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Acidentes por animais peçonhentos Acidentes ofídicos Alta incidência: contato dos animais com ambiente natural das serpentes. Produção de grãos: 1.000.000 de animais são acidentados por ano. Cerca de 80% destes animais morrem pela falta de soro na propriedade ou mesmo nas cooperativas e lojas especializadas em produtos veterinários. Sinais variáveis: indo desde os dois pontos hemorrágicos deixados pela presa até uma simples arranhadura. Em alguns casos, pode haver até mesmo ausência de sinal. 1. Botrópico (jararaca, urutu, caissaca, jararaca pintada, jararacuçu, jararaca ilhoa). No Brasil, mais de 80% dos acidentes causados por cobras tem sua origem nos ofídios do gênero botrópico. 2. Crotálico (cascavel). No Brasil, cerca de 18% dos acidentes causados por serpentes tem sua origem nos ofídios do gênero crotálico. Bothrops (Jararacas) Proteolítico Sinais e sintomas precoces (imediatamente após): inchaço local, dor viva local, sangramento hemorrágico local. Sinais e sintomas tardios: bolhas, necrose (gangrena) e abscessos. Anticoagulante Sinais e sintomas precoces: alteração no tempo de coagulação (TC). Sinais e sintomas tardios: sangramento de gengivas, olhos e ouvidos. Crotalus (Cascavéis) Neurotóxico Sinais e sintomas precoces: “fácies neurotóxica”: diplopia (visão dupla), ptose palpebral (queda da pálpebra), anisocoria (dilatação da pupila) e mialgias (dores musculares). Hemolítico Sinais e sintomas tardios: urina vermelha, cor de água de carne ou coca-cola, oligúria (diminuição ou parada da urina), insuficiência renal aguda. Micrurus (Corais) Neurotóxico Sinais e sintomas precoces: diplopia, ptose palpebral, anisocoria e mialgias. Sinais e sintomas tardios: afeta o aparelho respiratório e leva à morte por asfixia. Acidente botrópico – causado por serpentes do gênero Bothrops Dados importantes a serem avaliados História clínica – condições do acidente Epidemiologia – local do acidente Quadro clínico – ações do veneno Após concluir o diagnóstico, classificar o acidente em leve, moderado ou grave. Tratamento Medidas gerais indicadas Colocar o paciente em repouso absoluto. Transportar o mais rápido para hospital onde haja soro. Manter o membro acometido em posição de drenagem postural. Internar sempre o doente para avaliação tardia. Medidas gerais contraindicadas Fazer torniquete ou garrote acima do local da picada. Fazer perfurações ou cortes no local da picada. Leve Moderado Grave Manifestações locais (calor, rubor, dor, edema) Discretas Evidentes Intensas Manifestações sistêmicas (hemorragias, choque) Ausentes Ausentes ou presentes Evidentes Tempo de coagulação Normal Alterado Incoagulável Quantidade de veneno a ser neutralizado 100mg 200mg 300mg Uso do garrote Ausente Ausente ou presente Presente Tempo decorrido até o socorro médico veterinário < 6 horas = 6 horas 6 horas Tratamento 1. Sempre internar o animal. 2. Realizar o Tempo de Coagulação antes e 12 horas após o início do tratamento. 3. Realizar a limpeza do local. 4. Manter o equilíbrio hidroeletrolítico. Soroterapia específica Leve – 100mg de soro antibotrópico IV Moderado – 200mg de soro antibotrópico IV Grave – 300mg ou mais de soro antibotrópico IV Soros disponíveis no mercado Nome comercial do soro: Soro Antiofídico – Vencofarma Formulação: Botrópico – Crotálico Apresentação: Caixa com 5 ampolas de 10ml Capacidade de neutralização: Cada mililitro neutraliza 1,0mg de veneno de B. jararaca e 1,0mg de veneno de Crotalus durissus terrificus. Nome comercial do soro: Master Soro Plus – Vencofarma Composição do produto: Master Soro Plus - Soro antiofídico polivalente é uma solução de imunoglobulinas específicas, purificadas por digestão enzimática, concentradas e liofilizadas obtidas do soro de equídeos hiperimunizados com veneno de serpentes dos gêneros Crotalus, Bothrops e Lachesis. Acidente Crotálico – causado por serpentes do gênero Crotalus Tratamento específico com soro anticrotálico. Casos Quantidade de soro Moderados 150mg (10 ampolas) Graves 300mg ou mais (20 ampolas ou mais) Tratamento de suporte Hidratação adequada, induzir diurese osmótica, alcalinizar urina, reavaliar o tempo de coagulação, insuficiência renal aguda e internação do doente. Acidentes por aracnídeos São encontradas no interior de residências, nas grandes cidades e na zona rural. Estas ranhas são pequenas, de um colorido marrom claro uniforme, medindo entre 8 e 15mm de corpo, com pernas finas e longas, pelos curtos e escassos. Epidemiologia é muito importante. Loxosceles sp. (Aranha-marrom) Não é agressiva, pica geralmente quando comprimida contra o corpo. Tem um centímetro de corpo e até três de comprimento total. Possui hábitos noturnos, constrói teia irregular como “algodão esfiapado”. Esconde-se em telhas, tijolos, madeiras, atrás ou embaixo de móveis, quadros, rodapés, caixas ou objetos armazenados em depósitos, garagens, porões e outros ambientes com pouca iluminação e movimentação. Acidente loxoscélico Ações do veneno – proteolítico e hemolítico Na forma cutânea, após 12 a 24 horas do acidente, instalam-se no local da picada, dor discreta do tipo queimação, edema e eritema, podendo haver mal-estar geral, febre e exantema do tipo escarlatiniforme. A forma cutâneo-visceral tem manifestações sistêmicas e instala-se em pequeno número de casos, principalmente em crianças. A ação hemolítica do veneno se manifesta por icterícia e hemoglobinúria. A urina torna-se escura, cor de “coca-cola”. Tratamento O tratamento específico do loxoscelismo é feito à base de soro anti-loxoscélico. Está indicado nos acidentes com até 36 horas de evolução. Casos leves – acompanhamento clínico até 72 horas após a picada. Casos moderados – 5 ampolas de soro anti-loxoscélico + prednisona (adultos 40mg/dia, crianças 1mg/kg de peso durante 5 dias). Casos graves – 10 ampolas de soro anti-loxoscélico + prednisona (adultos 40mg/dia, crianças 1mg/kg de peso durante 5 dias). O tratamento complementar consiste na limpeza local com antisséptico (permanganato de potássio) e hidratação do doente. Deve-se avaliar a função renal diariamente. Phoneutria nigriventer (Armadeira) Ação do veneno: neurotóxica (periférica) Complicações: choque, colapso cardiocirculatório e edema pulmonar agudo. Tratamento: deve ser feito o mais rápido possível nos pacientes que apresentarem manifestações sistêmicas. Basicamente, o tratamento consiste na analgesia, pela infiltração local, ao redor da picada, de aproximadamente 4ml de anestésico do tipo lidocaína a 2%, sem vasoconstritor. Se necessário, repetir a mesma dose uma e duas horas após. Acidentes por escorpiões Os escorpiões pertencem ao filo Arthropoda, classe Arachnida, ordem Scorpionida. Existem centenas de espécies de escorpiões, que vivem em quase todo o ecossistema terrestre. No Brasil, os de maior interesse toxicológico pertencem à família Buthidae, gênero Tityus (T. serrulatus, T. bahiensis, T. stigmurus, entre outros). No Estado do Rio Grande a maioria dos acidentes ocorre com escorpiões do gênero Bothriurus. Tityus serrulatus (Escorpião-amarelo) Os escorpiões não são agressivos e só picam quando se sentem ameaçados. Apresentam o corpo dividido em cefalotórax e abdome. Possuem quatro pares de patas, um par de pedipalpos e um par de quelíceras. No final da cauda encontra-se a glândula produtora de veneno (vesícula) que se comunica com o aguilhão por onde o veneno é inoculado. Possuem hábitos noturnos, escondendo-se durante o dia sob a casca de árvores, pedras, tijolos, troncos podres, madeiras empilhadas, sob a camada de folhas junto ao solo. São encontrados nas várzeas, córregos onde o lixo doméstico fornece alimento rápido, junto aos domicílios, fendas, muros ou porões. São mais ativos durante os meses quentes do ano. São carnívoros, alimentam-se desde anelídeos e moluscos até vertebrados, mas principalmente deinsetos como grilos, cigarras, baratas e outros. Podem viver vários meses sem comida, porém não dispensam água. Algumas espécies como Tityus serrulatus reproduzem-se por partenogênese o que facilita sua dispersão. O gênero Tityus pode ser reconhecido pela mão afilada, com dedos longos, vesícula com um pequeno espinho sob o ferrão. O gênero Bothriurus pode ser reconhecido pela mão robusta e larga, com dedos curtos, vesícula sem espinho sob o ferrão. Bothriurus bonariensis (Escorpião-preto) Quadro clínico Os acidentes com escorpiões da espécie Tityus serrulatus, são classificados como leves, moderados e graves. Os óbitos, na maioria dos casos, ocorrem por edema agudo de pulmão e choque nos acidentes graves. Os escorpiões do gênero Bothriurus, tem ação de veneno considerada de baixa toxicidade, a sintomatologia clínica varia de leve a moderada (dor local, reações alérgicas). Tratamento: manter as funções vitais. Tityus - Soroterapia específica (antiescorpiônico-SAE); controlar convulsões e distúrbios colinérgicos/adrenérgicos; avaliar função cardiorrespiratória. Bothriurus – Não necessita tratamento específico, somente sintomático. Observações: A administração do soro não modifica a sintomatologia; Manter o paciente em observação nas primeiras 4 a 6h; Não existe, no momento, SAE disponível para os acidentes em animais domésticos. Análises laboratoriais Hiperglicemia, leucocitose com neutrofilia e hipocalemia; glicosúria, cetonúria, proteinúria e mioglobinúria; aumento das enzimas séricas: CK, LDH. Exames complementares: eletrocardiograma (pode mostrar taquicardia ou bradicardia sinusal, extra-sistole ventriculares, distúrbios da repolarização ventricular). Raio-x de tórax (edema pulmonar). As alterações desaparecem em 3 dias na grande maioria dos casos, mas podem persistir por 7 dias ou mais. Achados de necropsia Edema pulmonar, dilatação das fibras cardíacas, congestão cerebral e hematomas no SNC, lesões celulares observadas na medula de animais de experimentação (coelhos inoculados).
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