Buscar

Políticas territoriais e integração do (1)

Prévia do material em texto

Evandro Ramos
Geografia Humana e Econômica
Prof. Adenilson Costa 
Políticas territoriais e integração do “novo” território do estado do Rio de Janeiro
Introdução: Uma análise dos fatores responsáveis pelas alterações no uso do território no estado do Rio de Janeiro.
Dada certa relação de produção presente em uma sociedade e em uma localidade, alterações nas condições gerais de produção produzirá uma demanda por novos ordenamentos territoriais, visando abrigar da melhor forma possível, com poucos danos e com ganhos mais horizontais possíveis, tal como é o território, a nova complexidade do dinamismo econômico. Para além dessa demanda necessária de planejamento para o uso do novo espaço territorial, as mudanças nas formas de produção causam transformações diretas sobre a localidade que está inserida. Assim se faz necessário uma análise das direções que as novas formas de produções tomam, para que um melhor uso do território possa ser pensado, assim como o próprio conceito de território deve ser revisto, para que não haja entendimento de ator e “coadjuvante” nele inserido, conforme a ótica do sistema capitalista de produção, mas para que o conceito de território seja a “expressão de relações sociais e estratégias dos diferentes sujeitos que produzem o espaço social”.
O início da exploração off-shore, em escala comercial, do petróleo situado na Bacia de Campos, no Norte Fluminense, assim como a instalação da fábrica de caminhões da Volkswagen em Resende, na Região do Médio Paraíba, ambos em meados dos anos 90, são apontados por Oliveira como mudanças na base econômicas que serão responsáveis por promoveram uma integração territorial do Estado do Rio de Janeiro, mudanças que serão sentidas nas duas grandes cidades núcleo da Metrópole, Rio de Janeiro e Niterói.
 
Horizontalidades e Espaço Banal
Expandindo o conceito de território para além de uma relação de poder sobre espaço definido.
Devido às novas formas de produção que surgiram no território fluminense durante as duas últimas décadas, houve uma reorganização estrutural da base econômica e nas redes de suporte às novas atividades produtivas, descentralizando a produção e os investimentos, antes adensados na metrópole.
As decisões quanto às novas formas de produzir, os novos bens à produzir, bem como onde alocar os investimentos, estão concentrados nas mãos dos grandes agentes capitalistas. Levando à uma escala de reorganização estrutural, este capital está, generalizadamente, concentrado nos grandes centros mundiais do capitalismo.
Essa relação dos centros financeiros mundiais com as cidades afetadas (cidades núcleos da metrópole fluminense, Resende ou Volta Redonda, Macaé ou Campos) através do capital será classificada pelo ator como intervenções verticais sobre o território. Este conceito de ‘verticalidade’, caracterizado por um objetivo puro e simplesmente voltado ao lucro e à exploração dos recursos locais, não compreende a totalidade das transformações sofridas pelo território, ele vai “desconsiderar as forças sociais presentes no território” e “reduzir qualquer benefício social resultante desses empreendimentos”.
Dessa forma, para que possamos compreender a totalidade das transformações que as mudanças nas bases econômicas causam sobre um território é necessário que a análise tenha uma abrangência maior e abrigue todos os atores sociais presentes no mesmo espaço, para isso o autor insere o conceito de ‘espaço banal’ ou “o espaço da vida cotidiana, das relações sociais que [...] organizam o território”.
O espaço da vida cotidiana abriga, para além da capacidade científica e tecnológica das empresas, os recursos genéricos, tais como os recursos humanos, trazendo o território em sua forma horizontal, ou seja, na junção de espaços contíguos, tornar o objeto da análise, em detrimento das verticalidades. Logo, o autor visa compreender e expor as transformações no território como “ação dos sujeitos que o organizam e não simplesmente moldado segundo interesses dos agentes ligados ao capital corporativo”, dando a devida importância para cada um dos que estão presentes nas localidades que compõe o território frente às mudanças. 
Novas Relações de Produção no Estado do Rio de Janeiro
Norte Fluminense
Para discutir as transformações e práticas sociais no território do estado do Rio de Janeiro o autor dá ênfase à duas regiões que passaram por transformações em suas bases econômicas: O Norte Fluminense e a exploração de petróleo além mar; e a Região do Médio Paraíba, onde foi instalada uma fábrica de caminhões.
Vale destacar, a princípio, que os dinamismos alcançados pelas regiões citadas pelo autor são considerados quando estes alcançam impacto sobre o espaço metropolitano. 
No Norte Fluminense predominava desde o séc. XVII as atividades extrativistas, principalmente a produção de açúcar. Com o início da exploração em escala comercial do óleo da Bacia de Campos, essa região do estado começa a passar por profundas mudanças em suas relações com o território.
A quantidade de petróleo descoberto na Bacia de Campos, hoje responsável por 80% da produção nacional, foi a maior já realizada no Brasil. A capacidade da única empresa habilitada para explorá-lo à época, a Petrobrás, não estava à altura das disponibilidades das reservas. A cidade de Macaé foi escolhida para sediar o escritório local da Petrobrás e servir de base para as operações logísticas de abastecimento e deslocamentos dos técnicos e funcionários para as plataformas. Ainda que para o atendimento da crescente demanda por mão de obra fosse inaugurada uma universidade de ponta em Campos e em Macaé, a UENF, em 1993, no início quase a totalidade dos trabalhadores vinham de fora da região, gerando um crescimento desordenado na ocupação do território urbano, visto a falta de planejamento na ocupação dos espaços pelos demais atores da sociedade que não aqueles movidos pelos centros capitalistas. Com isso, o processo de favelização em Macaé acompanhou os expressivos aumentos na arrecadação tributária do estado do Rio de Janeiro.
Para atender a logística de serviços e produção o município de Campos do Goytacazes foi o escolhido, pois Macaé ainda era uma cidade de pequeno porte no início dos anos 1990. Esse fato traz um enorme privilégio para Campos, que passa a receber enormes receitas advindas da exploração do petróleo. O município, o de maior extensão territorial no estado, torna-se então um centro de serviços administrativos e de medicina, além de se tornar um polo universitário.
A indústria canavieira começa a perder a primazia e se tem uma nova relação de produção no espaço do Norte Fluminense baseado na exploração do petróleo e do gás. Essa mudança terá um reflexo no núcleo da metrópole, precisamente na indústria naval do Rio de Janeiro e de Niterói, estagnada desde o final dos anos 1970. Essa mudança na base econômica do Norte Fluminense, segundo o autor, não terá consequência maior que um reflexo, ao final do século XX, devido à acentuada decadência econômica e social que a área metropolitana se encontrava. Ainda que no ano 2000 as atividades petrolíferas na Bacia de Campos contribuíssem com aproximadamente 15% do PIB, a preços correntes, estadual, os benefícios sociais dessa maior arrecadação não eram sentidos na área metropolitana, assim como eram difusos em seu local de arrecadação. As transformações territoriais estavam sendo executado apenas pelos grandes agentes do capital em detrimentos dos demais atores do espaço banal, e de todo o estado do Rio de Janeiro. 
Região do Médio Paraíba
Com a onda de privatizações vivida pelo país em meados dos anos 1990, a CSN, instalada no município de Volta Redonda, Região do Médio Paraíba, teve seu controle vendido para agentes privados e passou a ter alocações de investimentos, mão de obra, dentre outros recursos, regidos sob a verticalidade das relações capitalistas. Paralelamente a este fato, em 1995, é instalada em Resende a fábrica de caminhões da Volkswagen. A Região do Médio Paraíba vive uma mudança nas perspectivaseconômicas do uso de seu território. 
Devido aos novos interesses da CSN, conflitante com a adminstração de Volta Redonda leva a siderúrgica a buscar uma nova localidade para abrigar as bases logísticas da empresa. Para suprimir essa perda, Volta Redonda propõe uma maior integração dos municípios da região, porém, como tem sua extensão territorial limitada, as atividades industriais que foram atraídas com a chegada da VW e a expansão da CSN foram se instalar em Resende, que já possuía um poso industrial ( contava inclusive com um Porto Seco e com um entreposto da Zona Franca de Manaus). A industrialização desse município, porém, se faz nova, visto que a maior parte das instalações industriais fechou ou perdeu totalmente a competitividade. Essa nova industrialização se deu no distrito de Porto Real, emancipado em 1997.
Renúncias fiscais, isenções de impostos, mão de obra qualificada, dentre outros, foram os incentivos que o município e o governo do Estado, junto da CSN, estabeleceram para atrair o capital da Volkswagen à Resende. Atraído por tantos benefícios, em 1997 se instala, também em Porto Real, a fábrica da Peugeot-Citroen, gerando mais de 2 mil empregos diretos. E, diferentemente da VW o grupo PSA, detentor das marcas Peugeot-Citroen, levou consigo uma cadeia de fornecedores com cinco empresas, criando um distrito industrial onde essas firmas se localizam. 
A indústria automobilística, junto da indústria metal-mecânica dão novas formas ao uso do território e novas formas urbanas vão se construindo na Região do Médio Paraíba. 
A importância relativa dessas transformações, porém, assim como as ocorridas no Norte Fluminense, é baixa, “devido ao grande percentual da participação das atividades situadas na área metropolitana no PIB do estado” segundo o autor.
As Transformações chegam à área e região metropolitana.
Apesar de experiências isoladas de transformações no uso do território no estado do Rio de Janeiro, notadamente na parte norte fluminense e na divisa com o estado de São Paulo, até o fim do milênio passado essas novas formas de uso do território e as novas relações de produção presente no estado fluminense não foram suficientes para que houvesse um maior esforço por parte do poder publico e do setor privado no sentido de promover uma maior interação entre estas localidades visando disseminar os benefícios do uso do território e dar uma nova orientação à economia do estado, em decadência havia duas décadas.
A partir do segundo mandado do presidente Luís Inácio Lula da Silva, com a efetiva exploração comercial de jazidas de petróleo situadas a 180 quilômetros da costa e 7mil metros de profundidade, logo abaixo de uma espessa camada de sal, há uma maior intervenção do governo federal sobre alguns setores da economia, destacadamente o setor petrolífero, sua cadeia de produção e distribuição. Estas intervenções impactaram diretamente na economia fluminense, maior produtor nacional de petróleo e gás, fazendo dessas novas bases econômicas presentes no interior se façam sentir na região da metrópole.
A exploração do petróleo na Bacia de Campos, cada vez mais crescente, devido a descoberta de novos e mais profundos poços, demanda uma enormidade de conhecimento e equipamentos para que a exploração se torne viável. Neste contexto o governo federal impõe que todo equipamento adquirido pela Petrobrás tenha, no mínimo, 60% de conteúdo nacional, gerando uma forte demanda por equipamentos da indústria naval das cidades do núcleo da metrópole (Rio de Janeiro e Niterói), que estava totalmente parada desde o final dos anos 1970 e atualmente opera com mais de 20 mil funcionários (dados de 2010).
Ainda como efeito das políticas intervencionistas do governo Lula, em 2006, visando agregar valor ao petróleo extraído na Bacia de Campos, foi anunciado o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), para o refino do petróleo e a instalação de empresas para produção de insumos e produtos químicos.
A planta industrial, refinaria e demais indústrias de insumo e químicas, estará totalmente localizada no município de Itaborai, porem o Complexo demandara uma serie de recursos e infraestruturas de primeira necessidade da qual o município de Itaborai não tem capacidade para atender. Para a produção e o escoamento da produção serão necessário gasodutos, oleodutos, rodovias, portos, mão de obra qualificada, água, energia dentre outros recursos a ser providenciados juntos a outros municípios. Todos esses recursos que o Comperj irá consumir promoverá um marco no processo de recuperação da economia e das mudanças na organização social da economia.
A escolha do estado do Rio de Janeiro para receber a refinaria, que fora disputado por outros estados, já produz uma maior visibilidade do território, e a escolha de Itaboraí como sede do Complexo foi estratégica.
O município São Gonçalo, vizinho de Itaboraí, possui a segunda maior população do estado, perdendo apenas para a capital, uma cidade dormitório, devido à falta de dinamismo de sua economia e pela dependência do humor econômico do núcleo da metrópole. Têm-se ai farte mão de obra para atender às demandas do Complexo, basta qualifica-la. Várias instituições de ensino, do básico ao ensino superior, públicas e privadas, instalaram-se nesse município com especialidade no petróleo e gás.
Em São Gonçalo também está localizada a Ilha das Cobras que a princípio serviria como armazém de combustível, mas teve suas finalidades alteradas. Nela foi construído um porto para atender as demandas das empresas que trabalham no Comperj, além de futuramente operar como um terminal de transporte de passageiros, ligando São Gonçalo à capital, através do terminal das barcas, na Praça XV.
Este porto na Ilha das Cobras, contudo, situado no meio da Baia de Guanabara, não será capaz de escoar a produção do Complexo, sendo necessária a ligação, por rodovia, do município de Itaboraí até o porto de Itaguaí, na parte oeste da região metropolitana. 
As estradas internas do Comperj estão sendo dirigidas para o município de Magé, e a rodovia que fará a ligação da refinaria ao porto será denominada Arco Metropolitano, rodovia esta que ligará oito municípios da região metropolitana, notadamente os mais afastados do núcleo, levando a um incorporamento das áreas rurais ao espaço urbano.
Dessa forma dispõe-se de um lado o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro e do outro lado da rodovia se dispõe o porto de Itaguaí, a ser ampliado pela Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA) e acessível também por ferrovia, dando uma maior dinâmica no uso do território e abrindo a possibilidade para que novas formas de produção se desenvolvam ao longo desse caminho. Essa maior oportunidade no uso do território propiciou a instalação de plantas industriais na área, caso da Petroquisa, no município de Seropédica. 
Limites da integração e da gestão compartilhada.
A análise das transformações dos territórios no Norte Fluminense e na Região do Médio Paraíba deixa evidente a necessidade de pensar políticas de gestão que vão além das municipalidades, abrangendo seu entorno, que também é afetado pelas mudanças nas bases econômicas e devem receber partilhas dos benefícios. Esse tipo de gestão de áreas metropolitanas no Brasil, porém, é limitado devido à presença na Constituição Federal de um artigo que outorga aos municípios, que possuem 10% das receitas arrecadadas, a responsabilidade de arcar com o planejamento urbano. A lei nº 10.257, chamada de Estatuto da Cidade ratificou o uso do plano diretor municipal como plano de planejamento urbano, em detrimento de políticas de integração metropolitanas.

Continue navegando