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Aula 1: O Pré-Modernismo
O Pré-modernismo não chegou a constituir uma escola literária. Pode ser considerado um período de transição entre as tendências das escolas literárias da segunda metade do século XIX e renovação modernista, cujo marco, no Brasil, é a Semana de Arte Moderna, em 1922.É um período de transição entre  as tendências das escolas da segunda metade do século XIX e a renovação modernista no Brasil, a partir de 1922.
O Pré-modernismo é o período marcado pelo sincretismo de tendências artísticas. Precisamos ter em mente que as estéticas literárias se influenciam e até se fundem. Não são impenetráveis, não são blocos estanques.
A literatura brasileira, do início do século XX, de uma maneira geral, não se preocupava em apresentar temas ou linguagens diferentes dos já apresentados pelos escritores da segunda metade do século XIX.
Podemos também dizer que, neste período, a literatura brasileira estava alheia aos problemas sociais e políticos da sociedade brasileira. Para alguns, era vista como pura forma de entretenimento para as classes sociais mais altas. Nossa poesia, por exemplo, era quase toda parnasiana.
Em se tratando da prosa, os ficcionistas recorriam às estratégias adotadas pelas escolas realista e naturalista.
No entanto, surge, nesse mesmo período, um grupo de escritores com ideias renovadoras. Euclides da Cunha, Lima Barreto, Graça Aranha e Monteiro Lobato produziram obras que mostravam uma visão crítica da realidade brasileira.
O início do século XX, no Brasil, não foi nada bom. O país apresentava muitos problemas sociais e políticos. A proclamação da República, em 1889, não trouxe a reforma que o Brasil necessitava. Muitos conflitos e tensões sociais se justificaram pelas desigualdades econômicas entre as diversas regiões do país observadas também no campo e na cidade.
Vejamos, pelo menos, duas das manifestações ocorridas no início do século XX aqui no Rio de janeiro – a Revolta da Vacina (1904) e a Revolta da Chibata (1910). Comecemos pela Revolta da vacina.
Revolta da Vacina -1904
Em 1904, a campanha da vacinação obrigatória é colocada em prática. O médico e sanitarista Oswaldo Cruz foi designado pelo, então, presidente da República Rodrigues Alves, para ser o chefe do Departamento Nacional de Saúde Pública.
O objetivo da campanha era o de melhorar as condições sanitárias do Rio de Janeiro. Para termos uma ideia, a população carioca sofria vários processos epidêmicos - febre amarela, peste bulbônica e varíola. Mas a maneira como a vacinação ocorreu desagradou à população, pois foi autoritária e violenta. Alguns agentes sanitaristas invadiram as casas para vacinar, à força, as pessoas, na maioria das vezes, de muito baixa condição financeira.
A revolta da maior parte da população carioca deveu-se a três fatores.
As pessoas não sabiam o que era uma vacina e, por causa disso, tinham medo de seus possíveis efeitos;
A crise econômica - inflação, desemprego e alto custo de vida;
A reforma urbana que derrubou cortiços e outros tipos de habitação mais modestos retirando a população pobre do centro do Rio de janeiro.
A revolta da chibata
Outro importante movimento que eclodiu no início do século XX foi a Revolta da Chibata, de 22 a 27 de novembro de 1910, devido à dura rotina de trabalho, os baixíssimos salários e principalmente porque os membros de baixa patente sofriam castigos físicos quando não cumpriam uma ordem. Essa prática já havia sido proibida após a proclamação da Republica. No Império, era comum os marinheiros receberem chibatadas. A prática foi restabelecida em 1890, por um decreto não publicado em Diário Oficial, mas adotado pela Marinha de Guerra. Ele previa “Para as faltas leves, prisão a ferro na solitária, por um a cinco dias, a pão e águas; faltas leves repetidas, idem, por seis dias, no mínimo; faltas graves, vinte e cinco chibatadas, no mínimo.”
A revolta foi marcada para dez dias depois da posse de Hermes da Fonseca, em 15 de novembro de 1910, mas a punição dada ao marinheiro Marcelino Rodrigues Menezes, embarcado no encouraçado Minas Gerais, foi o estopim da revolta. O marinheiro foi punido, não com as vinte e cinco chibatadas, mas com duzentas e cinquenta, que foram aplicadas na presença da tropa formada, ao som de tambores, no dia 21 de novembro. 
No dia 22 de novembro, com a participação de mais ou menos 2.300 marinheiros – os marinheiros nacionais eram quase todos negros ou mulatos comandados por oficias brancos – liderados por João Cândido Felisberto – conhecido como Almirante Negro -, assumem o controle dos encouraçados Minas Gerais e São Paulo, do cruzador-ligeiro Bahia e do antigo encouraçado Deodoro. 
Os marinheiros redigem uma carta para o presidente reivindicando melhoria de suas condições de vida, o fim da chibata e do “bolo”, outra forma de castigo físico. Caso não fossem atendidas as reivindicações, eles bombardeariam a cidade.
Como a situação era gravíssima, e sendo pressionado pela oposição, Hermes da Fonseca aceita o ultimato. O Congresso vota uma lei pondo fim às torturas e que garantindo que os revoltosos não sofreriam punições. No entanto, assim que os marinheiros entregam as armas e os navios, são presos e alguns expulsos. Esse ato que gerou, em dezembro do mesmo ano, outra revolta, na Ilha das Cobras, que foi fortemente reprimida pelo governo.
Essas grandes mudanças políticas, sociais e econômicas não permitem mais espaços para a idealização: 
O autores vão em busca de um conhecimento mais real e profundo da vida do país. 
O foco da produção é fragmentado e escrevem sobre diferentes regiões, centros urbanos, funcionários públicos, sertanejos, caboclos e imigrantes.
Tudo era motivo para os escritores como Monteiro Lobato, Euclides da Cunha, Lima Barreto, Graça Aranha e Augusto dos Anjos.
Essa multiplicidade de focos e de interesses impossibilita tratar o Pré-Modernismo como uma escola literária, porque embora essa semelhança agrupe diferentes autores, as características estéticas dos poemas e romances que produzem são totalmente díspares. Em função disso, o Pré-Modernismo é considerado como período de transição, uma vez que conserva algumas tendências das estéticas da segunda metade do século XIX, como: Realismo, Naturalismo, Parnasianismo e Simbolismo. Mas também antecipa outras que serão realmente aprofundadas no Modernismo.
O presidente Hermes da Fonseca, inicialmente, resolve acatar as reivindicações, mas depois descumpre o acordo, o que provocou outra rebelião. Resultado: os marinheiros foram severamente punidos. João Cândido foi internado como louco no Hospital de Alienados, mas consegue ser absolvido das acusações.
O que se pode verificar é que os republicanos tratavam os problemas sociais como “casos de polícia”. Não havia diálogo. O governo, na maioria das vezes, usou a força das armas para colocar fim às diversas rebeliões ocorridas no início do século XX, aqui, no Brasil.
Foi neste clima que os nossos autores pré-modernistas apresentaram duas novidades essenciais em suas obras:
• O interesse pela realidade brasileira
• A busca de uma linguagem mais simples e coloquial
	Primeira novidade. Era de interesse de nossos escritores pré-modernistas os assuntos do dia a dia dos brasileiros, originando-se, assim, obras de caráter social. 
A segunda novidade está diretamente relacionada a Lima Barreto. Barreto, em sua prosa, procurou “escrever brasileiro”, com simplicidade. Para isso, ignorou, intencionalmente, as normas gramaticais, o que incomodou profundamente os meios acadêmicos conservadores e os parnasianos.
Lima Barreto (1881 – 1923) era um verdadeiro apaixonado pelo Rio de Janeiro. Em suas obras, Barreto apresenta um quadro social e humano dos subúrbios cariocas. Há também a presença dos seguintes personagens: aposentados, profissionais liberais, moças casadoiras, mulatos, além de figuras da classe média que lutam desesperadamente para ascender socialmente. 
Será o responsável por compor o retrato de partes dos centros urbanos, ignorados pela elite cultural do país:os subúrbios. Era lá que vivia a pequena classe média composta por funcionários públicos, professores, moças à espera de casamento, mulatos, profissionais liberais e uma multiplicidade de outros personagens que habitam a obra do autor. Desse modo, dá voz a uma parcela da população ignorada pelos escritores românticos e realistas. 
Euclides da Cunha (1866- 1909) foi enviado pelo jornal O Estado de São Paulo ao sertão da Bahia para cobrir a Guerra de Canudos.
Euclides da Cunha – pioneiro entre os pré-modernistas ao aproximar literatura e história por publicar em 1902 a recriação literária da guerra de Canudos (1896 e 1897), após cinco anos do sangrento conflito, com publicação de Os Sertões.
Canudos era uma fazenda abandonada no sertão da Bahia quando Antônio Conselheiro, líder religioso, resolveu, ali, instalar-se. Em pouco tempo, muitas pessoas miseráveis resolveram se unir a Conselheiro. O líder religioso, em seus sermões, não falava apenas da salvação das almas, mas também das questões do dia a dia como a opressão política e a total miséria em que estava mergulhado o povo canudense.
Conselheiro, indiretamente, fazia críticas à República. Na sua opinião, era esta forma de governo a responsável pelas precárias condições de vida do povo nordestino. Não demorou muito para que as ideias de Conselheiro fossem consideradas uma ameaça à soberania nacional.
O seu início se deu com o seguinte episódio: Antônio Conselheiro encomendou uma remessa de madeira para a construção da igreja nova de Canudos. O juiz local não permitiu a entrega do material, o que causou revolta nos canudenses, até porque a encomenda já havia sido paga. Com medo dos revoltosos, o juiz pediu reforço militar. Como não poderia ser diferente, toda a população de Canudos foi massacrada pela força dos canhões e de outras armas pesadas.
Esta não foi a versão que o país tomou conhecimento. Com a censura dos jornais, a única versão dos fatos autorizada pelos militares dizia que a República estava lutando contra focos monarquistas no sertão baiano. Cinco anos depois, em 1902, Euclides da Cunha lança Os sertões.
Os sertões se organiza em três partes: “A terra”- descrição das condições geográficas do sertão; “o homem”- descrição dos costumes do sertanejo e “A luta” – descrição dos ataques a Canudos e sua extinção. Para muitos teóricos da literatura, esta divisão tripartite já revela a influência determinista que Euclides da Cunha recebeu. Não poderíamos encerrar o nosso estudo sobre Os Sertões sem a máxima euclidiana: “O sertanejo é, antes de tudo, um forte”. (CUNHA, 1902).
Lima Barreto (1881 - 1923) era um verdadeiro apaixonado pelo Rio de Janeiro. Em suas obras, Barreto apresenta um quadro social e humano dos subúrbios cariocas. Há também a presença dos seguintes personagens - aposentados, profissionais liberais, moças casadoiras, mulatos, além de figuras da classe média que lutam desesperadamente para ascender socialmente.
Em Triste fim de Policarpo Quaresma, Lima Barreto narra os ideais e a frustração de Policarpo Quaresma, funcionário público, sujeito metódico e extremamente nacionalista.
Graça Aranha também apresentou obras de caráter social. Canaã é um bom exemplo.
O enredo de Canaã é a história de dois jovens imigrantes alemães – Milkau e Lentz – que se estabelecem no Espírito Santo, mais precisamente, no Porto do Cachoeiro. Enquanto Milkau admira o Novo Mundo, Lentz deseja que a Alemanha invada o Porto de Cachoeiro. Um personagem personifica a paz; o outro, a guerra.
A história dos dois amigos serve de pano de fundo para Graça Aranha discutir questões ideológicas sobre imigração e corrupção na administração brasileira do início do século XX.
Monteiro Lobato (1882-1948) faz parte do grupo de autores regionalistas do Pré-Modenismo brasileiro.
Lobato adotava certo purismo em sua linguagem literária. Seus princípios não permitiram que o autor fizesse parte do movimento renovador e polêmico dos primeiros modernistas. Lobato os via com desconfiança, achava que suas ideias poderiam ser simples imitação das produções artísticas europeias. 
O pré-modernista apresentava uma visão crítica da realidade brasileira. Em suas obras, criticou a obediência a modelos estrangeiros, a subserviência ao capitalismo internacional, a submissão das massas eleitorais e o nacionalismo extremado.
Um dos aspectos mais importantes da obra de Lobato é a sua preocupação em denunciar alguns problemas que marcavam a vida das pessoas do interior.
Foi com o personagem Jeca-tatu (do livro de contos Urupês), um típico caipira acomodado e miserável do interior paulista, que Monteiro Lobato pode criticar o Brasil agrário, atrasado e ignorante, segundo o autor. Lobato idealizava um país moderno, estimulado pelo progresso e pela ciência.
Foi com o personagem Jeca-tatu (do livro de contos Urupês), um típico caipira acomodado e miserável do interior paulista, que Monteiro Lobato pode criticar o Brasil agrário, atrasado e ignorante, segundo o autor. Lobato idealizava um país moderno, estimulado pelo progresso e pela ciência.
Lobato destacou-se no gênero conto. Merecem destaque Urupês, Cidades Mortas e Negrinha. Mas foi na literatura infantil que o autor se tornou popular. Personagens como Narizinho, Dona Benta, Tia Anastácia Visconde de Sabugosa e a boneca de pano Emília entre outros da turma do Sítio do Pica-pau Amarelo tornaram Monteiro Lobato inesquecível.
Na década de 70, as histórias dessa turminha foram adaptadas para a televisão e foram ao ar no seriado intitulado Sítio do Pica-pau Amarelo. E quem sentiu saudades de seu tempo de criança, pode ainda revivê-lo sob a forma de desenho animado ou sob a forma de seriado, mas com algumas adaptações para atender ao público de nosso tempo.
SLIDES – AULA 1
A velha República Velha (1894 – 1930) firmava-se na hegemonia dos proprietários rurais de São Paulo e de Minas Gerais, conduzindo-se pela política dos governadores, o “café com leite”, padrão que dava à lavoura cafeeira, somada à pecuária, o devido peso nas decisões econômicas e políticas do país. (Alfredo Bosi – História concisa da literatura, p. 303)
No início do século XX, o avanço tecnológico e científico trouxe novas expectativas para a humanidade, pois as invenções como a lâmpada elétrica, o telefone e o automóvel iriam contribuir para a praticidade e o conforto, além de influenciar a vida do homem. Nas artes, a inovação foi o cinema, eficiente meio de diversão e entretenimento, assim como de comunicação. 
 
Em um ambiente de grande progresso há muito para se enunciar. Neste período, ocorre a 1ª Guerra Mundial e, na medida em que a Europa se prepara para a guerra, o Brasil praticava a política do “café com leite”, que nada mais era que o domínio da economia pelos grandes latifundiários do café.
Em função disso a literatura é ampla nos anos iniciais do século XX. Os estilos literários englobam desde os poetas parnasianos e simbolistas, pois ainda produziam, e os que se concentravam na política e nas particularidades de sua região. 
Pré-modernismo é como chamamos essa transição literária entre as escolas antecedentes e a quebradura feita pelos novos escritores com essas escolas.
Foi uma época marcada por muitos conflitos e tensões sociais que se justificaram pelas desigualdades econômicas entre as diversas regiões do país, observadas também no campo e na cidade: 
Revolta da Armada, 
Revolta de Canudos, 
Cangaço, 
Revolta da Vacina, 
Revolta da Chibata, 
Guerra do Contestado .
A linguagem utilizada é mais direta, mais objetiva, aproximando-se da linguagem jornalística em função da proximidade entre literatura e realidade .
Já surgem os romances e contos, que serão tendências e usados como bandeira pelos primeiros modernistas:
 A desmitificação do texto literário;
 O uso de um português “brasileiro”;
 A crítica à realidade social e econômica contemporânea; 
 A construção de uma literatura que retrate o Brasil real.
Aula 2: O Modernismo Literário no Brasil – Antecedentes, a Semana de Arte Moderna e a PrimeiraFase Modernista
Fase heróica - A necessidade de chocar o público, de destruir o passado literário.
Semana de Arte Moderna, evento ocorrido em fevereiro 1922, no elegante Teatro Municipal, em São Paulo, representou uma renovação de linguagem, ruptura com o passado, experimentação e liberdade criadora. Foram três festivais que apresentaram uma novapoesia, através da declamação, nova música através de concertos, nova arte na pintura, escultura e arquitetura. 
Oswald de Andrade, em 1912, na volta de sua primeira viagem à Europa, entra em contato com algumas vanguardas europeias como o Expressionismo e o Cubismo. Mas o que mais atraiu a atenção do nosso poeta foi o Futurismo, de Marinetti del Picchia, que já havia publicado, em 1909, no Jornal de Notícias, da Bahia, o seu Manifesto Futurista. Entretanto, as suas propostas não tiveram repercussão entre nós. Oswald republica o texto e a divulgação das propostas futuristas começa a inspirar os jovens literatos do país. 
Menotti sintetizou de maneira objetiva o projeto literário da primeira geração de modernistas no Brasil. De acordo com ele, o grupo que compôs a Semana:
“não formulou um código: formou uma consciência. Um movimento libertador a integrar nosso pensamento e nossa arte na nossa paisagem e no nosso espírito dentro da autêntica brasilidade”.
Oswald de Andrade funda, com dinheiro emprestado por sua mãe, o semanário paulista O Pirralho, que circulou até 1917. O controverso semanário, publicado aos sábados, debatia política e costumes da época e trazia seções sobre cinema, teatro, esportes. Em suas páginas irreverentes era comentado o roteiro de artes da sociedade paulistana. Di Cavalcanti, Votolino e Ferrignac assinavam as ilustrações.
Em 1915, Ronald de Carvalho, poeta brasileiro, colabora com a Revista Orpheu, marco do Modernismo português. Os dois únicos números publicados, em abril e julho, marcam o início do modernismo em Portugal.
Em 1917, três acontecimentos merecem destaque:
Oswald de Andrade conhece seu futuro amigo, Mário de Andrade;
Manuel Bandeira publica o livro de poesias Cinza das horas, em que aparecem alguns poemas de métrica livre; 
Anita Malfatti, após estudar no exterior, volta ao Brasil e promove uma exposição de suas pinturas, em São Paulo. 
(Nota-se, claramente, a influência do expressionismo e cubismo em sua arte)
Anita Malfatti realizou entre 12 de dezembro de 1917 e 11 de janeiro de 1918, em São Paulo, uma exposição polêmica, que inovou, sendo considerada um marco na história da arte moderna no Brasil e o "estopim" da Semana de Arte Moderna de 1922. As suas obras retratavam, sobretudo, personagens marginalizados dos centros urbanos, desagradando os conservadores. O impacto das telas de Anita tem a ver com seu aspecto expressionista, novo para os padrões da arte brasileira de então. 
A exposição de Anita provocou comentários contra e a favor no acanhado meio artístico de São Paulo. No entanto, obteve um sucesso considerável. Tanto é que a pintora recebeu reservas de quadros. Porém, um artigo da “Folha de São Paulo”, de autoria de Monteiro Lobato, que também era crítico de arte, fez com que as reservas desses quadros fossem canceladas. O artigo trazia o título “Paranoia ou mistificação”, em que Lobato, embora reconhecesse o talento artístico de Anita, denegria o seu trabalho.
O Rio de Janeiro, também um polo artístico, se achava carregado pelas ideias da Escola Nacional de Belas-Artes, que ainda defendia o academicismo. No entanto, houve o intercâmbio entre os artistas paulistas e cariocas. 
Em 1921, uma "bandeira futurista“, composta por Mário de Andrade, Oswald de Andrade e Armando Pamplona, vão para o Rio em busca de apoio para o movimento e se encontram com Villa-Lobos, Ronald de Carvalho e Sérgio Buarque de Holanda, além de Manuel Bandeira e Ribeiro Couto. 
Neste mesmo ano chegava da Europa Graça Aranha, diplomata, escritor consagrado, no país, e membro da Academia Brasileira de Letras, que entusiasmado também apoia os paulistas.
Foi na casa de Ronald de Carvalho que Mário leu os versos de "Pauliceia desvairada". O próprio Ronald comparece à Semana de 22 e declama "Os sapos", de Bandeira, e Villa-Lobos rege duas composições.
Quem financiou a Semana de Arte Moderna, um sintoma do mal-estar do Brasil oligárquico e atrasado, foi a elite paulista, que seria apeada do poder, anos depois, em 1930. O jornalista René Thiollier conseguiu arrecadar 847 mil réis com fazendeiros e exportadores de café.
Não se sabe ao certo quem teria dado a ideia de realizar a Semana de Arte Moderna, de 1922. 
O jornal O Estado de São Paulo diz que a sugestão partiu de Marinete Prado, esposa de Paulo Prado, filho de um fazendeiro de café do século XIX. De acordo com o jornal, a família Prado, em sua mansão, organizava reuniões de artistas e intelectuais a fim de articular a Semana.	 
Menotti del Picchia diz que a ideia de realizar a Semana surgiu de uma conversa entre ele e Oswald de Andrade.
Mário de Andrade afirma não saber de quem partiu a ideia. 
A Semana de Arte Moderna concentrou seus eventos em três dias: 13, 15 e 17 de fevereiro de 1922, no Teatro Municipal de São Paulo. 
13 de fevereiro de 1922 – 2ª feira:
A inauguração do evento foi aberta com uma exposição de artes plásticas, no saguão do teatro. Pinturas de Anita Malfatti, de Di Cavalcante e as esculturas de Victor Brecheret puderam ser ali apreciadas. Mas o público só queria zombar das obras, provavelmente por lembrar do artigo de Monteiro Lobato “Paranoia ou mistificação”, publicado em 1917. 
É realizada a conferência de Graça Aranha – “a emoção estética na Arte Moderna”. No seu texto, Aranha discorre sobre o espírito da “nova” arte e afirma que “os que assimilam a arte ao Belo são retardatários: a arte é a realização de nossa integração no cosmos pelas emoções derivadas dos nossos sentidos.” Diante do seu ataque ao academicismo, mesmo sendo membro da Academia Brasileira de Letras, o público não o poupou das vaias. Diante dos zurros do público, Ronald de Carvalho devolve: "Cada um fala com a voz que Deus lhe deu." 
15 de fevereiro de 1922 — 4ª feira: 
A noite que celebrizou a semana começa com um discurso de Menotti del Picchia sobre romancistas contemporâneos, acompanhado por leitura de poesias e números de dança. O momento mais conturbado desse segundo dia foi a leitura de Ronald de Carvalho do poema Os Sapos, de autoria de Manuel Bandeira. Esse poema, por ser um ataque aos parnasianos, teve seu refrão acompanhado de berros, latidos, guinchos e miados. Mas Ronald de Carvalho não fez por menos, ao primeiro latido, retrucou: “há um cachorro na sala, mas não está do lado de cá”.
17 de fevereiro de 1922 — 6ª feira: 
A última noite da programação é totalmente dedicada à música de Villa-Lobos. O maestro Villa-Lobos se apresenta de casaca, mas com um pé calçado e outro com um chinelo. O público rejeitou a atitude “futurista” do maestro.
A repercussão da Semana de Arte Moderna não foi muito boa. A imprensa, com exceção do jornal O Estado de São Paulo, desdenhou o movimento. 
Manifesto da Poesia Pau-Brasil
	A maior parte das propostas da primeira geração modernista foi apresentada na forma de manifestos. O primeiro foi Manifesto da Poesia Pau-Brasil, produzido em tom de paródia e festa, em forma de prosa poética e linguagem telegráfica, por influência do futurismo e do cubismo. Foi lançado por Oswald de Andrade, em 18 de março de 1924, no Correio da Manhã. 
	Tinha como ideal conciliar as culturas nativa e intelectual, o uso da língua sem preconceitos e o resgate de todas as manifestações culturais, sem exceção.
	
Manifesto do verde-amarelismo ou Escola da Anta
	Em 1926, uma reação conservadora nasce com o manifesto Nhengaçu verde-amarelo conhecido também como Manifesto do verde-amarelismo ou Escola da Anta (1926 – 1929), publicado em maio. Esse manifesto defendia um estado forte e centralizador, assim como a adoção do nacionalismo ufanista e primitivista. Faziam parte do grupo Menotti del Picchia e Cassiano Ricardo, que adotam a Antacomo símbolo por ter sido um totem tupi. 
É uma corrente que criticava a estética Pau-Brasil, por ser um “nacionalismo afrancesada” e por discordar das causas que a corrente Pau-Brasil defendia. O Verde-Amarelismo adotou uma postura radical, passando a pregar ideias reacionárias e acabando por se associar ao integralismo de Plínio Salgado, é uma versão nacional do fascismo. 
Manifesto Antropofágico
O Manifesto Antropofágico foi lançado, em 1928, em reação ao nacionalismo ufanista da Anta. Ele tinha como proposta um aspecto anarquista. Foi publicado no jornal Diário de São Paulo. Algumas de suas propostas já puderam ser vistas na corrente Pau-Brasil. Oswald utiliza antropologia como uma metáfora do que precisaria ser assimilado, digerindo e superando para se alcançar a verdadeira independência cultural. Nos portaríamos como verdadeiros antropófagos, adotando uma postura crítica frente às influências europeias, digerindo o que interessasse e eliminando o restante. Uma proposta diferente, pois a postura nacionalista era diferenciada de todas as anteriores, que pregavam eliminar o que não fosse nacional ou representasse um símbolo. 
	Após a Semana de Arte Moderna a produção literária brasileira se modificou, pois ela possibilitou a liberdade de criação à produção dos modernistas. Ela foi manifestada na escolha de temas, no aspecto formal adotado pelo texto literário. O Modernismo passou a viver a fase heroica, como ficou conhecida a primeira geração modernista.
	Projeto literário da primeira geração modernista:
Busca pela identidade nacional;
Abandono das perspectivas passadistas e liberdade formal;
Aproximação entre a fala e escrita na linguagem.
Passadismo- culto ao passado, saudosismo.
Ufanismo - Comportamento de quem se orgulha exageradamente de algo. Patriotismo em excesso; orgulho 		 desmedido de seu próprio país: o ufanismo aparece em competições esportivas.
Ruptura com o passadismo, com o academicismo, com a sintaxe e aproximação entre linguagem literária e coloquial;
Liberdade formal. Os poetas teriam liberdade de compor seus versos sem métrica (livres) e brancos (sem rimas);
Pontuação livre ou ausência de pontuação;
Livre associação de ideias;
Valorização de temas ligados ao cotidiano;
Postura crítica em relação aos valores sociais burgueses;
Humor como forma de crítica;
Nacionalismo crítico ou ufanista;
Sobreposição de imagens e/ou simultaneidade;
Influência do Futurismo, de Marinetti. Segundo o futurista, a arte deve privilegiar a velocidade;
Influência do Cubismo quando se trata de sobreposição de imagens.
	No poema Pronominais há essa preocupação. O poeta diz que o “bom brasileiro” é aquele que fala o português do Brasil, não imita a sintaxe lusitana. Ao propor iniciar as frases com o pronome átono, Oswald de Andrade rompe com uma das regras da colocação pronominal, herança do português de Portugal. 
	 Pronominais 
Dê-me um cigarro 
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco 
	Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro
 Oswald Andrade 
	Mario de Andrade apresenta, em seu primeiro livro de poesia, o texto “Prefácio interessantíssimo”, que abre a sua obra Pauliceia Desvairada (1922). Nele, o poeta apresenta a essência da sua poesia; arte + lirismo = poesia. Nesse prefácio, o autor decreta que está “fundado o Desvairismo”. São flagrantes as influências do futurismo, de Marinetti, com sua máxima “palavras em liberdade”. Em “Prefácio Interessantíssimo” estão presentes as considerações sobre suas expectativas quanto aos caminhos da arte brasileira. 
	Manuel Bandeira faz uso da linguagem na apresentação das situações cotidianas. Tem a capacidade de ver as cenas corriqueiras, as situações mais comuns do dia a dia depuradas por olhos líricos, e de refazê-las, recriá-las em poemas que utilizam uma linguagem simples. Essa é a marca de maior importância de sua poesia. 
Ele deixou várias contribuições para a literatura brasileira. Destacam-se a solidificação da poesia modernista com a presença dos versos livres, o coloquialismo e a liberdade criadora. 
Resumindo:
Com a Semana de Arte Moderna em 1922 tem início a Primeira Fase do Modernismo, que também é chamada de Fase Heróica. Pode-se caracterizar tal fase por um maior compromisso dos artistas com a renovação estética inspiradas nas vanguardas europeias  como o cubismo, o futurismo, o surrealismo e outros. A linguagem literária tenta romper com o tradicional, sendo algumas dessas mudanças: a liberdade formal, a valorização do cotidiano, reescritura de textos do passado, etc. É também importante ressaltar que foi durante este período que surgiram os grupos de movimento modernista, entre eles o Pau-Brasil, Antropófago e Verde-Amarelismo, por exemplo.
Aula 3: O Modernismo Literário no Brasil – A Segunda Fase Modernista -1930 até 1945 
Verificaremos qual foi o projeto literário e as propostas da segunda fase modernista;
Constataremos o amadurecimento literário dessa fase;
Abordaremos as características da produção poética de Carlos Drummond de Andrade e Murilo Mendes, entre outros.
	A segunda geração modernista apresenta uma nova postura em relação ao universo artístico e literário.  A necessidade de chocar o público, de destruir o passado literário já não é mais o objetivo desta geração. Essa é a fase de consolidação do Modernismo no Brasil. É a fase áurea.
	Os poetas da década de 30 estão com seus interesses voltados para os temas sociais de seu tempo. Estar no mundo, ter de se confrontar com a realidade passam, também, a ser temas abordados pelos poetas desta geração. Podemos dizer que, em 1930, as propostas defendidas pela fase heroica foram consolidadas. O verso livre, a poesia sintética, a afirmação de uma língua nacional, brasileira, a abordagem de temas do cotidiano se fazem presentes.
	
	A segunda geração modernista, por não precisar combater os dogmas artísticos e literários do passado nem se autoafirmar, pode, com muita tranquilidade, reutilizar recursos poéticos que eram inadmissíveis para a primeira geração. Foram revalorizados os versos regulares, a métrica, as formas fixas, como exemplo, podemos citar o soneto, a balada, o rondó e o madrigal.
	Muitos podem estar pensando que a segunda geração modernista é, na verdade, uma geração antimodernista dentro do próprio cenário modernista. Mas é puro engano. Estes poetas da segunda geração levaram tão a sério as lições da poesia da primeira fase que, com maturidade, adotaram, nas suas produções poéticas, a liberdade de expressão. E se estamos falando em liberdade de expressão, por que os poetas da segunda geração não poderiam lançar mão dos recursos estilísticos que lhes agradassem?
	Ao nos depararmos com os poemas desta geração, podemos perceber uma nova preocupação de nossos artistas: os seus poemas passam a questionar a realidade. Neste questionamento, esses artistas também questionam seu papel como indivíduo e como artista na sua “tentativa de explorar e de interpretar o estar-no-mundo”. Dessa forma, a literatura passa a ser mais politizada, se aproxima dos temas sociais de seu tempo. E por falar em tempo, cabe traçar um breve panorama dos acontecimentos políticos no mundo e no Brasil para entendermos melhor as problematizações abordadas, por nossos poetas, em suas obras.
	A década de 1930 vivencia a crise iniciada com a quebra da Bolsa de Nova York (1929). Logo em seguida, vem o colapso do sistema financeiro internacional, é o período da Grande Depressão. É neste período que ocorrem as paralisações nas fábricas, falências bancárias, índice de desemprego elevadíssimo, fome e miséria. Os países, para conter as crises internas, recorrem à intervenção estatal.
	Além de problemas econômicos, a Grande Depressão gera problemas no âmbito social: avanço dos partidos socialistas e comunistas, o que provoca choques ideológicos com a classe burguesa que passaa desejar um Estado autoritário, um Estado fascista. Como exemplo, podemos citar o ditador italiano Mussolini, Hitler, na Alemanha, Franco, na Espanha e Salazar, em Portugal.
	O desenvolvimento de regimes nazifascistas, o armamentismo e as derrotas sofridas na Primeira Grande Guerra (1914 – 1918) levam o mundo para a Segunda Guerra Mundial (1939 - 1945) e também para outras atrocidades como ao ataque atômico a Hiroshima e Nagasaki, em 1945. Enquanto isso, no Brasil, Getúlio Vargas inicia sua ditadura em 10 de novembro de 1937 – o chamado Estado Novo - e só termina com a renúncia do presidente, em 1945. Este período foi marcado por um nacionalismo conservador, anticomunista e antidemocrático.
	A Segunda Guerra deixou mais que cidades arruinadas por bombas. Ela nos forçou a encarar a barbárie humana e a ver o que o homem pode fazer por preconceito e pelo desejo desmedido de poder. É o que aponta o poema “Visão 1944”, do livro Rosa do Povo, de Carlos Drummond de Andrade. O poema é o registro do assombro dos autores ao refletirem sobre a crueldade que o homem é capaz de praticar. No quadro Guerra, de Lasar Segall, produzido em 1942, notamos como as duas guerras e os conflitos existenciais que elas provocaram, marcaram a segunda geração modernista.
	Em 1928, Carlos Drummond de Andrade, afinado com o grupo da primeira geração modernista, publica, na Revista de Antropofagia, o poema No meio do caminho. No Meio do Caminho, na época de sua publicação, provocou um verdadeiro escândalo. Hoje em dia não suscita emoções tão fortes, mas ainda é muito apreciado.
	Em 1930, Drummond publica o livro Alguma Poesia, que marca o início da poesia da segunda geração modernista. 
	Drummond, além de poeta, foi contista e cronista, mas foi na poesia que o poeta mais se destacou.
Como sua produção é bem rica, didaticamente costuma-se dividir suas obras em fases: gauche, social, o signo do não e tempo da memória. Nesta aula, veremos as duas primeiras.
	
A fase gauche
Os livros que representam esta fase são dois: Alguma poesia (1930) e Brejo das Almas (1934). Ainda estão presentes, nestas obras, alguns recursos adotados pelos poetas da primeira fase modernista tais como a ironia, o humor, o poema-piada e a linguagem coloquial. Veja como o poema Cota Zero se aproxima dos poemas-pílula que Oswald de Andrade produzia nos anos 20. (http://www.poesiaspoemaseversos.com.br/cota-zero-carlos-drummond-de-andrade/)
Cota Zero
Stop. 
A vida parou ou foi o automóvel!
A essência desta primeira fase da poesia de Drummond é o gauchismo: termo de origem francesa que, quando aplicado a seres humanos, significa “aquele que se sente às avessas, torto”. Podemos perceber nos poemas drummondianos, desta fase, a presença do pessimismo, do individualismo, da reflexão existencial, da ironia. Drummond fazia uso, também, da metalinguagem. O Poema de Sete Faces pode ser chamado de carro-chefe do gauchismo.
	Poema das sete faces
Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.
As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.
	Até o fim (Chico Buarque)
Quando nasci veio um anjo safado
O chato do querubim
E decretou que eu estava predestinado
A ser errado assim
Já de saída a minha estrada entortou
Mas vou até o fim
"inda" garoto deixei de ir à escola
Cassaram meu boletim
Não sou ladrão , eu não sou bom de bola
Nem posso ouvir clarim
Um bom futuro é o que jamais me esperou
Mas vou até o fim
Este poema de Drummond inspirou Chico Buarque a ponto de ele compor Até o fim, canção que estabelece uma relação intertextual com o Poema de Sete faces.
A fase social
Sentimento do mundo (1940) é o livro que representa a fase social de Drummond. Segundo depoimento do próprio poeta, com este livro, ele acreditava ter resolvido as contradições elementares de sua poesia.
	Nessa fase, Drummond deixa de lado o gauchismo e passa a se preocupar com problemas da vida social. Com certeza, esta mudança temática relaciona-se ao contexto político do momento: o nazifascismo europeu, a Segunda Guerra Mundial e o Estado Novo, no Brasil, com a ditadura de Vargas, como já tivemos a oportunidade de ver no início desta aula.
	Drummond nutre, nesta fase, um sentimento de solidariedade diante das frustrações e das esperanças dos homens. Produz, em meio à Segunda Guerra Mundial, um poema que, para muitos críticos e teóricos da literatura brasileira, representa o melhor de nossa poesia social. 
	Nessa fase, o poeta se solidariza com os problemas do mundo.
	José
E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
	você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama 
protesta,
e agora, José?
Murilo Mendes
Murilo Mendes, entre outros poetas e artistas, na década de 30, fazia parte de um grupo católico que defendia a renovação do catolicismo e da arte. O poeta acreditava que o cristianismo politizado e envolvido com as questões do dia a dia era a única via capaz de fazer valer a justiça, paz e igualdade social. 
	Murilo Mendes, em seus poemas, cultivou a poesia metafísico-religiosa, a poesia social, e a poesia surrealista. Para muitas pessoas, Murilo Mendes é considerado um escritor difícil. Talvez este adjetivo se deva pelo fato de que sua poesia causa estranhamento pela utilização de uma linguagem fragmentada, pela presença de imagens insólitas e pela visão messiânica do mundo. Na concepção de Murilo Mendes, o mundo é o próprio caos e isto fica evidente em seus poemas, pois há sempre a subversão da ordem das coisas instituídas para reorganizá-las de acordo com leis próprias.
	Poemas (1930), obra de estreia de Murilo Mendes, já apresenta dilaceração do sujeito e conflito, estados de lucidez e delírio. Em 1932, Murilo publicou História do Brasil (1932), uma obra de cunho nacionalista sob o viés ufanista-irônico. Visionário (1941) é a obra em que estão presentes sugestões surrealistas e atmosfera onírica. Em 1935, o poeta escreveu com Jorge de Lima, Tempo e eternidade. Esta obra marca a fase de conversão do Murilo ao cristianismo.
Vejamos, agora, alguns poemas do autor e a tela surrealista de Magritte: clique no ícone PDF.
	Convém mencionar que Cecília Meireles, Jorge de Lima e Vinícius de Morais também fizeram parte desta segunda fase modernista.
	A pescaria
Foi nas margens do Ipiranga,
Em meio a uma pescaria,
Sentindo-se mal, D. Pedro
Comera demais cuscuz
Desaperta a braguilha 
E grita, roxo de raiva:
	“Ou me livro desta cólica
Ou morro logo de uma vez!”
O príncipe se aliviou,
Sai no caminho cantando:
“Já me sinto independente.
Safa! Vi de perto a morte
Vamos cair no fadinho
Pra celebrar o sucesso.”
	O projeto literário da poesia da segunda geração modernista foi refletir sobre o sentido de estar no mundo, reflexão que estava integrada à grande preocupação de renovação da linguagem iniciada na geração anterior. Assim como a análise do ser humano e das suas angústias, compreender a relação entre o indivíduo e a sociedade em que ele está inserido são os motes presentes na poesia dessa década. Ou seja, a segunda geração tem como característica principal a produção com enfoque no contexto sóciopolítico. 
	
CECÍLIA MEIRELES
	Cecília Meireles (1901 – 1964), primeira mulher a se destacar no cenário da poesia nacional, produziu diversos livros. Iniciou na literatura participando da denominada “corrente espiritualista” da segunda geração e que formaria o grupo da revista Festa, neossimbolista. Mais tarde, afastou-se desses artistas mantendo as características intimistas e introspectivas. Por isso, a sua obra reflete uma ambiência de sonho, de fantasia, em que a solidão também faz-se presente. Destacam-se entre suas obras: Espectros (1919), Viagem (1939), Vaga música (1942), Mar absoluto (1945), Retrato natural (1949, Romanceiro da Inconfidência, canções (1956) e Ou isto ou aquilo (poesiainfantil 1964).
	O famoso poema “Motivo”, no qual Cecília trabalha a metalinguagem, foi musicado por Raimundo Fagner. Cecília convivia com a morte desde antes do seu nascimento em 07 de novembro de 1901, pois perdera seus três irmão mais velhos; três meses após o seu nascimento ocorre o falecimento do seu pai e aos três anos, perde a sua mãe. Daí o sentimento de que tudo na vida passa. Essa noção de transitoriedade será incorporada em sua vida e nas suas obras. 
	Motivo (da obra-prima Viagem -1939)
Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa. 
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.
Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.
	 Retrato (da obra-prima Viagem -1939)
 
Eu não tinha este rosto de hoje 
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força;
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.
VINÍCIUS DE MORAES
	Vinícius de Moraes (1913 – 1980) é mais conhecido como cantor e compositor, mas iniciou a sua obra poética em 1930, com a obra “O caminho para distância” (1933), com uma clara influência simbolista. Suas produções iniciais aproximam-se dos temas trabalhados por outros autores da mesma geração, como a religiosidade e a angústia ligada à oscilação entre matéria e espírito. Depois volta-se para temas sobre os aspectos do cotidiano e relacionamento amoroso. 
	Podemos notar a influência da poesia camoniana em seus poemas de amor, pois há tentativa de analisar o amor na forma poética escolhida, que são os sonetos, assim como o uso frequente de antíteses que expressam as contradições desse sentimento. Podemos destacar as obras Novos Poemas (1938), Poemas, sonetos e baladas (1946), Pátria minha (1949) e Orfeu da Conceição (Peça de teatro de 1956). 
	
Aula 4: O Modernismo Literário no Brasil – A Terceira Fase Modernista
Conforme estudamos nas Aulas 2 e 3, o modernismo se divide em três fases: a primeira tem inicío com a Semana de Arte Moderna de 1922, a segunda começa em 1930 e a terceira tem como ponto de partida o ano de 1945.
O ano de 1945 foi bem conturbado. Ao mesmo tempo que o mundo presenciou, aliviado, o fim da Segunda Guerra Mundial, teve o desprazer de assistir ao início da Era Atômica com as explosões em Hiroshima e Nagasaki.
Houve também momentos de esperança, como a criação da Organização das Nações Unidas (ONU), em outubro, e a publicação da Declaração Universal dos Direitos do Homem, proclamada em Paris pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 10 de Dezembro de 1948. Vejamos um trecho do seu Preâmbulo:
“(...) Considerando que os povos das Nações Unidas reafirmaram, na Carta da ONU, sua fé nos direitos humanos fundamentais, na dignidade e no valor do ser humano e na igualdade de direitos entre homens e mulheres, e que decidiram promover o progresso social e melhores condições de vida em uma liberdade mais ampla (...), a Assembleia Geral proclama a presente Declaração Universal dos Diretos Humanos como o ideal comum a ser atingido por todos os povos e todas as nações…”
Os painéis Guerra e Paz (1952- 1956) foram pintados por Portinari para a sede da ONU, em Nova York.
(http://www.samshiraishi.com/o-projeto-portinari/)
Mesmo assim, mais uma vez, a crença num mundo melhor cairia por terra com início da chamada Guerra Fria, período marcado pela crescente hostilidade entre as grandes potências mundiais.
No Brasil, em 1945, o povo vivencia o fim dos 15 anos do Estado Novo, a ditadura de Getúlio Vargas, o que dá início a uma fase de redemocratização do país. Em termos literários, a produção brasileira passa por diversas alterações.
Na poesia, por exemplo, a chamada geração de 45, formada por Lêdo Ivo, Péricles Eugênio da Silva Ramos, Geir Campos e Darcy Damasceno, se opõe às inovações e conquistas dos modernistas da primeira geração. O grupo rejeita a liberdade formal, as ironias e as sátiras, e se propõe a produzir uma poesia mais “equilibrada e séria” bem diferente do “primarismo desabonador”, expressão que utiliza para se referir à produção literária de Mário de Andrade e Oswald de Andrade. Essa terceira fase é chamada de neoparnasiana.
Porém, no final dos anos 40, surge um poeta que, embora não estivesse filiado a nenhum grupo modernista, foi a fundo nas experiências inovadoras das gerações modernistas anteriores. Estamos falando do pernambucano João Cabral de Melo Neto (1920 - 1999).
João Cabral de Melo Neto apresentou uma poesia substantiva, com objetividade e precisão dos vocábulos. Há também no poeta influências do surrealismo.
A título de curiosidade: no período em que viveu na Espanha, o poeta brasileiro ficou amigo do pintor surrealista catalão Joan Miró (1893-1983). Em 1942, João Cabral publica sua primeira obra, Pedra do sono. Nela já estão presentes a objetividade, a concretude, o lado “pedra” e um outro lado de sugestão surrealista - o lado “sono”-, que podemos verificar no próprio título do livro. O poema abaixo é um excelente exemplo para ilustrar do que estamos tratando.
Os manequins
 
Os sonhos cobrem-se de pó.
Um último esforço de concentração
morre no meu peito de homem enforcado.
Tenho no meu quarto manequins corcundas
onde me reproduzo
e me contemplo em silêncio.
Na poesia de João Cabral há o planejamento do poema e a reflexão sobre o próprio processo de composição. Essas são as bases do seu fazer literário. Existe a preocupação de extrair a significação máxima de cada signo. Ele trouxe para o poema aridez do espaço em que foi criado, sendo fiel às suas origens. Seu universo poético é essencialmente nordestino e com várias referências à Zona da Mata e ao Sertão do autor pernambucano. 
Utiliza uma linguagem sem ornamentos, ou seja, “uma faca só lâmina”, e pela linguagem de seus versos, que não falam de sentimentos, não abordam estados de espíritos, foi conhecido pela crítica com um poeta não lírico.
Os metapoemas, são uma constante em sua obra, nos quais recorre à aproximação entre a escrita e outra atividade do cotidiano, e acaba por oferecer imagens que simbolizam o que deseja refletir.
Poesia sem coração, fria.
Em 1945, Cabral publica seu terceiro livro, O engenheiro. Nesta obra, percebemos que o poeta se afasta das sugestões surrealistas de seu primeiro livro e apresenta uma nova tendência de composição literária: a geometrização e a exatidão da linguagem. Veja como o poema abaixo exemplifica bem o que acabamos de falar:
Com o passar dos anos, João Cabral vai elaborar uma nova concepção de poesia. Em seus poemas, não se fazem presentes versos de sentimentos ou de abordagem introspectiva. O poeta propõe a dessacralização da “poesia profunda”. Propõe a poética da linguagem-objeto, isto é, um exercício de metalinguagem: a linguagem que, pela própria construção, sugere o assunto de que vai tratar.
O Engenheiro
A Antônio B. Baltar
A luz, o sol, o ar livre
envolvem o sonho do engenheiro.
O engenheiro sonha coisas claras:
superfícies, tênis, um copo de água.
O lápis, o esquadro, o papel;
o desenho, o projeto, o número:
o engenheiro pensa o mundo justo,
mundo que nenhum véu encobre.
João Guimarães Rosa (1908-1967) estreou na literatura somente em 1946, com o livro de contos Sagarana. Também são de sua autoria Grande sertão: veredas; Primeiras estórias; Tutaméia - Terceiras estórias e Corpo de Baile. Mas foi graças ao livro de poemas Magma que o escritor mineiro ganhou, em 1936, o concurso de poesia promovido pela Academia Brasileira de Letras e foi reconhecido por seu talento literário.
A título de curiosidade: embora o livro tenha vencido o concurso, Guimarães Rosa nunca permitiu sua publicação, por achar que os poemas não tinham qualidade suficiente para isso. Somente em 2006 sua família autorizou a publicação da obra.
Sagarana surpreendeu o público e a crítica por apresentartemas regionalistas através de uma linguagem bastante original.
A questão da linguagem na prosa regionalista sempre foi um problema a ser solucionado: o ficcionista deveria adotar a variedade padrão ou variedade regional? Muitos optaram, talvez, pela solução mais prática: a mistura das variedades linguísticas. O narrador utilizava a linguagem padrão, enquanto os personagens utilizavam a linguagem típica do sertão. O que se pode verificar é que o emprego da língua regional se restringia ao vocabulário.
Guimarães Rosa propõe uma revolução na linguagem regionalista, ao recriar na literatura a fala do sertanejo, em dois planos: no vocabulário e na construção e melodia das frases. 
Rosa dá voz a seu sertanejo adotando o foco narrativo em 1ª pessoa. A língua falada no sertão está sempre presente em suas obras, seja por meio do discurso direto ou do discurso indireto livre.
Guimarães Rosa não tem intenção de reproduzir realisticamente a linguagem do sertão. Ele recria a própria língua portuguesa, pela reutilização de termos em desuso e a criação de neologismos. Somado a isso, o ficcionista lança mão de recursos próprios da poesia como, por exemplo, o ritmo, as aliterações e as metáforas. Dessa forma, a ficção de Rosa situa-se no limite entre a poesia e a prosa.
Outro aspecto bastante discutido na obra de Guimarães Rosa é sua capacidade de trabalhar ao mesmo tempo com o regional e o universal.
No romance Grande sertão: veredas, o narrador Riobaldo afirma: “O sertão é o mundo”. É a partir dessa fala que Guimarães Rosa envolve seus leitores, como se fossem todos sertanejos e jagunços. A narrativa apresenta temas profundos e universais, mas vivenciados por seus personagens – homens rudes do sertão mineiro. Como exemplo, podemos citar questões que envolvem amor e traição, o bem e o mal, a violência e a vingança.
Davi Arrigucci Jr. assim comenta o paradoxo presente no título do romance de João Rosa:
“O título sugere um espaço vasto, contrastando com o termo veredas. Vereda, como se sabe, quer dizer caminho estreito, senda ou trilho, mas no livro é também o curso fluvial pequeno: rio é só o São Francisco, o Rio Chico. O resto pequeno é vereda. E algum ribeirão.
É terreno baixo, alagadiço, onde em geral há um curso d’água. Na topografia do sertão, dominam os tabuleiros, as chapadas, que se prolongam em chapadões; a encosta onde a umidade já se pressente é o resfriado; a parte baixa é a vereda. Grande sertão: veredas liga, pois, o pequeno ao grande, o espaço restrito ao espaço amplo, em justaposição. O título é o encontro desses dois espaços.”
Caetano Veloso prestou belíssimas homenagens a Guimarães Rosa: com a canção Língua, em 1984, e alguns anos depois, em parceria com Milton Nascimento, com a canção A terceira margem do rio, de 1991, cuja letra é baseada no conto homônimo do ficcionista.
Essa fase do modernismo se afasta da primeira fase e passa a valorizar a forma, ou seja, a estética.
Aula 5: A Prosa de Ficção Modernista – Experimentalismo e Regionalismo
Temáticas: regionalismo, o homem sertanejo, problemas do trabalhador rural, ignorância, seca, miséria, retirantes, migração. Destacaram-se também outras temáticas: romances urbanos, romance poético-metafísico e narrativa surrealista.
Esta aula será dividida em dois momentos: no primeiro, trataremos da prosa experimental de Oswald de Andrade e de Mário de Andrade; no segundo, será a vez da prosa regionalista de Graciliano Ramos e de Jorge de Amado.
Oswald de Andrade e Mário de Andrade dispensam apresentações: já são nossos “velhos” conhecidos da primeira geração modernista. Mas agora eles nos revisitam com suas prosas experimentais.
As primeiras produções em prosa de Oswald de Andrade são os romances Memórias sentimentais de João Miramar, escrito antes de 1916, mas publicado em 1924, e Serafim Ponte Grande, de 1933. Os princípios defendidos nos manifestos Pau-Brasil e Antropofágico estão presentes nestas duas obras.
Podemos dizer que Memórias sentimentais de João Miramar e Serafim Ponte Grande representam o amadurecimento do autor e a radicalização do emprego de algumas técnicas inovadoras, como exemplo, a mescla de prosa e poesia, estrutura fragmentária, estilo elíptico e telegráfico, sátira paródica, linguagem jornalística, utilização da linguagem cotidiana presente em discursos, bilhetes, anotações, cartas.
O romance fala da vida de João Miramar, que podemos chamar de caricatura do homem paulistano da alta classe, herdeiro da cultura do café, que não gosta das coisas brasileiras, mas é fascinado pelo que é estrangeiro. Assim como Oswald de Andrade na juventude.
Memórias sentimentais de João Miramar teve várias versões. Mas a que se oficializou foi a com 163 capítulos de escrita telegráfica. Neste romance, Oswald mistura estilos. Tem por objetivo a verborragia bacharelesca.
Oswald, nesta obra, produz um texto condensado em episódios-relâmpago. Em termos de linguagem tenta comprimir ao máximo. Tinha por objetivo transmitir o máximo de informação com o mínimo de palavras.
E por falar em linguagem, o experimentalismo com a linguagem é o ápice de sua obra. Podemos percebê-lo no jogo de metonímias, na presença de neologismos, trocadilhos, hipérbatos.  Oswald diz que Memórias sentimentais de João Miramar é “forma em romance de poema”.
Nos breves capítulos do romance, o modernista vai da verborragia, na voz de alguns personagens, à composição de corte cinematográfico. Na opinião de Antonio Candido, esse romance oswaldiano “ é uma tentativa seríssima  de estilo e narrativa, ao mesmo tempo que um primeiro esboço de sátira social”.
Perceba como a linguagem fragmentada se aproxima da maneira como  as crianças falam. 
Observe o relato de Miramar, o narrador, falando de sua infância.
	"Jardim desencanto
O dever e processões com pálios
E cônegos
Lá fora
E um circo vago e sem mistérios
Urbanos apitando noites cheias
Mamãe chamava-me e conduzia-me para dentro do oratório de mãos grudadas.
	- O anjo do Senhor anunciou à Maria que estava para ser a mãe de Deus.
Vacilava o morrão do azeite bojudo em cima do copo. Um manequim esquecido avermelhava.
- Senhor convosco, bendita sois entre as mulheres, as mulheres não tem pernas, são como o manequim de mamãe até embaixo. Para que nas pernas, amém.”
Neste fragmento, verificamos uma narrativa ágil, as informações fluem, quase que em um fluxo de consciência. Não há preocupação do narrador em transmitir informações específicas sobre determinados assuntos. Há uma mistura de dados para sugerir a falta de concentração, muito comum ao raciocínio de uma criança. Outro dado interessante é a ausência da pontuação, o que ratifica a tese de que Miramar relata sua infância como se fosse uma criança.
Miramar, além da poesia, utiliza a linguagem referencial. 
Veja o fragmento:
 
Terremoto
"O Pantico estava na Bélgica em pleno perigo de ser fuzilado ou morrer de fome.
Mas depois de copos espumantes de leite eu acreditava de geografia aberta sobre a mesa que a situação dos alemães não era brilhante. Em vinte dias eles apenas tinham entrado em Bruxelas e tomado Liège, a cidade, conservando-se nas mãos dos heróis belgas a linha de fortes quase completa. E na fronteira intacta da França deviam reunir-se com certeza nessa hora dois milhões de soldados.
Para alguns teóricos, Oswald de Andrade, ao trabalhar a linguagem em Memórias sentimentais de João Miramar, coloca em xeque a capacidade do leitor em entender a obra. Para eles, essa obra não sofreu influência da vanguarda cubista, mas é uma obra cubista em todos os sentidos.
Estes recursos servem para romper com o passado estético. É, na verdade, um convite à destruição bem ao gosto da primeira geração modernista.
Serafim Ponte grande é considerada a obra mais radical de Oswald de Andrade. Em termos de composição, estão presentes a autobiografia, memórias, diário de confissão.
Como a obra toda é fragmentada, é quase impossível resumi-la. Podemos dizer que o texto é formado por pedaços de frases, capítulo-síntese, errata-capítulo,prefácio criticando o texto, dramas (paródia teatral), notícias de jornal, paródias de romance e poesia. Há, ainda, a utilização de códigos numéricos, símbolos matemáticos, etc.
MÁRIO DE ANDRADE
Macunaíma (1928), para muitos teóricos, é um dos livros mais importantes da literatura brasileira. Sua composição narrativa se assemelha aos romances acima vistos de Oswald de Andrade. Em Macunaíma, também podemos verificar rupturas narrativas de tempo e espaço. Rupturas linguísticas: mescla de culto e popular, o urbano e o regional, o escrito e o oral. O que contribuí para uma “fala brasileira”.
O termo Macunaíma é originário da Venezuela e da Guiana – Makunaíma, que significa “o Grande Mau”. Era o Grande Mau, poderoso e transformador que ressuscitava os mortos. Mas o nosso Macunaíma modernista não se assemelha ao da lenda venezuelana, pois sua figura é muito mais humana do que mitológica.
Gilda de Mello e Souza, em O Tupi e o alaúde – uma interpretação de Macunaíma, assim define o herói: heterogêneo, indeciso, descaracterizado. Darcy Ribeiro acrescenta outros predicativos – astuto, insaciável, esperto, encantador, grotesco, imprudente, covarde e preguiçoso. Haroldo de Campos vê Macunaíma como “o herói in progress”, insubmisso a padrões rígidos, insuscetível de ser legitimado.
Vejamos a definição de seu próprio criador: “uma sátira universal ao homem contemporâneo”. Talvez a definição de José Miguel Wesnik para Macunaíma seja, além de cômica,  a que melhor traduz nosso personagem: “não se trata de um mau caráter, mas de um herói sem caráter. Macunaíma é um preguiçoso, tem preguiça até de ter caráter”.
Em termos de gênero, a obra também é indefinida. Inicialmente Mário de Andrade a chamou de história, mas preferiu caracterizá-la de rapsódia, o que Cavalcanti Proença, em Roteiro de Macunaíma, concordou com o autor. Observe a fala do crítico: “tanto no sentido musical de obra composta com temas populares, quanto no sentido de narrativa em que se recolhem e se fundem vários motivos fabulatórios tradicionais, à maneira dos rapsodos gregos”.
Macunaíma, Memórias sentimentais de João Miramar e Serafim Ponte Grande formam uma tríade para se pensar a ficção experimental do início do século XX. Percebemos, nessas obras, uma liberdade expressiva que nunca se separa da visão crítica da própria linguagem e das questões sociais de seu tempo.
A prosa regionalista brasileira de 1930 foi produzida no mesmo contexto histórico e literário em que ocorreu a segunda geração modernista. Abordando temas como a seca, o coronelismo, o cangaço, dentre outros, representa um momento de maturidade da ficção modernista brasileira.  Entre vários nomes de prosadores da década de 30, destacamos dois: Graciliano Ramos e Jorge Amado.
Graciliano Ramos (1892 - 1953), em seus romances, retratou o universo do sertanejo nordestino: o fazendeiro autoritário e o caboclo comum, um homem de inteligência limitada, vítima da seca e submisso diante dos poderosos.
Segundo Alfredo Bosi, Vidas secas dispersa-se em farrapos de ideias, na desagregação que o meio arrasta o destino inútil dos personagens Fabiano, Sinhá, Vitória e a cadela Baleia. São Bernardo consegue mostrar toda a sua força no foco narrativo em primeira pessoa. Esta obra traduz o nível de consciência de um homem que absorveu toda a agressividade de um sistema competitivo para poder conseguir, com muito sacrifício, um lugar ao sol.
Também são de autoria de Graciliano Ramos: Angústia, Memórias de um Cárcere, Insônia e Alexandre e outros heróis.
Jorge Amado (1912-2001)
 
Jorge Amado assim se define: “(sou) apenas um baiano romântico e sensual”.  Suas obras apresentam o seu interesse temático: marginais, pescadores, marinheiros baianos. Por ter sido um cronista de tensão mínima, soube agradar ao público. Segundo Alfredo Bosi, “o populismo literário deu uma mistura de equívocos, e o maior deles será por certo o de passar por arte revolucionária”.
Bosi, em História concisa da literatura brasileira, apresenta cinco fases distintas nas obras de Jorge Amado.
um primeiro momento de águas-fortes da vida baiana, rural e citadina (Cacau e Suor), que lhe deram a fórmula do “romance proletário”;
depoimentos líricos, isto é, sentimentais, espraiados em torno de rixas e amores marinheiros (Jubiabá, Mar morto e Capitães da Areia);
um grupo de escrito de pregação partidária (O cavaleiro da Esperança e O Mundo da Paz);
alguns grandes afrescos da região do cacau, certamente suas invenções mais felizes que animam de tom épico as lutas entre coronéis e exportadores (Terras do Sem-Fim, São Jorge dos Ilhéus);
Mais recentemente, crônicas amaneiradas de costumes provincianos (Gabriela Cravo e Canela, Dona Flor e seus Dois Maridos). (...). Na última fase abandonam-se os esquemas de literatura ideológica que norteiam os romances de 30 e de 40; e tudo se dissolve no pitoresco, no “saboroso”, no “gorduroso”, no apimentado do regional.
SÍNTESE DA AULA
Reconheceu que o contexto histórico e literário em que a prosa modernista de 30 foi produzida é o mesmo no qual ocorreu a segunda geração modernista;
analisou a prosa experimental de Mário de Andrade e de Oswald de Andrade;
identificou as prosas regionalistas dos romancistas representativos desse período.
SLIDES
Nesta aula, veremos que o contexto histórico e literário em que a prosa modernista foi produzida é o mesmo vivenciado pelos poetas da segunda geração modernista.
Analisaremos a prosa experimental de Mário de Andrade e de Oswald de Andrade, produzida naquele período.
Apresentaremos as prosas modernistas de alguns romancistas representativos do regionalismo brasileiro.
Seca intensa na região semiárida do Nordeste (1914–1915), entre 1919 e 1921, é responsável pelo enorme crescimento do êxodo rural no Nordeste. Este fato chama a atenção da imprensa, da opinião pública e do Congresso Nacional, que exigem a atuação do governo. Em 1920, foi criada a Caixa Especial de Obras de Irrigação de Terras Cultiváveis do Nordeste Brasileiro, que seria mantida com 2% da receita tributária da União e outros recursos. Entretanto, nada foi feito para amenizar os efeitos causados pela seca.
 
Jorge Amado publica O país do carnaval, seu primeiro romance, em 1931;
Casa-grande & senzala, de Gilberto Freyre, é publicada em 1933, tendo sido uma referência para os escritores da geração de 1930;
Em 1935, ocorre a intentona Comunista, que pretendia derrubar Getúlio Vargas;
Em 1936, Graciliano Ramos é preso sob a acusação de ser comunista;
Rachel de Queiroz, acusada de subversão, é presa em 1937;
Em 1938, Virgulino da Silva, o Lampião, rei do cangaço, é morto em Sergipe;
Em 1939, é criado o Departamento de Informação e Propaganda e Dorival Caymmi faz sucesso com a música “O que é que a baiana tem ?” 
Em 1945, ocorre a prisão de Luiz Carlos Prestes por sua participação na Intentona Comunista. É legalizado o Partido Comunista Brasileiro e criado o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas, no lugar da Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas.
Na década de 1930, o Brasil testemunha um verdadeira explosão do romance. Os escritores, preocupados com país em que viviam, utilizaram a narrativa para denunciar a realidade, principalmente na região Nordeste, na qual milhares de pessoas estavam condenadas a viver na miséria.
	ONOMATOPÉIA- (Cap.8)"...No silêncio tique-taque..."(Antítese:-silêncio/barulho)
"Dez horas da noite, o relógio farto batia dão! dão! dão! dão! dão! dão! dão! dão! 
 dão! dão!
HIPÉRBATO - (Cap. 9) "... mapas do secreto Mundo." ao invés de "...mapas do Mundo secreto.
METONÍMIA -(Cap. 79) "... de geografia aberta sobre a mesa..." = mapa
O projeto literário do romance da geração de 1930 era revelar como uma determinada realidade, neste caso, o subdesenvolvimento brasileiro, influenciou a vida dos seres humanos. A maioria dos autores utilizou o conhecimento pessoal que tinham daquela realidade nordestina na execução de seus projetos. A única exceção foi o escritor Erico Veríssimo, uma vez suas obrasabordavam o homem e a sociedade a partir amplitude dos pampas do Rio Grande do Sul. 
Os escritores que produziam essa ficção concentravam-se em Maceió e não estando centralizados no Rio de Janeiro ou São Paulo. A prosa regionalista brasileira de 1930 foi produzida no mesmo contexto histórico e literário em que ocorreu a segunda geração modernista. Abordando temas como a seca, o coronelismo, o cangaço entre outros, representa um momento de maturidade da ficção modernista brasileira. Inovando desse modo, abandona a idealização romântica e a impessoalidade realista e passa apresentar uma visão crítica da relações sociais e também do impacto causado ao indivíduo pelo meio. Os romances produzidos neste período ficaram conhecidos como regionalistas ou neorrealistas.
Graciliano Ramos (1892 - 1953), em seus romances, retratou o universo do sertanejo nordestino: o fazendeiro autoritário e o caboclo comum, um homem de inteligência limitada, vítima da seca e submisso diante dos poderosos. 
O cuidado com as palavras é uma das características mais importantes da prosa deste autor. Nota-se na economia de adjetivos e advérbios e na escolha cautelosa dos substantivos o que colabora para a criação do “realismo bruto”, que define o olhar neorrealista do escritor. 
[...] Bichos. As criaturas que me serviam durante anos eram bichos. Havia bichos domésticos, como o Padilha. Bichos do mato, como Casimiro Lopes e muitos bichos para o serviço do campo, bois mansos.[...] São Bernardo (2005), p. 217 
São Bernardo consegue mostrar toda a sua força no foco narrativo em 1.ª pessoa. Esta obra traduz o nível de consciência de um homem que absorveu toda a agressividade de um sistema competitivo para conseguir, com muito sacrifício, um lugar ao sol. Segundo Alfredo Bosi, Vidas secas dispersa-se em farrapos de ideias, na desagregação que o meio arrasta o destino inútil dos personagens Fabiano, Sinhá, Vitória e a cadela Baleia. É o único romance do autor em que o foco narrativo é em 3º pessoa, nasceu do conto “Baleia”, os capítulos foram escritos fora da ordem da publicação. 
Outros importantes autores dessa geração são:
José Lins do Rego (1901 – 1957) – “Lembranças de um menino de engenho”. Nas obras do ciclo da cana-de-açúcar recria a realidade dos trabalhadores da região canavieira de Pernambuco, a partir da memórias da infância na fazenda de seu avô.
Raquel de Queiroz (1910 – 2003) – única mulher presente entre os escritores de prosa da geração de 1930. Dos horrores da seca de 1915, mudou-se de Fortaleza para o Rio de Janeiro. O fato marcou tanto a sua vida que em 1930 escreveu “O quinze”, aos 18 anos, que ajudou a firmar a tradição dos romances do “ciclo nordestinos”.

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