QUARTA 
TURMA Data do Julgamento 10/04/2012 Data da Publicação/Fonte 
DJe 23/04/2012) 
 
 O bem de família, para Silvo Venosa foi instituído com o intuído de assegurar 
a moradia da família, e nada mais. No caso do imóvel for usado como fonte de 
renda, sendo, por exemplo, alugado, mesmo que dele se obtenha a verba utilizada 
para alimentação, ele não está assegurado com a impenhorabilidade de trata a lei 
8009/90: 
O instituto não foi criado nem para dar garantia real à família, nem 
para fornecer alimentos, mas exclusivamente para garantir a 
moradia. Se for alterado o destino, perde a eficácia a instituição 
devendo ser desconsiderada pelos devedores. Isso se aplica 
também ao bem de família. (VENOSA, 2002, p.341) 
41 
 
 
Contudo, o STJ teve uma interpretação diferente do doutrinador, e a esse 
respeito, criou uma súmula, afirmando que não há a necessidade de o proprietário 
residir no imóvel, uma vez que a renda obtida através da locação do mesmo for 
utilizada em favor de subsistência e/ou moradia da família do mesmo. É o que diz a 
Sumula 486 do Superior Tribunal de Justiça: 
 
Súmula 486. É impenhorável o único imóvel residencial do devedor 
que esteja locado a terceiros, desde que a renda obtida com a 
locação seja revertida para a subsistência ou a moradia da sua 
família. 
 
Ocorreu, portanto uma atenuação do rigor quanto à finalidade específica do 
bem de família. Sobre essa questão Washington de Barros Monteiro nos mostra que: 
a) não se desvirtua a destinação do bem de família se seus 
rendimentos visam o pagamento do aluguel de outro imóvel, onde 
mora a família, já que a razão do instituto não é proteger o 
patrimônio, mas, sim, a família; assegurada sua destinação legal de 
servir de domicilio, pode o bem de família ser em parte, arrendado; b) 
a finalidade do bem de família é servir de residência à família, mas a 
alegação de se haver desviado o destino legal não invalida a 
instituição e só os beneficiários poderão reclamar contra aquele 
desvio; c) mudança de residência e necessidade de partilha não 
justificam o cancelamento do bem

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