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III FUNCOES MANIFEST AS E LATENTES SOCIOLOGIA ABORDAGEM A CODIFICAQAO DA ANALISE FUNCIONAL NA SOCIOLOGIA A ANALISE FUNCIONAL e, aO mesmo tempo, a mais promissora e possl.velmente a menos codificada das orientagoes contemporfmeas dos problemas de interpretagao socio16gica. Tendo-se desenvolvido em muitas frentes intelectuais ao mesmo tempo, cresceu em fragmentos € emendas e nao em profundidade. As realizag6es da analise funcio- nal sac suficientes para sugerir que a sua maior promessa sera cum- prida progressivamente, assim como suas atuais deficiencias dao teste- munho da necessidade de se revisar periodicamente ° passado, a fim de melhor edificar para 0 futuro. No minimo as re:o.valiagoes ocasionais trazem a luz da discussao franca muitas dificuldades clue, de outro mo· do, permaneceriam ticitas e nao mencionadas. Como todos os esquemas interpretaLivos, a analise funcional depen- de de uma triplice alianga entr" a tegria, 0 metodo e as dados. Dos ires aliado3. 0 metodo e, em todos os -;'spectos, ;'~~is fraco. -Muitos dos principais praticantes da analise funcional devotaram·se as formulagoes te6ricas e :w aclaramento dos conceitos; alguns encharcaram-se de dados diretamente pertinentes a uma estrutura funcional de referencia; porem poucos sao as que romperam 0 siH~ncio preponderante. relativo ao mo- do de coneretizar a analise funcional. No entanto. a quantidade e va- riedade das analises funcionais levam a conclusao de que alguns metodos tem sido empregados e despertam a esperanga de que mUito se possa aprender de seus estudos e exames. Embora seja possivel examinar com proveito os !!letodop sem refe- rencia a teoria au aos dados substantivos - e e precisamente esta a ta- ret:o. da metodologia ou da l6gica dos processos - as disciplinas empiri- camente orientadas sac servidas do modo mais completo pela investi- l!agao dos processos, se levados em conta seus problemas te6ricos e re- fiultados es!>enciais. Po is 0 usa co "metodo" envolve nao somente a 16- glca mas, desafortunadamente talvez, para aqueles que precisam lutar EDIToR A MESTRE JOU SAO PAULO ---I com as dificull1ades da pesquisa, tambem os problemas praticos de niveo Jar as dados com os requisitos da teoria. Pelo menos, esta e a nossl!> premissa. Em CDnseqi1€mcia,entreteceremos nossa exposiQao com uma .revisao sistematica de algumas das principais concepQaes da teoria fun· ~ional. Desde os seus ptim6rdios, a abordagem funcional na sociologia tem sofrido de confusao terminol6gica. Com demasiada jreqi.iencia, um s6 termo tem sido usado para simbolizar diferentes conceitos, assim como 0 mesmo conceito tem sido simbolizado por termos diferentes. Tanto a cIa· reza da analise como a adequaQao da comunicaQao tern side vitimas de tal leviandade no uso das palavras. As vezes, a analise sOfre pela invo- luntaria variaQao do conteudo conceptual de urn dado termo, e a comu- nicaQao com outras pessoas se rompe quando essencialmente 0 mesmo contet'ido e obscurecido par uma bateria de diversos termos. Nao teremos senao de seguir, pot breve espago, os caprichos do conceito de "f].lllQ3.o'::' para descobrir como a claridade conceptual se perde e a comunicaQao se destr6i com vocabuh'trios de analise funcional competidores entre si. te, e na verdade quase tipico, por alguns economistas que se referem a "anl11isefuncional de um gropo" quando relatam a distribuigao de ocupa- Qaes em tal grupo. Sendo esse 0 case, 'pode ser de born aviso seguir a sugestao de Sargent Florence 2 de que seja adotada para tais investiga- goes a frase descritivamente mais pr6xima, "analise ocupacional". Urn terceiro uso, representando uma variedade especial do anterior, encontrarse tanto na linguagem popular como na ciencia politica. 0 ter- mo funQao e usado frequentemente a fim de significar as atividades atri- buidas. ao ocupante de uma situagao social e, mais particularmente, de uI\1cargoou posigao politica. Isto deu origem ao termo"funcionario", ou "empregado", Embora neste sentido a fungao se sObreponha em sign(· ficagao mais extensa ao significado adotado para tal termo em sodolo· gia e em antropologia, seria melhor que a excluissemos, uma vez que ela distrai a atenQao do fato de que as fungoes sac realizadas nao s6 pelos ocupantes de posiQaes designadas, como tambem por uma extensa escala de atividades padronizadas, de processos sociais, de padraes de cultlira, e de sistemas de cr.enga encontrados numa sociedade. Desde que foi introduzida por Leibniz, a palavra funQao tern sua sig- nificaQao mais exata na maternatica, na qual ela se ref ere a uma varia. vel considerada em relagao a uma ou mais de outras variaveis, em ter· mos da qual 'ela pOde ser expressa, .ou de cujo valor depende seu pr6prio valor. Est.u concepgao, num sentido mais extenso (e freqi1entemente mais impreciso), e expressa por frases como "interdependencia fundo- 11al"e "relaQo~s funcionais", tao freql1entemente '3:dotadas por.:'(:ientistas sociais.3 Quando Mannheim observa que "cada fate social e uma fun· 0ao do,.te.mpq,_.e_doluglOl.t:em que ocone", ou-CiUandoumde~'afir. ma ,Que_:'osindices de nasciIrierito estao em funQao da situagao economl· ca", estao manifestarnente fazendo uSa da significaQao matematica, em· bora a primeira nw seja relatada na forma de equaQaes e a segunda 0 seja. 0 texto geralmente toma claro que 0 termo funQao esta sendo 118adoneste sentido matematico, mas os cientistas sociais movem·se de la para ca entre esta significagao e outra que the e relativa, embora dis- tinta, a qual tambem envolve a nogao de "interdependencia", "relaQao reciproca", ou "variagoes mutuamente dependentes". E esta quinta significaQao, que e fundamental na analise funcionaJ, Ilm 86 Termo, Diversos Conceitos A palavra "~" tem sido utilizada por diversas disciplinas e pela linguagem popular, com 0 resultado nao inesperado de que sua signifi· .:a.giioseja rreq\1entemente obscurecida na pr6pria sociologia, Limitando· -nos apenas a cinco significados comumente reservados a esta palavra, desprezaremos numerosos outros. Para comeQar, ha 0 use popular de acordo com 0 qual "funQao" se rafere a algurna reuniao publica ou f~ tividade, llsualmente realizada com tonalidades cerimoniais. E em tal sentido que se deve admitir 0 significado, quandO um jornal afirma num cabegalho: "0 Prefeito Tobin nao ap6ia a funQao social", pois a noticia esclarece que "0 Prefeito Tobin c'.eclarou hoje que nao esta interessado em qualquer funQiio social, nem 8utorizou a pessaa alguma que vendes- se bilhetes ou propaganda para qc;,alquer evento". Embora tal usa sejl\ bastante comurn, entra tao raramente na literatura academica, que em na- 'da contribui para 0 CaOsque prevalece na terminologia. Evidentemente, ·~ste significado da palavra e inteiramente estranho a analise funcional na :sociologia. Urn segundo uso torna 0 termo "fungao", virtualmente equivalente :ao termo "ocupUQao". Max Weber, por exemplo, define ocupagao como ~·o modo de especializag3.o, especificagao e combina<:;aodas fungaes de urn individuo, com referenda ao que para ele constitua a base de uma oportunidade continua de ganho ou lucro",! Este uso do termo e freqiien- 2. P. Sargent ¥lorence, Statistical Method in Economics, (Nova Iorque: Harcourt, Bra.ce & Co., 1929); 357-58n. 3. Assim, diz Alexander Lesser: "Em seus aspectos 16gicos essenciais, que e uma relac;ao funcional? Tem alguma diferen~a em especie com as relag6es funcionais ern outros campos da ciencia? Penso que nao. Uma relaQao verdadelramente fun clonal e a que se estabelece entre dols ou mais termos ou variiweis de modo tal que se possa afirmar que em certas condiQaes definidas (que formam um termo da relaQao) se observam certas expressaes determinadas das ditas condiQaes (que sao a outro tenno da relaQaoJ. A rela~ao ou relaQaes funclonais enunciadas de todo aspecto delimitado da cultura dever" ser tais, que expliquem a natureza e 0 carater do aspecto delimitadoem condi<;.oes definidas". "Punctionalism in social anthropology". American Anthropologist, N.S. 3\' (935), 386·93, pig. 392. 1. Max Weber, Theory of Social and Economic Organization, (editado por Talcott Parsons), (LolOdres: WlIliam Hodge & Co., 1947). 230. tal como tem sido praticada na sociologia e na antropologia social. De- rivando em parte do<sentido matematico nativo do termo, este uso e'inais frequente e expll.citamente ~dotado nas ciencias bio16gicas'l nas quais 0 \ermo fungao se refere aos bEP,",,~.s.sp~considerados nos ~pecto~_E;m_que contribuem para a mari.~tengao do organismo": 4 Com rri6dlficagoes apropriadas ao estudo da socledade ~umana, esta Slg- 2lificaQao corresponde de modo bastante pr6ximo ao conceito-chave de funQao tal como e adotada pelOs funcionalistas antropol6gicos, puros au moderados. 5 A .~adcli:~!e-Brown_~_..w.m.-COID-.ll1lO\.~_Y"-!'.9.iienclaexplica tal signific~~o ao traQar seu eficaz conceito de funQao social em relaQao ao modele ana- 16gico encontrado nas ciencias biol6gicas. A maneira de Durkheim, ele afirma que "s funQao de um processo fisio16gico recorrente e assim uma correspondencia entre eSse e as necessidades (isto e, as condiQoes neces- sarlas de existencia) do organismo". E ua esfera social, em que os seres humanos individuais, "as unidades essenciais", estao ligadas por redes de relaQOes sociais num tedo integrado, "a fungao de qualquer atividade recorrente, tal como a puniQao de um crime, ou uma cerim6nia funebre, ./? e a parte que ela desempenha na vida social como um todo e, portanto, / a contribuir;ao que ela da a manutenQao da continuidade estrutural. "5 Embora MalinOwski divirja em diversos aspectos em relagao as for- mulag6es de_Radcliffe-Brown, ele concorda com 0 mesmo quando conside- ra que oa~clei>d~,'$E~alise funcional e oJstu~o "sIO;papel. que (~S fat~. res soc~is)-desemPen1la.nL.illLs.o?l~dade'. Malmowskl expoe numa de suas primeiras declaraQoes de prop6sitos: "illste tipo de teoria ob- jetiva a explanaQao dos fatos antropo16gicos em todos os nfveis de de- senvolvimento por sua fungiio, pela parte que lkes toca dentro do sistema integral de cultura, pela maneira com que slio relacionados a cada um dos outros componentes dentro do sistema ... " 7 Tal como veremos em breve, com alguns detalhes, frases que se re- petem como esta: "0 papel desempenhado no sistema cultural ou social", tendem a conferir imprecisao a importante distinQao entre 0 conceito de fungao no sentido de "interdependencla" e 0 de "processo". Nem ne- cessitamos fazer pausa aqui a fim de observar que 0 postulado susten- tador de cada item de cultura tem algumas relaQ6es duraveis com outros Hens, de que tem algum lugar distinto na cultura total, muito pouco pos- sa equipar 0 observador de campo ou 0 ~lllalista com um guia especffico para os processos de trabalho. Seria melhor que tudo isso aguardasse. No momento, necessitamos apenas reconhecer que certas formulag6es mais recentes tem aclarado e ampliado este conceit a de fungao atraves de especificuQoes progressivas. Assim, Kluckhohn diz: " ... um determi- {lado artigo de cultura e 'funcional' enquanto define um modo de rea· gao que e adaptativo, se considerado do ponto de vista da sociedade, e ajustavel, do ponto de vista do i:ndividuo".8 Dessas conotagoes do termo "fungao", e apenas tocamos em algu- mas poucas extrafdas de uma vasta lista, e claro que muitos con- ceitos sao inclufdos na mesma palavra. Isto e um convite a confusao . E quando muitas palavras diferentes sac usadas para exprimir a mesmo conceito, desenvolve-se confusao cada vez maior. o grande conjunto de termos usados de modo indiferente e qUase como sin6nimo de "funQao", i:nclui os significados de usa, utili dade, fi:na- lidade, motivo, intenQao, alva, consequencias. Se pusessemos estes e outros termos semelhantes em usa, para nos referirmos ao mesmo con- ceito estritamente definido, evidentemente haveria pouca utilidade em abservar sua numerosa variedade. Porem, e fate que 0 usa indisciplina- do destes termos, com sua referencia conceptual ostensivamente seme- lhante, conduz a afastamentos sucessivamente maio res, em relaQao a analise funcional rigorosa e justa. Os significados de cada termo, que mais diferem que coincidem com 0 significado que tern em comum, cons· tituem a base (i:nconsciente) para inferencias que se tomam crescente- mente duvidosas, na proporQao em que se distanciam progressivamente do conceito central de fungao. Uma au duas ilustraQ6es ressaltarao que um vocabulario m6vel estimula a multiplicagao dos mal-entendidos. No trecho seguinte, extrafd6 de urn dos mais sensates tratados da so- ciologia do crime, podem-se reconhecer as variaQoes do significado de termos nominalmente si:n6nimos, e as duvidosas inferencias que depen- dem de tais flutuaQoes de entendimento. (Os termos·chave sac grifa- dos a fim de nos ajudar a encontrar nosso caminho atraves do assunto.) 4. Vejam·se, por exemplo, Ludwig von Bertalanffy, Modern Theories of Development (Nova Iorque: OXford University Press, 1933), e 9 e segs., 183 e segs.; W. M. Bayliss. Principles of General Physiology (Londres, 1915), 706, on de descreve suas pesquisas sObre as fungoes dos harm6nios descobertos por Starling e por ele pr6prio; W. B. Cannon, Bodily Chan· ges in Pain, Hunger, Fear and Rage (Nova Iorque: Appleton & Co., 1929), 222, em que des creve as "funeoes de emerglmcia do sistema simpatico-supra-renal". 5. Lowle ;·faz distineao entre 0 "funcioneJlsmo puro" de Malinowski e a "funclonalismo mOderado", de Thumwald. Embora a distineao seja acertada, ver-se·" em segulda que nao e pertlnente aos nossos prop6sltos. R. H. Lowie, The History of Ethnological Theory (Nova Iorque: Farrar & Rinehart, 1937), Capitulo 13. 6. A. R. Radcllffe-Brown. "on the concept of function in social science", American Anthro· pologist, 1935, 37, 395-6. Veja·se tambem Seu posterior discurso presidencial perante 0 Royal Anthropological Institute, em que declara: " ... Eu definlrl'a a funeao social de urn modo de atividade soclalmente padronizado, ou de um modo de pensamento, com sua rela<;ao com a estrutura social para cuja exlstencla e continuldade faz qualquer contri- bulgao. An1l10gamente. num organlsmo vivo, a funeao f1siol6glca das batldas do coragao, au da secre(;ao dos sucos gastricos, e sua relaQao com a estrutura. orgAnica ... ~ "On social structure", The Journal of the Royal Anthropological Institute of Great Britain and Ireland, 1940, 70, Pt. I, 9·10. 7. B. Malinowski, "Anthropology", Encyclopaedia Britannica. Primeiro volume suplementar, (Londres e Nova Iorque, 192(j), 132-133 [0 r;rifo e nosso). 8. Clyde Kluckhohn, Navaho Witchcraft, Trabalhos do Museu Peabody de Atqueologla e Etnologia Americanas, Unlversidade de Harvard, <Cambridge: Peabody Museum, 1944). XXII, N." 2, 47a. Finalidade do castlgo. Em diferentes grupos, e em cpo cas dlferentes, tern sldo feitas tell' tattvas para determinar a finalidade ou fun~ao do castigo. Multos pesqulsadores tern l.uslstido em que algum motivo era 0 motivo do castlgo. POI' outro lado, sallenta-se a fuu~iio do castigo em restaurar a solldarledade do grupo, que fol enfraqueclda pelo crime. Thomas e Zna· niecki tern indicado que eutre os camponeses da Polbnia 0 castigo do crime e destiuado primariamente a restnurar a situa~ao que existia a.ntes do crime e a renovar a solidariedade do grupo, e que a vingan!;a e uma consideracao secunda-ria. D~ste ponto( de vista, 0 castigo dlz respcilo primariamcnte aoOgrupo e somente scc.uudariamcntc ao ofensor. POI' outro lado, a expia~ao, a intimlda~ao, a reform a, a lucro para 0 Estado e outras coisas tem sldo formu- ladas como a fun~iio do castlgo. No passado como no presente, nao e claro que algum destes seja 0 motivo; os castigos parecem derlvar de muitos motivos e reallzar muitas fun~6cs. 1sto c verdadeiro tanto em rela~ao as viti mas Individuals de crimes como em rela~ao ao Estado. Certamenteas leis da presente epoca nao sao congruentes em propositos au motivos; provavelmente exlstlam as mesmas condl~6es nas sociedades prlmltlvas. 9 Esta passagem, e' uma interessante mistura de pequenas ilhas de cIa- reza, no meio de vasta confusao. Semprc que eia erradamente identi- iica rn0tiyos ,(subjetivo..sLc...CllU.funQ6es (objetivas), abandona uma tomi'>- a:a-~dep6siQ§.o'funcfOnai lt1cida" Pais nao (; precise admitir, como vere- mos, G.u~s-motivos para contrair matrimonio ("amor", "razoes pessoais") sac identicos as junr;oes desempenhadas pelas familias (socializac;ao da crianQa). Ademais, nao e necessario admitir que as razoes apresentadas pelas pessoas para justificarem seu comportamento, ("n6s agimos por ra· z6es pessoais") sejam identicas as cO!1seqiienc~a..sobservadas de tais pa- dr6es de comportamento, '.f> disposiQao sUbjetivi\p_~~e i(:oincidin com a conseqiii~ncia i::>bjetiv~mas tambem pode {nao coincidir. As duas va- riam de modo independente. Contudo, quando se diz que as pessoas sac levadas a se lanQar em determinado comportamento que pode dar origem a funQ6es (nao necessariamente intencionadas), apresenta·se um escape para se sair do perturbado mar de confus6es. 11 Esta breve apresentaQao de terminologias em competiC;ao e suas desa- fortunadas consequencias pode servir-nos de guia em direQao a esforQos posteriores, para. atingir a codificac;ao dos conceitos de analise funcio- nal. Evidentemente havera muita ocasiao para limitar 0 uso do concei· to sociol6gico de "funQao", e havera necessidade de se distinguir claramen- te entre categorias sUbjetivas de disposiQao, e categorias objetivas de can- seqih~ncias observadas. Sa assim nao for, a substancia da orientaQao fun· cional podel'a perder-se numa nuvem confusa de definiQ6es. Em primeiro lugar, deveremos atentar para a lista dos termos que ostens1vamente se referem ao mesmo conceito: finalidade-, funQao, moti- vo, destinaQao prim!1ria e consideraQao secundaria, prop6sito. Exami- nando-os, torna-se claro que estes termos, se agrupam em estruturas con- ceptuais de rejerencia inteiramente distintas, Por vezes alguns d{Hes- motivo, desfgnio, prop6sito e finalidade, - claramente se referem as ex- plwitas jinaltdades dos representantes" do Estado. Outras vezes - mo· avos, consideraQao secundaria - referem-se, as jinalidad..es da vltima dO crime. E ambos estes conjuntos de termos sac por igual referfdos as ante· cipaQOes subjetivas dos resultados do castigo. Porem, 0 conceito de fun- Qao inclui 0 ponto de vista do observador, nao necessariamente 0 do par- . ticipante. A funQao social se ref ere as;conseqiU~ncias objetivas observQ..1J,.,~'ets, e nao as disposir;oes ,subjetivas (prop6sitos, motivos, finalidades). E ~~ a falha em distinguir entre as conseqiiencias sociol6gicas objetivas e as ;o~ disposiQ6es subjetivas, inevitavelmente conduz a confusao da analise fun- \ cional, como se pode perceber no seguinte fxcerto, (no qual tambem as pa· lavras-chave sac grifadas): o extremo da irrealidade e atlngldo na apresentaguo das chamadas "fungoes" da fami· lia. Ouvimos dizer que a familia, realiza importantes fun£il.~, na sociedade; proporciona a perpetua~lio d!Uo'Jm.~~~~mento dos jovens; preenchefuiiQ"oeSe'con:Omicas e religiosas, e assim pOl' diante. Quas., somoS"Ieviid:Qi-,i>.--s:creditar que as pessoas 'se"c'asanre'enl"li1hos porquc estao a~siosas, em desempenhar 'essas fun~5es necessarlas. Na realidade, as pesp:?as se casam porquc se enamoram, ou par outras raz6es menos romllnticas, porem, nao menop pessoais. A fungao da familia, a partir do. ponto de vista dos individuos, e satisfazer seu' desejos. A fungiio da familia ou de outra qualquer instltul~lio social c simJllesmente 0 llS0 que as pessoas dela fazem. AS "fun!;oes" sociais saa em sua maior 'parte raciona1iza~ije.s de praticas estabelecidas; nos agimos em primeiro lugar, explicamos depois; nos agimos por raz6es pessoais, e justifieamos nosso comportamento pOl' principios sociais e Clleos. Na. me- dlda em que essas fun£oes das Institui~6es tenham qualquer base real, devem-se aflrmar em termos dos processos soclais nos quais as pessoas atuam, na tentativa de satisfazer seus desejos. As fun~6es surgem da integra~ao dos seres humanos concretos e das finalidades eoncretas.10 Principalmente, 'mas nao somente em antropologia, os analist.as fun- ciOnais tem adotado comumente tres postulados interligados os quais, c-onforme agora sugeriremos, saa discutiveis e desnecessarios para a orien· tagao funcional. De modo sUbstancial, tais postulados mantem, em primeiro lugar, que as atividades padronizadas ou Hens cUlturros, sac funcionaill--para todo o si~~m.§.sociai-6ii--cu1turaf; errLsegundo lugar, que ..1!L~$--e~se.ll_itElnll..so- ciais e culturais pr~cn:em'funQ6es soc1OI6gicas; e em terceiro,' que tais Hens sac conseqUentemente'1ndis·pensQ.veis. Embora estes tres artigos de fe sejam vJstos comumente apenas uns em companhia dos outros, seria 11. ~stes dois exemplos de confuslio entre motivo e tungao sao tirados de um reposit6rln tacllmente acesslvel de materlais adicionais da mesma classe. Mesmo Radcliffe·Brown, que de costume evita esta pratica, de vez em quando esquece de fazer a distln~ao. Por exemplo: "... a troca de presentes nlio servia a mesma finaUdadc que 0 comerclo e 0 escambo em comunidades mals desenvolvidas. A finalidade que servia era uma flnalldade moral. 0 objeto da troea de presentes era produzir um sentlmento amlstoso entre as duas pesSoas afetadas e, se nao servia pa.ra isso, fracassava. em sua finalidade .... o "objeto" da transagao esta visto do ponto de vista do observador, do participante ou dos dois? Veja·se A. R. Radcliffe-Brown, The Andaman Islanders, (Glencoe, Illinois: The Free Press, 1948), 84 [0 grifo e nosso J. 9. Edwin H. Sutherla.nd, Principles of Crlminology, 3.a edigao (Flladelfia: J. B. Lippincott, 1939), 349·350. 10. Wlllard Waller, Thc Family, (Nova torque: Cordon Company, 1938), 26. melhor que fassem examinados separadamente, desde que cada um de- les da origem a suas pr6prias dificuldades distintas. E Radcliffe-Brown quem de modo caracteristico estabelece esse postu- lado em termos explicitos: A func;;ao de urn uso social particular e a contribuiQao que ele faz para a vida social iolal como se dO.0 ·funcionamento do sistema social total. Tal visao impliea em que urn siste;"a social (a estrulura social tolal de uma sociedade, juntamente com a totalidade dos usos sociais, no aspecto em que a estrutura aparece e naquele de que ela depende para slla existencia continuada), tern uma certa especie de unidade, a que podemos nos referir como unidade funclonal. Podemos defini·la como uma condi~ao na qual tbdas as partes do ~~s.• tema social trabllltham em conjunto com urn grau suficiente de harmonia aU coerencia in· terna, isto e, sem produzir conflltos perllistentes, 08 quais nao podem ser resoividos nem regulados.12 Contudo, e importante notar qUe ele prossegue de screven do essa no- l,<ao de unidade funcional como uma hip6tese que exige prova comple- mentar. Poderia a principio parecer que Malinowski estava questionando a aceitabilidade empirica desse postulado, quando nota que "a escola so- ciol6gica" (na qual ele coloca Radcliffe-Brown) "exagerou a solidariedade social do homem primitivo", e "negligenciou 0 individuo".13 porem lo- gO se torna aparente que Malinowski nao abandona tal admissao dllbia, como ainda consegue acrescentar-Ihe outra. :ll:le continua a falar de pra- ticas e crengas padronizadas, como send a funcionais "para a cultura C0- mo urn todo", e prossegue admitindo que elas sac tambem funcionais pa- ra cada membro da sociedade, Assim, referindo-se as crengas primitivas no sobrenatural, ele escreve: Aqui a visao funcional e submetida eo sua. prova de fogo... E' obrigada a demonstrar de que maneira a cren~a e 0 rito trabalham para integra~ao social, para a efici~ncia.tecnlca e econ6micB, para a. c,ulturacomo um todo, indiretamente, portanto,. para 0 bem~estar bio- 101'llcoe mental de cada membro individual. 14 Se a suposigao nao qualificada, isolada, e questionavel, est a dupill. suposigao e duplamente questionavel. Be os itens culturais, uniforme- mente preenchem fungoes para a sociedade visualizada como urn sistem,a, 12. Radcliffe·Brown, "On the concept of function", op, oit., 39'1 [0 grifo e nosso]- 13. Ver Malinowski, "Antropology", op. cli., 132e "The group and the individual In func- tional analysis"', American Journal of Sociology, 1939, 44, 938-64, pag. 939. 14. Malinowski, "Anthropology", op. oit., 135. Malinowski manteve este ponto de vista, sem mUdan~a essenelal, nos seus trabalhos posteriores. Entre estes, veja-se par exemplo, "The group a.nd the Individual in functional analysis", op. cit., 962-3: "... vemos que toda institui~ao contribui de uma parte para 0 funcionamento integral da comunidade oomo um iodo, mas que tambem satistaz as necessidades derivadas e basicas do indi- viduo ... todos as beneficios que acabames de enumerar sao desfrutados par cada memo bra individual". [0 grifo e nessol. e para todos os membros da SOfliedade, .~ presurnivelmente uma guestao rlIripiri'ca d~ fato .••.ao inves de constituir-se.num axioma ....; ••".'""".~, ·Kluckhohn evidentemente pereebe 0",.problema. vis to que amplia as alternativas a fim de incluir.;a possibilidade ou de que as formas culturais "sao ajustadas ou adaptativas... para os membros da sociedade au para a soci6dade considerada como uma unidade duravel".15 Este primeiro passe e necessario para que se permita a variagao na unidade que e ser- vida pela fun~ao imputada. Compelidos pela f6r~a da observa~ao empi- rica, teremos ocasiao de alargar a faixa da variagao ainda mais, em re- lugao a essa unidade. Parece razoavelmente claro q~P a nociio da unidade fun_9.iQI!..~Ln_4~e ~lm postulatlo fora do alc~nce das pro vas emp~icas; ~.Q...CQ.ll.t.r.lll.io. o grau de integra~ao e uma variavel empirica,16 .~cill-.ruLm~smaJo- ciedade, de tempos a tempo~e diferindo entre s~qfL<.'!jJ.~J.gptes. Que t6das as sociedades humanas devam ter a/gum grau de integragao, e assunto de defini9ao e convida a interrogaQao. Po rem, 'mem tOdasas sociedades t,em aquele alto grau de integra1<ao no qual cada atividade 9u ~renga culturalmente padronizada_.seja funcig;:al ~~_~l~!9 __Uo..Q!~_ade como urn. £oao,euniformemente.,,.,funcionaLpara 0 ,,,povo,gue,,nela .,)li1?~. Efetivamente, Radcliffe-Brown nao precisaria olhar -;iem do seu pref'eri- do reino da analogia, a fim de suspeitar da adequabilidade de sua admis- sac da unidade func1onal. Pois encontramos variagoes significativas no grau de integragao, mesmo entre organismos biol6gicos individuais, em- bora a admlssao do senso comum nos contasse que aqui, segtN"amente, tadas as partes do organismo trabalham em diregao a uma finalidade "unificada". Considere-se· somente isto: Facilmente se pode ver que existem organismos altamente integrados sob estreito controle do sistema nervoso, ou dos hormonios, dos quais a perda de qualquer parcela maior afetar!l fortemente todo 0 sistema, e freqo.entemente causare. a morte. Porem de outro lado, existem os organismos inferiores muito mais frouxamenie correlacionados, nos quais a perda de mesmo uma grande parte do corpo causa somente um inconveniente temporario, durank a regeneraQao dos tecidos de sUbstitui~ao. Muitos desses animais organizados de mado mais frouxo sac tao pobremente integrados, que as diferentes partes podem estar ern oposi9ao umas as outras. Assim, quando uma estrela·do-mar comum e colocad'" de costas, parte dos bra~os pode tentar virar 0 animal numa direQao, enquanto que as outros trabalham p",ra viro.-Iona direQao oposta.,. Oomo resultado de sua frouxa iniegra~ao, a anemona-do·mar pode mover-se do lugar e deixar uma por~ao de seu pe agerrando-se fortemente a umi' tocha, de modo que a animal sofre seria ruptura.17 S" tal e verdadeirocom organisrnos isolados, poderia parecer a jor- tiori que 0 mesmo sucedesse com sistemas sociais complexos. 15. Kluckhohn, Navaho Witchcraft, 46b [0 grifo e nosso]. 16. A primeira revisao que fez Sorokin de teorias de unifica~ao social, tem 0 merito de nao ter perdido de vista este fato importante. Veja-se "Forms and problems ot culture- .integration", por P. A. Sorokin, em Rural Sociology, 1936,1, 121-41;344·74. 17. G. H. Parker, The Elementary Nervous System, citado por W. C. Allee, Animal Agg-re. gation. (University of Ohicago Press, 1931),81-82. Nao precisamos prosseguir muito longe neste ca~po'p'ar~:d~m(JIJ.$trar q~!J• .2\l1r~"~t~~~,,,,~idad,~oli~1mPi(Jna,l.,,,completa,<ltda;:,,,soCiea~~~l~ma e rep.~.ticIa,rn~~tl1,,99I,1t~~l,l?~W~,us:~e.OS~SOSjO~;se~tlmentos 'SOClalS1\~Odem ser ..funcionais .,t;p:j,E,~~l~JtB~t"g~p()s"e""..H~9.;~JE1~;9.n.~§;"p~ra.',0~tros~da/jtmes. ma:,sociedade. Os antrop6logos cltam com frequenCla a crescente so- Haariedade da comunidade", e "0 crescente orgulho da famil~a", como exem- plos de sentimentos funcionalmente adaptativos. No entanto, conforme .in- dicou Bateson18 entre outros, urn aumento de orgulho entre famfllas individuais pode freqiientemente servir para romper a solidarieda~e de uma pequena comunidade local. Nao somente 0 postulado da urn- dade funcional e contrario aos fatos, como tambem tern pequeno valor heurfstico desde que ele distrai 31 aten!;ao do analista em rela!;ao a possi- veis cons~qUencias dispares de urn dado item social ou cUltural (uso, crenQa, padrao de comportamento, instituiQao) para diversos grupos so- ctais e pam os membros individuais desses grupos. 0''' Se 0 volw.ne de observaQao e de realidade que nega a admissao .cia ~:midade funcional e tao grande e tao facilmente acessfvel como temos sugerido, e interessante perguntar como e que Radcliffe-Brown ~ ~?- t~ que seguem sua orientaQao tem continua do a sustentar esta ad~llss~•.~. UIDa' pista possivel e proporcionada pelo fato de que esta concep0ao, em suas recentes formulaQoes, foi desenvolvida por antrop6logos sociais, isto e, por homens que se ocupam de modo primacial com 0 estudo de socie- dades agrafas. Em vista do que Radin descrev<;)ucomo "a natureza altamen- te integrada na maioria das civilizaQoesaborigenes", esta admissao pode ser l.oleravelmente adequada para algumas, senao para todas as sociedades {).grafas. Contudo, paga~SEl:t~excessivapenalidade intelectual por esta su- posiQao, que possivelmente seja 11til ao ambito 'de pequenas sociedades lletradas, para 0 das sociedades letradas, grandes, complexas e altamen· te diferenciadas. Talvez em nenhum outro campo os perigos de tal trans- ferencia de suposiQao se torne mais visivel do que na analise funcional da religiao. ltste assunto merece urn breve exame quando mais nao se- ja devldo ao fato de que ele exibe em audacioso relevo as icteias erroneas das quais nos tornamos herdeiros, quando adotamos simpaticamente es- ta suposiQao, sem uma. filtragem completa. ,A Interpretacii.o Funcional da Religiiio. Ao examinar 0 preQo pago pe-; Is. transferencia desta suposiQao tacit a de uma unidade funcional dp campo de grupos iletrados relativamente pequenos e comprimidos para 0 campo de sociedades mais diferenciadas e talvez mais integradas, e 11tHcon- siderar 0 trabalho dos soci610gos, 'Particularmente daqueles que sejam or- dinariamente sensiveis as suposicoes sObre as quais trabalham. Isto tem urn interesse passageiro devido a sua influencia sobre a questao mais ge- ral de procurar, sem modifica!;ao apropriada, aplicar ao estudo das 50- ciedades alfabetizadas, concepQaes desenvolvidas e amadurecidas no es- tudo das sociedades agrafas. (A mesma questao essencial vale quanta a transferencb de processos e tecnicas de pesquisa, porem nao e aqui Que este assunto sera tratado). As grandes generaliza!;oes, nao limitadas no espaQo e no tempo, acer- ca das "fun!;aes integradoras da religiao" sac derivadas em grande par- te embora evidentementenao seu todo, de observaQ6es efetuadas em s;ciedades agrafas. Nao tern sido raro verificar que 0 cientista social adota implicitamente os achados relativos a tais sociedades e prossegue discorrendo prolixamente s6bre as funQaes integradoras da religiao em geral. Dai, ha apenas urn passe para que se facam afirmaQ6es como a seguinte: A razao pela qual a religillo e necessaria esta aparentemente manifestada no fato de qUe a sociedade humana alcan~a sua unidade primariamente atraves da posse, por seu! membra:;, de certos valOres finais e objetivos em comum. Embora tais valOres e objetivos sejam de apreciaerio sUbjetiva, Mes influenclam 0 comportamento, e sua integracao capaclta a soCi", dade a operar como urn sistema.19 Numa sociedade extremamente avan~ada erguida s6bre a tecnologia cientifica, a clo.,'3sC !'clBcerdotal tende a. perder importancia, porque a tradi~§'o sagrada e 0 supernaturalismo caem paoTa urn segundo plano... [mas] Nenhuma socledade tornou·se tao completamente .ecularizada a ponto de liquidar intelramente a crenea em finalidades transcendentals e entidades sobrenaturais. Mesmo numa sociedade seculariza.da algum sistema deve existir para a integraeao dos valOres finais, para sua expressao rituallstiea. e par •• os ajustamentos emocionaig exigidos Pclo desengano, a morte e a desgra~a.20 "' . -------- Partindo da orienta!;ao de Durkheim, que era baseada na sua maior parte s6bre 0 estudo de sociedades-iietradas, estes autores tendem a i5o- lar somente as conseqiiencias aparentemente .integradorlls da religiao c a negligenr1ar suas consequencias posslvelmente desintegradoras em cer· tos tipos de cstrutura social. No entanto, considere-se a seguinte lista de :fatos e interrogaQoes: (1) Quando religiOes diferentes coexistem na mes- ma'sociedade, freqiientemente ocorrem conflitos profundos entre os diver- sos grupos religiosos (considere-se apenas a enorme literatura acerCa de confUtos inter-religiosos nas sociedades europeias). Entao, em que sen- tido a religiao proporciona a integraQao "da" sociedade, nas numerosas sociedades multi-religiosas? (2) E clara. a afirmaQao de que "a sociedade humana alcanQa sua unidade (na medida em que ela exiba tal unidade) primariamente atraves da posse por seus membros de certos valores e fins definitivos em comum". Porem, qual e a evidencia a indicar que os grupos "nao-religiosos", digamos, em nossa pr6pria 50ciedade, sUbscre--;;. vam com menor freqiiencia certos "valOres e objetivos" comuns. do ljue osgrupos devotados a doutrinas religiosas? (3) Em que sentido a rell- giao favorece a integraQao da sociedade em geral, se 0 conte11do de sua doutrina e de seus valOres esta em oposi!;ao ao conteudo de outros va- Jares nao-religiosos, adotados por muitas pessoas na mesma sociedade? (Considere-se, por exemplo, 0 conflito entre a oposiCao da Igreja Cat6- 19, Kingsley Davis e Wilbert E. Moore, USome principle,r,; of stratification", Ameriean Sociological Review, sbril de 1945, 10, 242·49, pag. 244 [0 grlfo oj nosso]. 20 Ihid .. 246 10 grlfo oj nossoJ. Iica a legislagao referente ao trabalho das crianQas, e os vaWres secula- res de evitar a "exploraQao de jovens dependentes". Ou as.avll,llagoes contrastantesdo contrale de natalidade por diversos gruposreligiosbsYi.de nossa sociedade). Esta li'i'ia de fatos que sac verdadeiros lugares-comuns, relativos ao papel cIa religHi.o nas sociedades letradas contemporaneas, poderia ser grandementc ampIiacIa, e elas sac evidentemente bem conhecidas daqueles antrop6logos c soci6logos funcionais que descrevem a religiao como integra- clora, sem limitar 0 alcance das estruturas sociais nas quais tal efeito efe- tivamente se da. Pelo menos e concebivel que uma orientagao te6rica, derivada da pesquisa realizada em sociedades agrafas, tenha servido para obscurecer dados de outro modo conspicuos, relativos ao papel funcional da religiao nas sociedades multi-religiosas. To,lvezseja a tro,nsferencia do,su- posigao da unidade fundonal a responsavel pela eliminagao de tada a hist6ria das guerras de religiao, da Inquisigao (a qual meteu 0 bedelho em uma sociedade ap6s outra) e dos conflitos sangrentos entre grupos reli- giosos. Pois 0 fato e que todo este material o,bundantemente conhe- ddo e ignorado em favor de ilustraQ6es extro,idas do estudo da ren· giao em sociedades agrafas. E ainda ha mais urn fate chocante naqlle- Ie trabalho acima citado, que prossegue, afirmando que "a religiao pro- porciona a integragao em termos de sentimentos, crengas e ritos", e que nenhurna referencia sequer faz aO papel possivelmente divisor da religiao. Tais analises funcionais podem significar, evidentemente, que a reli- giao proporciona a integragao daqueles que o,creditam nos mesmos vaW- res religiosos; porem, e improvavel que seja isto 0 que se tinha em mente, porque equivaleria meramente afirmar que teda coincidencia sabre qual- quer tabua de valares, produz a integrar;iio. Alem do mais, isso Hustra tambem 0 perigo de tomar a admissao da unidade funcional, a qual pode ser uma razoavel apro:xrlmagao para algumas &ociedades agrafas, como parte de urn modelo implicito pa- ra a analise funcional generalizada. Tipicamente, nas sociedades agrafas, r ha apenas urn sistema religioso predomimmte, de modo que, a parte asl desvios individuais, a filiagao da sociedade total e a filiagao da comuni-dade religiosa sac virtualmente coexistentes. Obviamente, neste tipo deestrutura social, uma escala comurn de val6res religiosos pode tercomo uma de sua..<;consequencias 0 refal'go de sentimentos comuns e da integra.- Q9.0social. Porem, isto nao se presta fadlmente a uma generalizagao que se possa defender para Qutros tipos de sociedade. Teremos ocasiao de voltar a outras consequencias te6ricas da analise funcional atual da religiao, porem, no momento, isto pode ilustrar os perigos que herdamos ao adotar c postulado nao qualificado da unidade funcional. .J:;sta unidade da sociedade total na~ pode afirmar-se com ~ 2) velto antes cia observagao. :E guestao de fate e nao materia de opi- ____ '-" 'niao. A estrutura te6rica da" analise· fu;;(;iQnal deve exigir expressamen-~ -_.__...- ..-_.....__._...._--=---_ ...- tequehaja especijicaci'io das unidades para as quais seja funcional urn ds· j d~emsor.ial 011 cultural. Ela deve conceder que urn determinado item Q1 Jr ten,ha",diversasevnsequencias, funcionais e disfuncionais, p.m:,aindivi- duos,para subgrupos, epara a estrutura e cultura socialmais ampJas. Do modo mais sucmto, este postulado afirma que -tq<!§s .. as .,formas so- c1atLQY.5!Y)tllrl!-i§,p~.qr.onizadas,.tem. funQues_positi..yas.JComo em .outros aspectos da concepQao funcional, Malinowski formula este em sua for- ma mais extrema: :~:!;';<" ;'c,i;" , • "0 conceito funcional da cultura insiste, portanto, s6bre 0 prino.ipio de que em cada tipo ue civHiza~ao, cada costume, objeto material. idela e cren~a preenc,he alg-uma funtlao vitnl. .. 21 Como tcmos visto, embora Kluckhohn faga concess6es a variaQao nil. unidade servida por uma forma cultural, ele se une com Malinowski ao postular 0 valor funcional para tadas as formas sobreviventes de cultu- ra. ("Meu postulado basico,., e que nenhuma forma de cultura sobre· \'iva em algum sentido .. ,"Xl) Este funcionalismo universal pode ser ou nao urn postu!ado heuristico; isto fica para sel" verificado. Porem ~os estar preparados para determinar se ele tambem desvia a o,tenguo critlca de uma vanedade de conseqiii'mcias nao-!uncionais de formas cUlturais ~xistentes De fato, quando Kluckhohn procura ilustrar sua a!lrmag~o mediante a atrlbuiQao de "fungoes" a Itens que aparentemente nao as tern, ele vol- ta a urn tipo de fUllg1l,Oque deverio, ser encontrada, por dejinic;ao ao in- yes de por invelltigac;ao,servida por todos os. itens persistentes da cultu- ra, Assim, ele sugere que: Os bot6es das mangas de uma roupa europeia de homem, presentemente inuteis do ponto / de vistamec{\nico, desempenham a "fun,ao" de preservar a familiar, de manter uma tradi,ao. As pessoas se sentem, em geraI, mais contorblveis, quando se tornam cOnscias de uma continuidade de comportamento, se consideram como seguidoras das form as de comporta· mento ortodoxas e social mente aprovadas.23 Isto pareceria representar 0 caso marginal em que a imputac;ao de funQoes P01J.CO ou nada acrescenta it ctescrigao direta do padrao de cultu- ra ou forma de comportamento, Pode-se bem admitir que todos os elemen- tos esrabelecidos de cUltura (os quais sac frouxamente descritos como "tra- diQao") tern a func;ao minima; embora nao exclusiva, de "preservar 0 fa- miliar, de manter uma. tradiC;ao". Isto equivale a dizer que a "funQao" do conformismo com qualquer pratica estabelecida e habilitar 0 confor- miSla a evitar as sanQoes em que incorreria ao se desviar da pratica con- 21. Malinowski, "Anthropology". op. eit., 132 [0 grifo, que e nosso. talvez seja superfluo, em vist", dn linguagem energica do original J. 12. Kluckhohn, Navaho Witohcrafl, 46 [0 grifo e nosM]. "J, Ibid., 47. sagrada. Isto e sem duvida verdadeiro, porem pouco esclarecedor. Con- tudo, serve para nos fazer recordar que teremos que explorar os tipos de junQoes que 0 soci610gopressupoe. No momento, isto· sugere a suposi- gaq;.provis6riade,que,embora qualquer manifestagao de cultura ou de eg- • ~rutura social possa ter fungoes, e prematuro sustentar inequlvocamen- Y--' ./ te que cada uma de tais manifestagoes deva ser funcional. . 0 postlllado do funcionalismo universal, evidentemente, e 0 produto da feroz, esteril e arrastada controversia acerca dos "sobreviventes", que grassava entre as antrop6logos durante a primeira parte do seculo. A nogao de uma sobrevivencia social, isto e, nas palavr30Sde Rivers, de "um costume. i. (que) nao pode ser explicado pel30sua utilid30deatual, porem somente se tom3o inteligivel atraves de sua hist6ria p3ossad3o,"24 data pe- 10 menos do tempo de Tucidides. Mas, quando as teorias evolucionis- tas da cultura se tornar3omproeminentes, a conceito da sobrevivencia pa- receu muito mais estrategicamente importante para reconstruir os "est§,- gios de desenvolvimento" das culturas, particul30rmente para as socieda- des agrafas, as quais llaO possuiam nenl1um registro escrito. Para os funcionalistas que desejavam afastar-se de algo que consideravam como a "hist6ria" usualmente fragmentaria e freqUentemente conjetural das so- ciedades agrafas, 0 ataque sObre a nogao da sobrevivencia tomou todo 0 simbolismo de um ataque sObre 0 total e repugnante sistema do pensa- mento evolucionista. Talvez, em conseqUencia, eles reagiram de modo _. J1y? t'xtremado contra este conceito central da teoria evolucionist3oe ofereceramv-r ;;;:::>um"postulado" igualmente exagerado, segundo 0 qual "todo e qualquer cos- /' tume (em qualquer lugar). " preenche alguma fungao vital". Seria Jamentavel deixar que as polemicas de nossos antep3oss3odosan- tropo16gicos criassem. esplendidos exageros no presente. Uma"vez desco- bertas, cata10gadas e estudadas, as sobrevivencias soclais nao podem ser cxorcizadas por um postulado. E se nao podem apresentar nenhum es- pecime de t30issobreviv~ncias, entao a discussao se extingue por si mesma. Alem do mais, pode-se dizer que mesmo quando tais sobrevivencias pos- sam ser identiticadas r.as sociedades letradas contemporaneas, elas pare- cem pouco acrescentar 300nosso entendimento do comportamento huma- no ou d30dinamica das mudangas sociais. Nao necessitando do duvido- so papel de pobres substitutos da hist6ria escrita, a soci6logo das socie- dades letradas pode negligenciar as sobrevivencias sem nenhum30 perda aparente. Porem, ele nao precisa ser impelido par uma controversia ar- eaica e irrelevante a adotar 0 postulado irrestrito, de que tOdas as ma- nifestagoes culturais exercem fung6es vitais, pois isto tambem e um problema de investigagao e nao uma conclusao que se anteponha a ela. 24. W. H. R. Rivers, "Survival in sociology", The Soctological Review, 1913, 6, 293·305. Veja-se tambem E. B. Tylor, Primitive Culture. (Nova lorque, 1874), especialrnente I. 70·159; e, para urna revisao mais recente da materia, Lowie, The History of Ethnologica! Theory, 44 e segs., 81 e seg. Uma e"posi~ao inteligente e moderada do problema pode ser encontrada em Emile Durkheim, Rnles of Sociological Method. Capitulo 5, especial· mente na plig. 9t. Muito mais 11tHcomo uma orientar;ao a pesquisa, poderia ser a admissiio provis6ria de que as formas persistentes tem um saldo liquido de conse. quencias juncionais tanto para a sociedade considerada como unidade, quanta para subgrupos suficientemente poderosos para que possam reter intatas essas form3os,atraves de coerr;ao direta ou persuasao indireta. Essa formulagiio evita imediatamente a tendencia da anaJise funcional no sentido de concentrar-se sObre fung6es positivas e dirige, ao mesmo tempo, a atengiio do pesquisador a outros tipos de consequencias. Postulado .:da ·.Indispensabiltdade o ultimo deste trio de postulados, comuns entre os cientistas SOClalS !uncionais, e 0 mais ambiguo em alguns aspectos. A ambigUidade tor- na-se evidente na declarar;8.o de Malinowski ja mencionada, segundo a qual em cada tipo de civiliza~ao, cada costume, objeto material, ideia e crenta preenche alguma funtao vital, tern alguma tarefa a cumprir, representa uma parte indispens"vel dentro de urn todo que funciona.25 Nesta passagem, nao e de todo claro se ete afirm30a indlspensabili- d30deda fungiio, ou da coisa (costumes, objeto, idei3o,crenga) que pre- enche a fungao, au de ambas. Esta ambigiiidade e bastante comum na literatura. Assim, os ante- riormente citados Davis e Moore relatam 0 papel da religiao, parecr,n- do a principio sustentar que 0 indispensavel e a instituigiio. "A razao pe- la qual a religiao e necessaria ... ", " ... 30religiao ... desempenha um pa- pel tinieo e indispensavel na sociedade".26Porem, logo se evidencia que nao e tanto a religiao que e considerada como indispensavel, mas ao in- yeS disso, as funQ.6~s_.cie_qu~ a ~ e tlpicamente encarregada de realizar. Para ~.~oore, a. religla~ e considerada como indispen- savel somentenaextensao em que)ll1tfunciOna, a fim de fazer as mem- bros de uma sociedacle adotarem·~J_Q§. valOres e fins definithws .em comum.'~/ Acrescenta-se que tais vaIOres e fins,' . . devem ... par~cer aos membros da sociedade como tendo alguma realidade e que e papel da cren~a rellg.osa e do ritual fomecer essa aparencia da realidade. Atraves do rito e ct" cr~n~a, os val6res e objetivos comuns sao Jigados a um mundo lmaginario, simbolizado pelos obJetos sagrados concretos, mundo ~ste que por sua vez Ii relacionado de maneira signifl' caUva aos fatos e dificuldades da vida do lndivlduo. Atraves da venera~ao dos objetos !agrados e das entldades que Hes simbollzam, da aceita~ao das prescrltlies sobrenatnrnts que ao mesmo tempo constituem c6digos de comport amen to, exerce-ge um poderoso contr61e s6bre a conduta humana, guiando-a ao longo de llnhas que sustentam a estrutura institu- cional e que sao conformes aos fins e va16res definitivos.27 Malinowski, "AnthropOlogy", op. cit., 132 [0 grlfo Ii nossol. K!ngSley Davis e Wilbert E. Moorej op. cit., 244, 246. Veja.se a r€VlSao mais recente de~te. ~ssunto por Davis em sua introdu~iio 11obra de W. J. Goode, Iteligion Among the Pnmltive.s, (Glencoe, Illinois: The Free Press, 1951) e as instrutivas interpreta~6e5 funclOnals que se encontram nesse volume. 27. Ibid., 244-45 (0 grifo e nosso). Entao, a alegada indispensabilidade da religiao e baseada na admis- 5a,0 do fato de que e unicamente atraves do "culto" e das "prescriQoes so- " brenaturais" qUe pode ser alcanQado 0 minimo necessario de "contr61e ~s6bre a conduta humana" e a "integraQao em terroos de sentimentos c crenQas". Resumir,do, 0 postulado da indispensabilidade, tal como e comurnen- to afirmado, contemduas asserQoes relacionadas, porem distinguiveis. Primeiro, supoe-se que haja certas fungoes que saa indispensaveis no: sen- tido de que, a menas que nao sejam realizadas, a sociedade (a grupo au 0 individuo) nao persistira. Isto, entao, exprime urn conceito· de pre-re- quisitos funcionais, ou precondigi5es funcionalmente necessarias auma sociedade (teremos ocasiao de examinar este conceito com alguns deta- Ihes). Segnndo, e isto e assunto bastante diverso, admite·se que certas formas cu!turais ou sociais sac indispensaveis para preencher eada wn.a ~essas fun('oes. Isto implica urn conceito de estruturas especializadas e insubstHuiveis, e da origem a t6da especle de dificuldades te6ricas. Pois, nao s6 pode Se demonstrar isto como sendo manifestamente contra- rio aos fatos, mas tambem aearreta diversas suposiQoes subsidiarias, as quais tem afetado a analise funcional desde seu infcio. Isto desvia a atenQao do fato de que as estruturas sociais alternativas (e as formas tulturais) ttlro servido, sob condiQoes a serem examinadas, as funQoes necessarias a persistencia dos grupos. Prosseguindo, devemos estabele- cer urn teorema basieo da analise funeional; tal como a mesma coisa ____ .pode ter multiplas funr;()es, assim pode a mesma funr;lio ser diversamen- te preenchida par coisas diferentes. As necessidades funcionais sac aqul tomadas como permissivas, ao inves de determinantes das estruturas so- dais especificas. Ou, em outras palavras, ha uma margem de variaQao naS estruturas que preenchem a fUnQao em questao. (Os limites dessa margem de variaQao envolvem 0 conceito de coerQao estrutural, do qual trataremos mais detidamente a seguir). Contrastando com este conceito implicito de formas culturais indis- pensaveis (instituigoes, praticas padronizadas, sistemas de crenga etc.), ha entao, 0 conceito de alternativas funcionais, ou equivalentes luncio- nais, ou substitutos funcionais. :ltste conceito e amplamente reconheci- do e usado, mas e necessario observar que ele nao pode apoiar-se con- fortavelmente s6bre 0 mesmo sistema teorico que acarreta 0 postulado da indispensabilidade de formas culturais particulares, Assim, depois de haver revisto a teoria de Malinowski, da "necessidade funcional de mecallismos, tais como a magia", Parsons tern 0 cuidado de fazer a se- guinte afirmaQao: BlBLWT.cCA. Isto e urn grande afastamento da insistencia do pr6prio Malinowski, de que: Assim, pois, 2.1 magia preenche uma fun~iio indispensavel dentro do. cultuta. Eta satisfaz urns. necessidade definidu, a qua! nao pade ser satisfeita por quaisquer outros fat Ores da eivilizayao primitiva.29 Este duplo conceito da funQao indispensavel e do padrao insubsti- tuivel de crenga-e-aQiiofrontalmente exclui 0 conceito das alternativas funcionais De fatUI 0 conceito das alternativas ou equivalentes funcionais tern emergido repentinamente em cada disciplina que adotou uma estrutura !uncional de analise. Por exemplo, e extensamente usada nas ciencias psico16gicas, tal como ( indicado num trabalho de English. 30 E na neu- rologia, LaShley tem indicado, baseando-se em eVidt'lncias experimen. tais e clinicas, a inadequaQao da "suposiQao de qUe os neur6nios indivi- duais sao especializados para funQoes particulares", sustentando, ao contrario, que uma funQao particular pode ser preenchida por uma va- riedade de estruturas alternativas. 31 A sociologia e a antropologia social tern 0 melhor motivo para evi- tar 0 postulado da indispensabilidade de certas estruturas, e para traba- Ihar sistematicamente com 0 conceito das alternativas funcionais e dos substitutos funcionais. Pois, assim como os leigos ha muito tern erra- do ao admitir que os costumes "estranhos" e crenQas de outras socieda- das eram "meras superstiQoes", assim os cientistas sociais funcionais correro 0 risco de errar no extremo oposto, primeiro, sendo super!iciais na determinaQao de valOres funeionais ou adaptativos em tais pratieas e c:e~Qa~,.e segundo, deixando de ver quais modos alternativos de SQao sao ..ehmmados agarrando-se a essas praticas. ostensivamente 'funcionais Assim, nao raramente se.encontra entre os funcionalistas a pretensfu) e~ Co~cl~.r-Jue a magia ou certos rjtos reJigiosos e crengas, sejam funcio- nals, _~~~~doa seu efeito sabre 0 estado de espirito au autoconfianQa do~r..e.nt~.. ~o entanto, pode-se dar em alguns exemplos, que essas pratlicas d.e .mag1a OpscuteQam e tomem 0 lugar de praticas seculares aces- Slve1Se mais adaptativas. Conforme FL. Wells observou: dos p~eg~r Uma ferradura aclma da porta, numa epldemla de variola, pode erguer 0 moral as r abltantes d~ casa. mas nao afastara a variola; tais crenQB.S e praticas nao suportarao p ovas clentlilcas as quais sao suscetlvels, e 0 senso de seguran~a que etas dao e preser. vado apenas enquanto as provas verdadeiras sao evltadas.32 29. Malinowski, "Anthopology", op. cit., 136, (0 grifo e nosso]. 30. Horace B. English, ~'Symbolic verSus functional equivalents in the neUroses of vation" J I f depri· 31. K. S.' L:S'::I~:, ~B:s~no~::~la~e~Oae~~~m~SY~:o~~~v~~~:" 3;~y~~~~:g'ieal Review 1930, ~~. " 32. F .. L. Wells, "Social maladjustments: ada.ptive regresslon" em Carl A Murchison edItor, Handbook of S 'I P I I ",de Wells . oe,a sye 10 ogy, (Clark University Press, 1935), 880. A observa~ao d' est!l mUlto longe de ser antlquada, Ate a decada de 1930 a variola "nao po la s€r eVltada" nos Estados de Idaho, Wyoming e Montana, as qUai~, na.o tendo leis ... Sempre que tais elementos de incerteza entrem a procurar objetivos emocionalment. importantes, pode·se esperar que apareQam, 5e nao a m21gia. Qutros !en6menos funcionalment,. equivalentes.2S 28. Talcott Parsons, Essays in Sociological Theory, Pure and Applied, (Glencoe, lllinai., The Free Press, 194D), 58. Mestr:do em 2~li'johgia Os funcionalistas que esUio obrigados, por sua teoria, a esperar os efeitos de tais praticas simb6licas, somente sabre 0 estado de espirito do individuo, e que, portanto, concluem que a pratica magica e funcional, Iliesprezam 0 fato de que estas mesmas praticas podem ocasionalmen· fe tomar 0 lugar de a!ternativas mais eficazes.33 E os te6ricos que se referem a indispensabilidade das pniticas padroniZadas ou das institui- gaes predominantes, devido a sua fungao observada de reforgar os sen- timentos comuns, deverao olhar primeiramente as sUbstitutcs funcio- nais, antes de chegar a uma conclusao, mais frequentemElnte prematura do que confirmada. Ap6s a revisao dessa trindade de postulados funcionais, emergem diversas considera~aes basicas, as quais devem ser fixadas em nosso es- forgo de codificar este modo da analise. Esmiugando, em primeiro lugar, o postulado do, unidade juncional, encontramos que nao se pode admi- tir a completa integragao de t6das as sociedades, mas que esta e uma questao de fato, empirica, na qual deviamos estar preparados a encon- trar uma escala de graus de integragao. E ao examinarmos 0 caso espe- cial das interpretagaes funcionais da religiao, estivemos prevenidos da pessibilidade de que, embera a natmeza humana possa ,serfeita de urna 56 pega, nae se segue que a estrutura das sociedades agrafas seja uni- 10rmemente semelhante a das sociedades altamente diferenciadas, e «letradas" . Uma diferenga em grau entre as duas - por exemplo, a ol'xistencia de diversas religiaes. dispares em uma e nao na outra - pode tornar aventurosa a passagem entre ambas. De um exame critico de tal postulado, verificou-se que uma teoria da analise funcional deve provocar a, especijicagrio das unidades sociais servidas por dadas fun- ~oes socials, e que se deve reconhecer que os itens de cultura tem mill- tiplas consequencias, algumas delas funcionais e outras, talvez, disfun- cionais. A revlsao do segundo postulado do juncionalismo universal, que as- severa serem t6das as formas persistenres de cultura inevitavelrnente funcionais, resultou em outras consideragaes que devemser satisfeitas por uma abordagem codificada em relaQao a interpretagao funcional. Pa- rece .que.nao s6 de~emos .esta: preparados para encontrarmos consequenclas ~als, como dlsfunclOnals dessas formas, assim tambem como 0 te6ri- co sera, ao final, confrontado com 0 dificil problema de desenvolver um 6rgao que possa avaliar 0 saldo liquido das consequencias, se e que sua pes- quTIra deva ser aplicavel a tecnologia social, De maneira clara, 0 con- selho dos peritos, baseado apenas sObre a avaliaQao de uma escala de consequ€mcias, l1mitada e talvez arbitrariamente selecionada, a ser anteci- pada como resUltado de uma agao contemplada, sera frequentemente su- jeito a erros e sera julgado, com razao, como de pouco merito. o postulad.o da indispensabilidade, segundo verificamos, acarretava duas proposiQaes distintas: uma, que alega a indispensabllidade de cer- tas f,:n.Qaese d~ or~gemao con.ceito da necessidade juncional ou dos pre- -requtsttos junctonats, a outra, que alega a indispensabilidade das insti- tuig6es sociais existentes, das formas de cultura, OU semelhantes, e is- to, quando discutido adequadamente, da origem ao conceito de altern a- tivas juncionais, equivalentes ou substitutos juncionais. Alem do mais, a circUlagao destes tres postulados, separadamente ou em harmonia, e a fonte da aprecia~ao comum, de que a analise fun- cional inevit1welmente envolve certos compromissos ideol6gicos. Uma yez que esta e uma questao que repetidamente vira ao pensamento a me- dida que roe examinarem as concepgaes ulteriores da analise funcional, :;:eramelhor examina·la desde ja, se quisermos que a nossa atengao nao seja repetidamente afastada dos problemas analiticos em estudo pelo ('spectro de uma ciencia social manchada de ideologia. para"'a'$vaclna obrlgat6rla, podlam jaetar·se de ter uns 4.300 casoS de variola num perlodo de clnco anos, ao passo que os Estadas mals popUlosoS de Massachus~ts. Pennsylvania e Rhode Island, que dlspunham de leis de vaclna obrlgat6rla, nao tlveram nero urn 86 caso dessa enfermidade. No que se refere as insuficiencias do "senso comum II nesses assuntos, veJ••-se The Patient's Dileollna, por Hugh Cabot (Nova Iorque: Reyual & Hltchcocl!:, 1940),166-67. ' 33. Talvez se deva salientar que esta afirmagao e felta com pleno conhecimento da obser. ve-Caode Malinowski, segundo a qual os trobrlandeses nao substltuiram suas crencas e pratlcas maglcas pela aplicaCao da tecnologla raclonal. Continua de pe 0 problema da avaliacao do grau em que 0 desenvolvimento tecno16glco e retardado pelo fato de que certas comunidades dependem, ate certo ponto, d•. magla, par •. lidar com •. "margem de Incerteza". Esta zona. de incerteza provavelmente naa e flxa, ma.s esta relaclona.ds com a. tecnologia. de que se disp6e. Os ritos destina.dos a. regular 0 tempo, POl exemplo, podem facllmente absorver as energias dos homens que, de outra. maneim. poderlam reduzir essa "zona. de Incerteza". atendendo a.os progressos dos cOhnecimentos meteoro16gicos. Ca.da. ca.so deve ser julga.do de per sl. Aqul nos referimos apena.s a tendencia. crese,ente entre os antrop6logos sClcla.19e os socl6logos a lImltar-se a.os efeltos '"morais" observados, provenlentes de pritieas sem fundamento raclonal nem empirico e ,a renunclar a analise das altemativas que poderiam ser utllizaveis em deterrninada situacao, se a orientagao para "0 transcendental" e Uo simb6Uco" nao enfocasse a atengao :s6bre outras mllMria.s. Finalmente, e de se esperar que tudo Isto nao seja Interpret ado como urn ret6rno ao ra.clonalismo. as vezes, Ingenuo do "Seculo das Luzes" (seculo XVIII, em que se desenvolveu na. Europa urn movimento f\los6lico e social caracterlzado ,pelo ra.cionalismo). [A expllcagao entre parentese e do tradutor1· A Anlilise Funcional como Elemento Conservador Em muitos setores, e com crescente insistencia, tem-se afirmado que qualquer que ~eja 0 valor intelectual da analise funcional, ela e inevita: velmente comprometida com uma perspectiva "conservadora" (e mes- mo "reaci:maria"). Para alguns desses criticos,-a· anaii~e funcional e pouco mms do que uma versao hodierna, da doutrina surgida no seculo XVII, .afirmando a identidade invariavel entre os interesses publicos e partlculares. Ela e considerada como uma versao secularizada da doutrina estabelecida por Adam Smith, por exemplo quando na sua ~heory oj Moral. Sentiments, escreveu acerca da "ord~m harm~niosa da ~atureza, sob onentagao divina, a qual promove 0 bem·estar do homem atraves da agao de suas propens6es individuais". 34 Assim, dizem tais criticos, a teoria funcional e meramente a orientagao do cientista so· cial conservador, que defenderia a presente ordem de coisas assim comO ela e, e que atacaria a conveniencia de se fazerem mudangas embora moderadas. Sob este ponto de vista, 0 analista funcional sistematica· mente ignora a advertencia de Tocqueville, de nao confundir 0 familiar com 0 necessario: "... aquilo que chamamos de instituig6es necessanas, sac frequentemente apenas as instituig6es as C1uaisnos acostumamos ... " Fica por demonstrar que analise inevitavelmente cai, presa dessa ilu' sac atraente; mas, tendo revisado 0 postulado da indispensabilidade, podemos bem apreciar que este postulado, se for adotado, podera facH- mente dar ongem a tal acusagao ideo16gica. Myrdal e um dos que mais recentemente e nao de maneira menos tipica, entre os cnticos, arg'11ia ine- vitabilidade de uma inclinagao conservadora na analise funcional: zar do ch'"iro de nossos alimentos. 36 au, de maneira semelhante 0,0., te61ogos cristaos base ados no argumento do designio, ele podena se!' logrado por urn Benjamin Franklin, 0 qual demonstrava que evidente. mente De<ls "queria que nos bebericassemos, pois ele fez as juntas do brago just?mente do comprimentc necessario para levarmos um copo a boca, sem ultrapassar do alvo ou deixar de atingi-Io: "Adoremos, pois, de copo na mao, a esta benevolente sabedoria; adoremos, e bebamos". 37 au ele poderia estar disposto a cieclaragaes mais serias. como a de Mi. (~helet quando observava "quao belo tUdo que e disposto pela Natureza. Logo que a cria.Ilga chega a este mundo, €ncontra urna mae que esta pronta para cuidar dela".i8 De maneira semelhante a qualquer outro sistema de p€nsamen.to, que se limite com a teleologia, embora evitz atravessar a fronteira daquele estranho e improdutivo territ6rio, a ana- lise funcional ell: sociologia e ameaQada por uma redugao 0,0 absurdo, desde que adote 0 postulado de que t6das as estruturas sociais sac indis- pensaveis ao preenchimento de necessidades funcionais not6rias.... se Uffi2.1 coisa tem uma (lfunQao", ela e boa, au pelo menos essencial.· A palavta "fun~ao" somenie po de ter urn significado, em termos de uma imposta finalidadeju, se tal tinalidade e deixada Indelinida ou implicita, como sendo 0 "interesse da sociedade". 0 qual nao e ulterlormente definido •••• deixa-se uma consideravel tolga para a arbitrariedade, na consequencia pratica. porem ja se da a direcao principal: uma descricao das instituicoes soriais, em termos de suas fungoes, necessariamente conduzira a uma teleologia conser- vadora".35 As notas de Myrdal saa instrutivas, menos por sua conclusao do que par suas premissas, pais, cOnforme temos observado, Me se apoia em dois postulados tao frequentemente adotados por analistas funcionais, para chegar a acusagao irrestrita que aquele que descreve as instituigoes em termos de fungoes, esta, inevitavelmente, entregue a "uma teleologia conservadora". Porem, em nenhuma passagem Myrdal desafia a inevi- tabilidade dos postulados em si mesmos. Sera interessante perguntar como serao inevitaveis os postulados, quando 0 perquiridor escapou das premissas . De fato, se a analise funcional na sociologia fOsse eomprometida com a teleologia, ou pelo menos com a teleologia conservadora, ela tornar- ·se-ia logo sUjeita, e alias, adequadamente, a acusagaes ainda mais TU- des queessas. Tal como tem acontecid'J com tanta frequencia com a teleologia na hist6ria do pensamento humano, ela seria submetida a uma reductio ad absurdum, 0 analista. funcianal podena, entao, enfrentar 0 destino de S6crates (embora nao pela mesma razao) que sugeriu ter Deus eoloeado nossa boea logo abaixo do nari?:, a fim de que pudessemos go· ,1 Analise Fu.ncianal como Elemento Radical E muito interessante observar que outros <J.utore~.tem ...chegado a con- clusaes exatamente opostas a acusa98,o de. que a an;ilise funcional ..este- ja intrinsecamente comprometida. com 0 conceito de que tUdo 0 que 2xiste e bem e de que est.e.mundoe,. na verdade, 0 melhor dQJLmundos possfveis. Estes observadores, LaPiere por exemplo~- s~g~m q~~ a 3:nalise fun clonal seja uma abordagem inerentemente critic a na perspec- tlva, e pragmatica no julgamento: . liB.... uma s~~Hicacao mais ~rOfunda do que podetia parecer a primeira vista, na pas- sagem da descngao estrutural para a analise funcional, nas ciencias sociais. Esta passagem representa uma ruptura com 0 absolutlsmo .. social e 0 moralismo-<1aJ.eologia...crlsta. Se 0 aspecto Importante de qualquer estrutura SOCial e 0 de suas fungoes, segue-se qUe nenhuma estrutura pode ser julgada unicamente em termos de estrutnms. Na pratica isto signlficlt. por ex:mplo, que 0 sistema de familia patriarcal e coletivamente valiD so , unicamente s6 e na extensao. em que funcione atingindo a satisfacao das f1naUdades coletlvas, Gomo estrutur~ social, nno tern nenhum valor intrinseco, uma vez que seu valor funcional variara de tempo') em tempos e de lugar para lugar. o pon~o de vista funcional aplicado ao comportamento coletivo, sern duvida, afrontara todos aqneles que acreditam que as estruturas sociopsicologicas tenbam valores intrinsecos. A.ssim, pa:a aq~eles que acreditam que 0 ritual ecleslastico e bom, porque e um ritual eClesla.- tlCO, a aflrmagao de que algumas cerimonias eclesiasticas, SaD apenas movlmentos formals vazlos de slgniflcagao religiosa. e que outros SaD funcionalmente comparaveis a representagae; teatrais, e que alnda outros SaD uma forma de festanga e, portanto. sao comparaveis a uma orgla de bebados. sera uma afronta ao senso comum. urn ataque a Integridade das pessoas decentes, QU, pelo men~s, as desvarios de urn pobre lOlleo.39 36. Farrington tece algumas outras observagoes mUito Interessantes s6bre pseudoteleologia em SUa obm Science in Antiquity (·Londres: T. Butterworth. 1936). 160. 37. :crecho de uma carta de Franklin ao padre Morellet. extra.ldo das Memorias deste u!tllnO por Dixon Wecter. The Hero in Americ,a (Nova Iorque: Scribner. 1941). 53-54. 38. FOI Sigmund Freud que colheu esta observacao em A Mulher, de Mlchelet. 39. Richard LaPiere, Collective Behavior, (Nova Iorque: McGraw-Hill 1938) 55-56 [0 grifoe nossoJ. ' , 34. Jacob Viner, "Adam Smith and Laissez Faire". Journal of Political Economy, 1937, 35. 208. Deve-se admltir que Myrdal ace Ita gratuitamente a teorla d'" indispensabllidade como intrlnseca a t6da analise funcional. Isto. como vimos. nao somente e gmtuito. como falso. Aqul, Myrdal assinala apropriadamente 0 postulado va go e duvldoso da unidl1.de funcionai. ~5. Gunnar Myrdal. An American Dilemma (Nova Iorque: Harper & Brothers. 1944) II. 1056 [grifos e observagaes SaD nossos J. I- o fato de que a awl,lise funcional pode ser encarada par alguns co- mo inerentemente conservadora, ¢ por outros como intrinsecamentera- dical, sugere que talvez ela nao s~ja inerentemente uma coisa, nem outra. Sugere que a analise funcional pode naa implicar em nenhum compro- misso ideol6gico intrinseco, embora, como outras formas de analise so- ciologica, ela possa estar imbuida de uma extensa varie'dade de val6res ideologicos. Ora, nao e esta a primeira vez que se atribuem significa- qoes ideo16gicas diametralmente opostas a uma orientaQao teorica da r.iencia social au da filosofia social. Portanto, pode ser util examinar '.lm dos mais notaveis exemplos no qual uma concepgao sociologica e Pletodo16gica tenha side objeto das mais variadas imputaQoes ideol6- gicas e comparar este exemplo, na medida do po~sivel, com 0 caso da analise funcfonal. 0 exemplo de comparagao e 0 do materiallsmo ilia· letico. Sens porta-vozes sao os historiadores da economia, filosofos so- ClalS e revolucionarios profissionais, Karl Marx e seu intimo amigo e colaborador Friedxich Eng.els. As Orienta~oes Ideologicas do Materiallsmo DialOtico 1. "A mlstlllcagao que a dlalHlca solre nas mOps de Hegel, de modo algum 0 impede de ser a prlmelro a apresentar sua forma geral de funclonamento, de manel- ra compreenslva e consciente. Com I!le, ela esta de cabega para bal- xo. Ela podera ser novamente colocada dlreito, se f6r descoberta a parle central racional dentro da concha misUea. 2. uEm sua forma mistificada a dialetica tornou·se moda na Alemanha, porquc pa' receu transfigurar c glorificar 0 est ado de coisas existente. 3. "Em Sua forma racional e um es. cflndalo e uma abomina~ao para a burgue. sia e seus profess Ores doutrinarlos, porque abrange ern sen reconbecimento eom. preensivo e afirmativo do estado de coisas existente, tambem a.o mesmo tempo a reconhecimento da nega~ao daquele estauo [de coisas], de sua inevitavel ruptura; 4. "porque ela considers. cada forma desenvolvida historicamente como em mo. vimento fluida, 81 port21I1to, leva em C~jnt.l sua natureza transit6ria, nao menos que 'Sua existencia momenta-nea; porque ela nao permite que nada Se the imponha e e, em sua essencia, critica e revolucionarla." 40. As Oricnta~oe. Ideologica. c.omparaveis, d" Analise Funclonal 1. Alguns anaUstas funcionais, gratuita- mente, admitiram que tBdas as estrutura. soclais existentes preenchem fungoes sociais indispensaveis. Isto e pura fe, misticismo, 5e assim 0 qUiserem, em v·~z de ser 0 produto final de uma inquiri~ao sustentada e sistemMica. :m preclso ga. nhar 0 postulado, e nao herda-la, se e Clue ille deva conquistar a accitagao dos ho· mens da ciencla social. 5. ••... tadas as situa~oes hist6rlcas sucessivas saa apenas estagios transit6rio.~, no infindavei caminho do desenvolvlmento da sociedade hurnana, da fcrrna inferior para a superior. Cads est agio e necessario, e, portanto, justificado para 0 tempo e condic;6es aos quais deve sua origem." 2. Os tres postulados: unidade tun- clonal, universa.lidade e indispensabilidade, compreendem um sistema de premissas. as quais inevltllvelmente conduzem a uma gloriflcagao do estado de coisas existente. 3. Em suas tormas mais empirlcamente orientadas e anallticamente preclsas, a analise funcional e freqilentemente enca' rade. com suspei~a.o por aqueies que ce!1~ sideram uma estrutura social existente como etetllamente fixada e imune 11 mt'- dan~a. Esta forma de analise funcion,,-, mais minuclosa abrange nao s6 um est ado das funQoes das estruturas sociais existen~ tes, mas tambem um estudo de suas dis· fun~oe. em rela~ao aos indivlduos dlversa· mente situsdos, aos subgrupos eu estrati~ fica~oes soelais, e 1J.sociedade considerada em sua maior extensao. Admite provl- soriamente, como veremos, que quando 0 saldo Iiquido do agregado de conseqiiencl •• de uma estrutura social existente e clara· 6. "Mas nas rnais novas e ma1s altas condiQaes que gradualmente se desenvol. mente disfuncional, desenvolve-se forte e insistente pressao para a mUdan~a. Aaui embors isto ainda tenha que ser comp;o. vado, e possivel que, para slem de urn certo ponto, esta presSao provocara ine. vitavilmente rumos mais ou menos deter. minllodos de mUdan~a socia!. 4. Embora a analise funcional haja fu- calizado com freqUencia a eslatica da es. trutura SOCial em veZ da dinamica d" mudanga social, tal aqui nao e intrinseco a esse sistema de analise. Apontando as fungoes, ao mesmo tempo que as dis. fungoes, este modo de an.Uise pode avaliar nao 56 as bases de. estabilidade social comotambem as fontes potenciais da mUdanga socia!. A frase "formas historicamente desenvolvidas" pode ser lembrete 11t11 de que as estruturas sociais estao tlpicamenl:.e sofrendo uma mUdan~a perceptive!. Res,a descobrir as pressoes que favorecem varlos tipos de mUdan~a. Na medida em que a analise funcional focalize inteiramente as conseqiienclas funclonais, ela se inclina a uma ideologla uitraconservllodora; na me- dida em que ela focalize inteiramen te as consequencias disfuncionais, inclina-se em dlre~ao a uma utopia ultra-radical "E.rn sua essencia", nao e uma. coisa nem outra. 5. Reconhecendo, como a devem fazer. que as estruturas sociais estao em perma. nente mudanga, as analistas sociais de- vern, nao Obstante, eX'Plorar as elementos interdependentes e com freqUencla miltua. mente apoiadores, da estrutura social. De modo geral, parece que a malor parte das socledades sao Integradas ao ponto. em que muitos, senao tados, dos seUs elemen. tos, estejam reclprocamente ajustados. As estruturas sociais nao poSsuem um sorti. mento de atrlbutos tornado 1'0 acaso, mas tals atributos estao entrela~ados de varlas maneiras, e com freqU~ncia se ap6iam mil. tuamente. Reconhecer Isso, nao e adota' uma aflrma~ao indiscriminada de to no status quo; deixllol' de reconhecer isso, e sucumbir lis tenta~oes de utopismo radica~. 6. As tensoes e as esforgos numa estru. tura social, que se acumulam como Con- 40. Ate aqui, 0 trecho esta citado Sem supressoes, nem acrescimos e somente com a ade~uado para dar maior enfase •. grande fonte do materialismo dialetico, que Cap,tal, de Karl Marx (chicago: C. H. Kerr, 1906), I, 25-26. 'Yj';",'; 'J. Esta comparagao sistematica podera :;er 0 bastante para sugerir que a analise funcional, da mesma -forma que a dialetica, nao acarreta- ne- cessariamente um compromisso ideo16gico especifico. IS50 nao quer di- zer que tais compromissos nao estejam freqiientemente implicitos nas obras dos analistas funcionais. Porem 1'&.rece extrinseco, em lugar de intrinseco 11 teoria funcional, Aqui, tal como em outros departamen- tos de atividade intelectual/o abuso nao impede as possibilidades do uso. CrHicamente revisada, a analise functonal e neutra relativamente aos principals sistemas ideo16gicos. Nossa extensao, e somente neste vem em sen proprio seio, cadll- uma delas perde sua validade e justifiea~ao. Ela neeessariamente d",ra lugar a form as mals elevadas que tambem por sua vez decaira,Q e perec.erao ... " 7. jlQ [materialismo dialetico], revela 0 carater translt6rlo de cada coisa e em cada coi5a; nada pode durar ante ~le, ex~ ceto 0 processo tnlnterrupto de vir a ser e de desaparecer... A [dlaletica] eviden tc· mente, tern tambem urn lado conservador: reoonhece que as estagios definidos do conheelmento e da soeledade silo jUBtlflca. dos por seu tempo e clrcunstilnclas; mas Bomente ate ai. ,0 conservadorlsmo de tal \ modo de encaral' "as~colsas '"6' "re"lativoi "p~ "rem----"seueariiter ·'reVdluCion ~rio e absoluto _ 0 unlco absoluto que ele admite" .41 sequencins disfuncionais de elementos existentes, nao sao apertadas, confinadas e cerceadas mediante planejamento social apropria.do, e no seu devido desenvolvi- menta conduzirao a ruptura institucianQl e a mudangas sociais basicas. Quando essa mudanga petSsou para a!em de urn ponto dado, nao fltCilmente identificavel e costumeiro dizer-se que Urb novo sistem~ social emergiu. "entido limitado,43 ela e semelhante aquelas teorias au instrumentos das clencias fis\cas os quais se prestam indiferentemente ao uso de grupos opostos, para finalidades que freqiientemente nao fazem parte da inten- c;.ao dos ciel:tistas. 7. Mas de novo, deve ser reiterado: nem s6 a mUdanga nem s6 31 fixidez s6zinha podem ser 0 objeto pr6prio do estudo do anaUsta funcional. A medida que exami, names 0 curSD da hist6ria, parece razea-- velmente claro que t6das as principals estruturas sociais, em seu devido tempo, tern sido cumulatlvamente modiflcadas ou abruptamente terminada.s. Em qualquer caso, elas nao tem side eternamente fixas e Inflexlveis as mUdangas. Porem, num dado momento de observagao, qualquer urns dessRs estruturas sociais pode est-ar toleravelmente acomodada, tanto aos va· lores sUbjetivos de mUitos, ou da maior parte da populagao, como as c!,mdig6es objetivas com que ela e confrontada. Re· conhecer isto e ser ,,Co-!lse_n.ta.lleocom os ffl' tos, e nao fiel a uma 'idEWlo'gi~ preestabe· lecida. E pelo mesmo motivo, quando se observa que a estrutura nao esta ajus· tad a as necessidades do povo, ou com as condlg6es de agao iguaJmente s6lidas, Isto tamMm deve ser reconhecido. Quem ousar fazer tudo Isso pode tomar-se um analista funcional; quem ousar menos, nao seril,42 Ainda e instrutivo voltar, se bem que resumidamente, a diseussao das fungoes da religiao, a fim de demonstrar como a 16gica da analise funcio- nal e adotada pOl' pessoas de suas posigoes ideo16gicas opostas. o papel social da religiao tem sido evidentemente observado e repe· tidamente interpretado atraves de muitos seculos. 0 nucleo central da continuidade de tais observaQoes consiste na enfase sabre a leligiao co- mo meio institucional de contra Ie social,quer se de no conceito de Pia· tao, de "nobres mentiras", quer na opiniao de Arist6teles, de que ela ope- ra "com vistas a persuasao da multidao", ou segundo 0 incomparavel julgamento de Polibio, de que "as massas, .. podem ser controladas apenas por terrores misteriosos e medos tragicos". Se as expressoes de Montesquieu acerea dos legisladooos romanos inform am que eles: procuravam "inspirar a um povo que nalla temia, 0 medo dos deuses, e usar tal me do para 0 conduzir onde quer que lhes aprouvesse", Jawa- harlal Nehru observou, depois, com base em sua pr6pria experienda, que "os tinicos livros que os funcionarios britanicos recomendavam 3calora- damente (aos prisioneiros politicos na India), eram livros religlOsos ou novelas. E maravilhoso quae caro e ao coragao do Governo Britanico 0 assunto da religHio, e quae imparcialmente ele encoraja t6das as formas dessa atividade".44 Poderia pare eel' que ha uma antiga e duradoura tra- UlQao que mantem, de uma ou de outra forma, que ?- religiao tem servi- do para controlar as massas, Igualmente e aparente que a linguagem em que esta proposiQao e vazada, usualmente fornece uma pista revelado- ra do compromisso ideo16gico do autor. Que e, entao, que S8 passa com algumas das atuais analises funcio- nais da religiao? Em sua consolidaQao critic a das diversas teorias prin- Cipals da sociologia da religHio, Parsons resume algumas das conclu- soes basicas que emergiram em relaQao a "signifieagao funeional da re- ligiao" : ':. se as norm as mora is e os sentimentos que as suportam saa de tao primordial imoor- t:lnclR, ~uais saa os mecanlsmos pelos quais elas saa mantidas, slem dos .processos e:ctte;no.'i de coa~ao? Durkheim opinava que os rituais religiosos erarn de primordial significar;ao COI1JO 41. Da mesma forma, este trech'o e cHado apenas com a supressao de material irrele- vante e tambem com grifo nossa, da obra de Friedrich Engels, Karl Marx, Selected Works, (Moscou; Sociedade Editora Cooperativa, 1935), I, 422. 42. Admite·se que esta paratrase contrarla a Inten~iio original do bardo, mas espera-,e que a ocasiao justifique a falta. 43. Nao se deve tome,r isto como negagao do importante fato de que os valores, impllcic$ e expllcitamente reconhecidoSj do dentista social, possam contribuir a fixar sua escolha de prob.lemas para a pesquisa e, par canseguinte, a utilidade de seus resultadOs para determlnados prop6sitos e nao para outros, Nossa afirmac;ao nao significa mais do qU~ diz: a analise :!uncional nao tenl compromisso intrinseco com qualquer campo idoo~ :6g1CO, Como S8 deduz, 2.10 menos, da discussao precedente, {~. Jawaharlal Nehru, Toward Freedom, (Nova Iorque: John Day, 1941), 'f. , urn mecanismo paraexpressar e reforQar os sentimentos mais essenciais a integra9ao institu- donal da sociedade. Facilmente pode-se ver que esta formulaQao Ii cla.ramente ligada aoo pontos de vista de Malinowski acerca da significaQao das cerim6nias f(mebres como un' mecanismo para se reafirmar a solidariedade do grupo em ocasiao de fortes tensoes emocio· nais. Assim, Durkheim estabeleceu certos aspectos das relaQoes especificas entre a religiiio e a estrutura social, mais e.gudamente que Malinowski, e, alem disso, coloCQU 0 problem:::. numa perspectiva funcional diferente, ao aplica-Io a sociedade como urn todo, abstraindo·o de situaQoes particulares de tensao e esforQos em relaQao aD individuo.45 observa Young, as religi6es tambem tem servido, sob determinadas cir- cunsti'mcias, para prbvocar rebeli6es, ou como Weber demonstrou, as re- li{?'i6estem servido para motivar au para canalizar 0 comportamento de rande numero de homens e mulheres, para a modificagao das estrutu-;6S sociais. Seria prematuro, portanto, concluir que tOdas as religi6es em t6da parte visarn unicamente 0 objetivo de fomentar a apatia das massas. Em segundo lugar, 0 ponto de vista marxista, de modo implicito, e a opiniao funcionalista, de modo explicito, afirmam 0 ponto fundamental de que as sistemas de religiao ajetam 0 comportamento, de que eles nao 3Q,O simplesmente epifen6menos, mas determinantes de comportamento parcialmente independentes. Pais, presumivelmente, faz diferenga se "as massas" aceitam au nao uma religHioparticular, assim como faz dife- renga se um individuo toma au deixa de tamar 6pio. Em terceiro lugar, as teorias mais antigas, assim como a marxista, cogitam das consequencias dijerenciais das crengas e rituais religiosos de varios subgrupos e estratos da sociedade - por exemplo, "as massas" - tal como, neste particular, faz a nao-marxista Donald Young. 0 fun- cionalista nao se limita, como temos visto, a explorar as consequencias da religiao para a "sociedade como urn todo". Em qnarto lugar, comega a manifestar-se a suspeita de que as fUn- cionalistas, com sua enfase na religiao como mecanismo social para "re- forgar as sentimentos mais essenciais a integragao institucional da socie- dade" talvez nao se tenham diferenciado materialmente - em sua estrutu- Ta analitica - dos marxistas, que tambem afirmam que a religiao opera como um mecanismo social para reforQar certos sentimentos seculares, assim como sagrados, entre seus seguidore3, se convertermos sua meta- fora do "6pio das massas" numa afirmagao neutra de urn fato social. A diferenga s6 aparece quando as avaliacoes deste fato comumente aceito entram em questao. Na medida em que os funcionalistas se re- ferem s6mente a "integragao institucional" sem explorar as diversas can- seqiiencias da integragao a respeito de tipos de valores e de interesses muito diferentes, eles se confinam a interpretagao puramente jormal, pois a integragao e urn conceito claramente formal. Uma sociedade po- de ser unificada sabre normas de eastas estritas, de regimentac:ao, e do- cilidade de estratos sociais sUbordinados, assim como pode ser unifiea- cia sabre normas abertas e amplas, de largas areas de auto-expressao e independencia de opiniao entre estratos temporariamente inferiores, E na medida em que as marxistas afirmam, indiscriminadamente, que t6da religiao em t6da parte, qualquer que seja seu conteudo doutrinario E' sua forma organizada, inclui "urn 6pio" para as massas, eles tambem Se baseiam em interpretac:6es puramente formais, sem admitir, como de- monstra ser 0 easo do paragrafo de Donald Young, que algumas reU- gi6es particulares em estruturas sociais particulares, servem para ati- var em vez de entorpecer a agao das massas. E, portanto, na avaliaQao .de E novamente, resumindo urn resultado essencial do principal estu- do comparativo da sociologia da religHio, Parsons observa que "talvez a mais surpreendente caracteristica da analise de Weber seja a demons- traC:aOda medida em que precisamente as variaQ6es dos va16res sancio- nados socialmente e dos objetivos da vida secular, correspondem as va- riag6es da filosofia religiosa dominante das grandes civilizaQ6es".46 Semelhantemente ao explorar 0 papel da religiao entre os subgrupos raciais e etnicos dos E'stados Unidos, Donald Young observa com efei- to a estreita correspondencia entre seus "va16res e objetivos socialmente sancionados na vida secular" e sua "filosofia religiosa dominante": Uma funQiio que uma rellgiiio de minoria pode desempenhar e a de reconcillaQiio com un, ~tatus inferior e suas conseqiiencias discriminat6rias. A prova do serviQo religioso desta fun.;;ao pode ser encontrada entre tOdas as minorias norte~americanas. por Dutro lado, as instituiQoes religiosas tambem podem desenvolver-se de maneira tal II. serem urn incitamento e apoio da revolt a contra urn status' inferior. Assim. os indios cnstianizados, tendo-se em conta as exceQoes, manifestaram a tendencia de ser mais subrnissos do que os pagiios .. Cultos especiais tals como aqueles assoclados com 0 usa do peyote, a Igreja dos 1ndlos "Tremedores" e a DanQa dos FlbIltasmas, as tres con tendo elementos nativos e cristaos, foram tentativas predestinadas ao ma16gro, no sentido de se desenvolverem modos de expressao religiosa adap· tados a circunstincias individuais e de grupos. 0 ultimo culto, com sua lnsist~ncia em garantir urn 4'millennium" de liberdade em rela~ao ao homem branco, incitava a.' revolta violenta. 0 cristianismo do negro, embora encorajando bastante a critica a ordem existente, fornentou a aceitaQao das dificuldades preseutes pelo Mnbeclmento de melbores tempos ua vida depois desta. As numerosas variedades de cristia.nismo e 0 jUdalsmo, trazidos peios imigrantes do Mexico e da Europa, apesar de conte rem elementos nacionallstas comuns. tambem salientavam recompensas posteriores em vez de acao imediata.47 Estas observag6es diversas e esporadicas, com sua proveniencia ideo16gica notavelmente variada, apresentam algumas semelhangas ba- sieas. Primeiro, tadas elas estao relacionadas com as consequencias de sistemas religiosos especfficos quanto a sentimentos, definig6es de si- tuagoes e ac6es predominantes. As conseqUeneiasobservadas com maior freqiiencia, sac as de reforgo de normas marais ja prevalecentes, d6cil aceitaQao dessas normas, adiamento das ambigoes e recompensas (se a doutrina religiosa assim 0 exige), e assim par diante. Contudo, como 45. Talcott Parsons, Essays in Sociological Theory, 61 [0 grifo e nossol. 46. Ibid .• 63, -t7. Donald Young, American Minority Peoples, (Nova Iorque: Harper. 1937), 204 [0 grifc e nassal. Uma analise funcional da religiao dos negros nos Estados Unidos pode ser encontrada na obra de George Eaton Simpson e J. Milton Yinger, Racial and Cultur:,l Minorities (Nova Iorque: Harper & Brothers, 1953), 522-530. tais fungoes da religi1:io, e nao na logica da analise, que se separam os funcionalistas e os mandstas. E SaD as avaliagoes que permitem verter o contelldo ideologico nas garrafas do juncionalismo.18 As garrafas em si mesmas SaD estranhas a seus conteudos, e podem servir igualmente co- mo recipientes para um veneno ideologico ou para um nectar ideo- l6gico. 48. l!:ste tipo de qUiproqu6 e talvez mals comum do que se costuma suspeitar. Multas v~zes, 0 ac6rdo fundamental na analise de uma situal;B.o e totalmente obscurecido pelo desacllrdo fundamental na avallagll.o dessa sltuaglio. Em conseqiiencla. sup6e-se err6nea- mente que as adversarios diferem em seus processos de conhecimento" e em suas desco· bertas, C ao passe que diferem apenas em suas escalas de valOres.; Observemos, por exemplo, 0 conhecido caso dos debates e controversias publicas entre Winston Churchill e Harold Laski, que deixava multa gente supor - e Churchill era um dos quo supunham - que as dois politicos estavam em desac6rdo s6bre a premissa essencial de que a mudanQa social se efetua mais facilmente em tempode guerra do que em tempo de paz. Comparemos as seguintes extratos das obras dessas duas personalidades: "A antlga estrutura de tempo de paz da sociedade tlnha sido descartada e a vida tinha atlngido estranha intensidade devldo ao feitiQo da guerra. Sob esta misteriosa infJuencla, homens e mulheres tin ham sido notoriamente exal tados em direQao d" morte, da dor e do trabalho. A unidade e a cama.radagem se tin ham tornado possiveis entre individuos, classes e na· goes e se fortaleceram enquanto duraram a pressao hostil e a causa COmutn. Ma~ agora 0 feltiQo est a rllto: tarde demai' para alguns prop6sltos, cedo demais paro outros e subitamente demais para todos! Cada pals vitorioso voUou a setts niveis e arranjos an.~eriores, mas bem depressa se descobriu que essas organiza~6es estavam estragadas, sua trama enlraqueclda e desconjuntada, parecendo multo estreHa; e obsoletas". "Ao passar 0 feitico, passou tambem, precisa,mente quando as nOvas dWclll· dades estavam em seu apogeu, grande parte dos poderes de diregao e de con· irole... Para as massas fi(ds, sobrecarre· gsdas de trabalho, a vit6ria foi Hi.o com· pleta que nao parecia necessarlo prorrogar o esf6rQo ... Uma grande fadiga dominav. a a~ilo coletlva. Embora todos os ele· mentos sUbversivos procurassem colocar-se em evid~ncia, o' furor revolucionario, coroo '&6das as demais formas de ep,ergia psi· quica, se extinguira". fjA intensidade dos esfor90s sllscitados pelo perigo naclonal excederam de m ui to "A atmosfera de guerra permite, e mes- mo irnpoe, inovaQoes e experiencias qu·e nao sao possiveis quando volta a paz. A invasao da nOSSa rotina de vida nos acostuma ao que William James chamavt:! de costume vital de romper com as cos- tumes... Verno-nos de repente estimula- dos a fazer esfor~os e ate sacrificios que nao s2Ibiamos que erarnos capazes de la- zer. 0 perigo comum cria uma base para um novo companheirismo, cujo futuro depende por completo de serem ou nao seus allcerces provis6rios ou permanentes. Se slio provls6rios, 0 final da guerra pa· reee ° retorno a todas as nossas dlv0r- gencias anteriares, dez vezes agravados pelos graves problemas que aquela'rios In._ gau", "Sustento, portanto, que as rnudanJ;as podem ser feitas pelo Cons en so geral num periodo em que, como agora, as circuns- tancias fazem recordar aOS lndividuos suas identidades e llaO suas diterenQas". "Podemos iniciar agora essas mudanQas, porque 0 amblente esta preparado para recebe-las. E mnito duvidoso que possamos faze-los, apoiados no consenso g-cral fjuando esse ambiente tiver deixado de existir. E tanto mais duvidoso porque 0 esf6rQo que a guerra requer provocara em muitos, sobretudo nos que concordaram com a suspensao de privilegios, uma canseira, uma ansia para voltar asvelhas formas, a qual sera dificil resistir". "Em t6das as revoluQoes, surge um pe- riodo de inercia em que a fadiga do eS- Pred:omfnio da Orientagii.o Funcional A orientagao funcional nao e evidentemente nova, nem limitada as c:iencias sociais. Efetivamente, ela surgiu relativamente tarde na cella sociologica, a julgar por seu uso externo e anterior, numa grande va· riedade de outras disciplinas.49 A orientagao central do funcionalislUo expressa na pratica de interpretar dados mediante 0 estabelecimento a.s capacidades ordinarias de s~re3 huma- nos. T6das estavam engrenadas a uma altura anormal. Uma vez desaparecido ° supremo incentivo, to do mundo tomou conscH~ncia da intensidade do esfor~o. Uma grande e geral distensao e a descitla aos niveis ordinarios da vida cram imi- nentes. Nenhuma comunidade teria podido continuar gastando tamanha riqueza e energia vital a semelhante velocidade. Maior de todas 10i a exaustao que se deu nas fileiras dos trabalhadores intelectuais. Tinham trabalhado sustentados pelo cs· timulo que agora ia desaparecer. •Po~so trabalhar ate cair' - isto era suficienrc enquanto troou 0 canhao e marcharam uS exercitos. Mas agora era a paz e. em toda parte, tarnou-se evidente 0 esgota· mento nervoso e fisico, que antes naD fora. sen tido ou f6ra desdenhado". os trochos da prime Ira coluna, que Jembram Gibbon sao, natural mente, de Churchill. o Winston Churchill de entre as duas gran des guerras, que escrevla retrospectivamente sObr~ as conseqllencias da primeira delas: The World Crisis, vol. 4, The Aftermath, (Londres: Thornton Butterworth, 1928), 30, 31, 33. As observagoes da segunda coluna sao de Harold Laski, doutrinario do Partido Trabalhista Britftnico, escritas durante a Segunda Guerra Mundial, para dizer que a politica do Sr. Churchill e "0 adiamento dellberado de qualquer Cjuestao considerada 'controvertida' ate que obtenha a vlt6ria [eJ isto signific" ... que as reo laQoes de produQao vao ficar inalteradas ate que chegue a paz e que, em conseqUencia, nenhum dos instrumentos para a mUdanQa social em grande escala estara IJ. disposiQao. da na~lio para fins sllbre os quais tad •• a gente esta de .c6rdo." Revolution of our Time, (Nova Iorque: Wiking Press, 1943), 185, 187, 193, 227·8, 309. A men os que ChurchiJI tenha esquecido sUa analise das conseqUencias da Prlmelra Guerra, e evidente que ele e Laski conc.ordavam no diagn6stico de que uma alteraQao social import-ante e deliberadamentc e!etuada. era improvavel na era imediata do ap6s-guerra. E evidente que a diferenQa estav" na apreciaQao da conveniencia de se. instituirem mudanQas deliberadas. [Em nenhuma daE duas colunas acima os grifos sao dos autores]. E interessMlte assinalar, de passagem, que a pr6pria expectativa em que concordavam Churchill e Laski - ou seja, de que 0 perlodode ap6s·guerra na Inglaterra seria um perlodo de letargia e de indiferenQa das massas para a mudanQa instltucional planejada - nlio fol Inteiramente conflrmad9. pelo curso real dos e.contecimentos. A Inglaterra, depo!, da Segunda Grande Guerra, nlio repudiou a ideia de, reforma planificada (multo pelo COil· trario; como se sabe, 0 Partido Trabalhista foi eleito para 0 pOder e levou a efelto profunda reforma social) - [a explicaQao entre parenteses e do tradutor]. 49. A prevalencia geral de uma atltude funcionalista tem sldo assinalada diversas vezes. Por exemplo: "0 fato de se observar a mesma tendencia em todos os campos do pensa.mento dernonstra que agora ex.lste urns tendencla geral para interpretar 0 muncl~ for~o impoe uma pausa no processo de inova~ao. It natural que esse periocto r-o- brevenha com a cessaQan das hostilldades. Depois de viver certo tempo nas alturas, a constitui!;ao human a pareee exigir tran· qiiilldade e repouso. Insistir, num perfodo de pausa, para nos prepararmos para nova e dificil jOTnada e, sobretudo, para urn passe no escuro, seria pedir ° im· possivel. .. Quando termine.rem as hostili- dades contra a na~ismo, as individuos necessitarao, antes de mais Dada, de uma rotina de pensamentos e de costumes que nao imponha as suas mentes a penosa adapta~ao a uma excitacao perturbadora". Sociologia - Teoria e Estrutura de suas conseqUencias aplicadas a estruturas maiores nas quais elas es· tavam comprometidas - tern sido encontrada virtual mente em t6das as ciencias do homem - biologia e fisiologia, psicologia, economia e direito, 8,ntropologia e soclologia.5o 0 predominio do modo funcional de en- " carar as coisas, em si mesmo, nao e garantia de seu valor cientifico, mas sugere que a experiencia cumulativa tem forQado essa orientaQao s6bre os disciplinados observadores do homem como organismo biol6gico, co- mo ator psicol6gico, como membro da sociedade e como portador 'de Gultura. Imediatamente relevante e a possibilidade de que a experiencia an· terior em Qutras disciplinas pode proporcionar modelos metodo16gicos em t~rmos de lntereonexiio de funclonamento e niio por unldades substanclals sepa· radas. Albert Einstein n •• fls!ca, Claude Bernard na flslologia, Alexis Carrel na biologia, Frank Lloyd Wright na arqultetura, A. N.Whitehead na fIlosofia, W. Koehler n" PSlCO' logla, Theodor Lltt na sociologla, Hermann Heller na ci~ncia polltlca, B. Cardoso no dlrelto: Mses homens todos representam dlferentes culturas, dlferentes aspectos da vida e do esplrito humanos, contudo, todos cles enfocam seus problemas com urn sentido de 'realidade' que visa, nao iI substanela material, mas iI intera'~ao fun cion a.! para a. com· preensao dos fenOmenos", Q. Niemeyer, Law Wilhout Force, (Princeton University Press. 1941), 300. Esta variegada companhia sugere, uma vez mais, que 0 acOrdo sObre 0 ponto de vista funelonal nao Impllca necessariamente ldentldade de filosofla ou polltlca. 50. A blbliografla que comenta a tend~ncla ao funcionalismo e quase tao numerosa e e conslderilvelmente mals extensa que as divers as blbllografias clentlficas que representam a tend~ncla. As limlta~5es de espa~o e 0 Interesse pela relevancla lmedlata, reduzem a numero de tals referenclas, que tern que ocuper aqul 0 lugar de uma revisao e estudo "xtensos d~sses desenvolvlmentos colaterals do pensamento clentlflco. No que He refere a blologla, uma fonte geral e agora classlca, e a obra de J. H. Woodger, lliologieal PrinCiples: A Critical Study (Nova torque: Harcourt Brace & Co., 1929), especlalmente 327 e segs. Como materials correlatlvos, podem ser Indicados, pelo menos, os segulntes trabalhos: Bertalanffy, Modern Theories of Development, Op. clt., especlalrnente 1-46, 64 e segs., 179 e segs.; E. S. Russell, The Interpretation of Deve- lopment and Heredity: A Study in Biological Method (Oxford: Clarendon Press, 1930), especlalmente 166·280. Estudos a.nterlores serao encontrados em trabalhos menos ins· trutlvos de W. E. Ritter, E. B. Wilson, E. Ungerer, J. Schaxel, J. von Uexklill etc. Po. dem ser consultados proveitosamente os trabalhos de J. Needham, por exemplo: "Thoughts on the problem of biological organization", em Scientla, agOsto de 1932, 84-92. No que concerne a fisiologla, devem ser levados em conta as trabalhos de C. S. Sherrln· glon, The Integrative Action of 1he Nervous Sys1em, (New Haven, Yale University Press, 1923); W. B. Cannon, Bodily Changes in Pain, Hunger, Fear and Rage, capitulo 12 e The Wisdom of the Body, (Nova torque: W. W. Norton, 1932), todos menos 0 in- fellz epllogo sObre "homeostase social"; Q. E. Coghill, Auatomy and the Problem 01 Behavior, (Cambridge University Press, 1929); Joseph Barcroft, Features In the Arehi. tecture ot Physiological Function, (Cambridge University Press, 1934). No que se refere iI pslcOlogia, sao oportunas virtualmente tOdas as contrlbulg6es bo.- slcas a pSlcOlogia dinli.mlca. Seria nao e.penas corriqueiro, maS tambem exato, dizer que as concepgoes freudlanas sao carre gad as de funcionalismo, ja que os conceltos principals se referem, Invarlavelmente. a uma estrutura funcional (OU dlsfunclonall. Para uma dlferente ordem de conceltos, veja-se Harvey Carr, "Functionalism", em Carl Murchison, redator, Psychologies of 1930 (Clark University Press, 1930); e urn dentre multos outros artlgos que tratam sUbstancialmente d~ste conjunto de conceitos, veja·se "Homeostasis as an explanatory principle In psychology". por J. M. Fletcher, em Psychological Review, 1942, 49, 8IJ.87. Uma exposi~lio da aplicaQao da abordagem fun· clonal da personalidade, encontra-se no capitUlo I de Personality In Nature, Society and Culture, por Clyde Kluckhohn e Henry A. Murray (Nova Iorque: A. A. Knopf, 1948), 3·32. Tern sido amplamente reconhecidos os Importantes e.spedos sob as quais 0 grupo de Lewin abordou 0 funcionallsmo. uteis a analise funcional aplicada a sociologia. Contudo, aprender dos canones do processo analitico em tais disciplinas freqUentemente mais rigorosas, nao significa adotar seus conceitos e tecnicas especfficas, de olhos fechados. Por exemplo, lucrar com a 16gica do processo empre· gada de modo bem sucedido nas ciencias biol6gicas, nao e descambar na aceitaQi'ioat> analogias em grande parte irrelevantes e de homologias, que por tanto tempo tern fascinado os elevotos da sociologia organicis· ta. Examinar a armaQao metodol6gica das pesquisas bio16gicas nao e adotar seus conceitos substantwos. A estrutura 16gica da experimentaQao, por exemplo, nao difere em flsica, quimica ou psicologia, embora as hip6teses sUbstantivas, as fer· ramentas tecnicas, os conceitos basicos e as dificuldades praticas pos- sam diferir enormemente. Nem os subslitutos aproximados da experi· mentaQao _. a observagao controlada, 0 estudo comparativo e 0 metodo de "discenlir" - diferem em sua estrutura 16gica em antropologia, SOcia· iogia ou biologia. Considerando rapidamente a 16gica do processo de Cannon na tisio· logia, estamos, entao, procurando um mqdelo m~gc:J.ol6gicoque possl· 'ZelmenJe poderia ser_.adaptado....para ..a ..sociologia,.sem .adotar.-as·infor- tunadas homologias de Cannon entre a estrutura dos organismos bio·· ~6gicos e .~._d~dade. 51 Seu processo apresenta·se como se s~~e. Adotando a orientagao de Claude Bernard, Cannon primeiramente in~ dica que 0 organismo exige unl estado relativamente constante e estavel. Uma das tarefas do fisiologi!>ta,entao, e fornecer "uma exposiQao con· creta e pormenorizada dos modos de assegurar os estados duraveis". Ao examinar a~ numerosas exposiQoes "concretas e pormenorizadas", pro· porcionadas por Cannon, encontramos que 0 modo geral de lormulm;iio e invariavel, nao importando qual 0 problema especifico que esteja a mao. Uma formulaQao tipica e a seguinte: "A Itm de que 0 .'langue... No que dlz respelto ao direito, veja-se a trabalho crltlco de Felix S. Cohen, Intltulado "Transcendental nonsense and the functional approach", Columbia Law Review, 1935, XXXV, 609·849, e as numerOSaS cltaQ5es que contem. Quanto a sociolOgia e antropologla, veja-se a breve amostra de cita~5es ao longo de to do este capitulo. 0 volume edltado por Robert Redfield constltul uma ponte mUlto UtH sobre 0 ••blsmo que separa com excesslva freqU~nela as cl~nclas biol6gicas das cl~nclas socials: "Levels of Integration in Biological and Social Systems", BiOlogical Symposia, 1943, VIII. Importante esfOr~o para expor a estrutura conceptual da anlllise funclonal, encontra-se em: Talcott Parsons; '.rhe Social System, (Glencoe, nllnols; Free Press, 1951J. 51. Como ja se tomou Impllclto anteriorrnente, 0 epllogo de Cannon iI sUa obra Wisdom of the Body, continUa sendo urn exemplo Insuperavel dos extremos infrutlferos a que se ve .arrastada ate mesmo uma mentalidade excepelonal, qUando come~a a deduzir analoglas e homologlas essenciais entr~ organlsmos blol6gicos e sistemas socials. Veja·se, por ~xemplo, a sua compara~;;'o entre a substancla intercelula,r fluida do corpo e 0' canalS, nos e estradas de ferro que "carregam os produtos da mina e da fabrlca, dn granJa e do bosque". tosse tipo de analogia, desenvolvldo anteriormente' em copiosos VOlumes, por Rene Worms, Schaeffle, Vincent, Small and Spencer entre outros, nao representa 0 valor distintlvo dos trabalhos de Cannon para a soci6logo. sirva de meio circulante, preenchendo as varias fungoes de um carre- gador comum de nutrientes e de dejetos, .. , e precise hg.12er pr(lcauc;"Qe~ para rete-Io, sempre que haja perigo de escapamento". Ou, anali~an- do outra afirmagao: "Se a vida da celula deve continuar. .. , 0 sangue ... deve circular com velocidade suficiente para entre gar as celulas vivas 0 (necessario) suprimento de oxigenio". Havendo estabelecido os requisitos do sistema organico, Cannon, en- tao, continua a descrever em pormenores os varios mecanismos que ope- ram a fim de satisfazer esses requi§itos (por exemplo, as complicadas 0.1- terac;oes que conduzem a coagUlagao, a contra<;.ao local de vasos sangui- ~1eos of en didos que dimlnuem a gravidade da hemorragia, a acelerada formagao de coagulos atraves do. secregao de adrenalina e sua agao s6- bre 0 figado etc.) Ou ainda, eie descreve os varios dispositivos bioqui- micos que asseguram um suprimentoadequado de oxigenio 0.0 organis- mo normal e as mUdangas compensadoras que ocorrem quando alguns de tais dispositivos nao funcionam de modo adequado, Se a 16gica de tal abordagem e afirmada em seus termos mais ge- rais, torna-se eVidente a seguinte Sequencia inter-relacionada de etapas. Antes de tudo, certos requisitos funcionais dos organismos sac definidos, 'requisitos que devem ser satisfeitos se 0 organismo deve sobreviver ou 'funcionar com algum grau de efici€mcia. Em segundo lugar, ha uma descrigao concreto. e pormenorizada dos dispositivos (estruturas e pro- cessos) atraves dos' quais estes requisitos sac tipicamente satisfeitos em casos "normais". Em terceiro lugar, se alguns dos mecanismos tipicos para satisfazer tais requisitos sao destruidos ou funcionam adequadamen- te, 0 observador e sensibilizado em relagao a necessidade de descobri! mecanismos compensadores (se houver algum), que desempenhem a fun- <;.ao necess~,ria. Em quarto lugar, e de modo implicito em todos aque~ les elementos anteriores, ha uma narrativa pormenorizada da estrutu- ra para a qual OS requisitos funcionais atuam assim como uma narrati- va pormenorizada dos arranjos atraves dos quais a fungao e preenchida. A 16gics. do. analise funcional e tao bem estabelecida nas ciencias bio16gicas que tais requisitos de uma analise adequada vem a sel' preen- chidos quase como fato normal. Assim nao se da com a sociologia. Aqui, encontramos concep<;.6es extraordinariamente variadas do destine upropriado dos estudos s6bre a analise funcional. Para alguns eles con- sistem especialmente (ou mesmo exc!usivamente) no estabeleoimento de inter-relagaes empiricas entre "partes" de um sistema social; para outros, ele consiste em mostrar 0 "valor para a sociedade" de uma pratica pa- dronizada socialmente, ou de uma organizagao social; para outros aia- do., consiste em exposig6es elaboradas das finalidades das organizac;oes so- ciais formais. A me dido. que se examina a variada formagao das analises funcionais ns. sooiologia, torna-se evidente que os soci61ogos, em oontraste, dig amos, com os fisi610gos, tlpicamente nao tl'abalham com processos operacional- mente inteligiveis, nao reunem sistematicamente os tipos de dados ne- cessarios, r..ao empregam um corpo comum de conceitos e nao utilizam os mesmos criterios de validez, Em outras palavras, encontramos na fisiologia um corpo de colceitos-padrao, de processos e de designios de Iillalise ao passo que no. sociologia encontramos uma variada selec;ao de :lgnceitos, de processos e de designios, dependendo, ao que po de parecer, .dos. interesl'es e dos. gQ~~<2.~__t:l.0__ ~~~i61ogo tomado como individUo. Cer- tamente, esta diferenc;a entre as duas disciplinas tem alga a vel' - e tal- ,'ez bastantr - com as diferenga5 nas caracteristicas dos dados exami- nados pelo fisi61ogo 18 pelo soci610go. As oportunidades relativamente ~randes dos trabalhos :xpe~imentais da fisiologia, - e esta afirmagao ~a e mu~to bar:-al, - sac dlf.lcilmente igualadas na sociologia. Porem, lStO e.xphca mUlto pouco os dlSpositivos sistematicos dos processos e dos conceltos num caso, e 0 carMer disparatado, frequentemente nao-coorde. nado e nao raro defeituoso, dos processos e dos oonceitos na sociologia runcional. ( " .r:' 1\' "'; :~,J \ ) \ ..•••. UM PARADIGMA DA ANALISE FUNCIONAL NA SOCIOLOGIA Apreser..tamos ~mLl2m:adigma 1QS-.COnceitos e pr.oblem.i:!s sentraisa <;.()grncagao..daanalisefuncional-nasociologia, .como um passo-'i~iciai- ~ a~~i.tido_como tentativa nessa, direc;ao! Logo se tornara evidente que os principais componentes de tal paradigma emergiram progressivament<; das paginas anteriores, a medida que fomos examinando oriticamente 08 vocabul~rios, os postulados, os conceitos e as imputagaes ideol6gicas ~ue agora sao encontrados neste campo de atividade. O.par.adigma os reline de forma compacta, p~!!J:li~igdO assim 0 exame simultaneo dos princi- Pflis requisitos da ll:!2~lis~ funcional e servindo como· auxilio a autocorre-, !tao das interpretaQ6es provis6rias, result ado este dificil de conseauir qUa~dO esHi,o esparsos e ocultos, pagina apos pagina. de exposigao ~iS- cursr.Ta.52 0 paradigm a apresenta 0 ntlcleo maci~o dcs conceitos dos ..t processos e das inferencias na analise funcional. I .Acima de tUdo, deve-se notal' que 0 paradigma nao representa um conJunto de categorias introduzido de novo, mas sim uma codificar;ao da. queles conceitos e problemas que tern sido impostos a nossa atengao pelo exame c~ti~o do. pesquisa atual e da teoria relativa a analise funcional. (A ref~renC1a as secQaes anteriores deste capitulo mostrarao que 0 ter- ~en~ fOI .preparado para cada uma das categorias incluida~ no paradigma). . (8) Item (s) a que sao imputadas as funcoes A escala total dos dados soc' 16 . . jparte isso tem sido fei 10 gicos po de ser submetida a analise funcional e em grande __/ padronizado (isto e to, 0 requislto basico e que 0 objeto da analise representa um item I conforme a uma norma e repetitivo), tais como os papeis sociais, os 52. Para uma breve exposi~ao dn. finalidade dos p"l'ad,'gmasa not Ab ~ anal1ticos como este, veJa·," a Su re paradigm.as em outro trecho deste volume. padr6es culturais, as emo~6es culturalmente padronlzadas, as normaS SOCiMS, as' organiza~ao de grupos, a estrutura social, as dispositivos para contrOle social etc, INTERROOAQAO BASICA: Que deve entrar no protocolo do. observa~ao do item dado pa.ra ser acessivel a analise funcional sistematica? '. \ \ <".-'\" 2. Conceitos de disposi~5es subjetivas (motivos, propositos) V0.~ \- c' ... - A qualquer momento, a analise fun:ci~'n:al"lnvariavelmente admite au opera expllclta· mente com alguma concep~ao da motiva~ao dos lndivlduos incluldos num sistema socinl. Conforme a discussao anterior demonstrou, tals conceltos de disposi~ao sUbjetiva sao freqiiente e errOneamente fundidos com os conceltos relacionados, porem diferentes, de can· seqiiencias objetivas de atltudes, cren~as e comportamento, INTERROOAQAO BASICA: Em que tipos de analise e suficiente tamar motiva~6es obser· vadas, como dados, e em quais sao eles corretamente considerados como problematlco., como derivaveis de outros dados? 3. COl1ccllo de cOl1seqUenclas objetlvas (fun~oes, disfun~5es) Temos observado dols tip os predominantes de cOnfusao que envolvem as varlllS concep¢e, correntes de -.cfunQao": (I) A tend'ncla a limitar observa~6es sociol6gic"" as contrlbui~6es positivas de urn Item soclol6gico para a sistema cultural au social em que esteja impllcado; e (2) A tendencia a confundir a categorla sUbjetiva de' rnotivo com & categoria obJeti\,il de fun~io. Para e!imlnar essas confus6es, sao necessarias distln~6es conceptuais apropriadas. o prlmelro problema exige urn conceito de conBeqiienclas miiltlplas e um saldo liquid. de urn agregado de conseqiiencias. • Fun~oes sao aquelas can equencieB observadas que propiciam a adaptaQao ou ajusta· menta de urn dado sistema e oes sao aquelas conseq,iienclas~e.~dimlnuem a adapta<;ao ou 0 ajustamento do sistema. Fi.i-tambfun--;,posSibilidade emplrica de cons," qiiencias nio·funclonals as quais sao simplesmente irrelevantes 0.0 sistema em consideraQao Em qualquer situa~ao dada, urn Item pode ter consequencias tanto funcionals como dis·· funcionals, orlglnando a diflcll e importante problema de desenvolver cll.nones para avaliar o saldo IlqUido do agregado de conseqiiencias. (E claro que Isto e multo Importante no usa do. analise funcionai para guiar a forma~ao e s. execu~a" do "Iano). \'0 segundo prOblema (originado do. facll confusad dos mati vas e das fun~6es) exige que Introduzs.mos uma distin~ao conceptual entre os casas em que a alvo em vista, subjetlvo, colnclda com a consequencla objetiva, e as casas em que ambos dlvirjam. As funGOeS wopJfestAi sac aquelas conseqUencias objetivas que contrtbuem para a ajusta· menta ou adapt~ao do Sistema, que sao intencionadas e reconhecidaspelos participantes do sistema, . . .. -_........, •••••••• As tJlQ~iie' Jptentes, correlativamente; sao aquelas que nao constam das i:r:teOQoes, nem sa.o reconhecidas.· INTERROGAQAO BASICA: Quais sao as efeitos da transforma~ao de uma fun~ao pre. vlamente latente numa funQao manifesto. (0 que inclul a problema do conhecimento do com· portamento humano e as problemas do. "manlpulaQao" do comportamento humano)? 4. Conceltos da unidade sorvida pela fun~iio ..' . Temos observado as dificuldades acarretadas pela :)imlta~ao. da analise' aSfun<ifies exer· ddas para a "socledade", uma vez que certos Itens podem ser funclonais para aJguns Indi- vlduos ·e sUbgrupos e disfuncionals para outros. Portanto, e necessaria "'conSiderar uma ~rn~lltlld!l' de unidadJ'ls para as quais tenha conseqU.~ncias deslgna.das: indivlduos em posi~6es SOCials dlferentes, subgrupos, a sistema social geral, e os sistemas de cultura, (Tel:lhinolo. glcamente Isto afeta os conceitos de funQao psicol6gica, de fun,ao do grupo, de fUll~6es socials, de fun~ao cultural etc.). • As relat;6es entre as "consequencias imprevista.s" da ac;ao, e as flfunc;5es letentes", podem ser claramente definidas, uma vez que estao implicitas no. sec~ao precedente no pa:a· digma. AS conseqiifJDcias nao procuradas da a~ao sao de tres tipos: (1) as que sao funcionais para urn sistema deliberado e compreendelll as fun~6es latente,; Sociologia - Teoria e Estrutura 119 .,~( Conceltos de exigencias funcionais (necessidades, pre·requisltos) '~. lmplantada em cada analise funclonal, exlste alguma concepQao, taclta ou expressa, I dos requisitos funcionals do sistema em observaQao. Can forme foi ""'otado em outro lugar53 Isto permanece como urn fS conceltos mais nebulosos e empiricamente mais sujeitos a depa te, no. teorla funciona!. Conforme e utillzado pelos socl610gos, a conceito de requislto funcional tende a ser tautol6gico, ou ex post facto; tende a ser limit ado as condi~6es de "sobrevivencla" de urn dado sistema; tende, como notrabalho de Malinowski, a Incluir as "necessidades" bio16'gicas;' assim como as socials·,- " Isto envolve a dlficil problema de estabelecer tipos de requisitos funclonais (universals versus especificos); e determlnar processos para validar..AA. SUpos\l;6.es._de......tai.s-tequlsitos. etc. '.li,lNTERROGAQAO BASICA: Que e necessaria para estabelecer a validade de variavei, como "requisito funcional" em situaQoes em que seja impratic{wel So experi;;'~-~t;g~·;·riiorosa? 6. Conceitos dos mecanismos atraves dos quais se realizam as fun90es A analise funcional no. sociologia, como em outras dlsclplinas tais como a fislologia e a pslcologia, exige uma exposi~"o "concrets. e detalhada" do mecanismo corn a qual opera a fim de realizar Uma fun~ao deliberada. Isto se refere a mecanismos sociais, e nao a psico- . 16gicos (par exemplo, a divlsao de papeJs, 0 isolamento de eXig~nclas Instltuclonais, a orde- " na~ao hierarquica de valOres, a divisao social do trabalho, as atos rltuais e cerimonlals etc.) INTERROGAQAO BASICA: Qual e a balan~o presentemente disponlvel de mecanismos "'~.~_soclais correspondentes, por exemplo, ao grande balan~o dOB mecanismos psicol6gicos? Quais o. problemas metodol6glcos que estao Impllcitos no. percep,ao do funcionamento de tais ( ·mecanlsmos sociais? ,\ 7. Conceltos de alternativas funcionals (equivalentes ou substltutos funclonals) Como temos vlsto, desde que abandonamos a suposl,ao._zratulta do. lpdispensabilidade 'f,:,n.E!9,nal de estrut~ras sociais particulares, necessitamos Imedl;tament~-de algum conceito dlltl alternativas-Yuncloruus, equlvalente. au substltutos. Isto focaliza a aten,ao sObre a amplitude de varia~.o pOBsivel no que diz respelto aOS itens que, no caso em exame, possam .ervlr a urn requislto funciona!. Isto descongela. a Identidade do exlstente e do lnevltavel. INTERROOAQAO BASICA: Desde que a prova cientifica do. equivalencla de uma ale. _ 'J gada alternativa funclonal exige ideal mente uma experimenta~ao rigorosa, e desde que Isto .nao e freqiientemente pratlcavel em sltus,6es sociol6gicas de largo. escala, quais sao os processos de investlga~ao que se aproximam mals de perto da 16glca do. experlmenta~ao? 8. Conceitos de contexto estrutural (au de coer~ao estrutural) A margem de varla~ao nos itens que podem preencher designadas fun~6es numa estrll' tura social nao e 1limitada (e isto tem .,do observado repetldamente em nosso estudo pre. ;:-cedente). A Interdependencla dos elementos de uma estrutura social limita as possibili. ,\ dades efetlvas de mudanQa au as altemativa~ funclonais. 0 conceito de coer~ao estruturQ! corresponde, na area da estrutura social, 0.0 "principia de .possiblJldades ..limltadas" de Ooldenweiser, numa esfera mais ampla. 0 nao reconheclmento do. relevll.ncia do. Inter. dependencia e das restri~6es estruturals concomltantes, conduz 0.0 pensamento ut6plco em que Se admite tilcitamente que certos elementos de urn sistema social podem ser eliminados sem afetar a resto daquele sistema. Esta consldera~ao e reconhecidlh tanto pelos clentistas ~o- ciais marxlstss (par exemplo, Karl Marx) como pelos nao-marxistas (por exemnlo MaUnowSkD.54 - , as que sao dlsfunclonais para urn sistema deliberado e compreendem as dlsfun~6es latentes; e e.s que sao alhelas 0.0 sistema, que nao afetam nem funclonal nem disfunclonalmente, ou seja: a classe de conseqilencias afuncionais que, do ponto de vista pragmatico, carecem de lmportll.ncla, Para Uma exposi~ao prellmlnar. veja-se R. K. Merton, "The unanticipated consequences of ~lUrpos1Ve social action", American Sociological Review, 1936, 1, 894-904: para a tabu- la~ao destes tipos de conseqiiencias, ver Goode, Religion Among the l'rimitives. 32-33. R .. K. Merton, uDiscussion of Parsons' 'Position of sociological theory' ", American SocIOlogical Review, 1949, 13, 164.168. Palavras de Marx anteriormente citadas documentam esta afirma~ao, mas sao apenas alguns dos mUltos trechos em que Marx sublinha a importll.ncis de se levar em cons;. dera~i'io a contexto estrutur2J, Em A Contribution 10 the Critique of Polltic.1 Economy ? 1NTERROOAQAO BAS1CA: Por que modo de coer~ao urn dado contexto estrutural limita a amplitude de variagao dos itens que podem efetivamente satisfazer as exig(?!lcias funcionais? Em que condi~6es ainda por determinar, eneontramos uma area de indi!eren~a, na qual qual- quer alternativa tirada de .grande mlmero destas, pode preencher a fun~ao? ,9. Conceitos de dinamica e de mudanya Temos observado que os analistas funcionais tl(!1.<!em a focalizar a estat!~a __,'!.~.'Ostn1.!.,!!a social~iaLo...estUdo..da--mude,n~a.estrutUIaV. Esta enfase sObre a estatica, contudo, nao e Iineren~ 1>.teoria da analise funcional. Mals que Isto, e uma enfase a.dventicia que deriva da p-reocupagao dos primltivos funclonalistas antropol6glcos •. de contrapor-se atendenclas anteriores de escrever hist6rlas conjecturals a respeito de sociedades iletradas, Esta prallea, util no tempo em que a prlnclpio foi Introduzlda na antropologia, perslstlu com desvantagens no trabalho de alguns soci610gos funcionais. o conceito -de disfun«;;ao, que implica no conceito de tensao, esf6TQo e oposigao no niv~l estrutural. propicia uma aproxima~ao analltica ao estUdo da dinamica e da mUdan~a, Com, se observam a.s disfun~6es contldas dentro de uma estrutura particular de mo.do a nao pro, 411zlr-instabllidade? A acumulagao de eSforgos e tens6es produz; pressao que favorece a mu· danga, em direg6es tais que provavelmente eonduzern a respectlva redu~ao? 1NTERROOAQAO BAS1CA: A preocupa~ao dominante entre os analistas funcionnis, com 0 concelto deequ1!ibr.!!!..§..o~lal, dlstrai. a "tenqa9 dos fenomenos de desequilibrio social'l Quais as processos ~disponiveis que permitirao aD soci61ogo, pelo modo mais adequado. mediI a acumulagao de tens6es e esfort;;os num sistema social? Em que extensao 0 conhecimento do contexto,estrutural permite ao soei610go antecipa.r as direg6es mais provaveis da mudanGa social? 10. Problemas de valida~ao da analise funcional No desenvolvimento do paradigma, chamou,se a aten~ao repetidamente para os pontos ~speciticos ern que devem ser valida.dos suposi~6es, atribui~6es e observag6es.55 Isto requer. sobretudo. uma ±ormula~ao rigorosa dos processo. soclol6gicos de anaIise que mais se apro· ximam da 16gica da experimenta!;ao. Requer uma revisao sistematica das possibilidades f.I limita~6es da analise comparada (cultural e de grupo). 1NTERROGAQAO BAS1CA: Ate que ponto esta lirnitada a analise funcional pela dificlH' dade de localizar modelos adequados d\ sistemas sociais, que podem submeter-se a um estu,io comparado (semi,experimental)? 56 . . _ . . 11. Problemas das Implica~oes IdeologlCas da anahse funelonal Numa sec~ao anterior foi salientado que a analise funcional nao tem compromisso in· trinseco com qualquer posi,ao ideol6gica, 1sto nao contradiz 0 fa to de que quaisquer analise, !unclonais particulares e hip6teses particulares formuladas P_Q.rJullcionalistas podem ter um t.llljlel ldeo16gico. Identi!~c"vel. Entao, isto se torna urn problema especlfico para a socio· loglad,;-:-conheCimento"':' em que medida a. posigaosocial,~?,~c!.6.IOg()_l'!!'.ciOnal._(por exem- plo.'~Tjela~li.oa urn "cliente" pa!tl"-Il:~~r que hai!L.llll1Q,JZ.Ji(!9.•.detJ:Immada (pesqu;sa), evoc". de.wrll1J,np.da. fOX:lJ1,!ia~.Q_..\!!'~ proble;.ny ••. e~~...9.L()utra,~.~J"..J..1!§Jj ...~!lJ?.'?,~lgoes..e con· celtose . llmit.a ....a. amplitude .!'las lnferenClaS derlVadas·-dos •..•eus-dados?/ INTERROGAQAO BASICA: Como se pode descobrir a colorido ideol6gico de uma an,,· Hsc lunclonal, e em que gre,u uma ideologia particular deriva dos supostos basicos adotaclos pelo soci610go? A Incid"ncia de tals assuntos esta relacionada com a stMus e 0 papel do soci61ogo como pesquisador? Antes de passar a um estudo mais intensivo de algumas partes dest~ paradigma, sejamos elaros acerca dos us os a que se supoem' ser possivel aplicar 0 paradigma. Afinal, as taxonomias dos conceitos podem ser indefinidamonte mUltiplicadas, sem fazer progredir materialmente as ta- refas da analise sociol6gica. Quais, entao, sac as finalidades do paradig- ma e como podera ele ser usado? A primeira e mais importante finalidade e fornecer um gilla codi· f!l?ado e provis6rio as analise~onais adequadas jl frutiferas. Este 0b.J,~~~YP.,evidentemente significa que 0 paradigma contem 0 conjunto mi- nimo de conceitos. com os quais 0 soci6logo necessita trabalhar a fim de levar ao fim' uma analise funcional adequada e, como corolario. que el~ possa.I'Elr,usadoaqui e agora. como um guia para 0 estudo critico das amlli- Res~t;Elntes. Propae-se 'que ele seja, assim, urn guia demasiado com- pacto e conriso na formulagao de pesquisas de analises funcionais e uma ajuda em localizar as contribuiQaes distintas e as deficiencias de pesqui- sas anteriores.( As limitaQaes de espago nos permitirao aplicar somente partes limitadas do pal'adigma a urna avaliagao critica de uma lista se· It'cionada ,1", assuntos. (que apareceu em 1859 e fol publlcada de novo em Seleeted Works de Karl Mar>:, all. eit., I. 354·70, ele observa por exemplo: "Jamals desaparece uma ordem social antes que t6das as for~as produtivas que eneerra Se tenham desenvolvldo; e jamais aparecem rela~6es mals elevadas de produgao antes que as condl~5es materia is de sua existenc'a tenham amadurecido no selo da velha sociedade. Port an to, a humanldade s6 estabelece para s1 as tarefas que pade realizar, pois, observando 0 assunto mais cuidadosamenti?, verificaremos sempre que a tare fa somente nasce quando as condigoes materiais nec~s· sarias para sua solu~ao eXistem, ou estao, pelo menos. em processo de forma~a()" (p. 357). Talvez a mais conhecida das suas numerosas referenclas'sobre a influ~ncia coercitlva de uma determlnada estrutura SOCial se encontre no segUndo paragrafo de. o Dezolto Brumario d. Luis Napoleao: "0 homem faz a sua hist6ria, mas nao a la2 com clrcunstanclas escolhldas por Me, mas com as que encontra ao alcance da sua mao·. (Trecho extraldo da parafrase do original. publlcada em Selected Works de Marx, II, 315). Pelo que se ve, A. D. Lindsay e 0 mais profundo dos comentanstas que assiIla- laram as aplicag6es te6ricas de afirma~6es como essas. Veja·se seu opusculo Karl Marx's Capital: An Introductory Essay (OXford University Press. 1931). especialmentc as pags, 27-52. Para outra llnguagem com conte(ldo' ideol6gico totalmente dlferente mas com inullca- c6es te6ricas essenclalmente analogas, veja·se B. Malinowski: "Dada Unl,a nece;sidade cultural deflnlda. os meios de satisfaze·la sao poucos em numero e, portanto. 0 disposi. tivo cultural que entra em vigor como resposta a necessidade est"'- determinado dentro de estreitos limites". 'lCulture" I Encyclopedia of the Social Sciences, op. eit., 62H~ 55. Deste ponto, e evidente que estamos conslderando a analise funcional como um me. todo para a interpreta~ao de dados sociologicos. 1sto nao significa negar 0 papel i01· portante dSt orienta~ao funcional para sensibilizar 0 F0!.'~61vgo para a coleta de tipos de dados que, de outro modo, poderiam ser esquecidos. Tal vez sej a desnecessario repetlr 0 axloma de que os conceitos de urn lndivlduo determinam a inclusao ot! " exclusdo de dados e que. apesar da etimologia da palavra., as dados nao saa "dados" mn,~ Uarbitrados" com a inevitavel ajuda de conceitas. No processo de elocubrar uma. inter. pretagao funcional, a anallsta socl610go considera invariavelmente necessario obter dados dUerentes dos Iniclalment,e imaginados. A interpretagao e' a coleta de dado. estao, portanto. inextricavelmente entretecldas com 0 conjunto de conceltos e de propo· si~6es relativos a ('stes conceitos. Essas observa~6es sao estudadas com mals va gar no Capitulo II. Social Structure. de George P. Murdock (Non, 1orque: Macmillan. 1949). dernonstra quo procedimentos como OS que implica 0 exarne minucioso da cultura SaDmulto promissore~ para 0 estudo de certos problemas metodol6gicos de analise funclonal. Vejam-se tambem os processos de analise funcional em Marriage, Authority, and Final Causes, por George C. Homans e David M. Schneider (Glencoe: The Free Press, 1955). $ociologia - Teoria e Estrutura I f· . ~ um relato dQ\conjuro ou da formula, do rito e dos execu-e con maua '" .. I 1 1·a exposiQao sistematica das pessoas que partlclpam e dostantes. nc u t d S dos tipos e indices de interaQao entre os executantes e aespec a ore , . _ . d'- 'a de mudan"as nestes modelos de mteraQao, no decurso do cen-.au lenci , " . _. . ..' . I Ass'm a descriQao das cenmomas ae chuva dos HOp1,pore:lCElm-monla . I, . t d d'• 1 e mais do que as aQ6es aparentemellte onen a as em 1-plo envo v . I •.... l'eQ~o a intervenc;;ao dos deuses nos fen.omenos me~eOrOIOg1c.OS.nCbul um relatorio das pessoas que sac envolv1das de ~a~laS mane1ras no pa- drao de comportamento. .b.~~.s..cJiQa9dos partlClpa?tes (e espectac:.0- r£.s) e apresentada em termos estruturais, isto e, em term~.~_~e.<:oloc.aQ~o de tars pet>soas em seus lugares interligados de situaQao ~oclal.,. . -Breveif-citagoes ilustrarao 0 modo pelo qual as anallses fUnClOnalS comec;;amcom a inclusao sistematica (e, preferlvelmente, com esquemas) clas situac;;6essociais e intel'-relaQ6es sociais dos que entrem no comporta· mento que se examina. Em segundo lugar, 0 paradigma se prop6e a conduzir diretamente aos postulados e suposiQ6es (freqtientemente tacitos) que se acham no substrato da analise funcional. Como temos assinalado anteriormente algumas dessas suposic;;6essac de fundamental importancia, outras sac insignificantes e dispensaveis e outras mais sac dllbias e ate mesmo en' Q'anosas. - Em teneiro lugar, 0 paradigma procura sensibilizar 0 soci610go nao sbmente em relagao as correlac;;6esestreitamente cientlficas de vlirios ti- pos de analise funcional,como tambem a suas correlac;;6espoliticas e al- gumas vezes ideologicas. Os pontos em que uma analise funcional pres- . sup6e um angulo polftico implicito e os pontos em que ela se relaciona com a "engenharia social", sao quest6es que encontram lugar integral no paradigma. Fica 6bviamente alem dos limites deste Capitulo explorar em detalhf\ os grandes e amplos problemas inclufdos no paradigma. Isto pode aguar· dar uma exposig~o mais completa num volume' devotado a tal fin alida- de. Portauto, limitaremos orestante de nossa presente dissertaQao a a;Rli: cac;;6esbrevesapenas das:{ir:fm~iras partes:d6 -paradigma:'aum-- tiilmero' de -casos rigorosamente limitados, da analise funcional na sociologia. E, de tempos em tempos, estes poucos casos serao usadoscomo ponto de partida para a discussao de problemas especiaisque saD apenas ilustra- dos de modo imperfeito, pelos casos em questao. Cerimonia Chirjcahua, da puberdade, para meninas: .s_..fa.tn.ilia .dOmestica, ampliada, (J:lJ.llL.~._p.~,eI)t~.s capazes de auxlliar do ponto de vista financelro) suportam a despe;a dessa."cerimbnia de quatro dias. Os pals escolhem 0 tempo e 0 lugar da cerimbnil\. "Todos. osrnE!p.:ltJr()s. dO,_~.campamento da m09a comparecem, hem como quase todos as me~l~ b·.t~~--d~-g;~po lo~al. Urn regular numero de visitantes de outros grnpos locais e algnns Vla- .'janle. de bandos de fora, sao vistos: seu mimero aumenta a proporgao que 0 dia avanga·. o lider do grupo local ao qual pertence a familia da mOga., fala, dando as boas-vindas a. todos os visitantes. Resumindo, este relato chama a atengao de modo expllcito para as ~egUintes sltuag6es sociais e grupos envolvidos por varlas formas na cerimonia: a m6ga; ~eus pais e a familia mais pr6xima; 0 grupo local, especlaimente atraves de seu chefe; 0 bando representado pelos grupos locais externos, e a "tribo representada pelos membros d. outros bandos· .57ITE~~_~JJJElrO~A .ANALISE F~SIQNA.L A primeira vista, pode parecer que a \crua descriC¥d6 item a ser analisado funcionalmente, acarreta poucos problemas, se e que surge algum. Presumivelmente, deve-se descrever 0 item "de modo tao comple- to e exato" quanta possive!. No entanto, depois de pensarniais;', ficA, evidente que esta maxima !!.ao_1Qtne.£~_gtla.se_:p.l)nhumaorientagao_par~ 'J observado:r. Considere-se a situaQao embaragosa de um ne6fito fun, cionalmente orientado, armado s6mente com esta maxima, como'-seI6s:' se um auxilio destinado a responder a pergunta :\s>_!lY.e. e que_you obser· val', 0 que e que vou incorporar as minhas anotac;;6esde campo e 0 qU9 poC!erei ornitir sem prejuizo? I . Sern admitir que 5e possa dar agora uma resposta detalhada e circuns· tancial ao trabalhador do campo, nao obstante, poderemos observar que u perguntfl. em si mesmo e legitima e que se desenvolveram parcialmen- te respostas implicitas. Ii fim de provocar estas respostas imp!icitas'i a fim de codifica·las,: ~ necessario abordar os casos de analise funcional com a interrogaQao; Que especie de dados joram consistentemente inclui- aos, nao importa quai seja 0 item submetido a analise, e porque este~ dados joram incluidos, ·ao inves de outros? , Logo ~f' torna claro que a Q.:r:ientac;;aodo funcionalista determina gran· demente 0 que e que se inclui na' descric;;aodo item a ser interpretado. Assim, a descric;;aode um espetaculo de magia au de uma cerim6nia nao Tal como veremos no momento oportuno, embora seja pertinente de· fimr agora, ai descrir;iio cruo\ da cerimonia em termos du posiQao social e das filiac;;6esdos gi'upos de· pessoas envolvidas de varias formas, fornece uma pista principal 'que leva as juncoes desemp~nl1.a~~~....E9reste cerlmo· nia!. Numa palavra, sugerimos que a"[5iescric;;aoestruturaldos particlpan- tes na aUvidade em analise, proporciona hip6teses para interpretaQaes fllncionais subseqiientes. 'f'. : .' .~"-( --\,,~\;," ;~ '.' . butro E'xemplo indicara novamente a natureza de tais descri<;6es em termos de papel, situaQao social, filiac;;aono grupo e as inter-relaQ6es en- tre estes fatares. Rea~oes estandardizadas ao 'mirriri' (ouvir obscenidades dirlgidas a pr6pria irma) entre os Murngin da Australia. A reagao padronizada deve ser descrita de modo bastante resu· mido: quando um marldo amaldigoa sua esp6s", na presenga do irmao dela, 0 irmao se lan~a ao comportamento aparentemente an6malo de atirar dardos 11espOsa (nao contra 0 marido) '.HOPI. Uma das tribos Shoshones dos indios da nagao Puebio, tambem conhecida por ./ Moqui. Sao agricultores industriosos, trabalham com tinturaria e tecelagem, criam gado, e sao conhecidos por sua complexa organiza~ao de cliis e cerim6nias religiosa,. (N. do T.) 57. Morris E. Opier, "An outline of Chiricahua Apache social organization", em Social Anthropolo~ of North American Tribes, ed. por Fred Eggan (Chicago: University of Chicago Press, 1937), 173·239, especialmente as pags. 226·230 [0 grifo e nosso], -----!!""":--==-,._-,----_._- !~li e as suas Irmas. A descrlgao de tal padrao inclui descrig5es da sitl)agao social do~ partido pantes. AI:; Irmas saC membros do cia do itrnao; 0 marido prov6m de Dutro cIa.. Observe-se £linda que os participantes sac localizados dentro de estruturas sociais e essa localizagao e basiclO a analise funcional subsequente de tal comportamento.58 \'.\ '. ~ \)0;' . ;"',' •...~_•••~..,.! Uma vez que estes casos sao extraidos de sociedades ~grafas; poder- ·se·ia. admitir que estes requisitos de descrigao f6ssem peculiares a ma- teriais agrafos. Contudo, tomando-se outros casos de analises funcio- nais de padrao encontrados na sociedade ocidenta1 moderna, podemos identificar este mesmo requisito, assim como oferecer guias adicionais aos "dados descritivos necessarios". o "complexo do amor romaniico" na sociedade american a : embora tOdas as sociedades. reconhecam "ocasionais ligaQoes emocionais violentas", a sociedade norte-american a cantero· poranea esta entre as poucas sociedades que valorizam as ligac5es romanticas, e pelo menos na crenga popular, tomam·nas como a base para a escolha de um c6njuge para casamento_ £:ste padrao caracteristico de escolha diminui ou eliminlO a escolha do conjuge pelos pais. ou pelo grupo de parentesco mais amplo. 59 Observe"se que a enfase s6bre urn padrao de esco1ha de c6njuge exc1ui padr6es de esco1ha alternativos, cuja ocorrencia e conhecida em outras partes. 'I'., .. " .•. ,-, Ic'; (~:IC·; ;,,; . 1tste caso sugere urn segundo desiderato para um tlpo de dados a se- .rem inc1uicos no re1ato do item submetido a analise funcional. Ao des- crever 0 padrao caracteristico (modal) de manejar urn problema estan- aardizado (esco1ha do c6njt,ge), 0 observador, sempre que seja possivel indica as principais alternativas assim excluidas. Como veremos, is50 propicia indicagoes diretas ao contexto estrutural do padrao e mediant" a sugc:;;tao de materiais comparativos adequados, aponta na diregao da validagao da analise funcional. Urn terceiro elemento constitutivo da descrigao do item problemati- co, preparat6rio a analise funcional real - por assim dizer, urn requisi- to adicional a preparagao do especime para analise - e incluir os "sig- nificados" (ou significagao cognitiva e afetiva) da atividade ou padrao, para os membros do grupo. De fato, como se tornara evidente, urn re- lato total circunstanciado d"ls significagoes ligadas ao item muito contri- bui a sugerir as linhas apl'opriadas· de analise funciona1. Urn caso ex- 58. W. L. Warner, A Black Civilization - A Social Study of an Australian Tribe (Nova Iorque: Harper & Brothers, 1937), 112·113. • 59. S6bre diferentes atitudes em relagao a analise funcional do "complexo de amor romlm· tleo", ver RaJph Linton, Study of Man, (Nova Iorque: D. Appleton·Century Co .. 1936), 174·5; T. Parsons, "Age and sex in the social structure of the United States". American Sociological Review, outubro de 1942, 7, 604·616, especialmente as pags. 614--15; T.Parsons, "The kinship system of the contemporary 'United States" American An- thropologist, 1943, 45, 22·38, especial mente as pags. 31·32, 36·37, ambos' esses trabalhos reproduzidos em seus Essays in Sociological Theory, op. clt.; T _ Parsons, "The social structure of the family", em The Family: Its Function and Destiny, ed. por Ruth N. Anshen (Nova Iorque: Harper, 1949), 173·201; R. IS:.Merton, "Intermarriage and the social structure", Psychiatry, 1941, 4, 381·74, especialmente as pags. 367·8; e Isidor Thorner, "SOCiological a.spects of affectional frustration", Psychiatry, 1943, 6, 157·173, especialmente as pags. 169-72. Sociologia - Teona e EstrutUja traido das muitas analises funcionais de Veblen, serve para ilustrar a tese geral; Q.,'p.a~rao cultural do consumo ostensivo:; 0 con sumo ostensivo de artigos relati'famente dispendiosos j'significa" (simboliza) a posse de suficiente riquez3o, para "permitir·se" tais des- pesas. Por sua vez, a riqueza e ..honQrlfi.ca. As pessoas que se langam ao con sumo por ostentagao nao s6 obtem prazer com 0 consumo direto, como tambem do elevado status social refletido nas atitudes e opinioes dos outros que as observam. :f!:ste padr;;'o, e notado especialmente entre a classe folgade., Isto e, aqueles que podem e em grande parte se abstem do trabalho produtivo [~S~_ e a situagaosocial ou pepel componente da descrigaol; oContudo, este consumo 5e difunde a QutraS camadas que procurarn emular 0 padrao e l1ue do mesmo modo experimentam orgulho errl despesas "de desperdicioll• Finalmente, 0 con· sumo em tequos ostensivos tende a eliminar outros criterios de consumo (por exemplo, 0 -.:;"gasto "elidente"- de fundos). [Est" e uma referencia explicita aos modos alternativos de con . sumo obscurecidos da vista pela enlase cultural do plOdr;;'0 que esta sendo examinado ).60 .-':'-.;,Comobem se sabe, Veblen, continua a imputar uma variedade de fun· goes ao padrao de consumo ostensivo - fungoes de engrandecimento e validagao do status social, de "boa reputagao", de exibiQao de f6rQa pe- ...f:_~l..niaria(pag. 96). Estas conseqii€meias, eompartilhadas pelos partie:" pantes da atividade padronizada sac produtoras de satisfagao, e justifi- cam a explicagao da continul3.gaodo padrao. As pistas das jun£;oes impu· tadas slio jornecidas quase totalmente pela descri£;lio do pr6prio padrlio, o...•!J.ueinc1ui referencias explicitas (1) ao status social daque1es que exi- bem diferencialmente 0 padrao, (2) altemativas conhecidas ao padrao de consumir em termos de exibigao·e "desperdicio", ao inves de f.ruigao pri· "ada e "intrinseca" do item de consumo; e (3) os diversos significados cultuta1mente circunseritos ao comportamento de consumo de ostenta- (;ao pelos participantes e observadores do padrao. 1tstes tres componentes da descrigao do especime a ser analisado nao provocam de maneira a1guma a exaustao do tema. Um protocolo des- critivo completo, adequado a analise funciona1 sUbseqiiente, inevitave1· mente se espa1hara por uma gama de consequencias psico16gicas ime· diatas e sociais, do comportamento em exame. Porem, essas correlagoes, podem ser examinadas com mais proveito em conexao com os conceito." de fungao. Aqui torna-se unicamente necessario repetir que a descriQao do item nao segue de ac6rdo com a inclinagao ou a intuigao, mas deve incluir no minimo essas tres caracteristicas do item, se e que 0 protoco- 10 descritivo do item em exame deva apresentar valor 6timo para a ana- Ii.se funcional. Embora reste muito a ser aprendido com re1agao aos de- slderatos da fase descritiva da analise total, esta breve apresentaQao de mode10spara urn conteudo descritivo pode servir para indicar que os pro· cedimentos da analise funcional podem ser codificados com 0 resultado final de que 0 trabalhador socio16gicode campo tera urn mapa que guiara a observagao. - Outro caso ilustrara mais um desiderato para a descrigao do item a ser analisado. 60. Thorstein Veblen, The Theory of the Leisure Class, (Nova Iorque: Vanguard Press 1928), especialmente nos capitulos 2.4. Tabu da exogamia: Quanto maior a solidariedade do grupo, tanto mais marcado sera o sentimento contr!>rio ao casamento com pessoa fora do grupo. "Nao faz nenhuma difer~nQa e<ual. seja g, causa do deseJo que favoreQa a solidariedade do grupo ... • 0 casamento fora dele significa Ou perder urn membro do grupo a favor de outro grupo ou a inclusao no pr6prio grupo, de pessoas que nao tenham sido completamente sociallzadas nos valOres, sentim'mto; e praticas do grupo em que ingressam.61 Isto sugere um quarto tipo de dados a serem incluidos na descriQao do especime social ou cUltural, antecipada a analise funcional. Inevita- velmente, os participantes da pratica que esta sendo examinada t€lm a/guma lista de motivos para manifestarem sua conformidade, ou para a respectiva dissidencia. 0 relato descritivo devera, tanto quanto possi- vel. i'Ytcluir uma relagao destas' motivagoes, porem tais motivos nilo devem ser ~onjundidos como temos vis to, com (a) 0 padrao objetivo do comport a- ment'O:oii:(b) com 'as fungoes sociaisdaquele padrilo. A inclusao dos mo- iiV"osn;;r(;i9:to'descritivo ajuda a explicar as funQoes psicol6gicas servidas pelo padrao e freqiientemente verifica-se ser sugestiva quanta as fungoes sociais. Ate aqui, temos considerado itens que sac praticas ou crenQas clara- mente padronizadas, padroes esses reconhecidos como tais pelos participan- tefL9-,ll...lioc:iedade. Assim, os membros da sociedade dada podem, em varios graus, descrever os contornos da cerim6nia de puberdade dos Chiricahuas, o tipo de "mirriri" dos Murngin, a preocupaQao com 0 con&umoostensivo e os tabus GIs exogamia, a escolha dos parceiros na base de ligacoes ro- manticas. Todos esses casos sac pa1:tes.d!LG,W.tl1r.a.Ptlblica,.8 como tais, sao _roais,..QU _mEmoscOnh~cidos completamente por aqu~Hes que partie i- pam dessa cultura. Contudo, 0 .cienti~la!l0()ial nao se limit a a tais padroe,s manifestos. De tempos a tempos, €lIe revela um .padraocultura.1 ocuI- .to, urn conjunto de praticas ou crengas que e modelado Ui,oconsistente- mente quanta os padroes publicos, mas que nao e considerado como um padrao normativamEmte' regula'do pelos pr6prios participantes. Os exem- P1OSdetais-caso'ssii,o'abundantes. Assim, as estatfsticas mostram que na situaQao de quase-casta que predomina nas relaQoes entre negros e ::=jbrancos, nos Estados Unidos, 0 padrao predominante de casamentos inter- "ifaciais (quando ocorrem) e entre mulheres brancas com homens ne- (;7'\"-' gros (ao inves de ser entre mulheres negras e homens brancos). Em- bora este padrao, que pode ser denominado - hipogamia de casta -, nao seja institucionalizado, e persistente e notavelmente estavel. 62 Ou entao, consideremos Dutro exemplo de urnpadrao fixo, porem apa- rentemente nao reconheQ.i,d9.~...Malinowskiyelata que os trobrianci~s~s cooperativamente ocupados na tarefa J~QI)..9l6,gica.da construQao de urna ,~Jln.QJ).,.nao_~s..!~osomente unidos naquela tare fa ·t~ci1iCa. explfcita, mas 61. Romanzo Adams, Interracial MarrIage in Hawaii, especialmente as pags. 197·204; Merton, ·'Intermarriage ... ", op. cit., especial mente as pags. 368~9: K. Davis, "Intermarriage in caste societies", American Anthropologist, 1941, 43, 376·395. G2. Cf. Merton, 'IInterrnarriage ... ", op. cit.; Otto Klineberg, ed.. Characteristics of the American Negro (Nova Iorque: Harper, 1943), tamoem para estabelecer e refolQar, no processo de sua execuc;;ao,rela- QQ.~~.JE~~lP_Els..soaisentre €lIes. B~a parte dos dados recentes, acerca de tais grupos primarios, chamados "organizagoes informais", trata de tais padroes de relagoes que sao observadas pelo cientista social, mas nao sao reconhecidllS pelos pr6prios participantes, pelo menos em suas conclu- f'oes totais.63 Tudo isto aponta a um quinto desiderata do protocolo descritivo: as regularidades de comportamento, associadas com a atividade nominal-mente central (embora nao faQam parte da norma explicita de cultura), devem ser incluidas nos protocolos do pesquisador de campo, uma vez que esj;as_~~Il1!~aridades,.nilo-propositais . freqiientemente proporcionam pistas basicas a ..il1dicac;;ao.de funQoes distintivas da norma total. Co· mo veremos, a inclusao destas regularidades "nao·propositais" no proto- colo, dirige 0 investigador quase imediatamente a analise da norma, em termos daquilo que temos chamado - funQoes latentes. Resumindo, entao, 0 protocolo descritivo deve incluir, tanto quanta possivel, 0 seguinte: 1) 10ca!izaQao dos partlcipantes na norma, dentro da estrutura soclal - participaCao dlfe. reodal: 2) consideraQ9.o dos modos de cOrnportamento alternativQs, excluldos pela ~nfase Sabre a norma observada (isto e, atenQiio nao samente ao que ocorre, mas tambem ao que e de~. prezado em virtude da norma existente); 3) os significados emotlvos e cognitlvos conceituados pelos partlcipantes da norma; 4) urn.. distinQao entre as motivaQoes da participaciio na nOrma e 0 comportamento objetlvo incluido na norma; 5) regularidades de comportamento niio reconhecidas pelos particlpantes mas que seJam naG obstante associadas com ,a norma central de comportamento. j Que estes .Q,!)_siQ.!)r~t6s.·:.g.Q.proto~Q~0do observador estao longe de se- rem completos, e inteiramente provavel. Porem, €lIes fornecem um pas- so tateante na direQao de se especijicarem os pontos de observaQao, que facilitarao a subseqiiente analise funcionaL Pretendemos que eles se- jam urn tanto mais especificos do que as sugestoes ordinariamente encon- tradas em afirmac;;oes gerais quanto aos processOs de trabalho tais co- mo os que aconselham 0 observador a ser sensivel com refe;€lncia ao "contexto da situagao". ~onform~ tem side ventilado em seQoes anteriores, a distinQao entre funQ,aesmamfestas e latentes .toi imaginada para evitar a confusao inad- v.ertlda, frequentemente encontrada na literatura socioI6gica, entre mo- tzvagoes conscientes do comportamento' social e suas consequencias ob- 63. A, redescoberta do grupo primario pelos interessados nos estudos socio16gicos da In. dustrIa tern sido urn dos principals estimulos a abordagem funclonal na pesquisa socio. 16gka recente. Referlmo·nos aos trabalhos de Elton Mayo, Roethllsberger e Dickson, WIlham ,Whyte e Burleigh Gardner, entre muitos outros. Continuarn de pe, natural. mente, dlferengas de interpreta9ao a que conduzem esses mestnos dados. jetivas. Nosso exame dos vocabuhlrios correntes da analise funcional tern demonstrado quae facilmente, e quae desafortunadamente, 0 so,ci6logo pode identificar os motivas com as fungoes. Ja foi antes esclarecido que o mo.tivoe a fungao variam cada urna de per si e que a falha em re· gistrar este fato numa terminologia estabelecida tern co~tribuf10 para. a :;endencia incansciente entre as soci6lagas, de canfundlr as i~_at~gonas subjetivas da motivagao com as categorias abjetivas da fungaa,i ESte, entao, e '0 prop6sito central de nOSSaadesao a pratica nem sempre reco· mendavel de intraduzir novos termos no vacabuUirio tecnico da socio· logia, em rapido crescimento, pratica essa considerada por muitos leigos c.omourna afranta a sua inteligencia e uma ofensa contra a inteligibilida· de comum. Como se percebera f:kilmente, tenho adaptado os termos "manifesto", f\ "latente". diferenciando-os de seu uso em outro sentido por Freud (embora Francis Bacon ja ha muito tempo falasse de "processo latente" e "configuragao latente", em conexao com processos que esHio abaixo do limiar da observagao superficial). A mesma distingao tern side repetidamente tragada por observado· res do comportamento humano, a intervalos regulares, nurna extensao (e muitos seculos.64 Na verdade, seria desconcertante verificar que uma distingao que chegamos a considerar como principal na analise funcia- r,al, nao tivesse side feita por qualquer urn daqueles que em nurnerOsa ::.ompanhia, com efeita, adotaram uma orientagao funcional. Precisamos mencionar apenas uns poucos daqueles que, nas decadas recentes, tel;l verificado ser necessaria distinguir em suas interpretagoes especificas dC) comportamento, a finalidade em vista, das conseqUencias funciollais da 'l.gao. W.G Sumner 67; "... des de os primeiros a tos pelos quais os horn ens procuram satisfazer ."as necessldades, cada ate explicerse por sl, e nao olha alem da satisfaQao Imedlata. Das necessidades peri6dicas surgem os habltos para os lndlvldUos, e os costumes para 0 grupo, roa" e~tes resultados laD consequemcias que nUllca foram conscientes. e Dunea foram pra~ vista.s au procuradas. Elas nao saa observadas ate que hajam existido por longo tempo, ~ alnda leva mais tempo ate que sejam o.precladas." Embora is to falhe na 10calizaQao das aQoes sociais padronizadas para uma estrutura social deslgnada, fall claramente a dlstlnQao basica entre as flnalldades a vista e as conseqUencias objetivas. R.M. MacIver 68: Alem dos efeitos diretos das lnstitui9iSes, "ha efeitos ulterlores, a modo de con troles, que fazem fora das flnalldades dlretas dos homens este tipo de formR de controle relativo .. , pode ser profundamente uti! a socledade, embor", nao lntenclonado". W.I. Thomas e F. Znanleckl 69: "Embora tOdas as nove.. InstituiQoes [cooperativas de camponeses poloneses] sejam assim formadas com 0 prop6slto deflnldo de satisfazer certas nccessldades especlficas, sua funQao social nao e de modo nenhum lImltada a sua f1nalidade explicita e conscionte ... cada uma dessas InstltuiQiSes - comulla ou clrculo agricola, be.nco de emprestimos e de economla, ou teatro - nao e simplesmente um mecanismo para lIdar com certoB va16res, maS tambem uma associa~ao de pessoas, da qual cad a. membra Se supoe que participe das atividades comUns como urn. individuo vivente e concreto. Qualquer que seja 0 inter;;sse comum oficial, predominante, s6bre 0 qual a institui!;B.o e fund ada, a assoda· c;ao, como grupo concreto de personalidades hurnanas, de modo nao oiicial envolve mUitos outros Interesses; os contatos socials entre seus membros nao sao lImltados ao seu objetlvo coroum, embora este ultimo, e evldente, constitua tanto a razao principal pela' qual a associaQ8.o e farmada, como 0 la<;o mws permanente que a rnantem coesa.. Devida a essR, comblnaQao de urn mecanismo abstrnto, politico, econOmico ou de qualquer modo raclonal. para a satisfa~ao de necessidades especificas, com a unidade concreta de urn' grupo social. a nova Institui9ao e tambem 0 melhor elo Intermediario entre 0 grupo primarlo campones e 0 sistema nacional secunda.rio". George H. Mead 65 .1". aquela atitude em relaQao ao infra tor d2., lei tern a tinica van .. tagem (leia-se, ,.!J:."nQao.latentel de unlr todos os membros da comunidade na solidarledadc emoclonal da agressao. Enquanto os mais admiraveis esforQos humanitarlos certamente correrao contra os Interesses Individuais de multos componentes da comunidade, ou deil<ari\n de tocar 0 Interesse e a imaglnagao da massa, ficando a comunldade dividida Ou indlferente, o grlto de 'Iadrao' ou de 'assassino' e sintonlzado por profUndos complexos, que jazem l\balxo da superflcle dos esforQos Indlviduais em concorrencia, e cldadadS que tern [permanecldo] separados por Interesses dlvergentes unem-se contra 0 inimlgo comum". . A analise semelhante de Emile Durkheim,66 das funQoes socia is do castigo, e tambem focallzada sObre suas funQ6es latentes (conseqtienclas em relaQao a comunidade) ao In,'es de serem conflnadas as funQiSes ma.nlfestas (conseqtienclas em relaQao ao' crlmlnoso). cessidades, interesses, prop6sitos") e cat.egorias de conseqUencias' fun- cionais objetivas, geralmente nao reconhecidas ("tlnicas van~gens", c.on· !'ieqiiencias "nunca conscientes", "serviQo,... nao intencional a sacieda· de", "fungao nao limitada a uma finalidade conscientee e~plfcitlilo"). Desde que a ocasiaa para fazel' a distingao se apresenta com grande freqUencia,€' desde que 0 prop6sito de um esquema conceptual e dirigir as observaQ5es para os elementos salientes de urna situagao e evitar 0 descuido inndvertente de tais elerEentos, talvez f6sse justificD.veldesignar esta distingao POl' um conjunto apropriada de termos ou express5es. Estes e outros numerosos observadores sociol6gicos, entao, de tempos a tempos, tem distinguido entre categorias de disposigao subjetiva ("ne· 6',. Esta, uma entre mUltas das suas observaQ6es, encontra-se naturalmente em W. O. Sumner, FoU,."Ways (Boston: Ginn & Co., 1906), 3. Seu coiaborador, Albert G. Ketler conservou a distin<;ao em seus pr6prios trabalhos; veja*se, por exempla, sua Social Evolution (Nova Iorque: Macmillan, 1927), 93-95. 68. i!:ste trecho est a proposltadamente tlrado de um", das prlmelras obras de MacIver: Community, (Londres: Macmillan, 1915)_ A dlstlnQ~o adquire maior Importanci" em set:s trabalhos posterioreS, chegando a ser elemento multo Importante em sua Social Cau$ation (Boston: Ginn & Co., 1942), especlalmente as pags. 314-321 e informando a maior parte da sua The More Perfect Union (Nova Iorque: Macmillan, 1948). 69. 0 paragrafo citado no texto e urn dos multos que, com jUsti9a, induziram a consider"r The Polish Peasant in Europe and America, urn IIclassico socio16gico". Vejam-se t4,S pags. ~426.7, 1523 e segs. Como sera dito mals tarde neste capitUlO, as ideias e ~.s dlstin~oes conceptuais contidas neste trecho - e he muitos outros que se lhe assemelham no ponto de vista da riqueza de conteudo - foram esquecldas ou nunca loram levadlloS em conta pelos soci610gos industriais que chegaram recentemente a formular a nociio de Ilorganiza~ao informal" na industria. 64, Referencias a algumas das mals notaveis entre as prjmelras manlfestaQiSes da dlstlnQao, podem ser encontradas em "Unanticipated consequences .. ,", de Merton, op, clt, 65. George H. Mead, "The psychology of punitive justice", American Journal of Sociology, 1918, 23, 577-602, especlalmente pag. 691. 66. Como ja foi indlcado neste capitulo, Durkheim adotou uma orientaQao funcional em tOda sua obra e trabalhou, embora muitas v~zes sem avlso explicito, com conceHas equivalentes. A referenc!a do texto neste trecho e ao seu "Deux lols de I'evolution pen ale", em L'annee sociologlque, 1899·1900, 4, 55-95, bem como com a SUa Division of Labor in SO<liety, (Glencoe, Illinois: The Free Press, 1947). ';~$:1,1i'" 'I: ; Esta ~ a atitude raeional que jUstifiea a distinl/ao entre funl,{aes manifes· t'"s' e"fun"cies-iatEmtes' a primeira refere-se aquelas eonseqU€mcias obje·. a,.' .' tivas para uma unidade especificada (pessoa, subgrupo, slsten:~ SOClal ?U cultural) a qual eontribui para seu ajustamento ou adaptal,{ao e assnn e inteneionada; a segunda se ref ere as eonseqii€meias nao inteneionad2.s e nao reconhecidas da mesma ordem. Existem algumas indicaQaes de que 0 batismo dessa distinl,{ao pode servir a urn prop6sito heuristico de tornar-se incorporado a um apare· lho conceptual explicito, ajudando assim tanto a observaQao sistemati- ca como mais tarde a analise. .Nos anos recentes, por exemplo, a dis- ( tinQao entre as funl/aes manifest as e as latentes tem sido utilizada em aUll-lises de casamento inter-racial,70 estratifical,{ao social,71 frustracao afetiva,72 t.eoria socio16gica de Veblen,73 atitudes norte-americanas pre- 1 dominantes com relal,{ao a Russia,74 prop.aganda com~ .meio de contro- : Ie social,75 teoria antropo16gica de Malmowski.75 feltll/aria dos Nava- : jos,77 problemas da sociologia do conhecimento,78 mOda,.79 dina:mc.a da \ personalidade, 80 medidas de seguranQa nacional,81 dinfi.mlCa sO~lal ~ter, " na da burocracia 82 e grande variedade de outros problemas soclo16grcos. A_PTQpDJ\ diver§id!!&l~UiLj;ai!;l....§s.§.!ill~Q.s...§.t!ge.re_.rl'l.l:ea distinQao te6ric?: ent~JLfunca.!1s.JIlaI).ifestas e as latentes na..Q...P~~_.Eestinada a urna var riedade particular de ,comportamento humano. porerp. ainda permanece 8. grande, tarefa.de.desentocar os usos especificos, aos quais possa ser apli~ cada esta distin!(i'io,e e a esta grande tarefa que devotamos as restantes pagIDas deste, capitulo. 70. Merton, "!ntennarriage and the social structure", op. eit. 71. Kingsley Davis, "A conceptual analysis of stratification". American Sociologieal Rnie ••, 1942,7, 309·321. 72. Thorner, op. cit., especialmente •• pag. 165. 711.A. K. Davis, Thorstein Veblen's Social Theory, tese doutoral, Harvard, 1941e 'Veblen on the decline ot the Protestant Ethic·, Social Forces, 19«, 22, 282·88;Louis Schneider. The Freudian Psychology and Veblen's Social Theory (Nova !orque: King's Crown Press, 1948),em' especial 0 Capitulo 2. 7.. A. K. Davis, ·Some sources of American hostility to Russia", Amerl•••••Journal ot So· clology, 1947,53, 174·183. 75. Talcott Parsons, 'Propaganda and social control", em seus Essays In Sociological Theory. 76. Clyde Kluckhohn, "Bronislaw Malinowski, 1844·1942·,Journal of American Folkiore, 19~, 56, 208·219. 77. Clyde Kluckhohn, Navaho Witchcrafl, op. ell., esp. as pags.• 6-47e segs. 78. Merton, Capitulo XII deste volume. 79. Bernard Barber e L. S. Lobel, "'Fashiot'!' in women's clothes and the American social system", Social Forces, 1952,31, 124·131. 80. O. H. Mowrer e C. Kluckhohn, "Dynamic theory of personality·, em J. M. Hunt, ed., rersoualily and the Behavior Disorders (Nova !orque: Ronald Press, 1944), I, 69·135, especialmente a pag. 72. 61. Marie Jahoda e S. W. Cook "Security measures and freedom of thought: an explo· ratory study of the Impact ot loyalty and security programs", Yale Law Journal, 1952, 61, 295·333. 82. Philip Selznick, TVA and lhe Grass Roots (University Of California Press, 1949);A. W. Gouldner, Palterns of Indusirlal Bureaucracy (Glencoe. Illinois: The Free Press, 1954); P. M. Blau, The Dynamics of Buresucracy (University of Chicago Press. 1955);A. K. Davis, "Bureaucratic patterns in Navy officer corps". Social Forces, 1948, 27, 14.2-153. I I Sociologia - Teoria e Estrutura \ ! "\i A distin~iio esclarece a analise de padr6es sociais aparentemente irra- \./ Idonais. Em primeiro lugar, a distinc,;ao ajuda a interpretac,;ao soeio16gi- ',,' ca de muitas praticas sociais que persistem mesmo quando seu prop6si- to ,manifesto nao esteja claramente alcanQado. 0 proeesso consagrado pel0 tempo nestes casostem' sldo-Ci' de que diversos observadores, especial- mente os leigos, se referem a tais praticas como "~~rstiQ5es", "~rracio- nalidades", "simples inercia da tradiQao" etc. Em outras palavras, quan- do 0 comportamento do grupo naD atinge suas finalidades ostensivas - e na verdade, freqiientemente nao pode faze-lo - ha uma inclinac,;ao pa. ra atribuir sua ocorr~ncia a falta de intelig~ncia, a crull. ignorflncia, as sobreviv~ncias ou a chamada inercia. Assim, as cerim6nias dos Hopi, des· tinadas a produzir abundante chuva, podem ser rotuladas como uma pra- tica supersticiosa de gente primitiva e isto permite eneerrar 0 assunto. Deve-se notar que isso, de modo nenhum explica 0 comportamento do grupo. E simplesmente um caso de nomenclatura, coloca 0 epftetd de "superstiQao" em substituil/ao a uma analise do papel real desse compor- tamento na vida do grupo. Dado 0 conceito de funcao latente contudo ,lemb+-amQ:DQ§.geque~steeOmport.iiij1erito talvez pOssa realizar 'uma fun: QiiC!..pll,r!l ..()..~J0:1:p0, ,emb.0ra est a funl/ao possa ser muito afastada da fl- nali,g§d!l_declarad!jd:!~<;:Qnduta:1 .- _... " " . 0 conceito de funQao latente amplia a atenQao do observador para mais alem da questao de se saber se a conduta consegue ou nao a sua fi- nalidade confessada. Ignorando temporariamente esses prop6sitos ex- plfcitos, dirige a atencao para outro campo de conseqii~ncias: as que se relacionam, por exemplo, com as personalidades individuais dos Hopi que concorrem ua cerimOnia e com a persist~ncia e continuidade do grupo maior. Se alguem se limitasse aoproblema de saber se existe uma fun- f,:ao manifesta (deliberada), isto se converteria num problema nao para o soci6logo. mas para 0 meteorologista. E e eerto que 'os nossos meteo- rologistas estao de acOrdo em que a cerimonia da chuva nrIC produz chu- va; mas isto nada tem aver com 0 assunto. Significa, simplesmente, que a cerim6nia nao tem ~ste use tecnieo, que esta finalidade da cerima- nia e suas conseqUencias reais nao coincidem. Mas com 0 conceito de !unQao latente, continuamos nossa investigaQao eexal1linamos'~s conse- . ..!ill~ncifair~._c(i"pm6jiia;jiB.:i:) para os deuses da chuva ou para os feno- menos ..m~t~9_:t:QlQgicos._.m.M....pam ..Q_.gr1.lpo que realiza. a cerim6nia. E ent~o s~ pode verificar, como muitos observadores ja 0 indicaram, que 0 cerlIDoIllal tem realmente funQaes, mas funQoes latentes ou nao deli- beradas. • As cerim6nias podem deSemD(,:nhar a ,funcao la~eEte de reforl/ax:. fl ~den~~~~~.....<io.._g!.uPo, .IJ!oporcionan·do uma 'ocasiao peri6dica "em_ que. os. ~~.y!~uos .~issenlin.ados de um grupo se reunem para entregar-~e a uma ~_i!.i.c1tl..cl~_£~. CQmo .J2.1!!'khe~!J:l,.~.ntreQutr9s, indicou faz muito.tem- _.ES,,~tais c:rin::~ni~._~?E~~tuem um meio de se expressarem coletivamen- ~ntimentos qU_~t..,.?t!!Ufl._~n~~~~~,_.l1..!.t~r.~()SJ.e~t!!!an;t.",,~~J:.~~~_fontLfun- damental de unidade do grupo. Mediante a aplicagao sistematica de fun- Cao,latente:-p-Ode'-descobrir:se, ri; t'ezes, que a' conduta aparentemente _~.i~~cionale'positivamente funcional para 0 grupo. Se trabalharmos com v conceito de fungao latente, nao seremos levados a concluir muito apres· sadamente que, se uma certa atividade de um grupo nao aUnge sua fi· nalidade nominal, sua persist€mcia samente possa ser descrita como um caso de "inercia", "sobrevivencia" au "manipulagao de subgrupos pode· rosos da sociedade". Na realidade, alguma concepgao parecida com a da fungao latente tem sido ernpregada com muita frequencia, quase invarHwelmente, pelos cientistas sociais que seguiam 1:!:1!!:.prgg.es.~o.pa.cironizad-odestinado a al· cangar um objetivo que se sab'ia nlio poder ser alcanr;ad-o pela ciencia jisiea bem aereditada. Seria este claramente 0 caso, por exemplo, dos ritos dos indios Pueblo relativos a chuva e a fertilidade. Mas, com wna conduta que nao Se dirige para um objetivo claramente inatingivel, e me· nos provtivel que os observadores sociol6gicos examinem as juncoes co· laterais ou latentes da conduta. _..-A_distinr;ao., ..dirjgEL a.,atenQao.para_CamP9ILQ,g..J?JJ.ii!lliisa.te9rk:(I/[Tl;~nte trutitero~:_. A distincao entre fungoes manifestas e latentes, all~m disso, serve para dirigir a atencao dos soci6logos precisamente para as esferas da conduta, da atitude e da crenga, em que podem aplicar com maior proveito suas habilidades especiais. Po is qual seria a sua tarefa se se limitassem ao estudo de funcoes manifestas?' '!nteressar-sa-iam, entao, em grande parte, em determinar 5e uma pratica instituida para um pro- p6sito especifico consegue na realidade esse prop6sito. Investigaram, por exemplo, se um sistema novo de pagamento de salario atingiria seu prop6sito declarado de reduzir a mll.o·de·obra e de aumentar a producao. Indagaral1l se uma carnpanha de prc;paganda logrou de fato seu objetivo de aumentar a "decisao de lutar", ou a "decisao de comprar bonus de guerra" ou a "tolerancia para com outros grupos etnicos". Pois bern, estes tipos de investigagao sac importantes e complexos; mas, na medida em que os soci6logos se limitarem a estudar fungoes manifestas, sua in· vestigagao sera fixada para eles por homens praticos de neg6cios (que se· ja urn eapitao de industria, urn ~ideI' sindical ou mesmo, urn chefe na· vajo, isto nao importa no momento) e nao pelos problemas te6ricos que estao no nucleo da disciplina. Ocupando-se prirnordialmente com 0 campo das fungoes manifestas e com 0 problema chave de verificar se as praticas ou organizagoes delilJ"!radamente instituidas logram conse- guir seus objetivos, 0 soci6logo se transforma num habil e aplicado regis· trador de uma norma de conduta ccmpletamente familiar. Os termos de estimagao slio fixados e limitados pela questiio que lhe e apresentada por homens de neg6cios nao teoricos, p. ex·: 0 novo sistema de pagamento de salarios alcangou tal e tal objetivo? ~rr.na.<l0' porem, com 0 conceito de fungii.o latente, 0 soci6logo estende sua investigaQao" as diregoes mais promissoras para'o desenvolvirnento 'te6rico ds. materia. Examina n pratica social familiar (ou planejada) , . '\'. -Sociolooia - Teoria e Estrutura para desco1!rir as fungoes latentes e, por isso mesmo, geralmente nao ra- conhecidas (examina tambem, e ciaro, as fungoes manifestasL Ex ami· na, por exemplo, ~s ~onseqUencias do novo plano de salarios, a pedido, suponhamo.s, do smdicato em que estao organizados os trabalhadores' eu as conseqUencias de urn programa Cie propaganda, nao samente par~ aumentar seu prop6sito confessado de 1espertar entusiasmo patri6tico. mas tambcm para que um grande numero de pessoas deixe de manifes~ tar sua oposigao quando diverge da politica oficial etc. Em resumo su-' poe-se que as contribuigoes intelectuais distintivas do soci6logo se dirlgem primordialmente ao estudo das conseqUencias inesperadas (entre as quais figura-m as funcoes latentes) de praticas sociais, assim como ao estudo das conseqUencias previstas (entre as quais se contam as fungoes mani· lestas).83 Existem algumas provas de q\le os soci6logos fizeram suas contribui- goes maioreS,6 mais dislj11:tiv.as ...p.n~clsal1leJ:lte no, momento em que S'Ja ate.ncaQ inve$Jlg&c!pra passou_J!Q.....pJfl-».~._da.-sfuncoes manifestas para 0 plano das funcoes late~ies.. Isto poderia ser documentado com muitos. exemplos, mas umas poucas ilustra~oes serao sUficientes. ESTuDos DAHAWT~ORNEy.'ESTERNELECTRIC:84 Como se sabe, as primei- ras _etapas dessa mVeStlgaCaO foram dedicadas ao problema das relacoes entre a "iluminacao e a eficiencia" dos trabalhadores industriais. Dur~nte uns dois anos e meio, focalizou-se a atencao sobre problemas co- mo este: As mUdancas de intensidade de luz afetam a producao? Os r~su1tado~ inici~is demonstraram que, dentro de amplos limites, nlio ha· Via rel~gaO umforme entre iluminagao e producao. 0 rend1mento da prod~cao aumentou tanto no grupo experimental em que se aumentou (ou se dtminuiu) a iluminagao, como no grupo de controle em que nao se fi- zeram mudancas nl';, iluminac;ao. Em sum a, os pesquisadores se limi· taram estritamente a investigar fungoes manifestas. N:;t ausencia de um .:once:to .dp- fUnga~ sO~ial latente nao se prestou inicialmente qualquer atengao as conseqo.enClas sociais da experiencia sabre os individuQs dos grupos ~e p.rova e de controle ou sabre as relagoes entre os operarios e I a~ autondao.es da sala de provas. Em outras palavras, faltava aos inves- t1gadores u:na estrutura sociol6gica de referencia e, assim sendo, eles nperaram ~(Jmente como "engenheiros" (exatamente como um grupo de meteorologlstas poderia ter estudado os "efeitos" da cerim6nia Hopi s - - bre a chuva). ' 0 33. ~~rve ilustraQfwdeste conceitogeral aparece em ntass Persuasion, de Robert K. Merton. J~ne Flske e Alberta CurtlS (Nova Iorque: Harper 1946) 18&-189'Je.hode.e Cook' op. tit. ' " " 84. I~t? e citadClcomo estudClem um caso de como uma investiga~aocomplicada5e mo- :~l~:U dcolnPletamen.te em or~enta~ao te6rica e no cariter dOli sellS resultados pela intro- pr:P6s1t: :: ~:~~~~~o~::Cl~Ocotm 0 de f~n~~o latente. A escolha dO eRSO para este-' res deram aos se ' It ra men e, na aceltacao plena das interpreta.;6es que os auto- , us resu ados. Entre as diversos livros que analisaram a s uisa da Western Electnc. veja-separticularmente Managementand the Worker d ': qJ R thlisberger e W. J. Dickson(Harvard UniversityPress, 1939), ,e.. O~ -Sociologia - Teorta e Estrutura Thomas e Znaniecki tinham, pois, insistido repetidas vezes no.opinHio so-cio16gica de que, qualquer que fasse sUa principal finalido.de, "a associli. <;ao de pessoas humanas como grupo concreto implica, de maneira nao oficial, muitos outros interesses; os contatos sociais entre seus mem bros nao se limitam a sua \finalidade comum... " Resulta, portanto, qUe foram necessarios anos de experimenta!tao ~para que a e~uipe ~e. pes- quisa da Western Electric dirigisse sua atengao para a~ fU~!toe~sdOCltalis:0.- tentes de grupos primarios que se formam em orgamza!;oes m us r alS. It preciso salientar que nao citamos este .caso.como cxemplo. de plano ex.- rimental defeituoso; nao e isto 0 que lmedmtamente nos mteressa. Epe . . . " considerado apenas como exemplo do.apilcablildade para a pesqUlsa somo- 16gica do conceito de fun!tao latente e dos conceitos de. ~_~lise_funcional que the sao associados. Demonstra como a inclusao deste conceito (nao importa que se usem ou nao estas mesmas palavras) 'pod~ tor~a: s.en. siveis aos pesquisadores sociol6gicos um campo de varlllvels soclals ).111- portantes que, de outra maneira, passar~a .facilme~t~ d~spercebid~. .A cataloga<;ao explicita do concelto podera talvez dlmmulr a frequencla das ocasioes de descontinuidade nas futuras investiga!toes sociol6gicas. n,-- Q d.escobrimento ~'g~s;Q§.!LJg,te11te.s_ representa importantes inc:e. :ro.tJ1Ztas aos cQ11lJ&Qim.entg.L_S()cio16gico~.Ha outro aspecto em que a m- vesti.[~\(~Q_.ti.~!lfung.oes.1atentes representa caracteristica contribuigao do~ cientist.aS..~Qciais.l Sao precisamente as fun!toes latentes de ur::a prat!o ca.o.u...cren!ta as. que nao sac do conhecimento comum, porque sac co~se- CJ.tienc~as.sociais e ps~co16gicasjnesperadas e, em geral, nao reconheci- ~ Portanto, os resultados concernentes a fungoes latentes represen- tam um incremento maior de conhecimentos do que as resultados con- cernentes a fungoes manifestas. ,Representam tamb~m maior afasta- mento do. ~abedoria de "senso comum" ou de "bom senso" a respeitJ do. vida social, Como as fun!toes latentes se distanciam mais ou menos dMfli;g6es manifesfas declaradas, a .pesquisa que vem a descobrir fun· <;oesproduz, frequentemente, resultados "paradoxais~".."-.()-'Paradoxo apa- rente nasce da:r'amc'lii"modificagao de urn preconceito popular familiar, que ve urna pratica ou crenga padronizada il.ni9amente pelas suas fun- !toes manifestas; tal modificaQao se da quando se indicam algumas das , suas fungoes latentes subsidiarias ou colaterais, A introdu2ao do con- ~ .. ceito de fungao latente no. pesqulsa social leva a conclusoes que revelarn ~ qu~-Y1ii§oCial~tKQ:<-s.i.IDpies como parece a primeira vista"; pois ... \_~gq1l.~~,t.9__~s Jl€ssoa.s..se,limitam a certas consequencias. (por exemplo, a C()p§.~qu..~nciasmanifestl.!-s), e relativamente simples para elas for~],l1ar ,iuizos...mot:ais sObre 0 procedimento ou crenga em questao .....-As·.:~:0lia. ..!(oesmorais, baseadas em geral s6bre as consequencias manifestas, ten- dem a pOlarizar-se em termos absolutos de "branco ou preto", mas a percep!tao de outras consequencias Oatentes) complica amit1de 0 panora- ma. Os problemas de avaliaQao moral (qu,e, por enquanto, nao sac de nosso imediato interesse) e os problemas de engenharia soCial (que constituem nosso interesse imediato) 87 assumem ambos as complicaQoes Samente depois de prolongadas invest1gaQoes,lembrou-se 0 grupo pesquisador de explorar as consequencias da nova "situa!tao experimen- tal" sobre as imagens e os conceitos que tinham de si mesmos os traba- lhadores que tomavam parte na experiencia, sabre as rela!toes pessoals €ntre os individuos do grupo, sabre a coerencia e unidade do grupo. Co- mo diz Elton Mayo, "0 fiasco do. ilumina2ao os havia posta de sobreavi- so para a necessidade de manter registr05 muito minuciosos de tudo 0 que acontecia na sala, aMm dos dispositivos industriais e de engenha- ria manifestos. Em consequencia, as observagoes incluiam nao samen- te registros de mudan!tas industriais e tecnicas, como tambem registros de altera!;oes fisio16gicas ou medicais e, em certo sentido, de mudan<;as sociais e antropol6gicas. Estas ultimas tomaram a forma de urn dilirio, que dava conta, 0 mais completamente possivel, dos acontecimentos reais de cada dia ... " 85 Em resumo, samente depois de uma longa serie de experilincias que descuidaram por completo as fun20es sociais latentes da experilincia (como sltua!tao social preparada), foi que se introduziu esta es- trutura claramente sociol6gica. "Quando nos demos conta disto - escre- vem os autores, - a pesquisa mudou de carater .. Os investigadores ja nao se interessaram em comprovar os efeitos de (variaveis simples'. _A experilincia dirigida foi substituida pela ideia de uma situa!tao social 'que necessitava ser descrita e compreendida como um sistema de elementos interdependentes~~~ Da! por diante, como hoje e bem conhecido, apes- qu.isa·se dirigiu em grande parte a indagagao das fungoes latentes de pra- ticas padronizadas entre os trabalhadores das organiza20es informais que se desenvolvem entre os operarios, das diversoes instituidas para 8les por "sabios administradores", dos grandes programas de conselhos e diaIogos com os operarios etc. 0 novo esquema conceptnal alterou 0 terreno e os tipos dos dados recolhidos na investigagao sUbsequellte. :E suficiente voltarmos ao paragrafo acima citado do. obra classica de Thomas e Znaniecki, ja velha de trinta anos, para reconhecermos a exa, tidao do. observa!tao de Shils: ••• realmente, a hist6rla do estudo de gropos primarios na sociologia norte-americana Ii um exemplo extremo das descontinuidades no desenvolvlmento dessa dlscipllna: certo pro. blema e destacado par um dos fund adores incontestes de. disclplina, e deixado de lado c, alguns anos mais tarde, volta a ser entuslasticamente apresentado como se nlnguem tives.~ nntes pensado nMe.86 87. Isto nao signifiea negar que a engenharia social tenha impllcaQoes morals diretas, ou que a tecnica e a moralidade estejam inevitavelmente entrelac;;adas, mas nao pretendo tratar dt;ste tipo de problema no presente capitulo. Estes problemas serao tratadcs nos Capitulos VI, XV e XVII. Veja-se tambem Merton, Fiske e Curtis, Mas. Persuasion, Capitulo 7. 85. Elton Mayo, The Social Problems of an Industrial Civilization, (Harvard University Press, 1945>, 70. 86. Edward Shlls, The Presenl Slate of American SoeiologJ', (Glencoe, Illinois: The Free Press, 1948>, 42, [0 grifo e n0550J Sociologia - Teoria e Estrutura ualidade excelente dos produtos"). Nao nega que as fungoes .ma.nifes. q ··t h algum lugar no apoio ao padrao do consumo ostenslvo, elas tas b:n a~ operantes "0 que se acaba de dizer nao deve ser interpre-tam "m sao . . . - d sentido de que nao haja outros incentivos para a aqUlslgao eta 0 no . - .. r' con 3. acumuluGao do que este desejo de exibir a sua sltuacao peC~Il1ala, . - ~eguindo assim a estima e a inveja dos semelhantes. 0 deseJo de mawr comodidade e seguranga perante a necessidade esta ~rese~te em todos e d t"gl'OS" Ou ainda' "Seria temerano aflrmar que sem-cada um os es '" . . .' . pre falta uma finalidade proveitosa na utilidade de qualq~er a~tlgo ~u servico, por mais evidente que seja 0 fato de que seu prop6s1to ~~lmordlal t' seu elemento fundamental estejam constituidos pelo desperdlclO_oste~- sivo" e pela consideragao social que dai resulta.89 86 que as j.unl;;aes dt- retas, manijestas, nao explicam plenamente as normas predamtnantes de consumo. Em outras palavras, se as junr;oes latenfJes 1,e status-~ej6rr;O ou status-consolidar;iio separam-se das normas d.o consumo ostenstvo, as rejeridas norm as sojrerao mudanr;as graves, qe um tipo niio previsto pe.lo economista "convencional". A este .respeito, a analise que faz Veblen das fungoes latentes S8 afasta da iaeia de sentido comum, segundo a qual 0 produto final d') consumo e "naturalmente a ~atisfagao dire~~ que proporciona": "A gen- ~ . , •..••.•.. " .. _.•. -' - . J._.. .- . ". f.l, te come caviar porque tem fome; compra Cadlllacs porque quer 0 m_- lhor carro que possa conseguir; janta a luz das velas porque aprecia 0 ambiente tranqUilo". A interpretagao de sentido comum, em termos de motivos manifestos escolhidos, cede 0 lugar, na analise de Veblen, a fun· Coes colaterais que sao tambem, e talvez de m~n.eira mais si~n~ficativa, realizadas pelas referidas praticas. E fora de duvlda que nas ultlmas ~e- cadas, a.analise ...vebleniana tanto se pQpulaxizo).1que agora as funQoes latentes san de modo geral, reconhecidas. [Isto levanta 0 interessante -P;~bi.~-~a:d~smUdangas que tem lugar num tipo predominante de co~dU. ta q)ll:\ns.l.2.s~aL!ung2~~.latentes chegam a ser ger~lmente re.con~eCl_das (e enHio ja nao san latentes). Nao teremos oportuilldade de dlscutlr este importante problema no presente livro]. o descobrimento de funcoes latentes nao s6 torna mais preclsos as Gon;eitos das funQoes desempenhadas par certas narmas sociais (como tambem ocorre com os estudos s6bre funQoes manifestas) mas introduz udicioIlllis quase sempre implicitas nas decisoes sociais di responsabi- lidade. / Um eX::'!!J-p.~o._~~.pesquisa que emprega implicitament! 0 conceito de runCao latente esclarecera 0 se11tidoem que 0 "paradoxo" - discrepan- ·cia.entre il JunQao aparente, meramente manifesta, e a verdadeira fun- Gao.• Que impli9.fLt!!:mR~rn.fungoeslatentes.:- tende a ocorrer como resul- iado da inclusao deste conceito. Assim, voltando a famosa analise do I "consumo ostensivo" feito por Veblen, nao e por acaso que este autor foi ~ considerado como um analista social dotado de perspicacia para 0 para- '-. doxo, a ironia e a saUra; pois sao estes os resultados, freqilentes se nao inevitaveis, da aplicagao do conceito de funQao latente (ou sem eqili- valente). o PADRAODOCONSUMOOSTENSIVO.0 prop6sito evidente da compra de bens de consumo e, naturalmente, a satisfagao das necessidades as quais estao expllcitamente destinados esses bens. Assim, os autom6veis estao destinados, evidentemente, a proporcionar certa cIasse de transporte; as Hi.mpadas, a proporcionar luz; os artigos alimenticios, a proporC'l.onar-0 sustento; os pr.0dutos artisticos raros, a proporcionar prazer estetico. Como esses produtos tem esses usos, em geral se. sup6s que tais usos abarcavam todo 0 campo das funQoes socialmente importantes. Veblen sugere que era esta a opiniao comum predominante (e claro que na era pre-vebleniana): "Afirma-se, convencionalmente, que 0 fim da aquisigao e cIa acumulagao e 0 consumo dos bens acumulados... Pelo menos, .acre- dita-se que esta seja a finalidade econ6mica legitima da aquisigRo, unica que a teoria deve levar em canta".88 \ MM•...di? .Veblen em sUbstancia,""comosoci610gos devemos considerar as fEP-.Q.Q£~J.~~~n.tes.naaquisir;ao, acumulagao e consumo, e essas funQoes lat~nt~e_.gfg$Jam __zp.Jlito,na realidad~, <;lasfungOes manifestas. "Mas, somente quando tomado num sentido muito afastado da Sua significagao jngenua Cisto e, da funQao nlanifesta) se pode dizer que esse consumo de bens oferece 0 incentivo do qual deriva invariavblmente a acumulaCao". E entre as fungoes latentes, que ajudam a explicar a persistencia e. a 10- calizacao social do padrao de consumo ostensivo, figura sua simboliza· gaD de "f6rQa pecuniaria, e a aquisigao e conservag3.o, por esse meio, d.e um born nome". 0 exercicio de uma "escolha escrupulosa" na qua.- !idade da "comida, da bebida, da residencla, do servigo, dos ornamentos, das baixelas e dos divertimentos" redunda nao somente ua satisfaQao de consumir artigos "superiores" em vez de "inferiores" mas tambem e so- bretudo, no dizer de Veblen, de um aumenta au reajirmar;iio do status so- cial. ..Q....P.~rad,0"9:yebl~IlianQe que as pessoas compram coisas caras nao tanto porque sao melhores mas porque sao caras. Reside nisto a equa.- g.%£U.!!t!!9JIil(~'alto custo = sinal de alta posigao social") que Veblen"C!eS- taca em sua analise funcional, e E.~o._aequagao manifesta ("a}19.....cll.s!O' 39. Ibid .. 32, 101. :Ii: de ser notar que Veblen costuma entregar-se a ;:agas t.err;:in~lOgias:, Nas passagens cHadas (e em mUltos outros lugares). He emprega incenhvo, desejo Hprop6sito" e .ffun~ao" como tCrmos equivalentes. adana nao e grande, porqu~ 0 contexto costuma eselarecer a acePQao dessas palavras. Mas e claro que os prop6s1tos expresSos de conformar-se com uma 'norma cultural nao sao ldentlcos, de modo a'gum. as !un96es latentes da conformldade. Veblen 0 reconhece de vez em quando. Por exemplo' "Para sermos estritamente exatos, .nao deveriamos incluir sob a eplgrafe ,'.e desperdl~lo ostensivo senae os gaslos reaJizados na base de uma lnvejosa com?~rac;"o pecunh\.ria. Mas para incluir qualquer elemento sob esta epfgrafe, nao e necessano qU~ seja reconhecido como desperdicio. nesse sentido. pela pessoa que realiza a despesa. (Ibid., 99; a grlfo e nosso). Ct. A. K. Davis. "Veblen on the decllne of the Protestant Ethic", op. eit. Sociologia - Teoria e Estrutura lll!l:.Jncr:emento(lualitativamente diferente no estado previo dos conheci- mentos. A distinr;lioimpede a sUbsti~y:'!r;~o dC!anci.l~~.e...socio16gica por juizos m;r~is ingenuos. Posto que as avaliag6es morais numa sociedade ten- dem a ser feitas, em grande parte, pelas conseqiiencias manifest as de uma pratica ou de um c6digo, devemos estar preparados para constatar oue a analise por funQ6es. latentes certas vezes. val contra as avaHa- Goes morais predominantes. Pois as funQ6es. laterites nao operam do. ;nesmamatleira que as consequencias manifestas que de ordinario sac ba. se de tais juizos. Assim, em grandes setores do. populaQao norte-ameri- cana, a maquina polftica ou a "camarilha politica". sac consideradas ine- qulvocamente "mas" e "indesejaveis". ,As bases dllsses. juizos morais variam bastante mas, em substancia, consistem em analisar que as ma,- Cjuinas polfticas violam os c6digos morais; 0 favoritismo politico viola o c6digo de selCQaodo pessoal, que deve ser no. base de consideraQoes impessoais e nao de lealdade a um partido ou de contribuiQoes de fun- dos para 0 mesmo; 0 caciquismo viola 0 principio de que os votos devem basear-se no. avaliaQao individual dos meritos dos candidatos e das ques- toes politicas, e nao em manter lealdade a um lider feudal; 0 subarno e 0 trafico com cargos pl1blicos 6bviamente infringem as regras do. correQao; a " protecao" dos delitos viola de maneira manifesta a lei e os costumes, e assim sucessivamente· Em vista das ml1ltiplas ocasi6es em que as maquinas politicas, em grau variavel, infringem os bons costumes e as -"rezesa pr6pria lei, e oportuno :weriguar como se arr;1njam para continuar funcionando. As "explicacoes" familiares do. continuacao da maquina politica nao sac aqui tratadas. Pode ser, e claro, que, se "os cidadaos decentes" estivessem a altura das suas obrigacoes politicas, se 0 corpo eleitoral fasse ativo e ilus- trado, se 0 numero de funcionarios eletivos f6sse bastante menor que as dezenas e ate as centenas, cujas nomeagoes espera-se que sejam ta- citamente endossadas pelas eleiQ6es municipais, distritais, estaduais ou nacionais; se 0 corpo eleitoral fosse conduzido pelas "classes ricas e edu- ro.das sem cuja participo.gao - como disse Bryce, nem sempre de orienta- t;;1io democratica - 0 governo melhor formado tem que degenerar rapida'" mente" j Se se introduzissem eSSas e outras muitas alteraQ6es no. estrutura pOlitica, talvez pUdessem realmente ser evitados os "males" do. maquina po- litica. 90 Mas e necessario observar que nao se fazem com frequencia tais alteraQoes, que as maquinas politicas tem, como a fenix, a quaHdade de renascerem, vigorosas e indenes, das suas pr6prias cinzas e que, em surna, esta estrutura exibe notavel vitalidade em muitas zonas da vida politica norte-o.mericana. .. , Resulta, portanto, do ponto de VIsta funClOnal, que nos esperam03 habitualmente (mas nao invarHl.Velmente) que normas e estruturassa- ciais persistentes realizem funQoes positivas que na,quele momento ni'io slio realizadas em forma adequada por outras normas e estruturas exis· tentes •. acode, entao, ao pensamento, que talvez essa organizaQao publi. camente difamada satisfaz, nas presentes circunstdncias, fungoes laten- ·'tesfun(i;mentais. 91 Um breve exame de analises correntes desse tipo poder;£"servlI" tamMm para aclarar novos problemas de analise funcional. ALGUMASFUNS911l?...PA_¥j(;l\J:!I>I.A .. :pOLI1'ICA.Sem cogitarmos de entrar nas ·ct:ifer-;;·~~~s-d~·'detalhe que distinguem as diversas lUaquinas politicas - um Tweed, UlU vare, um Crump, um Flynn ou um Hague nao sao, em absoluto, tipos identicos de chefes politicos, - podemos examinar rapi- damente as fungoes mais ou menos comuns a maquina politico., como ti- po generico de organizaQao social. Nao pretendemos pormenorizar tad!;." as diversas fungoes da maquma politica, nem supor que t6das essas tun- g6es sac realizadas em forma analoga por t6da e cada uma das ma- ().uinas. .A...iun9iio_es.t(UJ.unJ,1...chaY~,docacique ou chefe politico e organizar, centralizar e manter em boas condiQoes de funcionamento "os fragmen- to·s'-d.i~~~minadosde poder" que andam agora dispersos em nosso. orga- nizagao politica. Mediante esta orgo.nizaQaocentralizada de poder poli- tico, 0 chefe e a sua maquina podem satisfazer asnecessidades de diver- sos subgrupos da comunido.de maior, que nao se sentem' satisfeitos com estruturas sociais legalmente concebidas e culturalmente aprovo.das. Portan~.Q.I._.~~_...£Q~preender0 papel. do caciquismo. ("bossism") e da maquina"".politic8, teremos de observar dois tipos de vo.riaveis sociol6- gicas: b) \0 contexto estrutural, que torna dificil, se nao impossivel, que estruturllS "com-sanQ'ti:o-' moral realizem funQ6es sociais essenciais, deixan- do assim aberta a porta as maquinas politicas (ou seus equivalentes es· truturais) para que executem aquelas funQoes; (2) os sUbgrupos, cujas necessidades distintivas ficam insatisfeitas, exceto no que diz respeito as funQoes latentes que a maquina realmente efetua. 9:l 91. Creio que t! supt!rfluo acrescentar que ests hlp6tese nlio se destina a "spolar a lnst!- tul~lio da maquina politlca".' A questao de se sa,ber se as dlstun~6es da maqulna superam as suaS fun~5es, a quest.ao..dese·dlspor ou nao de outras estruturas que passam reaUznr su',;s·--ii:in15es,·seni· impl1car necessariamente em disfun~5es soclais, flcam p,ua ser examinadas na ocasH,o adequada. Agora apenas nos interessa documentar a atirma~ao de que os julzOs morals baseados ~xclusivamente na aprecia~i\o das ..~un9i'iesmanltestas de uma estrutura social, s~o "IrreaIS' no sentido estrlto, Isto e. naO tomam em consl- dera~ao outras conS~qtienClasefetlvas da estrutura. conseqtit!ncia.s essas susuetlvels de proporcionar urn suporte social bll.slco para a mesma estrutura. Como indlcaremos adia.nte, as ureform~ socials" eu a j'engt'nharia social" que 19noram a.s tunc5es latentes o fazem ao risco de sofrer profundas decep~5es e eteitos de bumerangu, (arm" qu~, como: se sabe, quando nao alcan~a 0 alvo, volta para tras, atlnglndo, as vezes, a pr6prio, arremessador). [A explicaCaO entre parenteses e do tradutorJ. n, Mals uma vez, como em trechos anterlores, delxaremos de examinar as possiveis di" fun~5es da maquina politica. 90·. Estas "explica~5es" pretendem ser ·causals". Pretendem assinalar as circunstt>.nclas socials que dao as maqulnas politicas. Na medlda em que sao conflrmadas pel\\ experi@:ncia, eSSBS explicac;5es aumentam, naturalmente, nosso conhecimento do pr\,· blema: par que as maquinas polltlcas tuncionam em certas areas e nao em outras? Como conseguem perdurar? Mas estas explica~oes causals nao sao suficientes. As con- seqUenclas funclonals da dita maquina ultrapassam, em grande parte, como veremos, a lnterpret.Qcao causal. _QQJltex.tQ.)i;strJit'ilral: A arm~ao constitucionar da organizagao poli- tica norte-americana evita de modo especifico a possibilidade legal de um poder altamente centralizado e, como tern side observado, assim "desa- lenta a formaQao de uma lideranQa eficiente e responsavely' Os autores da ConstituiQao, como observou Woodrow Wilson, estabeleceram 0 siste- ma de contr6le e contrapeso 'para manter 0 governo numa esptkie de equilibrio mecanico, por meio de uma pugna amistosa constante entre suas diferentes partes organicas.' Desconfiavam do poder por conside- l'a-lo perigoso para a liberdade: em conseqUencia, espalharam-no para rarefaze-lo e levantaram valetas para impedir sua concentraQao". Esta dispersao do poder se encontra nao samente no plano nacional, mas tam- bem nas areas locais. "Em conseqUencia" - continua Sait a observar - "quando 0 povo ou grupos particulares dentro do povo exigiram aQao po- sitiva, ninguem tinha autoridade bastante para agir. A maquina forne- ceu urn antidoto". 93 A disp~rsao constitucional do poder nao somente dificulta a decisao e a aQao eficazes mas tambem, quando a aQao chega a realizar-se, e def[- nida e env6lta dentro de consideraQ6es legalistas. Em conseqUencia, de- senvolveu-se "urn sistema muito mais humano de governo de partido, cujo principal 0hjetivo nlio tardou a ser 0 de embair 0 governo da lei... A ilegalidade da democracia extra-oficial foi simplesmente 0 contrapeso do legalismo da democracia oficia:. Tendo-se permitido ao advogado subor· dinar a democracia a Lei, 0 chefe politico era chamado para desvenci- lhar a vitima, 0 que fazia dentro de certas regras costumeiras e median- te retribuiQlio, pecuniaria ou de outro genero".94 Oficialmente, 0 poder politico esta disperso. Varios expedientes mul- to conhecidos foram imaginados para este objetivo manifesto. Estabe- leceu-se nao samente a habitual separ~ao de poderes entre os diferen- tas ramos do governo, senao que, em certa medida, foi limitado 0 perio- do de ~xercicio dos cargos e aprovada a rotaQao no poder. A esfera de poder \inerente a cada cargo foi estritamente delimitada. Mas, diz Sait em termos.rigorosamente funclonais: "A lideranQa e necessaria e, ja que nao e facU de ser exercida dentro da estrutura constitucional, 0 chefe po- litico proporciona-a de fora, numa forma imperfeita e irresponsavel".95 Em termos mais genericos, as deticiencias tuncionais da estrutura _9.!!,~ial dao origem a outra estrutura (nao olicial) para satisjazer, de mo- .dp._um,tan.to mais eticiente, certas necessidades'existentes. Sejam quais forem suas origens hist6ricas especificas, a maquina politicapersis't17 como aparelho apto a satisfazer necessidades de grupos diversos da po- 93. Edward M. Sait, "Machine, Political", Encyclopedia of the Social Sciences, IX, 658b. [0 grifo e nosso]; ct. A. F. Bentley, The Process of Government (Chicago, 1908), Capltu!o 2. 94. Herbert Croly, Progressive Democracy, <Nova Iorque, 1914), pag. 254, citagao de Sait ~ op. cit., 658b. 95. Salt, op. elt., 659a, [0 grifo e nossol. pulagao q1J0,de outra forma,.~l:.aolograriam satisfaQao. Mas, ao exam i- nar alguns desses subgrupos, bem como as suas necessidades caracte- risticas, seremos levados ao mesmo tempo a um campo de fungoes laten- tes da maqtiina politica. Fungoes da Maquina Politica para Diversos Subgrupos. Sahe-se que uma fonte de WrQa da maquina poUtica procede das suas raizes na co- munidade local e nos haiITos. A maquina politica nao considera 0 cor- po eleitoral como sendo uma massa amorfa e indiferenciada de votantes. Com aguda intuiQao socio16gica, amaquina reconhece que cada eleitor e um indivlduo que vive num determinado bairro, com problemas ene- <.essidadespessoais especfficos. \AS questoes publicas sao abstratas e lon- e:inquas; o~ problemas particUlaTes·sao extremamente concretos e ime- cHatos. A maquina nao funciona apelando genericamente aos grandes interesses puhlicos, mas mediante relaQoes dir€tas, semifcudai;;, entre o,s representantes locais da maquina e os eleitores do seu bairro. As elel- goes seganham no bairro. A maquina estabelece seus vinculos com homens e mulheres comuns, mediante complicadas rectes de relaQoes pessoais. .4 p()litica se trans- forma em laQos pessoais. 0 cabo eleitoral de bairro "deve ser amigo de'todos, simulando simpatia (se nao a sente) pelos' infelizes e utilizan- do para suas boas obras os recurs os que 0 chefe poe a sua disposi- <;ao".96 0 cabo eleitoral de bairro e sempre "0 amigo que se procura nas horas de aperto". Em nossa sociedade predominantemente impes· soal, a maquina politica, por intermedio dos seus agentes locais, desem- penha a importante jungao social de humanizar e personalizar t6da elas· se de auxilio a quem necessita dele. Distribuigao de generos alimen- ticios, provimento de empregos, conselhos legais e extralegais, SOlUQa0 de pequenos conflitos com a lei, apoio para conseguir uma bOlsa de estu- dos, "politica" para uma crianQa pobre e inteligente num colegio local, atenQao aos aflitos - t6da a gama de crises em que a pessoa precisa de um amigo c, sobretudo, de um amigo que compreenda bem as coisas e Que possa fljudar - tudo isto pode ser conseguido com o.,cabo eleitoral sempre pref\tativo. ~ (:!i>ara dar 0 devido valor a esta funQao.da maquina poUtica, e preciso observar nao samente a ajuda efetivamente prestada, mas tambem a ma- neira como e prestadaJ/ :E: preciso ver tambem que -existemoutros organis- mos qUe distribuem auxHios. As agencias de bem-estar social, as casas de beneficencia, os consult6i'ios de ajuda jundica, a assistencia medica em hospitais gratuitos, as repartiQoes publicas de assistencia, as autoridades de imigragao; estas e muitas outras organizagoes existem para dar os mais diversos tipos de assistencia. Mas, em contraste com as tecnicas profis- sionais dos funcionarios da assistencia social, 'que podem representar tipicamente na mente dos que a recebem uma fria, burocratica e limita- d2, ajuda, conseguida depois de detalhada investigaQB.odo direito legal que a ela tern 0 "cliente", acham-se as tecnicas nao profissionais do che, fe politico de arrabalde, que nao faz perguntas, nao exige 0 cumprimen- to de regras legais para prestar atencao e que nao se "intromete" nas vi- das privadas. 97 Para muitos individuos, a perda do amor-pr6prio e urn preco por de- mais elevM_0que se tern que pagar para receber assistencia legalizada. Em contraste com 0 abismo que 0 separa dos funcionllrios da casa de be- neficencia, que procedem amiude de uma classe social, urn ambiente educativo e urn grupo etnico diff:rentes, 0 cabo eleitoral de bairro e "um £ujeito igu3l a n6s", que comprE'£nde 0 que 'esta acontecencto. A dama da alta sociedade, condescendente e generosa, dificilmente podenl com- petir com (1 amigo compreensivo, nurn caso de aperto. Nesta luta entr~ estruturas que competem para desempenhar uma junr;;ao que nominal· mente e a ,mesma, ou seja, dar ajuda e apoio aos que precisam, e not6- 1'io que 0 politico da maquina €sta melho1' entrosado com as g1'upos a que serve, do que 0 assistente social impessoal, profissionalizado, social- mente longinquo e legalmente limitado. E como 0 "politico" pode as vezes influir e mexer com as organizacoes oficiais para a outorga de as- sistencia, nnquanto. 0 funcionario do bem-estar social nao tern pratica- mente influencia sabre a maquina politica, isto s6 contribui para aumentar a eficiench do primeiro. Foi Martin Lomasny, chefe politico de Bos- ton, quem descreveu esta fungao essencial em termos familiares porem 1ncisivos, quando declarou ao jomalista Lincoln Steffens, famoso por SIlB.Sreport.agens sObre "corrupcao politica": "Creio que deveria haver e-m cada bairro uma pessoa a quem qualquer sujeito pudesse Se dirigir para pedir ajuda - nao importando a pessoa ou 0 assunto. Ajuda, voce entende? Nai/;a de VOssas leis nem de vassa justfr;;a, apenas ajuda:'.98 As "classes necessitactas" constituem, portanto, urn subgrupo para 0 qual a maquina polftica satisfaz necessidades que a estrutura social legal nao pOderia satisfazer em forma adequada e da mesma maneira. Para urn segundo subgrupo (principalmente os "grandes" neg6cios, mas tambem os "pequenos"), 0 chefe politico desempenha a funQao de pro- porcionar os priviIegios politicos que implicam beneffcios econamicos 1mediatos. As corporagoes de neg6cio, entre as quais as empresas de ser- ,i<;os publicos (estradas de ferro, transportes e compa~~ias locais de lU~ eletrica empresas de comunicagoes) sac as mais notonas a este respel- to, bu;cando isencoes politicas especiais que Ihes permitam estabilizu:- sua situagao e aproximar-se do objetivo de elevar seus lucros ao maXl- mo. Interessante e que as empresas querem com frequencia evitar urn caos de competigao incontrolacta. Desejam a maior seguran<;a, que lhes pode ser proporcionada por urn "ditador" econamico que domine, regula- mente e organize a competiQao, sempre que esse ditador nao seja urn funcionarlo publico, cujas decisoes estejam sujeitas ao exame e ao con· trale publico. (Este ultimo tipo represent3ria 0 "controle do governo", sendo, portanto, considerado tabu). 0 chefe politico preenche esses reo qUisitos de maneira admiravel. . _ / Examinada por urn momento, a parte de qualquer consldera<;ao mo- ral a aparelhagem polftica manejada pelo cacique, esta eficazmente des· tin~da a desempenhar essas fungoes com urn minimo de ineficiencia. Tendo nas suas maos competentes os fios das diversas sec<;oes,ministe- rios e agencias governamentais, a chefe politico racionaliza as relacoes entre os neg6cios publicos e 0S particUlares. Serve de embaixador da co- munidade dos neg6cios no territ6rio por demais estranho (e as vezen ~limigo) do governo. E, em termos estritos de neg6c~os, ~sta ~em pago pelos ,servic;'oseconamicos que presta aos seus respeltavels cllente~, os negaciantes. Num artigo intitulado "An Apology to Graft" (ApologIa do subamo), Lincoln Steffens sugeriu que "0 cUlpado erR 0 nosso sistema econamico, que oferecia riqueza, poder e aplausos como premio aos in- I" dividuos hastante atrevidos e habeis para comprar, mediante sUblima, (~ minas, campos petroliferos e privilegios e que 'se safram bern' sem serem (~ ,incomodados". 99 E numa confer1\ncia perante uma centena de homens \~ ; de neg6cio de Los Angeles, descreveu um fato que todos conheciam .'>:.. " muito bem: 0 chefe politico e sua maqUina eram parte integrante da or- ~. ", ganizagao da econemia. "Voces nao podem construir nem explorar u~ ',' estrada de ferro, urns empress de bondes urbanos ou urna companhla ~J \ de gas, de agua ou de energia eietrica, abrir au explorar uma mina, pos- i\r"" 'suiI' bosques e explorar madeira em grande escala au manter qualquer aU- ll. tro neg6cio privilegiado, sem subornar, au contribuir para subornar, 0 go- () \ verno. Voces me dizem em particular que t1\m de faze-Io, e e? aqui ...... lhes digo semipilblicamente que tern mesme de faze-lo. E e aSSlm em .•.....• tedo 0 pais. Isto significa que temos uma arganizaQ9.o,da sociedade em (; que, por alquma razao, voces e sua classe, as lideres da sociectade mais \) habeis, meis inteligentes, mais imaginosos, mais ousados e engenhesos, /-:; estao e tern que estar contra a sociedade, suas leis e todes as suas extres· (j) cencias". 100 97. Caso bem semelhante de contraste com a politlca oflcla! de asslst~ncia social, eneon- tra-se na dlstribuleii.o de aJuda aos desempregados, felta de maos abertas e sem c6r politlca, por Harry Hopkins, assistente de Franklin Dela.no Roosevelt no governo do Estado de Nova Iorque. Conforme diz Sherwood: "Hopkins foi asperamente critleado pelas ag~ncias consagradas de benefie~neia. por causa. dessas atlvidades 'irregulares; diziam que nao era 'conduta profisslonal' dlstribulr boletins de trabalho sem uma investl- gaeii.o complete. sObre cada requerente. sObre seus recursos flnancelros e de sua farollia e, provilvelmente, sObre a Sua religiao. 'Harry mandou as ag~nclas ao diabo', dissp. Goldberg[0 Dr. Jacob A. Goldberg era um eolaborador de Hopkins)." Robert E, Sherwood, Roosevelt and Hopkins, An Intimate History (Nova Iorque: Harper. 1948). 30, 9B. The Autobiography of Lincoln Steffens (Chautauqua, Nova Iorque: Chautauqua Press. 1931), 6lB. Insplrando-se 'em grande parte em Stellens, como ~le mesmO diz, F. Stuart Chapin expoe com grande elareza as funeoes da maquinB politiea. Veja-se sua obrq Contemporary American Institutions (Nova Iorque; Harper, 1934), 40-54. 99, Autobiography of Lincoln Steffens, 570. 100. Ibid., 57~-3[0 grlfo e nossol. Isto sjuda a expliear, come disse Steffens, eoneordando com 0 membro da Comissao de Policia Theodore Roosevelt, "a proemineneia e respei- Como a procura de servigos especialmente pr.ivilegiadosnasce dentro da estruturtl do. sociedade, 0 chefe politico preenche diversas fungoes pa- ra l!ste segundo subgrupo de neg6cios que busca privilegios. Essas "ne- cessidades" dos neg6cios, tal p.omoestao agora constitufdos, nao sao ade- quadamente cobertas por estruturas sociais tradicionais e culturalniente aprovadas; em consequl!ncia, a organizagao extralegal mais ou menos eficiente da maquina polftica surge para proporcionar esses servigos. f':dotar uma atitude exclustvamente moral para com a "corrupta maquina polftica", e perder de vista as pr6prias circunstancias estruturais que originam 0 "mal" que se atac<l.tao rigorosamente. Adotar um ponto de vista funclonal e ~roporcionar. nao uma apologia da maquina politica, mas uma base malS s6lida para modificar ou eliminar a maquina, desde que se facam arranjos estruturais especificos, seja para eliminar as pro- curas efetivas da comunidad," dos neg6cios, ou seja, se tal fOr 0 objeti- UO, para satisfazer essas demandas por outros meios. Um terceiro grupo de fungoes espe'Cfficasque a maquina polftica rea- liza para um subgrupo especial, e 0 de proporcionar novos canais de mO' bilidade social as pessoas que, de outra maneira, estariam exclufdas dos caminhos mais tradicionais para a "ascensao" pessoal. Tanto as fontes dessa "necessidade" especial (de mobilidade social), como a forma em que a maquina politica vem contribuir para a satisfagao da referida ne- cessidade podem ser compreendidas, examinando-se a estrutura da cuI- tura e do. ~ociedade em gua!.·· \Como se sabe, a cultura norte-americana atribui enarme importancia ao dinheiro e ao poder como meta legitima de "exito" para todos os indivfduos do. sociedad~'), Embora nao seja a unica em 1:1.0SS0 inventario de metas culturais, continua figurando entre :;8 mais fortemente carregadas de afeto e valor positivos. Todavia, certos grupos e ct'rtas zonas ecol6gicas sac notaveis pela ausl!ncia relativa de oportunidades de se alcangur esses tipos (monetario e de poder) de l!xi- to, Tais subgrupos constituem, em suma, subpopulagoes em que "a im- portancia rultural atribufda no exito pecuniario tem sido assimilada, mas que oferecem pouco acesso a meios tradicionais e legitim os para alcanga- rem esse exito". As oportunidades tradicionals de trabaiho para as pes- soas de (tais areas) se limitum quase cornpletarnente ao trabalho manual. Dada nossa estigmatizaCao cultural do trabalho manual, 101 e 0 corres- pondente prestfgio do trabaiho "de coiarinho brance e gravo.ta", e €lvi- dente que 0 resuitado e a tendfmcia a conseguir os objetivos culturalmen- te aprovados, par todos as meios possiveis. Por outro lado, "pede-se a essas pessoas que orientem sua conduta para a perspectiva de acumwar riqueza (e poder) e, por J)utro lado, nega-se-Ihes, em grande parte, as oportunidades efetivas para faze-lo dentro dos (Eadr_o.e.sinstitucionais". Ne&te contexto de estrutura social, a maquina politica preenche a i'ungao basica de proporcionar caminhos de mobilidade social aqueles que, de outro modo, ficariam em desvantagem. Dentro desse contexto, a, pr6pria maquina e a camarilha politicas corruptas "representam 0 triun- fo da inteligl!ncia amoral sabre ° 'fracasso' moralmente prescrito quan- do os canais de mobilidade vertical se fecham ou se estreitam numa so- ciectade que outorga alto valor d ajluencia eoon6mica, ao [poder] e dele- 'l>a<;aosocial para todos os seus indtviduos".102 Como notou urn soci610- go, baseado em varios anos de atenta observagao numa zona de bairros pobres: o socl610go que deixa de lado camorras, camarilhas ("rackets") e organlzae6es pollticas, por se desvlarem dos padrOes desejaveis, asslm esquece alguns dos principals elementos no. vida dos bairros afastados, favelas ou cortic:;os ("slums"),.. Nao descobre as funpoeB que desempenham para os individuos [dos agrupamentos do bairro]. Os irlandeses e as irot- grantes de outro.s no.clonalldades que se the seguiram mais tarde, acharam as malores dlfl· culdades para encontrar seu lugar em nossa estrutura social, econOmica e urbana. Acredita alguem que os Imlgrantes e seus mhos terlam atlngldo seu grau atual de mobilldade social, sem consegulr prevlamente 0 contrOle do. organizaeao politico. de algumas das nossas maiores cidades? 0 masmo po de ser dlto das organlzae6es de "racket" ou Intimaeao. A politica e a intimidaeao proporcionaram um meio de mobilidade Boclal a IndividuOB que, devido a Bua origem etnica e a sua baixa posiCao social, nao podiam aVQhc:;at pelos canais "respeitaveis".lU3 Isto constitui, portanto, urn terceiro tipo de funQao, desempenhada para um <;ubgrupo diferenciadc. Esta mngao, diga-se de passagem, C realizada pela mera existencia do. maquina politico., porque e na pr6pria. rer de sl mesmo uma imagem que the agrade: faz um trabalho de "paria" na pr6pria sociedade que nao se cansa de the garantlr que "todo indivlduo que tenha verdadeiro merito pade progredir". Acrescente-se a. ista sua· confissao ocasional de que "nao teve as mesmas possibilidades que as Qutros} digam 0 que qUiserem~' e se percebera. a enor- me pressao psico16gica que pesa. sf>bre ~le para. OIigualar a marcacaotl, encontrando algum meio, legal ou ilegal, de melhorar. Tudo lsto proporciona 0 pano de fundo estrutural e derlvadamente psicol6glco para a "necessldade socialmenta Induzida" em certos grupos, para se encontrar urn ce.m!nho acesslvel de mobllldade social. 102, Merton, "Social structure and anomie", Capitulo IV d~ste volume. 103. WilHam F. Whyte, "Social organization in the slums", (Organiza~ao social nas favelas ou cortlgos) American Sociological Review, fevereiro de 1943, 8, 34·39 [0 grifo e nossoJ. Assim, pais} a maquina poL:f.tica e a camorra. (iWracket") de intimidacao representam urn caso especial do tipo de ajustes organlzatlvos as condlc6es descrltas no Capitulo IV. Note·se que representam um ajuste organizatlvo; estruturas detlnldas nascem e funcionam para reduzir urn tanto as tensoes agudas e os problemas dos Indlviduos apanhados no conflito descrlto entre a "pressao cultural do sucesso para todos" e 0 "fato sociaJmente estruturado de oportunldades desiguais para 0 sucesso". Como 0 indica 0 Capitulo IV, sao possivels outros tlpos de "ajustamento" individual: delin- qUimcla do tipo "lObo solitario", estados psicopato16g1cos, rebeld!a, retralmento provocado pelo abandono de metas cultural mente aprovada.s etc. Da. mesma maneira~ outro!; tipos de ajustamentos organizativos surgem de Ve2 em quando; a "racket" au a maquina tabllidade dos homens e das mulheres que intercedem pelos escroques e pelos corrupto:l", quando estes sao ,detidos durante alguma campanha peri6dica para "llmpar a m<l.- quina poUtica". ct. Steffens, 371 e passim. V:Ja-se 0 estudo do ":"ational Opinion Research Center" sobre a avall~ao das ocupa. ~oes, que comprova flrmemente a impressao geral de que as ocupa~6es manuals estao colocadas multo baixo na escala social de valores, mesmo entre aqueles que sc dedicam a um trabalho manual. Observe'se bem as implica~6es deste ultimo caso. Com efelto, a estrutura cultural e social imp6e os valores do sucesso pecuniarlo e do poder mesmo Rqueles que se acham presos as estigmatizadasoCllpaQ6es manuais. Examine-se, sabre este pano de fundo, a poderosa tnotiva<;ao para se aleanea,. esse tipo de sucesso por qualquer meio. Urn lixeiro, que concorda Corn outros norte-americanos na opinHio de que a profissao de lixeiro "e a mais baixa das ocupacOes baixas", dificilmentepode i maquina que estes individuos e subgrupos encontram mais ou menos sa- tisfeitas suas necessidades mduzidas pela cultura. Isto se refere aos ser- vigos que a propria aparelhagem politica distribw ao seu pessoa!. Ma..'i visto dentro do contexto social mais amplo que temos examinado, ja nao parece simples mente um meio de engrandecimento pr6prio para as indi- viduos ansiosos de lucro e de poder, mas tambem como urna providen- cia organizada para subgru7JOS que, de outra maneira, seriam excluidos ou prejudieados na corrida para 0 "exito". Assim como a ma-quina politica presta servigo aos neg6cios "legiti- mos", tambem funciona para prestar servigos da mesma especie a ativi- dades "ilegitimas", tais como, centros de vicio, delitos e grupos de chan- tagem au intimidagao ("gangsters" e "racketeers"). Uma vez mais, 0 pa- pel socio16gicofundamental da maquina a este respeito, s6 pode ser apr~- ciado em sua forma mais completa quando se abandonam provisoriamen- 1'.eas atitudes de indignagao moral, a fim de examinar com t6da inocen- cia moral 0 frmcionamento real da organizagao. Sob esta luz, torna-se desde logo evidente que a .<;ubgrupodos delinquentes, dos malfeitores que operam na base da chantagem ou intimidag1to ("racket") e dos jogadores profissionais, tem analogias fundamentais deorganizagao, exigencias e funcionamento com 0 subgrupo dos industriais, dos homens de neg6- cio e dos especuladores. Se existem Reis da Madeira ou Reis do Pe- tr61eo, tamhem existem Reis do Vicio e Reis da eamorra. Se os neg6cios legitimos em expansao organizam sindicatos administrativos e financei- ros para "racionalizar" ou "unificar" zonas diversas de produgao e de em- presas, tambem 0 racket e 0 c1elitopr6speros organizam sindieatoB do Cri- me, para p6r ordem nas zor.as de outra maneira ea6tieas da produgao ' de bens e Rervigosilfeitos. Se 0 grande comereio legitimo considera rui- nosa e inefieiente a proliferagao de pequenas empresas que sUbstituem, POl' exemplo, as cadeias de supermercados gigantes por eentenas de pe- quenas mercearias de esqU1na,tambem os neg6cios ilegitimos adotam a mesma atitude e organizam sindicatos do crime e do vieio. Finalmente, e este e urn dos aspectos mais importantes, existe a ana- Jogia fundamental, se nao a quase identidade, entre Q papel econ6mico dos neg6cios "legitimos" e 0 dos neg6cios "ilegitimos". Uns e outros se dedicam em certo grau a fornecer bens e servicos para os quais existe etemanda econ6mica. Moral a parte, rms e outros sao neg6cios, empre- sas industriais e profission'.lis, que distribuem bens e servigos desejados pOl' alguem, para os quais ha urn mereado em que os bens e servigos se transformam em mercadoria. E, numa sociedade predominantemen- te de mercado, outra coisa nao se poderia esperar senao 0 apareeimento de empresas adequadas onde quer que haja uma demanda de mercado para certos bens e servigos. Como S8 sate, ° vicio, 0 crime e os rackets sao "grandes neg6cios". Basta pensar que, em 1950, 0 r..umero de prostitutas profissionais nos Es- tados Unidos foi calculado em 500.000; compare-se esse numero com os 200.000 medicos e as 350.000 enfermeiras profissionais registrados na mes- ma epoca. E dificil calcular quem tenha a maior clientela: os homens e as mulheres profissionais da medicina ou os hornens e as mulheres que fazem profissao do vicio. E dificil, naturalmente, calcular 0 ativo eNmomico, a renda, os lucros e dividendos do j6go clandestino no mes- mo pais e compara-lo, por exemplo, com 0 ativo, a renda, os lucros e as dividendos tia industria de calgados, mas e bem possivel que as duas iudustrias estejam mais ou menos a par. Nao existem cifras exatas sO- bre os gastos anuais em narc6ticos proibitivos e e provavel que sejam menas que os gastos em doces, mas tambem e provavel que sejam maiores que os gastos em livros. Basta refletir urn mome'nto para reconhecer que, em termos estrita. mente econ6tnioos, nao ha llenhuma diferenga importante entre 0 forne- cimento de bens e servigos llcitos e ilicitos. 0 traiico de bebidas ale06li- cas documenta isto de forma udequada. Seria extravagante argumentai' que, antes de 1920 (quando entrou em vigor a emenda constitucional N." 18, ou seja, a "lei seca") 0 fornecimento de bebidas alc06licas constituia urn servigo economico, que cie 1920 a 1933 ja nao constituia urn servigo eeonomico prestado a urn mercado, e que de 1934ate 0 presente tomou novamente urn earater util. Ou seria econ6micamente (nao moralmente) absurdo dizer que a venda de alcool de contrabando no Estado seco de Kan- sas n5.o corresponde a satisfagao de urna procura no mercado, da mesma forma que a venda de aleoo1lega1mente fabricado no vizinho Estado "timi- do" de Missouri. Exemplos desta classe podem multiplicar·se ate ao in- finito. Sera possivel sustentar que nos paises europeus, onde a prostitui- !<aoesta registrada e legalizada, a prostituta presta urn servigo economi. co, enquanto que neste pais, onde nao esta legalmente sancionada, a pros. tituta nao presta tal servic;u? Ou que 0 abortista profissional esta no mercado eeon6mico quando tern situa!<aolegal reconhecida, e que esta fo- m do merCladoecon6mico quando 0 aborto e um tabu legal? Ou que 0 jogO satisfa,z a uma demanda especifica de passatempo em Nevada, on- de eonstitui 0 maior neg6cio nas maiores cidades do Estado, mas que dlfere esseneialmente, sob t'ste aspecto, do cinema no Estado vizinho da Calif6rnia? 10·\ pollt1cas nao sao os linieos meios organizados disponlvels para enfrentar Este problem. induzido pela sociedade. A participa!;ao em organizagoes revolucionarias, por'exen1plo, pade ser considerada, dentro deste contexte, como um modo alterna.tivo de ajustamento organizativo. Aqui damos apenas uma informa~a.o te6rica disso tUdo, ja que, de Qutro modo, paderlamas perder de vista as caneeitos funcionais basieos de sUbstitutos fun- clonais e de equivalentes funcionais, que deverao ser dlscutidos por extenso numa pro· xima pUblica~ao. 104. Talvez a exposiQao mais perspicaz desse ponto de vista tenha side a que fizera", HaWkins e Waller: uA prostituta, 0 fufUta, 0 vendedor de narc6ticos, 0 explorad01'-, de uma batota, 0 vendedor de fotografias obscenas, 0 contrabandista, 0 abortista, sao todos eles elementos produtlvos, pois todos eJes produzern servi~os ou bens que [1 gente de~eJa e esta dlsposta a pagar. Acontece que a socledade proibe esses bens e servi~os. mas certa gente continua a produzi·los e Dutra gente continua a. consumi-los; um decreto ou urn ato leglslativo nao bastarn para que ales deixern de fazer parte do sistema econOmico". "Critical notes on the cost of crime', Journal of Criminal Law .and Criminology, 1936, 26, 679-94, )lag. 684. d.a maquina politica). Quando a "reforma politicaH se limita a "elimi- naeao dos velhacos", pouco mals faz que entregar·se a magia sociol6gi- ca. A reforma pode, durante algum tempo, colocar algumas figuras no· vas na ribalta politica; pode servir a fun<;ao social fortuita de assegurar uma vez mais ao corpo eleitoral que as virtudes morais continuam inta- tas e que finalmente triunfarao; pode efetuar, realmente, uma mudan<;a. ao pessoal da maquina polftica; e pode mesmo, durante algum tempo, retrear as atividades da maquina ate 0 ponto de ficarem insatisfeitas as muitas necessidades que ela anteriormente perfazia. Mas nao se pode evitar que, a menos que a reforma implique tambem em dar "nova for- ma" a estrutura social e politica, de tal sorte que as ne'Jessidades existen· res sejam satisfeitas por outras estruturas, ou a menos que implique nu· ma mudan<;a que elimine por completo as necessidades, a maquina poli- lica voltaraao seu lugar integrante do sistema social das coisas. Pro- curar a mudanc;a social sem 0 devido reconhecimento clas junc;oes man/.· jestas e latentes desempenhadas pela organizac;ii.o social que esta so- frendo a mudanc;a e contentar-se com 0 ritual social em vez de lanc;ur mao da engenharia social. /Os conceitos de fun<;5esmanifestas e laten- tes (ou seus equivalentes) sao elementos indispensaveis no repert6rio tecnico do engenheiro social. Neste sentido decisivo, tais conceitos nao sao "meramente" te6ricos (no sentido abusivo da palavra) mas eminen- temente praticos. Na execu<;fiodeliberada das altera<;5es sociais, so- mente podem ser ignorados ao pre<;o de aumentar consideravelmente 0 risco de fracassoI Uma segunda implicagao desta analise da maquina politica tambem abrange zonas mais amplas que a que vimos examinando. Tern sido assi- nalado as vezes 0 paradoxo de que, entre os que ap6iam a maquina polio tica, figuram tantos elementos "respeitavcis" da classe empresarial, que sao, e claro, contrarios ao delinqiiente ou ao racketeer, elementos "nao respeitaveis" do baixo mundo. IA prime1.ravista, tal fato e apontado co· mo caso muito estranho de acasalamento. AS vezes, um meritfssimo juiz tern de sentenciar 0 mesmo racketeer ao lado do qual est8ve sen,ta.- do na noite anterior, numa ceia sem cerimonia, com figur5es politicos. Urn promotor estadual de justica cruza, na rua, com urn reu confesso mas absolvido, que se esta dirigindo a residencia secreta onde 0 chefe po- litico convocou uma reuniao. 0 grande homem de neg6cios pode quei- xar-se, quase tao amargamente quanta 0 grande racketeer, das pesadas can· tribui<;5esque 0 chefe politico exige para 0 fundo do partido. Os adver- sarios sociais encontram-se na mansao cheia de fumo de cigarros do po- litico bem sucedidoI Tudo isto deixa de ser considerado IJaradoxal. se examinado a luz da analise fundonal. Uma vez que a maquina serve da mesma forma ao homem de neg6cios e ao delinC]iiente,entrecruzam-se os dois grupos que, aparentemente, sao antipodas. Isto aponta para urn teorema mais gE'- ral: as juncoes sociais de uma organiz~ilo ajudam a determinar a eMru- tura (incluindo-8e 0 recrutamento do pessoal compreendido na estrutu- o fato de nao reconhecer que esses neg6cios SM apenas moral men- te, mas nao econ6micamente distinguiveis dos neg6cios "legitimos" od- :ginou grande confusao nas analises. Desde que se reconhe<;a a. iden~ uade entre os dois, ja se podera perceber que, se a maquina politica de-. :sempenha tun<;6es para "os grandes neg6cios legitimos", e muito prova- vel que tambem desempenhara fun<;6esnao muito diferentes para "os I grandes neg6cios ilegitimos". E, naturalmente, e 0 que se da com mui- ta frequencia. A fun!:iaodiscmtiva da maquina politioa para sua cliGntela delinqiien- te, viciosa e de camorra ("racket") e de lhe permitir explorar a satisfa- (jao de demandas economica'3de urn grande mercado, sem a devida inter- vencao do governo. Assim como as grandesempresas podem contribuir para os gastos eleitorais de um partido politico, no intuito de conseguir urn minimo de intervenQao governamental, assim tambem agem os gran- des "rackets" e as grandes organiza<;Oesdo crime e do vido. Em am- bos os casos, a maquina politica pode, em graus variaveis, fornecer "pro- te<;ao". Em ambos os casos, muitas caracteristicas do contexto estrutu- ral sac identicas: (l) demanda do mercado, para bem·estar e serviQos; (2) interesl'1edos exploradores em levar ao maximo 0 lucro das empre- sas; (3) necessidade de controlar parcialmente 0 governo que, de outra forma, poderia interferir nas atividades dos homens de neg6cios; (4) necessidade de uma agenda eficiente, poderosa e centralizada que pro- porcione uma liga<;aoentre 0 "mundo dos neg6cios" e 0 governo. 8em presumir que as paginas precedentes esgotaram 0 capitulo das fun<;6es nem 0 capitulo dos subgrupos servidos pela maquina politica, ja podemos ver, ao menos, que na atualidade, esta desempenha algumas Juncoes para divers os subgrupos, juncoes estas nilo desempenhadas em forma apropriada pelas organiz~oes cUlturalmente aprovadas e mais tradicionais. Embora somente de passagem, podem-se mencionar aqui algumas im· plica<;5es da analise funcional da maquina politica que, naturalmente, estao a exigir estudo mais intensivo. Em primeiro lugar, a analise fei- ta nas paginas anteriores tern implica<;5esdiretas para a engenharia so- cial. Ajuda a explicar por que os esfor<;osperi6dicos de "reforma poli- Uca", de "elimina<;aodos corruptos". "de limpeza da casa politica" SaD l1picamente (embora nao necessariamente) ineficientes e de pouca dura- Cao. Servem de exemplo para urn teorema fundamental: toda tentativa" , fde eUminar uma estrutura social existente sem jornecer previamente au- -./' !·tras estruturas adequadas para preencher as juncoes exercidas pela arga- . nizac;ii.o que se quer aboUr, esta condenada ao jracasso. (Desnecessario J~e dizer que este teorema tern alcance muito maior que 0 caso especifico ra), assim como a estrutura ajuda a determinar a ejiciencia com que se realizam as jungoes. No que se refere a situagao social, 0 grupo dos ho- mens de neg6cios e 0 grupo delinqtiente constituem, de fato, p6los distin- tos. Mas a situagao social nao determina completamente a conduta ou as relagoesentre os grupos. Sao as fungOes que modificam essas relar;oes. Dadas suas necessidades instintivas, os diferentes subgrupos da sociedade em geral estao "integrados", quaisquer que sejam seus desejo5 ou inten- 90eS pessoals, pela estrutura centralizadora que atende as diversas neces- sidades. Numa frase que implica muitas coisas e que requer exame mais oetalhado, a estrutura ajeta a junr;6.o e a junr;6.o ajeta a estrutura. livro tao amplo e tao l6gicamente complexo The Social Svstem nao podern ser facilmente distinguidas dos seus desenvolvimentos conceptuais mais proVlsorios e as v(lzes discutiveis; s6mente agora os sociologos comegam a fazer as distingoes necessarias. Mas evidentemente ambas as pesqwisas vindas das formulagoes de Parsons e da revisao critica teorica, e claro" representam urn passo decisivo para uma exposigao metodica da teona sociolOgica atual. The Structure oj Society, de M. J. Levy Jr. (Princeton University Press, 1953), procede em grande parte, nas palavras do seu autor, do sis- tema conceptual de Parsons e oferece uma multiplicagao logica de nume- rosas categorias e conceitos. Resta ver se tais taxonomias de conceitos 58 revelam apropriadas e tlteis na analise de problemas sociologicos. Analises menos extensas porem mais incisivas, de problemas teori- cos selecionados de analises funcionais, t(lm aparecido em alguns trabalhos provindos de diversas "zonas culturais" de teoria sociologica, como Se po- de ver pela breve bibliografia que segue. Talvez 0 mais penetrante e pro- dutivo de todos (lIes seja 0 par de trabalhos relacionados entre si, de Ralf Dahrendord, "Struktur und Funktion", em Kainer Zeitschrijt tilr Soziologie und Sozialpsychologie, 1955, 7, 492,519; e de David Lockwood, "Some remarks on 'The Social System'" em The British Journal oj Socio- logy" 1956, 7, 134-146. Ambos os trabalhos constituem casos exemplares de teorizagao sistematica, destinada a assinalar lacunas especfficas no es· Lado atual da teoria funcional. Urn relatorio meditado e nao pol(lmico da situagao da teoria funcional e de alguns de seus problemas-chave nao resOlvidos sera encontrado em "Structural-functional analysis: some pro· blems and misunderstandings", por Bernard Barber, em American Socio- logical Review, 1956, 21, 129-135. Urn esfar<;o para esclarecer 0 impor- tante problema da logica da analise, implicito na parte da sociologia fun- ~ional destinada a interpretar tipos estruturais observados na sociedade, foi realizado por Harry C. Bredemeier em "The methodology of functio- nalism", em American Sociological Review, 1955, 20, 173·180· Embora es· te trabalho atribuadiscutlvelmente certas suposig6es a varias analises funcionais que exam in a, tern () clam merito de colocar em foco a impor- tante quesU'io da logica adequada de analise funcional. Quanto a inclusao da analise funcional dos antropologistas na socio· logia contemporanea (nao meramente na antropologia), veja·se 0 instru- tivo trabalho de Melford E. Spiro, intitulado "A typology of functional. analysis", em Explorations, 1953, 1, 84-95 e 0 minucioso exame critico de Raymond Firth em "Function". em Current Anthropology, (dirigida POl' William L. Thomas Jr.), University of Chicago Press, 1956, 237-258. A difusao da teoria funcional recentemente formulada nos Estados Unidos repercute numa serie de apreciagoes criticas da referida teoria na Belgica, Franga, Halia e Brasil. Entre as mais importantes figuram: "Fonction et finalite en sociolog:ie", por Henri Janne, em Cahiers Interna- tionaux de Socia logie, 1954, 16, 50-67, que procura entrelagar a teoria fun· Esta revisao de algumas Gonsideragoes import antes sabre a analise estrutural t: funcional pouco roais fez que indicar alguns dos principais problemas e possibilidades ofm:ecidos POl' (lste modo de interpretagao so- cio16gica. Cada urn dos itens catalogad0s no paradigma requer constan· te esclarecimento teorico e pesquisas empiricas acumulativas. Mas e claro que na teoria funcional, despida daqueles postulados tradicionais que a cercavam e amitlde a convertiam em pouco mais de uma racionali- zar;ao postenor das praticas <:lxistentes, n. sociologia dispoe de urn come· ~o de analise sistematica e empiricamente relevante. Espera·se que a orienta<;ao aqui indicada possu sugerir a factibilidade e a desejabilidad~ de uma maior codifica<;ao da analise funcional. Desta maneira, cada sec<;ao do paradigma sera tratada oportunamente em capitulo documen- tado, analisado e codificado da historia da analise funcionaL Quando foi escrito pel a primeira vez em 1948 0 trabalho anterior, representou urn esf6rgo para sistematizar as suposigoes e os conceitos princiipais da teoria da analise funcional em sociologia, que se achavu entao numa lenta evolugao. 0 desenvolvimento dessa teoria sociologic3. adquiriu desde entao importancia netave!. Ao preparar est a edigao, in· corporei a ela algumas das ampliagoes e corregoes que se produziram no intervalo, mas deixei uma formula<;ao extensa e detalhada para outro volume agora em preparo. POl' conseguinte," po de ser uti! nesta conjun· tura, catalogar nao tadas, mas apenas algumas, das recentes contribui· c;6es teoricas a analise funcional em sociologia. A maior contribui<;ao teorica nos ultimos anos foi, naturalmente, 'J. de Talcott Parsons em The Social System (Glencoe, Illinois: The Free Press, 1951), acrescida por novos trabalhos de Parsons e de seus cola- boraClores: T. parsons, R. F. Bales e E.A.Shils, Working Papers in the Theory oj Ac'tion (Glencoe, Illinois: The Free Press, 1953); T. Parsons e E. A. Shils (ed.) Toward a General Theory oj Action, (Cambridge: Har- vard University Press, 1951). As contribuigoes mais importantes de urn INFLUt:NCIA DA TEORIA SOCIOLDGICA SOBRE A PESQUISA EMPIRICA IV cional atual com a teoria anterior contemporanea dos soci610gos france- ses e belgas. Georges Gurvitch empreende uma critica minuciosa da analise funcional em sociologia em "Le concept de structure sociale", em Cahiers Internationaux de Sociologie, 1955, 19, 3-44. Amplo exame da teo- ria funcional em suas relaQ6e3 com problemas selecionados de investi- gaQao socio16gicasera encontrado em Teoria e Ricerca nella Sociologia Contemporanea, por Filippo Barbano, (Mila.o: Dr. A. GiUffre, 1955). 0 trabalho de Florestan Fernandes, Ensaio s6bre 0 Metodo de Interpreta- ~iio Funcionalista na Sociologia (Sa.o Paulo: Universidade de Sao Paulo, Boletim N." 170, 1953), e uma monografia informativa e sistematica que re- (',ompensauma leitura tao apressada e falivel como r. minha, o paradigma exposto nas paginas precedentes foi formalizado de acordo com wn conjunto abstrato de anotag6es destinadas a tornar evi- dente como se relacionam suas diferentes partes com elementos da abor- dagem funcional em biologia, Veja-se "A formalization of functionalism, with special reference to its application in the social sciences", na pr6- xima colegao de trabalhos de Ernest Nagel, intitulada Logic Without Me- taphysics (Glencoe: The Free Press, 1957). Para uma aplicagao detalha- da do paradigma, veja-se "Social control in the newsroom: a functional analysis", por Warren Breed, em Social Forces, 1955, 33, 326-335; "Notes on Eskimo patterns of suicide", por A. H. Leighton e C. C. Hughes, em Sou' thwestern Journal oj Anthropology, 1955, 11, 327·338; "A social-psychological study of the alleged visitation of the Virgin Mary in Puerto Rico", por Joan Cha:pman e Michael Eckstein, em Year Book oj the American Philosophi- cal Society, 1954, 203-206; The Home and Social Status, por Dennis Chap· man (Londres: Routledge and Kegan Paul, 1955); The Freedom oj Ex· pression: A Study in Political Ideals and Socio~Psychological Realities, !por Christian Bay (a aparecer proximamente); "Diverse action and response to crime", por Michael Eckstein (a aparecer proximamente); Communi- cation oj Modern Ideas and Knowledge in Indian Villages, por Y. D, Damle, (Cambridge: Massachusetts Institute ::IfTechnology,.Center for In- ternational StUdies, 1955). Para um estudo interessante das conseqtiencias manifestas e latentes da agao em relagao com imagens de autojustificagao e autofrustragao, yeja-se 0 capitulo 8 de The Image, por Kenneth Boulding (Ann Arbor: University of Michigan Press, 1956). A HISTORIA RECENTE da teoria socio16gica pode ser descrita, em grande parte, como sendo a alternagao de dois pontos de vista opostos. Di' urn lado, vemos os soci610gosque procuram sobretudo generalizar, abrir ca- .: Iriinho 0 mals rapidamente possivel para a formulagao .de leis socio16gi- cas. Tendem a valorizar a importancia do trabalho socio16giooem rela- gao com 0 alcance e a demonstrabilidade das generalizag6es, evitando n. "banali(iade" da observagao minuciosa em pequena escala e buscando a magnitude de resumos globais. .~o outro extremo encontra·se um gru- po intrepido que nao busca com muito empenho as implicag6es das suas pesqtiisaS.mas que tern confianga e certeza de que 0 que dizem e exato. :It certo que suas. informag6es sObre fatos sac comprovaveis e sao com- provadas com freqtil'mcia,mas eles se encontra.m muitas vezes em diff- culdade para relacionar esses fatos entre si ou mesmo para explicar por que fizeram essas observag6es e nao outras. Para 0 primeiro grupo, 0 lema que 0 identifica parece ser, as vezes: "Nao sabemos se 0 que dize- mos e verdade, mas, pelo menos, e significativo", enquanto 0 lema dos empiricos radicais poderia ser: "Isto e demonstravel, mas nao podemos indicar SUa importancia". Sejam quais forem os fundamentos para aderirmos a wna ou Qutra dessas atitudes - explicag6es diferentes mas nao necessariamente con· tradit6rias poderiam ser fornecidas por psic610gos,soci61ogos do conhe- cimento e historiadores da ciencia - e bem claro que nao ha base 16- gica que nos permita colocar wna dessas atitudes contra a outra. As ge- neralizag5es podem ser temperadas, senao pela. tolerancia, pelo menos pe- la observagao disciplinada; e as observaQ6esrigorosas e detalhadas na.o precisam spr banalizadas pela exc1usao da sua pertinencia e implicag6es te6ricas. Havera certamente concordancia ampla, seni'io unanime, sabre tudo isso. Mas essa p1'6pria unanimidade esta a indicar que essas observag6es