Buscar

Alterações do Comportamento Alimentar na Adolescência

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 51 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 51 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 51 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

UNIVERSIDADE VALE DO RIO DOCE 
FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS 
CURSO DE PSICOLOGIA 
 
 
 
 
 
 
Cidinéia Barreto Nunes 
Wellita de Almeida Guimarães 
 
 
 
 
 
ALTERAÇÕES DO COMPORTAMENTO 
ALIMENTAR NA ADOLESCÊNCIA : 
Anorexia, Bulimia e Obesidade 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Governador Valadares 
2009 
 1
CIDINÉIA BARRETO NUNES 
 WELLITA DE ALMEIDA GUIMARÃES 
 
 
 
 
 
 
 
ALTERAÇÕES DO COMPORTAMENTO 
ALIMENTAR NA ADOLESCÊNCIA : 
Anorexia, Bulimia e Obesidade 
 
 
 
 
Monografia apresentada ao curso de 
Psicologia da Faculdade de Ciências 
Humanas e Sociais da Universidade Vale 
do Rio Doce como requisito parcial para 
obtenção do título de Graduado em 
Psicologia. 
Orientador(a): Profª Kely Prata Silva 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Governador Valadares 
2009 
 2
CIDINÉIA BARRETO NUNES 
 WELLITA DE ALMEIDA GUIMARÃES 
 
ALTERAÇÕES DO COMPORTAMENTO 
ALIMENTAR NA ADOLESCÊNCIA : 
Anorexia, Bulimia e Obesidade 
 
Monografia apresentada ao curso de 
Psicologia da Faculdade de Ciências 
Humanas e Sociais da Universidade Vale 
do Rio Doce como requisito parcial para 
obtenção do título de Graduado em 
Psicologia. 
 
 
Governador Valadares, 15 de junho de 2009. 
 
 
Banca examinadora: 
 
________________________________________________________ 
Profª. Kely Prata Silva – Orientador(a) 
Universidade Vale do Rio Doce 
 
________________________________________________________ 
Prof. Adelice Jaqueline Bicalho 
Universidade Vale do Rio Doce 
 
________________________________________________________ 
Prof. Omar de Azevedo Ferreira 
Universidade Vale do Rio Doce 
 
 
 
 
 3
 
 AGRADECIMENTOS 
 
 
Agradecemos a Deus pela força durante essa caminhada. 
 
À nossa orientadora Kely Prata, pela dedicação e carinho. 
 
E às nossas famílias pelo apoio e incentivo, em especial aos nossos irmãos Selma e 
Washington pela confiança e credibilidade dedicadas a nós. 
 
Muito Obrigada! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 4
 
 
 
Comida 
 
Bebida é água, 
Comida é pasto. 
Você tem sede de quê? 
Você tem fome de quê? 
 
A gente não quer só comida, 
A gente comida, diversão e arte. 
A gente não quer só comida, 
A gente quer saída para qualquer parte. 
A gente não quer só comida, 
A gente quer bebida, diversão, balé. 
A gente não quer só comida, 
A gente quer a vida como a vida quer. 
 
Bebida é água, 
Comida é pasto. 
Você tem sede de quê? 
Você tem fome de quê? 
 
A gente não quer só comer, 
A gente quer comer e quer fazer amor. 
A gente não quer só comer, 
A gente quer prazer pra aliviar a dor. 
A gente não quer só dinheiro, 
A gente quer dinheiro e felicidade. 
A gente não quer só dinheiro, 
A gente quer inteiro e não pela metade. 
 
 (Arnaldo Antunes / Marcelo Fromer / Sérgio Britto – Titãs) 
 5
 RESUMO 
 
 
Na atualidade, observa-se um número cada vez maior de casos de agravos nutricionais 
decorrentes de alterações no comportamento alimentar na adolescência (anorexia, 
bulimia e obesidade) que representam fatores de risco para a vida dos envolvidos e 
implicam na necessidade de intervenção preventiva. Esta investigação visa o estudo do 
comportamento alimentar na adolescência e suas repercussões na saúde biopsicossocial 
do adolescente, enfocando os fatores de vulnerabilidade envolvidos no desenvolvimento 
de alterações nos hábitos e práticas alimentares e retratando as contribuições da 
Psicologia na implantação de medidas para prevenção e tratamento dessas mudanças. 
Trata-se de uma pesquisa bibliográfica, cujo delineamento permitiu identificar a 
produção acadêmico-científica sobre a temática no sentido de compreender tanto o 
desenvolvimento dos transtornos alimentares e da obesidade quanto as medidas 
preventivas e interventivas propostas. A análise da literatura científica aponta a 
existência de fatores envolvidos na desestruturação dos hábitos alimentares dos 
adolescentes decorrentes tanto de condições genéticas/hereditárias, quanto de questões 
ambientais, intrinsecamente relacionados com transtornos afetivos e de personalidade. 
Reitera também que a implantação de medidas sócio-educativas preventivas e de 
estratégias interventivas eficazes depende da atuação de uma equipe multiprofissional. 
 
Palavras-chave: Comportamento alimentar. Anorexia. Bulimia. Obesidade. Saúde do 
adolescente. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 6
 ABSTRACT 
 
Currently, there is an increasing number of cases of nutritional disorders due to changes 
in eating behavior in adolescence (anorexia, bulimia and obesity) that represent risk 
factors for the lives of those involved and imply the need for preventive intervention. 
This research aims to study the feeding behavior in adolescence and its impact on the 
biopsychosocial health of adolescents, focusing on the factors involved in the 
development of vulnerability to changes in food habits and practices and contributions 
of psychology in the implementation of measures for prevention and treatment of these 
changes. This is a literature search which identified the production design, academic 
science on the subject to understand and intervene preventively in cases of food 
restriction or compulsion. The analysis of scientific literature indicates the existence of 
factors involved in the destruction of the food habits of adolescents resulting from both 
genetic conditions / inherited as environmental issues, intrinsically related to affective 
disorders and personality. Reaffirms that the establishment of socio-educational 
preventive measures and effective intervention strategies depends on the performance of 
a team. 
 
Key-words: Feeding behavior. Anorexia. Bulimia. Obesity. Health of adolescents. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 7
 SUMÁRIO 
 
 
INTRODUÇÃO........................................................................................................... 8 
1 O COMPORTAMENTO ALIMENTAR E SEUS DETERMINANTES ........ 11 
1.1 ALTERAÇÕES DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR................................. 15 
1.1.1 Anorexia Nervosa............................................................................................... 17 
1.1.2 Bulimia Nervosa................................................................................................ 21 
1.1.3 Obesidade.......................................................................................................... 24 
2 ALTERACÕES DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR NA 
ADOLESCÊNCIA............................................................................................... 27 
2.1 ANOREXIA NERVOSA....................................................................................... 29 
2.2 BULIMIA NERVOSA .......................................................................................... 31 
2.3 OBESIDADE......................................................................................................... 33 
3 CONTRIBUIÇÕES DA PSICOLOGIA NA PREVENÇÃO E 
TRATAMENTO DAS ALTERAÇÕES DO COMPORTAMENTO 
ALIMENTAR ADOLESCENTE ............................................................................ 
35 
3.1 ANOREXIA NERVOSA E BULIMIA NERVOSA............................................. 37 
3.2 OBESIDADE........................................................................................................ 41 
CONCLUSÃO ..........................................................................................................44 
REFERÊNCIAS......................................................................................................... 47 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 8
INTRODUÇÃO 
 
 
O estudo do comportamento alimentar tem despertado grande interesse por se tratar de 
um fenômeno complexo que envolve aspectos fisiológicos, psicológicos e 
socioculturais. Os agravos nutricionais decorrentes do comportamento alimentar 
(obesidade, bulimia e anorexia) representam grandes desafios para a saúde pública na 
atualidade, pois diversos fatores de risco, associados à ingestão de alimentos também 
proporcionam o aparecimento de outras doenças como as cardiopatias e a pressão alta, 
por exemplo. Então surge a necessidade de compreender e intervir o mais 
prematuramente possível na organização das práticas alimentares. 
 
O comportamento alimentar envolve o apetite (sensação de fome e saciedade), os 
estados motivacionais e a necessidade de ingestão energética (processos fisiológicos e 
metabólicos), coordenados pela atividade do sistema nervoso periférico e central (vias 
neurais e receptores). Interessa, neste trabalho, identificar os fatores psicológicos 
envolvidos com a questão que dificultam as intervenções nutricionais para o tratamento 
das alterações do comportamento alimentar, pois se acredita ser imprescindível avaliar 
as intensas demandas psicológicas causadas pela história de compulsão e/ou restrição 
alimentar e a pressão social para ser magro, que afetam principalmente os adolescentes. 
 
As profundas transformações corporais, psicológicas e sociais ocorridas na adolescência 
têm efeito sobre o comportamento alimentar. As práticas alimentares repercutem e 
sofrem a influência de fatores internos como o autoconceito, a auto-imagem e as 
condições de desenvolvimento psicossocial, e de fatores externos associados aos hábitos 
alimentares familiares, aos valores e regras socioculturais relacionados com a 
alimentação, à influência da mídia na construção da imagem ideal necessária à aceitação 
social. 
 
Outro aspecto agravante e bastante peculiar na adolescência é a tendência a viver o 
momento atual, não dando importância às conseqüências das práticas alimentares que 
podem ser fatores de risco para doenças crônicas e obesidade na vida adulta. Também é 
importante observar o aumento de casos que envolvem transtornos alimentares nesta 
fase relacionados com diversos fatores psicológicos, dentre os quais se destacam: a 
 9
depressão, a baixa auto-estima, a ansiedade generalizada e as dificuldades nos 
relacionamentos sócio-afetivos. Por isso acredita-se que a relação entre a pessoa, 
principalmente o adolescente, e suas práticas alimentares compõe mais que um 
problema de saúde, revela formas de interação da pessoa consigo mesmo e com o 
mundo. 
 
Daí a importância e o interesse em investigar: Quais os fatores psicológicos 
relacionados com o comportamento alimentar e com o desenvolvimento de transtornos 
alimentares e da obesidade na adolescência, descritos na literatura científica? 
 
Desse modo, o presente trabalho visa o estudo do comportamento alimentar na 
adolescência, enfocando os fatores de vulnerabilidade envolvidos e as possíveis 
medidas interventivas. Tem como finalidade estudar os aspectos psicológicos 
relacionados à conduta alimentar dos adolescentes, o processo de desenvolvimento dos 
transtornos alimentares e da obesidade, bem como as suas repercussões na saúde 
biopsicossocial destes adolescentes, procurando também identificar as contribuições da 
Psicologia na implantação de medidas sócio-educativas para prevenção e tratamento 
dessas disfunções. 
 
Estruturada como uma pesquisa bibliográfica, esta investigação busca mostrar os pontos 
de vista de diversos autores sobre o comportamento alimentar dos adolescentes na 
atualidade, sobre o processo de formação dos seus hábitos alimentares, ressaltando a 
influência da família e do meio social. 
 
Seu desenvolvimento envolveu a revisão da literatura científica nacional sobre 
comportamento alimentar, transtornos alimentares e obesidade na adolescência. Foram 
pesquisados livros de leitura corrente e publicações periódicas indexadas nas bases de 
dados BVS (Biblioteca Virtual em Saúde), DEDALUS (Banco de dados da 
Universidade de São Paulo) e PEPsic (Periódicos Eletrônicos em Psicologia – USP). 
 
Os descritores utilizados foram: comportamento alimentar; práticas alimentares; hábitos 
alimentares; transtornos alimentares; anorexia; bulimia; obesidade; atuação do 
psicólogo todos associados à palavra-chave adolescência/adolescente. Este 
procedimento possibilitou a identificação dos fatores relacionados ao comportamento e 
 10
às práticas alimentares que marcam o desenvolvimento de transtornos alimentares e da 
obesidade na adolescência, favorecendo a explicitação do problema a partir de aportes 
teóricos científicos e da verificação da consistência dessas informações em relação ao 
que é apresentado pelos principais pesquisadores sobre o tema. 
 
A realização da pesquisa se deu através da leitura: exploratória sobre o tema 
verificando a bibliografia editada e seu interesse à pesquisa; seletiva, determinando o 
material de fato interessante à pesquisa em função dos objetivos de investigação 
delineados, e sintética, ordenando e sumariando as informações contidas nas fontes a 
fim de obter respostas ao problema de pesquisa proposto. Seguindo-se da tomada de 
apontamento e da construção lógica do trabalho que resultou na organização dos 
seguintes capítulos: 
1 – O comportamento alimentar e seus determinantes: apresenta a complexa gama de 
fatores nutricionais, demográficos, sociais, culturais, ambientais e psicológicos que 
influenciam o comportamento alimentar das pessoas, e as principais alterações deste 
comportamento. 
2 – As alterações do comportamento alimentar na adolescência: focaliza os fatores 
psicológicos presentes na organização do comportamento alimentar na adolescência que 
podem favorecer o aparecimento de alterações neste comportamento, resultando em 
compulsão e/ou restrição alimentar. 
3 – As contribuições da psicologia na prevenção e tratamento de alterações no 
comportamento alimentar adolescente: aborda as principais medidas preventivas e/ou 
interventivas descritas na literatura acadêmico-científica. 
 
As considerações finais apontam uma breve síntese crítica sobre a temática. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 11
1 O COMPORTAMENTO ALIMENTAR E SEUS DETERMINANTES 
 
 
O comportamento alimentar corresponde tanto às atitudes relacionadas às práticas 
alimentares em associação a atributos socioculturais, quanto aos aspectos subjetivos 
intrínsecos da pessoa ou próprios de uma coletividade, que estejam envolvidos com o 
ato de se alimentar ou com o alimento em si. Envolve inúmeros processos que incluem 
desde informações sensoriais sobre os alimentos, estados fisiológicos, psicológicos e 
genéticos das pessoas até as condições ambientais nas quais essas pessoas vivem. 
 
Os estudos sobre o comportamento alimentar mobilizam diversas disciplinas científicas 
como a Epidemiologia, a Economia, a Sociologia, a Antropologia, a Nutrição, a História 
e a Psicologia. Cada uma produz, a partir de seu ponto de vista e das suas problemáticas 
principais, uma série de dados que permite estudar as grandes tendências de consumo, 
as ligações entre alimentação e saúde, a diferenciação social e cultural das práticas 
alimentares, entre outras possibilidades. Entretanto, todas essas disciplinas afirmam a 
complexa trama de fatores implicados no entendimento do comportamento alimentar e 
em seus agravamentos, são determinantesfisiológicos, nutricionais, psicológicos, 
demográficos, sociais, ambientais e culturais (TORAL e SLATER, 2007; QUAIOTI e 
ALMEIDA, 2006). 
 
Em termos fisiológicos, um dos principais fatores responsáveis pelo estabelecimento do 
comportamento alimentar é a psicobiologia do apetite, ou seja, a distinção entre os 
sinais de saciedade de curto prazo, gerados pelas repercussões fisiológicas da ingestão 
de alimentos (episódicos), e os sinais de longo prazo, gerados pelas necessidades 
metabólicas constantes de energia do corpo. Esses dois processos mantêm tanto o fluxo 
de apetite que uma pessoa experimenta quanto o padrão de comportamento alimentar no 
qual ela se envolve no decorrer do dia, pois norteiam as noções de fome e saciedade. Os 
padrões de ingestão alimentar, por sua vez, desenvolvem-se em resposta a demandas 
fisiológicas e são constantemente modelados por influências ambientais e pela 
experiência subjetiva com o ato de alimentar-se (HALFORD, 2006). 
 
A fome pode ser definida como a motivação para buscar e consumir 
alimentos, iniciando um período de comportamento alimentar. O processo 
 12
que põe fim a esse período é denominado saciedade. A saciedade leva, 
finalmente, a um estado de fartura, no qual o ímpeto de fome e, 
conseqüentemente, o comportamento alimentar são inibidos. Os processos de 
saciedade determinam o tamanho da refeição, e o estado de saciedade 
determina o tamanho do intervalo após a refeição (HALFORD, 2006, p.18). 
 
Spada (2007) comenta ainda que os mecanismos reguladores e preponderantes na 
necessidade de buscar alimentos distinguem a fome do apetite: considera-se fome como 
uma manifestação biológica cíclica que, independe da vontade, provoca uma sensação 
desconfortável e dolorosa que admite como único objeto de saciedade: o alimento; já o 
apetite é tido como uma manifestação consciente que exige satisfação através da 
ingestão de alimentos específicos, relacionados com a memória de experiências 
prazerosas. 
 
Reiterando essas idéias, Toral e Slater (2007), Quaioti e Almeida (2006) desenvolveram 
estudos a fim de identificar de que modo a experiência e a interação com o ambiente 
têm um papel fundamental na determinação dos padrões de aceitação e recusa de 
alimentos, desse modo pode-se afirmar que: 
· o peso e a imagem corporal do indivíduo são fatores nutricionais que 
influenciam seu comportamento alimentar, pois tanto o excesso de peso como a 
insatisfação com o próprio corpo podem motivar a realização de restrições 
alimentares. 
· além da idade, outras características sociodemográficas são consideradas 
condicionantes do consumo alimentar, como sexo, etnia, escolaridade e estado 
civil, pois estes fatores interferem no estabelecimento de práticas alimentares 
saudáveis. Assim como a condição financeira da pessoa, do grupo familiar e/ou 
do grupo social, é considerada um delimitador das escolhas alimentares uma vez 
que haja escassez de recursos disponíveis para permitir o acesso aos alimentos 
tidos como saudáveis como frutas, hortaliças, grãos integrais e carnes magras 
que são mais caros que alimentos gordurosos e doces. 
· em relação aos determinantes sociais do comportamento alimentar pode-se 
mencionar a presença de outras pessoas (amigos e familiares) durante a 
alimentação como um fator que colabora para o aumento significativo da 
quantidade consumida e do teor calórico total da refeição, seja pela desinibição 
que leva a pessoa a comer mais, seja pela exposição prolongada aos alimentos 
em virtude da situação social. Do mesmo modo, fatores culturais estão 
 13
envolvidos nas práticas alimentares, como o vegetarianismo e o regionalismo, e 
leis dietéticas preconizadas por algumas religiões - há seleção de determinados 
alimentos para o consumo. 
· a política de globalização mundial também é um fator sócio-econômico que 
facilitou o comércio de alimentos entre os países, internacionalizando práticas 
alimentares. As redes comerciais de fast foods, por exemplo, possibilitam o 
acesso a alimentos com as mesmas características em diversos locais do mundo, 
de forma a isentar as pessoas da necessidade de se realizarem novas escolhas na 
sua alimentação. 
· quanto aos aspectos psicológicos presentes na determinação do consumo 
alimentar, menciona-se principalmente as crenças sobre as características de 
uma alimentação saudável, a atitude frente à dieta, o reconhecimento dos seus 
benefícios e das barreiras encontradas para adotá-la, a disponibilidade de um 
suporte social que favoreça práticas adequadas, a responsabilidade sobre compra 
e preparo das refeições, e a confiança pessoal em relação à própria habilidade 
para fazer escolhas saudáveis em determinadas situações. 
· os fatores ambientais que influenciam o comportamento alimentar estão 
relacionados com o tipo e a facilidade de acesso a alimentos saudáveis para 
serem consumidos fora do âmbito familiar, as propagandas alimentícias e a 
influência da mídia na determinação da dieta alimentar das pessoas. 
 
Quaioti e Almeida (2006) propõem ainda a descrição dos determinantes do 
comportamento alimentar considerando os períodos do desenvolvimento humano: 
· Lactantes: nesse período o hábito alimentar começa a ser formado a partir da 
primeira experiência alimentar - a dieta láctea, nessa fase a alimentação das 
crianças depende exclusivamente de seus cuidadores independente do tipo de 
alimentação. A partir dos dois anos de vida, as crianças começam a desenvolver 
o próprio padrão de aceitação ou rejeição de alimentos, pois ficam mais expostas 
aos estímulos sensoriais relacionados aos alimentos e passam a ser influenciadas 
pelos hábitos alimentares do seu grupo familiar; alguns fatores que influem 
diretamente na dieta alimentar das crianças são o grau de formação e informação 
dos pais, o trabalho dos pais fora de casa, as propagandas divulgadas pela mídia 
e a influência de outras crianças. 
 14
· Pré-escolares: nesta fase, o hábito alimentar caracteriza-se por preferências e as 
crianças acabam consumindo, na maioria das vezes, somente os alimentos de 
que gostam, evitando aqueles de que não gostam, também parecem estar 
predispostas a preferir alimentos densamente calóricos, doces e/ou com altos 
índices de gordura. Nessa idade ainda é grande a influência do grupo familiar. 
· Escolares: a partir deste período, os pais tendem a exercer menos controle sobre 
a alimentação dos filhos, uma vez que estes crescem e começam a ter suas 
próprias preferências, passando a selecionar os alimentos que desejam ingerir 
muitas vezes influenciados pela mídia e/ou pelas interações psicossociais na 
escola. 
· Adolescência: nesta fase observa-se uma diminuição drástica da atividade física 
em função do maior tempo despendido em atividades sedentárias como uso do 
computador e de vídeo-game, também observar-se maior influência das práticas 
alimentares do grupo social em que o adolescente está inserido e o hábito de 
suprimir algumas refeições ou trocá-las por lanches ricos em gordura e com 
elevados teores calóricos. 
· Adultos: o maior problema relacionado ao comportamento alimentar do adulto é 
o aumento considerável do consumo de refeições rápidas motivadas pela 
comodidade e praticidade na aquisição e preparo destes alimentos, aliando a isso 
o sedentarismo e o estresse da vida cotidiana, há uma ampliação significativa 
das possibilidades de surgimento de diversas doenças crônicas, desde a 
obesidade até o câncer. 
 
Desse modo, nota-se que o comportamento alimentar é multifacetado e seu estudo exige 
a compreensão das relações entre os diversos fatores que o influenciam, bem como não 
se pode deixar de considerar seus determinantes no desenvolvimento humano,pois as 
práticas alimentares têm repercussão direta na saúde das pessoas. Agravos nutricionais, 
transtornos alimentares e obesidade são desafios para os profissionais da saúde na 
sociedade contemporânea, uma vez que desenvolver estratégias preventivas e 
interventivas que motivem a adoção de práticas alimentares saudáveis implica mudar 
crenças, hábitos e costumes sociais. 
 
 
 15
1.1 ALTERAÇÕES DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR 
 
 
A comida pode simbolizar a maneira dos indivíduos encararem a vida, a forma de lidar 
com as suas emoções. Fisberg (2005) diz que algumas pessoas supervalorizam o 
alimento como um prazer que se pode comprar. Spada (2007) comenta que os alimentos 
são considerados condutores de afetos e os problemas começam a ocorrer quando há a 
tentativa de substituir os afetos e/ou de solucionar conflitos e rejeições através da 
ingestão ou da restrição alimentar. Então, o comer se torna uma recompensa substitutiva 
de emoções frustradas que não estão implicadas com a nutrição, mas com a satisfação. 
 
Fatores individuais, familiares e orgânicos contribuem para desencadear alterações no 
comportamento alimentar, assim como a busca incessante pela magreza e a pressão do 
meio social veiculada pela mídia que fazem com que muitas pessoas acabem por 
desenvolver práticas alimentares que favorecem o surgimento de transtornos 
alimentares ou obesidade. Por exemplo, alguns fatores socioculturais que podem estar 
presentes no estabelecimento ou na gênese de transtornos alimentares como a anorexia e 
a bulimia são: a mudança dos padrões de beleza ao longo dos anos, as modificações do 
papel da mulher na sociedade, bem como suas conseqüências na formação da identidade 
feminina. No caso da obesidade, pode-se considerar as práticas alimentares valorizadas 
na sociedade contemporânea, a publicidade avassaladora e o acesso facilitado a 
alimentos gordurosos e com alto teor calórico, o sedentarismo e os altos índices de 
estresse que marcam o cotidiano das pessoas. 
 
Fatores específicos relacionados com a história de vida de cada pessoa também podem 
favorecer o surgimento de alterações no comportamento alimentar, esses fatores 
envolvem: experiências interpessoais como abuso sexual, traumas, comentários 
depreciativos na infância, etc; características individuais como traços de personalidade, 
temperamento, vulnerabilidade psicológica e déficits da auto-estima; e outros fatores 
que podem estar localizados entre o ambiente e o indivíduo (GALVÃO et al., 2006 ). 
 16
Desse modo, pode-se considerar que essas alterações possuem múltiplas causas 
interagindo entre si, configurando-se como transtornos de natureza biopsicossocial1. 
Os transtornos alimentares são alterações no comportamento alimentar que 
provocam doença ou incapacidade (...) e ocorrem de maneira muito variável 
em qualquer idade. Os transtornos alimentares são classificados com base 
em seu resultado final visível (magreza ou excesso de gordura) ou com base 
nas variações dos padrões alimentares (jejum, restrição alimentar, 
alimentação compulsiva) (HUSE e LUCAS, 2003, p.1621). 
 
De acordo com o DSM-IV (Manual de Diagnóstico e Estatística de Perturbações 
Mentais), editado pela Associação Norte-Americana de Psiquiatria, os transtornos 
alimentares são um grupo caracterizado por distúrbios fisiológicos e psicológicos do 
apetite e da ingestão alimentar, classificados à base de agrupamentos de sintomas que 
estão presentes, e os principais são a anorexia e a bulimia nervosa. A etiologia mais 
aceita atualmente é o modelo multifatorial, que trabalha com a hipótese de que fatores 
psicológicos, biológicos e sociais estejam interrelacionados em sua gênese. 
 
A obesidade não é classificada como um transtorno alimentar devido ao fato de não 
estar associada consistentemente com uma síndrome psicológica ou comportamental. 
Observa-se, porém que quando há evidências de implicações derivadas de fatores 
psicológicos na etiologia ou no curso de desenvolvimento da obesidade, isto deve ser 
indicado pela nota “presença de fatores psicológicos que afetam a condição médica”. 
 
Já a CID-10 (Classificação Internacional de Doenças), organizada pela Organização 
Mundial de Saúde, apresenta uma definição específica para transtornos alimentares que 
aparecem inseridos na categoria F50-59 Síndromes comportamentais associadas a 
disfunções fisiológicas e a fatores físicos, e inclui anorexia e bulimia; a obesidade é tida 
como uma forma de hiperalimentação e está inserida na categoria E65-68 Obesidade e 
outras formas de hiperalimentação. 
 
 
1 O conceito biopsicossocial, como próprio nome indica, identifica raízes em três esferas – biológica, 
psicológica e social. Este modelo sugere uma interação única de variáveis para cada individuo. Uma 
predisposição biológica inexplicada com possíveis determinantes genéticos levam a um grau variável de 
vulnerabilidade biológica em indivíduos com risco de desenvolver transtornos alimentares (HUSE, 
LUCAS, 2003, p. 1622). 
 17
Os transtornos da alimentação existem desde os tempos primitivos na civilização 
ocidental, relatos de casos bem documentados estão presentes na literatura, descrevendo 
o histórico dos primeiros santos cristãos. São relatadas as histórias de Santa Wilgefortis 
e Santa Catarina de Siena como sendo as pioneiras do fenômeno da abstinência 
alimentar, observados no contexto religioso, análogos à anorexia nervosa. No último 
caso estavam presentes episódios de orgia alimentar, comportamento de jejum severo, 
auto-indução de vômitos e utilização de ervas catárticas purgativas (NUNES et al., 
1998). 
 
A anorexia nervosa e a bulimia nervosa têm aumentado significativamente nos últimos 
anos e tem despertado maior interesse devido ao aumento das taxas de mortalidade e do 
grau de morbidade dos casos. Estes transtornos atingem principalmente o sexo 
feminino, compreendendo cerca de 90% dos casos; no sexo masculino ocorrem somente 
em 10% dos casos. A bulimia nervosa é o transtorno alimentar preponderante no sexo 
masculino, ocorre geralmente entre os 18 e 26 anos (BRASIL e MORAES, 2007). 
 
Já a obesidade é um dos mais sérios problemas de saúde mundial, considerada como 
uma doença epidêmica, crônica, multifatorial, de alto risco e que afeta milhões de 
pessoas, sem respeitar fronteiras, idade, sexo, raça ou condição financeira. O aumento 
de sua incidência e prevalência é uma das maiores preocupações dos profissionais e 
pesquisadores da área de saúde na atualidade, pois seu desenvolvimento constitui fator 
de risco para patologia graves como diabetes, doenças cardiovasculares, hipertensão e 
problemas respiratórios, por exemplo. Além disso, pode ocasionar ainda depressão e 
isolamento social, prejudicando a qualidade de vida das pessoas (ADES e KERBAUY, 
2002). 
 
 
1.1.1 Anorexia Nervosa 
 
 
Segundo Garfinkel (1992) apud Nunes et al. (1998), a anorexia nervosa “é uma inanição 
deliberada e auto-imposta, seguida de uma busca implacável por magreza e por um 
 18
medo mórbido de engordar, levando a sérios graus de emagrecimento.” A recusa 
alimentar é decorrente de uma perturbação significativa na percepção da forma e peso 
corporal. A perda de peso é conseguida através de diferentes comportamentos como: 
redução da alimentação (especialmente com relação aos alimentos que contém um 
maior número de calorias); exercícios físicos intensos; utilização de medicamentos 
anorexígenos (redutores do apetite), laxantes e diuréticos para provocar vômitos. 
 
Ainda segundo este autor, este transtorno pode ter como fatores desencadeantes 
acontecimentos significativos na vida do indivíduo, tais como: perdas, mudanças,doenças orgânicas, separações, dentre outros. Pode ser associado à desnutrição de 
gravidade variável, resultando em alterações endócrinas, metabólicas e psicológicas. 
 
Richard Morton relatou o primeiro caso documentado de anorexia nervosa 
em 1689. Durante os dois séculos seguintes, apenas uns poucos casos 
adicionais foram relatados. Em Londres William Gull estudou vários casos 
de auto-inanição durante a década de 1960, concluindo que o transtorno 
tinha origem psicológica, mais tarde nomeando o transtorno, que significa 
perda nervosa do apetite... (RUSSEL, 1979 apud STRAUB, 2005, p. 257). 
 
A idealização da magreza afeta especialmente as mulheres jovens, para muitas seguir o 
padrão de beleza estabelecido pela sociedade significa ter autocontrole, ser competente 
e ter atratividade sexual. A pressão social pela magreza pode criar um ambiente 
psicológico que predispõe o surgimento de distúrbios alimentares, isso quando o 
indivíduo já apresenta fatores de risco (como baixa auto-estima e exagerado 
perfeccionismo). As diversas transformações ocorridas com a globalização e a 
modernização da sociedade fizeram com que as mulheres cada vez mais ocupem papéis 
de destaques, nível educacional mais elevado, exercício de múltiplas funções, luta por 
igualdade sexual, essas mudanças influenciaram a identidade feminina e a relação das 
mulheres com o corpo. Nesse contexto o comportamento alimentar pode representar 
uma tentativa de obter autocontrole e autoconhecimento, e a busca de nova identidade 
(GALVÃO et al., 2006). 
 
Gerald Russell (1970) apud Nunes et al. (1998, p. 22) sugeriu três critérios diagnósticos 
para a anorexia nervosa: 
 
 19
(1) o comportamento dirigido a produzir uma marcada perda de peso; (2) a 
característica psicopatológica de um medo mórbido de engordar; (3) a 
presença de uma alteração endocrinológica, evidenciada por amenorréia em 
mulheres e por perda da potência e do interesse sexual em homens. 
 
O início da doença é marcado por uma redução progressiva da ingestão alimentar, com 
a diminuição desproporcional de alimentos ricos em carboidratos. Os pacientes 
apresentam insatisfação com seu peso e forma corporal e posteriormente passam a viver 
em função de dietas, da comida e do peso, aos poucos restringem suas áreas de interesse 
e caminham em direção ao isolamento social. O curso e a evolução da doença são 
determinados pela perda progressiva e continuada de peso. 
 
Critérios diagnósticos para Anorexia Nervosa 
DSM-IV CID-10 
A. Recusa em manter o peso em um nível igual 
ou acima do mínimo ideal adequado a idade e 
a altura (por exemplo, perda de peso levando 
a manutenção do peso corporal abaixo de 
85% do esperado; ou fracasso em ter o ganho 
de peso esperado durante o período de 
crescimento, levando a um peso corporal 
menor que 85% do esperado). 
B. Medo intenso de ganhar peso ou de se tornar 
gordo, mesmo estando com peso abaixo do 
normal. 
C. Perturbação no modo de vivenciar o peso ou 
a forma do corpo, influência indevida do peso 
ou da forma do corpo sobre a auto-avaliação, 
ou negação do baixo peso corporal atual. 
 
D. Nas mulheres pós-menarca, amenorréia, isto 
é, ausência de pelo menos três ciclos 
menstruais consecutivos. (Considera-se que 
uma mulher tem amenorréia se seus períodos 
ocorrem apenas após a administração de 
hormônio, por exemplo, estrógeno.) 
 
Tipos: 
 
· Restritivo: durante o episódio atual de 
Anorexia Nervosa, o indivíduo não se 
envolveu regularmente em um 
comportamento de comer compulsivamente 
A. Há perda de peso, ou em crianças, falta de 
ganho de peso, e peso corporal é mantido em 
pelo menos 15% abaixo do esperado. 
B. A perda de peso é auto-induzida pela 
evitação de “alimentos que engordam”. 
C. Há uma distorção na imagem corporal na 
forma de psicopatologia específica de um 
pavor de engordar. 
D. Um transtorno endócrino generalizado 
envolvendo o eixo hipotalâmico- 
hipofisário-gonadal é manifestado em 
mulheres como amenorréia e em homens 
como uma perda de interesse e potência 
sexuais (uma exceção aparente é a 
persistência de sangramentos vaginais em 
mulheres anoréxicas que estão recebendo 
terapia de reposição hormonal, mas 
comumente tomada como uma pílula 
contraceptiva). 
E. Se o início é pré-puberal, a sequência de 
eventos da puberdade é demorada ou mesmo 
detida (o crescimento cessa; nas garotas, os 
seios não se desenvolvem e há uma 
amenorréia primária; nos garotos, os genitais 
permanecem juvenis). Com a recuperação a 
puberdade é com frequência completada 
normalmente, porém a menarca é tardia. 
 
 20
ou de purgação (isto é, auto-indução de 
vômito ou uso indevido de laxantes, 
diuréticos ou enemas.) 
· Compulsão Periódica/Purgativo: durante o 
episódio atual de Anorexia nervosa, o 
indivíduo se envolveu regularmente em um 
comportamento de comer compulsivamente 
ou de purgação (isto é, auto-indução de 
vômito ou uso indevido de laxantes, 
diuréticos ou enemas. 2 
Fontes: ASSOCIAÇÃO NORTE-AMERICANA DE PSIQUIATRIA. Manual diagnóstico e estatístico de 
Transtornos mentais. 4 ed. Porto Alegre: Artmed, 2002. 
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (coord.). Classificação de transtornos mentais e de 
comportamento da CID-10: descrições clínicas e diretrizes diagnósticas. Porto Alegre: Artes Médicas, 
1993. 
 
 
O DSM-IV distingue dois tipos de apresentação clínica da anorexia nervosa: no 
primeiro, as pacientes apenas empregam comportamentos restritivos associados à dieta 
e no outro grupo ocorrem episódios de compulsão alimentar e/ou comportamentos mais 
perigosos, como vômitos auto-induzidos, abuso de laxativos e de diuréticos. Já a CID-
10, por não apresentar essa distinção, possibilita que pacientes anoréxicos que 
apresentam episódios bulímicos possam receber os dois diagnósticos: anorexia e 
bulimia. Esta observação é importante quando estamos diante de um diagnóstico 
diferencial para definição de medidas interventivas. 
 
Joergensen (1992) e Lucas et al. (1991) apud Morgan (2006) indicam a existência de 
cerca de 9,2 a 25,7 casos de anorexia nervosa para cada 100.000 meninas de 10 a 14 
anos. A taxa de ocorrência da anorexia nervosa em meninos com idade entre 10 e 14 
anos é de 3,7 casos para cada 100.000. Já Brasil e Moraes (2007, p. 495) comentam que 
o início da anorexia nervosa ocorre geralmente na adolescência entre os 13 e 18 anos de 
idade, estimando que anualmente ocorram 18,5 casos da doença a cada 100.000 
mulheres e 2,5 casos a cada 100.000 homens na população. 
 
Nos estudos sobre AN (Anorexia Nervosa), constituem fatores mais 
frequentes de bom prognóstico: idade menor de início da doença com 
adolescentes, tendo melhor desfecho do que adultos e adolescentes mais 
jovens, estes com melhor evolução do que os mais velhos; menor número de 
hospitalizações e tempo pequeno de doença antes de internação (Herzog et al. 
1996; Herpertz-Dahlmann et al., 2001; Steinhausen, 2002). São fatores de 
 
2 Enemas: [Do Gr. Énema, pelo lat. Enema]. S. m. 1. Injeção de substância (contraste radiológico, 
medicamento, etc.) pelo reto [V. clister] 2. Ant. Medicamento de ação tópica e secante, empregado 
outrora em feridas com hemorragia. 
 
 21
mau prognóstico comumente descritos: duração prolongada da doença (antes 
do tratamento ou por intervenções mal sucedidas), início tardio da patologia, 
presença de sintomas bulímicos, peso inicial muito baixo, relações familiares 
problemáticas prévias ao transtorno alimentar e estado marital (casada). 
Dentre esses fatores, também estão baixo peso na alta hospitalar, abuso ou 
dependência de álcool e doença afetiva durante curso da AN (Herzog et al., 
2000; Keel et al., 2003, apud PINZON e NOGUEIRA, 2004, p. 160).A taxa de mortalidade em pacientes anoréxicos varia entre 5% e 20%, e a principal 
causa de morte súbita desses pacientes são arritmia cardíaca e alterações metabólicas e 
eletrolíticas. O tempo de duração da doença, o grau de perda de peso, a falta de suporte 
familiar, o comportamento de compulsão e o grau de recorrência são indicativos de 
mortalidade (BRASIL e MORAES, 2007). 
 
 
1.1.2 Bulimia nervosa 
 
 
A bulimia nervosa é um transtorno do comportamento alimentar que se caracteriza por 
ataques de hiperfagia (comer muito), preocupação excessiva com a forma e peso 
corporal e adoção de métodos compensatórios inadequados, a fim de evitar os efeitos de 
aumento de peso devido a ingestão de alimentos. 
 
O método compensatório mais comum é a indução de vômito após um episódio de 
compulsão periódica (definida pela ingestão de grande quantidade de alimentos, num 
período de tempo limitado, e a sensação de falta de controle sobre a ingestão alimentar). 
 
Os efeitos imediatos dos vômitos são o desconforto físico e a diminuição do medo de 
ganhar peso. Os comportamentos purgativos incluem o uso dos dedos ou instrumentos 
para estimular o reflexo de vômito e o uso indevido de laxantes e diuréticos. Pacientes 
bulímicos podem também praticar exercícios excessivamente a fim de compensar o 
comer compulsivo. 
 
A história da bulimia nervosa pode iniciar-se por uma necessidade real ou 
imaginária de perder peso, decorrente de extrema insatisfação com o corpo. 
Pacientes bulímicos costumam centrar avaliação que fazem de si mesmo 
baseando quase exclusivamente em sua aparência física. Sentimentos de 
 22
baixo auto-estima correm paralelos a constante insatisfação com a forma 
corporal, ou seja, a auto-estima depende da eficiência de seus métodos para 
alcançar o corpo desejado. Tudo funciona como se outros valores pessoais 
não existissem ou fossem secundários, pois só conseguem se sentir 
socialmente aceitas se estiverem fisicamente dentro dos padrões desejáveis 
pela sociedade. Chegam a isolar-se de relações, evitar reuniões sociais ou 
viagens quando não se sentem em condições de preencher tais requisitos 
(NUNES et al., 1998, p.35). 
 
Geralmente os episódios bulímicos buscam não só saciar a fome excessiva como 
também atender aos estados emocionais e às situações de estresse. Estes episódios 
caracterizados pela ingestão periódica, compulsiva e rápida de grande quantidade de 
alimentos, finalizam-se quando a pessoa sente mal-estar, quando é interrompida por 
alguém ou quando acabam os alimentos. Geralmente, ocorrem após a ingestão rápida de 
alimentos mais calóricos e de fácil deglutição de forma descontrolada e/ou impulsiva, 
sem que o sabor e a textura dos alimentos sejam devidamente apreciados. Esses 
episódios que frequentemente ocorrem escondidos e são acompanhados de vergonha e 
culpa (BRASIL e MORAES, 2007). 
 
Embora variem o tipo de alimento consumido durante os ataques de hiperfagia, os 
bulímicos tipicamente incluem doces e alimentos com alto teor calórico (como sorvetes 
ou bolos). Entretanto as compulsões periódicas parecem caracterizar-se mais por uma 
anormalidade na quantidade de alimentos consumidos, do que por uma cobiça por 
determinados nutrientes (como por exemplo, os carboidratos). 
 
Critérios Diagnósticos para Bulimia Nervosa 
DSM- IV CID – 10 
A. Episódios recorrentes de compulsão 
periódica. Um episódio de compulsão 
periódica é caracterizado por ambos os 
seguintes aspectos: 
(1) ingestão, em um período limitado de 
tempo (por exemplo, dentro de um 
período de duas horas), de uma 
quantidade de alimentos definitivamente 
maior do que a maioria das pessoas 
consumiria durante um período similar de 
tempo e sob circunstâncias semelhantes; 
(2) um sentimento de falta de controle sobre 
o comportamento alimentar durante o 
episódio (por exemplo, um sentimento de 
A. Há uma preocupação persistente com o 
comer e um desejo irresistível de comida; o 
paciente sucumbe de hiperfagia, nos quais 
grandes quantidades de alimentos são 
consumidas em curtos períodos de tempo. 
B. O paciente tenta neutralizar os efeitos “de 
engordar” dos alimentos através de um ou 
mais do que se segue: vômitos auto-
induzidos; abuso de purgantes, períodos 
alternados de inanição; uso de drogas tais 
como anorexígenos, preparados tireoideanos 
ou diuréticos. Quando a bulimia ocorre em 
pacientes diabéticos, eles podem escolher 
negligenciar seu tratamento insulínico. 
 23
incapacidade de parar de comer ou de 
controlar o que ou quanto está comendo). 
B. Comportamento compensatório inadequado e 
recorrente, com o fim de prevenir o aumento 
de peso, como auto-indução de vômito, uso 
indevido de laxantes, diuréticos, enemas ou 
outros medicamentos; jejuns ou exercícios 
excessivos. 
C. A compulsão periódica e os comportamentos 
compensatórios inadequados ocorrem, em 
média, pelo menos duas vezes por semana, 
por três meses. 
D. A auto-avaliação é influenciada 
indevidamente pela forma e peso do corpo. 
E. O distúrbio não ocorre exclusivamente 
durante episódios de anorexia nervosa. 
 
Tipos: 
· Purgativo: durante o episódio atual de 
bulimia nervosa, a pessoa envolveu-se 
regularmente na auto-indução de vômitos ou 
no uso indevido de laxantes, diuréticos ou 
enemas. 
· Sem purgação: durante o episódio atual de 
bulimia nervosa, a pessoa usou outros 
comportamentos compensatórios 
inadequados, tais como jejuns ou exercícios 
excessivos, mas não se envolveu 
regularmente na auto-indução de vômitos ou 
no uso indevido de laxantes, diuréticos ou 
enemas. 
C. A psicopatologia consiste num pavor 
mórbido de engordar e o paciente coloca 
para si mesmo um limiar de peso 
nitidamente definido, bem abaixo de seu 
peso pré-mórbido que constitui o peso ótimo 
ou saudável da opinião do médico. Há 
frequentemente, mas não sempre, uma 
história de um episódio prévio de anorexia 
nervosa, o intervalo entre os dois transtornos 
variando de poucos meses a vários anos. 
Esses episódios prévios podem ter sido 
completamente expressados ou podem ter 
assumido uma forma “disfarçada” menor, 
com uma perda de peso moderada e/ou uma 
fase transitória de amenorréia. 
 
Fontes: ASSOCIAÇÃO NORTE-AMERICANA DE PSIQUIATRIA. Manual diagnóstico e estatístico de 
Transtornos mentais. 4 ed. Porto Alegre: Artmed, 2002. 
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (coord.). Classificação de transtornos mentais e de 
comportamento da CID-10: descrições clínicas e diretrizes diagnósticas. Porto Alegre: Artes Médicas, 
1993. 
 
É importante observar que a classificação do DSM-IV distingue dois tipos de pacientes 
com bulimia conforme a utilização de métodos compensatórios mais invasivos 
(vômitos, laxantes, diuréticos, outras drogas) ou não (só dieta, jejuns e exercícios). Já a 
CID-10 ressalta a possibilidade de negligência do tratamento insulínico em diabéticos 
como uma apresentação especial do quadro, assim como a possível ocorrência de um 
episódio prévio de anorexia nervosa que evoluiu para bulimia. Sendo neste caso, 
importante a utilização dos dois sistemas para o estabelecimento do diagnóstico 
diferencial e definição de medidas interventivas. 
 
 24
Dados epidemiológicos indicam que o início da bulimia nervosa ocorre geralmente 
entre os 18 e 40 anos. A incidência de casos no sexo feminino é de 28,8 casos para cada 
100.000 mulheres, o do sexo masculino é de 0,8 para cada 100.000 homens (BRASIL e 
MORAES, 2007). 
A BN (Bulimia Nervosa), na maioria dos trabalhos, tem como fatores de bom 
prognóstico: sintomatologia leve a moderada, indicação de tratamento 
ambulatorial, duração menor da doença antes do tratamento, idade menor de 
início da doença, motivação para o atendimento e boa rede social de suporte 
(Herzoget al., 1996; Guideline, 2000; Reas et al., 2000). Indicam pior 
evolução da doença: sintomatologia mais severa, freqüência aumentada de 
vômitos no início do quadro, flutuações extremas de peso, impulsividade, 
baixa auto-estima, conduta suicida e transtornos comórbidos, como uso de 
substâncias no início da patologia (Guideline, 2000; Herzog et al., 1996; Keel 
et al., 1999, apud PINZON e NOGUEIRA, 2004, p.160). 
 
 
1.1.3 Obesidade 
 
 
A obesidade é atualmente considerada uma doença epidêmica, que vem se propagando 
no mundo desenvolvido e em países em desenvolvimento, e tem sido responsável por 
graves repercussões orgânicas e psicossociais. Vista como um problema de saúde 
pública, a obesidade tem despertado interesse para o desenvolvimento de estudos pelos 
diversos males a que está associada. 
 
No Brasil, as mudanças demográficas, socioeconômicas e comportamentais ao longo do 
tempo permitiram que ocorresse uma transição nos padrões nutricionais. Com essa 
transição nutricional percebe-se um aumento significativo de crianças e adolescentes 
obesos, fato preocupante, pois a obesidade pode desenvolver uma variedade de doenças 
entre muitas consequências. 
 
Tida por alguns autores como um transtorno alimentar, a obesidade é causada pela 
desproporção de entrada e saída de energia do organismo que resulta no acúmulo 
excessivo de tecido adiposo por todo corpo, podendo concentrar-se essencialmente na 
região do tórax, especificamente na linha da cintura. Muitos profissionais ressaltam a 
 25
hereditariedade e os fatores genéticos como sendo os principais desencadeadores da 
obesidade, enquanto outros destacam os fatores psicológicos e sociais, porém todos 
concordam que a interação desses fatores está envolvida na gênese do desenvolvimento 
desta (AZEVEDO e SPADOTTO, 2004). 
 
Derivada das raízes ob, “acima”, e edere, “comer”, a definição literal de 
obesidade implica ser ela uma entidade única que resulta de uma causa 
única. Embora seja tentador adotar a visão de que a obesidade simplesmente 
é o resultado de comer demais, as pesquisas mostram que isso seria uma 
simplificação exagerada. (...) Em vez disso, a obesidade é um fenômeno 
complexo que envolve fatores biológicos, sociais e psicológicos em suas 
causas e conseqüências (STRAUB, 2005, p.245). 
 
Dentre os fatores biológicos que podem contribuir para a obesidade se destacam a 
hereditariedade e o papel do cérebro e dos hormônios na regulação do apetite. Estima-se 
que os genes possam contribuir em até 50% para a obesidade, indicando que há maior 
tendência de filhos de pais obesos virem a se tornar também obesos futuramente. A 
hereditariedade exerce influência sobre a determinação da taxa metabólica basal, sobre a 
forma geral do corpo que influencia a tendência de ganhar peso, e também sobre a 
maneira que o corpo absorve os nutrientes. Atualmente estudiosos especulam que 
alguns transtornos genéticos podem influenciar a capacidade do corpo de regular as 
células adiposas, fazendo com que haja ganho de peso. Isto explicaria porque algumas 
pessoas têm maior tendência em engordar do que outras (STRAUB, 2005). 
 
Destacam-se dois tipos de causas para a obesidade: na obesidade endógena que 
corresponde a aproximadamente 5% dos casos, há a ocorrência de problemas orgânicos, 
e na obesidade exógena que diz respeito aos outros 95% de casos, a nutrição 
inadequada, o sedentarismo e os problemas emocionais são destacados como os 
principais fatores desencadeantes (LEMES, 2005). 
 
Na obesidade exógena, a dinâmica ambiental familiar em indivíduos 
geneticamente predispostos representa a maior parte dos casos, e tem como 
características: o excesso de ingestão alimentar, o sedentarismo, os hábitos 
alimentares, o relacionamento intrafamiliar complicado, o consumismo, o 
desmame precoce e a introdução precoce de alimentos sólidos, as 
substituições de refeições por lanches, as relações psicoafetivas alteradas, os 
grandes conflitos e os distúrbios do vínculo com a mãe (CAMPOS, 2005, 
p.107). 
 26
A obesidade é uma doença nutricional que tem aumentado significativamente nas 
classes menos favorecidas, o estilo de vida inadequado muito contribui para o aumento 
de casos da doença, destacam-se fatores como: alimentação insatisfatória, excesso de 
carboidratos e doces, velocidade da ingestão dos alimentos, lanches com alto valor 
calórico consumidos em horários irregulares, falta de atividade física, e hábitos 
familiares inadequados (FISBERG, 2005). 
 
Alguns fatores são predominantes no estabelecimento da obesidade na infância e na 
adolescência. Na infância, destacam-se o aumento exagerado de peso das mães durante 
a gestação, o desmame precoce e a oferta de alimentos complementares inadequados, 
possíveis distúrbios alimentares e relações familiares perturbadas. Na adolescência, 
além dos fatores já mencionados somam-se as alterações da fase de transição para a vida 
adulta, a baixa auto-estima, a suscetibilidade a propagandas de alimentos, o 
sedentarismo e etc. A obesidade pode iniciar em qualquer fase da vida, principalmente 
em períodos de aceleração de crescimento, na criança e no adolescente pode gerar 
fatores de risco para a sua saúde, já que na maioria das vezes é tardiamente detectada 
(FISBERG, 2005). 
 
No DSM-IV-R não se encontram critérios para identificação e avaliação da 
obesidade como transtorno psiquiátrico, mesmo na categoria de transtornos 
alimentares, apesar de seus portadores apresentarem perturbações 
comportamentais e conflitos psíquicos relacionados à alimentação. Embora, 
de fato, a obesidade não deva ser classificada como transtorno alimentar, 
alguns autores a incluem didaticamente nesta categoria pelos aspectos de 
funcionamento semelhante aos demais transtornos, pelo fato de caracterizar-
se por perturbações no comportamento alimentar, apresentando síndrome 
psicológica associada que pode merecer intervenção médica e/ou psiquiátrica 
(Flaherty, 1995, apud VASQUES et al., 2004). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 27
2 ALTERAÇÕES DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR NA 
ADOLESCÊNCIA 
 
 
Os adolescentes sofrem mudanças físicas, sociais e psicológicas nessa fase da vida que 
acontece entre os 10 e 20 anos, desenvolvem sua capacidade cognitiva, adquirem 
independência e senso de responsabilidade e adaptam sua personalidade às exigências 
ambientais. Também seu comportamento alimentar é influenciado por essas 
transformações, sendo afetado por fatores internos e externos. Os fatores internos dizem 
respeito a auto-imagem, valores, preferências, necessidades fisiológicas, 
desenvolvimento psicossocial, etc, já os fatores externos correspondem aos hábitos do 
grupo familiar, as regras sociais e culturais, a influência da mídia, ao convívio com os 
amigos e as próprias experiências do indivíduo (GAMBARDELLA et al.,1999). 
 
Os adolescentes nao costumam se preocupar com as consequências dos seus hábitos 
alimentares inadequados, muitas vezes se alimentam de maneira irregular, pulando 
algumas refeições importantes durante o dia (principalmente o café da manhã), e 
suprimindo dietas ricas em vários nutrientes. A maioria prefere o consumo de lanches e 
fast foods entre as refeições, geralmente esses lanches tem baixo valor nutricional, 
apresentam alta quantidade de energia e baixa quantidade de ferro, cálcio, vitaminas e 
fibras (GAMBARDELLA et al., 1999). 
 
Um dos principais conflitos enfrentados pelo adolescente é a perda do corpo infantil, 
que decorre das transformações desencadeadas pela puberdade, e que acabam por 
demandar a construção de uma nova imagem corporal. 
 
O conceito imagem corporal envolve três componentes: 1.Componente 
perceptivo: relaciona-se com a precisão da percepçãoda própria aparência 
física (envolve uma estimativa do tamanho corporal e do peso). 2. 
Componente subjetivo: envolve aspecto como satisfação com a aparência, 
nível de preocupação e ansiedade associada a esta. 3. Componente 
comportamental: focaliza as situações evitadas pelo indivíduo por 
experimentar desconforto associado à aparência corporal (DUCHESNE e 
APPOLINÁRIO, 2001, p.324). 
 
 
 28
Brownell (1991) apud Nunes et al. (1998) apontam duas crenças falsas que 
acompanham a busca do corpo ideal: uma se refere à noção de que o corpo é totalmente 
maleável e que qualquer pessoa é capaz de atingir o ideal estético através apenas do seu 
esforço pessoal, seguindo a prática de exercícios físicos e dietas, negando assim as 
particularidades do seu corpo, as limitações biológicas e genéticas que são próprias de 
cada indivíduo. A imagem do dito corpo ideal é comumente associada ao autocontrole, 
ao sucesso (a competência), a liberação sexual, etc., portanto o fracasso ao se tentar 
atingir este ideal pode ser visto como sinônimo de fraqueza, de falta de esforço ou de 
preguiça. A segunda crença falsa sobre o corpo ideal refere-se à idéia de que as pessoas 
que alcançam este ideal de forma corporal terão sucesso nos seus relacionamentos 
sócio-afetivos, no ambiente de trabalho, enfim, em todos os âmbitos de suas vidas. 
 
A crise da puberdade pela qual passam os adolescentes pode tornar os conflitos 
relacionados à dependência, insegurança e individualidade ainda mais exacerbados, nem 
sempre os adolescentes conseguem vencer as dificuldades dessa fase, sem que 
conseqüências emocionais influenciem de forma negativa a sua alimentação. Alguns 
exageram na comida para compensar as frustrações, outros recusam alimentos por meio 
de dietas drásticas ou comem exageradamente alimentos que os pais não aprovam e em 
horários irregulares. 
 
Crisp (1980) apud Galvão et al. (2006) afirmam que, quanto aos aspectos psicossociais, 
existem várias demandas próprias da adolescência como, por exemplo, o processo 
separação-individuação e o estabelecimento de relacionamentos afetivo-sexuais, muitas 
vezes esses desafios associados às transformações físicas podem ser vivenciados como 
ameaçadores. A restrição alimentar e a perda de peso de pacientes anoréxicos podem 
impedir ou retardar as mudanças corporais da adolescência, e isso pode ser visto como 
um mecanismo psicológico para tentar lidar com as demandas ameaçadoras dessa fase. 
 
O comportamento alimentar perturbado pode ser compreendido como defesa contra 
afetos e sentimentos intoleráveis (sentimentos de raiva, desespero, competição 
agressiva, rejeição e solidão). O indivíduo com transtorno alimentar tende a se isolar no 
seu mundo, onde se preocupa apenas com a comida e com o corpo. 
 29
A anorexia nervosa e a bulimia nervosa são transtornos diretamente relacionados, pois 
apresentam a mesma base psicopatológica, em ambas há uma enorme preocupação com 
a forma e o peso corporais, fazendo com que o indivíduo utilize recursos para evitar o 
ganho de peso. Nesses transtornos alimentares, a motivação subjacente é a preocupação 
com o corpo e a vontade de emagrecer, o que as difere mais significativamente é o 
modo pelo qual os anoréxicos e bulímicos agem para atingir ou controlar este objetivo, 
que muda de acordo com a personalidade de cada um (NUNES et al., 1998). 
 
Os anoréxicos e bulímicos geralmente são pessoas autocríticas e perfeccionistas, que se 
condenam por erros cometidos e por dificuldades pessoais, acreditam ter pouco controle 
sobre suas vidas, buscando referências externas para sua auto-avaliação e seus 
comportamentos, e a restrição da alimentação lhes dá a sensação de controle e 
adequação. Nota-se nesses pacientes uma baixa auto-estima, ansiedade interpessoal 
exacerbada e dificuldade para expressar sentimentos e pensamentos. Eles se vêem como 
inadequadas no seu funcionamento social e pessoal, e impossibilitados de lidar com 
problemas, o que os torna ainda mais dependentes. É comumente observado em 
indivíduos com transtornos alimentares a valorização dos fracassos e a desvalorização 
de qualquer sucesso, o que acaba ajudando na manutenção dos sentimentos de 
insegurança e das crenças de baixa auto-eficácia, pois suas conquistas nunca são 
suficientes (DUCHESNE e APPOLINÁRIO, 2001). 
 
 
 
2.1 ANOREXIA NERVOSA 
 
 
A mudança drástica na alimentação, que ocorre no quadro de anorexia nervosa mostra 
que o indivíduo encontra-se sob sofrimento psicológico e incapacitado de resolver seus 
problemas de outra forma. Os sintomas desenvolvem-se para preservar um estado 
psicológico frágil, apesar de significar auto-defesa, suas consequências podem vir a ser 
autodestrutivas. 
 
Geralmente os adolescentes com anorexia nervosa foram bem adaptados as expectativas 
parentais: são ambiciosos, orientados ao sucesso, são tidos como pessoas “sérias”, com 
 30
bom convívio social, preocupados com os sentimentos dos outros e temerosos de 
críticas externas. A família só percebe o transtorno quando nota o grau acentuado de 
perda do peso, nessa fase as alterações de comportamentos são mais notáveis, como 
afastamento social, irritabilidade e depressão (CORDÁS et al., 2004). 
 
As pessoas com transtornos alimentares têm crenças distorcidas sobre seu peso, formato 
corporal, alimentação e valor pessoal, essas crenças são determinantes tanto para o 
desenvolvimento quanto para a manutenção dos transtornos. Os anoréxicos apresentam 
um distúrbio da imagem corporal, se percebem mais gordos do que realmente são, esse 
distúrbio causa insatisfação com a aparência mesmo com o emagrecimento notável, o 
que leva a fixação de metas de peso cada vez mais baixas. 
 
Alguns traços de personalidade são marcantes em pacientes com anorexia nervosa, 
como rigidez no comportamento, falta de espontaneidade e obediência – alguns são 
extremamente sérios e educados, inibidos e objetivos nas respostas, entretanto há 
também aqueles pacientes que conseguem mostrarem-se alegres e com energia, 
deixando transparecer que estão bem. Ainda é possível que ocorram distúrbios do sono 
em alguns casos (HUSE e LUCAS, 2003). 
 
A conduta alimentar de pacientes anoréxicos é ritualizada e bizarra, por isso muitos 
acabam se privando do convívio social e restringindo cada vez mais seu campo de 
interesses. Os pacientes geralmente apresentam introversão, baixa auto-estima, 
sentimento de insuficiência, controle e rigidez excessivo na conduta e exagerado 
perfeccionismo. Além disso, é marcante a excessiva preocupação com o peso e os 
distúrbios perceptivos, ressalta-se que distúrbios emocionais como a depressão também 
podem estar presentes (BRASIL e MORAES, 2007). 
 
A auto-estima de indivíduos com anorexia nervosa depende em alto grau da sua forma e 
peso corporal. A perda de peso é vista como conquista notável e como um sinal de 
extraordinária disciplina, ao passo que o ganho de peso é percebido como um 
inaceitável fracasso de autocontrole. 
 
 
 31
Os pacientes anoréxicos costumam evitar a interação social, ficando muito quietos e 
retraídos, demonstram interesse por atividades que visam resultados objetivos e insistem 
em fazer dietas. Podem em algumas situações ficarem irritados com os familiares, o 
desempenho escolar possivelmente pode decair, pois muitos se tornam distraídos e 
preocupados, podendo chegar a apatia e a depressão (HUSE e LUCAS, 2003). 
 
Fatores familiares influenciam o surgimento da anorexia nervosa, Minuchim et al. 
(1978) apud Galvão et al. (2006), caracterizam as famílias de anoréxicos como 
superprotetoras, rígidas, emaranhadas e com dificuldades para solucionar conflitos. Já 
Gilberg e Rastam (1998) apud Galvãoet al. (2006), enfatizam que as relações familiares 
de pacientes com anorexia nervosa muitas vezes são disfuncionais e forçadas, porém 
não se sabe se os problemas detectados são causa ou efeito dos transtornos alimentares. 
Porém ressalta - se que as preocupações com a alimentação, com o corpo e a aparência 
podem ser transmitidas pelas famílias, mas não são suficientes para desencadear os 
transtornos alimentares, são necessários outros fatores de risco e vulnerabilidade. 
 
 
2.2 BULIMIA NERVOSA 
 
 
No caso da Bulimia Nervosa, os conflitos familiares, o abuso sexual na infância, as 
questões relacionadas ao desenvolvimento da feminilidade e a depressão subjacente 
podem estar ligados à sua origem. Algumas características psicológicas e de 
personalidade também são associadas a pacientes bulímicos, tais como: dificuldades no 
controle de impulso, depressão crônica, sentimentos de culpa, intolerância à frustração e 
ansiedade recorrente, entretanto o que distingue este transtorno é o fato de que os 
episódios bulímicos ocorrem como resposta ao jejum e os vômitos ocorrem devido ao 
desejo de não se ganhar peso (CORDÁS et al., 2004). 
 
Embora as pacientes se encontrem solitárias em relação às pessoas, elas 
passam a envolver-se intensa e obsessivamente com suas próprias 
perspectivas, relativas a comida e dietas. Seus afetos, comportamentos, sua 
auto-imagem e auto-estima estão drasticamente conectados com a 
compreensão que tem dos sintomas. Sentem-se felizes e em paz se comeram, 
se praticaram exercícios ou se vomitaram “adequadamente”. Por outro lado, 
deprimem-se ou entram em desespero se cometem um “erro” ou perdem o 
 32
controle da situação. Pessoas com transtorno alimentar parecem desenvolver 
uma relação intrapessoal com seus sintomas que se assemelha, tanto no 
processo como no conteúdo, ao conceito de relação objetal (NUNES et 
al.,1998, p. 64). 
 
Episódios de compulsão alimentar aumentam o pavor de engordar, o que leva os 
pacientes com bulimia nervosa a colocarem um limiar de peso cada vez mais baixo do 
que seria saudável. Esses episódios são geralmente desencadeados por estados de humor 
disfóricos e estados ansiosos, eles podem ocasionar distração de pensamentos 
desagradáveis, diminuírem sentimentos de tédio e solidão ou causar alívio do rigor das 
dietas rígidas. Freqüentemente as bulímicas sentem vergonha de mostrar o corpo, usam 
roupas largas, evitam se olhar no espelho e algumas se medem com fita métrica 
compulsivamente (DUCHESNE e APPOLINARIO, 2001). 
 
Pacientes bulímicos que se encontram em fases mais gordas costumam evitar o convívio 
social, se mostrando retraídos diante de situações interpessoais, pois costumam 
antecipar críticas e rejeições com relação a sua aparência. Esses comportamentos podem 
levar à solidão, ao abandono e possivelmente à depressão. Muitos desses pacientes 
associam esses problemas exclusivamente a sua forma física, quando na verdade são 
consequências de sua ansiedade, sua baixa auto-estima e de seus próprios 
comportamentos muitas vezes inadequados, como por exemplo o isolamento auto-
imposto. Essa distorção dos fatos acaba por reforçar a idéia de que a melhor maneira de 
resolver seus problemas é fazendo dietas (DUCHESNE e APPOLINÁRIO, 2001). 
 
Galvão et al. (2006), afirma que pacientes com bulimia nervosa costumam se mostrar 
incapazes de controlar impulsos em varias áreas da vida, inclusive do comportamento 
alimentar. Huse e Lucas (2003) também comentam que geralmente estão presentes 
dificuldades de controle dos impulsos em várias áreas da vida de pacientes bulímicos, 
destacam que problemas como furtos, uso de substâncias tóxicas e alcoolismo estão 
sendo vistos com mais freqüência nesses casos; sintomas depressivos estão sendo 
comumente observados, e também a ocorrência de tentativas de suicídio. 
 
Os pacientes bulímicos se diferenciam dos anoréxicos por serem muito mais críticos em 
relação a seus comportamentos alimentares; de se perceberem como “doentes”; de 
apresentarem distúrbios da imagem corporal em graus menos acentuados; de seus 
 33
comportamentos serem orientados pelo medo de ganhar peso e não pela assídua vontade 
de emagrecer. Por isso, o emagrecimento em pacientes bulímicos é menos freqüente e 
70% destes apresentam peso normal (BRASIL e MORAES, 2007). 
 
 
2.3 OBESIDADE 
 
 
O principal problema associado à obesidade durante a infância e a adolescência é o mal-
estar psicológico que esta acarreta – a criança e o adolescente muitas vezes sofrem com 
os maus tratos afetivos dos colegas o que pode vir a desencadear uma baixa auto-estima, 
possivelmente associada a uma distorção da imagem corporal, ao isolamento social, a 
sentimentos de rejeição, fracasso escolar, depressão, etc. Os obesos são freqüentemente 
alvos de discriminação, por isso tantas crianças e adolescentes apresentam distúrbios 
emocionais diretamente ligados a esta condição que podem provocar excessos 
alimentares ainda maiores (CARVALHAL et al., 2007). 
 
Algumas características psicológicas são marcantes no comportamento de crianças e 
adolescentes obesos, como: imaturidade, dependência, baixa auto-estima, passividade, 
dentre outras. As características citadas podem influenciar a dinâmica psicossocial das 
crianças obesas e interferir inclusive no seu desempenho intelectual (CAMPOS e 
FISBERG, 2005). 
 
O adolescente obeso enfrenta problemas relacionados ao aspecto emocional. 
Sente-se discriminado pelos colegas e pode desenvolver complicações físicas 
como dificuldade de movimentação, problemas ortopédicos e de postura. O 
grande problema é que estes efeitos somente aparecem em longo prazo na 
saúde destes adolescentes, que muitas vezes estão mais preocupados com os 
efeitos imediatos dos alimentos que consomem (QUAIOTI e ALMEIDA, 
2006, p. 6). 
 
Os aspectos psicológicos observados na obesidade são resultantes de um processo que 
envolve todo o contexto de vida do indivíduo, atuando na relação com o alimento. O 
excesso de peso na adolescência pode acarretar inúmeros entraves ao desenvolvimento 
psicológico do adolescente, em especial no que diz respeito à sua inserção no grupo de 
amigos, que costuma rejeitar o jovem obeso ou tratá-lo com chacotas. Frequentemente, 
 34
pessoas obesas tentam perder o peso, e a natureza de suas respostas emocionais para 
perda de peso pode ser refletida como uma característica psicológica, sintomas como 
humor depressivo, ansiedade, fraqueza e preocupação em comer são predominantes. 
O estado emocional da pessoa reflete-se no seu apetite, aumentando-o ou 
diminuindo-o (...). A raiva também pode afetar o apetite e nos estados 
emocionais mórbidos, como o da depressão, os distúrbios do comer 
evidenciam-se como sintomas. Portanto, tanto na doença como na saúde, há 
uma íntima relação entre o apetite e o estado emocional. O estudo de 
pacientes obesos mostra que o comer em excesso serve a alguma forte 
necessidade emocional (AZEVEDO e SPADOTTO, 2004, p. 131). 
 
O círculo social de alguns adolescentes obesos tende a ficar cada vez mais restrito, eles 
ficam mais vulneráveis a experiências sociais, sentem-se tímidos, inseguros, deprimidos 
e envergonhados da sua situação. Em função disto, podem desenvolver certa fobia 
social. 
 
 O preconceito e a discriminação contra os obesos e as próprias características da sua 
conduta alimentar podem acarretar sofrimento psicológico às pessoas obesas, a 
depreciação da sua forma corporal acaba por acarretar uma preocupação excessiva com 
a obesidade, levando o indivíduo obeso a se sentir inseguro por não conseguir perder 
peso. Problemas psicológicos associados aos obesos podem decorrer tanto da 
humilhação causada pelo preconceito e discriminaçãoa que estão sujeitos, quanto pela 
sensação de isolamento, e a falta de apoio e confiança, que são muitas vezes associados 
ao fracasso da família em entender seu problema. Porém, o autor enfatiza que pessoas 
com excesso de peso não possuem uma condição psicológica própria e nem traços de 
personalidade comuns (BERNARDI et al., 2005). 
 
 
 
 
 
 
 35
3 CONTRIBUIÇÕES DA PSICOLOGIA NA PREVENÇÃO E TRATAMENTO 
DAS ALTERAÇÕES NO COMPORTAMENTO ALIMENTAR 
ADOLESCENTE 
 
 
Após conhecer os fatores de risco envolvidos na origem dos transtornos de alimentares, 
pensa-se então em prevení-los, isto pode ser feito através da prevenção primária – que 
envolve os processos implicados no desenvolvimento da doença, da prevenção 
secundária – que objetiva diminuir a duração da doença pela redução do tempo entre o 
início e a apresentação do tratamento, e da prevenção terciária – que trabalha para 
minimizar os efeitos colaterais da doença (NUNES et al., 1998). 
 
Segundo Nunes et al. (1998, p. 139), “a escolha adequada da estratégia de tratamento 
vai depender das condições clínicas do paciente e da análise funcional do caso”. 
Investigar os aspectos do comportamento detectando fatores sociais e familiares é 
importante para a modificação dos hábitos alimentares, da prática de atividades físicas e 
das mudanças comportamentais. 
 
Estratégias de tratamento inovadoras e mais efetivas devem levar em 
consideração uma compreensão mais ampla dos processos de mudança 
psicológica e outros fatores que possam estar associados às mudanças 
sintomatológicas (GALVÃO et al., 2006, p.138). 
 
Lask e Bryant-Waugh (1991) apud Morgan (2006) afirmam que os pais de crianças com 
transtornos alimentares, quando procuram tratamento para os filhos se encontram num 
estado de ansiedade e desespero, sobrecarregados de culpa e insegurança. É 
fundamental o envolvimento da família no tratamento, este deve se basear na tentativa 
de incluir os pais como aliados no processo de recuperação, trabalhando para recuperar 
a autoridade dos pais quanto à segurança e a saúde dos filhos, e ajudando-os a 
proporcionar maior liberdade às crianças em outras áreas da vida. A melhora do 
funcionamento familiar é fundamental para a recuperação de um transtorno alimentar. 
 
Alguns autores preconizam a integração de diferentes abordagens em 
transtornos alimentares com base na teoria dos fatores inespecíficos das 
psicoterapias e na concepção de que as diferenças entre as técnicas podem 
ser complementares, principalmente pela complexidade das síndromes... 
(Tobin, Johnson 1991; Yager 1994 apud GALVÃO et al., 2006, p.139) 
 36
 
O tratamento dietético é utilizado para normalizar os padrões alimentares e o peso dos 
pacientes com transtornos alimentares, já o tratamento psicoterápico abordará questões 
individuais, familiares e sociais existentes no quadro. Quando se tratam de pacientes 
jovens que moram com os pais, o tratamento deve incluí-los através de aconselhamento 
de apoio e terapia familiar. A eficácia do tratamento é determinada pelas características 
do paciente em questão, da doença e das qualidades do terapeuta. Um plano de 
tratamento bem elaborado deve levar em conta as necessidades individuais dos 
pacientes (HUSE e LUCAS, 2003). 
 
.... distúrbios alimentares acarretam tanto sintomas físicos quanto psíquicos. 
Um tratamento precisa dar conta desses dois campos. Alguns tipos de 
psicoterapia têm bons resultados: Gestalterapia: o aqui-e-agora é tomado 
como ponto de partida. (...) O tom da voz, gestos e postura corporal 
fornecem informações mais importantes que a pergunta sobre a última 
refeição. Psicanálise: tomo como ponto de partida conflitos inconscientes 
como causa do transtorno. À medida que sentimentos tornam-se conscientes 
ao longo do tratamento, é frequente que vivências traumáticas sejam 
ressignificadas e o paciente se abra a novas experiências. Terapia 
Sistêmica: o ser humano é visto como parte da rede de relações de seu 
ambiente. Sintomas de doenças são a expressão de determinados modelos 
relacionais. As intervenções terapêuticas têm por meta torná-los claros e 
com isso ampliar as possibilidades de ação. Terapia Comportamental: 
trabalha com técnicas fundadas de aprendizagem no intuito de ensinar a 
comer com regularidade e a se defrontar com sua imagem no espelho, sem 
se aprofundar nos conflitos que determinam o transtorno e seus sentidos 
(EGGERS e LIEBERS, 2008, p. 65). 
 
Psicoterapeutas de diversas abordagens afirmam a importância de se trabalhar o 
reconhecimento e a expressão dos afetos, a exploração da interação com a família, e os 
aspectos implicados no processo de desenvolvimento do indivíduo, como separação, 
autonomia, temores sexuais e formação da identidade (GALVÃO et al., 2006). 
 
Fairburn e Wilson (1993) apud Straub (2005) sugerem que a auto-estima e a imagem 
corporal são variáveis fundamentais para a eficácia das intervenções em tratamento de 
transtornos alimentares. Ou seja, qualquer que seja o tipo de tratamento adotado, 
pacientes com baixa auto-estima e com graves distorções da imagem corporal tendem a 
ter mais insucessos em tratamentos a longo prazo. 
 
O tratamento dos transtornos alimentares é bastante complexo, principalmente devido a 
negação da doença que ocorre em grande parte dos casos, a psicoterapia tem dado bons 
 37
resultados, especialmente a abordagem cognitivo-comportamental, que dá ênfase aos 
sintomas específicos seguindo um raciocínio linear, identificando comportamentos-alvo, 
as situações que os desencadeiam e as consequências psicológicas de sua ocorrência 
(BRASIL e MORAES, 2007). 
 
Existem algumas especificidades no tratamento de adolescentes com transtornos 
alimentares, é necessária uma avaliação dos aspectos físicos, maturacionais, 
psicológicos e familiares de cada paciente, a fim de elaborar uma hipótese diagnóstica 
correta e avaliar a gravidade dos sintomas. O tratamento que deve ser feito por uma 
equipe multidisciplinar, deve ter como objetivos a curto prazo, a normalização do peso 
corporal e a interrupção da compulsão e purgação, e a longo prazo é recomendado a 
psicoterapia como um recurso terapêutico eficaz (MORGAN et al., 2006). 
 
Dados consistentes indicam que a taxa de desistência do tratamento dos transtornos 
alimentares está entre 0 e 34%, e a abstinência do comportamento alimentar 
desordenado a longo prazo fica entre 20 e 76% (STRAUB, 2005). 
 
A terapia medicamentosa desempenha um papel importante nos quadros clínicos 
associados à compulsão alimentar assim como o tratamento hospitalar, quando os 
sintomas são graves. Mas deve-se deixar claro que esses tratamentos não são 
definitivos, recaídas podem ocorrer ao longo do processo, o que exige mudanças de 
comportamento, mudanças nas formas de pensar e de perceber a si mesmo (NUNES et 
al., 1998). 
 
 
3.1 ANOREXIA NERVOSA E BULIMIA NERVOSA 
 
 
O tratamento da anorexia nervosa é complexo e difícil, pois a maioria dos pacientes 
nega a doença, além disso, muitos apresentam co-morbidades psiquiátricas e 
complicações físicas decorrentes da doença (GALVÃO et al., 2006). 
 
Vários obstáculos se antepõem a busca de ajuda terapêutica: o indivíduo que 
sofre de um transtorno alimentar não o vê como problema, principalmente 
 38
na anorexia nervosa, em que o comportamento anormal é negado. Sendo 
assim os pacientes são trazidos pelos familiares. Alguns julgam que seu 
problema não é suficiente para merecer tratamento. Outros crêem que o 
problema cessará espontaneamente (NUNES et al., 1998, p. 128). 
 
A linguagem do corpo, da comida e do peso é a principal via de expressão dos medos e 
necessidades dos pacientes com transtornos alimentares, portanto o psicoterapeuta

Continue navegando