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04 Piratarai de Software

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1 
 
Pirataria de Software: Uma Análise da Relação entre Comportamento Ético, Atitude e 
Intenção do Consumidor. 
 
Autoria: Richélita do Rosário Brito Casali, Tais Alexandre Antunes Paes, Petruska de Araújo Machado, 
Leíza Cavalcanti de Medeiros, Augusto José de Aragão 
 
Resumo 
 
Comportamentos antiéticos ou dilemas éticos podem ser desencadeados ou 
enfrentados por qualquer um dos stakeholders envolvidos no sistema de troca, inclusive o 
consumidor (MALHOTRA; MILLER, 1998). Neste sentido, práticas deletérias executadas 
pelos consumidores podem ter efeitos tão nocivos quanto àquelas praticadas pelas empresas 
ofertantes. A pirataria digital de software é uma prática ilegal que tem aumentado 
significativamente a partir dos anos 1990. Este fenômeno tem causado grandes prejuízos aos 
diversos stakeholders envolvidos na relação de troca: (1) à indústria tende a dedicar menos 
recursos à pesquisa e desenvolvimento de novos produtos; (2) aos consumidores que 
compram os softwares originais são obrigados a pagar mais caro para cobrir o prejuízo 
causado por aqueles que pirateiam; (3) ao governo que perde em termos de arrecadação de 
impostos, entre outros; e (4) à sociedade tendo em vista a ligação do roubo de propriedade 
intelectual com o crime organizado, incluindo tráfico de drogas, armas, pessoas e “lavagem” 
de dinheiro. Esse artigo teve como objetivo investigar a relação entre o comportamento ético 
geral do consumidor, a atitude com relação à pirataria de software e a intenção de piratear. A 
investigação empírica foi realizada com 200 universitários de instituições de ensino superior 
particular em uma capital do Nordeste. Um estudo descritivo e quantitativo foi realizado a fim 
de identificar correlações entre os construtos comportamento, atitude e intenção para piratear. 
A intenção foi analisada através da probabilidade de piratear software assumida pelo 
consumidor em dois cenários submetidos à sua avaliação, que diferiam entre si pela estrutura 
de custos. Os procedimentos estatísticos realizados foram: 1) análises exploratórias 
preliminares; 2) teste qui-quadrado; 3) análise de estatística descritiva e 4) análise de 
correlação. Os resultados mostraram que as três dimensões de comportamento geral antiético 
não variaram de acordo com o gênero e a renda familiar. Esses resultados sugerem que, na 
amostra pesquisada, o consumidor apresenta de uma forma geral uma tendência ao 
comportamento ético, embora em questões associadas à pirataria de software não haja uma 
tendência clara quanto à percepção de eticalidade envolvida. Possíveis explicações para esses 
resultados são apresentadas. As contribuições deste estudo podem ser ordenadas em três: 
teórica, prática e educacional. Do ponto de vista teórico ele traz evidências de uma fraca 
sensibilidade dos consumidores da pirataria de software como uma prática anti-ética. No 
campo prático, os resultados do estudo apontam para a necessidade de repensar o formato de 
gestão de negócios que lidam com software, além de mostrar a necessidade de iniciativas 
governamentais e privadas que conscientizem os consumidores de que pirataria de software é 
ilegal e anti-ética, informando a sociedade sobre os problemas associados a questão. Já no 
âmbito educacional, este estudo reforça a importância de se educar o consumidor. Uma 
sugestão nesse sentido é de incorporar nas aulas de informática tempo para a educação 
concernente aos aspectos éticos no do uso do computador (HINDUJA, 2003). 
 
 
 
 
 
 
 
2 
 
1 Introdução 
 
Os assuntos sobre comportamento ético têm sido discutidos em muitas áreas de 
negócios. Pesquisas têm destacado questões de propriedade intelectual, especificamente 
software pirata (AL-RAFEE; CRONAN, 2006), sendo considerado um sério problema de 
difícil controle em todo o mundo devido à facilidade de duplicação de produtos com direitos 
autorais (HSU; SHIUE, 2007). 
A expansão da Internet tem contribuído para a aquisição de softwares sem pagar e sem 
a devida autorização do proprietário dos direitos autorais. As facilidades estão relacionadas à 
maleabilidade das tecnologias em produzirem softwares de forma mais rápida, acessível e ao 
custo mais baixo (GOEL; NELSON, 2009) incentivando assim, o ato de piratear. 
 A decisão de piratear ou não software digital pode estar relacionada a questões de 
ordem ética. Desta forma, o estudo da ética em marketing, mais especificamente o 
comportamento ético do consumidor que adquire produtos piratas, em particular software, é 
de grande importância. Esta abordagem permite uma análise ética sobre a perspectiva do 
consumidor, em contrapeso a diversos estudos que enfocam a ética nos negócios enfatizando 
o lado do ofertante como, por exemplo, o estudo de Singhapakdi (1999) que investigou a 
percepção relacionada à importância ética e à responsabilidade social em intenções éticas de 
profissionais de marketing e o estudo de Valentine et al. (2010) que relaciona o 
comportamento ético do empregado à boa performance no trabalho ao testar de forma 
empírica trabalhadores de “colarinho branco” de uma indústria financeira. 
Entende-se que o consumidor é um dos componentes chaves das trocas em marketing 
e o seu comportamento antiético, aqui tratado especificamente como aquisição de produtos 
piratas, é potencialmente prejudicial para empresas e indivíduos detentores de direitos 
autorais de software e para a sociedade em geral. Tendo em vista esta percepção definiu-se o 
seguinte problema de pesquisa: como o comportamento ético geral, a atitude com relação à 
pirataria e a intenção do indivíduo de piratear software se correlacionam? O objetivo, assim, é 
investigar a relação entre o comportamento ético geral do consumidor, a atitude com relação à 
pirataria e a intenção de piratear software. 
A revisão da literatura disponível indicou que o assunto selecionado para este artigo 
apresenta três importantes impactos para o marketing, que são de ordem prática, teórica e 
educacional. Por ser uma pesquisa de ética do consumidor, o estudo contribui teoricamente 
por gerar maiores evidências para a complementação dos estudos na área, uma vez que é 
considerado um campo ainda em consolidação em termos de estrutura temática 
(BRINKMANN; PEATTIE, 2008; SCHLEGELMILCH; OBERSEDER, 2009). No campo 
prático, o estudo potencialmente fornece informações úteis para elaboração de ações 
governamentais e de iniciativas empresariais que estimulem comportamentos éticos entre os 
consumidores. Já no âmbito educacional, pesquisas como estas podem ajudar a educar o 
consumidor, gerando materiais de conscientização quanto à existência dos danos associados a 
tal comportamento. 
 
2 Ética em Marketing 
 
 Questões éticas tem sido um tópico frequentemente abordado em marketing (VITELL; 
SINGHAPAKDI; TOMAS, 2001; HUNT; VITELL, 1986; HUNT; VITELL, 2006), podendo 
ser consideradas como a investigação sobre os aspectos morais, padrões e regras de conduta 
concernentes às decisões de marketing e situações de marketing (VITELL, apud BLODGETT 
et al, 2001). 
 Segundo Nill e Schibrowsky (2007), a literatura no campo da ética em marketing 
embora possa ser categorizada de várias formas, de maneira geral tem sido dividida de forma 
 
3 
 
descritiva (direcionada à descrição ou explicação de atividades e processos de marketing 
relevantes eticamente) ou prescritiva (direcionada à orientação do que é certo ou errado 
eticamente), ou ainda em nível macro (atividades de marketing eticamente relevantes para 
grupos de consumidores, sociedade e sistema de marketing) ou micro (foco em dilemas éticos 
vivenciados entre indivíduos e empresas) de acordo com a percepção de cada autor. 
 Temas centrados em questões éticas envolvendo o sistema de marketing começaram a 
surgir com maior ênfase nos anos 80 (LAYTON; GROSSBART, 2006). Neste período 
escolas de marketing passaram a avaliar conceitualmentea natureza do conjunto da ética em 
marketing (CARRIGAN; MARINOVA; SZMING, 2005), contribuindo assim para o aumento 
de estudos nessas áreas. Tais áreas de desenvolvimento podem ser verificadas com maior 
clareza, por exemplo, no artigo Half a century of marketing ethics: Shifting perspectives and 
emerging trends, de Schlegelmilch e Oberseder (2009), que fornece uma revisão da literatura 
sobre ética em marketing, a partir da análise de 538 artigos, publicados em 58 periódicos, no 
período de 1960 a 2008, e apresenta, entre outras informações, os principais tópicos 
abordados. Os tópicos são agrupados por década, conforme apresentados na Figura 1. 
 
Figura 1: Revisão da literatura sobre ética em marketing 
Década Principais áreas desenvolvidas e/ou aprofundadas 
1960 Questões éticas na pesquisa em marketing, tomada de decisão ética corporativa e normas e 
códigos. 
1970 Questões relacionadas à educação em marketing, administração do produto, publicidade e 
marketing social. 
1980 Questões éticas relacionadas à distribuição, a vendas e ao contexto internacional. 
1990 Questões relacionadas à educação em marketing, promoção, pesquisa em marketing, contexto 
internacional, tomada de decisão ética corporativa, normas e códigos, preço, religião, 
consumidores vulneráveis, marketing verde, ética em marketing e leis. 
2000 Questões relacionadas à educação em marketing, tomada de decisão ética corporativa, 
normas e códigos, ética em marketing internacional e ética em marketing no contexto da 
internet. 
 
Percebe-se que a maior parte da literatura, em geral desenvolveu questões éticas com o 
foco no ofertante (CHERRY; FRAEDRICH, 2000; SCHUMANN, 2001; SVENSSON; 
WOOD, 2007; SINGHAPAKDI et al, 2010). Poucos estudos têm investigado questões éticas 
sob a perspectiva do consumidor (VITELL; PAOLILLO, 2003; SWAIDAN; RAWWAS; AL-
KHATIB, 2004; BRUNK, 2009). Deixar de considerar a perspectiva do consumidor em 
pesquisas de ética pode trazer um entendimento incompleto do processo, uma vez que, o 
consumidor é o principal participante da relação de troca (VITELL, 2003). 
Comportamentos antiéticos ou dilemas éticos podem ser desencadeados ou 
enfrentados por qualquer um dos stakeholders envolvidos no sistema de troca, inclusive o 
consumidor (MALHOTRA; MILLER, 1998). Neste sentido, práticas deletérias executadas 
pelos consumidores podem ter efeitos tão nocivos quanto àquelas praticadas pelas empresas 
ofertantes. O argumento de Wilkie e Moore (1999) para a relevância de se estudar tais 
comportamentos é de que eles podem prejudicar competidores e consumidores honestos. 
Desta forma, não se pode pensar a ética em marketing sem pensar na ética do consumidor, 
pois, se práticas antiéticas de um agente ofertante, como, por exemplo, fazer propaganda 
enganosa, são insalubres para os envolvidos na troca, a prática antiética do agente demandante 
também tem potencial de gerar danos neste mesmo sentido de troca. 
 
3 Comportamento Ético do Consumidor 
 
 A questão de como o consumidor toma a decisão quando exposto a um dilema ético 
tem atraído considerável atenção dos pesquisadores. Muitos modelos de tomada de decisão 
 
4 
 
ética são propostos na literatura. Entre os quais Malhotra e Miller (1998) apontam os 
seguintes: o Modelo Hunt-Vitell, fundamentado nas filosofias morais deontológica e 
teleológica; o Modelo de Trevino, que considera diferenças individuais (força do ego, campo 
de dependência e locus de controle); o Framework de contingência de Ferrel e Gresham que 
considera três grupos de influência na tomada de decisão individual, tais como fatores 
individuais (valores, atitudes, conhecimento, etc), significado percebido do outro (o que as 
pessoas envolvidas representam para o tomador de decisão) e oportunidade (condições que 
limitam ou favorecem determinada decisão). 
De acordo com Vitell (2003), os modelos acima citados são os principais modelos 
teóricos do processo de tomada de decisão envolvendo questões éticas em marketing e 
negócios, porém somente o modelo ou teoria Hunt-Vitell, pode receber as duas 
denominações. Pois, segundo Hunt e Vitell (2006), ele o único capaz de ser facilmente 
aplicável ao comportamento do consumidor individual, sendo, portanto, o mais adequado para 
a utilização em pesquisas envolvendo ética do consumidor. Este é apresentado como um 
processo não-causal, embora torne possível desenvolver modelos causais a partir de suas 
relações (HUNT; VITELL, 2006). Embora esta seja uma opinião dos autores sobre sua 
própria criação e por essa razão merecer ser avaliada criticamente, cabe salientar aqui que tais 
pesquisadores são reconhecidos internacionalmente como grandes estudiosos na matéria, 
assim tal opinião é digna de crédito. Além do fato de até o momento não haver propostas 
reconhecidas pelo mainstream da área como capaz de superar o modelo Hunt-Vitell no 
contexto específico de tomada de decisão ética do consumidor. 
O modelo Hunt-Vitell tem como ponto de partida a percepção do indivíduo sobre a 
existência de um dilema ético, seguido pela identificação das alternativas possíveis para 
resolver o problema, alternativas estas que serão limitadas ao conjunto de consideração do 
indivíduo. A avaliação de cada uma delas tem como base normas deontológicas e 
teleológicas. As normas deontológicas representam os valores pessoais e regras de 
comportamento moral. A avaliação teleológica, por sua vez, considera as conseqüências 
envolvidas em cada escolha, incluindo a probabilidade de cada consequência acontecer, o 
desejo ou não de cada conseqüência e a importância dada por cada grupo de stakeholder, que 
varia dependendo do indivíduo e da situação. Assim, o julgamento ético é uma função de tais 
avaliações e este julgamento afeta o comportamento do indivíduo por meio da intenção. O 
comportamento final será influenciado pelo controle da ação, ou seja, até que ponto o 
indivíduo tem a capacidade de transformar sua intenção em um determinado comportamento. 
Logo, uma vez tomada à decisão, suas conseqüências servirão como realimentação do 
processo, sendo transformadas em experiências pessoais que apoiarão futuras decisões 
(VITELL, 2003; HUNT; VITELL, 2006). 
Embora bastante utilizado nas pesquisas em marketing, o Modelo Hunt-Vitell não é 
um modelo aceito universalmente. Brinkmann e Peattie (2008) o criticam afirmando que é 
natural que os autores do modelo e especialistas no assunto considerem seu modelo o mais 
adequado, em referência à defesa da aplicabilidade do mesmo feita por seus propositores. 
Apesar das críticas, o Modelo de Hunt-Vitell, tem apresentado maior robustez e consistência 
para explicação do comportamento de tomada de decisão ética na perspectiva do consumidor, 
viabilizando, assim, a geração de hipóteses ou proposições envolvendo diferentes construtos. 
 
4 Pirataria Digital de Software 
 
 A evolução tecnológica e o crescente acesso à Internet contribuíram para o aumento do 
número de cópias de produtos digitais sem autorização do proprietário dos direitos autorais, 
dentre eles livros, software, e arquivos de música e filme, o que tem sido denominado de 
pirataria digital (PEITZ; WAELBROECK, 2006). A pirataria digital de software é uma 
 
5 
 
prática ilegal que tem aumentado significativamente a partir dos anos 1990. Esta pode ser 
entendida como a cópia ou download na Internet e/ou distribuição de software com direitos 
autorais protegidos sem autorização do fabricante (GUPTA; GOULD; POLA, 2004; PHAU; 
NG, 2009; GOEL; NELSON, 2009). 
Shore et al (2001) dividem a cópia antiética de software em duas categorias: (1) 
Softlifting quando a cópia não autorizada é para uso pessoal e sem envolver ganhos 
monetários; e (2) pirataria ou falsificação, que geralmente envolve ganhos financeiros. Este 
fenômeno tem causado grandes prejuízos aos diversos stakeholders envolvidos na relação de 
troca: (1) a indústria tendea dedicar menos recursos à pesquisa e desenvolvimento de novos 
produtos (PHAU; NG, 2009); (2) os consumidores que compram os softwares originais são 
obrigados a pagar mais caro para cobrir o prejuízo causado por aqueles que pirateiam (PHAU; 
NG, 2009; HINDUJA, 2003); (3) governo que perde em termos de arrecadação de impostos, 
entre outros; e a (4) sociedade tendo em vista a ligação do roubo de propriedade intelectual 
com o crime organizado, incluindo tráfico de drogas, armas, pessoas e “lavagem” de dinheiro 
(RUTTER; BRYCE, 2008). 
Carvalho (2004) considera o software um bem de informação com alto custo fixo de 
produção da primeira cópia e baixo custo variável para as seguintes reproduções após a 
fabricação da primeira. Essa estrutura incomum nos custos os diferencia radicalmente dos 
bens tangíveis e trazem como conseqüências problemas relacionados à sua gestão. Ainda 
neste sentido, a mesma autora destaca a necessidade de adoção pelas empresas de estratégias 
que considerem as especificidades dessa nova categoria de produto/serviço. Considerando o 
baixo custo variável da reprodução de cópias, consumidores enfrentam cada vez mais o 
dilema ético com relação à maneira de aquisição de software, questionando se devem comprar 
ou piratear (GUPTA; GOULD; POLA, 2004). Vários fatores contribuem para este dilema, por 
exemplo, o software pirateado, como os demais bens digitais: (1) mantém a qualidade técnica 
similar ao original, apesar de não possuir suporte técnico de qualquer ordem; (2) custa bem 
menos que o original, além de ser relativamente fácil de ser baixado da Internet; (3) a 
percepção, em geral, dos consumidores quanto à punição é de que a probabilidade é remota; 
entre outros. 
Vale salientar ainda que, de forma geral, os consumidores são heterogêneos com 
relação a sua disposição de adquirir o original ou o pirata (PEITZ; WAELBROECK, 2006). 
Além disso, há ainda uma categoria de consumidores que são ignorantes, ou seja, não 
apresentam informações ou conhecimentos para diferenciar um produto pirateado de um 
original. 
Muito se tem estudado sobre os fatores envolvidos e sua influência na intenção, na 
atitude e no comportamento com relação à pirataria, abordando fatores pessoais, sociais, 
situacionais e econômicos. Cronan e Al-Rafaee (2007), por exemplo, com base na Teoria do 
Comportamento Planejado verificaram em seu estudo que a atitude, o comportamento passado 
de pirataria, o controle percebido e a obrigação moral explicam boa parte da intenção de 
piratear software e mídia. Thong e Yap (apud AL-RAFEE; CRONAN, 2006) utilizaram a 
Teoria de Tomada de Decisão Ética de Hunt e Vitell para explicar tal comportamento através 
das regras de avaliações deontológicas e teleológicas adotadas pelo indivíduo. Outro estudo 
vincula a estrutura de custo para produção do software percebida pelo consumidor (custo fixo 
x custo variável) à sua disposição de pagar mais ou menos, ou até mesmo fazer o download da 
Internet sem pagar de determinado software (NUNES; HSEE; WEBER, 2004). 
 
5 Método 
 
Para realizar a investigação, utilizou-se a estratégia descritiva e quantitativa de 
pesquisa. No estudo foram utilizadas escalas diferentes para mensurar o comportamento ético 
 
6 
 
geral do consumidor, a atitude e a intenção para piratear. 
 
5.1 Procedimentos de Coleta de Dados 
 
Na literatura a escala mais utilizada para mensurar o comportamento ético geral do 
consumidor foi desenvolvida em consonância com o modelo de Hunt-Vitell por James Muncy 
e Scott J.Vitell em 1992, contendo 27 itens que buscaram identificar as crenças dos 
consumidores com relação a vários comportamentos questionáveis do ponto de vista ético. 
Após o agrupamento dos itens dentro de cada dimensão foram identificados quatro blocos: (1) 
benefício ativo da ação ilegal, (2) benefício passivo da ação ilegal, (3) benefício ativo da ação 
legal, (4) ações que não causam danos. Em 2005, a Escala de Ética do Consumidor, como 
ficou conhecida, foi modificada por seus autores, incorporando mais três blocos que refletem 
as dimensões: (1) downloading de material com direitos autorais protegidos/compra de 
produtos falsificados, (2) reciclagem/consciência ambiental e (3) fazer a coisa certa/fazer o 
bem (VITELL; MUNCY, 2005) totalizando, assim, 31 itens. 
Para a verificação do comportamento ético geral foi utilizada a versão mais recente da 
escala, que foi traduzida e recebeu pequenas alterações visando a atender melhor o foco do 
estudo: pirataria digital de software. Essas alterações envolveram modificações de termos ou 
expressões, tais como: música por software; CD por CD de um software; produtos falsificados 
por softwares pirateados; e gravar filme a partir da televisão por gravar um software do 
computador de um amigo. 
Para a aferição da atitude foi utilizada como fundamento a pesquisa realizada por Phau 
e Ng (2009), composta por 13 itens que mensuravam a atitude com relação à pirataria digital, 
a partir da qual foram formulados os 5 itens para o construto “atitude” em relação a pirataria 
de software deste estudo. 
O construto “intenção para piratear” foi analisado através da probabilidade de piratear 
software assumida pelo consumidor em dois cenários submetidos à sua avaliação, tais 
cenários diferiam entre si pela sua estrutura de custos, conforme o modelo desenvolvido no 
estudo de Nunes, Hsee e Weber (2004). Pesquisas utilizando cenários como as de Vitell, 
Ramos e Nishihara (2009) e Vitell, Singhapakdi e Thomas (2001) são cada vez freqüentes 
para detectar problemas éticos. 
A pesquisa utilizou um questionário estruturado com blocos compreendendo as 
escalas e questões para a coleta de informações demográficas dos respondentes. O construto 
“comportamento ético geral do consumidor” foi mensurado através de uma escala tipo Likert 
de 5 pontos, variando de 1-Acredito que isto é fortemente que isto é errado à 5-Acredito que 
isto é totalmente certo. Enquanto o construto “atitude do consumidor com relação à pirataria 
de software” foi mensurado através de uma escala Likert de 5 pontos, variando de 1- 
Discordo totalmente a 5-Concordo totalmente. Já para a mensuração da intenção de piratear 
software foram apresentados dois cenários, nos quais os entrevistados eram solicitados à 
apontar a probabilidade de praticar a pirataria do software e em qual dos dois eles 
consideravam estar causando maior prejuízo ao fornecedor. A fim de validar o instrumento de 
coleta de dados, o questionário foi submetido à análise de um especialista e a um pré-teste 
com 10 universitários de uma universidade pública federal em um Estado do Nordeste, em 
cada uma destas fases alguns ajustes foram realizados. Sendo em seguida aplicado com 200 
universitários de instituições de ensino superior particular do mesmo estado. 
Para o foco deste estudo entrevistas com estudantes universitários na opinião de 
Broekemier, Seshadri e Nelson (1998), Al-Rafee e Croman (2006) e Coyle. et al (2009) são 
adequadas tendo em vista que tal amostra apresenta tendências para piratear sotfware. Estes, 
em geral, se deparam com dificuldades em identificar a pirataria digital como uma prática que 
envolve conteúdo ético (JONES apud PHAU; NG, 2009). 
 
7 
 
5.2 Procedimentos de Análise dos Dados 
 
Os procedimentos estatísticos para os dados coletados foram de três tipos: 1) análises 
exploratórias preliminares; 2) descrição da amostra; 3) teste qui-quadrado; 4) análise da 
estatística descritiva e 5) análise de correlação. Os quatro últimos procedimentos foram 
desenvolvidos com o apoio do programa estatístico SPSS versão 18. 
A avaliação exploratória preliminar consistiu na análise dos dados coletados a fim de 
identificar e corrigir eventuais dificuldades, procurando a existência de valores perdidos 
(missing values) e possíveis ações de correção e de observações atípicas (outliers) e suas 
possíveis decisões.Essas verificações não indicaram a exclusão de nenhuma entrada. A 
descrição da amostra foi baseada na freqüência dos dados das variáveis demográficas e sócio-
econômicas. O teste qui-quadrado foi realizado a fim de verificar a associações entre as 
variáveis gênero e renda e três dimensões de comportamentos antiéticos (Percepção de 
benefício ativo da ação ilegal, Benefício passivo de ação de atividade ilegal, Ação 
questionável, mas legal). A análise da estatística descritiva foi feita para sumarizar as 
informações do comportamento ético geral, da atitude e da intenção de piratear. 
 
6 Análise e Discussão dos Dados 
 
6.1. Perfil da Amostra 
 
A amostra foi formada por 50% do gênero masculino e 50% do gênero feminino. Com 
relação à idade, houve uma predominância de respondentes jovens (45% representam a faixa 
de 20 até 25 anos), coerente com a afirmação de Gupta, Gould e Pola, (2004) quanto mais 
jovem for o indivíduo maior a probabilidade de piratear. Com relação à renda, 67% dos 
respondentes disseram ter uma renda familiar mensal acima de R$ 3.000,00. Esse resultado se 
aproxima da realidade dos estudantes das universidades particulares, fortalecendo assim sua 
adequação ao estudo. 
O gênero é uma variável que está significativamente relacionada à intenção de piratear 
software (KWONG et al, 2003). Por exemplo, Swaidan, Rawwas e Al-Khatib (2004) 
encontraram diferenças entre os gêneros em relação à atividade ilegal. Sendo assim, a 
pesquisa analisou a associação entre o gênero e três dimensões que estão relacionadas com 
comportamentos antiéticos do consumidor para piratear, são elas: Percepção de benefício 
ativo da ação ilegal, Benefício passivo de ação de atividade ilegal, Ação questionável, mas 
legal. Para isso, foi realizada uma análise qui-quadrado para verificar a associação entre o 
gênero a cada uma das três dimensões. Os resultados mostram que as três dimensões não 
variaram de acordo com o gênero, apresentando, respectivamente, p-valor = 0.818, p-valor = 
0.118, p-valor = 0.147. Isso significa que, para a amostra estudada, não há diferença entre os 
gêneros em relação à pirataria, contrariando o estudo de Kwong et al. (2003) e Ang et al. 
(2001) em que os homens apresentam mais propensão em piratear do que as mulheres. 
Contudo, Cronan e Al-Rafee (2007) encontraram que ambos os gêneros sentem que piratear 
não é certo, não havendo assim diferença entre eles. 
Segundo Nill e Shultz II (2009) para muitos consumidores de países menos 
desenvolvidos o preço do software legítimo leva a uma mais alta motivação para piratear, 
sendo assim, o software pirata, embora ilegal, fornece uma alternativa para os mesmos. Logo, 
a fim de analisar a relação entre renda e as três dimensões antiéticas acima destacadas 
observou-se que elas também não variam de acordo com a renda, apresentando, 
respectivamente, p-valor = 0.299, p-valor = 0.813, p-valor = 0.517. 
 
 
 
8 
 
6.2. Análise da Estatística Descritiva 
 
No intuito de sumarizar as informações do comportamento ético geral, da atitude e da 
intenção de piratear, foi realizada uma análise estatística descritiva, conforme mostra a Tabela 
1 
 
 Tabela 1 – Estatística descritiva 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: Dados da pesquisa 
 
 
Na Tabela 1 as sete primeiras linhas apresentam as médias e desvios padrões das sete 
dimensões que formam o construto comportamento ético geral do consumidor (Benefício 
ativo de ação ilegal; Benefício passivo de ação ilegal; Ação questionável, mas legal; Nem 
prejudica e nem polui; Comportamento ético associado a software; Comportamento ético 
ativo de reciclagem; Comportamento ético de realizar o bem). Em seguida estão às médias e 
desvios padrões dos outros dois construtos analisados “atitude em relação à pirataria de 
software” e “intenção de piratear”. 
Para a dimensão “Nem prejudica e nem polui”, que na escala original possui cinco 
itens, entendemos que três deles, estavam relacionados à utilização de software, e procedemos 
à realocação destes para a dimensão “Comportamento ético associado a software”. Neste 
sentido, a dimensão “Nem prejudica e nem polui” foi mensurada por apenas dois itens. 
As médias de 1.51 para a dimensão “Benefício ativo de ação ilegal” e de 1.94 para 
“Beneficio passivo de ação ilegal” indicam que de uma maneira geral a amostra considera que 
se beneficiar tanto ativamente quanto passivamente de uma ação ilegal é errado. Já para as 
dimensões “Ação questionável, mas legal” (média 3.51) e “Nem prejudica e nem polui” 
(média 3.37) ficaram entre as variações mais ou menos e acredita-se que isto é certo, 
sugerindo que os itens relacionados corroboram para que não haja um sentido claro por parte 
dos respondentes em categorizá-los como comportamento ético ou antiético confirmando a 
tendência da classificação destes itens nos construtos comentados pelos autores Vitell e 
Muncy (2005), apesar da dimensão “Ação questionável, mas legal” caminhar em sentido ao 
comportamento antiético. 
 A média 2.90, relativa à dimensão “Comportamento ético associado a software”, 
demonstra que os entrevistados não possuem bem definido se as ações relacionadas à pirataria 
digital devem ser classificadas como comportamentos éticos ou antiéticos, evidenciando a 
falta de posicionamento dos mesmos. As médias das dimensões Comportamento ético ativo 
de reciclagem (3.51) e de realizar o bem (3.90) ficaram entre as variações mais ou menos e 
acredito que isto é certo, demonstrando outra vez a imprecisão quanto ao comportamento 
Dimensões e Construtos Média Desvio padrão 
Beneficio ativo de ação ilegal 1,5130 ,60536 
Benefício passivo de ação ilegal 1,9475 ,67944 
Ação questionável, mas legal 3,5138 ,66319 
Nem prejudica e nem polui 3,3725 1,14742 
Comportamento ético associado a software (download) 2,9020 ,83900 
Comportamento ético ativo de reciclagem 3,5138 ,66319 
Comportamento ético de realizar o bem 3,9088 ,75279 
Atitude 2,5550 ,95894 
Intenção de piratear 3,0150 1,04534 
 
9 
 
ético dos entrevistados, apesar da tendência no sentido de uma conduta ética para a dimensão 
Comportamento ético de realizar o bem. 
No construto “atitude”, mensurado através da escala Likert com variação entre 1 
(discordo totalmente) a 5 (concordo totalmente), a média de 2.55 sugere que os respondentes 
da amostra, apesar de apresentarem disposição ética, tendem a uma posição indefinida no 
sentido da atitude em piratear ou não o software. Este resultado permite uma relação com a 
média da dimensão “Comportamento ético associado a software”, que também apresentou 
uma posição intermediária. 
O construto “intenção de piratear” foi mensurado através dos cenários A e B e 
apresentou media de 3.01 corroborando que a probabilidade dos entrevistados de baixarem 
software sem pagar ficou em meio termo indicando, novamente, que diante das situações 
apresentadas nos cenários não há uma posição definida em relação à intenção de piratear. 
 
6.3. Análise de Correlação 
 
Para medir o grau em que existe uma associação linear entre as dimensões que 
formam o construto de comportamento ético geral, atitude para piratear e intenção de piratear, 
foi realizada uma análise de correlação. Os resultados mostram os valores das correlações de 
Pearson e as significâncias dos construtos “atitude”, “intenção” e das sete dimensões que 
formam o “comportamento ético geral do consumidor”. 
 
Tabela 2. Análise da correlação entre as dimensões que forma o construto “comportamento ético” e os 
construtos “atitude para piratear” e “intenção de piratear” 
 
Dimensões e construtos Atitude para piratear Intenção de piratear
P ,221** ,189**Beneficio ativo de ação ilegal Significância ,002 ,007
P ,281** ,274**
Benefício passivo de ação de atividade ilegal Significância ,000 ,000
P ,025 -,066
Ação questionável, mas legal Significância,729 ,350
P ,211** ,212**
Nem prejudica e nem polui Significância ,003 ,003
P ,588** ,258**
Comportamento ético associado a software Significância ,000 ,000
P ,025 -,066
Comportamento ético ativo de reciclagem Significância ,729 ,350
P -,077 -,085
Comportamento ético de realizar o bem Significância ,276 ,230
P ,169* ----Intenção de piratear 
Significância ,017 
Fonte: Dados da Pesquisa 
 
De acordo com os resultados mostrados na Tabela 2, observa-se que, ao grau de 
significância α = 0.05, apenas três dimensões do comportamento ético evidenciam não 
mostrar associação significativa com a atitude, são elas: Ação questionável, mas legal (0.025; 
p-valor = 0.729), Comportamento ético ativo de reciclagem (0.025; p-valor = 0.729), 
Comportamento ético de realizar o bem (-0.077; p-valor = 0.276). Esses resultados já eram 
esperados, uma vez que tais dimensões estão associadas com comportamentos éticos, o que 
 
10 
 
leva ao usuário a não apresentar uma atitude em relação ao ato de piratear, assim, esses 
resultados estão de acordo com o estudo de Vitell e Muncy (2005). 
As demais dimensões evidenciam grau de associação significante com a atitude, com 
p-valor < 0.05. A maior correlação apresentada se refere à dimensão “Comportamento ético 
associado a software” (0.588; p-valor = 0.000), significando que, no geral, a amostra 
apresenta um comportamento ético associado a software em relação à atitude para piratear. 
Foram encontrados pesquisas com resultados semelhantes, que mostram a associação 
significativa entre atitude e comportamento (AL-RAFEE; CRONAN, 2006; GUPTA; 
COULD; POLA, 2004). 
A dimensão do comportamento ético geral que evidenciou menor grau de associação 
com a atitude foi a “Nem prejudica e nem polui” (0.211; p-valor = 0.003). Esse resultado já 
era esperado, uma vez que a mesma é apresentada nos itens de Vitell e Muncy (2005) como 
uma dimensão neutra, sendo assim, confirmadas nessa pesquisa. 
Os resultados do estudo corroboram a afirmação de Al-Rafee e Cronan (2006) de que 
a atitude é um fator significante que influencia a intenção, pois evidenciam uma correlação 
significante (0.017<0.05) entre a intenção de piratear e a atitude. Essa associação não é forte, 
mas é significativa, uma vez que quanto mais o indivíduo acreditar que o ato de piratear é 
uma atividade correta mais positiva será sua atitude com relação a esta prática. 
Analisando a associação entre o construto “Intenção de piratear” e as sete dimensões 
que formam o construto de “Comportamento ético geral”, observa-se que, ao nível de 
significância α = 0.05, três dimensões não estão significativamente associadas com a intenção 
de piratear, são elas: “Ação questionável, mas legal” (-0.066; p-valor = 0.350), 
“Comportamento ético ativo de reciclagem” (-0.066; p-valor = 0.350) e “Comportamento 
ético de realizar o bem” (-0.085; p-valor = 0.230). Embora não tenhamos encontrado estudos 
que reforcem essas associações, curiosamente os resultados vêm de encontro a uma 
expectativa lógica de que o indivíduo que tem um comportamento ético positivo terá uma 
intenção negativa para piratear. 
As demais dimensões demonstraram um grau de associação significante com a 
intenção de piratear, com p-valor < 0.05. A maior correlação apresentada se refere à dimensão 
“Benefício passivo de ação de atividade ilegal” (0.274; p-valor = 0.000), apontando que é 
mais fácil os indivíduos agirem ilegalmente de forma passiva, porque assim sua sensação de 
culpa é reduzida. Essa dimensão está relacionada à percepção de prejuízo que é causado a 
terceiros, especialmente em situações de pirataria digital, onde é possível haver o 
distanciamento entre quem prejudica pirateando e quem é prejudicado (HINDUJA, 2003; 
NUNES; HSEE; WEBER, 2004). Essa mesma justificativa explica o fato da dimensão 
“Beneficio ativo de ação ilegal” ter evidenciado menor grau de associação com a intenção de 
piratear (correlação de 0.189 com p-valor = 0.007). 
 
7 Considerações Finais 
 
Estudos sobre comportamentos éticos têm recebido a atenção de diversos estudiosos 
que procuram analisar tais comportamentos sobre a perspectiva dos ofertantes de serviços e 
produtos e dos seus demandantes. São muitas as pesquisas que abordam o lado do ofertante na 
tentativa de que os seus resultados contribuam para a prestação de melhores serviços e 
produtos. Entretanto, a perspectiva do demandante ou do consumidor também deve ser 
analisada com atenção, uma vez que este stakeholder constitui um componente chave do 
sistema de troca em marketing e deixar de considerá-lo pode levar a um entendimento 
incompleto do processo (VITELL, 2003). 
Tendo em vista tais elementos, o estudo enfatizou o comportamento ético dos 
consumidores que adquirem softwares piratas. Estes produtos são considerados bens de 
 
11 
 
informação que em função da disseminação da Internet têm sido facilmente obtidos sem a 
autorização dos proprietários de seus direitos autorais. A decisão de adquirir estes produtos 
sem as devidas permissões pode estar relacionada a questões éticas tornando o seu estudo de 
grande importância. Assim, o objetivo desta pesquisa foi investigar a relação entre o 
comportamento ético geral do consumidor, a atitude com relação à pirataria e a intenção de 
piratear software. 
 No intuito de atender tal objetivo foram utilizadas diferentes escalas para a 
mensuração de cada construto. A amostra foi constituída de 200 estudantes universitários de 
instituições privadas situadas em uma capital do Nordeste. Os resultados da pesquisa 
identificaram que para as dimensões da escala de Muncy-Vitell que avaliaram 
comportamentos anti-éticos os entrevistados consideraram errado se beneficiar de ação ilegal 
tanto de forma ativa quanto passiva. Para as dimensões relativas à ação que é questionável, 
mas é legal e não prejudica, nem polui, a avaliação média se aproximou do ponto central da 
escala, o que era esperado já que os itens julgados provocam dúvidas por parte dos 
entrevistados quanto a seu conteúdo ético. As dimensões “comportamento ético ativo de 
reciclagem” e “comportamento ético” apontaram que os entrevistados acreditam que tais 
comportamentos são corretos. Já a dimensão que abordou o comportamento ético associado à 
pirataria de software obteve uma média de 2,9, que se aproxima muito do ponto médio da 
escala (3,0 – mais ou menos), indicando que não há uma posição bem definida quanto à 
classificação da pirataria de software como ética ou anti-ética. 
 Os construtos que mensuraram intenção e atitude com relação à pirataria de software 
seguiram a mesma tendência do comportamento ético, ou seja, demonstraram existir uma 
indefinição no posicionamento dos pesquisados quanto à avaliação ética de tais ações. 
Esses resultados sugerem que, na amostra pesquisada, o consumidor apresenta de uma 
forma geral uma tendência ao comportamento ético, embora em questões associadas à 
pirataria de software não haja uma tendência clara quanto à percepção de eticalidade 
envolvida. Talvez os entrevistados não estejam percebendo a existência de dilema ético em 
comportamentos relacionados à pirataria de software, o que corrobora com os estudos de 
alguns autores (GUPTA; GOULD; POLA, 2004). 
Possíveis explicações para esses resultados estão associadas à própria caracterização 
do software como um bem de informação, o que por si só carrega várias implicações: (1) as 
pessoas tendem a considerar menos grave o roubo de um produto digital que de um produto 
físico, o que acontece também por ser um crime geralmente anônimo (NILL; SHULTZ II, 
2009); (2) o uso do computador como ferramenta de distanciamento entre as partes envolvidas 
nessa relação de troca diminui ou mesmo elimina a sensação de culpa do consumidor de tal 
produto (PEACE; GALLETTA; THONG, 2003; AL-RAFEE; CRONAN, 2006); (3) a 
percepção de prejuízo também é diminuída em funçãoda intermediação do computador, pois 
quando o consumidor não sabe a quem o dano está sendo imputado, terá menos sensibilidade 
ao mesmo; (4) software é um bem de experiência, ou seja, o julgamento de valor pelo 
consumidor depende da sua experimentação, o que pode estimular de alguma forma a 
pirataria no sentido de que o indivíduo pirateie uma cópia como forma de testar se realmente 
vale a pena pagar pelo produto (CARVALHO, 2004); (5) a baixa percepção da probabilidade 
de ser pego e punido por piratear software, pode ser outro fator que favorece a falta de 
percepção dessa prática como ilegal e anti-ética, criando uma falsa ilusão da mesma ser 
aceitável do ponto de vista ético e até mesmo legal (GUPTA; GOULD; POLA, 2004; NILL; 
SHULTZ II, 2009; PEACE; GALLETTA; THONG, 2003; PHAU; NG, 2009; AL-RAFEE; 
CRONAN, 2006); e (6) bens intangíveis de intensa informação, como é o caso do software, 
convivem com o problema da “primeira cópia”, conforme Carvalho (2004), que se refere ao 
alto custo despendido para a produção da cópia original, enquanto que os custos das cópias 
adicionais são desprezíveis. A percepção dessa estrutura incomum de custos e ou de que o 
 
12 
 
valor cobrado pelos fornecedores de software é muito caro pode provocar em alguns 
consumidores indisposição de pagar altos valores para a obtenção do produto, favorecendo o 
fenômeno da pirataria digital (CARVALHO, 2004; PEACE; GALLETTA; THONG, 2003; 
KWONG et al, 2003). 
Em conseqüência destes aspectos, o modelo de negócios atual adotado para 
comercialização parece não ser adequado às especificidades do software, uma vez que sofre 
com as grandes perdas ocasionadas pela pirataria. Uma implicação importante deste fato é a 
necessidade de repensar novas práticas organizacionais que lidem de forma mais adequada 
com esse problema. 
Diversos estudos avaliam as influências entre os construtos “comportamento ético”, 
“atitude” e “intenção”, entretanto, o foco deste estudo apenas analisou a existência de 
correlações que existentes entre estes não verificando, assim, possíveis influências entre os 
mesmos. 
Outra limitação desta pesquisa relaciona-se ao uso teoria de Hunt-Vitell que embora 
seja adequada para descrever o processo de tomada de decisão ética e seja considerada a 
melhor alternativa para entender tais processos (THONG E YAP apud AL-RAFEE; 
CRONAN, 2006), seu modelo que é ilustrado através de um processo, é desencadeado apenas 
quando existe a percepção do dilema ético por parte do respondente na situação ou 
questionamento realizado. Talvez a utilização deste modelo não seja adequada para mensurar 
a dimensão relacionada a pirataria de software, uma vez que, os entrevistados pareceram não 
identificar um dilema ético em tais comportamentos. Desta forma, estudos complementares 
para verificar essas possíveis implicações e o uso de outros modelos para uma análise mais 
consistente a cerca desse fenômeno sejam necessários. 
 As contribuições deste estudo podem ser ordenadas em três: teórica, prática e 
educacional. Do ponto de vista teórico ele traz evidências de uma fraca sensibilidade dos 
consumidores da pirataria de software como uma prática anti-ética. No campo prático, os 
resultados do estudo apontam para a necessidade de repensar o formato de gestão de negócios 
que lidam com software, além de mostrar a necessidade de iniciativas governamentais e 
privadas que conscientizem os consumidores de que pirataria de software é ilegal e anti-ética, 
informando a sociedade sobre os problemas associados a questão. Já no âmbito educacional, 
este estudo reforça a importância de se educar o consumidor. Uma sugestão nesse sentido é de 
incorporar nas aulas de informática tempo para a educação concernente aos aspectos éticos no 
do uso do computador (HINDUJA, 2003). 
 
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