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Técnicas construtivas do período colonial

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ARQUITETURA COLONIAL BRASILEIRA - Silvio Colin 
 
Foto Pedro Martinelli 
I- TÉCNICAS CONSTRUTIVAS DO PERÍODO COLONIAL/ VEDAÇÕES E DIVISÓRIAS 
1- Alvenaria: 
 A alvenaria é uma técnica de confecção de muros utilizando tijolos, lajotas ou pedras de mão, aglutinados 
entre si por meio de uma argamassa. No período do Brasil colonial as argamassas mais utilizadas eram de cal e 
areia ou de barro 
2- Adobe: 
 O adobe é uma lajota feita de barro com dimensões aproximadas de 20 x 20 x 40 cm, compactados 
manualmente em formas de madeira, postos a secar à sombra durante certo numero de dias e depois ao sol. O barro 
deve conter dosagem correta de argila e areia, para não ficar nem muito quebradiça, nem demasiadamente plástica. 
Para melhorar sua resistência, podem-se acrescentar fibras vegetais ou estrume de boi. As lajotas assim 
confeccionadas são assentadas com barro, e revestidas com reboco de argamassa de cal e areia. Embora 
encontremos importantes construções feitas inteiramente de adobe, como a matriz de Santa Rita Durão, MG[1], o 
material era usualmente reservado a divisórias interiores. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fig. 1 – Adobe. Confecção e assentamento 
 
3- Tijolos Cerâmicos 
 Usando a mesma matéria prima – a argila, o tijolo cerâmico difere do adobe pelas suas dimensões menores 
e pelo fato de ser cozido em fornos, a altas temperaturas. Sua durabilidade o rivaliza com a pedra. Foi talvez o 
primeiro material de construção durável utilizado pelo homem. Aliás, mesmo o homem fora feito de argila, de acordo 
com a Bíblia, que ensinava a utilizá-lo [2],e sua presença assinalava para a possibilidade de vida sedentária, junto 
aos aluviões dos rios. 
 O Portão de Ishtar, na Babilônia, do século IV a.C. e a Muralha da China, do século III a.C., constituem-se 
em exemplos não somente da durabilidade como também do grau de evolução a que chegou esta técnica no período 
proto-histórico. Desde o século XVII, o tijolo era comumente empregado na Bahia e em 1711 já existe registro de 
uma olaria em Ouro Preto. A precariedade de condições, entretanto, reservava a maior parte da produção das olarias 
para telhas. As alvenarias de tijolos somente vão se tornar comuns no século XIX. Nos séculos precedentes perde, 
em importância para a taipa de pilão, a pedra e cal, e mesmo o adobe. Entretanto, encontramos fiadas de tijolos 
associadas à pedra em muros de pedra e cal. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fig. 2 – Alvenaria de tijolos. Aparelhos. 
4- Pedra: 
 Era o material que conferia maior resistência aos muros, razão porque era utilizada nas fortificações, igrejas 
monumentais e nas construções oficiais. No início da colonização, ainda no século XVI, já encontramos construções 
assim realizadas. É o caso da torre que Duarte Coelho ergueu em Olinda em 1535. Foi a técnica preferida das igrejas 
de Ouro Preto [3]. 
 As pedras utilizadas eram calcários, arenitos ou pedra de rio e granitos, no Rio de Janeiro, e mesmo a pedra-
sabão e a canga [4], em Minas. As argamassas eram cal e areia, mais resistente, ou o barro, onde não existia a 
disponibilidade de cal. As pedras eram de tamanho variável, até 40 cm na maior dimensão ou mais, e acabamento 
irregular, sem qualquer trabalho de aparelhagem. Pedras menores eram colocadas para calçar as maiores. 
Na alvenaria de pedra seca, é dispensada a argamassa. As paredes têm grande espessura (0,60 a 1,00 m) e são 
assentadas com a ajuda de formas de madeira. Esta técnica é mais utilizada para muros exteriores. As pedras de 
mão, maiores, contornadas por pedras menores recebe o nome de cangicado. 
 
 
Fig. 4 – Canjicado. 
 
Fig. 3 – Alvenaria de pedra 
 
5- Cantaria: 
 
 Por cantaria entendemos o serviço utilizando a pedra lavrada de maneira precisa, de modo que as peças se 
ajustam perfeitamente umas sobre as outras sem o auxílio de argamassa aglutinante. Para o assentamento rigoroso 
utilizam-se grampos metálicos e, às vezes, óleo de baleia como adesivo, para auxiliar na vedação. Apesar de ser um 
serviço sofisticado, que exige profissional bastante habilitado – o canteiro, é também milenar. Os templos gregos e 
romanos, as grandes catedrais medievais foram, em sua maioria, executados em cantaria. 
 
 
 No Brasil, entretanto, como também em Portugal, devido à dificuldade de mão de obra qualificada e também 
devido ao custo, a cantaria não era utilizada na totalidade do edifício, mas apenas em suas partes mais importantes: 
nos frontispícios, nas soleiras, nas pilastras, nas cornijas, nos portais, nas janelas e nos cunhais, sendo, no restante 
das vedações, utilizada outra técnica mural. O aparelho das pedras não era muito elaborado, exceto no Rio de 
Janeiro, a partir da segunda metade do século XVIII. 
 
 
 
 
 
 
Fig. 5 – Aparelho de cantaria e 
aparelho misto de cantaria e 
alvenaria de pedra. 
 
 
 
 
 Fig 6. Portal de cantaria. Imagem RODRIGUES, 1979. 
 
6- Taipa de Pilão 
 
 A taipa de pilão foi o material mais empregado nas construções coloniais no Brasil, devido, sobretudo à 
abundância de matéria prima – o barro vermelho, à relativa facilidade de execução, à satisfatória durabilidade [5] e às 
excelentes condições de proteção que oferece quando recebem manutenção adequada. É uma técnica de origem 
mourisca praticada pelos portugueses e espanhóis desde tempos imemoriais, conhecida também pelos negros 
africanos. Era de uso comum na Europa, até meados do século XIX. Na França recebia o nome de pisé. 
 
 
 
Fig. 7 – Taipal e pilão. Imagem BARDOU, 1981, p. 19 
 
 A técnica consiste em amassar com um pilão o barro colocado em formas de madeira, os taipais, 
semelhantes às formas de concreto utilizadas hoje. Os taipais têm somente os elementos laterais, e são 
estruturados por tábuas e montantes de madeira, fixados por meio de cunhas, em baixo, e um torniquete em cima. 
Suas dimensões são de aproximadamente 1,0 m de altura por 3,0 a 4,0 m lateralmente, e têm a espessura final da 
parede, 0,6 m a 1 m. Após a secagem, o taipal é desmontado e deslocado para a posição vizinha. E assim 
sucessivamente. 
 
Fig. 8 – Execução da taipa de pilão. Imagem BARDOU, 1981, p. 20. 
 
 Os critérios de escolha do barro não se conservaram plenamente, de vez que dependia de tradição oral e 
ficou perdida no tempo. Sabe-se que, semelhante ao adobe, deve ser uma mistura bem dosada de argila e areia e 
alguma fibra vegetal, crina de animal ou mesmo estrume. Podia-se também misturar óleo de baleia, que “conferia 
uma resistência extraordinária” [6]. O barro é colocado em pequenas quantidades, em camadas sucessivas de 
aproximadamente 20 cm, que se reduzem a 10 ou 15 cm depois de comprimidas. 
A secagem durava de 4 a 6 meses, findos os quais as paredes poderiam receber revestimento, geralmente 
argamassa de cal e areia, que lhe aumentava a resistência. A esta argamassa era, às vezes acrescentada “bosta de 
vaca”. O resultado era uma argamassa capaz de resistir “à mais forte e duradoura chuva” [7]. Como a parede não 
podia receber água de chuva, algumas providências eram tomadas, entre elas o uso de grandes beirais e a elevação 
acima do terreno com alvenaria de pedra. Paulo Santos nos fala de “uma construção existente em Cabo Frio, 
datando de pelo menos três séculos”, de taipa de pilão, cuja resistência é tão grande, “a ponto de se assemelhar ao 
nosso concreto” [8] Uma variante do sistema, chamado formigão [9], consiste em misturar à massa de barro pedras 
miúdas e pedras maiores (pedras de mão). 
A taipa de pilão foi mais utilizada nas regiões de São Paulo e Goiás. Em Minas, a encontramos em igrejas mais 
antigas e em residências. Nas cadeias, quando não era possível sua execução com pedra e cal, a taipa era reforçada 
com engradamento de madeira, nas paredes e 
nos pisos. 
 
Fig.9 – Taipa de pilão reforçada com madeira, 
utilizada nas cadeias. Fonte BARRETO, P. T. 
“Casas de câmara e cadeia” In: Arquitetura 
Oficial I, 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
7- Pau-a-pique: 
 
 Pau-a-pique, taipa de sebe, taipa de mão, barro armado ou taipa de sopapo, são diversos nomes para um 
dos sistemas mais utilizados tanto nos tempos da colônia como ainda hoje em construções rurais, devido a suas 
qualidades – baixíssimo custo (todos os materiais são naturais), resistência e durabilidade. Conhecido dos indígenas 
e dos negros africanos, utilizado no Nordeste, nosMassapés e em Minas. 
 
 
 Na sua versão mais depurada, consiste em uma estrutura mestra de peças de madeira, cuja seção pode 
variar 50 x 50 cm, 40 x 40 cm até 20 x 20 cm composta de esteios – peças verticais enterradas no solo, baldrames – 
peças horizontais inferiores, e frechais – peças horizontais superiores. Os esteios tem comprimento de até 15 m, dos 
quais 2 a 4 m são enterrados. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fig. 10 – Construção em pau-a-pique rustica. Imagem BARDOU, 198, p. 49. 
Fig. 11 – Construção em pau-a-pique apurada. Detalhe. Imagem SANTOS, 1951 
 
 A parte extrema dos esteios, que ficava enterrada não era afeiçoada em seção quadrada, mantendo a forma 
roliça das árvores. Era popularmente denominada nabo. As madeiras preferidas era a Aroeira ou Braúna. Os 
baldrames eram ligados aos esteios por sambladuras tipo rabo-de-andorinha. Entre os esteios e os frechais eram 
então colocados paus roliços verticais (paus-a-pique), de aproximadamente 10 cm de diâmetro. A este eram ligados 
horizontalmente outros mais finos, compondo uma malha quadrangular, em apenas um dos lados ou nos dois lados. 
Esta trama era amarrada com cordões de seda, linho, cânhamo ou buriti. Feita a trama, o barro era jogado e 
apertado com as mãos, daí o nome de sopapo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fig. 12 – Elementos de estrutura em 
pau-a-pique apurada. Imagem 
SANTOS, 1951 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 No caso de paredes muito altas, utilizam-se peças intermediárias entre o baldrame e o frechal, 
denominadas madres [10]. Sob os baldrames estão ossocos, o espaço preenchido com alvenaria, funcionando 
apenas para vedação. Para reforço do baldrame, entre este e o solo, pode-se colocar peças de madeira, 
denominadas burros. 
Paulo Santos nos informa de diversas igrejas de Minas construídas por esta técnica: Santa Rita e Nossa Senhora do 
Ó, em Sabará, Matriz de Nossa Senhora da Conceição, em Catas Altas, Nossa Senhora das Mercês, em Mariana, 
Nossa Senhora das Mercês e Perdões em Ouro Preto [11]. 
Era a técnica muito utilizada também para divisórias internas, sobretudo nos pavimentos elevados, em construções 
cujas paredes externas eram de taipa de pilão. 
 
 
 
 
8- Enxaimel: 
 Em tudo semelhante ao sistema anterior no que se refere à estrutura principal, dele difere quanto à vedação. 
Neste caso o vão entre os esteios, estes também denominados enxaiméis, e as madres, baldrames e frechais, é 
reforçado com peças inclinadas nos cantos ou na diagonal dos quadros. 
Estas peças têm o nome de cruz de Santo André ou aspas francesas. O 
vão é preenchido com adobe ou mesmo tijolos. Esta técnica é também 
milenar, utilizada na Europa medieval, e muito popular no sul do país. 
Mas tanto Paulo Santos como Sylvio de Vasconcelos registram a 
utilização em outras regiões. 
 
 
 
 
 
 
 
Fig. 13 – Muro de enxaimel. Imagem BARDOU, 1981 
 
 
 
 
 
9- Tabique: 
 
 Tabique é uma divisória feita com estrutura de vigas de madeira e revestimento de tábuas. È um serviço e 
grande simplicidade e facilidade de execução, utilizado no Brasil colonial sobretudo para divisórias internas. As 
madeira utilizadas são as mesmas das estruturas de maior responsabilidade, isto é, aroeira, ipê, peroba, 
maçaranduba, jatobá, e também aquelas de menor densidade como o cedro, a canela, o vinhático, a caviúna, entre 
outras. Esta grande simplicidade entretanto não quer dizer que lhe foi reservado papel de menor responsabilidade. O 
exemplo mais marcante é, sem dúvida, o da Matriz de Nossa Senhora do Pilar, de Ouro Preto, cujas paredes 
externas são de alvenaria de pedra e a parede da nave, de madeira, conferindo-lhe 
a forma poligonal. 
 
 
 
 
 Fig. 14 – Tabique. Imagem www.masisa.com 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fig. 15 – Planta da matriz de Nossa Senhora do Pilar, em Ouro Preto com as divisórias da nave 
construídas em tabique. Imagem SANTOS, 1951 
 
Notas 
[1] BAZIN, 1956, Vol. 1, p. 58. 
[2] “Vamos, façamos tijolos e cozamo-los ao fogo. Serviram-se de tijolos em vez de pedras, e de betume em lugar de argamassa.” 
(Gênese, cap. 11-3) 
[3] SANTOS, 1951, p. 90. 
[4] Minério de ferro. 
[5] John Mawe, em seu livro Viagens ao Interior do Brasil (1812) relata: “Essa espécie de estrutura é durável; vi casas assim 
construídas que dizem ter duzentos anos…”. Apud VASCONCELOS, 1979, p. 21. 
[6] BAZIN, 1956, Vol. 1, p.57. 
[7] BARRETO, Paulo Thedim. “Casas de câmara e cadeia”, p. 173. In: Arquitetura Oficial I, 1975. 
[8] SANTOS, 1951, p. 83. 
[9] O termo formigão pode também designar a mistura de cascalho, saibro ou areia, e cal usada em fundações. Em Portugal, 
designa a mistura de cal e saibro umidecida, apiloada dentro de formas, como a taipa de pilão. 
[10]Madre é também o nome genérico de todas as peças horizontais, baldrames e frechais e também das linhas de tesouras, 
quando estas suportam a carga de um pavimento imediatamente sob o telhado. 
[11] SANTOS, 1951, p. 86. 
 
II- TÉCNICAS CONSTRUTIVAS DO PERÍODO COLONIAL/ COBERTURAS E FORROS 
 
1- Telhas: 
 Os telhados são, por assim dizer, a marca da arquitetura colonial. Embora no século XVI as boas 
construções, como casas de Câmara e Cadeia ainda usassem o sapé, eram depois substituídas por telhas. As 
telhas são sempre cerâmicas, decapa e canal, ou capa e bica, também chamadas telhas canal ou colonial. Fora do 
Brasil são conhecidas por telhas árabes ou mouriscas. Inicialmente eram moldadas artesanalmente por escravos. 
Eram naturalmente muito irregulares, o que gerou uma crença popular de que eram “feitas nas coxas”. A 
expressão inclusive transcendeu o discurso técnico, e é ainda hoje utilizado para designar pejorativamente 
qualquer coisa mal feita. Por extensão, a expressão passou a designar qualquer coisa mal feita ou irregular. 
 
O cozimento também não era perfeito, como viria a ser no 
século XIX, quando aqui aparecem as 
telhas francesas ou marselha e as telhas romanas. O 
processo de moldagem e cozimento davam a estas telhas 
forma e coloração muito características responsáveis pela 
aparência inconfundível das edificações coloniais, que 
tanto agradam às novas gerações. 
 
 
 
 
 
 
 Estruturas de telhado: 
 A estrutura de assentamento das telhas era sempre de madeira. O desdobramento das peças era 
artesanal, executado geralmente por escravos, como mostra a bela gravura. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Desdobramento da madeira. Gravura de Jean-Baptiste Debret. Imagemhttp://www.comciencia.br 
 
 
 
 As tesouras: 
 As tesouras (em Portugal chamadas asnas) mais utilizadas eram a tesoura de linha suspensa, ou canga de porco e a 
tesoura de Santo André; mais raramente a tesoura paladiana. A tesoura romana seria mais comum a partir do século XIX. 
 
 
 
 
 
 
Tesoura francesa 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Tesoura de linha suspensa 
 
 
 
 
 
 
 
 
Tesoura clássica ou 
paladiana 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Tesoura de Santo AndréTesoura romana 
 
 O uso de tesouras como estrutura principal e terças e 
caibros como estrutura secundária é mais apurado e recente. 
Primitivamente era comum o sistema de caibro armado, isto é, 
sem tesouras, com cada caibro recebendo o seu próprio 
tirante ou olivel. Acima deste, apenas as ripas e telhas. O 
encaibramento era executado de maneira variada, sendo 
comuns os paus roliços – “caibros de mato virgem, redondos 
e bons”. Podiam também ser lavrados a machado, ou ainda, 
serrados. Quando serrados, tinham dimensões aproximadas 
“de altura três quartos de palmo e de grosso meio palmo e 
assentados em distância outros dois palmos” 
 
Estrutura de caibro armado. Fazenda Viegas. Imagem Cardoso, 1975 
 
 
Telhado de caibro armado 
 
 Telhados feitos com pau roliço. Imagem Barreto 1975. 
 
 As seções das peças das tesouras eram maiores que as 
utilizadas hoje e suas medidas eram em palmos: um palmo 
quadrado (22 x 22 cm), um palmo por um e meio (22 x 33 cm), e 
assim por diante. Para melhor distribuição das cargas, no caso de 
paredes de taipa de pilão, é feito um reforço de madeira que 
recebe os caibros ou pernas das tesouras. Cada tarufo 
corresponde a um caibro, que é juntado aos frechais por meio de 
sambladuras tipo rabo de andorinha.As madeiras mais utilizadas 
eram a canela, peroba do campo, angelim, braúna jatobá e 
jacarandá. 
 
 
 
 Detalhe do frechal 
 
 
 Beirais e beiras 
 
 Os beirais são um capítulo à parte devido a sua importância na proteção das paredes, na condução das águas de 
chuva e na linguagem estética. A própria existência dos beirais é uma das características dos edifícios coloniais. Os beirais 
protegiam da chuva as paredes de taipa ou pau-a-pique. A forma característica de mudança de inclinação das águas, que tem 
o nome de galbo, tinha a finalidade de projetar a água para mais distante. A peça de madeira que propicia e execução do 
galbo chama-se contrafeito. 
 
 
 
 
 
 
Elementos do beiral de caibro armado 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Na ponta dos caibros que faziam os 
contrafeitos, esculpiam-se cabeças de cachorro, às quais 
atribuíam a função simbólica de proteção da casa, à 
semelhança das carrancas das navegações 
medievais. Por extensão estas peças ficaram sendo 
chamadas de cachorros, e o conjunto de caibros do 
beiral era a cachorrada. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Cachorros ornamentados. Imagem Lemos 1979. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 As beiras são ornamentos de pequena profundidade na alvenaria, no ponto de ligação com o telhado. Muitas vezes 
eram executados com o próprio material do revestimento, usando telhas como moldes. A expressão “sem eira nem beira” 
para designar uma pessoa pobre, sem posses, vem da arquitetura colonial. Eira é um pequeno quintal nos fundos da casa; 
beira é a decoração da alvenaria, de que falamos. “Sem eira nem beira” é pois, uma pessoa que tem uma casa tão pobre que 
não tem quintal nem ornamento na parede. 
 
Beira. Imagem RODRIGUES, 1979. 
 
 
 
 
 
 
Varandas e alpendres 
 
 Devido à grande divergência entre autores quanto a estes elementos, Sylvio de Vasconcelos sugere a 
adoção da seguinte nomenclatura. Varanda é o espaço resultante do prolongamento da água principal do 
telhado e apoiado diretamente no solo, guarnecido por guarda-corpo, peitoril balaustrado ou grade de ferro. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Varanda e alpendre 
 
 O alpendre é uma peça coberta, geralmente no pavimento térreo, com uma cobertura autônoma, que não se 
constitui prolongamento do telhado, como a varanda, mas é apoiada na parede principal do edifício. Vasconcelos 
conclui dizendo que o alpendre é apoiado na outra extremidade diretamente no solo. Na nomenclatura da técnica 
edilícia, entretanto, isto se constitui um falso alpendre, pois o verdadeiro alpendre tem uma de suas extremidades em 
balanço (MONTEIRO, 1976). É comum entretanto vermos o termo alpendre utilizado como sinônimo de varanda, 
como no texto clássico de Luís Saia, O alpendre nas capelas brasileiras. Existe portando uma divergência entre a 
terminologia técnica, mais precisa, e aquela dos textos históricos, mais livre. 
 
 
 
 
 
 
Estruturas de alpendre e falso alpendre 
 
 
 
 
 
 
2- Forros 
 Os forros mais comuns eram de tábuas de madeira, planos, assentes diretamente na estrutura dos telhados, 
ou em um barroteamento complementar. As tábuas tinham geralmente largura aproximada de um palmo. Neste caso, 
a junção das peças de madeira poderia ter 
várias formas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Tipos de forro. Fonte Santos, 1951. 
 
 
 
 Havia também os forros com esteira de taquara. 
 
Forro de taquara. Detalhe e assentamento. Imagem Santos, 1951. 
 
 Além da forma plana, os forros poderiam possuir a forma abobadada, muito comum nas igrejas, ou a 
chamada forma de esquife, caixão ou gamela. No forro abobadado são feitas cambotas auxiliares, encurvadas na 
forma final da forração. No segundo caso, é muito comum que se utilizem as mesmas peças do madeiramento do 
telhado. O forro compõe-se de cinco painéis, quatro deles inclinados e o último plano. 
 
Forro abobadado e forro em esquife. 
 
 
Em construções mais luxuosas, os forros poderiam 
formar painéis moldurados. Neste caso as molduras 
tinham altura de cerca de 15 cm, e eram feitas de 
caixotões de madeira. Os forros eram geralmente 
pintados ou em uma cor somente ou decorada com 
pintura abstrata ou figurativa. Era comum a pintura 
faiscada, isto é, imitando madeira ou pedra. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Forro em esquife. Museu do ouro em Sabará. Imagem 
Smith, 1975. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
III- TÉCNICAS CONSTRUTIVAS DO PERÍODO COLONIAL / ESQUADRIAS 
 
 1-Esquadrias: 
As folhas das portas e janelas eram sempre de madeira e não 
diferiam muito conceitualmente de nossas práticas atuais. As 
diferenças ficam por conta das disponibilidades técnicas e 
características acessórias. As folhas podiam ser de réguas, de 
almofadas, de treliças (urupemas) ou rendas de madeira – 
estas últimas no caso de folhas de janelas. Mais 
recentemente, a partir do século XVIII, quando o uso do vidro 
se torna mais comum, aparecem as folhas de pinásios com 
vidros. 
 
 
 
 
Folha de réguas (E). Porta principal fazenda em Embu e folha de 
almofadas (D) Janela da fazenda do Padre Inácio. Imagens Luis 
Saia, 1975 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Folha de treliça. Fazenda Viegas. Imagem Cardoso 1975 
 Janela com conversadeira 
 
 
 
 
 Nos primeiros séculos, o vidro era artigo de luxo, “os mais custosos ornamentos no interior do Brasil”[1]. 
Conta-se inclusive que, nas mudanças, os moradores levavam as peças de vidro consigo[2]. Robert Smith nos conta 
que o primeiro a fazer menção de vidros em janelas é o viajante sueco Johan Brelin, em 1756. [3] 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Janela com postigo. 
 
 
 Porta com folhas de pinázios 
 
 Era comum, nas janelas, o uso de postigos, pequenas portinholas fixadas nas folhas principais, 
para auxiliar na iluminação e mesmo para vigia. 
 
Funcionamento 
 
 O mais comum era a abertura segundo um eixo vertical – abertura à francesa, ou horizontal, que hoje 
chamamos de basculante. 
 abertura à francesa para as janelas e portasacionadas por dobradiças de eixo vertical 
 
 rótula, seguindo uso consagrado, para janelas de eixo horizontal. Adotamos gelosia como sinônimo 
de rótula, embora possa também designar o enchimento do quadro das janelas com treliças. Gelosia (do 
italiano gelosia) ou rótula (do latim rotula, "rodinha") é uma grade de fasquias (tiras compridas e estreitas) de 
madeira ou pedra colocada no vão de janelas ou portas para proteger da luz e do calor, e através da qual se 
pode ver sem ser visto. Pode possuir a forma de uma persiana que pode ser enrolada no topo. É uma 
estrutura herdada da arquitetura da etnia árabe, popularizada na Península Ibérica, e é constituída por 
treliças de madeira capazes de vedar vãos de janelas, formando uma espécie de gaiola, cujo objetivo era 
aprisionar ou proteger as mulheres em casa. Uma vez que a gelosia evita que quem está atrás da janela seja 
visto por quem está de fora, os maridos árabes costumavam usar esta janela nos quartos de suas esposas 
para que elas não tivessem contato visual direto com outros homens, daí a palavra "gelosia" vir do francês 
jalousies, ou do inglês jealous, significando "ciúmes". 
 
 Desde o século XVIII, tornam-se comuns as janelas de guilhotina, ou abertura à inglesa. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Rótula Abertura à inglesa Janela de guilhotina - Abertura à francesa 
 
 
2- Vão 
 Os vãos eram compostos de quatro elementos. As vergas, elemento superior, asombreiras, laterais e 
os peitoris e soleiras, inferiores. Nas paredes de alvenaria, pau a pique e adobe, de menor espessura, a solução não 
diferia do que hoje faríamos. Nas paredes de taipa de pilão e alvenaria de pedra, mais espessas, temos uma solução 
característica, que chamamos janelas de rasgo ou janelas rasgadas. Com a finalidade de aumentar a luz do 
compartimento, as laterais do vão eram chanfradas ou ensutadas. A parte da alvenaria que preenchia o vão da 
soleira até o peitoril, geralmente menos espessa que o restante da parede, chamava-se pano de peito. O espaço 
conseguido com o rasgo da parede, bem iluminado e fresco, recebia assentos de madeira, taipa ou alvenaria 
chamados conversadeiras. 
 
Tipos de vãos. 
Fonte Barreto, 
1975. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 O peitoril levava um gradil de madeira torneada, ou de ferro batido, dizia-se que era uma janela de 
peitoril entalado, isto é, contido no vão. Quando projetado para fora tínhamos as janelas sacadas, 
simplesmente sacadas ou janelas de púlpito. Várias sacadas unidas, com espaço de circulação entre elas formavam 
um balcão, que usualmente era coberto pela projeção do telhado. As sacadas e balcões tinham, na parte interior um 
reforço estrutural, que poderia ser de madeira ou de pedra, chamado cão, cachorro, ou consolo. Estes consolos 
suportavam o piso da sacada, uma peça de pedra – a bacia. Os muxarabis eram construído sobre as sacadas. 
 O acabamento das janelas poderia ser de madeira, ou nas construções mais sofisticadas, de cantaria de 
pedra, material que a partir do século XIX se consagrou. Quando de cantaria, as vergas podia receber cornijas. O uso 
de vergas curvas ou onduladas aparecem talvez pela primeira vez no Brasil, segundo Robert Smith, em 1743, no 
Paço dos Governadores do Rio de Janeiro. Em Portugal fora empregado em 1717, na fachada do Palácio de Mafra, 
edifício assinado por João Frederico Ludovice. 
 
3- Outros elementos – 
 Muxarabis O muxarabi é um dos elementos mais característicos da nossa arquitetura 
colonial, uma das mais persistentes influências da arquitetura árabe. Segundo Estêvão 
Pinto [6], muxarabi significa local fresco [7]. Para nós designa um balcão fechado por 
treliças, chamadas também de urupemas, geralmente com janelas de rótula. As frasquias 
que formavam as urupemas tinham dimensões bem pequenas, em torno de 15 mm, e eram 
sobrepostas, formando uma malha bem delicada. 
 Hoje em dia existem muito poucos exemplares de muxarabis. A vinda da Corte portuguesa foi um 
golpe de morte para eles. Oficialmente alegava-se que o país devia perder os ares de colônia, e assimilar 
as novas tendências europeias, isto é, o Neoclassicismo, que não admitia a influência “espúria” da 
arquitetura árabe, mas somente a tradição greco-romana. Conta-se, entretanto, que o Príncipe Regente 
tinha medo de possíveis ataques contra ele e os membros da corte, ataques este que seriam camuflados 
pelas treliças. A verdade é que a operação iniciada com o intendente Paulo Fernandes Viana teve efeito 
devastador sobre os muxarabis. No Rio de Janeiro não restou nenhum. “A impressão era que se tinham 
deixado as casas em trajes menores” [8] 
Muxarabi e balcão. 
Desenho Rodrigues, 1979. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Balcões: 
Balcão é uma peça sacada do corpo principal, um pouco maior em profundidade que a sacada, permitindo 
o trânsito entre uma peça e outra da construção principal pelo exterior. 
 
 Seteiras e Óculos 
 As seteiras são pequenas aberturas verticais, utilizadas na arquitetura militar como vão de 
observação, vigia e tiro. mas são também usadas na arquitetura civil e religiosa. Os óculos têm forma 
circular, quadrifólio ou outras. Na arquitetura militar as seteira têm também o nome de balestreiro. Os 
óculos são muito comuns nas igrejas, para iluminação adicional das tribunas, consistórios ou outros 
compartimentos. Neste caso têm moldura de pedra e são esculpidas em perfís diversos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Óculo e seteira 
 
 
 Ferragens 
 
 As ferragens para acionamento eram as chamadas dobradiças de cachimbo oudobradiças de leme. 
O leme era a chapa de ferro fixada nas folhas das portas, os quais tinham as mais variadas dimensões e desenhos. 
As aldrabas, ou aldravaseram pequenas argolas ou maças metálicas fixadas em um eixo, para o visitante bater na 
porta; servia em outros casos, para acionar uma tranqueta e assim abrir a porta pelo lado de fora. 
 
 
Dobradiças de leme 
 
 
 
 
 
 
 
 
Puxadores e 
trancas 
 
 
 
 
 
 Aldraba. Fazenda Embu. 
 
 
Notas: 
 
 
[1] SPIX E MARTIUS. Viagem pelo Brasil. Rio de Janeiro, 1938. Apud VASCONCELOS. 1979. 
 
[2] Joseph de Laporte. Apud SMITH, Robert. (1969)” Arquitetura civil no período colonial” In: Arquitetura 
Civil I. São Paulo: FAUUSP e MEC-IPHAN, 1975. 
 
[3] SMITH, Op. cit.. 
 
[4] PINTO., Estêvão (1943). “Maxarabis e balcões”. In: Arquitetura Civil II.Textos Escolhidos da Revista do 
IPHAN. São Paulo: FAUUSP e MEC-IPHAN, 1975. 
 
[5] No Novo Dicionário Aurélio temos Rótula. 1. Gelosia; e Gelosia 1. Grade de frasquias de madeira 
cruzadas intervaladamente que ocupa o vão de uma janela; rótula. 2. Janela de rótula. 
 
[6] PINTO, Op. cit. 
 
[7] Sítio das bebidas, ou local onde se punham as bilhas a fim de refrescar a água. 
 
[8] PINTO, Op. cit.. 
 
[9] Ver, p. e., MONTEIRO, J. C. R. Tesouras de telhado, Rio de Janeiro: Interciência, 1976. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
IV- Técnicas construtivas do período colonial/ PISOS E PAVIMENTOS 
 
1- Pavimentos Internos: 
 O piso mais simples era de terra batida. A terra era socada com certa mistura de argila, areia e água, à qual 
se adicionava às vezes sangue de boi, para uma melhor liga. No piso de terra batida podia-se assentar ladrilhos de 
barro cozido, de 7 a 8 mm de espessura e 20 a 30 cm de largura. O desenho de assentamento podia ser de junta 
reta, com junta matada ou mata-junta, paralelo ou em xadrez. Especial destaque para os pisos das enxovias nas 
casas de câmara e cadeia. 
 
 
 
Piso de ladrilhos. Tipos de juntas. Junta reta, junta 
matada e xadrez.Os pisos de tábuas corridas de madeira eram os mais comuns em pavimentos elevados do solo. Em alguns 
lugares, a única solução possível. Os frisos de madeira tinham em torno de 40 cm de largura e espessura de 3 a 4 
cm, apoiados em barrotes. Com o passar do tempo, as peças vão se adelgando, chegando a 2,5 cm, e se 
estreitando, chegando a 10 ou 15 cm. A seção dos barrotes eram “em quadra”, isto é, quadrada, medindo em torno 
de um palmo (22 cm) até “palmo e meio” ou “um pé” (cerca de 30 cm), dependendo do vão. 
 
Piso em frisos de madeira 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Na cadeia de Ouro Preto, em 1723, os pisos foram 
feitos com lastro de coçoeiras “de três quartos de palmo em 
quadra”[1] (cerca de 16 cm, de seção quadrada). 
Nas enxovias dos negros, tal lastro de madeira era recoberto 
com terra batida misturada com sangue de boi; 
 Nas cadeias dos brancos, a grade era assoalhada. À 
semelhança dos forro, podiam ser assentados em junta seca, 
com ou sem mata-junta por baixo, em meio-fio ou em macho 
e fêmea, mais raro. As madeiras utilizadas eram sempre de 
boa qualidade: ipê, jacarandá, canela parda, jatobá, e outras, 
variando com a época e a disponibilidade. 
 
Detalhe dos frisos e sua estrutura apoiados em parede de 
taipa de pilão. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Detalhe de pisos de enxovias com lastro de madeira. 
(E) Com frisos de madeira. (D) De terra batida. 
 
 
Detalhe de pisos e paredes de enxovias reforçados com lastro e 
grades de madeira. 
 
 
 
Pavimento Externo 
 Os lajeados eram lajes de pedra – arenitos, gneiss ou calcários, assentados com argamassa de barro. Estas 
lajes podiam ser trabalhadas por canteiro apenas na face superior, ou também nas faces laterais. Tinham estas lajes 
de 5 a 10 cm de espessura normalmente, porém em casos excepcionais podiam ser mais espessas. É o caso da 
cadeia de Ouro Preto, para a qual José Fernandes Pinto Alpoim, em 1745, mandou que os pisos fossem que eram 
“lageados por baycho com lagedo de morro, e que nenhuma pedra tivesse menos que cinco palmos de comprido e 
hum ou dous de groço”[2]. 
 Os lajeados podiam ser feitos de mármore, caso em que o acabamento era bem melhor, e reservado a 
compartimentos mais nobres, como saguões de edifícios públicos civís ou religiosos. O pé-de-moleque ou calçada 
portu-guesa era muito comum. Consistia no assentamento sobre a terra batida de seixos rolados (pedras redondas 
de rio). Podem ser empregados seixos de duas cores, formando mosaico. Podem ser utilizados em interiores de 
pavimentos térreos, caso em que se utilizam pedras de diâmetro menor, com cerca de 3 cm, ou também para 
pavimentos de calçamentos de vias públicas, com pedras maiores, de diâmetro aproximado de 10 cm. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Lajeado Pé de moleque com costelas 
 Nas vias públicas, para reforçar a pavimentação, podem-se colocar lajes de pedra enterradas a prumo, em 
forma de costelas. Os espaços entre as costelas são preenchidos com pé de moleque. 
 
 
Costelas 
 
 
 
 
 
 
 
Capistrana é uma faixa contínua de lajeado no meio de uma via pública, em 
cujas laterais se adiciona a pavimentação de seixos ou lajes. O 
nome capistrana refere-se a Capistrano Bandeira de Mello, presidente da 
província de Minas, que mandou executar este serviço em 1878. 
 
 
 
 Capistrana 
 
 
 
Pinturas: 
 As paredes eram geralmente caiadas. A cor branca foi, por isso mesmo notada por todos aqueles que deram 
notícias sobre nossas construções coloniais, como Maria Graham, Vauthier, Kidder e Spix e Martius. A caiação era 
feita de cal de mariscos, de pedra ou tabatinga[3]. 
As madeiras eram preferencialmente pintadas a cola, têmpera ou óleo, sendo o óleo utilizado como veículo extraído 
de mamona, de baleia ou de linhaça. Quando o veículo era a cola, usava-se cola de peixe, de pelica ou couro de boi. 
Para a têmpera, utilizava-se a secular albumina de ovo. Os corantes mais comuns eram o anil ou índigo -indigueiro-
leguminosa (azul), sangue de drago e urucum (vermelho), a açafroa (amarelo), a braúna (preto), o ipê e a cochonilha 
(cor de rosa)[4]. 
 Nas pinturas decorativas, era comum a chamada “pintura de fingimento”, que procuravam imitar madeira ou 
mármore. Faiscado era o nome que se dava em Minas Gerais à pintura a óleo ou tempera de portais, ombreiras e 
batentes de madeira imitando pedra 
 
Alicerces 
 
Nas construções coloniais eram utilizadas sempre fundações diretas, no mais 
das vezes de alvenaria de pedra seca, qualquer que seja o tipo de parede. A exceção 
fica com as construções estruturadas com esteios – o pau-a-pique e o enxaimel. 
Neste caso as peças de madeira que formam os esteios são enterradas no solo com 
2 a 4 m de profundidade. A parte enterrada não era afeiçoada em seção quadrada 
mas mantinha a seção do tronco original. Esta parte do esteio é popularmente 
chamada de nabo e recebia um tratamento contra o apodrecimento e contra brocas e 
fungos. Este tratamento consistia em crestar a madeira com fogo. Paulo Santos nos 
diz que existem esteios mergulhados no solo há mais de dois séculos e com o núcleo 
central em perfeito estado, embora com a parte externa apodrecida[5]. 
 
 
 
Alicerce de parede de pau-a-pique. Fonte SANTOS, 1951. 
 
 
 
Para as outras técnicas, os alicerces eram sempre a alvenaria de pedra, às 
vezes seca, às vezes com barro, ou apenas rejuntada com calda. A calda é um barro 
muito liquefeito, que pode ser derramado e preenche os vazios entre as pedras. Pode ser derramado depois de uma 
ou duas fiadas prontas. 
As dimensões dos alicerces eram variáveis, mas não diferiam muito das práticas atuais para fundações 
diretas. Para a igreja de Nossa Senhora do Monte do Carmo de Ouro Preto foram usados baldrames[6] de cerca de 2 
m de profundidade (dezoito palmos) e de largura 90 cm (quatro palmos) externamente para fora da parede e 30 cm 
(palmo e meio) para dentro, isto é, a largura da parede mais 1,2 m (um total de aproximadamente 3,5 m)[7]. Mais 
recentemente, os aliceces tornam-se menos profundos e a parte saída das paredes diminui para aproximadamente 
um palmo. O acabamento dos alicerces é sempre bem nivelado com uma pedra, que os cobre em toda a extensão, 
não sendo interrompido nem para as obreiras das portas, que são nele encaixados. 
. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Encaixe das ombreiras na soleira do alicerce. Enchimento do espaço entre o baldrame e o solo. 
Fonte Vasconcellos, 1979. 
 
 
 
 
Acabamento do alicerce e sargeta. Fonte Vasconcellos, 1979. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
V- TIPOS E PADRÕES DA ARQUITETURA CIVIL COLONIAL 
. 
 
1- Volumetria Construtiva 
Os mais importantes fatores determinantes das formas arquitetônicas de nossa arquitetura colonial são de 
ordem econômica e técnica. Assim é que muitas das possibilidades da arquitetura praticada na Europa não são 
vigentes aqui devido à falta de recursos econômicos. A escolha das técnicas construtivas, muitas vezes a sua má 
realização, e a relativa fragilidade das nossas construções, apontada pelos diversos cronistas da época têm sua 
explicação na escassez de recursos alocados na construção mesmo dos mais importantes edifícios. 
 
Somente a partir de 1630 aproximadamente podemos falar de 
algum padrão mais definitivo com relação à construção. É nessa época, por 
exemplo, que a cobertura vegetal começa a ser substituída pela telha 
cerâmica[1], exceto as mais modestas, como as casas de sertanejos, 
afastadas das fazendas, e a senzalas. No desenho abaixo estão 
representados os tipos mais utilizados. 
A “meia-água” (1) era geralmente utilizada em construçõesde 
menor importância, como o rancho e a cozinha. O telhado de duas águas 
(2) era muito utilizado em construções urbanas, sobretudo em casa 
geminadas, um padrão dos mais comuns nas cidades, nas casas de porta e 
janela, meia-morada, sobrados, etc. O madeiramento do telhado, neste 
caso consistia apenas nas terças transversais e caibros, como nos informa 
Vaultier[2]. 
O telhado de quatro águas (3) era a cobertura mais comum nos 
pavilhões, o tipo construtivo mais utilizado para construções de maior porte, 
como casas-grandes, equipamentos públicos menores e mansões. Uma 
variante deste é o telhado de quatro águas com lanternim (4), que 
objetivava melhor iluminação e ventilação do telhado, bem como o uso alternativo desta área. O claustro (5) era a 
forma preferida para construções que aspiravam maior monumentalidade. 
 
Com as limitações de largura impostas pelas técnicas construtivas, desde que 
os vão eram vencidos apenas com vigas de madeira, o que determinava uma 
largura de algo em torno de 6 m para as alas, e ainda a necessidade de 
melhor iluminação e ventilação dos compartimentos praticamente impunha o 
pátio central. Esta solução era bem adequada para edifícios de maior porte, 
como palácios, paços, e outras construções maiores para equipamentos 
públicos. Eram colocados sempre em centro de terreno, assim como os 
pavilhões. O pavilhão composto em forma de “L” (6) era uma solução 
intermediária entre o pavilhão e o claustro. Era utilizada quando se dispunha 
de terrenos de boa largura para casas-grandes, mansões urbanas, etc. A 
varanda alpendrada (7) ou puxada (8) era solução comum em todos os 
partidos, desde a casa mais simples do sertanejo até as mais sofisticadas. 
 
Tipologia volumétrica 
 
 
 A Casa Do Sertanejo 
É a mais simples construção do período colonial. Eram casas de homens livres, espécies de colonos, que cultivavam 
uma propriedade, dividindo a produção como o senhor de engenho. Sua casa pode ser feita toda de palha – a 
palhoça – na qual a estrutura é feita de paus roliços revestidos com palha, geralmente de buriti [3] ou carnaúba [4]. 
As paredes podem ser de pau-a-pique, sendo então também chamadas tapona ou sopapo. 
 
Casa sertaneja.Imagem Barreto, 1975 
 
Palhoça. Imagem BARDOU, 1983. 
 
 Tinham estas casas apenas um compartimento interno. Uma esteira grosseira de ramagens, estendidas nas 
extremidades são as camas de toda a família. Pendurado na estrutura do telhado, uma caixa de papelão ou um baú 
de folhas, onde “as moças guardam seus trajes de domingo”[5]. A cozinha era um canto deste compartimento único, 
com um forno e fogão de lenha, quando não um puxado do telhado ou um alpendre, que podia ser aberto ou fechado, 
ou ainda podia-se utilizar o quintal para cozinhar. Não havia, obviamente, banheiro ou latrina, como ainda hoje não se 
vê nas regiões mais afastadas, no interior. Indispensável, porém era o alpendre ou varanda frontal, o verdadeiro 
ambiente de estar. A entrada da varanda está sempre interceptada, para torna-la íntima e proteger da entrada de 
animais[6]. 
 O rancho era também equipamento obrigatório. Colocado para além e junto da cerca, consistia em um 
pequeno abrigo para servir de pouso ao viajante ou tropeiro. Uma maneira de bem receber o visitante sem permitir o 
contato com a intimidade da casa. 
 
 Fazenda De Engenho 
 
Fazenda de Engenho. (Fonte Vauthier, 1975) 
1- Capela; 
2- 2-Casa Grande (Proprietário); 
3- 3-Hóspedes; 
4- 4-Casa do engenho; 
5- 5-Cavalariças; 
6- 6- Casa do bagaço; 
7- 7- Forno; 
8- 8- Cocheira; 
9- 9- Refinaria-destilaria; 
10- 10- Olaria; 
11- 11- Senzalas; 
12- 12; Casa do feitor. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 A Senzala 
 Consistia, quase invariavelmente em um comprido telheiro, feito de alvenaria de tijolos ou pau-a-pique, com 
celas medindo aproximadamente 3 m de comprimento e largura, cobertas também com telhas, as terças apoiando-se 
diretamente nas paredes. As portas eram de tábuas de madeira. O piso de terra batida e sem forro ou outra abertura. 
 
 
Planta de uma senzala. Fonte Valthier, 1975] 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Corte de uma senzala. Fonte Valthier, 1975 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Usina De Engenho 
 Segundo a descrição de Vauthier, consistia em uma vasta coberta sustentada por pilastras de tijolos, fechada 
apenas até a altura de um homem. As canas verdes empilhadas em uma das extremidades, as parelhas girando sem 
cessar. Misturam-se o ruído dos gritos e o estalar das canas comprimidas sobre os cilindros. 
 
Usina de Engenho. (Fonte Vauthier, 1975) 
1- Almanjarra e moenda; 
2- -Reservatório de madeira para o caldo 
de cana; 
3- Bateria para evaporação e cozimento 
4- Chaminé; 
5- Depósito de cana. 
 
 
 
 
 
 
 
A Casa Grande 
 A Casa Grande era a sede das fazendas, que abrigava o senhor de engenho, sua família seus agregados e 
hóspedes. Diferentemente dos outros tipos construtivos, a casa grande podia variar muito quanto à forma. 
 
 
Fazenda de Engenho. Detalhe de planta. (Fonte 
Vauthier, 1975) 
1- Capela; 
2- -Quartos de hóspedes; 
3- Sala de jantar; 
4- Sala de estar; 
5- Tribuna das mulheres. 
 
 
 Vaultier, em suas célebres cartas[7] documenta uma destas casa-grandes. Como visitante, não teve acesso à 
intimidade da casa, razão porque desenhou apenas uma parte. Mas não é difícil supor o restante: uma sequência de 
compartimentos, quartos ou alcovas, ligados por 
um corredor e contando, eventualmente com uma 
varanda. 
 Estas casas eram de apenas um 
pavimento de habitação, levantado do solo. A 
parte de baixo, segundo Vaultier, ocupada por 
armazéns e pessoal de serviço. A técnica 
construtiva é a melhor disponível, podendo ser de 
alvenaria de pedra ou taipa de pilão, dependendo 
da região. Telhados de madeira e telhas de barro. 
 Elemento indispensável nas casas-
grandes de fazenda é a varanda, grande e larga, 
ocupando na maioria das vezes toda a frente como 
é o caso da Fazenda do Viegas ou então 
contornando toda a edificação. Neste item, um 
exemplo dos mais curiosos é o da Fazenda 
Colubandê, em São Gonçalo, em que temos uma 
varanda periférica externa e outra interna, 
separadas pelos compartimentos das salas e 
quartos da casa. 
 
Fazenda Viegas. Rio de Janeiro, 1725. 
 
Fazenda Colubandê. São Gonçalo. 
Fazenda Colubandê. São Gonçalo. 
Notas 
[1] SMITH, Robert C. A arquitetura civil do período colonial. In: Arquitetura Civil I. Textos Escolhidos da Revista do 
IPHAN. São Paulo: FAUUSP e MEC-IPHAN, 1975. P. 128. 
[2] VAUTIER, L. L. Casas de residência no Brasil. In: Arquitetura Civil I. Textos Escolhidos da Revista do IPHAN. São 
Paulo: FAUUSP e MEC-IPHAN, 1975. P. 41 ss. 
[3] Tipo de palmeira brasileira cujas folhas e troncos são utilizadas em construções rústicas. 
[4] Tipo de palmácea comum no nordeste, que além dar derivados com que se fabricam, entre outras coisas, velas, 
sabonetes, isolantes, oferece o tronco e as palmas para as construções civis 
[5] VAUTIER, L. L. Casas de residência no Brasil. In: Arquitetura Civil I. Textos Escolhidos da Revista do IPHAN. São 
Paulo: FAUUSP e MEC-IPHAN, 1975. P. 94. 
[6] BARRETO. Paulo Thedim. O Piauí e a sua arquitetura. In: Arquitetura Civil I. Textos Escolhidos da Revista do 
IPHAN. São Paulo: FAUUSP e MEC-IPHAN, 1975. P. 213. 
[7] VAUTIER, L. L. Casas de residência no Brasil. In: Arquitetura Civil I. Textos Escolhidos da Revista do IPHAN. São 
Paulo: FAUUSP e MEC-IPHAN, 1975. P. 80. 
[8] Quarto interno, sem aberturas para o exterior. 
 
VI- TIPOS E PADRÕES DA ARQUITETURA CIVIL COLONIAL 
 
1- O SÍTIO BANDEIRISTA 
 
O sítio bandeirista é um caso especial na arquitetura colonial do segundo século. Objeto de primoroso estudo 
de Luís Saia[1], e comentadopor Michel Foucault[2], que destaca a singularidade do quarto de hóspedes dentro do 
corpo da construção, porém abrindo para o exterior, como um caso de heterotopia. O sítio bandeirista é um tipo de 
edifício dos mais interessantes, pois, em que pese à precariedade dos meios construtivos, tem um desenho clássico 
dos mais rigorosos, podendo mesmo ser comparado às plantas de Palladio. 
Os doze exemplares estudados por Saia em São Paulo e municípios vizinhos são considerados pelo autor 
como solução típica dos fazendeiros abastados da região. Guardam entre si características muito próprias e 
semelhanças que autorizam falar de um tipo arquitetônico. 
 
 O Sítio do Padre Inácio e o Sítio do Mandu, em 
Cotia, e Sítio Querubim em São Roque são os melhores 
exemplos. Nos três temos, salvo variações, na parte frontal 
uma varanda, uma capela e o célebre quarto de hóspedes, 
que causou impressão a Foucault. 
 
 
 
 
 Sitio do Padre Inácio 
 
 
 
 
A porta da frente não se abre para a parte principal da casa, onde a família vive, de modo que qualquer 
pessoa que passe por ali, qualquer viajante, tem o direito de abrir a porta, entrar no quarto e passar a noite ali. Agora, 
os quartos são dispostos de tal modo que as pessoas que lá ingressam, nunca atingem o coração da família: será 
apenas um viajante, jamais um hóspede verdadeiro. Este tipo de heterotopia, que hoje está quase completamente 
desaparecida de nossa civilização…[3] 
A sala ocupa o lugar central e os quartos, a lateral. Nos fundos uma outra varanda, possivelmente uma área 
de serviços, não necessariamente uma cozinha, que podia ser externa à construção. A construção era sempre de 
taipa de pilão, telhados de barro assentes sobre madeiramento do tipo caibro armado. O espaço abaixo do telhado 
era aproveitado como depósito ou mesmo como abrigo de serviçais. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Villa Angarana. Palladio. 1570 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Sítio do Padre Inácio 
 
 
 
 Sítio do Mandu. 
 
 
 
 
2- A CASA URBANA 
 A casa térrea 
A casa urbana no Brasil colonial seguia um único padrão, determinado por questões parcelárias, tectônicas e 
ambientais. Quanto ao sistema parcelário, o lote urbano era sempre estreito e profundo, variando a largura de 5 a 8 
metros[4]. 
Se contornar uma cidade importante, onde se comprimem, uns contra os outros, numerosos tetos de telhas, 
por mais atentamente que a observe, também não verá nunca destacar-se ali, por entre grupos de construções mais 
humildes […] edifício algum de proporções grandiosas […] [5] 
Não se concebiam casas urbanas recuadas e com jardins[6]. As casas eram alinhadas pela divisa frontal e 
geminadas nos dois lados – casas em correnteza –, criando a chamada rua corredor. Isto em parte se deve à 
precariedade das técnicas construtivas. Sabendo-se que a taipa de pilão, ou o pau-a-pique eram vulneráveis à 
chuva, um dos modos de protegê-las das intempéries era colar empena com empena, restando apenas duas 
fachadas expostas. Os beirais e varandas se incumbiam da proteção destas. 
Seguindo o princípio de Vaultier, de que “quem viu um casa brasileira, viu quase todas”[7], podemos nos 
basear no estudo de Paulo Thedim Barreto[8] sobre a casa piauiense e estendê-lo ao resto do Brasil. Não estaremos 
longe da verdade. 
A casa mais simples que poderemos encontrar é a chamada casa de porta e janela, composta apenas de 
sala, quarto, varanda e cozinha. Para nossos padrões atuais, poderemos estranhar que a circulação para os 
compartimentos dos fundos se dê pelo quarto. Considere-se porém que nenhuma pessoa não pertencente ao 
convívio familiar era admitida para além da sala. Variações podem acontecer com o acréscimo de alcovas, 
compartimento do qual não temos conhecimento, mas que era muito comum, atendendo aos padrões de então de 
preservação da intimidade e proteção da família. Hoje pensamos que nenhum compartimento habitável pode 
prescindir de um vão de iluminação e ventilação. Este, porém, é uma idéia recente, criado pelos higienistas do século 
XIX. Estes propuseram a substituição do conceito deventilação química (volume de ar por pessoa) dos 
compartimentos então adotado pelo conceito deventilação física(circulação de ar). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Planta das casas. Fonte BARRETO, Paulo T. 
 
 
 
As coberturas eram feitas com telhas de barro tipo capa-e-canal, assentes sobre madeiramento, que se 
compunha apenas de caibros, cumeeira e terças, estas diretamente apoiadas nas paredes. A pouca largura de vãos 
a vencer dispensava o uso de tesouras. 
 
 
Casa de meia-morada. 
Corte. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3- O SOBRADO 
Logo a seguir, temos o sobrado urbano, um dos tipos de residência mais persistentes de nossa história da 
habitação individual. O termo sobrado hoje em dia designa o prédio com mais de um pavimento, não pressupondo a 
existência de pisos intermediários[9]. Acrescentaríamos que o números de pavimentos de um sobrado é geralmente 
dois, e não mais que três. Até hoje vemos um grande número de sobrados nos núcleos históricos de nossas cidades, 
a maioria tendo sido construída nos primeiros anos do século XX, mas que muito pouco acrescentaram ao sobrado 
setecentista, no que se refere à morfologia. 
 
Sobrado na Rua do Amparo. Olinda, sec. 
XVII. 
 
 
 
Dos mais antigos no Brasil temos aqueles conhecidos sobrados da casa nº 28, da rua do Amparo e a casa 
nº 7 do Pátio de São Pedro, ambos em Olinda, e datando provavelmente das primeiras décadas do século XVII. 
No primeiro caso, observamos que se trata de uma casa situada em terreno com grande aclive, razão porque 
o pavimento inferior, da rua do Amparo é bem menor. Temos aí a loja de comércio. Geralmente, nas áreas mais 
povoadas dos centros urbanos, o pavimento inferior era dedicado ao comércio. A casa de residência se desenvolve 
unicamente no sobrado, onde temos a sala, o santuário (lembremos não apenas a vocação católica do nosso povo 
como também o grande poder da igreja, em tempos de contra-reforma), as alcovas e nos fundos a sala de jantar e 
cozinha, dando o quintal para a ladeira da Misericórdia. 
 
 
 
 
No outro caso, no sobrado do Pátio de São Pedro, temos um programa mais completo, pois se trata não 
somente de terreno plano como também de um lote de esquina. A planta apresentada reflete possivelmente as 
transformações de uso atualizadas, pois notamos uma casa já melhor equipada. Temos no pavimento térreo uma loja 
melhor dotada de espaços, com armazém e grande depósito, e os compartimentos dos fundos servindo à residência, 
com a sala de engomar, um compartimento que somente desaparece das casas brasileiras com o século XX já 
avançado, e a senzala urbana, que se transformou em quarto de criado. Note-se que já temos ai banheiro e W.C., 
integrados ao corpo da construção, embora com acesso por fora. No pavimento superior, por se tratar de uma casa 
de esquina. Temos quartos, uma alcova e a camarinha, pequena alcova ou quarto. 
A técnica construtiva destes sobrados é a mais simples do período colonial, utilizando-se nas paredes o pau-
a-pique, a taipa de pilão ou alvenaria de adobe ou tijolos cerâmicos, dependendo do local. As coberturas de telha 
cerâmica sobre madeiramento que raramente incluía tesouras, sendo mais comum apenas terças e caibros. O piso 
intermediário era sempre de frisos de madeira sobre coçoeiras transversais. Em alguns casos fazia-se um piso 
suplementar ocupando todo o espaço disponível ou apenas parte dele. 
Na arquitetura residencial raramente se fugia deste padrão de sobrado. As exceções ficam por conta das 
casas de nobres, de ricos proprietários rurais, quando os lotestêm uma testada frontal maior e onde, apesar de se 
manter a linha de fachada, aparecem os pátios internos, que vão propiciar melhor ventilação aos compartimentos 
intermediários. Como exemplo, entre muitos, a casa do Barão de Pontal, construída em 1790, por José Pereira 
Arouca e um grande sobrado, ambos em Mariana, notável este último pelo grande número de pátios e quartos, 
formando um intrincado labirinto[10]. 
 
 
Notas: 
[1] SAIA, Luís. “Notas sobre a arquitetura rural paulista do segundo século”. In:Arquitetura Civil I. Textos 
Escolhidos da Revista do IPHAN. São Paulo: FAUUSP e MEC-IPHAN, 1975. P. 221-281. 
[2] FOUCAULT, Michel. “Des espaces autres” In: Dits et écrits. 1984. 
[3] FOUCAULT. Op Cit. 
[4] VAUTIER, L. L. Casas de residência no Brasil. In: Arquitetura Civil I. Textos Escolhidos da Revista do 
IPHAN. São Paulo: FAUUSP e MEC-IPHAN, 1975. P. 32. 
[5] VAUTIER, L. L. Op. Cit. 
[6] REIS FILHO, Nestor Goulart. Quadro da arquitetura no Brasil. São Paulo: Perspectiva, 1970. P. 22. 
[7] VAUTIER, L. L. Op. Cit. P. 37. 
[8] BARRETO, Paulo T. “O Piauí e sua arquitetura” In: Arquitetura Civil I. Textos Escolhidos da Revista do 
IPHAN. São Paulo: FAUUSP e MEC-IPHAN, 1975. P. 191-219. 
[9] CORONA, Eduardo e LEMOS, Carlos A. C. Dicionário da arquitetura brasileira. São Paulo, EDART, 1972. 
P. 429. 
[10] RODRIGUES, José Wasth. Documentário arquitetônico. Belo Horizonte: Itatiaia, 1979. P. 148. 
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Bibliografia 
Arquitetura Civil I, II e III. Textos Escolhidos da Revista do IPHAN. São Paulo: FAUUSP e MEC-IPHAN, 1975. 
BARDOU, Patrick e ARZOUMANIAN, Varoujan. Arquitecturas de adobe.Barcelona: Gustavo Gili, 1981. 
BARRETO, Paulo Thedim. “Casas de câmara e cadeia” In: Arquitetura Oficial I, 1975. 
BAZIN, Germain. A arquitetura Religiosa Barroca no Brasil. Rio de Janeiro: Record, 1983. 2 vols. 
CARDOSO, Joaquim. “Um tipo de casa rural do Distrito Federal e Estado do Rio” In: Arquitetura Civil I (Ver 
acima), p. 1-46. 
CORONA, Eduardo e LEMOS, Carlos A. C. Dicionário da arquitetura brasileira. São Paulo: Edart, 1972. 
FOUCAULT, Michel. “Des espaces autres” In: Dits et écrits. 1984. 
LEMOS, Carlos A. C. Arquitetura brasileira. São Paulo: Melhoramentos, 1979. 
PINTO, Estêvão. “Muxarabis e Balcões“ In: Arquitetura Civil II. 
REIS FILHO, Nestor Goulart. Quadro da arquitetura no Brasil. São Paulo: Perspectiva, 1970. 
RODRIGUES, José Wasth. Documentário arquitetônico. Belo Horizonte, Itatiaia; São Paulo, Edusp, 1979. 
SAIA, Luís. “Notas sobre a arquitetura rural paulista do segundo século”. In: Arquitetura Civil I. Textos 
Escolhidos da Revista do IPHAN. São Paulo: FAUUSP e MEC-IPHAN, 1975. P. 221-281. 
SANTOS, Paulo F. Arquitetura religiosa em Ouro Preto. Rio de Janeiro: Kosmos, 1951. 
SMITH, Robert C. A arquitetura civil do período colonial. In: Arquitetura Civil I. Textos Escolhidos da Revista 
do IPHAN. São Paulo: FAUUSP e MEC-IPHAN, 1975. 
VASCONCELLOS, Sylvio de. Arquitetura no Brasil: sistemas construtivos. Belo Horizonte: Unversidade 
Federal de Minas Gerais, 1979. 
VAUTIER, L. L. Casas de residência no Brasil. In: Arquitetura Civil I. Textos Escolhidos da Revista do 
IPHAN. São Paulo: FAUUSP e MEC-IPHAN, 1975.

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