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Fundamentos de Sociologia

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FÁBIO RÉGIO BENTO
MAQUIAVEL SOCIÓLOGO
E outros ensaios
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
CAPÍTULO 1
MAQUIAVEL SOCIÓLOGO
1.Realismo de Maquiavel e realismo maquiavélico
2.Realismo, ética e etologia
3.Maquiavel sociólogo
3.1.Realismo e positivismo – coisificação dos fatos sociais
3.2.Maquiavel, ciência política e sociologia política 
Conclusão
Referências
CAPÍTULO 2
SOBRE A CENTRALIDADE DA HERMENÊUTICA DOS CONFLITOS NO DIREITO POSITIVO
1.Objeto primário de estudo do direito
2.Escopos do direito
3.Hermenêutica dos conflitos e dogmática jurídica
4.Direito positivo, legalismo e positivismo
5.Direito positivo e direito natural
6.Direito positivo e valores coletivos
Conclusão
Referências
CAPÍTULO 3
UNIVERSIDADE E DEMO-FRATERNIDADE
1.A dialética positiva da fraternidade
2.Primeira etapa – paradigma da liberdade
3.Segunda etapa – paradigma da igualdade
4.Terceira etapa – paradigma da fraternidade
5.Terceiro paradigma e universidade
Referências
CAPÍTULO 4
QUESTÃO SOCIAL E CONSTRUÇÃO DA DEMOCRACIA NO BRASIL
1.Questão social
2.Questão social no Brasil
3.Questão social e construção da democracia
4.Questão social e construção da democracia no Brasil
Referências
CAPÍTULO 5
ENSAIOS DE INTRODUÇÃO À SOCIOLOGIA
1.Metodologia da sociologia
1.1.Método indutivo e dedutivo
1.2.Metodologia positivista
1.3.Neutralidade absoluta e relativa
1.4.A lei dos três estados
1.5.Sociologia prescritiva
2.Sociologia – Ciência da sociedade moderna
2.1.Revolução na revolução
2.2.Revolução no ritmo de trabalho e de vida
3.Sociologia das mudanças sociais
3.1.Karl Marx e Eduardo Bernstein
3.2.Democracia social
4.A revanche do campo – Ruralidade e slow production
4.1.Trabalho, tempo livre e qualidade de vida
4.2.Conquista e perda do tempo livre
4.3.Ativismo, preguiça e desenvolvimento sustentável
4.4.Ruralidade e qualidade de vida
5.Émile Durkheim e a reconstrução da comunidade
5.1.Educação e adaptação social
5.2.Integração e desintegração social
5.3.Consenso social e anomia
5.4.Da anomia à comunidade
6.Max Weber e a sociologia do desencanto
6.1.Industrialização e racionalização
6.2.Racionalismo e desencanto
Referências
AUTOR
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INTRODUÇÃO
A sociologia é uma ciência social que conquistou credibilidade pelo exercício das suas duas utilidades fundamentais: utilidade cognitiva e prática. No ensino superior, as disciplinas sociológicas estão em praticamente todos os cursos de graduação. Nos cursos de educação física, temos a sociologia geral e do esporte; nos de turismo, a sociologia geral e do turismo; nos de direito, a sociologia geral e do direito; nos de administração, a sociologia geral e do trabalho. Temos, também, a sociologia das organizações; do crime e da violência; do lazer; do turismo rural; etc. A necessidade de se compreender a sociedade a partir de recortes específicos determinados pelas áreas também específicas do saber, fortaleceu o enfoque sociológico centrado em temas fáticos específicos (sociologia temática). As escolas e autores cumprem papel hermenêutico decisivo, mas subordinados aos fatos temáticos específicos. 
A popularização da sociologia entre os cursos de graduação em outras áreas do saber não significa empobrecimento da análise sociológica, mas centralidade dos fatos e ênfase na dupla utilidade da investigação sociológica: cognitiva e prescritiva (prática).
Neste livro, começaremos investigando a possibilidade de considerarmos Maquiavel como fundador da sociologia, pelas semelhanças entre o pensamento realista do secretário florentino e a metodologia positivista dos franceses Augusto Comte e Émile Durkheim.
No segundo ensaio, de sociologia do direito, sobre a centralidade da hermenêutica dos conflitos no direito positivo, identificaremos as relações de subordinação e complementaridade entre hermenêutica dos conflitos e dogmática jurídica. É a prioridade da hermenêutica dos conflitos em relação à dogmática jurídica (aplicação de tratamentos normativos) que qualifica o direito positivo como ciência social aplicada.
No terceiro, estudaremos as relações entre a função social das universidades nas sociedades democráticas e o terceiro paradigma da Revolução Francesa, que consideramos ser uma revolução inacabada.
No quarto ensaio, queremos identificar as características principais da assim chamada “questão social”, central na sociologia, e suas peculiaridades na história política reformadora do Brasil.
No quinto ensaio, tentamos fazer um resumo dos principais temas abordados pelos estudantes de sociologia geral de cursos não-sociológicos de graduação. Nele foi privilegiada a compreensão da sociologia como sociologia crítica, que é a que, além de descrever e interpretar, também avalia os fatos e propõe mudanças no curso da história.
Para alguns renomados cientistas sociais latino-americanos, “o percurso feito pelas Ciências Sociais da América Latina esteve sempre fortemente ligado à análise dos problemas concretos – macro ou micro, segundo os períodos e países – assim como à vontade dos cientistas sociais de incidir sobre tais problemas” (TRINDADE, 2006, p.375). Tal é, também, a dupla motivação do autor destes ensaios de sociologia.
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CAPÍTULO 1
MAQUIAVEL SOCIÓLOGO
Ensaio que afirma a hipótese de Maquiavel como fundador da sociologia e apresenta os argumentos que sustentam a razoabilidade da afirmação: relações entre a metodologia indutiva do pensamento realista de Maquiavel e do pensamento positivista de Comte e de Durkheim, centrado nos fatos-coisas sociais; semelhanças de método e objeto que aproximam ciência política e sociologia política.
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INTRODUÇÃO
Método significa caminho escolhido para se chegar a um fim (também escolhido). Significa modo, forma de agir, de proceder para se alcançar determinado objetivo. As questões referentes ao método não são apenas questões formais de emprego de procedimentos gerais e técnicas específicas. A escolha de métodos é condicionada por pressupostos filosóficos, morais, ideológicos dos sujeitos. As questões de método são questões pluralistas: há métodos diferentes, e enfoques, recortes também diferentes que condicionam a escolha do procedimento x ou y. Tal pluralismo asseguraria o debate sobre metodologia como debate hermenêutico, não dogmático.
Ao escolher um método, escolhe-se um caminho específico de investigação para se alcançar um determinado objetivo. Na reflexão sobre a sociedade, há dois procedimentos metodológicos diferentes: o procedimento dedutivo, ou idealista, e o procedimento indutivo, ou realista. Dedutivo é o procedimento que tem como ponto de partida um conceito preconcebido considerado verdadeiro. Tal verdade a priori, metafísica, valor em forma de ideia, seria, depois, aplicada à sociedade, em forma de norma moral e/ou jurídica. 
Indutivo é o procedimento metodológico que tem como ponto de partida uma dúvida. Tal dúvida, em forma de hipótese, é investigada por meio da observação sistemática dos fatos. O procedimento indutivo não é metafísico, mas físico, ou positivo (de onde a expressão positivismo), focado na análise dos fatos. O objetivo do método indutivo é descobrir a verdade empírica (física) por meio do estudo sistemático dos fatos. Para o exercício da observação sistemática dos fatos e fenômenos (físicos), podem ser usadas câmeras, telescópios, microscópios, mas os fatos e fenômenos são compreendidos porque observados e interpretados por meio de hipóteses investigativas, que não são superiores aos fatos. No método indutivo, a centralidade é dos fatos, interpretados por conceitos que deveriam emergir dos próprios fatos, que seriam, num certo sentido, docentes em relação à cognição do investigador. A verdade empírica estaria nos fatos, que deveriam ser compreendidos pelo observador.
Método indutivo é método realista, focado na observação-interpretação dos fatos. E a palavrarealismo remete nosso pensamento ao florentino Nicolau Maquiavel. Neste ensaio, queremos verificar a razoabilidade da seguinte afirmação hipotética: se o método que define a identidade epistemológica da sociologia é o método indutivo, realista, positivista, e se as diferenças entre sociologia política e ciência política não são diferenças metodológicas, mas de objeto de estudo, podemos identificar em Maquiavel a paternidade da sociologia, não tendo ele usado tal expressão, mas manifestado o significado contido em tal expressão? Antes, porém, cabe identificar as diferenças entre o pensamento de Maquiavel e o maquiavelismo a ele atribuído.
1.REALISMO DE MAQUIAVEL E REALISMO MAQUIAVÉLICO
Nicolau Maquiavel (1469-1527), autor do célebre O Príncipe (escrito em 1513 e publicado em 1531), nunca escreveu que fins bons justificariam o emprego de meios imorais. Nos seus livros não consta tal afirmação. Intérpretes de Maquiavel atribuíram a ele tal recomendação “maquiavélica”. Maquiavel não foi um “professor do mal”, mas um “pensador do mal” (MARQUES, 2006, p.41). Ele foi um dos principais teóricos do realismo descritivo e do realismo antropológico, e não o criador do maquiavelismo.
Maquiavel não recomendou maldades, expressão que representa ações humanas indesejadas, mas prováveis. Ele descreveu maldades reais praticadas na política (realismo descritivo, ou realismo metodológico). Crueldades “maquiavélicas” foram recomendadas (e encomendadas) por tiranos, e não por Maquiavel, para o qual, dentre os deveres do príncipe, estava o de “non si fare odiare dal populo” - não fazer-se odiar pelo povo (1988, p.97). Maquiavel não prescreveu meio imorais para se permanecer no poder, mas a rejeição da ingenuidade dos que não admitem que as ações indesejadas são tão prováveis quanto as ações desejadas.
	Quando um médico oncologista descreve o câncer, ele não o está recomendando, mas o identificando (realismo descritivo) para combatê-lo. Maquiavel usou método semelhante. O livro O Príncipe não é um receituário com prescrições de maldades. É um livro de descrições (diretas) das maldades indesejadas, e de prescrições (indiretas) que recomendam o abandono da ingenuidade. Em O Príncipe, Maquiavel descreveu a política realmente praticada, de fato praticada (daqui a palavra realismo), ao contrário dos pensadores que o antecederam, que escreviam sobre as políticas ideais (idealismo), prescindindo do que de fato ocorria no mundo real.
	A prescrição de artimanhas traiçoeiras como meio de se permanecer no poder (por muito tempo e a qualquer custo) consiste no maquiavelismo. O realismo de Maquiavel é realismo descritivo. O realismo do maquiavelismo é o realismo imoral dos que afirmam que fins bons justificariam o emprego de meios imorais. Maquiavel não foi maquiavélico, foi precursor do realismo metodológico (descritivo), por razões de realismo antropológico.
Realismo antropológico significa reconhecer, admitir que o ser humano é capaz de realizar não somente as bondades desejadas, mas, também, as maldades indesejadas. Maquiavel não afirmava que as ações humanas eram sempre más. Ele afirmava que nem sempre as ações humanas eram as boas ações desejadas, mas as ações indesejadas. Rejeitava a posição dos que confiavam de forma ingênua: “chi fonda in sul populo, fonda in sul fango” - quem se apoia no povo, apoia-se na lama (Ibidem, p.64). Se todos os seres humanos fossem sempre bons, não haveria necessidade de precaução, cautela. Mas como os seres humanos não são sempre bons, não convém ser sempre bom entre tantos que não são bons (Ibidem, p.92).
	Maquiavel foi um realista pessimista. Ele não amava o péssimo, mas o previa (pessimismo preventivo). Reconhecia que o péssimo indesejado é tão provável quanto o bem desejado, pela ambiguidade moral que caracteriza o ser humano, de natureza ferina, segundo Maquiavel, ou natureza ferida (pelo pecado original), segundo o catecismo cristão. Maquiavel recomendava prudência, precaução, cautela, rejeição da ingenuidade, recomendava o pessimismo preventivo.
	Realista é a postura metodológica dos que buscam a identificação e compreensão da verdade prática a partir da observação dos fatos (reais). Pessimista é a postura moral preventiva, cautelosa, prudente, dos que admitem que a maldade indesejada (péssimo) é tão provável quanto a bondade desejada. As recomendações realistas de prudência, cautela, pessimismo preventivo derivam do reconhecimento do ser humano como moralmente ambíguo (natureza ferina).
	Admitir o mal não significa desejá-lo, mas reconhecer que ele é tão provável quanto o bem desejado. O pessimismo preventivo de Maquiavel não deseja o péssimo, mas admite realisticamente que o mal indesejado é tão provável quanto o bem desejado. Pessimismo, em tal sentido, não seria vício, mas virtude política, contida na prudência.
Para o pessimismo preventivo, os ingênuos tendem a ser mais tristes que os pessimistas (pessimismo preventivo), pois esperam pelo bem desejado, sem se prepararem para o mal indesejado. O pessimista realista, como Maquiavel, não recomenda o péssimo, mas o admite, a contragosto, para melhor combatê-lo. O pessimista previdente age para que a bondade desejada desponte, mas a probabilidade do contrário faz parte de seus cálculos, mesmo não fazendo parte de sua vontade.
Na sua longa trajetória de político e escritor, o também italiano Igino Giordani (1894-1980) constatou que o “pessimismo realista sustenta a esperança” (1986, p.50). Ou seja, tal pessimismo não promoveria desânimo e tristeza, mas sustentaria a esperança. Para Alcide De Gasperi (1881-1954), primeiro-ministro da Itália, de 1945 a 1953, “é preciso ter um pessimismo sadio, que deriva da consciência de que o mal pode ser encontrado em todos os homens e em todas as classes sociais” (apud BARBERIS, 1953, p.08).
Uma nota típica do maquiavelismo é o desprezo pelas normas morais, mas tal desprezo também não pode ser atribuído a Maquiavel, cujo pensamento realista colide apenas com métodos dedutivos de formulação de juízos de valor. O pensamento realista de Maquiavel é compatível com a ética descritiva, com os procedimentos metodológicos da etologia aplicados ao estudo dos comportamentos humanos.
2.REALISMO, ÉTICA E ETOLOGIA
A palavra ética é usada em vários sentidos, até em concorrência com moral, mas a diferença entre elas é mais idiomática do que histórico-cultural: uma é grega (ética), e a outra é latina (moral). Podemos usar as duas palavras como sinônimas, diferenciado-as pela aplicação de especificações explicativas: moral (ou ética) descritiva; ética (ou moral) normativa; moral (ou ética) social; ética (ou moral) sexual; ética (ou moral) imposta pela tradição; moral (ou ética) escolhida com convicção; etc.
Ética significa bom comportamento, em grego. E moral é bom comportamento, em latim. Há quem prefira mais a palavra ética que a palavra moral porque moral, no passado, estava associada a pecado e, sobretudo, pecados sexuais. Ética é palavra mais leiga, menos associada a religiões que a palavra moral, que foi usada como sinônimo de comportamento proibido: o que não deve ser feito. E a palavra ética sugere comportamento escolhido livremente, em todos os campos do agir humano: o que posso e devo fazer de bom. Todavia a diferença entre elas, como afirmamos, é basicamente idiomática: uma é grega e a outra é latina.
O que nos permite afirmar que um dado comportamento é ruim ou bom? A capacidade, ou poder, que os seres humanos têm de julgar a qualidade de comportamentos a partir de critérios socialmente reconhecidos. Quais procedimentos metodológicos são utilizados para avaliar comportamentos? Procedimentos indutivos, como os usados por Maquiavel, ou dedutivos, típicos da moral metafísica.
Confunde-se ética com valores. A axiologia estuda valores, e a etologia estuda comportamentos. Etologia é a ciência que estuda o comportamento dos animais em cativeiro ou no seu ambiente natural. Etologia humana, a ciência que observa, descreve e interpreta comportamentos humanos.
	A palavraetologia, aplicada ao estudo dos comportamentos humanos, muda a pergunta que geralmente utilizamos quando pensamos em ética. A pergunta que geralmente utilizamos é: o que é ética? Mas a pergunta sugerida pela metodologia (descritiva) da etologia humana é outra, diferente: como é o comportamento x ou y? Tal pergunta sobre a descrição dos comportamentos é a que emerge no Príncipe, de Maquiavel.
	A etologia (humana) troca a busca da definição (o que é) pela busca da descrição (como é). Digamos que um etologista da vida animal estude o comportamento dos jacarés num dado país africano. O jacaré espera pela passagem das zebras pelo rio e ataca filhotes ou zebras doentes e anciãs. O etologista não dirá que tal jacaré não agiu com ética profissional, por atacar filhotes ou zebras doentes. O etologista observa, descreve, analisa, interpreta o comportamento dos jacarés e das zebras, mas não julga. A etologia humana, ao contrário, deve julgar, pois os comportamentos humanos são, também, comportamentos escolhidos. Mas quando e como julgar? Maquiavel julgava, mas antes descrevia. Antes de Maquiavel, muitos escreveram com juízos fortes. A originalidade de Maquiavel está na centralidade da descrição dos comportamentos. A ética descritiva não é incompatível com a ética normativa, mas com a ética idealista, dedutiva, mais preocupada com a qualidade dos comportamentos ideais do que com a cognição dos comportamentos reais. A ética descritiva não exclui a ética normativa, mas sustenta-a em bases cognitivas mais sólidas. Em tal sentido, podemos afirmar que Maquiavel não foi contra a moral. Ele foi um bom moralista realista (ética descritiva), que se opôs à moral dedutiva de então.
3.MAQUIAVEL SOCIÓLOGO
	Após identificar algumas dentre as diferenças que separam Maquiavel e maquiavelismo, voltemos ao tema central do artigo. Podemos considerar Maquiavel sociólogo e, assim, identificá-lo como fundador (involuntário) da sociologia?
Maquiavel poderia ser considerado o pai da sociologia, mesmo não tendo utilizado tal expressão. Vejamos quais são os argumentos que utilizamos para sustentar a razoabilidade da nossa afirmação.
3.1.Realismo e positivismo – coisificação dos fatos sociais
Augusto Comte criou o vocábulo sociologia, mas não foi isso que o tornou o pai da sociologia. Ser pai de um método o tornou pai da sociologia. A intenção metodológica positivista de Comte foi bem manifestada por meio de sua célebre Lei dos Três Estados: estado teológico, filosófico e positivo (terceiro estado). Positivismo significa intenção metodológica indutiva, focada nos fatos, que são reais, vigentes, dados, positivos. O positivismo rompe com o método dedutivo da filosofia social. Em tal ruptura metodológica e afirmação da identidade metodológica indutiva, positivista, encontra-se o método indutivo de Comte.
No capítulo XV do Príncipe, Maquiavel manifesta explicitamente sua intenção metodológica. Ele prefere “andare drieto alla verità effettuale della cosa, che alla immaginazione di essa” (1988, p.83). Buscar a verdade efetiva da coisa e não o que sobre ela se imagina, é resumo revelador da metodologia investigativa indutiva de Maquiavel, que caracteriza o seu pensamento como realista. Devemos pensar em diferenças ou em semelhanças entre método realista e método positivista? Se considerarmos mais relevantes as semelhanças que as diferenças, concluiremos que Maquiavel abandonou o método dedutivo e adotou o método indutivo, no estudo dos fatos sociais (positivos, reais), antes de Augusto Comte e Émile Durkheim.
Maquiavel manifesta explicitamente sua intenção metodológica de tratar os fatos como coisas, tema desenvolvido posteriormente por Émile Durkheim, no livro As Regras do Método Sociológico (1895). Tratar os fatos como coisas, e não como ideias, é regra central para Durkheim. Segundo Raymond Aron, a afirmação de Durkheim de que “é preciso considerar os fatos sociais como coisas”, leva a “uma crítica das discussões abstratas” (ARON, p.336). Para Aron, “o objetivo de Durkheim é aquele de demonstrar que pode e deve existir uma sociologia que seja uma ciência objetiva, em conformidade com o modelo de outras ciências, cujo objeto seria o fato social” (Ibidem, p.336). Fatos sociais são coisas, e “coisas são tudo aquilo que é dado, tudo aquilo que se oferece ou, mais que tudo, aquilo que se impõe ao observador” (Ibidem, p.336). Para Aron, a partir de uma “interpretação moderada da tese durkheimiana”, o significado contido nos fatos, nas coisas, “não é imediatamente dado, mas deve ser descoberto ou progressivamente elaborado” (Ibidem, p.338). Ou seja, ao definir o fato social como coisa, ele sublinha a objetividade, a praticidade dos fatos sociais. Os fatos são interpretados por meio de conceitos, mas tais conceitos são elaborados a partir da análise objetiva dos fatos, por meio do desapego metodológico em relação aos valores do observador, outra regra central do método sociológico segundo Émile Durkheim.
Maquiavel antecipou a metodologia da coisificação dos fatos em relação aos conceitos ao priorizar o estudo da verdade efetiva da coisa, deixando de lado a imaginação (metafísica) que se tenha sobre ela (1988, p. 83).
Maquiavel antecipou a centralidade dos fatos-coisas de Durkheim. Num certo sentido, o livro As Regras do Método Sociológico (1895), de Durkheim, é aprofundamento coerente de uma opção metodológica original de Maquiavel, explicitada no capítulo XV do Príncipe (1513). Para Durkheim, “a coisa se opõe à ideia” (1996, p.10). Ou seja, a verdade efetiva da coisa difere da imaginação metafísica que se tenha sobre ela. Para Durkheim, “coisas reais são o objeto de estudo” da sociologia (Ibidem, p.20). Os fatos são “coisas sociais”, que superam “postulados antropocêntricos” (p.20). Evidente que Durkheim aprofunda a metodologia dos fatos-coisas, mas seu teórico original foi Maquiavel. Em Durkheim não existe confusão entre sociologia e antropologia, que são ciências sociais diferentes. Para Durkheim, “a vida social” não é mero “prolongamento do ser individual” (Ibidem, p.100). Para ele, “a sociedade não é uma simples soma de indivíduos”, mas uma “realidade específica dotada de características próprias” (Ibidem, p.101). Por isso, para ele, “todas as vezes que um fenômeno social é explicado diretamente a partir de um fenômeno psíquico, podemos estar certos de que a explicação é falsa” (Ibidem, p.102).
Durkheim distingue a sua sociologia das “coisas sociais” (Ibidem, p.131) da filosofia social, da psicologia e da antropologia. Maquiavel distingue a sua forma de pensar da forma dedutiva (filosófica) de se pensar os fatos (coisas), comportamentos políticos. Durkheim define suas regras do método sociológico como um “aparato de precauções” (Ibidem, p.132) a ser utilizado pelo sociólogo para a melhor cognição dos fatos. Ele sugere a regra do desapego axiológico em relação aos valores dos observadores (Ibidem, p.47). E Maquiavel sugere que se deve ir atrás da verdade efetiva, abandonando a imaginação que se tenha sobre os fatos-coisas (capítulo XV). O livro O Príncipe também pode ser compreendido como um “aparato de precauções”, como Durkheim classificou suas Regras do Método Sociológico. Os fatos sociais são coisas sociais muitas vezes dramáticas, porque vitais, humanas. E tal dramaticidade dos fatos empenha ainda mais a objetividade dos sociólogos, pelo mesmo motivo que o médico oncologista não abandona a objetividade justamente pela consciência que tem da dramaticidade do seu objeto de análise e tratamento.
Uma consequência que poderia derivar, hoje, da centralidade metodológica maquiaveliana e durkheiminiana dos fatos entendidos como coisas sociais é a rejeição de uma sociologia centrada em escolas e autores, pelo risco de retorno à metafísica dos conceitos a priori em relação aos fatos que, segundo a metodologia indutiva de Maquiavel e Durkheim, são sempre o ponto de partida investigativo da sociologia. Em tal sentido, a sociologia temática impor-se-ia à sociologia de escolas e autores. O mapeamento temáticoimpor-se-ia ao mapeamento de conceitos de escolas e autores. 
Se a sociologia abandonar os fatos ela voltará a ser filosofia social. Mas isso ocorre mesmo quando ela se distancia dos fatos, fixando-se na falsa estabilidade intelectual dos conceitos de escolas e autores. A sociologia é criada e renovada a partir dos fatos, e não a partir dos conceitos, sempre importantes, mas com valor instrumental em relação aos fatos (centralidade dos fatos-coisas). Quando os sociólogos subestimam os fatos e supervalorizam os sistemas conceituais, eles trocam a sociologia por uma espécie de “metafísica sociológica”, ou seja, falsa sociologia, filosofia social. Conceitos de escolas e autores (temas conceituais) cumprem importante papel hermenêutico, a posteriori, subordinado à descrição a priori dos fatos (temas fáticos).
Mas teria a sociologia dos fatos-coisas sociais apenas função cognitiva? Constitui o método indutivo a identificação do objeto (fatos-coisas); observação sistemática dos fatos; interpretação dos fatos por meio de conceitos hermenêuticos; e também, recomendação de tratamentos para os fatos-problema. Em síntese, profundidade investigativa e praticidade prescritiva.
Todas as ciências (método indutivo) caracterizam-se pela relação de reciprocidade entre objetivos cognitivos e objetivos práticos, mesmo se em algumas a cognição dos fatos (utilidade cognitiva) é mais destacada que a prescrição de tratamentos (utilidade prática).
Maquiavel explicou no Príncipe que sua intenção era a de “scrivere cosa utile a chi la intende” (1988, p.83). Ele manifestou duas preocupações, ou “precauções” metodológicas: pensou na praticidade de suas reflexões, e nos sujeitos de tal praticidade. Cognição dos fatos coisas (profundidade investigativa) e utilidade prática da cognição (praticidade prescritiva) caracterizam a sociologia de Maquiavel, no Príncipe, obra investigativa original (pelo método indutivo empregado), voltada para uma finalidade prática, bem específica. “A exortação dirigida a Lorenzo dei Medici no capítulo final do Príncipe”, como resumiu Mario D’Addio, “para que ele assuma a iniciativa de liberar a Itália do estrangeiro, mediante a constituição de um forte Estado italiano na Itália centro-setentrional, demonstra que a análise conduzida no Príncipe se traduz no final em um específico programa de ação política” (1995, p.298).
A ciência supostamente pura, apenas cognitiva, é incompleta, pois não promove resultados práticos para a sociedade. Vejamos o exemplo da medicina. Um médico descreve e interpreta os fatos-problema em profundidade, por meio de exames minuciosos, para prescrever (recomendar, aplicar) tratamentos (normativos) aptos a resolver ou amenizar os problemas descritos. Há, também, risco de reducionismo metodológico no outro extremo. As ciências sociais aplicadas, como o direito, correm o risco oposto, de não interpretarem de forma satisfatória os conflitos (fatos) que geram a necessidade de soluções normativas, buscando a aplicação imediata de normas jurídicas. De um lado, há o risco do médico que prescreve o remédio sem compreender a doença; de outro, há o risco de se saber tudo sobre a doença, mas não se prescrever nenhum remédio apto a tratar o problema. Profundidade investigativa (cognição) e praticidade prescritiva (normativa) são os dois lados constitutivos do método indutivo das ciências, também das ciências humanas e sociais. Estudam-se os sistemas eleitorais (sociologia política) para se identificar o melhor sistema eleitoral no atual momento histórico de uma determinada população.
Para alguns renomados cientistas sociais latino-americanos, “o percurso feito pelas Ciências Sociais da América Latina esteve sempre fortemente ligado à análise dos problemas concretos – macro ou micro, segundo os períodos e países – assim como à vontade dos cientistas sociais de incidir sobre tais problemas” (TRINDADE, 2006, p.375). O trabalho de cognição dos fatos é acompanhado pelo desejo de mudanças, o que exige profundidade e praticidade. Como afirmou Karl Marx, na sua 11ª. tese sobre Feuerbach (1845): “Os filósofos têm apenas interpretado o mundo de maneiras diferentes; a questão, porém, é transformá-lo”. Maquiavel, como vimos, escreveu O Príncipe para a melhor cognição dos fatos-coisas, mas com uma intenção prática, a unificação da Itália.
Durkheim não rejeita a praticidade da ciência, mas a superficialidade dos que subestimam a cognição da complexidade dos fatos e, de consequência, a complexidade das mudanças sociais. A leitura das obras de Durkheim nos revela um cidadão preocupado com os problemas sociais, sobretudo com os problemas referentes à desintegração do consenso social tradicional. Ele sabe, porém, que mudar não é uma questão de vontade. Para Durkheim, a utilidade dos fatos não depende “do desejo nem da vontade” de quem os estuda (Ibidem, p.92). Com isso, Durkheim não defende uma tese conservadora, mas uma tese realista que sublinha a necessidade da compreensão da complexidade dos fatos sociais. Durkheim não é conservador, nem revolucionário. É um sociólogo investigador com características reformadoras. Pode-se mudar a utilidade dos fatos a partir do reconhecimento da sua complexidade: “Não queremos afirmar que as tendências, as necessidades, os desejos dos homens nunca intervenham ativamente na evolução social” (Ibidem, p.93). Para Durkheim, o desenvolvimento dos fatos pode ser “freado ou apressado”, segundo o modo como se incide “sobre as condições das quais um fato depende” (Ibidem, p.93). Para mudar não basta querer, é preciso conhecer a “extraordinária regularidade com a qual os fatos se reproduzem nas mesmas circunstâncias” (Ibidem, p.95).
O sociólogo estuda fatos sociais, fatos-problema, em profundidade, com a ajuda de conceitos hermenêuticos complexos, em função da realização de uma sociedade melhor. Para que serve o saber? Para que serve a sociologia? Para compreender o significado dos fatos, interpretando-os (utilidade cognitiva), por meio da investigação metódica (profundidade cognitiva), com o objetivo prático de tornar a sociedade melhor (praticidade prescritiva, normativa).
Todas as ciências sociais são interpretativas e aplicadas. O direito é ciência social aplicada, mas que interpreta os conflitos entre as partes (cognição dos conflitos); a sociologia é ciência descritiva e interpretativa do significado dos fatos, mas ela não se resume à cognição. Pode e até deve recomendar a aplicação de medidas sócio-prescritivas, a serem executadas pelos sujeitos políticos (cidadãos ativos e seus representantes).
A sociologia de Maquiavel sugere a ideia da dupla utilidade, cognitiva (investigativa) e prática (prescritiva), política, no sentido que identifica medidas benéficas para a cidade (polis) segundo os valores da comunidade de pertença do sociólogo.
Reconhecer esta dupla utilidade (cognitiva e prática) da sociologia não significa “misturar a biblioteca com a praça” (SARTORI, 1991, p.45), não significa misturar as profissões do cientista da política e do político, como Max Weber bem distinguiu em Ciência e Política – Duas Vocações (1993). A função do sociólogo é diferente (não é melhor nem pior) da função do político. Mas a função da sociologia, como de qualquer outra ciência, não é apenas a cognição dos fatos, mas, também, a partir da cognição dos fatos, a indicação de medidas práticas, prescritivas, aptas a tornarem a vida melhor, reconhecendo a complexidade dos fatos e das mudanças sociais. 
Por meio de seus estudos, os sociólogos não provam nem demonstram verdades absolutas. Eles sustentam intelectualmente a razoabilidade dos argumentos encontrados no estudo do que consideram ser a verdade efetiva, empírica das “coisas sociais” (fatos) analisadas.
O sociólogo não é filósofo, psicólogo, antropólogo, nem jornalista. Como o jornalista – para o qual sem fatos não há notícias e sem notícias não há jornal -, prioriza os fatos, temas fáticos, mas os interpreta e permanece com os mesmos fatos por um período maior de tempo. Ou seja, para os sociólogos,o prazo de validade dos fatos é bem maior que o prazo de validade das notícias. Os sociólogos não reportam, mas interpretam os fatos. Sociólogos utilizam a linguagem especializada da investigação sociológica (linguagem da cognição sociológica) durante suas descrições e interpretações dos fatos. Recorrem, porém, à linguagem da comunicação de massa no momento de exporem suas conclusões práticas aos cidadãos não especializados em sociologia, mas desejosos de compreender os fatos com os quais todos estão diretamente envolvidos, e as possibilidades de mudanças sociais.
3.2.Maquiavel, ciência política e sociologia política
	Poder-se-ia afirmar que Maquiavel teria sido o precursor da ciência política (SARTORI, 1991, p.10), e não da sociologia. Mas quais são as diferenças substanciais entre sociologia e ciência política?
	Antes cabe sublinhar que a ciência política (indutiva) não se confunde com a filosofia política, assim como a sociologia (todas as sociologias específicas) não se confunde com a filosofia social. Filósofos da política não são melhores nem piores que cientistas políticos, mas são diferentes.
Em livros apresentados como sendo de ciência política, encontramos capítulos sobre filósofos da política, apresentados como se fossem cientistas políticos. Tal confusão pode ser encontrada também em ementas de disciplinas universitárias classificadas como Ciência Política I, que exigem o estudo do pensamento de excelentes filósofos da política, que não são, porém, cientistas políticos. Melhor seria se tais livros e disciplinas fossem classificados como livros e disciplinas de História das Ideias Políticas, com pensadores do âmbito da filosofia e da ciência política.
Diferenças de método separam a sociologia política e a ciência política da filosofia política. A busca da coisificação dos fatos separou o pensamento político de Maquiavel dos filósofos que o antecederam. Esta mesma busca metodológica pela coisificação dos fatos separou a sociologia de Comte e Durkheim da filosofia social. Do ponto de vista metodológico, Maquiavel não é um filósofo, mas um cientista político. A sua ciência política não é sofisticada na forma, mas profunda – e original – na metodologia e conteúdo. Maquiavel não é um filósofo, no sentido dedutivo tradicional, mas um realista, metodologicamente positivista. Haveria diferenças relevantes entre ciência política e sociologia política? Se nossa resposta for negativa, poderemos afirmar que o fundador da metodologia indutiva da ciência política foi, também, o fundador da metodologia indutiva da sociologia política.
Ciência política e sociologia política compartilham o mesmo método indutivo. Onde estaria a diferença entre elas? No objeto de estudos? A ciência política estudaria as questões referentes ao vértice do poder (estatal) e a sociologia política estudaria os fenômenos sociopolíticos (SARTORI, 1991, p.209), como os movimentos sociais? Seria a ciência política uma espécie de “sociologia (jurídica) do estado” (DALLARI, 2007, p.07)? Mesmo se concordássemos com tal diferenciação, ela seria descaracterizada pelos fenômenos de popularização do poder por meio dos processos de democratização do poder, ou “massificação da política” (SARTORI, 1991, p.207). Tal diferença entre ciência política e sociologia política deixaria de ser relevante nas democracias modernas, caracterizadas pelas relações de reciprocidade do que seria o objeto de estudos da sociologia política e da ciência política. Nas democracias modernas, a política é fato social caracterizado pelas relações de interdependência entre a base e o vértice do poder. Tal diferença de objeto que classificaria a ciência política como ciência do vértice do poder e a sociologia política como ciência da base do poder, reduziria a ciência política ao estudo de ditaduras, ciência especializada no poder sem povo, ou contra o povo. Se tal diferença de objeto de estudo separasse a ciência política da sociologia política, poderíamos dizer que no tempo de Maquiavel não se poderia falar em sociologia política, mas apenas em ciência política, já que foi a democracia moderna a responsável pelos processos de popularização (verticalização) do poder? Mesmo não tratando sobre democracia representativa, no Príncipe, Maquiavel estuda as relações políticas entre príncipes e súditos. Maquiavel estuda fatos políticos em forma de relações de poder entre o vértice (príncipes) e a base (súditos). Relações (diferentes) entre base e vértice de poder existem nas monarquias, democracias e ditaduras.
Sociologia política e ciência política estão mais para ciências sinônimas. Mesmo se a ciência política fosse compreendida como sociologia jurídica do estado, ela seria sempre sociologia. Ambas dedicadas ao estudo das relações entre governados e governantes a partir de recortes diferentes. Do ponto de vista metodológico, a sociologia política não exclui o estudo do funcionamento político-jurídico do vértice do poder e a ciência política não exclui o estudo das relações entre o vértice e a base do poder. Diferenças entre ciência política e sociologia política talvez devessem ser procuradas na tradição dos cursos de direito que priorizaram o estudo do vértice do poder, dedicando-se à cognição do funcionamento político-jurídico do estado, subestimando o estudo das relações entre a base popular e o vértice estatal, político-jurídico. Tal diferença, mais ideológica que metodológica, perde ulteriormente sua razão de ser com a democratização da política e, também, do próprio direito.
CONCLUSÃO
Em O Príncipe, Maquiavel estudou, de forma indutiva, as relações políticas no vértice do poder (príncipes) e entre o vértice e a base (súditos). A sua originalidade no emprego da metodologia indutiva e a qualidade de suas conclusões (práticas e cognitivas) permitem que o consideremos pai da sociologia, mesmo não sendo ele o criador da palavra sociologia.
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CAPÍTULO 2
SOBRE A CENTRALIDADE DA HERMENÊUTICA 
DOS CONFLITOS NO DIREITO POSITIVO
Ensaio de sociologia do direito que identifica relações de subordinação e complementaridade entre hermenêutica dos conflitos - objeto primário de estudo do direito (fatos em forma de conflitos entre as partes) - e dogmática jurídica - seu objeto subordinado -, concluindo que é a prioridade da hermenêutica dos conflitos em relação à dogmática jurídica (aplicação de tratamentos normativos) que qualifica o direito positivo como ciência social aplicada.
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INTRODUÇÃO
A um estudante que gostaria de mais disciplinas humanísticas no seu curso de graduação em direito, respondi ser do parecer que os professores das assim chamadas disciplinas técnico-dogmáticas poderiam manifestar com mais clareza o conteúdo sócio-humanístico das disciplinas supostamente técnicas que lecionam. Seria o direito civil uma disciplina humanística ou técnico-dogmática? Propriedade privada, família, contratos, não seriam temas humanos, sociais, mas temas técnico-dogmáticos? As assim chamadas disciplinas dogmáticas do direito (direito civil, comercial, tributário, administrativo, penal, processual) não seriam humanísticas, mas técnicas, de um curso que seria técnico-dogmático, e não sócio-hermenêutico e humanístico? Faltam-me elementos para deixar de conceber todos os temas do direito como temas humanos, sócio-hermenêuticos, que exigem soluções práticas compatíveis com tal identidade sócio-humanística. Para a lógica tecnicista - que prioriza a aplicação da técnica em detrimento da interpretação dos conflitos – direito para valer, sério, seria somente o direito técnico-dogmático. As demais disciplinas seriam apenas complementares.
A sociologia do direito é uma disciplina sócio-humanística, mas o direito civil, comercial, tributário, administrativo, também. Numa ciência social aplicada, não cabe divórcio cognitivo e curricular entre disciplinas humanísticas e disciplinas técnico-dogmáticas, ou “profissionalizantes”. O direito descreve e interpreta conflitos humanos antes de prescrever a aplicação de tratamentos normativos aptos a resolvê-los, preveni-los ou amenizá-los. O verbo aplicar (normas) deveria supor a boa conjugação prática dos verbos descrever e interpretar (conflitos). Segundo sua caricatura tecnicista, o direito funcionaria como uma daquelas máquinas de latas de refrigerantes, onde inserimos uma moeda (aplicação) e obtemos o resultado. Profissionais da aplicação de normas, divorciada de criteriosas descrições e interpretações dos conflitos, não seriam juristas, pensadores prático-teóricos dos conflitos e das normas, mas espécie de office-boy da lei. Não há deméritos na profissão de office-boy, mas não seriam necessários cinco anos de ensino superior para se tornar office-boy da lei. Afirmar que o direito é uma ciência social aplicada significa identificar sua peculiaridade prescritiva (aplicação de tratamentos normativos), sem, porém, negligenciar sua identidade descritiva e interpretativa dos conflitos.
1.OBJETO PRIMÁRIO DE ESTUDO DO DIREITO
“O direito estuda a lei”, respondem alguns estudantes, quando interpelados sobre o objeto de estudo do seu curso de direito. Em primeiro lugar, cabe sublinhar que lei, no singular, é metafísica. Estudam-se leis, no plural, ou conjunto de leis (dogmática jurídica). Mas seriam as leis, a dogmática jurídica, o objeto primário de estudo do direito, ou o objeto secundário, subordinado ao objeto primário? Pensando na recomendação popular de que não se deve colocar a carroça na frente dos bois, no caso do direito, a recomendação seria de evitar colocar a análise (e escolha) das normas antes da análise dos conflitos que sustentam a necessidade das normas para a solução deles.
Razões metodológicas recomendariam ao direito de não dissociar o estudo das normas do estudo dos conflitos que justificam a necessidade de se encontrar tratamentos normativos aptos a solucioná-los. Ao descolar o estudo das normas do estudo dos conflitos, o direito positivo desliza para a etapa anterior ao direito positivo, por ele combatida, caracterizada pela dedução metafísica (das normas para os fatos), regra oposta à do direito positivo, caracterizado pela metodologia comtiana da indução: dos fatos (conflitos) para a busca de soluções normativas. O direito é ciência social dos conflitos e das soluções normativas aptas a resolver tais conflitos de interesses entre as partes, mas o direito real que povoa a mente de estudantes que conheci nos anos de magistério de sociologia do direito, é um direito metafísico, onde excele o estudo das normas dissociado do estudo dos conflitos que justificam a necessidade de soluções normativas. A mente de leigos e estudantes de direito é povoada pelo que podemos chamar de engenharia forense, ou matemática jurídica, caricatura do direito que o concebe como estudo de normas e das relações das normas entre elas, sem referência substancial aos conflitos e tensões sociais que determinam a criação de normas jurídicas.
O estudo sistemático de normas jurídicas reguladoras (direitos e deveres institucionalizados) se justifica pela necessidade pública e privada de se identificarem tratamentos normativos para prevenir, resolver ou amenizar as tensões e conflitos que determinam a necessidade de criação de normas reguladoras.
Normas jurídicas são estudadas pelo direito positivo como objeto secundário, derivado, subordinado em relação aos fatos sociais que se manifestam em forma de conflitos (micro ou macro) entre as partes. Objeto secundário não significa objeto menos importante, mas objeto metodologicamente subordinado ao objeto primário. Quando é que se recorre ao direito? Recorre-se ao direito quando as partes não conseguem resolver seus conflitos sozinhas ou com a mediação de terceiros informais (amigos, parentes, conciliadores informais). Tanto na solução informal (sujeitos envolvidos e terceiros informais) quanto na solução formal (sistema jurídico estatal) emerge a centralidade dos conflitos como fatores acionadores dos sistemas de conciliação informal e/ou formal (direito).
Assim como o médico prescreve tratamentos somente após descrever detalhadamente os problemas de não-saúde do paciente, no direito a prescrição de normas deveria ser precedida pela descrição acurada dos conflitos que determinam tratamentos normativos específicos, aptos a resolvê-los ou amenizá-los. A descrição dos conflitos está para o direito como a descrição do estado de não-saúde dos pacientes está para a medicina. Somente após tal descrição detalhada dos fatos (conflitos e doenças) pode-se prescrever tratamentos adequados a serem aplicados com menor risco de se recomendarem tratamentos errados para conflitos e doenças mal-identificadas.
Médico pouco profissional é o que prescreve remédio inadequado movido pela descrição negligente do problema que originou a consulta. O profissional do direito pratica o mesmo erro metodológico quando prescreve soluções normativas inadequadas por não ter descrito e interpretado com precisão o conflito que acionou a busca de uma solução normativa para ele.
Estudantes de direito que se dedicam mais ao estudo dos códigos do que à interpretação dos conflitos de interesses entre as partes, seriam como estudantes de medicina que se dedicassem maisao estudo de bulas (bulologia) do que ao estudo dos problemas específicos que originaram a necessidade de identificação de tratamentos adequados. Doenças e tratamentos, conflitos e normas reguladoras não são dissociados na medicina e no direito. Professores de direito (ciência social aplicada) ajudariam a superar tal dissociação se praticassem o exercício de identificação dos conflitos específicos contidos nas disciplinas dogmáticas que lecionam. O direito centrado nas normas dos códigos, negligente em relação à descrição e interpretação dos conflitos (fáticos) contidos em tais normas, certamente não corresponde ao direito classificado como ciência social aplicada. 
Os conflitos e tensões são vivos, dinâmicos, mutáveis. Já os códigos são caracterizados pela perenidade. Todavia como usar um instrumento típico de sociedades pouco mutáveis em sociedades mutáveis como as nossas? Refugiando-se nas promessas de estabilidade contidas no sistema código, estudantes e profissionais de direito terminam por se afastar da dinamicidade e complexidade dos conflitos sociais. Pensam ter encontrado uma boia de salvação, mas pode se tratar de uma pedra de tropeço. Vivemos numa sociedade dinâmica e instável (pós-modernidade) que busca estabilidade onde já não mais se encontra tal possibilidade de estabilidade. As certezas dos códigos de direito parecem não mais remediar tal necessidade de estabilidade. Os novos códigos já nascem superados, carentes de reformas, não por culpa deles ou de quem os criou, mas porque a solução-código é solução jurídica para sociedades estáticas, estáveis, e não para sociedades dinâmicas e instáveis como a nossa. No passado, em época de mudanças lentas, a sociedade podia valer-se de códigos, caracterizados pelo maior prazo de validade. Mas em época de mudanças rápidas, abrangentes e complexas, não há como contar com os códigos como fator de estabilização. Estamos utilizando uma solução do passado - perenidade normativa dos códigos - numa sociedade complexa, que exige adaptações hermenêuticas constantes. Não há como buscar conforto numa roupa apertada, inadequada para um corpo social em constante modificação (para melhor ou pior). As características da sociedade hodierna indicam a necessidade de um sistema regulador mais ágil que o sistema código. A crise dos códigos, ou melhor, do sistema código, não é jurídica, mas sociológica: instrumentos dotados de perenidade são para sociedades simples, e não para sociedades complexas, multifacetárias, dinâmicas e instáveis como as nossas. Para Paolo Grossi (2004, p.97), “uma velha ideia de legalidade, legalidade formal, deve substituir-se, e cada vez mais deve ser substituída, por uma legalidade diferente”. A necessidade de legalidade permanece atual, mas com modelos de legalidade adequados às características da sociedade hodierna. Não diria que vivemos em época melhor que a anterior, mas vivemos em época diferente, que exige modelos diferentes de sistema de legalidade.
O direito, portanto, não é normatologia. A dogmática jurídica está contida no direito, mas ele é mais do que dogmática jurídica. Para regularizar relações sociais caracterizadas pelos conflitos, ou com possibilidade de conflitos (função preventiva do direito), o direito precisa estudar, em primeiro lugar, tais conflitos, e não apenas as normas aptas a solucioná-los, sem descolar o estudo das normas do estudo do ponto de partida fático que determina a necessidade de normas.
2.ESCOPOS DO DIREITO
O direito é ciência social (descritiva e interpretativa) das tensões e conflitos entre as partes e dos tratamentos normativos (prescritivos) aptos a resolver, evitar ou amenizar tais conflitos e tensões. Tais conflitos e tensões fáticos são tratados pela mediação de terceiros informais (controle social) ou pela mediação de terceiros formais (controle estatal). Todas as formas de mediação e conciliação são relevantes para os escopos do direito, e não apenas a mediação formal do estado. Ações de mediação e conciliação realizadas por grupos de voluntariado, consideradas extrajudiciais, são tão importantes quanto ações oficiais, pois o que conta é o resultado de pacificação produzido para a sociedade pelas ações de mediação e conciliação, por meio do sistema jurídico estatal (controle estatal) ou do sujeito comunidade (controle social).
O objetivo epistemológico e operacional do direito é identificar tratamentos normativos aptos a resolver, evitar ou amenizar conflitos e tensões, sem olvidar que conflitos circunstanciais decorrem também de conflitos estruturais. O conflito estrutural por excelência da modernidade é entre capital e trabalho, que os marxistas tentaram resolver com revoluções comunistas e os social-democratas com soluções trabalhistas reformadoras. O direito hodierno é substancialmente reformador, concilia ingredientes ideológicos liberal-democratas e social-democratas. O direito não se caracteriza mais pelo debate entre esquerda e direita, mas pelo ajuste entre elementos de centro-esquerda (social-democracia) e de centro-direita (liberal-democracia). A criação de uma nova ordem social, alternativa ao atual sistema socioeconômico, não é objetivo estranho ao direito. Em vez de tratar somente de conflitos ordinários, cotidianos, o direito pode tratar também de conflitos estruturais, geradores de inúmeros conflitos circunstanciais, buscando sistemas paradigmáticos de conciliação. O direito poderia voltar-se mais para as exigências de seus consumidores do que para as exigências de seus operadores. Ele ainda está voltado mais para as soluções processuais, exigidas pelo processo jurídico formal, do que para a satisfação das partes que acionaram o processo. Os procedimentos formais podem ser empregados satisfatoriamente, do ponto de vista técnico, sem que as partes se sintam satisfeitas. 
O objetivo do direito é responder satisfatoriamente às necessidades sócio-substanciais das partes litigantes. No comércio, onde “o cliente tem sempre razão”, busca-se a satisfação do cidadão-consumidor. No direito, há situações de satisfação processual divorciadas da satisfação sócio-substancial das partes litigantes. Um médico pretende que o paciente recupere a saúde, e não se satisfaz simplesmente em verificar se empregou os procedimentos técnicos corretamente. Ele quer resultados. Há quem se preocupe muito com a lógica e coerência interna dos procedimentos normativos (validade) e muito pouco com os resultados favoráveis que estes procedimentos possam gerar na sociedade (eficácia). Às vezes, lá está a sociedade, insatisfeita com uma determinada decisão judicial, reivindicando decisões caracterizadas pela lógica social e, ao mesmo tempo, lá está o tecnicista, ufano pela lógica formal obtida. A lógica dogmática nem sempre prioriza os objetivos da lógica social, mas os objetivos da lógica processual. Em Teoria Geral do Processo, seus autores explicam que 
o processualista moderno sabe que, pelo aspecto técnico-dogmático, a sua ciência já atingiu níveis muito expressivos de desenvolvimento, mas o sistema continua falho na sua missão de produzir justiça entre os membros da sociedade. É preciso agora deslocar o ponto-de-vista e passar a ver o processo a partir de um ângulo externo, isto é, examiná-lo nos seus resultados práticos. Como tem sido dito, já não basta encarar o sistema do ponto-de-vista dos produtores do serviço processual (juízes, advogados, promotores de justiça): é preciso levar em conta o modo como os seus resultados chegam aos consumidores, ou seja, à população destinatária (CINTRA, A.; GRINOVER, A.; DINAMARCO, C., 1997, p. 43).
O objetivo das sentenças é resolver conflitos, e não apenas solucionar processos. Pacificação, conciliação, reconciliação são escopos do direito e exigências da sociedade, obtidas também por meio de medidas políticas reformadoras no sistema social.
3.HERMENÊUTICA DOS CONFLITOS E DOGMÁTICA JURÍDICA
Dogmática jurídica significa conjunto de normas que o aplicador do direito utiliza para realizar os objetivos do direito. Porém, no verboaplicar, estão contidos os verbos interpretar, escolher, selecionar. Não existe aplicação mecânica de leis, mas aplicação de leis após a interpretação e escolha da lei mais adequada ao caso acionador do direito (conflito específico). No vasto “supermercado” das leis, há várias opções. A escolha das normas é determinada pela análise dos conflitos específicos. Todavia, mesmo sendo indutiva a metodologia do direito positivo, insiste-se ainda em recorrer à metafísica: parte-se da dogmática jurídica para aplicar dedutivamente, a posteriori, uma norma ao caso concreto (conflito). Tal inversão metodológica é incoerente com a lógica indutiva do direito positivo, para o qual a dogmática jurídica não é ponto de partida, mas de chegada. Recorre-se a ela após a descrição e interpretação detalhadas dos conflitos específicos (fatos) que acionaram o sistema jurídico.
Segundo a lógica indutiva do direito positivo, diante de um conflito de interesse entre as partes, em primeiro lugar aciona-se a hermenêutica do contexto de aplicação das normas. Hermenêutica do contexto de aplicação significa interpretação multidisciplinar dos conflitos: hermenêutica sociológica, psicológica, política, antropológica. Os conflitos entre as partes, por serem conflitos humanos, são conflitos multifacetários. Há vários ingredientes nos conflitos que precisam ser identificados: ingredientes sociológicos, psicológicos, religiosos, políticos, econômicos, etc. A complexidade dos conflitos exige que o profissional do direito tenha conhecimento (mínimo) satisfatório em todas as áreas do saber humano, e não apenas conhecimento “técnico” em dogmática jurídica. De fato, os cursos de direito não são fáceis nem de curta duração, pois formam juristas, bons intérpretes dos conflitos e das normas, e não office-boys das leis.
No direito positivo, a dogmática jurídica é aplicação interpretada (e escolhida) das normas, que devem ser prescritas de forma indutiva, ou seja, após a descrição e interpretação dos fatos (conflitos). Fora de tais procedimentos metodológicos, não existe direito positivo, ciência social aplicada, mas metafísica jurídica, com o emprego de metodologia dedutiva semelhante à do assim chamado direito natural.
4.DIREITO POSITIVO, LEGALISMO E POSITIVISMO
Direito positivo não significa legalismo. Significa metodologia indutiva, positivista (do francês Augusto Comte) aplicada ao direito pela nova classe emergente da Revolução Francesa, a burguesia. Legalismo significa compreender e exercer a dogmática jurídica dissociada da hermenêutica dos conflitos. Tal posição equivale ao que chamamos também de formalismo jurídico, tecnicismo ou dogmatismo jurídico. Mesmo com abundância de sinônimos, há quem utilize também, impropriamente, a expressão positivismo para designar tal anomalia tecnicista no estudo e exercício do direito.
O direito positivo, assim como o positivismo, anunciou a superação definitiva da metafísica aplicada ao estudo da sociedade e à elaboração das normas. Diferentemente do direito natural que, do ponto de vista ideológico, foi monárquico-clerical e, do ponto de vista metodológico, metafísico-dedutivo, o direito positivo, do ponto de vista ideológico, foi burguês, ao menos numa primeira fase e, do ponto de vista metodológico, é físico-indutivo.
No direito positivo, que emprega metodologia positivista, afirma-se a centralidade dos fatos. Identifica-se nos fatos sociais o ponto de partida metodológico das interpretações sociais (sociologia) e da criação das normas (direito positivo). Na sociologia, as ideias sobre os fatos derivam da interpretação deles. No direito positivo, as normas são elaboradas a partir da interpretação dos fatos (conflitos). Mas quem teria poder de definir o normal e o anormal, o certo e o errado, o justo e o injusto, o direito e o infracional? Antes das mudanças político-liberais da Revolução Francesa, o poder de definir o certo e o errado era da monarquia, associada ao clero. Tal poder passou a ser da burguesia, a qual criou normas morais e jurídicas de acordo com seus interesses específicos. Uma das primeiras medidas da burguesia foi regular a propriedade privada de acordo com sua cosmovisão. Inicialmente, o direito positivo, metodologicamente indutivo, foi ideologicamente burguês. Posteriormente, com o crescimento político dos movimentos operários, o direito positivo deixa de ser exclusivamente burguês e passa a ser burguês e operário. A burguesia preocupa-se com o direito civil, principalmente com a regulamentação da propriedade privada. Os movimentos operários preocupam-se com o direito trabalhista, com a regulamentação das suas conquistas sócio-reformadoras. Atualmente, a definição do certo e errado dá-se de forma indutiva nos debates entre maioria e minoria. São debates sobre temas complexos, multidisciplinares, decididos por meio do sistema de representação (democracia representativa) ou pela decisão direta (plebiscito, referendo). Conflitos e tensões sobre fatos econômicos, políticos, religiosos, ou conflitos de bioética são tratados com a criação de normas jurídicas específicas que sejam expressão da vontade da maioria, em sistemas de escolha direta ou indireta precedidos por divulgação de informações e debates entre os cidadãos (maioria e minoria). A democracia moderna substituiu o poder monárquico-clerical pela soberania popular e a metodologia dedutiva do direito natural pela metodologia indutiva do direito positivo.
5.DIREITO POSITIVO E DIREITO NATURAL
Há estudantes de direito que emitem opiniões favoráveis sobre direito natural, desconhecendo contradições contidas em tal expressão, ao mesmo tempo em que emitem, também, opiniões desfavoráveis sobre positivismo, como se fosse sinônimo de legalismo. Positivista, repetindo, é a metodologia indutiva empregada por Augusto Comte no estudo dos fatos sociais. Positivista é a escola de pensamento na história da filosofia que coincide (na gênese) com o que Augusto Comte chamou de sociologia. Por isso, todo sociólogo é, originariamente, do ponto de vista metodológico, um positivista. Todavia, se eu afirmar, num curso de direito, que sou um pensador positivista, pensarão que defenderei o formalismo jurídico que critico neste artigo.
Positivismo não significa formalismo, legalismo, tecnicismo jurídico, mas método socioindutivo (de cognição) centrado nos fatos (reais, vigentes, positivos). Quando o direito trocou o método dedutivo do direito natural pelo método indutivo do sociólogo Augusto Comte, passou a ser chamado de direito positivo. Norma positivada não é, em primeiro lugar, norma imposta pelo Estado. A principal característica da norma positivada é a metodologia utilizada na sua elaboração. Norma positivada é a norma elaborada de forma indutiva (direito positivo) pela sociedade pluralista, em substituição ao procedimento dedutivo utilizado pelo direito natural na elaboração das normas.
A escassa compreensão das diferenças metodológicas radicais entre direito positivo e direito natural talvez tenha origem no desconhecimento das diferenças também radicais entre sociologia (geral e do direito) e filosofia (geral e do direito). Filósofos e sociólogos compreendem diferentemente o direito, mas nem sempre os estudantes de direito são alertados sobre tais diferenças. Em livros e apostilas de introdução ao direito, ou de história do direito, às vezes escritos por bacharéis em direito que não são nem filósofos nem sociólogos, encontramos afirmações metafísicas sobre o direito reportadas como se fossem afirmações de sociologia do direito. Tais autores, ao escreverem sobre sociologia do direito, sendo filósofos, sem identidade de sociólogos, produzem, mais que tudo, confusão. Escrevem sobre sociologia do direito a partir de critérios dedutivos, como se o estudo da filosofia habilitasse alguém para ser sociólogo. Sociologia e filosofia são disciplinas e vocações profissionais diferentes. Quem leciona normalmente, sem problemas, filosofia e sociologia, não é nem sociólogo nem filósofo. Sociólogos sem vocação e/ou sem formaçãoespecífica costumam não evidenciar as diferenças metodológicas entre filosofia e sociologia (geral e do direito). Professores de sociologia do direito, filosofia do direito, história do direito, introdução ao direito deveriam explicitar as diferenças de fronteira entre as disciplinas que lecionam. Há quem apresente disciplinas diferentes como se fossem quase idênticas, em nome de uma falsa interdisciplinaridade, ou porque não conhecem bem a disciplina que lecionam. Sociologia do direito e filosofia do direito são disciplinas igualmente importantes, mas radicalmente diferentes. Confusões entre filosofia e sociologia se manifestam, nos cursos de direito, também nas definições e caracterizações do assim chamado direito natural.
Não obstante já tenha encontrado considerações metafísicas sobre o direito natural atribuídas à sociologia, segundo a lógica indutiva da sociologia o direito natural simplesmente não existe. Direito é cultura (criada) e não natureza (dada). Cultura é criação humana, particular, contestável, mutável. A natureza é dada (não criada), universal, incontestável, imutável. É exercício de arbitrariedade apresentar algumas normas morais e jurídicas (criadas pelos seres humanos) como se fossem normas naturais. Direito natural é ideologia entendida em sentido conservador, com a função de ocultar (para manter) interesses de grupos específicos.
Interpretações de conflitos e sistemas normativos são criações humanas, culturais, e não um regalo dos deuses ou da natureza. Pode até ser que existam leis e sistemas normativos naturais (dados, universais, imutáveis), escritos na natureza das coisas, uma hipotética ordem moral natural das coisas, mas no momento em que tais leis e sistemas são definidos racionalmente por meio de conceitos, eles ingressam no âmbito da cultura (criada, particular, contestável, mutável), com autoria assinada por grupos específicos. 
Para os filósofos do jusnaturalismo (leigo ou religioso), haveria uma ordem normativa escrita na natureza das coisas. Mas quem teria o poder de identificar, conceituar e interpretar tal ordem normativa supostamente escrita por Deus na natureza das coisas? Um conselho de guardiões (leigo ou religioso) da verdade absoluta? Não há nenhuma possibilidade de conciliação entre direito natural e democracia. Direitos supostamente naturais são intrinsecamente arbitrários. Democracia exige laicidade do Estado, abertura ao pluralismo de opiniões, e tal pluralismo do Estado Democrático é compatível com a metodologia aberta ao pluralismo que caracteriza o direito positivo. Nem mesmo os direitos humanos são direitos naturais. São ótimos direitos, que fazem parte da cultura da democracia.
Na ideologia do direito natural há referências a normas divinas (direito divino), como mecanismo de legitimação, ou seja, uso político de Deus para justificar interesses humanos específicos. Em síntese, manipulação intelectual voltada para a transformação de Deus em “cabo-eleitoral” do poder monárquico-clerical. Os católicos republicanos acreditam na existência de leis divinas (LÖNNE, 1991), mas para eles tais leis não são naturais. São leis reveladas (por Jesus Cristo). A teologia da revelação estuda o conteúdo e o método da revelação. No conteúdo da revelação está também a ética, a vontade de Deus revelada aos seres humanos. A diferença política fundamental entre direito natural e teologia da revelação, é que a teologia da revelação acredita na veracidade de suas descobertas, mas não as transforma em ferramenta política de dominação cultural.
O direito natural, originalmente definido como cultura de resistência ao poder, desobediência por razões de consciência - que era como o compreendia Tomás de Aquino (CHIAVACCI, p.639) -, degenerou em ideologia de manutenção do poder monárquico-clerical, fraude política bem-sucedida.
Com a substituição do antigo regime pelo sistema do pluralismo cultural (democracia), as normas jurídicas passaram a ser definidas pela sociedade por meio de decisão direta (referendo, plebiscito) ou decisão de representantes do povo no legislativo. As leis são aplicadas pelo poder judiciário, que é, também, intérprete delas. A interpretação dos conflitos e das normas não deve superar o limite imposto por duas regras do direito positivo, a da neutralidade e a da imparcialidade dos profissionais do direito. Respeitando tais regras respeita-se o pluralismo cultural e a vontade soberana do povo contida nas normas jurídicas dos sistemas políticos democráticos.
6.DIREITO POSITIVO E VALORES COLETIVOS
Oscar Correas, em Introdução à Sociologia Jurídica (1996, p. 78), afirmou ser o direito “o resultado da correlação de forças entre os setores sociais que dispõem de maior ou menor poder para impor normas jurídicas”. A norma jurídica de hoje é a norma moral coletiva bem-sucedida de ontem. Numa democracia, as normas jurídicas são expressão da soberania popular. A dogmática jurídica é criação ético-jurídica dos seres humanos, mas as criações humanas são transitórias, reformáveis. Por isso, como sugeriu Plauto Faraco de Azevedo (1998, p. 12), cabe verificar, nos cursos de direito, “se o professor está ensinando o direito relacionado com as vicissitudes concretas da existência ou isolado nas leis e nos códigos, indiferente à moldura humana à que se aplica”.
Valores morais estão contidos nos conflitos entre as partes e nas normas jurídicas. A dogmática jurídica é expressão de valores coletivos. O direito não é moralmente neutro, mas dos profissionais do direito é exigida a regra da neutralidade relativa, que é uma regra clássica da sociologia (WEBER, 1993; DURKHEIM, 2001).
A regra da neutralidade relativa sugere desapego, distanciamento profissional em relação aos valores contidos nos fatos e nas normas para a melhor cognição dos conflitos e das normas. Neutralidade absoluta é impossível e desnecessária, e, por sugerir indiferença, frieza, seria mais um defeito do que uma virtude metodológica. A neutralidade relativa refere-se aos valores, e a imparcialidade, no direito, refere-se ao processo. Como podemos observar na análise de processos, imparcialidade não significa imparcialidade negativa, não tomar parte, mas imparcialidade positiva: promover a manifestação exaustiva das razões das partes envolvidas no processo. A imparcialidade satisfatória não é imparcialidade dada, estática, mas imparcialidade dinâmica, construída. No ponto de partida de um processo, ocorre situação de parcialidade quando não houver igualdade de condições entre as partes. Tais situações de parcialidade inicial, ao serem corrigidas por recomendação do magistrado, não serão interpretadas como tomada de posição unilateral do magistrado (parcialidade), mas como construção da imparcialidade. A responsabilidade e zelo pelo processo, como instrumento democrático de pacificação, exige a construção da imparcialidade de fato. Digamos que o advogado de uma parte seja visivelmente desqualificado e o da outra um excelente profissional, por razões, por exemplo, de desigualdade econômica entre as partes. Pode-se chamar tal processo de imparcial no ponto de partida, ou se trata de falsa imparcialidade, a ser corrigida pela construção da imparcialidade de fato, pela transformação da imparcialidade formal (parcialidade de fato) em imparcialidade substancial? Cabe ao magistrado, que é responsável pelo bom andamento do processo, intervir por meio dos recursos disponíveis, para que a imparcialidade seja efetiva, e não meramente formal.
Todavia cabe lembrar que, num processo, exige-se imparcialidade somente dos magistrados. O advogado defende uma parte (cliente), e o promotor defende outra parte (a sociedade). Ambos são profissionais da parcialidade, mas que podem (e devem) adotar raciocínios de imparcialidade justamente por razões profissionais: identificar as razões da parte oposta para defender melhor o cliente (advogado), ou a sociedade (promotor).
A regra da imparcialidade vale, sobretudo, para os magistrados. A regra da neutralidade relativa, para a melhor cognição dos conflitose das normas, vale para todos os profissionais do direito positivo. Mas a regra da neutralidade relativa em relação aos valores deve ser compreendida no contexto das sociedades hodiernas, caracterizadas pela construção e reformulação dos sistemas ético-normativos.
Na dissertação intitulada A Interpretação Sociológica do Direito, Wellington Pacheco de Barros (1995, p. 148) constatou que “o jurídico de hoje foi o político de ontem, origem que se mantém sempre latente”. A dogmática jurídica é expressão normativa de uma determinada opção de valor feita pela sociedade num dado contexto específico. Quando a sociedade modifica as próprias referências morais de base, ela consequentemente exige que a dogmática jurídica reoriente suas normas e procedimentos. Cada período histórico específico, num dado espaço geográfico, gerou sua legislação específica, durável, mas mutável, não-definitiva, contestável, reformável. A Revolução Francesa substituiu o direito feudal e monárquico pelo direito burguês que, por sua vez, passa até hoje por constantes modificações trabalhistas, reformadoras.
O confronto civil permanente entre os valores da maioria e os valores da minoria é determinante para o direito. O direito de hoje é resultado da vontade da maioria de ontem, sem esquecer, como percebeu Alexis de Tocqueville (De la Démocratie in Amérique, 1835), que a democracia pode degenerar em ditadura da maioria. Democracia significa relação entre maioria que governa e minoria que faz oposição. A oposição (profissional, responsável, inteligente) é parte institucional do sistema democrático, e não um elemento residual subversivo dele.
Segundo o juiz Wellington de Barros (1995, p.10), “é preciso que a exegese jurídica deixe as fórmulas conceituais e dogmáticas criadas para um tempo e realidade diferentes e se volte para a atualidade e assim possa ver o direito não apenas com os olhos da lei, mas com os olhos da satisfação social”.
A “satisfação social” é mutável, mas porque a mutabilidade caracteriza as sociedades democráticas. Não se trata de um defeito, mas de uma condição determinada pelo nosso modo hodierno de viver. Tal mutabilidade da “satisfação social” não autoriza nenhum dos três poderes a desqualificá-la. Numa democracia, deve-se analisar o mérito da opinião pública, com reverência, sem esnobá-la, sem tratá-la como se fosse sempre massa manobrada, manipulada pelos meios de comunicação. Magistrados que tratam a “satisfação social” - que se manifesta também em forma de opinião pública - com a devida reverência, sabem que o poder que exercem não emana das faculdades de direito, mas da soberania popular. Sabem que não exercem uma profissão técnica, mas um poder (de julgar) que lhes foi transmitido pelo povo. Eles sabem que, numa democracia, todo o poder emana do povo, inclusive o poder judiciário. O ingresso no poder judiciário acontece por meio de concurso, elaborado por comissões criadas para isso, procedimento previsto na Constituição Federal, que foi elaborada pelo povo por meio de seus representantes (assembleia constituinte). O concurso está para o poder judiciário como o voto para os poderes legislativo e executivo: são meios de delegação de um poder que é do povo soberano. Concursos e comissões de concurso para o ingresso na magistratura (e no ministério público) têm legitimidade democrática porque esse foi o caminho indicado pelo povo para a transferência do poder popular aos servidores públicos que são admitidos ao exercício do poder judiciário por meio de exames específicos.
Assim como os sistemas eleitorais podem e devem ser melhorados, algumas regras referentes aos concursos de ingresso no poder judiciário também poderiam ser melhoradas. Certamente ninguém ousaria desqualificar a necessidade de conhecimento especializado oferecido pelas faculdades de direito e pelos cursos de formação para a magistratura e ministério público. Tal exigência de conhecimento especializado deveria ser até exportada ao legislativo e ao executivo. Mas as atividades relacionadas aos três poderes do Estado Democrático não são meras profissões. São mandatos populares que exigem legitimidade, além de competência profissional. No judiciário, ao contrário do legislativo e do executivo, a competência profissional geralmente é indiscutível. Os mecanismos de designação popular do poder judiciário é que poderiam ser parcialmente reformulados. As qualidades cívicas dos candidatos aprovados nos exames de conhecimento poderiam ser depois avaliadas por representantes qualificados de setores da sociedade civil, e não somente por um corpo de especialistas em direito, o que qualificaria a legitimidade da transferência de poder e promoveria o aumento do zelo profissional pela “satisfação social”.
CONCLUSÃO
	O direito positivo caracteriza-se pelo emprego de metodologia diferente da metodologia metafísica empregada pelo direito natural. Mas ao se afastar da centralidade da hermenêutica dos fatos em forma de conflitos, priorizando a dogmática jurídica, o direito positivo retornou ao método dedutivo-metafísico do direito natural, abandonando sua posição metodológica comtiana, indutiva, positivista. A nova (em sentido cronológico) metafísica jurídica é metafísica tecnicista, normatologia. Portanto, sublinhar a centralidade da hermenêutica dos conflitos no direito positivo não significa propor metodologia nova, alternativa, mas reconhecer a possibilidade de superação da atual metafísica tecnicista pelo retorno do direito positivo à sua metodologia indutiva original.
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PRIVITERA, Salvatore.

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