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Scheila Maria 2016 1 GASTRO - DOENÇA ULCEROSA PÉPTICA A úlcera péptica gastroduodenal ou doença ulcerosa péptica (DUP) é definida como uma solução de continuidade na mucosa do estômago ou duodeno com diâmetro maior ou igual a 0,5cm (lesões <0,5cm são chamadas erosões) que penetra profundamente na parede do tubo digestivo (ultrapassando a muscular da mucosa). Epidemiologia: Incidência vem caindo devido a alguns fatores como redução da prevalência de colonização gástrica pelo H. pylori, uso da terapia de erradicação para evitar recidivas e a grande disponibilidade de antissecretores potentes (IBP). Houve queda também nas hospitalizações por complicações (sangramento, perfuração e obstrução). Ainda é mais encontrada no sexo masculino e os principais fatores são infecção pelo H.pylori e uso de AINEs, porém fumantes apresentam risco aumentado. A forma duodenal é mais comum e mais encontrada em jovens (20-50 anos). A gástrica é encontrada geralmente em mais velhos (60 anos) e muitos são assintomáticos, sendo diagnosticados apenas em casos de complicações. Mecanismos: A formação de uma úlcera, já se sabe, não se dá apenas pelo desequilíbrio entre agressão e mecanismos de defesa da mucosa, pois os processos normais de cicatrização seriam capazes de revertê-los. Os estudos recentes demonstram que as barreiras de defesa da mucosa e processos de reparo tecidual estariam prejudicados apenas sob atuação de fatores exógenos, como H.pylori, AINEs e estresse isquêmico/tóxico. Portanto têm-se: Sem H.pylori, sem AINE, sem isquemia = NÃO HÁ ÚLCERA! O papel do H. pylori Coloniza apenas a mucosa gástrica e tem grande afinidade pelas células produtoras de muco da região antral levando a uma gastrite crônica ativa. Com o tempo, pode migrar para regiões mais proximais. A uréase é a principal enzima presente na bactéria necessária para produzir um meio alcalino, neutralizando a acidez do lúmen gástrico. A infecção acomete homens e mulheres igualmente. Idade avançada, baixo grau de instrução e nível socioeconômico são fatores de risco. A transmissão é de pessoa para pessoa via oral-oral ou oral-fecal. A infecção pelo H.p está relacionada a: gastrite superficial aguda (momento da infecção), gastrite crônica ativa de antro, gastrite ou pan-gastrite atrófica ou não atrófica, adenocarcinoma gástrico, linfoma de MALT e úlceras pépticas gástricas ou duodenais. Em nosso país 95% dos pctes com úlcera duodenal e 70-80% dos pctes com úlcera gástrica são infectados pelo H.p. A erradicação do H.pylori altera a evolução natural da DUP, reduzindo drasticamente o número de recidivas. O H.p possui diversas cepas com diferentes fatores de virulência, o que contribui para que apenas cerca de 15% das pessoas infectadas desenvolvam úlcera. Os fatores de virulência mais valorizados atualmente são: cagA (associado a formação de citotoxinas), vacA (citotoxina Scheila Maria 2016 2 vacuolizante) entre outros, como babA e OipA. Estes podem levar a uma maior agressão e desenvolvimento da doença. Um fator importante e universal de agressão bacteriana é a produção de uréase, que converte a ureia (encontrada em abundância no conteúdo gástrico) em bicarbonato e amônia. Essa conversão, além de permitir a neutralização do ambiente ácido do estômago, facilitando a adesão da bactéria à parede gástrica ainda gera amônia (tóxica para as céls epiteliais). A bactéria possui, ainda, proteínas de ligação, as adesinas e proteínas que estimulam quimiotaxia de neutrófilos e linfócitos e liberação de fatores de agregação plaquetária que promove trombose de capilares e isquemia. Praticamente todos os pctes Hp+ possuem algum grau de gastrite crônica. Na úlcera duodenal: o microorganismo infecta a mucosa antral cronicamente, inibe a produção de somatostatina pelas céls D hipergastrinemia hipercloridria duodeno passa a receber maior carga ácida do estômago induzindo metaplasia gástrica no duodeno (ou seja, epitélio gástrico no duodeno) permitindo a infecção pela bactéria. Ocorre duodenite e posteriormente, úlcera. Somente 15% dos pctes com gastrite antral pelo H.p desenvolve a úlcera duodenal, provavelmente por diferenças de cepas ou fatores ambientais como AINEs e tabagismo, que aumenta em 60-70% o risco. Úlcera gástrica: É dividida em quatro tipos clínicos O tipo I ou da pequena curvatura é o mais comum e está associada a normo ou hipocloridria com gastrite atrófica do corpo gástrico pelo H.p. Nesse caso, mesmo em hipocloridria ocorre sensibilidade da mucosa aos efeitos do ácido. O tipo II (do corpo gástrico, associada à úlcera duodenal) e o tipo III (pré- pilórica) possuem relação direta com hipercloridria. Por fim, o tipo IV (próximo à junção gastroesofágica) é a mais rara. Outros fatores envolvidos: A secreção ácida basal, especialmente a noturna está aumentada nos pacientes com úlcera duodenal e alguns tipos de úlcera gástrica. A hipercloridria destes pctes certamente é fator fundamental na gênese deste tipo de úlcera. Os AINEs, por inibirem a produção de prostaglandinas suprimem um importante fator de proteção gástrica, contribuindo consideravelmente para a formação de úlceras, principalmente gástricas. O tabagismo por sua vez está relacionado à maior incidência, recorrência e cicatrização lenta de úlceras bem como maior incidência de complicações e menor resposta à terapia. Radioterapia, drogas (bifosfonatos, clopidogrel, anfetaminas, cocaína) e outras patologias também estão associadas à DUP. Manifestações clínicas: O sintoma mais comum da úlcera duodenal é a dor epigástrica, em queimação, tipicamente irradia para o dorso, 2-3h após refeições e à noite, que pode ser Scheila Maria 2016 3 aliviada com o uso de antiácidos ou alimento. Na úlcera gástrica os sintomas são normalmente desencadeados pelo alimento e alguns perdem peso e tem náuseas. No entanto é a síndrome dispéptica que representa a síndrome clínica da doença ulcerosa. A síndrome dispéptica inclui: dor ou desconforto epigástrico, azia, náuseas, sensação de plenitude pós-prandial. Diagnóstico: A EDA é o padrão ouro entre os exames complementares. Em casos de sintomas dispépticos recentes considerar uso de AINE, terapia com IBP, erradicação do H.p antes de solicitar EDA. Excepcionalmente para pacientes >45 anos ou com sinais de alarme, a 1ª conduta é a EDA. Em casos de úlcera gástrica é importante a busca por malignidade na biopsia por endoscopia com várias amostras de material. Essa conduta não é necessária em casos de úlcera duodenal. Quando estão indicados os testes para H.p? O ttt deve ser feito em todo paciente com úlcera no qual se possa documentar a presença desse agente. Portanto, todo paciente com úlcera deve ser investigado para o H.p. Como investigar? Os testes dependem da situação clínica vigente, alguns deles são invasivos: (1) teste da uréase é o método de escolha na avaliação inicial de pctes submetidos à EDA. Deve ser feito uma semana após suspensão de antibiótico, IBP ou bismuto, pois diminuem a sensibilidade. (2) Histopatológico e (3) cultura, que é o menos utilizado. Há ainda os testes não invasivos: (1) Sorologia – ELISA, é utilizado para diagnóstico da infecção em pctes que não serão submetidos a EDA. Não deve ser utilizado para controle de cura, pois os anticorpos permanecem positivos anos após a cura. É sensível e específico. (2) Teste respiratório, método de eleição para controle de cura, após 4-6 semanas do término do ttt devido a riscos de falso-negativo. Tratamento: O tratamento inclui medidas gerais e ttt farmacológico. Dentre as medidas gerais estão os cuidadoscom a dieta, evitando alimentos que causem sintomas, evitar tabagismo e álcool (pois este, apesar de não causar úlceras, aumenta o risco de hemorragias digestivas). O ttt farmacológico visa redução da acidez gastrointestinal e erradicação do H.p. # Antissecretores de primeira linha # a. IBP: antissecretores de primeira escolha para ttt da DUP. Também são utilizados nos esquemas de erradicação do H.pylori. São prescritos por cerca de 4-8 semanas. Os principais disponíveis são: i. OMEPRAZOL (20mg/dia); ii. LANSOPRAZOL (30mg/dia), iii. PANTOPRAZOL (40mg/dia) iv. RABEPRAZOL (20mg/dia) v. ESOMEPRAZOL (40mg/dia) b. Bloqueadores de H2: Bloqueiam competitivamente os receptores de H2. Não devem ser consumidos com antiácidos, no geral são prescritos por 4 a 8 semanas também. Alguns deles são: i. CIMETIDINA (800mg/dia) ii. RANITIDINA (300mg/dia) iii. FAMOTIDINA (40mg/dia) Scheila Maria 2016 4 # Drogas de segunda linha # Antiácidos: utilizados para alívio dos sintomas (Hidróxido de alumínio e de magnésio, carbonato de cálcio e bicarbonato de sódio). Sucralfato: protetor de base da úlcera, estimula prostaglandinas, bicarbonato e muco. TTT do H. pylori. Quando tratar? Todos os pacientes recém-diagnosticados para úlcera devem ser investigados e tratados para o H.p. Os pacientes com dispepsia funcional e gastrite têm resultados ineficazes na erradicação do H.p. No entanto devido a uma pequena porcentagem que apresenta melhora o consenso Roma III determina ttt naqueles com dispepsia funcional recorrente. As situações em que pesquisa e erradicação do H.p são mandatórias são: a. Presença de úlcera péptica gástrica ou duodenal b. Presença de linfoma MALT c. Pacientes com câncer gástrico precoce submetidos a ressecção d. Indivíduos com história de DUP que vão se submeter a terapia prolongada com baixas doses de AAS ou AINEs devem se submeter aos testes. Em caso + a bactéria deve ser erradicada. Como tratar? Terapia tríplice de acordo com o consenso de Maastricht que autoriza o ttt por 7 dias. Os americanos recomendam a terapia por 14 dias. O controle de cura geralmente é por métodos não invasivos: teste respiratório (4-8 semanas após término do ttt). Não utilizar sorologia! O ttt cirúrgico dos pacientes com úlcera é indicado apenas em casos de intratabilidade (ulceras que não cicatrizaram após 8-12 semanas de tratamento) ou ocorrência de complicações: perfuração, obstrução e sangramento. Para considerarmos uma úlcera como refratária é necessário que a erradicação do H.pylori seja confirmada e o uso de AINEs afastado. Em úlceras gástricas duodenais é fundamental também descartar a malignidade com biopsias repetidas. Complicações: a mais comum é a hemorragia digestiva que se manifesta na forma de hematêmese ou melena. A perfuração é a segunda complicação mais encontrada e é a que possui maior mortalidade (15%), apresenta-se com dor abdominal e por fim, a obstrução é a menos frequente, apresenta-se com vômitos, náuseas, sensação de plenitude. ESQUEMA I. (2x/dia por 1 semana) Omeprazol 20mg Amoxicilina 1000mg Claritromicina 500mg ESQUEMA II (2x/dia por 1 semana) Omeprazol 20mg Metronidazol 400mg Claritromicina 250mg. Scheila Maria 2016 5 LEMBRAR PARA A PROVA: São 4 semanas para o ttt da úlcera gástrica e 8 semanas para a úlcera péptica Se o H.pylori tiver +, faz erradicação (7 dias) + IBP até completar as 4 ou 8 semanas. Se a úlcera estiver cicatrizada faz apenas a erradicação, não prolonga IBP. Em relação as complicações, o ttt da perfuração é apenas cirúrgico, da hemorragia e obstrução podem ser cirúrgico, endoscópico ou clínico.
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