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INSTITUTO SÃO BOAVENTURA Disciplina: INTRODUÇÃO À SOCIOLOGIA Professor Dr. Carlos Ângelo de Meneses Sousa Curso: Filosofia – 2° / 2016 Estudante: Jéverson de Andrade Santos Referência: SIMMEL, Georg. A metrópole e a vida mental. In: VELHO, Otávio G. (Org.). O fenômeno urbano. Rio de Janeiro: Guanabara, 4a. ed., 1987. No pensamento de Georg Simmel (1858-1918) “os problemas mais graves da vida moderna derivam da reivindicação que faz o individuo de preservar a autonomia e individualidade de sua existência em face das esmagadoras forças sociais, da herança histórica, da cultura externa e da técnica de vida” (pág. 11). A transformação mais recente do homem é a mesma luta que o homem primitivo teve de travar com a natureza pela sua existência física. Segundo o autor, no século XVIII o homem conclama sua libertação de todas as dependências históricas quanta ao Estado e a religião, a moral e a economia. Dentre todas estas posições, “a mesma motivação básica está agindo: a pessoa resiste a ser nivelada e uniformizada por um mecanismo sócio tecnológico” (pág. 11). Simmel reflete o grande contraste entre a vida na metrópole e a vida rural. Segundo ele, “a metrópole extrai do homem, enquanto criatura que procede a uma quantidade de consciência diferente, da que a vida rural extrai. Nesta, a ritmo da vida e do conjunto sensorial de imagens mentais flui mais lentamente, de modo mais habitual e mais uniforme” (pág. 12), ou seja, o homem metropolitano reagiria com a cabeça em lugar do coração: “A reação aos fenômenos metropolitanos é transferida àquele órgão que é menos sensível e bastante afastado da zona mais profunda da personalidade. A intelectualidade, assim se destina a preservar a vida subjetiva contra o poder avassalador da vida metropolitana” (pág.13). Pode-se entender, dessa forma, que a pessoa “intelectualmente sofisticada é indiferente a toda a individualidade genuína que resulta em relacionamentos e reações que não podem ser exauridos com operações lógicas” (pág. 13). Essa razão que dá lugar às emoções é expressa no exercício de transformação de indivíduos em números, reduzindo assim toda qualidade e individualidade ao monetário. O aspecto da intelectualidade contrasta profundamente com a natureza da pequena cidade, em que o inevitável conhecimento da individualidade produz assim como diferentes tons de comportamento que vão além do mero balanceamento objetivo de serviços e retribuição. A metrópole, em contraste, é provida quase que inteiramente pela produção para o mercado, isto é, para compradores desconhecidos que nunca entram pessoalmente em contato com o produtor, causando um anonimato unilateral. Georg Simmel afirma que “através dessa anonimidade, os interesses de cada parte adquirem um caráter impiedosamente prosaico; e os egoísmos econômicos intelectualmente calculistas de ambas as partes não precisam temer qualquer falha devida aos imponderáveis das relações pessoais” (pág. 14). As posições assumidas pelas relações metropolitanas estão intimamente ligadas à economia do dinheiro. Para exemplificar, o autor cita um historiador inglês: “ao longo de todo o curso da história inglesa, Londres nunca funcionou como o coração da Inglaterra, mas frequentemente como seu intelecto e sempre como sua bolsa de dinheiro!” (pág. 14). A economia do dinheiro, que propicia para “a mente do homem moderno se tornar mais e mais calculista” (pág. 14), cria uma exatidão na vida prática que nunca tanto se pesou, calculou, ou se atribuiu tanto os valores qualitativos a valores quantitativos. Um fato salientado por Simmel foi a difusão dos relógios, que desenvolveu um controle do tempo sobre os indivíduos; seria inviável realizar as tarefas típicas dos homens metropolitanos sem essa mais estreita pontualidade. “Assim, a técnica da vida metropolitana é inimaginável sem a mais pontual integração de todas as atividades e relações mútuas em um calendário estável e impessoal” (pág. 15). O controle expresso pela pontualidade, exatidão e todo o aparato da economia são introduzidos à força na vida pela complexidade e extensão da existência metropolitana. Trata-se de instrumentos que favorecem a exclusão de traços e impulsos irracionais e instintivos que visam determinar o modo de vida de dentro, em lugar de receber a forma de vida geral vinda de fora. Para Simmel torna-se fácil entender o ódio apaixonado de homens como Ruskin e Nietzsche pela metrópole, pois suas naturezas descobriram o valor da vida os sós na existência fora de esquemas, que não pode ser definida com precisão para todos igualmente, passando então, a odiar também a economia do dinheiro e o intelectualismo da existência moderna. A ideia de Simmel aponta a metrópole como a motivadora de princípio da união em grupos sociais, como partidos políticos, governos etc. Esses grupos, primordialmente pequenos e coesos, necessitam de regras para subsistir; essas regras limitam a liberdade dos indivíduos. No entanto, com o crescimento do grupo, a tendência observada é que as regras ficam menos rígidas, possibilitando uma maior liberdade aos indivíduos do grupo. O autor compara a antiga polis um caráter exemplar de uma cidade pequena. Eram constantes as ameaças externas, fazendo com que se desenvolvesse um estrito diálogo políticos com os militares, culminando numa supervisão de cidadão pelos próprios cidadãos, tendo, por fim, a vida individual suprimida. Conforme o autor “isto produziu uma atmosfera tensa, em que os indivíduos mais fracos eram suprimidos e aqueles de naturezas mais fortes eram incitados a pôr-se à prova de maneira mais apaixonada” (pág. 19). Para Simmel, o desenvolvimento da cultura moderna é caracterizado pela preponderância do que se poderia chamar de o "espírito objetivo" sobre o "espirito subjetivo". Cultura objetiva, que seria a cultura ligada a objetos, coisas, conhecimento, instituições; e a cultura subjetiva, que estaria ligada ao indivíduo. Para o autor, uma desproporção assustadora entre os dois se torna evidente. Diante da reflexão de George Simmel, ficam como chave de reflexão as tendências e aplicações da vida urbana, que implica muitas vezes, um comportamento ritmado e frequentemente não analisado, tornando assim, o homem metropolitano menos sensível.