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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO - CAMPUS XIV CURSO DE LICENCIATURA EM LETRAS COM HABILITAÇÃO EM LÍNGUA INGLESA E LITERATURAS Amarilson Gordiano de Oliveira AUTENTICIDADE EM PAUTA: O ENSINO DE LEITURA EM LÍNGUA INGLESA EM ESCOLAS PÚBLICAS PELO VIÉS DO TEXTO JORNALÍSTICO Conceição do Coité-BA 2016 Amarilson Gordiano de Oliveira AUTENTICIDADE EM PAUTA: O ENSINO DE LEITURA EM LÍNGUA INGLESA EM ESCOLAS PÚBLICAS PELO VIÉS DO TEXTO JORNALÍSTICO Monografia apresentada ao Departamento de Educação da Universidade do Estado da Bahia, campus XIV, com requisito parcial de avaliação do componente curricular TCC II, ministrado pela professora Luciana Alves. Orientador: Prof. Raulino Batista Figueiredo Neto Conceição do Coité-BA 2016 AMARILSON GORDIANO DE OLIVEIRA AUTENTICIDADE EM PAUTA: O ENSINO DE LEITURA EM LÍNGUA INGLESA EM ESCOLAS PÚBLICAS PELO VIÉS DO TEXTO JORNALÍSTICO Monografia apresentada ao Departamento de Educação do Campus XIV da Universidade do Estado da Bahia como requisito parcial para a obtenção do grau de Licenciatura em Letras com Habilitação em Língua Inglesa e Literaturas. Aprovada em 15 de junho de 2016. Banca examinadora _________________________________________________ Prof. Ms. Raulino Batista Figueiredo Neto Universidade do Estado da Bahia _________________________________________________ Prof.ª Ms. Luciana Alves Dourado de Alcântara Universidade do Estado da Bahia _________________________________________________ Prof.ª Ms. Mônica Veloso Borges Universidade do Estado da Bahia Conceição do Coité-BA 2016 A meu pai Antônio, que, com sua luta pela vida, me ensinou a batalhar para alcançar meus objetivos. AGRADECIMENTOS Agradeço, em primeiro lugar, à minha família, que me apoiou desde os primeiros passos. Do mesmo modo, expresso minha gratidão às pessoas abaixo listadas, que contribuíram direta ou indiretamente para esta jornada. A meu orientador, Prof. Raulino Batista Figueiredo Neto, pela confiança, paciência, orientação precisa e pelas conversas edificantes durante todo o processo de escrita. Chegamos lá! À Iasmim Dantas Santos e Santos, por todo apoio nos momentos mais importantes, pela presença, pelo carinho e por seu amor, que tem me guiado rumo à conquista dos meus objetivos (que agora são nossos). Te amo! À Beatriz Freitas e Káren Araújo por contribuírem efetivamente para este trabalho, bem como a todos os colegas de turma pela boa convivência nesses quatro anos. Don’t stop the party! Às professoras Rita de Cássia Silva Sacramento, Mônica Veloso Borges e Neila Maria Oliveira Santana pelas conversas, discussões e por todos os encontros de formação motivadores durante o desenvolvimento do subprojeto do PIBID. Aos alunos do terceiro ano do Colégio Estadual Yêda Barradas, pela companhia e pela convivência durante quase três anos de PIBID na escola, bem como pela colaboração com esta pesquisa. À professora Viviane Mascarenhas, minha supervisora, e a toda equipe do Colégio Estadual Yêda Barradas por possibilitarem que esta pesquisa acontecesse. À Prof.ª Dr.ª Cristina Arcuri Eluf, por todas as conversas que contribuíram para o desenvolvimento deste trabalho. Você caiu do céu, pró! À Profª Dr.ª Irenilza Oliveira e Oliveira, por ter me guiado de forma tão precisa no início deste percurso. A Cleber, Ícaro, Jefferson, Cláudio, João, Geane, Noemi, Samila, Jaqueline e todos os amigos e amigas de Letras espalhados pelo país (queria poder citar todos), pelo apoio e por todos os bons momentos compartilhados nos encontros de estudantes. A Elson Carneiro, a Marcos Adriano, aos professores do Colégio Estadual Wilson Lins, do Centro Educacional Comunitário de Valilândia e da Escola José Cunha, e a todos aqueles que desde cedo acreditaram em mim e me motivaram a seguir esta caminhada. A todos os professores da Escola João Rodrigues da Silva, por dividir bons momentos comigo durante meu trabalho na escola e pela motivação nesta jornada. A todos os funcionários do Campus XIV da UNEB, agradeço em nome do Sr. Railton Baldoíno, que com sua competência, simpatia e gentileza contribuiu para bons momentos vivenciados durante minha “vida unebiana”. À Fundação CAPES, por oportunizar minha atuação como bolsista no PIBID. À instituição UNEB, por possibilitar uma graduação de qualidade, sempre atendendo às minhas expectativas e contribuindo para a minha formação acadêmica além dos muros do campus. Muito obrigado! "Ninguém começa a ler a palavra porque antes o que a gente tem para ler à disposição da gente é o mundo." (Paulo Freire) RESUMO O presente trabalho buscou propor uma reflexão a respeito da autenticidade nas aulas de leitura em Língua Inglesa (LI), por meio da utilização de textos jornalísticos. O trabalho foi conduzido pela inquietação do pesquisador enquanto bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID) com relação ao que dizem os Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Estrangeira e a realidade do ensino de leitura em LI em escolas públicas. Através de uma pesquisa qualitativa e de base autoetnográfica, desenvolvida com uma turma do 3º ano do Ensino Médio em um colégio estadual de Conceição do Coité-BA, discutimos a necessidade de considerar a importância da cultura do aprendiz no contato com notícias e artigos de opinião referentes a outras culturas. Para tal, utilizamos questionários, narrativas dos alunos e registros etnográficos (notas de campo), além de uma autonarrativa do pesquisador, elementos que constituem uma autoetnografia. Os resultados deste estudo se fazem relevantes ao ponto que objetivam uma discussão acerca de práticas de ensino de leitura que possam formar aprendizes críticos e eficientes na língua. Palavras-chave: Autenticidade. Leitura. Texto jornalístico. ABSTRACT The present work aimed at proposing a reflection on the authenticity in English reading classes through the use of journalistic texts. This work was conducted by the researcher’s restlessness as a participant of the Institutional Scholarship Program for Teacher Initiation in relation to what the National Curricular Parameters for foreign language (NCPs) say and the reality of teaching reading in public schools. Through a qualitative research and autoethnography, which was developed in a 3rd grade class at a public high school in Conceição do Coité-BA, we discussed the need of considering the importance of the learner’s culture in contact with news and opinion pieces. Therefore, we used questionnaire, narratives written by the learners and ethnographic registers (field notes), in addition to a self-narrative of the researcher, elements of autoethnography. The results of this study are relevant because they aim a discussion on the practices of teaching reading that can form critical and efficient learners. Keywords: Authenticity. Reading. Journalistictexts. LISTA DE QUADROS Quadro 1 – Autoavaliação .........................................................................................32 Quadro 2 – Textos de interesse dos estudantes .......................................................33 Quadro 3 – Frequência do contado dos alunos com textos jornalísticos ..................35 Quadro 4 – Temas de interesse dos estudantes .......................................................37 Quadro 5 – Contato dos estudantes com notícias em inglês ....................................39 Quadro 6 – Resposta ao item “Quais” .......................................................................40 Quadro 7 – Narrativas dos alunos sobre os textos trabalhados ...............................41 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ..........................................................................................................12 1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ..........................................................................14 1.1 Above the fold: O ensino de leitura nas aulas de Língua Inglesa no Brasil ...............................................................................................................14 1.2 O texto jornalístico e o trabalho com leitura em LI ...................................17 1.3 Autenticidade em pauta ............................................................................17 1.4 O texto jornalístico e os processos interativos .........................................19 1.5 Reportando o já-dito: o texto jornalístico sob uma perspectiva dialógica...........................................................................................................21 1.6 Cultura do estudante x cultura do outro: uma aprendizagem autêntica .........................................................................................................23 2 METODOLOGIA .................................................................................................25 2.1 Natureza da pesquisa ...............................................................................25 2.1.1 A pesquisa qualitativa .................................................................25 2.1.2 A autoetnografia ..........................................................................26 2.2 Os sujeitos ................................................................................................27 2.2.1 Perfil da turma .............................................................................27 2.2.2 A reflexão pesquisador como objeto de estudo ..........................27 2.3 Instrumentos e procedimentos da pesquisa .............................................28 2.4 Análise dos dados ....................................................................................30 3 ANÁLISE DOS DADOS .........................................................................................31 3.1 Análise dos questionários .........................................................................31 3.2 Off the records: Análise das narrativas .....................................................41 3.3 Construindo uma autoetnografia na sala de aula de LI ............................47 3.3.1 The grannies get going: o livro didático abordando o papel dos idosos no trânsito dos Estados Unidos ................................................47 3.3.2 “O Papa é pop”: um debate sobre a atuação do pontífice nas redes sociais por meio de uma notícia..................................................48 3.3.3 Amor à primeira vista: uma noticia da Internet explorando um aplicativo que indica os filmes e séries perfeitos para cada usuário .................................................................................................50 3.3.4 O pesquisador como sujeito: reflexões acerca das práticas de ensino-aprendizagem ...........................................................................51 CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................54 REFERÊNCIAS .........................................................................................................56 ANEXOS ...................................................................................................................58 APÊNDICES ..............................................................................................................63 12 INTRODUÇÃO As experiências vivenciadas enquanto bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID)1 me levaram à escolha do tema deste trabalho. Tanto as observações, como as práticas de ensino de leitura na sala de aula de Língua Inglesa (doravante LI) durante a atuação no programa me trouxeram questionamentos acerca do trabalho com esta habilidade. Estes questionamentos partiram do fato de a leitura ser priorizada pelos Parâmetros Curriculares Nacionais e do frequente uso da mesma nas aulas de inglês. Tal conjuntura ocasionou uma reflexão acerca da reação dos alunos às atividades de leitura, bem como da minha prática enquanto bolsista e professor em formação. O que se percebe é que o ensino tradicional, com base em regras gramaticais e na tradução ainda é recorrente nas aulas de LI. O trabalho com textos, na maioria dos casos, tem como objetivo principal o ensino de determinado item gramatical. Da mesma forma, os professores ainda se utilizam de textos criados unicamente para cumprir este objetivo. Estes fatos acarretaram na discussão sobre a autenticidade dos textos utilizados nas aulas. Levando em conta considerações de Kramsch (1993), partimos do princípio de que a autenticidade não está unicamente relacionada ao fato de o texto ter sido criado em uma situação real na língua em que foi produzido. Além desta circunstância, entendemos que o modo como o texto é trabalhado na sala de aula influencia na sua definição como autêntico. Tomando esta discussão acerca da autenticidade como ponto de partida, fazemos um recorte considerando aqui o trabalho com textos jornalísticos. A utilização de notícias e artigos de opinião nas aulas de leitura em LI é analisada considerando os aspectos históricos, sociais e culturais do estudante, deixados de lado no ensino tradicional. Estes aspectos também são significativos na definição de autenticidade abordada neste trabalho. Posto isto, desenvolvemos esta pesquisa através de uma perspectiva autoetnográfica, onde o pesquisador também se faz sujeito e a sua prática em meio aos outros também é objeto de estudo. Os estudantes turma pertencente ao PIBID são tomados como sujeitos, bem como eu, enquanto bolsista. O trabalho está dividido em três capítulos. O primeiro deles se refere à 1 Programa criado pelo Decreto nº 7.219 do Governo Federal, consiste na concessão de bolsas de iniciação à docência, onde estudantes de licenciatura são inseridos do cotidiano da educação básica. 13 fundamentação teórica, onde trazemos à questão as discussões de diferentes autores acerca da autenticidade, do uso de textos jornalísticos, bem do funcionamento dialógico e dos processos interativos recorrentes do trabalho com esse tipo de texto nas aulas de leitura em LI. O segundo capítulo trata da metodologia da pesquisa, onde dissertamos sobre a abordagem qualitativa e a autoetnografia, do mesmo modo que descrevemos os sujeitos e os instrumentos da pesquisa. Por fim, a análise dos dados traz uma reflexão acercado trabalho com os textos nas aulas, por meio da análise de questionários, relatos e de uma autonarrativa, que traz à tona o olhar do pesquisador sobre os sujeitos e sobre sua própria prática. 14 1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 1.1 Above the fold2: O ensino de leitura nas aulas de Língua Inglesa no Brasil A leitura, em grande medida, tem sido o foco nas aulas de Língua Inglesa (LI) em escolas públicas no Brasil, constatação que encontra ressonância, sobretudo, nos Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Estrangeira, segundo os quais “o foco na leitura pode ser justificado pela função social das línguas estrangeiras no país e também pelos objetivos realizáveis tendo em vista as condições existentes” (BRASIL, 1998, p. 21). Nesta pesquisa, não consideramos o trabalho com as outras três habilidades da língua como algo de menor valor, pois sabemos da importância do desenvolvimento de todas as competências linguísticas na formação do aprendiz. O ensino de leitura como foco é tomado como base para tentar desenvolver alternativas de se trabalhar esta habilidade de forma satisfatória, já que, mesmo evidenciado pelos PCN, conforme visto anteriormente, este ensino não tem explorado as potencialidades linguístico-comunicativas3 do aluno. O trabalho desenvolvido com a leitura em LI, via de regra, tem sido utilizado como mero suporte para o ensino de gramática. Isto posto, o trabalho em destaque posiciona-se de modo a problematizar e/ou refletir em torno dos métodos tradicionais utilizados na maioria das aulas de LI no contexto brasileiro normalmente encontrado nas escolas públicas. Mesmo com a menção dos PCN à função social da língua inglesa, o ensino de leitura, por muitas vezes, não contempla o contexto social da língua, negligenciando esta função. Em relação a esta questão Freire (2001), nos mostra que a compreensão de um texto vai além do texto em si e engloba também o contexto, permitindo que essa compreensão se concretize não no nível da manipulação mecânica de palavras, mas em uma relação dinâmica que envolve língua e realidade. É, portanto, a partir desta relação dinâmica que desenvolvemos este trabalho, o qual segue uma proposta de uso de materiais que, além de trabalhar com o contexto na língua alvo, possam promover dinamicidade, autenticidade e, 2 Na linguagem jornalística, esta expressão representa a parte da primeira página do jornal que fica exposta nas bancas. Como os jornais normalmente são dobrados, apenas metade da página é vista pelos clientes. Também é utilizada para se referir à parte da página na internet que fica visível no momento em que esta é carregada. 3 No trabalho com a leitura, estas potencialidades se referem à capacidade dos alunos de se comunicar com o texto, a partir dos conhecimentos linguísticos adquiridos. 15 como resultado, uma aprendizagem efetiva a partir de textos jornalísticos. Como podemos observar, o trabalho com textos escritos dentro da sala de aula de línguas é, por muitas vezes, tomado como um elemento acessório4 para se trabalhar conteúdos gramaticais. Pouco importa para muitos professores (e consequentemente, para muitos estudantes) o que está envolvido no texto e o que dele pode ser explorado, além de recortes de frases para exemplificar estruturas. Cunha (2007) nos diz que […] a linguagem só é compreendida se tivermos acesso a seus elementos constitutivos: participantes, lugar, tempo, propósito comunicativo (convencer, explicar, responder, elogiar, dizer verdades ou mentiras, agradar, criticar etc.) e às diferentes semiologias que entram em jogo na sua produção. Fora da situação em que a língua é produzida, o que há são abstrações, como as frases e palavras isoladas, com as quais o ensino de línguas trabalhou e ainda trabalha, com vistas à aquisição das regras que governam o uso da norma culta (CUNHA, 2007, p.167). A língua se faz viva no trabalho com leitura dentro das situações autênticas em que ela é produzida. Entendemos que separá-la do contexto seria desqualificá-la como objeto de comunicação. Nesta perspectiva, Marcuschi (2008) questiona a visão da escola sobre o texto. Este autor vê o texto como um evento comunicativo e não como um elemento acabado. Ele ressalta que A escola trata o texto como um produto acabado, funcionando como um container, onde se “entra” para pegar coisas. Porém, o texto não é um puro produto, nem um simples artefato pronto; ele é um processo e pode ser visto como um evento comunicativo sempre emergente. Assim, não sendo produto acabado e objetivo, nem depósito de informações, mas um evento ou um ato enunciativo, o texto acha-se em permanente elaboração ao longo de sua história e das diversas recepções pelos diversos leitores. O texto deve preencher alguns requisitos para sua formulação, mas estes não são condições necessárias nem suficientes. A textualidade se dá como um sistema equilibrado de relações entre forma e conteúdo e não como a observância de uma gramática ou conjunto de regras de boa- formação (MARCUSCHI, 2008, p.241-242). Tomando o texto como um lugar de interpretações, é dentro da sala de aula de LI, foco e nosso estudo, que vemos a materialização dessas (re)significações. 4 Entendemos que um texto é utilizado como elemento assessório quando este serve apenas de ferramenta para o ensino de gramática. 16 Assim, entendemos que, se o processo de desenvolvimento linguístico perpassa pela constante negociação de significados, o mero conhecimento de regras não habilita o indivíduo para o pleno desenvolvimento linguístico. Este desenvolvimento depende, dentre outros fatores5, do material didático, aspecto que daremos destaque ao longo do trabalho. Em relação a essa questão Figueiredo Neto (2014) pontua: [...] torna-se precípuo o desenvolvimento de atividades que, sem prescindir dos diálogos do livro didático, converta-os em mote para uma interação dialógica genuína, interação que viabilize a identificação do aluno com a língua na qual se engaja discursivamente. Em outras palavras, é a partir desse exercício, o de produzir os próprios diálogos, que o aluno deixa de ser aprendiz e passa à condição de aprendiz/usuário (FIGUEIREDO NETO, 2014, p. 23). Nesse sentido, entendemos que um trabalho baseado no material didático e em sua textualidade como evento comunicativo6 exige uma constante interação com o aluno, que seja autêntico e que possa proporcionar um letramento crítico7 ao aprendiz. Mattos e Valério (2010), afirmam que a autenticidade impõe-se como um fator indispensável para a realização deste letramento crítico. Adaptações são frutos de abstrações que serviriam senão à homogeneidade que desfiguraria o produto de uma ação social. A compreensão da língua como prática social estaria, pois, vinculada a sua gênese em um determinado contexto, uma vez que somente esse contexto poderia viabilizar a compreensão das relações de poder por ela retratadas, mantidas e / ou construídas. (MATTOS E VALÉRIO, 2010, p. 145). Sendo assim, consideramos que um trabalho com textos jornalístico na perspectiva de autenticidade a ser discutida neste trabalho pode, portanto, viabilizar o desenvolvimento de um letramento crítico nas aulas de leitura em LI. 5 Também consideramos como fatores relevantes no processo de desenvolvimento linguístico dos alunos, dentre outras questões, aspectos emocionais e motivacionais, bem comoa metodologia utilizada pelo professor e as condições dadas pela escola, tanto na parte estrutural, quando nos aspectos pedagógicos. 6 Compreendemos o texto como “um evento comunicativo, qual convergem ações sociais, cognitivas e linguísticas.” (BEAUGRANDE, 1997 apud MARCUSCHI, 2008, p. 72). 7 Entendemos por letramento crítico uma aprendizagem da língua como “instrumento de poder e de transformação social” (MATOS E VALÉRIO, 2010, p. 139), onde o estudante aprende a compreender o mundo de forma crítica através da língua. 17 1.2 O texto jornalístico e o trabalho com leitura em LI No mundo globalizado, a necessidade de informação é cada vez maior e, com a expansão da internet, os conteúdos informativos estão à disposição de quem os procura a qualquer momento. O uso de materiais autênticos e, principalmente, os de teor jornalístico no ensino de LI no Brasil se fazia limitado há algumas décadas pela escassez de conteúdos impressos em língua inglesa veiculados no país e pelo limitado uso da internet. Além da escassez, o alto custo de materiais importados dificultava o trabalho com esse tipo de texto. A maioria dos textos trabalhados em sala de aula era criada por professores para ensinar a língua8, pois além de se fazer mais viável naquele momento devido aos fatores citados acima, o objetivo das aulas era de ensinar as regras gramaticais e realizar a tradução de textos. Porém, com o avanço da tecnologia e a expansão da internet, a imprensa passou a ter versões online de seus jornais, com notícias, reportagens, entrevistas, artigos de opinião e uma variedade de outros conteúdos que podem ser encontrados em língua inglesa. O professor de LI passou a ter, portanto, acesso a uma gama de textos jornalísticos que são veiculados diariamente na rede mundial de computadores. Temas diversos presentes em textos de diferentes formatos são retratados frequentemente nas inúmeras páginas de jornais online espalhadas pela internet. O professor, dessa forma, está rodeado de conteúdos atualizados e selecionáveis de acordo com a realidade de seus alunos. Já o aluno, em contato com o ambiente virtual, além de outros meios de comunicação como rádio e TV, está em meio a assuntos diversos relacionados ao seu cotidiano e de seu interesse, muitas vezes veiculados em inglês. Consequentemente, o uso dos textos criados unicamente com fins didáticos se faz ultrapassado e insuficiente na formação linguístico-comunicativa do estudante, em meio a esta variedade de conteúdos e ao contato cada vez maior dos alunos com diversos temas da atualidade através da internet. 1.3 Autenticidade em pauta Com base no o uso da língua em situações reais, as questões que envolvem 8 Criar textos única e exclusivamente para atender aos conteúdos linguísticos tematizados era a preocupação principal neste período. Consequentemente, eram textos descontextualizados e, portanto, destituídos de autenticidade. 18 o trabalho com leitura em LI são tratadas neste trabalho a partir da perspectiva de autenticidade discutida por Kramsch9 (1993). Sendo assim, o trabalho com o gênero jornalístico é retratado aqui levando em consideração vários aspectos envolvidos nas considerações trazidas por esta autora. Kramsch (1993), parte do princípio de que o significado não está presente no texto, especificamente, mas no diálogo entre o aprendiz e o próprio texto. Ela considera que os aspectos culturais estão associados ao ensino de línguas, mas questiona de que forma este ensino pode ocorrer e como os aprendizes podem ter acesso a estes aspectos. Com base nestes questionamentos, fundamentamos a ideia deste trabalho, levando em questão outros aspectos que consideramos relevantes e que dialogam com o que está sendo proposto. De modo mais aprofundado, a expressão “texto autêntico” é definida por alguns autores como um material em oposição àqueles que têm unicamente fins didáticos, como, por exemplo, define Lee (1995 apud SCHUBERT, 2010). De modo análogo, Little e Singleton (1988, apud KRAMSCH, 1993), afirmam que um texto autêntico é aquele que foi criado para cumprir um propósito social na comunidade linguística na qual este foi produzido. Estas definições norteiam a discussão sobre autenticidade. Elas tratam basicamente da autenticidade como fator que reside apenas no texto, mas acreditamos que vários enfoques estão envolvidos na percepção de texto autêntico, como os aspectos culturais, históricos, sociais e pedagógicos. Um texto, para se fazer autêntico dentro da sala de aula, na perspectiva deste trabalho, depende de outras questões, além do fato de ter sido criado na língua-alvo ou de ter um propósito social específico. Entendemos que texto não é autêntico por si só, mas se faz autêntico no contexto em que é colocado em uso. A autenticidade está, assim, dentre outros fatores, dependente da forma com que o texto é projetado em determinadas situações. É o que salienta SCHUBERT (2010, p.21), quando diz que “[...] o mais importante é o que fazemos com um texto e não o fato de ele ter ocorrido num ambiente real”. Complementando esta afirmação, Widdowson (2001, p.8 apud SCHUBERT, 2010, p.21) ainda diz que “o texto é autenticado pela atividade para a qual ele é usado.” A exemplo disso, autores como o próprio Widdowson (1979, apud KRAMSCH, 9 Esta autora dialoga com outros autores a respeito do conceito de autenticidade, colocando em questão esta definição. Por este viés, ela questiona o que é ou não autêntico e em que situações a autenticidade pode se realizar. 19 1993) salientam que a autenticidade está subordinada à coerência entre a intenção estabelecida na linguagem de quem produz e a interpretação de quem lê, e que esta coerência é realizada através de um “conhecimento compartilhado de convenções”. Isto é, para se fazer autêntico no trabalho dentro da sala de aula, o texto precisa estar em sintonia com o aprendiz.” Seguindo esta mesma linha, Wilson (1977, p.7 apud SCHUBERT, 2010, p.21) afirma que “a autenticidade não reside somente no propósito da língua-materna do texto, mas também no propósito de língua estrangeira quando usado por professores e alunos.” Portanto, entendemos como fundamental o trabalho que se fundamenta no desenvolvimento potencial dos recursos de aprendizagem do aluno. Em outras palavras, tomar o texto jornalístico como cotexto10 para o desenvolvimento do aprendiz de língua estrangeira, converte-se como uma das formas de garantir a interação e o dialogismo na sala de aula de língua. 1.4 O texto jornalístico e os processos interativos A coerência entre o texto e o aprendiz é, portanto, um fator significativo para um trabalho autêntico dentro da sala de aula de LI. E a interação resultante desta coerência é que molda o desenvolvimento de um letramento crítico no aluno. Tratando desta interação, Souza (2007, p. 59) afirma que “os processos interativos […] decorrem de uma compreensão ativa em que o leitor aceita, reformula, contrapõe, complementa as informações do texto conforme seus conhecimentos e experiências”. No caso do gênero jornalístico, em especial os artigos de opinião, essa interação é de suma importância, pois o jornalista apresenta seu ponto de vista, reformula opiniões, e reporta outras vozes para defender suas ideias (SOUZA, 2007), cabendo ao leitor todo o processo de compreensão ativa citado acima. Segundo Marcuschi (2008), […] a interpretação […] é sempre fruto de um trabalho e não uma simples extração de informações objetivas. Como o trabalho é um conjunto e não unilateral,pois compreender é uma atividade colaborativa que se dá na interação entre autor-texto-leitor […], podem ocorrer desencontros. A compreensão é também um exercício de convivência sociocultural (MARCUSCHI, 2008, p.231). 10 Entendemos que o texto jornalístico pode proporcionar o estabelecimento de relações dentro do texto pelo aprendiz. 20 Deste modo, o foco deixaria de estar no autor ou no texto, mas na interação escritor/leitor, onde o texto é o elo deste diálogo. Sobre esta compreensão, Koch e Elias (1993) afirmam que a leitura “[...] se realiza evidentemente com base nos elementos linguísticos presentes na superfície textual e na sua forma de organização, mas requer a mobilização de um vasto conjunto de saberes no interior do evento comunicativo” (KOCH e ELIAS, 2011, p.11). Se tratando da sala de aula de LI, o aprendiz, assim, deixa de ser um indivíduo passivo para se tornar um sujeito ativo. Ao se deparar com uma notícia ou um artigo de opinião, o simples fato de decodificar o texto ou de tentar compreender a intenção do autor é demasiado insuficiente. Neste processo, além do conhecimento linguístico, estarão em jogo algumas ferramentas como suas experiências e os conhecimentos já adquiridos. Pelo fato desse tipo de texto dar margem a uma maior criticidade, o aluno estará munido destas ferramentas para explorar o que está escrito. Ainda sobre a interação escritor/leitor, Koch e Elias (2011, p.12) afirmam que O lugar mesmo de interação […] é o texto cujo sentido “não está lá”, mas é construído, considerando-se, para tanto, as “sinalizações” textuais dadas pelo autor e os conhecimentos do leitor, que, durante todo o processo de leitura, deve assumir uma atitude “responsiva ativa”. Em outras palavras, espera-se que o leitor, concorde ou não com as ideias do autor, complete-as, adapte-as etc. (KOCH e ELIAS, 2011, p. 12). É no fato de concordar, discordar, completar e adaptar que o leitor expõe seu ponto de vista, através do diálogo com o texto. Ao ler um artigo de opinião, por exemplo, estas ações são inerentes ao leitor. Bakhtin (1997, p. 290) afirma que “toda compreensão é prenhe de resposta e, de uma forma ou de outra, forçosamente a produz”. Ao se deparar com fatos alinhados à outras opiniões, é natural que o leitor, no caso o aprendiz de LI, reaja ao que está escrito, de acordo com seus conhecimentos, levantando assim, mesmo que apenas para si mesmo, sua visão sobre o que foi lido. Há um diálogo presente também dentro do próprio texto jornalístico, o que pode dar mais abertura ao diálogo com o leitor, pelo fato de o aprendiz, em determinadas situações e textos, estar em contato com diferentes pontos de vista dentro de um mesmo texto, contribuindo para a formulação de sua interpretação. A notícia, por exemplo, retrata os fatos através de falas alheias, através de fragmentos inseridos no texto, podendo apresentar explicações, descrições e até mesmo visões 21 do jornalista sobre o ocorrido – elas nem sempre são puramente informativas e não necessariamente apresentam uma estrutura narrativa canônica (CUNHA, 2007). Nos artigos de opinião, a visão de quem escreve é mais clara. Segundo Cunha, (2007, p. 179), o artigo de opinião é constituído de outros discursos sobre os fatos comentados e de antecipações das objeções do leitor, para fazer aderir ao seu ponto de vista e para criticar os outros com os quais mantém uma relação de conflito. Tudo isso comprova que o texto é o lugar de circulação de discursos, mostrados ou não, e o sujeito não é a fonte do sentido, mas o constrói no trabalho incessante com o já- dito (CUNHA, 2007, p. 179). A partir desta pluralidade de discursos, fica ainda mais evidente a interação escritor/leitor, onde o leitor é um sujeito ativo e constrói suas ideias a partir deste diálogo estabelecido pelo jornalista. Breen (1985 apud KRAMSCH, 1993) acentua que o aprendiz redefine o texto de acordo com suas próprias preferências e ainda ressalta que e explicação está no fato do indivíduo ser propriamente um aprendiz. Consequentemente, o aluno deixa de apenas captar informações e a leitura deixa de ser entendida como uma “[...] atividade de captação das ideias do autor, sem se levar em conta as experiências e os conhecimentos do leitor” (KOCH e ELIAS, 2011, p.10). 1.5 Reportando o já-dito: o texto jornalístico sob uma perspectiva dialógica O texto jornalístico se caracteriza por reportar outras vozes e por haver um diálogo dentro do próprio texto. Cunha (2007) levanta estes fatos relacionando-os a uma perspectiva dialógica. Esta autora trabalha com o uso de notícias e artigos de opinião no ensino de língua portuguesa. Entretanto, suas considerações se enquadram no trabalho com o gênero no ensino de leitura em Língua Inglesa, bem como na perspectiva de autenticidade abordada neste trabalho. A partir destas considerações, ela defende o funcionamento dialógico presente no texto como uma forma de se realizar um processo de interpretação mais seguro, pois, segundo ela, o leitor irá “[...] relacionar o dito atual com o não-dito e com o já-dito, retomado e modificado em graus diversos pelo jornalista no novo contexto de enunciação”. Desta forma, o leitor estaria em diálogo com o texto e as manifestações presentes no mesmo, estando em contato com diferentes vozes e fazendo esta relação entre 22 os discursos. A ideia de dialogismo abordada por Cunha (2007), parte do princípio da enunciação como o centro das relações interdiscursivas, como postula Bakhtin (1997). O filósofo trata o enunciado como “um elo na cadeia da comunicação verbal” (BAKHTIN, 1997, p. 308) e destaca sua expressividade. Para ele, não existem enunciados completamente neutros e a expressividade é marcada pela “[...] escolha dos recursos lexicais, gramaticais e composicionais do enunciado” (BAKHTIN, 1997, p.308). Porém, o autor considera que esses recursos por si só, enquanto elementos da língua, não transmitem expressividade. Ele ressalta que A língua enquanto sistema dispõe, claro, de um rico arsenal de recursos linguísticos – lexicais, morfológicos e sintáticos - para expressar a posição emotivo-valorativa do locutor, mas todos esses recursos, na qualidade de recursos linguísticos, são absolutamente neutros no plano dos valores da realidade (BAKHTIN, 1997, p. 308). Nesta perspectiva, tratando das notícias e dos artigos de opinião, Cunha (2007) ressalta que, É por meio de formas marcadas e não marcadas de dialogismo que percebemos a posição e os pontos de vista do enunciador do discurso atual, o grau de distância ou de adesão aos discursos dos enunciadores, citados ou mencionados, e os lugares ocupados por eles (CUNHA, 2007, p.166). Este dialogismo, portanto, serviria de instrumento facilitador de uma leitura mais crítica, pela diversidade de vozes representadas no discurso, das quais o aprendiz fará uso para a formulação de sua interpretação. O aluno, enquanto leitor, realiza esta transação de significados, estando em contato com diferentes pontos de vista. Figueiredo Neto (2014) afirma que [...] o ato comunicativo é, por excelência, um processo no qual negociamos significados e fazemos revelar, pela língua, a diferença. É, pois, do lugar que enunciamos e da ideologia em nós alojada que marcamos a oposição em relação ao nosso interlocutor (FIGUEIREDO NETO, 2014, p.161). No artigo de opinião, esta pluralidade de vozes e esta oposição em relação ao interlocutor são notórias. Bräkling (2000) destaca não só o dialogismo presente nesse tipo de texto, como também a evidência da alteridade discursiva nomesmo. Segundo a autora, o artigo de opinião 23 […] se trata de um gênero no qual a dialogicidade e a alteridade se evidenciam no processo de produção: não é possível escrever um texto do gênero se não se conseguir colocar-se no lugar do outro, antecipando suas posições para poder refutá-las – negociando ou não com ele –, na direção de influenciá-lo e transformar sua opinião, seus valores (BRÄKLING, 2000, p. 227). Na notícia não é diferente. O dialogismo é marcado pela presença de outras vozes, com o objetivo de reportar ou complementar uma informação. O autor pode utilizar de diferentes visões para reportar um fato, através de citações, a fim de garantir a credibilidade da notícia e leitor utiliza dessas vozes que aparecem nesse tipo de texto para complementar sua interpretação. 1.6 Cultura do estudante x cultura do outro: uma aprendizagem autêntica Voltamos à questão da autenticidade, quando Kramsch (1993) questiona se não devemos estar preocupados com a aprendizagem de línguas de forma autêntica além de levar em conta apenas o uso autêntico da língua. Ou seja, sendo a língua ao mesmo tempo objeto de estudo e norteadora do processo de ensino/aprendizagem, a autenticidade deveria estar presente também nas práticas pedagógicas das aulas de língua estrangeira. Portanto, considerando a ideia de Hunfeld (1990 apud KRAMSCH, 1993) de que aprender uma outra língua significa ser capaz de comparar um outro universo linguístico com o seu próprio, seria mais propício levar em consideração as experiências culturais do estudante ao invés de forçá-lo a se adaptar à outras culturas. Neste sentido, Figueiredo Neto (2014) pontua que [...] as relações constituídas no processo de aprendizagem de uma língua estrangeira [...] devem admitir que os diferentes sujeitos envolvidos no processo de aprendizagem de LI estão inscritos em múltiplos lugares sociais, os quais são definidores de suas práticas discursivas (FIGUEIREDO NETO, 2014, p.165-166). Em outras palavras, os aspectos sociais, históricos e culturais que envolvem o aprendiz devem ser levados em conta e são de grande relevância no trabalho com leitura em LI, principalmente quando tratamos de autenticidade. É inevitável que o aluno esteja em contato com outras culturas quando está aprendendo outra língua. E em relação ao contato com textos jornalísticos, na concepção de autenticidade já discutida, não é diferente. Neste caso, o estudante 24 estará em comunicação com fatos, vivências, costumes, hábitos, críticas etc. relacionadas à cultura do outro. Kramsch (1993) concorda com a ideia de que ensinar língua é ensinar cultura, mas interroga sobre o que essa afirmação realmente quer dizer. Em resposta, Nostrand (1989 apud Kramsch, 1993) afirma que o aprendiz deve estar sujeito ao contato/confronto com a cultura do outro, mas faz outro questionamento: se é realmente necessário e viável que ele precise entendê- la. Nesta perspectiva, Kramsch (1993) frisa que uma das principais responsabilidades do professor quando se trata do uso desse tipo de material é desafiar o aluno; não no sentido de testar suas habilidades individuais na língua, mas de desafiar seu intelecto, sua visão crítica. 25 2 METODOLOGIA 2.1 Natureza da pesquisa Optamos por tematizar o trabalho com textos jornalísticos no ensino de leitura em LI a partir de uma pesquisa qualitativa, por ser um processo participativo, onde o pesquisador não só coleta, mas também gera dados a partir dos caminhos que ele mesmo seleciona (MASON, 2002), o que se faz coerente com o objetivo da pesquisa. Tomamos como base para a coleta de dados o modelo da autoetnografia, por oportunizar o envolvimento do pesquisador, bem como a narrativa de seus pensamentos e sua reflexão diante do estudo em que está inserido (ELLIS; BOCHNER, 2000). No caso desta pesquisa, o que está em questão é sua própria prática em meio a outros sujeitos vinculados ao processo de ensino-aprendizagem – os alunos. A turma participante desta pesquisa pertence ao Colégio Estadual Yêda Barradas Carneiro, localizado em Conceição do Coité, cidade do interior da Bahia, situada na região sisaleira, a 220 km de Salvador. A escola conta com uma equipe de 22 professores e um corpo de 450 alunos, divididos entre turmas do Ensino Fundamental II e Ensino Médio. A turma em questão se encontra no terceiro ano do Ensino Médio. Enquanto pesquisador, atuava como bolsista de iniciação à docência do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID) no Colégio. 2.1.1 A pesquisa qualitativa A escolha pela abordagem qualitativa se deu pela necessidade de analisar os fenômenos que ocorrem nas aulas de leitura em LI e interpretá-los a partir das experiências dos alunos com a leitura, bem como suas experiências de vida em meio ao contexto social em que estão envolvidos. Segundo Mason (2002), a pesquisa qualitativa permite explorar uma ampla gama de dimensões do mundo social, incluindo as concepções, as experiências e a imaginação dos participantes da pesquisa. Analisar o trabalho com textos jornalísticos, na perspectiva de autenticidade discutida neste trabalho, exige uma maior sensibilidade por parte do pesquisador. Trabalhar com temas recorrentes na vida social dos alunos põe em 26 questão aspectos como as vivências dos mesmos e os conhecimentos adquiridos previamente, que devem ser levados em conta na análise dos dados. Do mesmo modo, ter a própria prática do pesquisador enquanto mediador deste processo como objeto da pesquisa, também exige esta subjetividade, pois o mesmo faz uma reflexão de si mesmo em meio ao contato com os outros sujeitos. Dessa forma, uma pesquisa de cunho quantitativo não contemplaria todos estes aspectos, pela necessidade de uma análise subjetiva e não apenas de quantificação dos dados. 2.1.2 A autoetnografia Também representada como etnografia pessoal, narrativas pessoais, narrativas do eu, narrativas da experiência pessoal, entre outros termos, a autoetnografia é um gênero da etnografia que se caracteriza por permitir uma análise tanto dos sujeitos e os aspectos culturais e sociais ao redor do pesquisador, quanto de si mesmo, considerando seu próprio envolvimento em meio ao ambiente da pesquisa (ELLIS; BOCHNER, 2000). Embora seja pouco usual, vem sendo utilizada há algumas décadas como método de pesquisa e se faz relevante neste trabalho por proporcionar uma análise mais aprofundada da experiência dos alunos com leitura em Língua Inglesa, a partir dos textos jornalísticos trabalhados em sala de aula, tal como uma reflexão da prática do pesquisador enquanto professor da turma. Considerando a autoetnografia como um gênero da etnografia, vale ressaltar que os fundamentos desta abordagem são levados em conta nesta pesquisa. Segundo Moreira e Caleffe (2006, apud FIGUEIREDO NETO, 2014, p. 38), a etnografia é, além de um método, um ponto de partida, e se caracteriza como a interação entre o pesquisador e os atores sociais da pesquisa. O pesquisador, desse modo, deixa de ser apenas um observador passivo e se posiciona em meio ao contexto social do estudo. Dessa forma, considerando o pesquisador como parte do ambiente de pesquisa, é válida a afirmação de Ellis e Bochner (2000), que nos diz que ninguém melhor para analisar e refletir sobre o estudo que o próprio envolvido – reflexão esta que caracteriza a autoetnografia. Nesta linha, Kock et al. (2012) nos diz que, Por meio da autoetnografia, o indivíduo, ora pesquisador,ora objeto pesquisado, compreende a si mesmo por meio do aprofundamento 27 intrínseco e de seu ambiente vivido. Assim, quando compreender a si, compreenderá o meio, os outros envolvidos. (KOCK et al. 2012, p. 96) Portanto, a reflexão do pesquisador enquanto sujeito do meio, no caso como professor de LI, pode contribuir no entendimento de questões que envolvem o ambiente da pesquisa, bem como os outros sujeitos. Se tratando da sala de aula de LI, a compreensão de como sua prática interfere no processo de aprendizagem dos alunos torna mais fácil ao professor identificar as razões pelos resultados obtidos por parte dos alunos. 2.2 Os sujeitos 2.2.1 Perfil da turma A turma participante da pesquisa encontra-se na 3ª série do Ensino Médio, como visto anteriormente. Nela estão matriculados 35 alunos. Acompanho estes alunos desde o ingresso dos mesmos no Ensino Médio, através do PIBID. É uma turma que, em geral, participa das aulas e tem um bom conhecimento na língua. Apenas um grupo de alunos é mais reservado e apresenta mais dificuldade em aprender inglês. Com o trabalho desenvolvido no PIBID, boa parte da turma desenvolveu algumas estratégias de leitura, se sentindo mais à vontade no contato com textos em inglês. Vale destacar também que é uma turma criativa, que gosta de opinar sobre os temas propostos, principalmente quando estão relacionados ao cotidiano dos estudantes. 2.2.2 A reflexão pesquisador como objeto de estudo Quando decidimos trabalhar com a autoetnografia, levamos em consideração os reflexos da prática docente em relação à aprendizagem dos alunos. Como um sujeito pertencente ao meio, o professor com sua prática é um aspecto a ser considerado no processo de aquisição da leitura, no trabalho autêntico em sala de aula e na formação de leitores críticos na língua. Fazer uma reflexão de como esta prática influencia na aprendizagem dos alunos se faz relevante nesta pesquisa, considerando a proposta do trabalho com textos jornalísticos como um processo 28 interativo, que envolve a participação dos alunos, coordenada pelo professor, que seleciona o material e faz a intermediação entre texto e aluno durante as aulas. Vale ressaltar novamente que, durante a pesquisa, eu fazia parte do quadro de bolsistas do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID) na referida escola. O objetivo do programa é que o bolsista seja inserido no cotidiano escolar, a fim de que tenha oportunidades de criar e participar de experiências metodológicas (BRASIL, 2013). A proposta é que o bolsista auxilie o professor supervisor nas aulas. Porém, a supervisora do subprojeto11 na escola sempre nos deu autonomia para aplicar algumas atividades, principalmente o trabalho com textos. Para que eu pudesse desenvolver o trabalho com leitura proposto nesta pesquisa, a professora concedeu-me três aulas, nas quais eu assumi a turma. Como abordado anteriormente, acompanhei os alunos em questão nos dois anos anteriores do Ensino Médio e, apesar de um trabalho comunicativo já estar sendo desenvolvido, consideramos como válida uma reflexão mais apurada da proposta da utilização dos textos jornalísticos, na perspectiva de autenticidade discutida durante todo o trabalho. 2.3 Instrumentos e procedimentos da pesquisa Levando em conta a autoetnografia como um gênero da etnografia, consideramos alguns elementos da pesquisa etnográfica para a realização da coleta de dados. Enquanto pesquisador e bolsista de iniciação à docência, realizei uma observação tanto dos alunos enquanto aprendizes de LI, quando uma auto- observação em meio ao trabalho com os textos em sala. Inicialmente, optamos por trabalhar uma aula12 apenas com o livro didático13, a fim de analisar o comportamento dos alunos em relação os textos presentes no livro, para em seguida utilizar os textos propostos neste trabalho, com o intuito de 11 O Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID) é dividido em subprojetos, desenvolvidos pelos cursos de licenciatura das Instituições de Ensino Superior. O subprojeto do qual eu participo é denominado “Avançando na aprendizagem de Língua Inglesa através da leitura e da escrita”. 12 As aulas de Língua Inglesa na turma participante da pesquisa ocorriam na quinta e na sexta-feira, ambos os dias no segundo horário. Entretanto, na semana da última aula o horário foi alterado, e esta foi aplicada na segunda-feira. 13 O livro adotado pela escola no Programa Nacional do Livro Didático de 2015 a 2017 é o High UP, da MacMillan. 29 observar a interação dos alunos com os textos em ambos os casos. Trabalhamos com o texto “Demography and Transport - When the Grannies Get Going: The Rise of Geriatric Drivers”14 na primeira aula e, para as duas aulas seguintes, foram selecionados dois textos (em anexo), a serem trabalhados cada um em uma aula: uma notícia da revista online Bustle15, intitulada “Pope Francis joins Instagram and posts his first pic, but sorry, it's not a selfie16” (e uma notícia retirada da versão online do jornal Daily Mail17, que tem como título “Tinder for TV: AI swiping app can recommend shows based on what you like and what your friends are watching “18. Denominaremos estes textos como Texto 1, Texto 2 e Texto 3, respectivamente. O Texto 1, presente no livro didático, se trata de um artigo com algumas estatísticas acerca da idade dos motoristas nos Estados Unidos. O Texto 2 se refere a uma notícia relacionada ao ingresso do Papa Francisco na rede social Instagram. Esta notícia traz os motivos deste ingresso e as repercussões da atitude do pontífice nas redes sociais. Já o Texto 3 trata de um aplicativo criado por uma companhia norte-americana com o intuito de indicar filmes e séries a seus usuários, baseado nos interesses dos mesmos. Este utilitário é baseado no Tinder, aplicativo que permite a seus usuários encontrar pessoas para novos relacionamentos. A observação da participação dos alunos nas atividades de pré-leitura e pós- leitura contribuiu para a análise dos dados. Além das observações, os alunos responderam a um questionário antes do início do trabalho com os textos. Este questionário teve como objetivo mapear os interesses dos alunos para a leitura em LI, bem como o contato deles com textos jornalísticos. Neste questionário, foi orientado que os alunos se identificassem através de pseudônimos, mas com o meu conhecimento acerca do nome quer cada um escolheu. Esses pseudônimos foram utilizados para representar os estudantes durante toda a análise. Ao final de todas as atividades, eles escreveram uma narrativa escrita da experiência com os textos jornalísticos trabalhados em sala. A intenção era que eles avaliassem os textos trabalhados durante a pesquisa. 14 Texto encontrado na página 175 do livro. 15 Revista online americana, dedicada ao público feminino (bustle.com). 16 “Papa Francisco entra no Instagram e posta sua primeira foto, mas desculpem, não é uma selfie” (tradução nossa). 17 Um dos mais populares jornais britânicos, que também possui versão online (www.dailymail.co.uk). 18 “Tinder para TV: aplicativo de Inteligência Artificial recomenda programas baseado no que você gosta e no que seus amigos estão assistindo” (tradução nossa). 30 Vale ressaltar que durante a pesquisa alguns alunos não frequentaram as três aulas. Dessa forma, a quantidade de alunos que responderam ao questionário difere da quantidade que respondeu a narrativa. 2.4 Procedimentos paraa análise dos dados O processo de análise dos dados foi dado em três passos. A princípio, foi feita uma análise da visão dos alunos sobre os textos jornalísticos e os temas que atraiam os mesmos, a partir do questionário. As narrativas escritas pelos sujeitos pesquisados serviram de análise em relação ao trabalho com os textos nas aulas. Por fim, as observações registradas nas notas de campo deram margem à escrita de uma autonarrativa, onde foram retratados os aspectos observados em relação à minha própria prática, fazendo uma autorreflexão de todo o trabalho desenvolvido com os alunos. 31 3 ANÁLISE DOS DADOS Este capítulo trata da análise dos dados obtidos através da pesquisa qualitativa de base autoetnográfica realizada durante as aulas do subprojeto do PIBID, como foi descrito no capítulo metodológico. O objetivo é discutir como os textos jornalísticos podem viabilizar um trabalho autêntico nas aulas de leitura por meio das respostas do questionário e das narrativas dos alunos, além da autonarrativa de minha prática, tendo em vista o conceito de autoetnografia abordado na metodologia. 3.1 Análise dos questionários Como mencionado no capítulo anterior, os questionários foram aplicados antes do início do trabalho com os textos. Segundo Gil, o questionário enquanto instrumento de pesquisa tem “[...] por objetivo o conhecimento de opiniões, crenças, sentimentos, interesses, expectativas, situações vivenciadas etc.” (GIL, 1989, p. 124). Posto isto, a utilização deste instrumento nesta pesquisa se fez relevante devido à necessidade de compreender de forma mais precisa como cada estudante avalia sua leitura em língua inglesa, quais são os temas que lhe atraem para a leitura e qual o contato mantido com os textos jornalísticos em seu cotidiano. Como foi especificado na metodologia, orientei que os alunos escolhessem pseudônimos para se identificarem no questionário, por acreditar que seria melhor preservar a identidade deles, enquanto estudantes da educação básica. A primeira questão buscou verificar como os aprendizes classificam sua leitura em LI, por meio de uma autoavaliação. O objetivo foi basicamente perceber a relação entre esta autoavaliação com o desempenho dos estudantes nos trabalhos com leitura. Através das respostas, considerando o fato de acompanhar os alunos desde o ingresso no Ensino Médio, pude perceber que a participação nas aulas de leitura foi refletida nas avaliações da maioria deles. No quadro a seguir, podemos observar as respostas de cada um deles à pergunta “Como você avalia sua leitura em inglês?”, na qual podiam avaliar como ótima, boa, regular, ruim ou péssima. 32 Quadro 1 – Autoavaliação (Como você avalia sua leitura em inglês?). Aluno Ótima Boa Regular Ruim Péssima Arnold João Camila Daniel Vladimir Rihanna Katherine Paula Lorena Bruno Ukia Fabiana Lara Katy Sophia Ana Carla Bianca Lia Catarina Caio Beatriz Jéssica Maria Ricardo Luna Stenio Quantidade 0% 7,4% 25,9% 44,5% 22,2% Podemos notar que apenas dois alunos (Vladimir e Lia) avaliaram sua leitura como “boa”, enquanto nenhum assinalou a opção “ótima”. Com base na convivência com estes alunos nos últimos anos, posso afirmar que Vladimir e Lia desenvolvem uma leitura consciente nas aulas, tendo um pouco mais de facilidade com relação aos demais na interpretação dos textos. Ambos sempre demonstraram curiosidade em relação a vocabulário, ortografia e aspectos gramaticais nos textos trabalhados durante o subprojeto do PIBID. Com relação aos que marcaram a opção “péssima”, com exceção de Lara, que sempre demonstra um esforço significativo na leitura, são estudantes que participam menos das aulas e manifestam pouco interesse nas atividades de 33 compreensão. Nota-se também que a maioria dos aprendizes (44,5%) avaliou a própria leitura como ruim. Entretanto, vale ressaltar alguns casos, como Daniel, Katherine, Catarina e Beatriz, nos quais percebo um engajamento para a leitura, apesar das dificuldades de compreensão, admitidas pelos mesmos. Já os que marcaram a opção “regular”, são aprendizes que demonstram interesse e alguma facilidade com leitura, participando ativamente das atividades de interpretação. A partir destas avaliações, podemos perceber que a turma em questão tem um nível de leitura abaixo do esperado. Porém, dado o contato com os estudantes durante todo o Ensino Médio, reconheço que é uma turma que busca compreender os textos estudados, utilizando diferentes estratégias de leitura e participando das discussões propostas acerca dos textos. A segunda questão procurou verificar os interesses dos pesquisados para a leitura em língua inglesa. Através de respostas abertas, percebi que as diferentes preferências dos alunos com relação aos textos ressaltam os diferentes perfis presentes na sala de aula. Vale destacar que ficou livre a escrita durante as respostas, sem estipular alternativas ou tipos padrões de textos. O quadro a seguir detalha as respostas de cada aluno pesquisado. Quadro 2 – Textos de interesse dos estudantes (Que tipo(s) de texto desperta(m) seu interesse para a leitura em língua inglesa?). Aluno Respostas abertas Arnold (sem resposta) João “Noticiários.” Camila (sem resposta) Daniel “Eu só leio na aula.” Vladimir “Informações de séries e filmes, e menu de jogos e etc.” Rihanna “Prefiro músicas, me interessa mais.” Katherine “Textos históricos textos de comédia, notícias importantes.” Paula “Nenhum.” Lorena “Nenhum.” Bruno “Algumas legendas de séries e filmes, e menu de jogos.” Ukia “Nenhum. Só música mesmo, se não for música não tô nem aí.” Fabiana “Músicas.” Lara “Textos que tragam informações enterecante (sic) como documentários, comédia.” Katy “Nenhum.” Sophia “Geralmente música desperta mais interesse.” Ana “Nenhum.” Carla (sem resposta) 34 Identifiquemos de início as respostas que destacam o interesse dos alunos por textos de teor jornalístico, já que tomamos estes como base para esta pesquisa. Podemos observar que respostas como as de João, Katherine e Lia deixam claro o interesse destes alunos por notícias. Do mesmo modo, Lara, Lia e Caio destacam o interesse por documentários, bem como Luna que demonstra atração por “artigos sobre pessoas internacionais”. Também considerando como tendo interesse por textos jornalísticos, temos Vladimir e Ricardo, que dizem preferir “informações de séries e filmes, e menu de jogos e etc.” e “atualidades”, respectivamente. Percebo que há uma quantidade significativa de alunos que tem familiaridade com textos jornalísticos em LI. A motivação por informações acerca de diferentes temas me leva a reconhecer que os sujeitos pesquisados são estudantes atualizados e que estão em contato com diferentes textos jornalísticos. Fazendo uma análise destes oito alunos, percebemos que seis deles avaliaram a própria leitura como boa ou regular na questão anterior. Em outras palavras, dos nove pesquisados que assinalaram as opções “boa” ou “regular” com relação a como identificam sua leitura em LI, seis deles demonstram interesse por textos jornalísticos, fato que me leva a acreditar que o contato com esses textos tem influenciado na aprendizagem de leitura desses estudantes. Podemos notar também a motivação de alguns alunos em relação a letras demúsicas. Alguns deles, inclusive, destacam que se interessam apenas por esse tipo de texto (Rihanna, Ukia, Fabiana, Sophia, Bianca e Jéssica). O que percebo é que estes alunos não têm uma participação significativa no trabalho com textos e, mesmo no trabalho com músicas, não desenvolvem a leitura como esperado. Retornando novamente à autoavaliação, vimos que, destas seis estudantes, nenhuma avaliou sua leitura como “ótima” ou “boa” (três assinalaram “ruim”, duas marcaram “péssima” e uma “regular”. Posso avaliar que o interesse estaria, neste Bianca “Animados.” Lia “Arquivo científico, documentários, notícias.” Catarina “Músicas.” Caio “Documentários.” Beatriz “Músicas etc.” Jéssica “Letras de músicas.” Maria “Nenhum” Ricardo “Atualidades.” Luna “Letras de músicas, artigos sobre pessoas internacionais.” Stenio “Não gosto de língua inglesa, não costumo ler.” 35 caso, relacionado ao gosto musical e não a motivação pela leitura das letras. Dessa forma, penso que um trabalho com textos jornalísticos voltado para temas relacionados à música pode atrair estes alunos para a leitura. Com relação àqueles que escreveram “nenhum” (Paula, Lorena, Katy, Ana e Maria), “Eu só leio na aula” (Daniel) ou “Não gosto de língua inglesa, não costumo ler” (Stenio), o que posso avaliar é que estes alunos não estão conscientes de que praticam leitura em inglês no seu cotidiano, já que estão em contato com textos de diferentes formatos e modalidades em diversos locais, inclusive na internet, onde também têm acesso a textos jornalísticos. Ou seja, estes aprendizes realizam variadas leituras, mas que passam despercebidas em meio ao cotidiano deles. Da mesma forma, temos aqueles alunos que não responderam à questão (Arnold, Camila e Carla). Apesar de reafirmar as considerações do parágrafo anterior, acredito que a falta de colaboração no questionário é reflexo da participação nas aulas. São estudantes que pouco se dispõem a participar dos momentos de leitura, bem como das discussões e atividades propostas. Apesar de um diálogo com estes alunos ocorrer frequentemente, percebo poucos avanços em relação ao desenvolvimento deles nas aulas. Sendo assim, tomo esta abstenção dos pesquisados como um retrato negativo da aprendizagem dos mesmos. A terceira questão está relacionada à frequência com a qual os alunos estão em contato com textos jornalísticos. O objetivo foi perceber se os estudantes fazem leitura de notícias e artigos de opinião, tanto em inglês, como português ou qualquer outra língua. O quadro a seguir detalha as respostas. Quadro 3 – Frequência do contado dos alunos com textos jornalísticos (Com que frequência você costuma ler notícias e/ou artigos (em português ou outra língua) em jornais ou na internet?). Aluno Sempre Às vezes Raramente Nunca Arnold João Camila Daniel Vladimir Rihanna Katherine Paula Lorena 36 Através desta questão, podemos perceber que a grande maioria dos alunos está em contato com textos jornalísticos com uma frequência razoável, considerando as respostas “sempre” e “às vezes”. O que pode justificar este contato frequente é o fácil acesso à internet da maioria dos estudantes, ligado à curiosidade dos mesmos de buscar informações, tal como percebida durante todo o trabalho com eles no PIBID. Também considero como positiva as respostas dos alunos que marcaram “raramente”, pois, mesmo com menos frequência, não deixam de fazer leituras do tipo. Estas respostas me levam a constatar que os alunos estão em interação com fatos e opiniões sobre diferentes temas através de notícias, artigos de opinião e outros textos jornalísticos. Penso que este fato reafirma a discussão proposta neste trabalho, uma vez que podemos perceber que nos deparamos na sala de aula de LI com sujeitos cercados de informações que podem ser abordadas nas aulas através da língua inglesa. Estes sujeitos são pertencentes a uma comunidade19 e carregam consigo toda a sua carga cultural, mas estão em contato com outras realidades, inclusive realidades globais, através de textos jornalísticos, principalmente encontrados na rede mundial de computadores. Na quarta questão, o que se buscou 19 Como explicitado na metodologia, os sujeitos fazem parte de um bairro pobre de Conceição do Coité, onde fica localizada a escola em questão. Bruno Ukia Fabiana Lara Katy Sophia Ana Carla Bianca Lia Catarina Caio Beatriz Jéssica Maria Ricardo Luna Stenio Quantidade 25,9% 55,6% 18,5% 0% 37 saber foram os temas que atraíam os aprendizes para a leitura de notícias e artigos de opinião. As respostas abertas estão descritas no quadro abaixo. Quadro 4 – Temas de interesse dos estudantes (Que tipo de notícia e/ou artigos você procura ler? Qual o tema que te chama a atenção?). Por meio destas respostas, percebemos a grande variedade de temas que chamam a atenção dos alunos para a leitura de textos jornalísticos – e uma variedade dentro das respostas de cada aluno, inclusive. Esta diversidade reafirma os diferentes perfis que encontramos na sala de aula. Estes perfis são traçados com base nas experiências dos estudantes e em outros aspectos sociais e culturais, Aluno Respostas abertas Arnold (sem resposta) João “Notícias sobre esportes (futebol, tênis e basquete) e notícias de terrorismo. O tema que me chama a atenção é o chamado música.” Camila (sem resposta) Daniel “Esportes e notícias” Vladimir “Discussões, informações sobre música, séries, jogos e filmes.” Rihanna “Notícias do que acontece nos dias de hoje.” Katherine “Procuro ler mais notícia que está acontecendo no mundo.” Paula “Moda, notícias e etc.” Lorena “Moda, notícias etc...” Bruno “Vários, mas um dos mais visitados é sobre artistas.” Ukia “Manga, anime, notícia de anime se já lançou um novo.” Fabiana “Notícias, informações.” Lara “Assuntos que estão em pauta, documentários históricos.” Katy “Jornais, revistas, etc.” Sophia “O tema em que chama a minha atenção é sobre vida real, eu procuro ler notícias sobre o dia-a-dia e etc.” Ana “Notícias.” Carla (sem resposta) Bianca “Moda, acessórios, tratamento capilar, novelas etc.” Lia “Notícias, científicas, física, matemática, física quântica...” Catarina “Jornais.” Caio “Futebol e músicas.” Beatriz “Saúde e várias outras.” Jéssica “Não leio nenhum tipo, apenas olho letra de música.” Maria “Casos policiais. Realidade da vida.” Ricardo “Esportes. O que estiver em evidência na atualidade.” Luna “Entretenimento, política, atualidades do Brasil e do mundo.” Stenio “O tema que mais min (sic) chama a atenção é esportes e notícias sobre o que acontece em outras cidades.” 38 incluindo a questão de gênero20, manifestada em algumas respostas. Tomando esta questão como um recorte para uma breve análise, podemos notar que há interesses específicos marcados nas respostas das meninas, como moda, e dos meninos, como esportes. Porém, o que percebemos na maioria das respostas são assuntos de comum interesse de ambos, como músicas e atualidades. Isso me leva a avaliar que há uma diversidade de temas que atraem não só ambos os gêneros, mas também diferentes etnias e classes sociais. Sobre os temas, vejo que uma quantidade significativa dos alunos está interessada em notícias e artigos que abordem informações atuais. Rihanna, Katherine, Lara e Ricardo especificam em suas respostas que preferem “notíciasdo que acontece nos dias de hoje”, “[...] notícia que está acontecendo no mundo”, “assuntos que estão em pauta”, “o que estiver em evidência na atualidade” e “atualidades do Brasil e do mundo”, respectivamente. Porém, devemos considerar que todos os temas citados no quadro são atuais, pois são abordados nos diferentes jornais e portais de notícias diariamente (alguns tratados com mais ênfase ultimamente, como política, citado por Luna). Temas como filmes, séries, novelas, músicas, animes e jogos também são citados pelos alunos. Percebo que o interesse e a curiosidade por assuntos relacionados a estas mídias levam os alunos a buscarem em notícias e artigos de opinião informações, comentários e análises sobre diferentes tópicos relacionados a estas plataformas. O aprendiz está em contato com estes filmes, séries, novelas, músicas, animes21 e jogos no seu cotidiano e busca fontes para se manter atualizado sobre estes temas. Mais uma vez os mesmos alunos (Arnold, Camila e Carla) não responderam à questão, assim como no Quadro 2. Reafirmo as considerações da referida questão, apontando novamente para o aspecto negativo que trazem estas abstenções, em relação à aprendizagem dos mesmos. Contudo, levando em conta o aspecto geral, podemos concluir através desta questão que a turma possui uma grande diversidade de interesses na leitura de textos jornalísticos, fato que reitera a discussão proposta neste trabalho. A quinta questão foi formulada com a intenção de descobrir se os alunos têm 20 Vale ressaltar que não estamos tratando de conceitos pré-definidos, mas de uma realidade presente nas respostas da turma pesquisada. 21 Estilo de desenho animado originário do Japão. 39 acesso a portais de notícias em inglês. Caso assinalassem “sim”, deveriam indicar quais sites acessam. O Quadro aponta as respostas dos estudantes. Quadro 5 – Contato dos estudantes com notícias em inglês (Você costuma acessar portais de notícias em inglês?). O que podemos perceber através destas respostas é que a maior parte dos alunos (92,6%) não acessam portais de notícias em inglês. Apenas dois indicaram que têm acesso a esses sites. Penso que o principal motivo que leva a essas respostas é a dificuldade com a leitura em LI, como indicada pelos próprios estudantes no Quadro 1. Entretanto, os temas indicados como de interesse dos alunos no quadro anterior são tratados cotidianamente nos portais em língua inglesa e podem estimular ainda mais a curiosidade deles em relação a esses assuntos. Aluno Sim Não Arnold João Camila Daniel Vladimir Rihanna Katherine Paula Lorena Bruno Ukia Fabiana Lara Katy Sophia Ana Carla Bianca Lia Catarina Caio Beatriz Jéssica Maria Ricardo Luna Stenio Quantidade 7,4% 92,6% 40 Sendo assim, considerando estes dados, acredito que esses textos podem ser explorados nas aulas a fim de provocar uma leitura mais frequente dos alunos no dia-a-dia. A sala de aula é o local onde há um acompanhamento do professor, que propõe atividades e discussões e acompanha o processo de leitura, orientando e tirando as dúvidas dos aprendizes. Da mesma forma que levar textos jornalísticos com temas relevantes para o aluno pode contribuir para o seu desempenho na disciplina, a sala de aula pode ser também um ambiente de estímulo para o contato com textos jornalísticos no seu cotidiano. Isto é, trabalhar com o autêntico nas aulas pode ressignificar a leitura em LI para os aprendizes, tanto na escola como fora dela. Com relação aos alunos que marcaram “sim”, foi solicitado que eles apontassem quais portais de notícias tinham acesso. As duas respostas estão descritas no quadro abaixo. Quadro 6 – Resposta ao item “Quais”. O estudante Vladimir apontou que costuma acessar o site Reddit, que consiste em um portal onde qualquer usuário pode compartilhar conteúdos e links relacionados a diversos temas. Este site não tem fins jornalísticos, mas são compartilhados diariamente vários links de notícias das versões online de jornais em língua inglesa. O que percebo é que Vladimir faz leituras em LI por meio desse site, impulsionadas pelo interesse nos temas citados por ele na quarta questão do questionário (“discussões, informações sobre música, séries, jogos e filmes”). É um aluno que sempre participa das discussões em sala acerca de diferentes assuntos e tem facilidade com a língua. Acredito que o trabalho com textos autênticos em sala durante todo o subprojeto do PIBID contribuiu para uma visão mais crítica deste aprendiz, pois percebo uma evolução em relação ao comportamento dele com os textos trabalhados no período citado. Isto reafirma a ideia de Kramsch (1993) de que o professor deve instigar a visão crítica do aluno através do texto, ao invés de apenas explorar suas habilidades na língua. No caso de Bruno, não consegui identificar as siglas que utilizou (“CW” e “PC”). No entanto, ele deixa claro que o objetivo pelo qual acessa esses sites é Aluno Respostas abertas Vladimir “Reddit” Bruno “A CW ou PC para poder ver spoilers de séries.” 41 “para poder ver spoilers22 de séries”. Esta não é uma função aplicada aos textos jornalísticos, que não costumam antever acontecimentos em séries ou filmes. Acredito que um trabalho com notícias ou artigos relacionados a séries (bastidores, novas produções, opiniões etc.) poderia atrair o interesse não só deste, mas de outros alunos que também se interessam por séries e filmes, bem como de outros que porventura poderiam se interessar. 3.2 Off the records23: Análise das narrativas Assim como indicado na metodologia, os estudantes escreveram uma narrativa ao final do trabalho com os textos. Foi solicitado que eles descrevessem suas opiniões sobre os três textos trabalhados em sala. Da mesma forma que nos questionários, eles utilizaram pseudônimos na identificação. Vale ressaltar novamente que eu tinha conhecimento em relação a esses nomes, sabendo qual pseudônimo cada um utilizou, a fim de fazer uma análise desses sujeitos em relação ao desempenho dos mesmos nas atividades de leitura. O objetivo desta narrativa foi verificar a reação dos alunos às leituras propostas durante as aulas. Podemos observar no quadro a seguir a narrativa de cada sujeito. Quadro 7 – Narrativas dos alunos sobre os textos trabalhados. 22 Neste caso, a palavra “spoiler” está relacionada a antecipações de acontecimentos e revelações de fatos importantes em filmes e séries. 23 Na linguagem jornalística, esta expressão corresponde a uma informação privilegiada passada ao jornalista que pode ser publicada, desde que não seja atribuída à pessoa que falou. Aluno Narrativas Arnold “O questionamento do papa com as redes sociais é um crescimento a mais para haver um aumento de população para o papa que prega sua religião.” João “Sobre o texto do Papa não tive interesse até porque não gosto de redes sociais. O Tinder na minha opinião é um bom aplicativo para quem gosta, eu porém usaria para filmes, pois quando o assunto é relacionamento a coisa não pode ser de qualquer jeito.” Camila “Muito complicado de ser entendido, com as palavras cognatas dá para saber alguma coisa, mas são bastante difíceis.” Daniel “Os textos trabalhados foram bem bolados apesar da minha leitura ser horrível, o texto que eu mais gostei foi sobre o app Tinder.” Vladimir “São textos que fazem bem o trabalho de ser atrativo
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