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O SIGNIFICADO DO TRABALHO Zilma Borges

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O significado do trabalho. Uma reflexão sobre a institucionalização 
do trabalho na empresa integrada e flexível 
Zilma Borges 
eGesta, v. 3, n. 1, jan.-mar./2007, p. 121-143 
 
eGesta - Revista Eletrônica de Gestão de Negócios - ISSN 1809-0079 
Mestrado em Gestão de Negócios - Universidade Católica de Santos 
Facultade de Ciencias Económicas e Empresariais - Universidade de Santiago de Compostela 
 
121 
O SIGNIFICADO DO TRABALHO 
UMA REFLEXÃO SOBRE A INSTITUCIONALIZAÇÃO 
DO TRABALHO NA EMPRESA INTEGRADA E FLEXÍVEL 
 
 
Zilma Borges 
 
 
Resumo 
 
O texto trata da relação entre o modelo de empresa integrada e 
flexível, e a questão do significado do trabalho na sociedade atual. 
Analisa inicialmente as experiências propiciadas aos agentes pela 
vivência da empresa industrial, e discute se há, dentro da experiência 
da empresa flexível, alterações importantes em elementos 
estruturantes do significado do trabalho. Utiliza o conceito de 
trabalho de Hannah Arendt como base para análise do significado a 
partir das relações instituídas pelas propostas do novo modelo 
organizacional. O texto discute também a questão da centralidade do 
trabalho na sociedade contemporânea e os produtos valorizados pelos 
trabalhadores como resultantes das relações de trabalho. Finaliza com 
um questionamento sobre a ética do trabalho numa sociedade que 
revalorizou o trabalho, mas o fez, privilegiando certos aspectos, 
enquanto descartou características essenciais do trabalho para a 
possibilidade de vivência de um trabalho significativo. 
 
 
Palavras-chave 
 
Significado do Trabalho; Relações de trabalho; Ética 
 
Abstract 
 
This article deals with the relationship among the integrated and 
flexible firm model and the work meaning issue in the nowadays 
society. Firstly, it is analyzed industrial firms agents experiences and it 
is discussed if there is, on a flexible firm experience, relevant changes 
on the work meaning structuring elements. It analyzes this meaning, 
regarding the new organization model established relationships, based 
upon the Hanna Arendt´s work concept. It is also approached the work 
centrality issue on the nowadays society and the products valued by 
the workers as work relationship results. The article ends up with a 
discussion about the work ethics in a society that valued the work, but 
in a partial way, i.e., enhancing some issues, at the same time that 
discharged the essential work characteristics that enables the 
possibility of living a significant work. 
 
Keywords 
 
Work Meaning; Work Relationships; Ethics 
 
O significado do trabalho. Uma reflexão sobre a institucionalização 
do trabalho na empresa integrada e flexível 
Zilma Borges 
eGesta, v. 3, n. 1, jan.-mar./2007, p. 121-143 
 
eGesta - Revista Eletrônica de Gestão de Negócios - ISSN 1809-0079 
Mestrado em Gestão de Negócios - Universidade Católica de Santos 
Facultade de Ciencias Económicas e Empresariais - Universidade de Santiago de Compostela 
 
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O SIGNIFICADO DO TRABALHO 
UMA REFLEXÃO SOBRE A INSTITUCIONALIZAÇÃO 
DO TRABALHO NA EMPRESA INTEGRADA E FLEXÍVEL 
 
 
Zilma Borges 
 
 
 
O significado do trabalho 
 
 
O significado do trabalho inspira uma percepção particularizada, originada da 
experiência do sujeito e, ao mesmo tempo, uma percepção socialmente construída. A vivência 
cotidiana dos sujeitos constitui a base sobre a qual eles constroem suas percepções e 
conhecimentos acerca do mundo que os cerca. Tal construção, embora de base individual, é 
um processo eminentemente social, por se dar no interior de um conjunto partilhado de 
crenças, valores e significados que definem o contexto cultural no qual interações entre 
indivíduos e grupos ocorrem (BASTOS,1995). A consequência dessa construção na vida do 
indivíduo também apresenta duas dimensões: um reconhecimento do sujeito no mundo 
externo a ele e a mobilização da vida psíquica individual para a vida em sociedade. 
 
Nessa produção, esse sujeito se reconhece, se realiza e se apresenta à 
sociedade, produzindo, portanto, não só objetos, mas uma condição que é 
efetivamente sua. Por representar essa trajetória, o trabalho possui um 
significado que perpassa a estrutura sócio-econômica, a cultura, as 
necessidades, os valores e a subjetividade daquele que trabalha 
(TITONI,1994:12). 
 
Podemos observar nesta construção da autora, elementos que caracterizam não só uma 
“condição” própria e particularizada do trabalho para o indivíduo, além do “resultado 
materializado” e concreto da sua tarefa, mas também uma atividade de vital importância para 
o desenvolvimento da sociedade e do processo de criação da identidade individual. 
Estas expectativas abrangentes acerca do que o trabalho pode propiciar ao homem 
desenvolveram-se fortemente na era industrial tanto no senso comum, quanto em 
conceituações teóricas que fundamentam as análises e propostas acerca do seu papel ainda 
hoje. (Marx 1867, Braverman 1987, Arendt 1958, Friedmann 1965, Gorz 1973). 
O significado do trabalho. Uma reflexão sobre a institucionalização 
do trabalho na empresa integrada e flexível 
Zilma Borges 
eGesta, v. 3, n. 1, jan.-mar./2007, p. 121-143 
 
eGesta - Revista Eletrônica de Gestão de Negócios - ISSN 1809-0079 
Mestrado em Gestão de Negócios - Universidade Católica de Santos 
Facultade de Ciencias Económicas e Empresariais - Universidade de Santiago de Compostela 
 
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Na era industrial a caracterização do trabalho como força produtiva e base da geração de 
valor ajudou a reabilitar o valor positivo deste na sociedade. De atividade equivalente a 
penalização, dor e esforço, com uma forte representação negativa, 
 
para a mais valorizada das atividades humanas, quando Locke descobriu que o 
trabalho era a fonte de toda a propriedade. Seguiu seu curso quando Adam 
Smith afirmou que o trabalho era a fonte de toda a riqueza, e alcançou seu 
ponto culminante em Marx onde o trabalho passou a ser a fonte de toda a 
produtividade e expressão da própria humanidade do homem (DE 
DECCA,1982:08). 
 
Paradoxalmente, no final do século XVIII com o início da era Industrial, o capitalismo 
cumpriu o papel de revalorização da importância social do trabalho, ao mesmo tempo em que 
destruia o significado anterior inerente a este. (VOUTYRAS,1980). A noção de que cada 
indivíduo teria direito a ganhar sua vida através do trabalho foi sedimentada pelo pensamento 
social da época e regulada por lei. Mas, o que começa a se estabelecer na concepção que 
ganha corpo vai além do papel de atendimento às necessidades de subsistência. No 
pensamento social do início do século XIX, seu exercício era defendido também como 
oportunidade de ação criativa e emancipação humana ligados ainda a um caráter de 
significação da vida (VOUTYRAS,1980). 
O que vemos a seguir é que nunca como na era industrial o trabalho tomou tanto o 
espaço da vida. Na verdade, passou a ter quase a mesma importância do significado da vida, 
na medida em que passou a ocupar a maior parte do seu tempo e que um novo mundo foi 
criado pelo espaço social necessário para lhe dar suporte (BAXTER,1982). 
Assim, as novas necessidades e condições criadas pela sociabilidade própria da 
indústria, além de desenvolverem novas relações sociais de trabalho, generalizaram-se fora 
deste, na vida como um todo. No entanto, aspectos relacionados às abordagens clássica e 
humanista do trabalho, originados das civilizações grega e romana e da tradição cristã 
permaneceram sedimentados na ideologia do trabalho e no significado que o homem atribui a 
este (ANTHONY,1980). Um eixo dessa ideologia possui uma noção de dever bastante 
representativa, assumindo um caráter religioso de força redentora, e sinônimo de dignidade ou 
vergonha quando da impossibilidadede exercitar o papel social de trabalhador. Embora 
possuidor de um sentido de dignidade e respeito, essa concepção possui uma forte carga 
negativa associada a penas e sofrimento. Um caráter ampliado pelo cristianismo que valoriza 
O significado do trabalho. Uma reflexão sobre a institucionalização 
do trabalho na empresa integrada e flexível 
Zilma Borges 
eGesta, v. 3, n. 1, jan.-mar./2007, p. 121-143 
 
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o trabalho como um esforço e forma de se abster do risco do pecado, capaz ainda de redimir 
o homem pelo sofrimento exigido para sua realização (ARENDT,1999). É notadamente um 
caráter punitivo, reformador de alguma condição ruim que o sujeito tenha praticado. 
A religião cristã ajudou a reabilitar em parte a importância do trabalho disseminando 
uma nova visão: a de redenção e vida através do trabalho e a valorização da vida terrena como 
forma de atingir o prêmio da vida eterna venturosa.(VOUTYRAS,1980; ARENDT,1999). 
O movimento mais definitivo em termos de transformação da ética vinculada ao 
trabalho e do papel que este representou para a sociedade foi o processo de acumulação de 
riqueza instituída pelo sistema de produção de mercadorias. A relação do espaço foi 
totalmente modificada, ao se transferir para dentro de empresas grandes massas de indivíduos 
que tiveram que se adequar à forma como as atividades passaram a ser organizadas e 
gerenciadas. A operacionalização da produção passa a funcionar em outro ritmo e tempo que 
é imposto aos empregados. As novas formas de relações sociais criadas neste ambiente 
pressupunham a necessidade de “extrair de seus empregados a conduta diária que melhor 
serviria a interesses do empregador.” A imposição da vontade deste era considerada 
necessária e o controle a base fundamental do sistema. “Tradição, sentimento e orgulho 
desempenham papel cada vez menor, não havendo interesse pessoal no êxito da empresa a 
não ser na medida em que permitisse um meio de vida” (BRAVERMAN,1987:68). 
A partir deste ponto não se pode mais encará-lo sob um ponto de vista técnico, como 
simples modo de trabalho, mas sim como forma organizada de utilização da força de trabalho. 
Esse modelo gerou a revolução mais profunda e generalizada da era moderna 
(MALVEZZI,1995; BRAVERMAN,1987). 
 
O modelo industrial neutralizou a potencialidade humana de programar seu 
próprio destino. Foram-lhe dificultadas as possibilidades de escolha, pela 
imposição de tarefas e carreira, foi-lhe controlado o acesso aos meios de 
realização, pelo controle sobre seu corpo e seu tempo, pelo enfraquecimento 
de seu poder de barganha ... e pela sua sujeição a uma articulação racional de 
tarefas e propósitos sob o controle do gerenciamento” (MALVEZZI,1995:20) 
 
Outra consequência inerente à alienação pelo trabalho dividido e parcelado é a 
destruição ou diminuição do sentido deste, na medida em que é exercido sem um propósito 
para o sujeito. A relação que o indivíduo consegue estabelecer com o resultado do que realiza 
O significado do trabalho. Uma reflexão sobre a institucionalização 
do trabalho na empresa integrada e flexível 
Zilma Borges 
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é praticamente nula e o julgamento da utilidade e valor do produto final é feito por outros 
(ANTHONY,1980). 
Como consequência dos fenômenos globais e das mudanças nas formas e relações de 
trabalho, diversas discussões tem sido desenvolvidas acerca do papel do trabalho na 
sociedade. ( Coriat 1999, De Masi 1999, Castells 1999, Rifkin 1996, Reich 1994, Antunes 
1999). 
A questão central que discutimos neste texto é se o problema maior é a perda da 
centralidade do trabalho ou a mudança deste significado para o homem e de que se trata esta 
mudança. 
Ao optar por retratar a experiência propiciada pelo trabalho na época industrial, a partir 
da concepção de Vida Ativa elucidada por Arendt, estamos considerando a qualidade deste 
conceito como definidor das manifestações humanas que projetam o agente no mundo. O 
esclarecimento das diferenças entre a experiência proporcionada pelo labor e pelo trabalho 
traz elementos que possibilitam visualizar a inter-relação e transversalidade de aspectos 
responsáveis pela construção de uma vida significativa. Essa distinção não nos interessa como 
uma forma de definir simplesmente as atividades humanas, mas analisar o impacto causado 
pela introdução do labor na esfera pública através do trabalho. 
Analisamos a seguir, a configuração do trabalho explicada pelos conceitos “labor e 
trabalho” na perspectiva de Hannah Arendt e fazemos uma discussão das qualidades e 
desvios da centralidade alcançada pelo “labor” no mundo contemporâneo e a sua relação com 
uma vida dotada de significado para o indivíduo. 
 
Consequências da institucionalização do trabalho no modelo 
de empresa industrial para a relação homem/trabalho 
 
Segundo Malvezzi, a potencialidade para o trabalho constitui-se numa gama de recursos 
por meio dos quais o ser humano domina e transforma a natureza para a realização de seus 
propósitos (MALVEZZI,1988). Dessa forma, através da aplicação de suas capacidades 
através do trabalho, o indivíduo atende à realização de sua própria “condição ontológica” de 
“ser indeterminado que se caracteriza pela ausência de programação psicobiológica, como 
constatada nas plantas e nos animais. Esta condição revela que o ser humano depende de seus 
O significado do trabalho. Uma reflexão sobre a institucionalização 
do trabalho na empresa integrada e flexível 
Zilma Borges 
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propósitos e de sua interação com a natureza para materializar sua indeterminância” 
(MALVEZZI,1988:252). 
 Dessa maneira, ao atuar sobre o mundo através do trabalho, o homem está 
exercendo um movimento de autoprodução, utilização de capacidades vitais, superação de 
condições humanas restritivas, e neste processo, criação de novas condições reguladoras de 
sua vida. Decorrentes desta experiência, faculdades e capacidades diversas podem ser 
exercitadas ou suprimidas para todos ou parte dos homens. 
A análise detalhada desenvolvida por Arendt demonstra o que significou para os 
próprios trabalhadores tornarem-se parte de uma sociedade de empregados e quais foram as 
capacidades humanas experimentadas através desta centralidade do trabalho em suas vidas. 
As experiências humanas correspondentes às atividades do labor e do trabalho são 
aquelas que traduzem as condições inerentes a todo ser humano, relacionadas ao “fazer e a 
manifestações concretas no mundo”, caracterizadas como “Vida Ativa”. O campo de ação 
experienciado no desempenho destas atividades difere das manifestações da “Vida 
Contemplativa” que compreende uma esfera ligada à experiência com o “eterno” em 
contraponto à condição de “mortalidade” e consequente busca de imortalidade inerente à Vida 
Ativa. (ARENDT,1999:17) 
A experiência humana decorrente do labor que o homem realiza é assinalada pela 
necessidade e concomitante impermanência do processo biológico do qual deriva,uma vez 
que é algo que se consome no próprio metabolismo, individual e coletivo. A condição humana 
que requer o labor é a própria vida e as atividades desenvolvidas neste campo são aquelas que 
atendem às necessidades do processo biológico do corpo humano e garantem a vida da 
espécie. 
A experiência humana decorrente do trabalho é a da produção, que converte o mundo 
num espaço de objetos partilhados pelos homens. A condição humana do “trabalho” é a 
mundanidade e o seu produto imprime durabilidade e permanência à vida mortal. 
 Arendt parte de uma análise da “Condição Humana”, à luz das mudanças que estavam 
ocorrendo no final do século XIX e início do século XX, tendo como um dos elementos 
centrais de análise a forma como o trabalho se institucionalizou na empresa industrial. O 
ponto culminante do estudo são as alterações impressas pelo próprio homem no âmbito 
O significado do trabalho. Uma reflexão sobre a institucionalização 
do trabalho na empresa integrada e flexível 
Zilma Borges 
eGesta, v. 3, n. 1, jan.-mar./2007, p. 121-143 
 
eGesta - Revista Eletrônica de Gestão de Negócios - ISSN 1809-0079 
Mestrado em Gestão de Negócios - Universidade Católica de Santos 
Facultade de Ciencias Económicas e Empresariais - Universidade de Santiago de Compostela 
 
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privado e público, ao interferir com as imposições e possibilidades advindas das condições 
humanas essenciais e construir a esfera social através da convivência pública. 
Segundo Arendt (1999), a formulação do conceito de trabalho na sociedade industrial 
inclui inicialmente a passagem do labor para a esfera pública. Essa passagem significou a 
introdução de atividades e preocupações que eram próprias da privatividade do lar, para o 
convívio geral. As tarefas relacionadas ao “labor” estavam restritas à economia doméstica, à 
subsistência individual e da família sendo inerente a estas uma preocupação central com a 
privatividade e uma atividade circular para a manutenção constante, já que atendem a 
necessidades que estão todo o tempo se reapresentando. 
A preocupação fundamental da produtividade do “labor” são os meios da sua própria 
reprodução, podendo ainda ser utilizada para a reprodução de mais um processo vital, mas 
nunca produzindo outra coisa, senão vida. Dessa forma, o labor de alguns pode então ser 
suficiente para a vida de todos, mas uma vida marcada pelo caráter da futilidade, do imediato, 
enquanto o sentido de “permanência” que a comunidade precisa proporcionar às coisas está 
assentada na não destruição pelo tempo, para que estas transcendam da sua própria vida para 
outras gerações. 
A publicização das atividades e preocupações do “labor” trouxe consigo os elementos 
inerentes à realização das atividades características desta esfera para o domínio público. 
“Assim, através da sociedade, o próprio processo da vida foi, de uma forma ou de outra, 
canalizado para a esfera pública” (Arendt,1999:56). 
Como indicação de que a sociedade tornou-se a constituição pública do próprio 
processo vital podemos observar o fato de que em tempo relativamente curto, a nova esfera 
social transformou todas as comunidades modernas em sociedades de operários e 
assalariados. Esta transformação tem como fundamento uma conformação social que já 
discutimos anteriormente em que os seus membros considerem o que fazem, primordialmente 
como maneira de garantir a sua subsistência e a de sua família. 
Assim, assumir dentro da sociedade a necessidade de exercer alguma atividade para 
garantir sua sobrevivência é uma condição de dependência que passa a ser comum para boa 
parte da população. 
Todo este movimento faz parte de uma maior e profunda alteração pela qual passou a 
organização da sociedade em geral, e que resultou na “extinção das maiores contradições 
O significado do trabalho. Uma reflexão sobre a institucionalização 
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entre o privado e o público pela submersão destas na esfera social, onde a esfera pública se 
tornou função da esfera privada, passando esta a ser a preocupação comum que sobreviveu” 
(Arendt,1999:79). Na verdade, a evolução histórica que tirou o labor de seu esconderijo e o 
conduziu à esfera pública, onde pôde ser organizado e dividido, constituiu poderoso 
argumento para a conformação de uma sociedade onde o principal eixo de interesses comuns 
aos seus membros é a vida particularizada de seus membros. 
Um segundo elemento fundamental para a importância adquirida pelo trabalho na época 
industrial foi o conceito de processo que se tornou uma das alavancas da produtividade e 
acumulação de capital. Este caráter de “processo”, inerente ao “labor” e tomado como 
referência para a organização do trabalho, é resultante da fertilidade do metabolismo do 
homem com a natureza e decorrente da redundância natural do “labor power”, que seria a 
fonte da mais pura satisfação , onde “os homens podem participar prazerosamente, labutando 
e repousando, laborando e consumindo, com a mesma regularidade feliz e inintencional com 
que o dia segue a noite e a morte segue a vida” (ARENDT:1999:119). Estes sentimentos de 
felicidade estão ligados ao processo do labor, na medida em que são vivenciados durante o 
seu exercício, o que concretiza a ocorrência de um esforço e recompensa tão próximas quanto 
a produção e o consumo dos meios de subsistência. No entanto, é um tipo de necessidade 
imposta por uma condição comum à vida humana, que depende muito da intensidade pela 
qual a vida é experimentada, pois o alcance de felicidade através do processo de labor é 
restrito ao tempo imediato. Esta felicidade não é duradoura, não pode ser guardada como uma 
fonte inesgotável de boas coisas. 
A sua origem está no ciclo de esforço e regeneração e o rompimento deste ciclo é o 
fator chave gerador de sua não efetivação: uma sequência de pobreza e esforço contínuo ao 
invés de regeneração; ou uma vida isenta de esforço na qual o tédio toma o lugar da exaustão. 
O uso da força do labor ao ser trazida a público, organizada e dividida pela gerência 
científica, incluiu o aproveitamento e melhoria do caráter intrínseco de “processo” inerente ao 
labor, que conseguiu ser mantido e ao mesmo tempo liberado de sua recorrência circular, 
transformando-se em rápida evolução. Esta evolução remete-se ao aumento constante e 
acelerado da produtividade, resultante da organização, divisão e mecanização do trabalho. 
O significado do trabalho. Uma reflexão sobre a institucionalização 
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eGesta, v. 3, n. 1, jan.-mar./2007, p. 121-143 
 
eGesta - Revista Eletrônica de Gestão de Negócios - ISSN 1809-0079 
Mestrado em Gestão de Negócios - Universidade Católica de Santos 
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 O outro desvio do ciclo de esforço e regeneração próprio à condição humana da vida e 
à atividade do labor que o mantém, seria uma sequência de esforço sem a recompensa da 
regeneração necessária e do gozo equilibrado deste resultado. 
Arendt, em continuidade a esta avaliação, questiona se as possibilidades introduzidas 
pelo desenvolvimento da automação e substituição produtiva do homem em diversas tarefas 
técnicas poderiam conduzir a um estágio onde o esforço de consumir tomaria a maior parte 
do processo inerente ao ciclo biológico em cuja força motriz está ligadaa vida humana. A 
consequência prejudicial embutida nisto é que a diminuição do esforço neste ciclo deixa 
espaço para um aumento na proporção do consumo que é inerente ao mesmo processo. O que 
vemos hoje é que o consumo isento do esforço para atendimento à necessidade não diminui a 
propensão a consumir, inerente aos valores da sociedade de massas, que pelo contrário, 
aumenta esse desejo. 
O padrão de acumulação do capital, que foi reforçado pelo intenso aproveitamento da 
mais-valia, também resultou na produção de bens de qualidade durável e para consumo, em 
quantidade adequada ao impulso de consumo que o modelo econômico de produção de 
riqueza requeria. 
O fato de que os objetos de consumo se tornem mais refinados faz com que o motivo 
principal deste não sejam as necessidades da vida, característica do homem “animal 
laborans”, mas objetos mais supérfluos. Toda a produtividade humana estaria disponível ao 
dinamismo de um processo vital intensificado que seguiria o seu ciclo natural eternamente 
repetido e à capacidade vivificadora do labor como experiência básica da condição humana 
estaria comprometida. 
As atividades relacionadas ao “trabalho”, concebido como a atividade produtora de 
coisas de uso, foram então acrescidas pela produtividade do “labor” e pelas inovações 
tecnológicas que sustentavam este processo, mas não se conseguiu manter uma das maiores 
contribuições que a experiência da atividade “trabalho” propiciava ao homem: a execução de 
uma atividade com início e fim definidos que proporcionava uma relação com a obra feita. 
Esta é a característica central da experiência do homo–faber, o homem que fabrica coisas e 
que, através da sua atividade realizada sobre o mundo, gera produtos que emprestam 
durabilidade e permanência à vida mortal. Esta característica configura também um sentido 
para a ação humana que transcende o imediato e está ligado a um todo, onde o agente não 
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está só, nem o sentido de sua ação esgota-se nela mesma (SANTI,1998). Deste ponto de 
vista, a durabilidade das coisas garante uma objetividade que é um contraponto à 
subjetividade dos homens. 
A produtividade do trabalho, seu resultado por assim dizer, é a criação de um mundo 
que se destina a sobreviver e transcender todas as vidas individuais e é o contrário da 
produtividade do labor, que acrescenta novos objetos ao mundo. 
A contribuição da experiência do “trabalho” para o homem tem uma função de 
construção de significados, na medida em que a existência de um mundo de coisas entre estes 
cumpre um papel de identificação e criação de relação entre os homens. Assim, conviver no 
mundo inclui a mediação pelos objetos interpostos entre os que nele habitam em comum 
(ARENDT,1999). Coisas que ao mesmo tempo separam e estabelecem associações entre os 
indivíduos, podendo produzir segurança e confiança num processo de diferenciação e criação 
da identidade individual. 
O processo da fabricação, a experiência do homo faber, é definida por uma relação 
meios x fins e a confiabilidade da atividade do trabalho reside no “fato de que a imagem ou o 
modelo cuja forma orienta o processo de fabricação não apenas o precede, mas não 
desaparece depois de terminado o produto”. Além deste aspecto de continuidade, de 
referência, a confiabilidade e o processo de criação da identidade são vinculados à 
característica de “meios e fins” inerentes ao processo da produção que, diferentemente do 
caráter cíclico do “labor”, tem o produto em si, como resultado, que corresponde a um 
projeto, a uma proposta idealizada. 
A transformação do processo do trabalho a partir da industrialização e a introdução do 
princípio da divisão do trabalho alteraram a natureza deste.Neste sentido, os ideais do homo 
faber, fabricante do mundo, que são a permanência, a estabilidade e a durabilidade, foram 
sacrificados em benefício da abundância, que é o ideal do animal laborans. 
Essa conjunção é parte das condições que definem a vivência do “trabalho abstrato” e 
alienado, o trabalho morto, que se fortificou com a organização do processo de trabalho 
industrial. “ O modelo industrial de trabalho, tal como desenhado pelo paradigma da 
administração científica, instituiu uma relação entre o ser humano e o trabalho que dificultou 
a utilização de seu potencial de atividade laboriosa na realização de sua condição ontológica” 
(MALVEZZI,1995:19). 
O significado do trabalho. Uma reflexão sobre a institucionalização 
do trabalho na empresa integrada e flexível 
Zilma Borges 
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 A instauração do “labor” como atividade dominante na esfera pública descartou as 
mais importantes manifestações propiciadas pela atuação do homem neste campo. Ou seja, o 
labor tornado público não experimentou as características básicas relativas das experiências 
do homem vividas em comum com os demais. Ocorreu de fato, outro fenômeno de grande 
impacto - a privatividade invadindo através do consumo o espaço que uma vivência política 
traria na construção de um mundo comum. Essa centralização da “privatividade”, tornou-se a 
fonte primeira de preocupações e motivações humanas. As comunidades se concentraram em 
torno da única atividade necessária para manter a vida - o labor. Assim, as atividades que 
dizem respeito à mera sobrevivência são admitidas em público, mas a dependência mútua, 
como possibilidade de experiência estruturante a ser vivida nas relações de trabalho, nesta 
esfera tem ocorrido praticamente em nome da subsistência. 
Dentro das empresas, esta falta de interrelação é alimentada pelo não exercício da 
autonomia pelos empregados, pela diminuição do espaço de uma ação mais livre, pelo 
processo de trabalho com seus tempos impostos, funções sem significado próximo, tarefas 
rotineiras que retiram qualquer tempo de criação e a instituição da diferenciação de trabalho 
entre os níveis hierárquicos. 
 
 
A relação homem-trabalho na institucionalização 
do trabalho pela empresa integrada e flexível 
 
 
Que contribuições o modelo de empresa integrada e flexível pode trazer para a 
experiência humana do trabalho? Como a reestruturação do capitalismo e as transformações 
no seu modelo produtivo estão impactando as concepções sobre a função do trabalho na 
sociedade? 
Neste sentido, fazemos uma avaliação das possíveis consequências das mudanças 
idealizadas pelas empresas, relacionando-as às experiências do “labor” e do “trabalho” para 
os trabalhadores que, dentro dos modernos modos produtivos, passam a ser 
institucionalizados pelo modelo da empresa integrada e flexível. 
Partindo de considerações ontológicas consideramos que o trabalho não é um fim em si 
mesmo e está em função do homem, seu sujeito, e não o homem em função do trabalho. É, 
O significado do trabalho. Uma reflexão sobre a institucionalização 
do trabalho na empresa integrada e flexível 
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essencialmente, uma atividade criadora que atende às necessidades dos homens ao mesmo 
tempo que transforma o mundo, imprimindo novas condições para a vida humana. 
Através do constante intercâmbio com o mundo e com as outras pessoas, são 
concretizadas, então, funções vitais de “mediação primária” ou de primeira ordem que 
incluem: 
 
· a organização e coordenação da multiplicidade de atividades, visando o atendimento de 
um sistema de reprodução social cada vez mais complexo; 
· a alocação racional dos recursos naturais, materiais e humanos disponíveis, lutando contra 
as formas de escassez, por meio da utilização econômica (no sentido de economizar) 
viável dos meios de produção, em sintonia com os níveis de produtividade e os limites 
socioeconômicos existentes (MÉSZAROS in ANTUNES:1999). 
 
Desta forma, o trabalho configura-se como um sistema que pode ser organizado como 
método e aperfeiçoado enquanto processo. Esta condição caracteriza o trabalho como 
atividade, ela própria, em evolução, resultado de processos historicamente constituídos. 
Justamente por se caracterizar como um sistema passível de organização e 
aperfeiçoamento, é que o trabalho se constitui em uma variável que pode ser utilizada pelo 
capital na superação de crises e recomposição de rentabilidade. A reestruturação capitalista 
que vem ocorrendo nas últimas décadas é promovida dentro de uma conjuntura, onde, a 
correlação de forças entre o trabalho e o capital permitiu a este último promover modificações 
significativas no modelo de produção. Mesmo mantendo alguns pontos de resistência, os 
trabalhadores não tem conseguido efetivar interferências importantes na concretização das 
mudanças, e vem sendo obrigados a se ajustar a estas, contabilizando perdas em diversos 
direitos anteriormente conquistados na relação com o capital. 
A empresa integrada e flexível atende à uma reestruturação capitalista que tem como 
padrão de competitividade a oferta de serviços especializados, agregados aos produtos, a 
diversificação da produção e o relacionamento contínuo com clientes. No cenário que se 
instala a partir da reestruturação capitalista desde a década de 70 e do sistema produtivo 
dentro deste, as empresas foram obrigadas a empreender modificações fundamentais em suas 
estruturas, integrando e flexibilizando o processo de trabalho, (de modo a conseguir realizar 
adaptações nos seus produtos no menor tempo possível e com garantia de qualidade) e 
atualizando suas estratégias de forma a transformar-se em sistemas de aprendizagem contínua. 
O significado do trabalho. Uma reflexão sobre a institucionalização 
do trabalho na empresa integrada e flexível 
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A institucionalização do trabalho na empresa integrada e flexível é caracterizada por 
uma intensificação do trabalho que retrata uma relação na qual a “exaustão” é mais presente 
do que a inadequação de condições físicas para a realização do trabalho. 
A busca de “excelência” pelas empresas continua, assim, a se basear na utilização do 
“labor” humano como fonte primeira de realização do trabalho. A concepção de intensificação 
do trabalho é que se altera, passando a utilizar a força de trabalho de um número menor de 
trabalhadores mais qualificados, com a diminuição de tarefas repetitivas que são 
automatizadas. Esta intensificação ocorre, principalmente, a partir da extinção de cargos e 
funções nos processos de enxugamento organizacionais e a consequente inclusão de maior 
quantidade de tarefas e uso de novas habilidades dos trabalhadores inerentes às novas funções 
atribuídas aos empregados, dentro de um processo de trabalho concebido de forma menos 
compartimentada. Ocorre neste caso, uma ampliação da complexidade das funções, com a 
supressão da figura dos supervisores, e ainda sem ganhos salariais equivalentes às novas 
atribuições para maior parte dos trabalhadores. (LIMA,1995) 
O que se observa é que a empresa atual pressupõe a “mais valia de pessoas competentes 
e tem desafios diferentes: o desenvolvimento das pessoas para enfrentar a realidade exterior 
dinâmica e em contínua mutação pela pressão da competitividade”, ao invés de ajustar 
constantemente as pessoas aos planos previamente elaborados o mais minunciosamente 
possível. (MALVEZZI,1994:27). 
 Enquanto no modelo taylorista/fordista bastava ao processo produtivo as 
habilidades de planejamento, inciativa e controle de alguns (os supervisores) que, aliadas ao 
exercício da liderança baseada em autoridade e uso de mecanismos de controle durante o 
processo, garantiam a produtividade requerida, no modelo atual, a dificuldade de definição 
das tarefas em razão do caráter de flexibilidade e imprecisão do processo produtivo e do 
próprio produto leva à troca do controle do processo pelo controle do resultado do trabalho. 
Estas alterações na forma de controle são concretizadas no modelo flexível a partir do 
compromisso de alcance de resultados estabelecido com os empregados nos sistemas de 
remuneração e avaliação do desempenho entre diversos atores da cadeia que avaliam a 
responsabilidade da realização do trabalho levando em conta a efetivação dos próximos 
passos do processo. 
O significado do trabalho. Uma reflexão sobre a institucionalização 
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Nestes encaminhamentos, pode ocorrer uma rearticulação positiva do espaço do “homo 
faber”, a partir da relação mais direta que é estabelecida entre os meios e fins das tarefas no 
cotidiano do trabalhador e da participação na concepção de parte do produto e do serviço. 
No entanto, as habilidades que são requisitadas ao indivíduo para uma atuação onde ele 
se aproprie de parte do processo de trabalho, proceda alterações e ajustes necessários e resolva 
situações diretamente com os clientes e parceiros de trabalho, constituem-se muito mais em 
um tipo de atividade em que se espera que o indivíduo identifique o que o próprio supervisor 
faria na mesma situação. A tomada de decisões e encaminhamento de soluções deve ser 
baseada nos parâmetros mais adequados para a eficiência da empresa e nas atitudes 
consideradas adequadas à lógica organizacional. (MALVEZZI, 1994) 
Para conseguir esta integração e envolvimento dos trabalhadores nos projetos, as 
empresas buscam estabelecer vínculos instituindo missões, transformando as metas em 
desafios, resgatando e incentivando valores de orgulho, sentimento e tradição do sujeito com 
o seu trabalho, instaurando um clima de “melhoria contínua” do próprio saber. Assim, há uma 
tentativa de criação por parte das empresas de um mundo de significados, aos quais se 
pretende que o trabalhador se identifique, e onde o modelo de trabalhador de sucesso seria 
supostamente o que consegue superar barreiras e efetiva uma auto-superação constante. 
A premissa que tem levado a adoção deste tipo de práticas é que o empenho em realizar 
uma tarefa é ativado ou não em proporção direta ao significado desta para o trabalhador, o que 
quer dizer que a qualidade de seu trabalho depende do significado que o indivíduoatribui ao 
conteúdo. (MALVEZZI,1994). Esta é uma das mudanças importantes de registro na 
institucionalização da empresa integrada e flexível - a busca pelas empresas de exercer um 
tipo de poder que alcance maior grau de legitimidade para o trabalhador, via referenciais de 
identificação. O objetivo expresso é fazer com que o operário valorize seu trabalho e sua 
própria contribuição ao resultado deste. 
Os empregados ganham alguma autonomia ao poderem intervir no processo, e a 
fazerem isto a partir de informações que precisam ser sempre realimentadas em razão da 
mudança no próprio resultado a que se pretende chega. Além disto, comunicação e negociação 
são elementos chave na estratégia de criação e manutenção de canais de relacionamento com 
parceiros e clientes e as relações precisam ser mais objetivas, baseadas em informações 
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consistentes, para permitir a percepção da necessidade e a melhor forma de atender os clientes 
e os diferentes parceiros relativos às organizações em rede e terceirização. 
Neste sentido, embora ocorra uma maior autonomia para decisão por parte dos 
empregados, as relações de poder que poderiam estar emergindo neste espaço são reguladas 
pela empresa. As tentativas de controle por parte da empresa se dão pela “apropriação” de 
capacidades relativas ao espaço político, através da criação de elementos que preencham o 
espaço de convivência e tomem a esfera pública. Consideramos neste campo inclusive, 
diversas atividades atualmente implementadas pelas empresas como programas de 
responsabilidade social, que funcionam como um possível espaço de ação criativa e política 
para os empregados. E ainda, mais a fundo, um uso da Ética como forma de regular o 
comportamento evitando que o indivíduo se volte contra a regra na empresa. 
O que avaliamos é que, na efetivação destas mudanças, a empresa passa a utilizar da 
força da atuação conjunta dos homens para uma participação mais ativa e qualitativa no 
processo, apropriando-se, assim, das capacidades relativas à vivência do espaço publico, 
transferindo-as para a “fabricação”, o que, em última análise, controla o espaço político. A 
integração do trabalhador nos projetos organizacionais também auxilia o controle da empresa 
de problemas que venham a surgir com a crescente complexidade das funções dos 
trabalhadores, e consequente pressão e stress que estes sofrem. São novos tipos de problemas 
com os quais os trabalhadores precisam lidar que podem comprometer a eficiência 
operacional e administrativa. 
Práticas gerenciais como a Remuneração por Habilidades também acabam por 
direcionando a busca constante de melhores performances e uma atualização contínua para ter 
“oportunidades” dentro da empresa. Salerno relata um caso onde os empregados de uma 
indústria para alcançar o próximo nível de habilidades dentro de um sistema de remuneração 
deste tipo, necessitam utilizar parte do seu tempo após o trabalho durante anos seguidos em 
treinamento voltado para o trabalho. (SALERNO,1999) 
Em relação à implementação dos programas de remuneração variável, em muitos casos, 
passa a servir também como meio de intensificação do trabalho, através do dimensionamento 
exarcebado dos limites a serem alcançados nas metas e da transformação do mesmo montante 
salarial antes recebido, em parcela flexível. Em suma, ocorre uma reaproximação entre o 
indivíduo e a experiência do “homo faber”. Mas a relação entre causa e efeito e a capacidade 
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de abstração que caracterizam a experiência do “homo faber” são impedidas porque a 
condição de autodeterminar sua conduta é controlada. 
Assim, a exposição de idéias visando negociações, a comunicação para 
compartilhamento de interesses comuns e busca de soluções, a atuação mais livre junto à 
clientela, a criação através da possibilidade de alterar o processo do trabalho, a iniciativa para 
o desencadeamento de processos, são comprometidas na medida em que o ganho de 
autonomia se dá na mesma medida em que os trabalhadores assumem maiores compromissos. 
O exercício de liderança com ênfase na criação de vínculos do indivíduo com o trabalho 
tem sido também um fator bastante utilizado para o direcionamento do pessoal ao nível 
desejado de comprometimento organizacional. Neste tipo de liderança, cabe ao líder uma 
configuração da realidade, buscando envolver as pessoas nas missões e desafios e 
transmitindo um sentido para o que realizam, em termos de uma percepção mais clara da 
importância do seu trabalho. Além de diversos elementos simbólicos e ritos a criação destes 
vínculos é buscada através de planos de incentivo com campanhas intensas de envolvimento. 
Este tipo de líder utiliza-se principalmente de linguagem simbólica e “dramática” 
(WOOD,1999) para construir referências para seus liderados, e adota um enfoque de co-
responsabilidade com o grupo. Seu foco não é a pessoa, mas a qualidade do resultado. 
Estes vínculos, por um outro lado, não são suficientemente significativos para além de 
fazer as pessoas se sentirem relacionadas, também exercerem um papel de separação que 
possibilite a construção de identidades bem estruturadas na relação com o trabalho. A 
vivência estruturante do espaço público, instaurada pela possibilidade de experienciar fora do 
ambiente privado da família uma dependência mútua, é incentivada basicamente como forma 
de atingir metas e padrões de excelência que se reatualizam constantemente. Uma invasão da 
vida privada que carrega todo um sentido valorativo. “Um self construído em termos 
ocupacionais é alienado, porque foi mais completamente construído pelo tipo de relações que 
regulam este trabalho” (ANTHONY,1980:421), e porque é constituído de elementos de 
caráter fútil e não permanentes, que não têm o poder de representar elementos de ligação e 
diferenciação reais. Esta é a mesma característica da sociedade de massa, transportada para o 
trabalho e que evita que “colidamos” uns com os outros. O “mundo” existente entre as 
pessoas perde assim a força de mantê-las juntas, de relacioná-las umas às outras e de separá-
las. 
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Outro elemento que funciona como regulador da experiência integral do “homo faber” e 
conduz à manutenção de relações que determinam o homem como “animal laborans” é a 
flexibilização instalada no contrato de trabalho. "O trabalho nunca foi tão central para o 
processo de realização de valor, mas os trabalhadores (independente de suas qualificações) 
nunca foram tão vulneráveis à empresa." (CASTELLS,1998:298) Esta vulnerabilidadeé 
decorrente da "desagregação do trabalho" que está sendo introduzida pela sociedade em rede. 
A questão é que além da exclusão de grande parte do contingente de trabalhadores do 
mercado de trabalho, (desemprego estrutural), a atual organização do modelo produtivo está 
fundamentada na utilização de uma mão-de-obra central e outra periférica dentro da cadeia 
produtiva. As pessoas são contratadas em uma rede flexível, via terceirização e flexibilização 
do vínculo empregatício, onde o contrato é rompido muito mais facilmente do que nas 
relações de emprego direto, o que determina um enfraquecimento na correlação de forças dos 
empregados nas relações de trabalho. Esta conjunção de fatores permite a utilização de 
mecanismos de ajuste por parte das empresas que superam o “desemprego flutuante como 
mecanismo de ajustes cíclicos do capitalismo em patamares inferiores de produção” 
(FERRER,1998:96) e cria um distanciamento para parte dos trabalhadores, permitindo à 
empresa retomar parte do poder que perde com as mudanças introduzidas na organização e 
gerenciamento do trabalho. 
Consideramos, enfim, que as mudanças que vêm sendo implementadas nas empresas 
alteram relações de trabalho e a vivência das experiências do “labor e do trabalho”, 
expressando algumas possibilidades de relações estruturantes no trabalho. No entanto, a 
institucionalização destas mudanças em seu conjunto, não representa contribuições 
significativas de um salto qualitativo para a “emancipação” do ser humano pelo trabalho. 
Consideramos também que a forma como o trabalho vem sendo institucionalizado na 
empresa integrada e flexível para atender às demandas da nova conjuntura do capitalismo, se 
diferencia da anteriormente instaurada na configuração da empresa taylorista/fordista, pelo 
tipo de controle exercido, mas o que continua a caracterizar a experiência do trabalho é uma 
relação na qual a atuação do homem é primordialmente a de um “animal laborans”, preso às 
necessidades. 
Além disto, o potencial laborioso continua comprometido por ser vivenciado 
exaustivamente, gerando um desequilíbrio no ciclo esforço-regeneração deste potencial 
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porque o trabalhador continua a ser utilizado como força de trabalho, desligada das principais 
experiências significativas do “homo-faber”; e sem condições de utilizar o espaço público 
para a vivência da dimensão política, que leve ao desenvolvimento de uma responsabilidade 
individual e coletiva. 
No entanto, podemos identificar nas técnicas gerenciais das empresas que adotam fortes 
estratégias competitivas baseadas em sistemas integrados e flexíveis, o interesse em legitimar 
valores junto a empregados centrais para o negócio que caracterizam o trabalho como 
oportunidade criadora e de auto desenvolvimento do indivíduo. Um trabalho realizado a partir 
destas crenças é considerado importante para o processo de criação do valor e 
comprometimento com os padrões de produtividade e competitividade atuais. Ao mesmo 
tempo em que desenvolvem técnicas gerenciais que buscam este tipo de envolvimento, por 
outro lado, as organizações desenvolvem relações que explicitam uma relação totalmente 
instrumental e economicista, relacionadas a valores cujo eixo central é a realização pessoal 
ou o sucesso imediato (FREITAS,1999). 
Cabe neste campo, uma discussão Ética das relações do trabalho que se aproprie da 
complexidade e possíveis resultados de prejuízos morais tanto para as empresas quanto para 
empregados. A possibilidade de engano vivenciada em diversas circunstâncias é percebida por 
muitos trabalhadores como uma causa legítima de desconfiança ou suspeita, fonte de 
preocupação e angústia de ser “manipulado”. Para outros, essas circunstâncias servem de 
justificativa, de defesa contra a angústia da consciência ampliada e de álibi para a serenidade, 
favorecendo um retraimento da responsabilidade, da implicação moral e da consciência 
(DEJOURS,1999). 
A generalização do conformismo, aliada à impossibilidade de acreditar nas propostas da 
empresa, cria um risco de indução a comportamentos cínicos, sarcásticos e calculistas por 
parte dos trabalhadores, que são expostos a incongruência entre discursos e práticas 
organizacionais. (FREITAS,1999). O processo de alienação pode estar induzindo, assim, a um 
“consentimento à dominação e aos efeitos patogênicos do trabalho”. Dejours sugere que, em 
muitos casos, a adesão das pessoas ao discurso economicista seria uma manifestação de um 
processo de “banalização do mal”, expressão que ele utiliza no sentido empregado por Arendt 
na descrição do “Caso Eichmann”, e que se refere à total falta de significado entre o indivíduo 
e as ações praticadas por ele. (DEJOURS,1999). 
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O trabalho se revela, assim, essencialmente ambivalente para o homem. Pode causar 
infelicidade, alienação e doença mental, mas pode também ser mediador de auto-realização e 
de saúde. Esta mediação pode se dar através das estratégias individuais e coletivas de defesa 
contra o sofrimento. Defesas que, no entanto, sempre representam um risco para a autonomia 
subjetiva e moral (DEJOURS,1992). 
Por outro lado, avaliamos também que a explicitação das ambivalências na vivência das 
relações de trabalho podem reduzir em parte este processo de alienação e alterar a forma de 
vínculos estabelecidos pelos indivíduos com as empresas. O que afirmamos é que o trabalho 
continua a ser uma categoria central para os empregados destas empresas. No entanto, esta 
centralidade pode estar sendo vinculada mais de perto ao atendimento de necessidades 
econômicas, e relacionadas a expectativa de menor tempo de ligação com as empresas. O que 
avaliamos e discutimos é a possibilidade de uma mudança nos produtos valorizados pelas 
pessoas em relação ao trabalho, em que a expectativa de se profissionalizar tirando disto seu 
sustento durante toda a vida, é trocada pela possibilidade de extrair resultados mais imediatos 
em termos financeiros, que assegurem um sustento posterior ou a possibilidade de 
deslocamento para o trabalho autônomo e até o informal. Ou seja, mesmo que ocorra um 
comprometimento do empregado com os objetivos desejados pela empresa, esta relação pode 
estar atendendo muito mais a interesses objetivos deste trabalhador em permanecer no 
emprego, receber resultados financeiros, capacitação e outros produtos que lhe assegurem 
algum ganho durante seu tempo na empresa. 
Esta mudança de foco na centralidade do trabalho para uma relação mais instrumental e 
os produtos valorizados a partir daí, incluem muitas vezes a aceitação da intensificação do 
trabalho em jornadas estendidas, vivência de situações estressantes, compromisso de 
aprendizado contínuo e exercício de funções polivalentes durante o período em que se 
permanece trabalhando para determinadas empresas. 
As condições de obtenção desses produtos não são as mesmas para todos os tipos de 
trabalhadores. Paragrande parte do contingente que permanece empregado, mesmo nas 
empresas centrais das cadeias produtivas, o único produto com o qual podem estabelecer troca 
é o vínculo empregatício. 
O movimento de colocar o trabalhador na linha de frente das inovações, não traz 
dividendos correspondentes para este. Mesmo o investimento em capacitação é geralmente 
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dividido com os funcionários, e a remuneração não é acrescida de um repasse significativo 
dos lucros, a não ser para as funções executivas de alta importância. O que pode resultar 
finalmente, é o emprego do homem como “animal laborans”, um instrumento, que neste caso 
se torna um instrumento tecnológico, e impede a vivência de um trabalho significativo. 
 
Considerações finais 
 
Dentro deste conjunto de relações, julgamos que a institucionalização do trabalho na 
empresa flexível e integrada, pode recuperar parte do espaço de atuação das capacidades 
humanas vinculadas à experiência do “homo faber”, o homem construtor do mundo, que 
realiza seu trabalho, comprendendo a relação entre causa e efeito, graças à sua capacidade de 
abstração utilização de capacidades intelectuais e manuais. Também julgamos ser possível 
nesse modelo de empresa, a apropriação de parte do saber do trabalho pelo indivíduo, ao lhe 
ser solicitado a utilização de habilidades na geração de valor ligados a serviços diretos aos 
clientes e parceiros das redes internas e externas, e na atuação de maior parte do processo de 
trabalho, sem uma supervisão direta para exercer o controle. 
No entanto, no modelo proposto, a autonomia para tomada de decisões pelo “homo 
faber”, deve resultar em soluções adequadas aos parâmetros de interesse da organização, e é 
controlada pelo compromisso do alcance de metas “negociadas”. E, o espaço “político”, que 
poderia ser vivenciado com o fim da alienação entre os trabalhadores, é controlado pela 
responsabilização com os exigentes resultados do trabalho e pela pressão para uma auto-
superação constante. Por fim, o “culto à excelência” institui um nível de exigência e 
intensificação do trabalho que caracteriza o trabalhador como um instrumento de trabalho, um 
“animal laborans”, atuando em meio a um processo de exaustão da sua energia laborativa. O 
principal vínculo com este continua sendo o econômico, e o homem regido pela necessidade e 
privatividade. 
 
 
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A autora: 
 
Zilma Borges 
Faculdade Tevisan

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