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Laís Abramo, OIT III Encontro Nacional dos CONSADs Brasília, 25 de janeiro de 2007 Retrato das Desigualdades: as caras do Brasil Desigualdade Social no Brasil • Importância de tratar o tema da desigualdade na abertura desse encontro • Missão dos CONSADs: promover o desenvolvimento territorial em áreas específicas do país, com ênfase na segurança alimentar e nutricional e na geração de trabalho e renda como estratégia principal para a emancipação sócio-econômica das famílias que se econtram abaixo da linha da pobreza Desigualdade social e pobreza • O Brasil é um dos países mais desiguais do continente mais desigual (ainda que não o mais pobre) do mundo • As enormes desigualdades sociais - e particularmente a alta concentração de renda - são fenômenos perversos e persistentes no Brasil e fatores fundamentais para explicar a magnitude da pobreza • Indicador de desigualdade de renda: – 10% dos ocupados com rendas mais elevadas detém 44,7% do total da renda nacional – os 10% com menores rendas detém apenas 1,1% do total • Nos últimos anos tem se observado uma redução dessa desigualdade Redução da desigualdade de renda no Brasil (medida pelo Índice de Gini) Redução da desigualdade de renda • Entre 2001 e 2004 o coeficiente de Gini cai 4% • Equivale a um aumento da renda per capita de – 5% para os 20% mais pobres – superior a 8% para os 10% mais pobres – enquanto a média nacional se reduz 1% • Para os mais pobres é como se a taxa de crescimento econômico fosse superior a 5,8% ao ano. Trabalho decente como a via fundamental para a superação da pobreza • A OIT concorda com a definição da missão dos CONSADs de que o trabalho e a renda são a estratégia principal para a emancipação sócio-econômica das famílias que se econtram abaixo da linha da pobreza • Mas a OIT também considera que não é qualquer trabalho que possibilita que os indivíduos e os grupos sociais superem essa situação A metade dos trabalhadores do mundo é pobre • A metade (47,4%) de todos os trabalhadores do mundo vive atualmente com menos de US$ 2 por dia • Portanto, o fato de ter um trabalho não é suficiente para superar a situação de pobreza • é necessário que esse trabalho cumpra com padrões mínimos de qualidade (remuneração, direitos, segurança, liberdade, proteção social, representação) • É isso que a OIT chama de um trabalho decente Trabalho decente como a via fundamental para a superação da pobreza • Essa idéia tem sido cada vez mais assumida nos foruns nacionais e internacionais • A meta de criação de “emprego pleno, produtivo e decente” será acrescentada aos objetivos do Desenvolvimento do Milênio a partir de 2007 • A Agenda Hemisférica do Trabalho Decente: compromisso tripartire do hemisfério americano de promover o trabalho decente como eixo das estratégias de desenvolvimento e combate à pobreza • Agenda Nacional do Trabalho Decente para combater a pobreza e reduzir as desigualdades sociais O que tem acontecido no Brasil? Redução da pobreza e da extrema pobreza • Proporção de pobres: 25,8% em 2003 (46,3 milhões de pessoas) e 22,0% em 2005 (39,7 milhões de pessoas) • Proporção de pessoas em situação de extrema pobreza: 11,5% (19,9 milhões de pessoas) em 2003 e 7,4% (13,3 milhões de pessoas) em 2005 • 6,6 milhões de pessoas saem da situação de extrema pobreza nos anos 2004 e 2005 Fatores que explicam a redução da pobreza e da extrema pobreza no Brasil • aumento do emprego (taxa de ocupação) • aumento real do salário mínimo • efeito das políticas de transferência condicionada de renda (Bolsa Família) Cumprimento de uma das Metas do Milênio • Segundo estudo da FGV (dados PNAD-2005) o Brasil já teria cumprido a meta de reduzir extrema pobreza à metade até 2015 na metade do tempo estabelecido pela ONU: – de 1992 a 2005 a proporção de pessoas que ganham até US$ 1 ao dia diminuiu de 11,7% a 5,3%. A matriz da pobreza e da desigualdade social no Brasil • Se o nosso objetivo é superar a pobreza e a desigualdade social, é fundamental entender a matriz desses fenômenos • Chamar a atenção para dois eixos estruturantes dos padrões de desigualdade social no Brasil - as desigualdades de gênero e raça: – duas formas fundamentais de discriminação que cruzam a sociedade e o mundo do trabalho no Brasil – não apenas se superpõem, mas se entrecruzam e se potencializam – situação da mulher negra evidencia essa dupla discriminação Desigualdades e discriminação de gênero e raça no Brasil: um problema das maiorias • As mulheres correspondem a 42% da PEA e os negros a 44,5%. • Somados, correspondem a 55 milhões de pessoas (68% da PEA). • As mulheres negras correspondem a 18% da PEA (14 milhões de pessoas). A pobreza é multidimensional e heterogênea • A pobreza é multidimensional: as manifestações e especificidades da pobreza são múltiplas • A pobreza é heterogênea: há diversos grupos em situações sócio-econômicas desiguais – Fatores ligados ao sexo, à posição na família, ao ciclo de vida, à idade, à raça ou etnia determinam formas diferenciadas de vivenciar a pobreza e suas possibilidades de superação Pobreza, emprego, gênero e raça • O sexo e a raça/cor das pessoas condiciona fortemente a forma pela qual elas (e suas famílias) vivenciam a situação de pobreza e conseguem (ou não) superá-la • Há alguns processos e características que são comuns na pobreza de homens e mulheres, negros e brancos • Outros afetam especialmente as mulheres e os negros, gerando desigualdades entre os pobres e uma maior vulnerabilidade frente à pobreza e maiores dificuldades de superar essa situação As desvantagens de gênero potencializam a pobreza das mulheres • As mulheres enfrentam a pobreza com desvantagens devido à sua posição na ordem de gênero e na divisão sexual do trabalho (no âmbito da família, da comunidade, do mercado de trabalho, da sociedade) • Dedicam uma grande parte de seu tempo de vida e de sua energia física, psicológica e emocional a um trabalho que não é remunerado e cujo valor econômico não é reconhecido “Índice de feminidade da pobreza”: valores superiores a 100 na maioria dos países da região (dados para 1999, zonas urbanas, mulheres entre 20 e 59 anos) Para as mulheres a severidade da pobreza é maior • Renda média dos domicílios chefiados por mulheres: significativamente inferior: 75% nas famílias pobres e 72% nas não pobres (Brasil) • Há uma maior proporção de domicílios chefiados por mulheres entre os indigentes • As mulheres chefes de família na sua grande maioria estão sózinhas: nas zonas urbanas da A.Latina 90% delas não tem um cônjuge (12% dos homens estão na mesma situação) • No Brasil essa proporção é muito semelhante: 87,3%, segundo os dados da PNAD Para as mulheres a severidade da pobreza é maior • A grande maioria das chefes de família não conta com uma renda adicional do cônjuge (maior vulnerabilidade à incidência do trabalho infantil ou adolescente – o que tende a perpetuar o ciclo intergeracional de reprodução da pobreza) • Tampouco pode contar com a participação do cônjuge na realização das tarefas domésticas Desigualdades de gênero e raça no mercado de trabalho • Importantes desigualdades de gênero e raça no mercado de trabalho: – Taxas de participação no mercado de trabalho; – Taxas de ocupação e de desemprego – Níveis de rendimento – Níveis de formalidade e proteção social – Incidência do trabalho infantil Gráfico 1 Taxa de atividade, segundo sexo e cor/raça Brasil 1992-2005 74,6 73,9 73,4 71,6 72,3 71,9 71,9 70,9 71,2 71,0 71,2 71,3 75,1 74,6 73,6 70,9 71,9 71,5 71,8 70,8 71,2 70,4 70,6 70,8 42,3 42,243,8 42,7 43,7 44,2 45,4 46,5 47,1 47,9 48,7 49,6 42,1 41,9 42,6 41,1 42,1 42,7 43,8 44,2 45,0 45,2 46,8 47,6 35,0 40,0 45,0 50,0 55,0 60,0 65,0 70,0 75,0 80,0 1992 1993 1995 1996 1997 1998 1999 2001 2002 2003 2004 2005 Homens Brancos Homens Negros Mulheres Brancas Mulheres Negras Gráfico 2 Taxa de ocupação, segundo sexo e cor/raça Brasil 1992-2005 70,7 70,3 69,7 67,7 68,0 66,9 66,7 66,1 66,4 65,8 66,7 66,7 70,4 70,0 69,3 66,4 66,8 65,8 65,3 64,6 65,0 64,1 64,9 64,8 38,9 39,1 40,6 39,0 39,4 39,0 39,9 41,4 41,9 42,2 43,4 43,9 37,9 38,0 38,7 36,7 36,9 36,8 37,3 37,4 38,4 38,3 39,8 40,1 30,0 40,0 50,0 60,0 70,0 80,0 1992 1993 1995 1996 1997 1998 1999 2001 2002 2003 2004 2005 Homens Brancos Homens Negros Mulheres Brancas Mulheres Negras Gráfico 3 Taxa de desemprego, segundo cor/raça Brasil 1992-2005 6,4 5,9 6,0 6,8 7,6 8,9 7,7 7,4 7,1 8,0 9,1 10,3 11,3 11,3 11,0 11,5 10,9 11,5 8,7 8,3 9,2 8,58,6 9,3 10,0 9,5 10,3 9,7 9,8 10,2 9,5 8,3 7,3 6,56,6 6,9 4,0 5,0 6,0 7,0 8,0 9,0 10,0 11,0 12,0 1992 1993 1995 1996 1997 1998 1999 2001 2002 2003 2004 2005 Brancos Negros Total Gráfico 4 Taxa de desemprego, segundo sexo e cor/raça Brasil 1992-2005 5,2 4,9 5,1 5,4 6,0 6,9 7,3 6,9 6,7 7,3 6,3 6,5 10,0 9,4 9,2 10,7 12,4 13,9 14,9 15,3 14,8 15,4 15,0 15,8 8,5 8,1 8,9 8,68,8 9,1 8,1 7,1 6,5 5,9 6,26,3 11,4 11,0 11,9 11,011,0 12,1 11,8 9,9 8,9 7,37,5 8,2 3,0 5,0 7,0 9,0 11,0 13,0 15,0 17,0 1992 1993 1995 1996 1997 1998 1999 2001 2002 2003 2004 2005 Homens Brancos Homens Negros Mulheres Brancas Mulheres Negras Gráfico 6 Mediana dos rendimentos no trabalho principal de mulheres brancas e negras e homens negros, em proporção ao salário hora dos homens brancos Brasil 1992-2005 64 55 45 64 55 44 60 50 33 63 51 32 67 54 33 65 52 34 64 51 35 75 60 45 67 58 44 72 59 49 72 59 49 67 63 50 0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0 70,0 80,0 1992 1993 1995 1996 1997 1998 1999 2001 2002 2003 2004 2005 Mulheres Brancas Homens Negros Mulheres Negras Gráfico 7 Contribuição à Previdência Social, segundo sexo e cor/raça (1) Brasil 1992-2005 55,9 55,6 54,7 53,8 53,8 53,9 53,3 54,5 53,9 55,9 56,3 57,4 36,4 36,6 35,8 38,7 38,4 39,2 41,5 42,8 52,0 51,3 51,1 51,3 53,0 54,2 53,8 55,5 55,1 56,6 56,8 57,9 38,3 36,7 39,6 39,3 40,8 40,8 42,9 36,8 35,8 36,0 36,6 36,4 36,7 34,4 33,133,6 25,0 30,0 35,0 40,0 45,0 50,0 55,0 60,0 65,0 1992 1993 1995 1996 1997 1998 1999 2001 2002 2003 2004 2005 Homens Brancos Homens Negros Mulheres Brancas Mulheres Negras Gráfico 8 Crianças de 10 a 13 anos no mercado de trabalho, segundo sexo e cor/raça Brasil 1992-2005 7,3 7,1 6,8 5,4 4,8 4,1 4,5 3,6 3,4 2,7 2,3 2,4 16,4 15,2 13,7 11,4 11,2 9,4 9,7 6,2 6,9 6,1 5,4 6,0 8,8 8,5 9,6 11,0 12,5 16,716,4 17,116,7 21,0 22,2 23,8 3,43,6 4,4 4,5 5,5 7,37,07,36,6 9,4 10,010,1 - 5,0 10,0 15,0 20,0 25,0 1992 1993 1995 1996 1997 1998 1999 2001 2002 2003 2004 2005 Meninos Brancos Meninos Negros Meninas Brancas Meninas Negras Gráfico 9 Crianças de 14 e 15 anos no mercado de trabalho, segundo sexo e cor/raça Brasil 1992-2005 22,3 21,1 19,4 15,8 15,6 14,3 12,3 12,4 10,9 9,5 10,0 9,6 17,7 18,718,9 20,621,1 25,3 26,5 28,9 30,2 35,4 38,7 44,5 44,6 41,6 25,5 49,7 35,7 36,4 33,1 33,3 26,7 24,2 23,8 22,2 11,910,211,4 13,413,1 15,915,3 17,716,6 22,823,8 25,9 - 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0 1992 1993 1995 1996 1997 1998 1999 2001 2002 2003 2004 2005 Meninos Brancos Meninos Negros Meninas Brancas Meninas Negras Conclusão • Necessidade de considerar as dimensões de gênero e raça nas políticas e estratégias de erradicação da pobreza, redução das desigualdades sociais e geração de trabalho decente • Isso deve ser feito em todas as fases de elaboração dessas políticas e estratégias: formulação, implementação, monitoramento e avaliação • Deve ser um objetivo de Estado e de país; o papel das diversas instâncias de governo é fundamental, assim como da sociedade organizada e dos mecanismos e instâncias de participação e controle social
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