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104.Resistência

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RESISTÊNCIA 
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104.1 CONCEITO, OBJETIVIDADE JURÍDICA E SUJEITOS 
DO CRIME 
A resistência está assim tipificada no art. 329 do Código Penal: “opor-se à execução 
de ato legal, mediante violência ou ameaça a funcionário competente para executá-lo ou 
a quem lhe esteja prestando auxílio”. A pena é detenção de dois meses a dois anos. 
O bem jurídico protegido é a Administração Pública, a autoridade e o prestígio da 
execução dos seus atos. 
Sujeito ativo é qualquer pessoa que realizar a conduta. Sujeito passivo é o Estado e 
também aquele, funcionário ou não, que sofrer a violência ou ameaça. 
 
104.2 TIPICIDADE 
O caput do art. 329 contém o tipo básico. No § 1º está a forma qualificada e o § 2º 
contém norma explicativa. 
 
104.2.1 Conduta, elementos objetivos e normativos 
A conduta incriminada é opor-se à execução de um ato. Quer dizer resistir à 
execução. Procurar evitar que o ato seja executado. A norma exige que a oposição se faça 
com o emprego de violência ou ameaça. 
Por violência deve-se entender as vias de fato ou lesões corporais. Note-se que a 
ameaça não precisa ser grave, porque a norma não a qualificou, podendo ser empregada 
por qualquer meio, verbal, escrito ou simbólico. 
2 – Direito Penal III – Ney Moura Teles 
 
A violência ou a ameaça, ou ambas, serão dirigidas contra o funcionário 
encarregado da execução do ato ao qual o agente se opõe ou ainda contra qualquer pessoa 
que estiver colaborando para sua execução. A resistência passiva, sem qualquer violência 
ou ameaça, não constitui crime. 
No tipo há dois elementos normativos indispensáveis para a caracterização do 
delito: o ato deve ser legal e o funcionário que o executa deve ser competente para tanto. 
O ato deve ser legal em sua forma e substância, bem assim deve ser legal a forma de 
sua execução. Deve ter emanado de autoridade competente, revestir a forma legal e ser 
executado com o uso de meios autorizados por lei. 
Se o agente opõe-se à execução de um ato ilegal ou que esteja sendo executado com 
inobservância dos preceitos legais, o fato será atípico. Se, igualmente, o funcionário que 
executa o ato, embora legal, não tem competência para tanto, a oposição será atípica. 
A norma refere-se a funcionário público no sentido estrito, não se aplicando a 
norma de extensão contida no art. 327 do Código Penal. 
 
104.2.2 Elementos subjetivos 
A resistência é crime doloso. O agente deve empregar a violência ou a ameaça, 
opondo-se à execução do ato, com consciência de que está se opondo à sua execução, e com 
a finalidade de impedir que ela se concretize. A consciência do agente deve abranger a 
licitude do ato, a qualidade do funcionário público e a sua competência. 
Se ele opõe-se à execução do ato por imaginar que se trata de ato ilegal ou que o 
executor não é funcionário público ou, sendo, não é o competente, o dolo restará excluído e 
com ele a tipicidade do fato, por inexistir previsão do tipo culposo. 
Doutrina e jurisprudência divergem sobre a exclusão da tipicidade no caso de estar 
o agente embriagado. A melhor posição é a de DAMÁSIO, para quem só haverá exclusão da 
tipicidade quando a embriaguez for daquelas que retiram, do agente, a capacidade de 
entender a ilicitude de seu comportamento. 
 
104.2.3 Consumação e tentativa 
Consuma-se o crime com o emprego, pelo agente, da violência ou da ameaça. É 
Resistência - 3 
 
delito formal. Não é, portanto, necessário que a execução do ato seja impedida ou 
interrompida. Basta a oposição violenta ou ameaçadora. 
A tentativa é possível, por exemplo, quando o agente é impedido de causar lesões 
corporais no funcionário ou em quem o auxilia. 
 
104.2.4 Forma qualificada 
O § 1º descreve a forma qualificada da resistência, sancionada com reclusão de um 
a três anos, se o ato não vier a ser executado em razão da conduta do agente. Só incidirá 
quando a resistência tiver sido eficaz para impedir a execução do ato, e não quando o 
funcionário, por pura cautela ou por falta de empenho, desistir de executá-lo. 
 
104.2.5 Concurso de crimes 
Determina expressamente o § 2º do art. 329 que as penas cominadas serão 
aplicadas sem prejuízo das penas correspondentes à violência. Assim, se a violência 
consiste em lesões corporais, leves, graves ou gravíssimas ou em homicídio, consumado ou 
tentado, o agente responderá em concurso material pelo delito de resistência pelo crime 
contra a pessoa. Vias de fato serão absorvidas pelo crime do art. 329. 
 
104.3 AÇÃO PENAL 
A ação penal é de iniciativa pública incondicionada. A competência, em relação ao 
tipo fundamental, do caput, é do juizado especial criminal. É possível a suspensão 
condicional do processo penal, mesmo na forma qualificada, desde que não haja concurso 
com outro crime contra a pessoa.

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