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MEDIDAS DESPENALIZADORAS 1. Suspensão condicional da pena (sursis): 1.1. Conceito e natureza jurídica: é uma pena alternativa ao cárcere que consiste na suspensão do cumprimento da pena privativa de liberdade se o condenado cumprir determinados requisitos. Nesse caso, embora o réu tenha sido condenado ao final do processo, ele não iniciará o cumprimento da pena, ficando em liberdade, mas cumprindo medidas alternativas durante um determinado período de tempo. O tempo em que o condenado fica cumprindo penas alternativas é chamado de período de prova. Caso cumpra todos os requisitos, ao final do período de prova a pena será extinta (art. 82 do CP). Por outro lado, caso ele não cumpra os requisitos haverá revogação do sursis, e o condenado deverá iniciar o cumprimento da pena privativa de liberdade. Atualmente, predomina o entendimento de que o sursis é direito subjetivo do condenado, ou seja, se ele preencher os requisitos legais, o juiz está obrigado a lhe conceder a suspensão da pena. O momento processual para a concessão do sursis é no momento da sentença, pelo juiz da condenação, embora possa ser concedido pelo juiz da VEC em casos excepcionais. 1.2. Sistemas: o nosso CP adotou o sistema europeu (ou francês ou belga), pelo qual primeiro o réu é condenado (o juiz profere a sentença) e, depois, a execução da pena é suspensa. É diferente do sistema americano (ou inglês ou probation system), pelo qual a ação penal é suspensa durante o período de prova, de modo que o juiz não chega a proferir a sentença logo de início. Obs.: o art. 89 da Lei 9.099/95 , também de inspiração norteamericana (probation of first offenders act) estabelece o sursis processual (suspensão condicional do processo), pelo qual o juiz não reconhece a culpabilidade do agente e suspende a própria ação penal durante o período de prova. 1.3. Espécies, Requisitos e condições: os requisitos estão previstos no art. 77 do CP. São eles: a) pena privativa de liberdade de até 2 anos; b) não reincidente em crime doloso (não se aplica se a pena anterior for apenas a multa); c) circunstâncias judiciais favoráveis; d) quando não for cabível a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos. O sursis concedido com base nesses requisitos é conhecido como “sursis simples”. O §2º do art. 77 traz mais duas hipóteses de sursis: 1) “sursis etário”: aplica-se ao condenado maior de 70 anos; 2) “sursis humanitário”: aplica-se ao condenado com saúde debilitada. Em ambos os casos o limite da pena muda para penas privativas de liberdade até 4 anos. Uma vez que a suspensão da execução da pena depende do cumprimento de determinadas condições, o período de prova do sursis, em regra, será de 2 a 4 anos, salvo nos casos dos sursis etário e humanitário, para os quais o período de prova será de 4 a 6 anos. As condições serão fixadas pelo juiz, com base nos art. 78 e 79 do CP. São elas: A) no primeiro ano do período de prova, o condenado deverá prestar serviço à comunidade na forma do art. 46. B) caso ele tenha reparado o dano, se puder, e as circunstâncias judiciais do art. 59 forem integralmente favoráveis, o juiz poderá substituir a prestação de serviço por: proibição de frequentar determinados lugares + proibição de se ausentar da comarca sem autorização judicial + obrigação de comparecimento mensal em juízo para justificar suas atividades. A essa hipóteses de substituição se dá o nome de “sursis especial”. Obs.: O concurso de crimes deverá ser considerado para a concessão do sursis. 1.5. Revogação, prorrogação e extinção: a revogação do sursis poderá se dar de forma obrigatória ou facultativa. Será obrigatória quando o condenado for: a) novamente condenado por crime doloso, cometido antes ou durante o período de prova, salvo se a pena aplicada for exclusivamente a multa; b) se podendo, deixa de pagar a pena de multa ou não repara o dano; c) descumprir a prestação de serviço a comunidade fixada no art. 78, §1º, do CP. Por outro lado, a revogação será facultativa quando o condenado descumprir qualquer outra condição do sursis ou quando for condenado por crime culposo ou contravenção penal, exceto quando a única pena aplicada for a multa. Por fim, a prorrogação do sursis poderá ocorrer nas seguintes hipóteses: 1) quando o réu estiver respondendo a processo por crime ou contravenção penal, desconsiderada a mera investigação ou inquérito (nesse caso, cessam as condições); 2) quando a revogação for facultativa, podendo o juiz prorrogar o sursis e as suas condições até o limite máximo fixado no art. 77. 2. Livramento condicional: 2.1. Conceito e natureza jurídica: é uma forma de antecipação da liberdade concedida ao condenado que cumpre pena privativa de liberdade. Para fazer jus a essa antecipação da liberdade, o condenado deverá cumprir algumas condições pelo tempo restante da pena, o que se denomina de período de prova. O livramento condicional não se confunde com a suspensão condicional da pena, pois neste caso o condenado sequer inicia a execução, ficando a pena suspensa. Já no livramento condicional, o condenado inicia a execução da pena, mas recebe a antecipação da liberdade antes do término da execução. 2.2. Requisitos e condições: os requisitos do livramento condicional são previstos no art. 83 do CP. São eles: a) pena privativa de liberdade igual ou superior a 2 anos, considerando-se a soma aritmética das penas em caso de concurso de crimes (art. 84); b) cumprir no mínimo 1/3 da pena se não reincidente em crime doloso e tiver bons antecedentes, ½ se for reincidente em crime doloso; ou 2/3 no caso de TTT ou hediondo; c) não for reincidente específico em hediondo; d) tenha bom comportamento, bom desempenho no trabalho carcerário e aptidão para prover o próprio sustento de forma lícita; e) reparar o dano, se possível; h) para os crimes dolosos violentos, exige-se a constatação de que o criminoso não reincidirá. Obs.: as condições do livramento condicional estão tratadas no art. 132 da LEP, e deverão ser especificadas na sentença do juiz da execução (art. 85). 2.3. Revogação, prorrogação e extinção: será obrigatoriamente revogado o livramento condicional nas seguintes hipóteses (art. 86): a) quando o réu for novamente condenado por crime cometido durante o período de prova: nesse caso, o tempo de prova não será computado como pena cumprida, não poderá ser concedido novo livramento durante o cumprimento do restante da pena, e não poderá ser somada as penas dos dois crimes para fins de novo livramento; b) quando o réu for novamente condenado por crime cometido antes do início do período de prova: nesse caso, computa-se o período de prova como pena cumprida, admite-se a concessão de novo livramento, podendo somar as penas dos dois crimes para concessão de novo livramento. Por outro lado, de acordo com o art. 87, o juiz poderá revogar o livramento quando o liberado descumprir qualquer condição fixada na sentença (nesse caso, não será admitido novo livramento e o período de prova não se computa como pena cumprida) ou se for novamente condenado a pena alternativa à privativa de liberdade. A prorrogação do livramento ocorrerá nos casos em que o liberado estiver respondendo a processo por crime cometido durante o período de prova (suspende-se as condições). Se o liberado cumprir todas as condições até o final do período de prova, considera-se extinta a pena privativa de liberdade. Obs.: Se o conhecimento de crime se der após a extinção da pena, não se admite a revogação do benefício.
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