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Relatório Preliminar Circunstânciado da Terra indígena Xukuru-Kariri de Palmeira dos Índios - AL

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Relatório Preliminar Circunstanciado de Identificação e 
Delimitação 
Terra Indígena Xukuru-Kariri/AL 
Esta página foi atualizada em 30 de Agosto de 111, Terça-Feira. 
Visitante nº 
Ya Free Counter (desde 01/05/2011) 
 
Fig. 1 - Dança do Toré realizada no dia 10 de maio de 2003, na aldeia Cafurna de Baixo em Palmeira 
dos Índios - AL. 
(Fotografia de Douglas Carrara) 
 Douglas Carrara 
 
 
 
Maricá (RJ) - 2004 
 
Fundação Nacional do Índio - FUNAI 
Ministério da Justiça 
Diretoria de Assuntos Fundiários - DAF 
Coordenação Geral de Identificação e Delimitação 
PROJETO DE PROTEÇÃO E DIVULGAÇÃO DO PATRIMÔNIO CULTURAL DAS COMUNIDADES 
INDÍGENAS 
Projeto 914BRA3018 
 
Relatório Preliminar Circunstanciado de Identificação e Delimitação 
Terra Indígena Xukuru-Kariri - AL 
Grupo Técnico constituído através de Portaria FUNAI n° 178/PRES/03 de 19/03/2003, 
302/PRES/03 de 17/04/2003 e 363/PRES/03 de 07/04/2003: 
Douglas Carrara - antropólogo-coordenador - Consultor/Unesco 
Zélia Peres de Souza - ambientalista - Consultora/Unesco 
Marcelo Maschietto Elias de Almeida - engenheiro agrimensor - FUNAI/UNESCO 
 
Relatório Preliminar Circunstanciado 
elaborado de acordo com 
Artigo 231 da Constituição Federal, 
Decreto nº 1.775 de 8 de janeiro de 1996, 
e Portaria nº 14 de 9 de janeiro de 1996. 
 
Maricá (RJ), 5 de dezembro de 2004 
Douglas Carrara - Antropólogo-Coordenador 
 
RED GOLD 
"... the ... true purpose was to capture Indians: to draw from their 
veins the red gold which has always been the mine of that 
province!" 
(the Jesuit António Vieira's comment, in 1656, on the many expeditions that plunged into central Brazil, 
nominally to seek gold mines, but in reality to enslave Indians.) (in John HEMMING: Red Gold - The 
Conquest of the Brazilian Indians - 1978)" 
 
Sumário: 
 Introdução 
 I. Primeira Parte 
 a) População indígena e área estudada. 
 b) Aspectos culturais verificados na bibliografia. 
 1) Religião 
 2) Culinária e atividades artesanais. 
 3) Linguística 
 4) Mitologia 
 c) Organização social e Organização Política. 
 1) Mecanismos de tomadas de decisões. 
 2) Padrões de migração e deslocamento permanente, sazonal e temporário. 
 d) População. 
 e) Ocupação da área estudada e sua relação com a distribuição espacial da 
população. 
 1) Aldeia da Fazenda Canto 
 2) Aldeia da Mata da Cafurna 
 3) Aldeia do Coité 
 4) Aldeia do Boqueirão 
 5) Aldeia do Capela 
 6) Aldeia da Cafurna de Baixo 
 f) Habitação permanente. 
 g) Atividades produtivas. 
 h) Aspectos ambientais. 
 1) Relevo 
 2) Hidrografia 
 3) Vegetação 
 4) Clima 
 II. Parte: Sistematização dos argumentos para justificar a proposta de limites. 
 III. Terceira Parte: Memorial Descritivo de Delimitação. 
 IV. Quarta Parte: Situação Fundiária Indígena e Não-Indígena. 
 V. Quinta Parte: Mapa de Delimitação (Anexo XV) 
 VI. Sexta Parte: Bibliografia 
 Abreviaturas 
 Relação de Anexos 
Anexo I - Cronologia Referencial dos Índios do Nordeste (Tabela) 
 
Anexo II - Evolução da População da Aldeia Indígena de Palmeira dos Índios - AL (Tabela) 
 
Anexo III - Evolução da População da Aldeia Indígena de Palmeira dos Índios - AL (Gráfico) 
 
Anexo IV - Aldeia de Palmeira dos Índios em 1840 por Manoel Pereira Camello (Pirâmide) 
 
Anexo V - População da Aldeia Fazenda Canto de Palmeira dos Índios em 1999 por AER-Maceió-AL 
(Pirâmide) 
 
Anexo VI - População da Aldeia Mata da Cafurna em 2003 por FUNASA (Pirâmide) 
 
Anexo VII - População da Aldeia Coité em 2002 (Pirâmide) 
 
Anexo VIII - Aldeias e Tribos Indígenas de Alagoas (Tabela) 
 
Anexo IX - Aldeias e Tribos Indígenas de Alagoas por Clóvis Antunes e Douglas Carrara (Mapa) 
 
Anexo X - Alagoas - Mapa Físico - Sesmarias Indígenas em 1857 por José R. Leite Pitanga (Mapa) 
 
Anexo XI - Diretores da Aldeia Indígena de Palmeira dos Índios. (Tabela) 
 
Anexo XII - Relação de Cemitérios Indígenas no Estado de Alagoas. (Tabela) 
 
Anexo XIII - Relação de Cemitérios Indígenas no Município de Palmeira dos Índios - AL (Tabela) 
 
Anexo XIV - Laudo técnico emitido pelo Instituto de Arqueologia Brasileira (Laudo) 
 
Anexo XV - Comparação entre vocábulos Xukuru, Kariri e Iatê. (Tabela) 
 
Anexo XVI - Mapa da área ocupada pelos Kariri no século XVII (Alfonso T. Ferrari) (1956) (Mapa) 
 
Anexo XVII - População Indígena de Palmeira dos Índios - AL (1952) (Deocleciano Nenê). (Tabela) 
 
Anexo XVIII - Mapa de Delimitação e Demarcação da Fazenda Canto em 11/06/1982. (Mapa) 
 
Anexo XIX - Mapa de Delimitação elaborado pelo atual GT (2003) (Mapa) 
 
Anexo XX - População da Aldeia Fazenda Canto - 1979. (Pirâmide) 
 
Anexo XXI - Aldeia Mata da Cafurna - elaborado por Sílvia Martins (1990) (Croqui) 
 
Anexo XXII - Quadro demonstrativo dos imóveis cadastrados por faixa de área em hectares 
(Tabela/Gráfico) 
 
Anexo XXIII - Quadro demonstrativos da faixa de tempo de ocupação dos imóveis. (Tabela/Gráfico) 
 
Anexo XXIV - Mapa de Delimitação elaborado pelo atual GT com as aldeias (2003) (Mapa) 
 
Anexo XXV - Fotografias de igaçabas, machado de pedra e instrumentos rituais. (Fotografias) 
 
 
Introdução: 
 Após a aprovação em concurso promovido pela Funai em convênio com a Unesco, de 
acordo com Edital nº. 2002/01 de 31/07/2002, o Coordenador do Grupo Técnico, 
antropólogo Douglas Carrara, foi designado para o trabalho de identificação e delimitação 
da Terra Indígena Xukuru-Kariri no município de Palmeira dos Índios, no estado de 
Alagoas. 
 Em dezembro de 2002, permanecemos durante 9 dias na cidade Palmeira dos Índios no 
estado de Alagoas, avaliando o processo e iniciando o conhecimento dos índios e toda a 
difícil problemática indígena, que lutam desesperadamente pela demarcação de suas terras 
há quase 200 anos. 
 Durante essa estadia, conseguimos obter consenso a respeito da proposta de delimitação 
da área e um acordo entre as representações políticas das 6 aldeias existentes na área em 
estudo: Coité, Cafurna de Baixo, Mata da Cafurna, Capela, Fazenda Canto e Boqueirão. 
 Após reunião em cada uma das aldeias, assistimos a algumas apresentações da dança do 
"toré" e tivemos a oportunidade de recolher documentos e livros sobre a história dos 
índios da região. 
 Conhecemos também o sítio da serra do Macaco, que tinha sido invadido e ocupado 
provisoriamente pelos índios desde 17/06/2002. A ocupação foi provisória e precária, com 
barracas de plásticos improvisadas. Na verdade as ocupações e retomadas ocorrem em 
virtude do crescimento populacional, principalmente da aldeia da Fazenda Canto e 
evidentemente porque até o momento as reivindicações dos índios Xukuru-Kariri não 
foram atendidas. Entretanto outras aldeias são solidárias e colaboram oferecendo apoio e 
alimentos aos que estão acampados, aguardando a decisão judicial a respeito da ocupação. 
Em reunião realizada em Maceió em 07/04/2003 com os componentes do GT-Fundiário, 
com a presença do Dr. Bryner, da DAF e lideranças indígenas, fomos convidados a nos 
manifestar a respeito da ocupação e de sua natureza. 
 
Fig. 2 - Ocupação da Fazenda do Macaco - Foto de 14/12/2002 de DouglasCarrara 
 Posteriormente os índios foram desalojados da Fazenda do Macaco, acatando decisão 
judicial e com isso se transferiram para pequena área na Fazenda Canto, onde 
continuaram acampados em condições precárias e sub-humanas. São aproximadamente 30 
índios acampados em barracas de plásticos ou em casas semi-destruídas improvisadas. 
 
Fig. 3 - Acampamento na Fazenda Canto. Foto de Douglas Carrara em 11/04/2003. 
 A proposta do GT de 1988 (coordenado pela antropóloga Maria de Fátima Campelo 
Brito), de delimitar 13.020 ha., com perímetro de 40,5 km, envolvendo a área urbana de 
Palmeira dos Índios, foi considerada por unanimidade politicamente inviável, ainda que 
juridicamente legítima, já que são terras ocupadas tradicionalmente pelos índios desde o 
século XVIII, conforme demostra a farta documentação disponível no processo. A 
proposta do GT-1988, baseada na demarcação de 15/11/1822 de "uma légua em quadro a 
partir do pião da igreja matriz", mais tarde cancelada pela Portaria de 03/07/1872 do 
Presidente da Província de Alagoas, que declarava extintas as aldeias indígenas de 
Alagoas, acabou não se tornando viável. Na verdade, os índios, antigos ocupantes da área 
urbana da cidade, foram esbulhados de suas terras legitimamente demarcadas no século 
XIX. Entretanto essa proposta resultaria em conflito permanente com os ocupantes não-
índios que habitam o perímetro urbano da cidade de Palmeira dos Índios. E também não 
havia a possibilidade legal de cobrar fôro dos ocupantes não-índios da área urbana da 
cidade. 
 Portanto já havia um consenso entre os índios no sentido de defender a proposta 
elaborada pelo GT constituído em 28/07/1997, coordenado pela antropóloga Sheila dos 
Santos Brasileiro, interrompido na primeira fase do Procedimento Demarcatório em 
decorrência da não elaboração do relatório de Identificação e Delimitação. 
Aproximadamente era a mesma proposta apresentada de comum acordo pelas aldeias da 
Mata da Cafurna e Fazenda Canto, em 1995, durante as pesquisas preliminares realizadas 
pelo antropólogo Adolfo Neves de Oliveira Junior, nomeado pela Portaria 553/Pres/95 de 
05/06/1995. (Oliveira Jr.,60) 
 Através das reuniões realizadas em cada aldeia, pudemos avaliar as condições 
desumanas em que vivem, a carência de terras produtivas e até mesmo a ausência de 
espaço adequado para a realização de rituais tradicionais característicos da etnia. Em 
alguns casos, a cerca dos fazendeiros faz limite com o terreiro sagrado do "ouricuri", cujos 
segredos não podem ser revelados a estranhos e até mesmo para índios de outras etnias. 
Atualmente muitos índios residem na cidade ou em outras localidades, porque não há 
disponibilidade de terras para todos. 
 A partir de 24 de março de 2003, retornamos à área em estudo, juntamente com a 
ambientalista Zélia Peres de Souza e com o engenheiro agrimensor Marcelo Maschietto 
Elias de Almeida, ambos nomeados para a formação do GT. Permanecemos durante 52 
dias em Palmeira dos Índios, convivendo intensamente com os índios, visitando 
constantemente as aldeias e estabelecendo os limites, juntamente com o engenheiro 
agrimensor. Através das iniciativas que tomamos, conseguimos assumir a liderança de 
todo o processo de trabalho e obtivemos a confiança das lideranças de cada aldeia e da 
própria comunidade. 
 Para estabelecer os limites da terra em estudo, seguimos o traçado estabelecido pelo 
GT-anterior, de 1997, do qual já possuíamos o Mapa de Delimitação, com 15.135 ha de 
área. Procuramos corrigir alguns pontos e estabelecer melhor as referências geográficas. 
Durante o percurso pelos pontos, algumas alterações foram propostas pelos índios no 
sentido de corrigir o traçado que os levaria a perder áreas relacionados com as tradições 
dos índios, especialmente as terras marginais do rio Bálsamo, local onde no passado, os 
índios pescavam e os antigos, especialmente o pajé Miguel Celestino, referia-se como terra 
dos índios. Este acréscimo, de aproximadamente 500 ha, ocorreu entre os pontos 6, 7 e 8 e 
o 14 e 15 da atual proposta de delimitação. 
 Entretanto tivemos apenas 34 dias de trabalho real, já que destinamos 18 dias ao 
deslocamento, pesquisa, planejamento e reuniões técnicas do GT. Dos 34 dias restantes, 6 
dias foram destinados ao trabalho de delimitação juntamente com o Eng. Marcelo. 
Portanto do ponto de vista antropológico, foram apenas 28 dias de contatos, entrevistas e 
convivência nas aldeias. 
 Durante a estadia no campo, tivemos a oportunidade de gravar entrevistas nas aldeias, 
especialmente com índios mais idosos que ainda se recordam do que seus ancestrais lhes 
contavam sobre o processo de esbulho de suas terras pelos não-índios. Através dos 
depoimentos pudemos obter dados a respeito da ocupação do antigo território da região e 
dos padrões culturais ainda existentes. Entretanto as características mais importantes da 
etnia, concentradas especialmente nos rituais religiosos, são consideradas de cunho secreto 
e por isso não permitem o acesso de não-índios, proibição que inclui o próprio 
antropólogo, considerado desta forma um representante da sociedade nacional. 
Interpretamos tal reserva como decorrência do longo processo de exclusão social a que 
foram submetidos ao longo dos séculos, durante os quais, não puderam assumir a 
identidade indígena, sob o risco da própria vida. Por isso a realização dos rituais religiosos 
da etnia ocorriam em sítios isolados e durante a noite, para evitar que a identidade 
indígena dos participantes fosse evidenciada. Por ironia, agora que necessitamos, do ponto 
de vista antropológico, buscar a caracterização cultural da etnia, os próprios índios, que 
deveriam ter interesse em demonstrar a natureza indígena da sociedade, não o fazem, 
correndo o risco de não conseguir comprovar a sua indianidade. Tal fato contribui para 
denunciar a autenticidade da manutenção da exclusão de não-índios do ritual do 
"ouricuri". 
 No caso em estudo, adotamos a metodologia clássica na antropologia, a observação 
participante e o método qualitativo para permitir o acesso a informações da etnia em 
estudo. Entretanto consideramos posteriormente que, no caso dos índios do Nordeste, em 
virtude da ocorrência de grande perda cultural, além do método qualitativo de entrevistas 
individuais, torna-se necessário também o método quantitativo, com questionários 
fechados ou abertos, dependendo da experiência e da qualificação dos auxiliares de 
pesquisa. 
 Tentamos algumas vezes, obter documentos relacionados com a história dos índios da 
região, através do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas (IHGA), que, apesar do 
excelente acervo que possui, não facilita o acesso aos livros e documentos ali arquivados. 
Com enorme dificuldade ainda tentamos consultar livros e documentos da instituição. 
 Conseguimos também ter acesso aos sítios arqueológicos existentes na região e pudemos 
colher os pontos através de GPS, dos inúmeros cemitérios indígenas e antigas ocupações 
indígenas, fotografando e recolhendo peças de cerâmica, cachimbos e fragmentos de 
cerâmica, provenientes de urnas funerárias (igaçabas), provavelmente dos primitivos 
índios que ocuparam a região. 
 Após o retorno das atividades de campo em 14/05/2003, iniciamos o trabalho de 
elaboração do relatório. Um trabalho que depende de acesso a documentos, livros e artigos 
relacionados com a etnia em estudo. Inexplicavelmente, a partir desse momento, a Funai 
não liberou recursos financeiros, para que pudéssemos nos dedicar integralmente à 
elaboração do Relório Preliminar Circunstanciado, peça principal do Procedimento 
Demarcatório. Com isso, o trabalho de pesquisa acabou se desenvolvendo, desdeessa 
época, lentamente, de acordo com as possibilidades eventuais e dependendo mais do acaso 
e da sorte, já que a localização de artigos e livros tem sido muito difícil, devido 
principalmente à precariedade das bibliotecas e museus aqui no Rio de Janeiro. Por isso o 
Coordenador decidiu suspender as atividades de pesquisa e de elaboração do Relatõrio a 
partir de 14/08/2003. 
 Durante esse período, políticos e fazendeiros da região tomaram iniciativas no sentido 
de prejudicar todo o procedimento de identificação e delimitação já que facilitaram a 
invasão de duas fazendas no território que está sendo delimitado, para implantação de 
projetos de natureza social para os "sem terra" e "sem teto" da região, que já ocuparam 
as respectivas fazendas. Como sempre, todo esse processo ocorre sob ameaças da parte dos 
proprietários e políticos, que possuem áreas de terras na área em estudo, e que pretendem 
impedir a demarcação a todo custo, mesmo sabendo que a cidade foi construída em cima 
de uma aldeia indígena e seus cemitérios, existente pelo menos desde o século XVIII, 
conforme atestam os inúmeros documentos que possuímos e as diversas provas que 
estamos acumulando desde que começamos o estudo da região e da ocupação indígena. 
 Com a constituição de um GT, através da Portaria nº 329/PRES/03 de 30 de abril de 
2003, para a elaboração do Levantamento Cadastral Fundiário, coordenado pelo 
engenheiro agrônomo Pedro Rodrigues de Souza Filho, os trabalhos foram iniciados no dia 
06/05/2003 e encerrados no dia 19/08/2003, com a conclusão dos trabalhos de escritório e 
envio de todo o material para a DAF/FUNAI/BSB no dia 12/09/2003, inclusive o próprio 
Relatório do Levantamento Fundiário, disponível desde 22/07/2004 com o antropólogo-
coordenador. Na verdade, realizou-se apenas um cadastramento dos imóveis existentes na 
área em estudo, obtendo dados, através dos levantamentos anteriores e dos ocupantes das 
propriedades visitadas pelos técnicos. Apesar das fortes resistências, as propriedades 
foram cadastradas e em muitos casos, fotografadas, com a definição das coordenadas 
geográficas onde foi permitido chegar. O total de ocupantes não-índios é de 1.052 
propriedades, ocupando uma área de 14.938,00 ha, restando apenas 696,99 ha, que 
corresponde a 4,46 % da área total, referente aos imóveis que não se encontram nas cartas 
do ITERAL e/ou não quiseram prestar as informações necessárias. 
 Para evitar problemas futuros, isto é, aumentar desnecessariamente a quantidade de 
adversários da delimitação, os índios decidiram por unanimidade delimitar apenas a área 
indígena compreendida dentro do território do município de Palmeira dos Índios. 
Portanto não deveria haver nenhuma área no estado de Pernambuco, já que o município 
faz divisa com o estado, assim como com o município de Quebrangulo. 
 Entretanto entre o ponto nº 1 e o nº 2, estabelecemos uma linha seca, que não 
corresponde exatamente à divisa entre os estados, tal como o mapa do IBGE nos induziu a 
acreditar, inclusive porque existe um erro no mapa. 
 Ao fazer o levantamento fundiário, o engenheiro Pedro Rodrigues de Souza Filho, 
encontrou, entre os pontos nº 1 e nº 2 alguns ocupantes não-índios que pagam impostos no 
estado de Pernambuco. Caso mantenhamos os limites estabelecidos, vamos ter problemas 
também com o estado de Pernambuco, já que a União terá que indenizar as benfeitorias de 
tais ocupantes. 
 Portanto recomendamos que as 5 propriedades cadastradas no município de Bom 
Conselho (PE) (49 ha) e as 11 propriedades (137,81 ha) do município de Quebrangulo (AL) 
sejam excluídas da área delimitada. Para realizar essa correção necessito do engenheiro 
agrimensor Marcelo Maschietto Elias de Almeida, para estabelecer novos pontos que 
delimitem melhor a área estudada. Para facilitar o trabalho é necessário também ter 
acesso aos laudos (LC´s) relacionados com à área em questão, que já estão em Brasília, 
anexadas ao Relatório Fundiário. Para fazer esta alteração bastam apenas 2 dias de 
estadia do engenheiro Marcelo. 
 Em 27/11/2003, para resguardar direitos contratuais, o Coordenador enviou ofício ao 
Ministério Público Federal, através da 6ª Câmara de Coordenação e Revisão denunciando 
a paralização das atividades de pesquisa e a impossibilidade de continuar executando todo 
o trabalho necessário para a elaboração do Relatório. 
 Durante a estadia no campo, a Funai garantiu as diárias e recursos necessários ao 
trabalho do GT. Entretanto depois do retorno do campo, em 14/05/03, o Coordenador não 
recebeu nenhum recurso financeiro e apoio logístico para elaborar o relatório. Através do 
contrato assinado com a Unesco, o Coordenador tem direito a R$ 8.000,00, relativo a 
honorários por esse trabalho. Deveria receber 30% ao entregar o Relatório Preliminar e o 
restante quando entregar o Relatório Final. De acordo com o contrato, a FUNAI deveria 
fornecer apoio para proceder estudos e levantamentos antropológicos e etno-históricos, em 
campo e em gabinete (bibliotecas, museus e arquivos públicos e privados), com a finalidade 
de caracterizar sua ocupação tradicional indígena. Conforme foi relatado acima, a FUNAI 
promoveu apenas o trabalho de campo e deixou de lado o trabalho de gabinete, 
fundamental para a elaboração do relatório. 
 Tentamos mudar as condições contratuais e, tanto a Funai, como a Unesco alegaram 
que isso não era possível. Pretendíamos receber os 30% iniciais após o retorno do campo, 
para permitir a dedicação exclusiva ao relatório. Tal medida que, poderia ser adotada nos 
próximos contratos, ofereceria condições adequadas de trabalho para o antropólogo 
coordenador sobre quem recai a maior responsabilidade de todo o procedimento 
demarcatório. Além da formação e da experiência antropológica, sabemos da necessidade 
de adequação de seu discurso aos dispositivos legais. No momento em que retorna do 
campo, o antropólogo deverá estar em condições materiais e teóricas de elaborar 
argumentos convincentes sobre a necessidade de reconhecimento da natureza indígena da 
terra em estudo. E o texto do relatório deverá promover o convencimento de juízes, que 
não possuem necessariamente formação acadêmica em antropologia. 
 Por outro lado, após o retorno do trabalho de campo, a FUNAI não respondeu aos 
inúmeros relatórios e memorandos que temos enviado, solicitando recursos e apoio e muito 
menos avalia todo o trabalho que tem sido desenvolvido na coordenação do GT. Além 
disso nenhuma interpelação recebemos a respeito da continuidade dos trabalhos. 
 A região do Nordeste possui uma coordenação exercida pelo antropólogo Robson 
Cândido da Silva, que, durante todo o trabalho desenvolvido na área em estudo, nenhuma 
providência tomou para coordenar os trabalhos de identificação e delimitação da terra 
indígena Xukuru-Kariri. Depois do contato inicial, em dezembro/2002, quando assumimos 
a responsabilidade pelo GT, nenhum contato aconteceu posteriormente. Se o cargo de 
coordenação fosse exercido a contento, seria de extrema importância para o trabalho da 
Coordenação, já que haveria um interlocutor habilitado para compreender as 
necessidades do GT e fornecer o apoio logístico, teórico e financeiro necessário ao bom 
desenvolvimento do trabalho. 
 Vale destacar também, que, ao assumir esse trabalho com a FUNAI, não tínhamos 
nenhuma experiência em identificação e delimitação de terras indígenas. Todo o 
conhecimento adquirido durante todo esse tempo, foi basicamente através dos manuais e 
documentos fornecidos pela FUNAI e através do estudo do processo Xukuru-Kariri 
existente no Dept. de Documentação da FUNAI. Em Brasília, as poucas instruções que 
recebemos foram através do Chefedo DEID, na época, antropólogo Marco Paulo Froes 
Schettino e do Chefe do DAF, Noraldino Vieira Cruvinel. No total foram apenas 20 
minutos de esclarecimento que recebemos e num momento em que ainda não havíamos 
estudado toda a documentação disponível. Particularmente esperávamos, no mínimo, ao 
passar no concurso, que a FUNAI oferecesse um curso de identificação e delimitação aos 
antropólogos e ambientalistas concursados. 
 Tal curso poderia ser ministrado por antropólogos e ambientalistas que atuaram em 
processos que tiveram as terras homologadas. Com a troca de experiência promovida pelo 
curso, que com certeza, poderia ser financiado por entidades que apoiam a causa indígena, 
o antropólogo teria acesso a metodologia mais diferenciada, tendo em vista que o Brasil 
possui pelo menos 11 áreas culturais de configuração bastante diferentes, e que exigem 
obviamente abordagem metodológica adequada a cada uma delas. 
 Após um longo período sem contato com a DAF em Brasília, a partir de 07/05/2004, o 
Coordenador foi convidado a comparecer a Brasília pela Coordenadora Geral do CGID, 
antropóloga Nadja Havt Bindá, em reunião com a presença de 15 índios de Palmeira dos 
Índios, para discutir as condições para a retormada do trabalho de elaboração do 
Relatório Preliminar Circunstanciado. 
 Recebemos então uma nova proposta de roteiro para elaboração do Relatório 
Preliminar. Com tal proposta, tornou-se mais exeqüível a elaboração do Relatório, já que 
não seria mais necessário o desenvolvimento total de todos os itens exigidos para a 
elaboração do Relatório Final. Os itens não desenvolvidos por falta de dados poderiam 
ficar apenas indicados, aguardando o resultado oriundo de novos documentos a serem 
descobertos ou de uma nova excursão ao campo mais produtiva. 
 O Coordenador, a partir desta data, aceitou a nova proposta e reiniciou os trabalhos de 
elaboração do Relatório Preliminar, ainda que trabalhando sem recursos para o trabalho 
de pesquisa de artigos e documentos relacionados com a etnia. 
 Quanto ao retorno à área, estamos tomando algumas iniciativas no sentido de encontrar 
registro de ascendentes dos índios atuais. Já garantimos o acesso aos livros de batismo e 
casamento da matriz de Palmeira dos Índios. Entretanto para não chamar atenção do 
bispo, que tem se manifestado contrário ao pleito indígena, é conveniente que o 
Coordenador chegue á cidade de surpresa e vá direto à sede da Igreja Matriz, para 
examinar os livros, que segundo seus informantes, estão disponíveis a partir do ano de 
1830, o que é muito importante e pode ajudar muito o trabalho de pesquisa. 
 Quanto à questão do IHGA, acreditamos que seria interessante que o Coordenador 
levasse um documento o apresentando ao Diretor da entidade, como antropólogo e 
solicitando o acesso ao acervo da Instituição e pedido de autorização para fotocopiar 
documentos ou livros. Além do documento pessoal que o Coordenador levaria consigo, um 
pouco antes a Funai poderia enviar um ofício comunicando ao Diretor a futura visita do 
Coordenador. Apesar de alegarem que o IHGA é uma instituição particular, o estado 
fornece ajuda de custo e ainda cede funcionários que trabalham no Instituto. Portanto, a 
nosso ver, o IHGA é uma instituição que deveria ser de uso público. Estamos tomando tais 
iniciativas, porque quando tentamos realizar consultas aos livros e documentos, 
juntamente com a ambientalista Zélia Peres, não permitiram o acesso às estantes e 
criaram obstáculos à cópia de documentos existentes no Instituto. 
 O Relatório Ambiental Final elaborado pela ambientalista Zélia Peres de Souza foi 
remetido para o Coordenador em 23/06/2004. Tendo sido concluído em 10/11/2003, o 
Relatório contém dados satisfatórios e imprescindíveis para a elaboração do Relatório 
Final Circunstanciado. 
 Quanto ao Laudo Técnico de Identificação, elaborado pelo engenheiro agrimensor 
Marcelo M. Elias de Almeida, o respectivo relatório foi enviado ao Coordenador em 
19/09/2003 e, após as correções promovidas pelo Coordenador, devolvido em 14/07/2004. 
Entretanto resta ainda uma alteração a ser feita, a inclusão da foto e da descrição do Ponto 
nº 12, ainda não corrigida até o momento. Como solicitamos o retorno à área em estudo 
para correção dos pontos 1 e 2, após a necessária correção, o Laudo deverá ser alterado 
novamente. 
 O trabalho de elaboração do Relatório depende obviamente de artigos e documentos 
relacionados com os índios. Por isso solicitamos recursos para obter fotocópias de 
documentos raros existentes no Museu do Índio. Tais documentos sobreviveram ao 
incêndio ocorrido no antigo prédio do S.P.I. Como os documentos estão muito deteriorados 
e sujos através da fotocópia da micro-ficha não é possível lê-los. Por isso estamos 
solicitando uma cópia do próprio documento original. No momento aguardamos ainda 
uma solução para nosso pleito. 
 Com o retorno ao trabalho de gabinete, que as cláusulas do contrato com a UNESCO 
nos asseguram, através do documento anexo denominado "Termos de Referência de 
Pessoa Física", item 10, retomamos às pesquisas realizadas, no ano de 2003, no Museu 
Nacional e agora também no Museu do Índio e na biblioteca do Instituto Histório e 
Geográfico Brasileiro, com recursos próprios, já que a Funai desde o retorno do trabalho 
de campo não liberou recursos necessários para a realização desse trabalho. 
 Em 19/10/04, enviamos ofício (nº 01/2004) à Coordenadora do CGID, informando a 
respeito dos inúmeros cemitérios existentes em Palmeira dos Índios, e a necessidade de 
providências urgentes no sentido de preservá-los e impedir que curiosos continuem 
violando sepulturas indígenas e retirando peças que podem ser extremamente úteis aos 
trabalhos de identificação e delimitação. Lembramos que violar ou profanar sepultura ou 
urna funerária é crime previsto no Código Penal (Art. 235) e que cabe à Funai, como tutor 
legal dos índios, denunciar os casos de violação dos cemitérios de Palmeira dos Índios. 
Sugerimos que o ofício seja encaminhado ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico 
Nacional (IPHAN), para que sejam tomadas medidas legais a respeito do assunto, de 
acordo com a Constituição Federal de 1988, Art. 216. 
 Durante o trabalho de campo realizado no período de 24/03/2003 a 14/05/2003, no 
entorno da cidade de Palmeira dos Índios, estado de Alagoas, foram encontrados indícios 
da existência de inúmeros sítios arqueológicos de natureza indígena. 
 Em decorrência do trabalho de identificação e delimitação da terra indígena em estudo, 
acabamos percorrendo toda a área, buscando estabelecer os pontos que servem de limites 
para a terra indígena. Em diversos pontos, incluídos na área delimitada, encontramos 
fragmentos de igaçabas, cachimbos, machados de pedra e outros materiais que ajudam a 
comprovar a natureza indígena da antiga ocupação humana. 
 No Rio de Janeiro, procuramos o Instituto de Arqueologia Brasileira, através do Prof. 
Ondemar Dias que se interessou em fazer uma escavação científica na área. Eles nos 
forneceram um laudo sobre o material recolhido, mas evidentemente os resultados não são 
conclusivos. Diante da importância histórica de Palmeira dos Índios, que talvez possua o 
maior acervo arqueológico indígena do nordeste, e, como as escavações efetuadas no 
passado, o foram quase sempre por amadores, que além de adulterar os inúmeros sítios da 
região, não conseguiram retirar dados conclusivos da escavação, por não utilizarem 
metodologia científica e também não possuirem um objetivo concreto ao fazer o estudo, a 
não ser a curiosidade. 
 Atualmente as igaçabas e inúmeros objetos de natureza indígena estão expostos em 
museu particularna cidade, que foi formado com a coleção particular de um escritor, Luiz 
Torres, que no passado promoveu escavações na região, retirando inclusive, os marcos 
legais da antiga demarcação da terra indígena promovida em 1822, que também estão 
expostos no Museu Xucurus, que na verdade, não é um museu indígena e sim um museu 
histórico particular, que expõe, inclusive, objetos de natureza indígena. 
 Existe em Palmeira dos Índios um antigo machado de pedra indígena sob a posse de um 
comerciante que, sem saber da importância do objeto, encontrado em sua fazenda, dentro 
da área em estudo, o utiliza como peso de papel. Pela importância do material, 
recomendamos que seja requisitado legalmente, para registro e estudo em instituição 
adequada. 
 O próprio escritor Luiz Torres, já falecido, descreveu em seu livro "Os Indios Xukuru e 
Kariri em Palmeira dos Índios", diversas descobertas de antigas igaçabas indígenas em 
diversos pontos da área urbana da cidade, tal como no prédio onde atualmente se situa o 
Banco do Brasil e na Av. Sebastião Ramos. 
 Diante disso, seria interessante que pudéssemos projetar um museu a ser construído na 
área indígena, tendo como ponto de partida a escavação arqueológica, que o Prof. 
Ondemar Dias se dispõe a coordenar. Com a implantação do museu Indígena poderíamos 
requisitar os objetos de natureza indígena expostos no Museu Xucurus. 
 Os sítios arqueológicos mais importantes são os seguintes: 
 a) Cemitério indígena do Goiti (-09 23´ 56,06492" -36 38´ 12,09376") - situado na Serra 
da Palmeira e como existe, na parte mais elevada da serra, a imagem do Cristo Redentor, a 
Prefeitura construiu recentemente uma estrada que permite o acesso de carros, ônibus e 
turistas durante os eventos que são promovidos nessa área. O cemitério situa-se logo 
abaixo, de onde inúmeras igaçabas foram retiradas no passado por amadores, tendo sido 
encontradas, ossadas humanas inteiras, contas, machados, ossadas de animais, utensílios 
domésticos e que de acordo com o Prof. Clóvis Antunes, que teve a oportunidade de 
estudar parte do material recolhido, o local foi utilizado em épocas remotas para 
enterramento primário e secundário das primitivas tribos indígenas que ocuparam o 
território de Palmeira dos Índios. O material encontrado no sítio e examinado pelo Prof. 
Ondemar Dias, de acordo com as características expressas na técnica de confecção, pasta, 
queima, tratamento das superfícies, decoração e morfologia apontam para a sua origem 
indígena. (ver Anexo XIV) 
 b) Cemitério da Serra do Cariri (Leitão) (-09 21´ 25,95439 -36 38´ 10,20135"): Nesta 
área, atualmente sendo utilizada para roçadas, existe o que na região chamam de ´chã de 
cacos´, já que as igaçabas existentes no passado foram paulatinamente sendo destruídas 
pelo processo de cultivo. Atualmente em inúmeros pontos encontra-se fragmentos de 
cerâmica em grande quantidade espalhados por toda a área. Também foram retiradas no 
passado igaçabas completas contendo despojos humanos. 
 c) Cemitério da Igreja Velha (-09 22´35,57335" -36 37´ 39,86251"): Neste local foi 
construída a primitiva igreja onde se iniciou o trabalho de catequese em 1780, por frei 
Domingos. Como a igreja era de madeira nada mais se encontra a não ser fragmentos de 
cerâmica, cachimbos, utensílios domésticos, etc. Este talvez seja o local de ocupação 
indígena mais antigo, de acordo com as referências históricas de que dispomos. 
 d) Cemitério dos Macacos (-09 23´10,72072" -36 36´ 10,87388"): Nesta área, existem 
logo acima do solo, inúmeros fragmentos de igaçabas e de onde já foram retiradas 
igaçabas completas. 
 e) Cemitério da Baixa da Areia (-09 21´55,38546" -36 36´33,41078"): Nesta área 
atualmente passa uma estrada de barro. Mas no subsolo foram encontradas também 
inúmeras igaçabas, de acordo com o depoimento de índios que presenciaram o fato. 
 f) Cemitério da Serra do Capela (-023´07,41848" -36 37´31,38461"): 
 
Fig. 4 - Urna funerária encontrada semi-destruída na Serra do Capela. Foto de Douglas Carrara em 
17/04/03. 
 Durante a visita a esse local, foi possível identificar a parte inferior de uma igaçaba 
quebrada, que fotografamos. Não tocamos nos objetos e solicitamos aos índios que 
cobrissem toda a área com terra para evitar olhares curiosos e a destruição do que ainda 
resta no local. O sítio se encontra próximo à torre de telefonia celular da cidade. 
 g) Cemitério do Coité (-09 23´07,86261" -36 36´46,25303"): No local, existe atualmente 
uma pequena aldeia, de ocupação bem antiga. Também foram encontradas igaçabas 
completas em uma gruta, bem acima da aldeia. 
 h) Cemitério da Estrada de Ferro (-09 24´ 36,44584" -36 37´ 42,48879" ): 
 Esse cemitério indígena situa-se na área urbana da cidade, ao lado da linha férrea. 
Inúmeras igaçabas foram encontradas no local. Atualmente uma longa calçada cobre o 
antigo cemitério, comprovando que a cidade de Palmeira dos Índios foi erguida sobre o 
antigo aldeamento de índios da nação Kariri. 
 Solicitamos também à Coordenadora do CGID, autorização para promover um 
recenseamento completo para colher dados censitários e antropológicos. Para isso 
necessitamos de auxiliar de confiança que possa percorrer as residências preenchendo o 
formulário. O formulário será elaborado para recolher dados que não obtivemos através 
das entrevistas diretas que realizamos na área. Além dos dados censitários básicos 
poderemos recolher dados que vão nos ajudar a compor a diversidade cultural da etnia. Se 
não pudermos fazer o recenseamento não temos mais necessidade de retornar à área, 
conforme solicitação que fizemos quando de nossa reunião em Brasília em 07/05/2004. Os 
dados censitários de que dispomos são precários, sem nenhuma consistência, especialmente 
os mais recentes. 
 O último recenseamento da Funai, contém inúmeros erros graves que prejudicam a 
análise. A ambientalista Zélia Peres de Souza também não conseguiu dados diretos. Nas 
aldeias pequenas, com contingente menor, pôde coletar apenas dados numéricos . Nas 
aldeias maiores, utilizou dados através de consulta a censo realizado em 2001 pela UFAL. 
Dispomos aqui no Rio, de um cientista social de minha inteira confiança, Clérsio Joaquim 
Figueiredo, e que poderia fazer esse trabalho. Mas como ele é professor, depende de uma 
solicitação da Funai ao Governo do Estado, para que possa ser liberado durante 15 dias de 
estadia no campo. 
 Estamos também tomando a iniciativa para obter documentos produzidos pelo GT 
Coordenado pela antropóloga Sheila Brasileiro, através de contato com o antropólogo José 
Augusto Laranjeiras Sampaio, componente do GT. Como trata-se do único GT que não 
gerou um relatório, talvez contenha subsídios para o atual relatório circunstanciado. Até o 
momento não recebemos nenhum documento relacionado com os trabalhos documentais 
do GT. 
 Vale ressaltar também as dificuldades encontradas para localizar documentos 
relacionados com o processo em estudo. Além do acesso difícil a artigos e livros publicados 
no Brasil sobre os índios de Palmeira, constatamos que a própria biblioteca da Funai em 
Brasília possuía escassa bibliografia sobre os índios Xukuru-Kariri. Muitos documentos 
importantes foram obtidos através dos próprios índios, tais como, o relatório de 
Deocleciano de Souza Nenê de 1952 e o relatório de Walter Coutinho Junior de 1999! 
Ambos os relatórios não foram encontrados no Departamento de Documentação existente 
na DAF/DEID. Conseguimos encontrar alguns livros de Luiz Torres e Clóvis Antunes 
também através dos próprios índios que cederam seus exemplares para serem 
fotocopiados. Para suprir a deficiência da biblioteca da Funai enviamosfotocópias dos 
livros que obtivemos em Palmeira dos Índios em nome da bibliotecária Cleide de 
Albuquerque. 
 Existem algumas contradições nos dados que colhemos a respeito da área ocupada pelos 
índios atuais. Os dados apresentados no Anexo XXIV, mapa elaborado pelo Eng. Marcelo 
M. Elias de Almeida diferem dos dados o Anexo XXIII, tabela elaborada pelo Eng. Pedro 
Rodrigues de Souza Filho, na qual define o total de hectares ocupados pelos índios como de 
1.268,97. Verificar tabela abaixo: 
Áreas de ocupação atual das aldeias dos Xukuru-Kariri 
Cafurna de Baixo Capela Coité Boqueirão Fazenda Canto Mata da Cafurna Total 
11,88 ha. 520 ha. 4,62 ha. 484 ha. 276,54 ha. 423 ha. 1.720,04 ha. 
 Promovemos um levantamento dos diversos GT´s constituídos para identificar e 
delimitar a terra indígena em estudo. O quadro abaixo demonstra que não tem sido 
adotados critérios rigorosos na determinação do tempo necessário para a elaboração dos 
relatórios e que na prática os prazos tem sido sempre excedidos, confirmando a 
dificuldade dos antropólogos para elaborar e chegar a bom termo o trabalho. Além do 
desperdício de recursos públicos, os índios reclamam dos excessivos estudos desenvolvidos 
na área sem levar a nenhum resultado. Com isso perdem a confiança nos procedimentos 
legais, e fortalecem a posição dos que desejam promover retomadas sucessivas, e que tem 
acontecido, em vários momentos, nos últimos anos. 
 Tal fato evidencia o desconhecimento por parte da Funai da natureza do trabalho 
antropológico, especialmente no caso específico dos índios do Nordeste, que vem recebendo 
o estereótipo de que são índios descaracterizados, cuja história pode ser avaliada na Parte 
I deste relatório e no Anexo I. Além das mudanças constantes de orientação e de prazos 
quanto à realização do trabalho, constatamos a ausência de orientação metodológica 
específica para cada área cultural brasileira, que poderia ser preenchida com a realização 
de cursos destinados a antropólogos responsáveis pela identificação e delimitação de terras 
indígenas. O Manual do Ambientalista, por exemplo, foi elaborado para atender 
exclusivamente às necessidades do PPTAL (Programa Integrado de Proteção às Terras e 
Populações Indígenas da Amazônia Legal) e tornou-se um manual para atuação do 
ambientalista em qualquer área do país! Acreditamos que seria muito mais eficiente, e 
despenderia menos recursos, promover cursos de formação de antropólogos e 
ambientalistas do que manuais extensos e pouco práticos que não atendem a todas as 
necessidades. 
Constituição de GT's em Palmeira dos Índios 
Coordenador Data Portaria Entrega Tipo Prazo HA 
Maria de Fátima Campelo Brito 11/04/1988 0411 10/01/1989 Id./Del. 15 dias 13.020 
Adolfo Neves de Oliveira Junior 05/06/1995 0553 12/02/1996 P. Prelim. 60 dias ? 
Shelia dos Santos Brasileiro 28/07/1997 0689 não entregue Id/Del. 120 dias 15.135 
Ivson J. Ferreira 20/11/1997 1187 01/1998 L. Fund. - 15.280 
Douglas Carrara 19/03/2003 0178 ? Id./Del. 210 dias 15.635 
 Finalmente gostaria de salientar nossa disposição e interesse em levar a bom termo o 
trabalho de identificação e delimitação da terra indígena Xukuru-Kariri. Este relatório 
ainda está incompleto, mas o fundamental já está plenamente desenvolvido. Após o 
retorno ao campo, poderemos entregar o Relatório Final Circunstanciado em 30 dias. 
I. Primeira Parte 
a) População indígena e área estudada. 
 As terras da região de Palmeira dos Índios pertenciam à antiga Sesmaria de Burgos, 
doada em 23/12/1661, através de Alvará de Doação e Sesmaria emitido pelo governador 
Afonso Furtado de Castro de Rio de Mendonça ao desembargador Cristovam de Burgos e 
outros, através do qual, recebeu 30 léguas de terras de campos e pastos onde está um 
riacho chamado Mundaú. (Torres/2,37) Em 29/11/1669. receberia o mesmo sesmeiro, 
Cristovam de Burgos, mais 30 léguas de terras, entre o rio Vazabarris e o rio Sergipe. 
(Freire, 413) Tais doações eram uma flagrante desobediência ao preceito taxativo das 
Ordenações do Reino, de que não se dessem maiores terras a uma pessoa, que as que, 
razoavelmente pudesse aproveitar. (Paula, 4) Entretanto como as terras concedidas pelo 
regime das sesmarias aos colonos sempre estabeleceram reserva do prejuízo de terceiros, 
"quero que se entenda, ser reservado o direito dos índios, primários e naturais senhores 
delas" nos termos expressos no Alvará de 01/04/1680 e amplamente confirmado pela Lei 
de 06/06/1755 e de Alvará de 08/05/1758. (Paula,12), o direito dos índios à terra que 
ocupavam sempre foi reconhecido pela legislação portuguesa assim como pelas legislações 
dos períodos posteriores. Entretanto, como observa João Francisco Lisboa, "decretava-se, 
hoje, o cativeiro sem restrições, amanhã, a liberdade absoluta, depois um meio termo entre 
os dois extremos. Promulgava-se, revogava-se, transigia-se". (apud Bandeira,179) 
 Portanto as terras indígenas no Brasil, desde 1680, sempre obtiveram, pelo menos 
através da legislação, o que, segundo Mendes Júnior, configura o direito congênito, e, por 
conseguinte o indigenato não é um fato dependente de legitimação, ao passo que a 
ocupação, como fato posterior, depende de requisitos que a legitimem. (Mendes Jr., 58) 
 Em 26/07/1712, parte das terras da antiga sesmaria foi vendida ao português Manuel da 
Cruz Vilela por 220$000 réis que, após a posse da terra no ano seguinte, acabou 
assassinado em 1729. Em 27/07/1773, a viúva Maria Pereira Gonçalves (falecida no fim do 
mesmo ano) faz doação, através de escritura, de meia légua de terras (1.200 braças) a frei 
Domingos de São José, para que o mesmo erguesse uma capela ao Senhor Bom Jesus da 
Boa Morte, fazendo pião no brejo chamado Cafurna. Provavelmente nesta data, inicia-se o 
processo de catequese dos índios Xukuru e Kariri que já viviam na região, conforme o 
testemunho do vigário José de Maia Mello, cujo vicariato abrangeu o longo período de 
1847 a 1899. (Antunes/2,47) 
 Para transferir a Igreja Velha, já existente em 1773, frei Domingos utilizou um 
estratagema para transferi-la para o sopé da serra da Palmeira. Retirou ou mandou 
retirar a imagem da capelinha de palha e fez a imagem aparecer num oco de tronco de 
uma maçaranduba exatamente no mesmo local onde hoje se ergue a igreja Matriz, que ao 
ser elevada à condição de Paróquia, o Senhor Bom Jesus da Boa Morte foi substituído por 
Nossa Senhora do Amparo. (Torres/1,13) Segundo o depoimento recente de um indio hoje 
residente em casa na cidade, da família Bonifácio, e descendente da índia Maria Gila, da 
Lagoa dos Cabocolos, o motivo da transferência da imagem da santa foi o fato dos índios 
promoverem o empenamento (enfeitar com penas) da imagem da santa, contrariando 
portanto frei Domingos que finalmente conseguiu mudar a igreja de lugar. 
 Laudo antropológico emitido em 1990, confirma a antiga ocupação indígena do local 
conhecido como Igreja Velha, já que em cortes realizados até a profundidade de 40 cm, 
encontraram a presença de fragmentos de cachimbos, discos de pedra polida, lascas de 
sílex e quartzo, cacos cerâmicos de panelas e urnas funerárias em diversos cortes 
estratigráficos de 1 e 2 m² realizados no local. (Hoffnagel,11) O próprio autor encontrou 
em abril/2003, fragmento de cachimbo e cacos de cerâmica na superfície do solo, revolto 
em função das atividades agrícolas existentes no local. 
 A referência mais antiga aos índios de Palmeira encontra-se no documento intitulado 
"História da Palmeira", encontrado no Arquivo Paroquial da Diocese de Palmeira dos 
Índios, escrito pelo vigário José de Maia Mello, provavelmente em 1879. O vigário refere-
se à índia Xukuru, Izabel Maria da Conceição, nascidaem 1762. Segundo o próprio 
Vigário, os índios Xukuru, teriam migrado da aldeia de Cimbres de Pernambuco em 1740, 
em função da grande seca ocorrida em todo o nordeste. Também confirma tais dados o 
historiador alagoano João Alberto Ribeiro. (Rocha/2,11) Os índios Cariri, por outro lado, 
teriam vindo da aldeia de Colégio, da etnia conhecida como Wakonã , (do rio São 
Francisco) (atual Porto Real do Colégio), que teriam se aldeado na Serra do Cariri onde 
construíram uma pequena igreja, de palha de palmeira, no atual sítio chamado "Igreja 
Velha". Os Xukuru teriam se aldeado à margem do ribeiro Cafurna, entre as terras da 
fazenda Olhos d´Água do Accioly (atual Igaci) e a serra da Palmeira.(Antunes/2,45) 
Hohenthal, em 1952, também faz referência à migração dos Xukuru de Cimbres para 
Palmeira dos Índios. 
 Outros autores fazem referência aos índios Wakonã, que viviam em Porto Real do 
Colégio (AL), mas constituiam uma etnia distinta oriunda do distrito de Lagoa Comprida, 
em Penedo (AL), que Aires do Casal já identificava em 1817 e registra que as mulheres dos 
índios trabalhavam diariamente em olaria sentadas no chão. "A todos os vasos dão um 
princípio, em cima de uma folha de bananeira sobre o joelho; depois assentam-nos num 
prato pulverizado de cinza, sobre o qual acabam de lhe dar a forma e o enfeite. Elas 
mesmas procuram e amassam o barro e vão buscar lenha, para no sábado à noite cozerem 
a obra da semana, em grandes fogueiras num terreiro". (Casal/II,182) Posteriormente, em 
1845, o geógrafo francês Saint-Adolpho registrou que os jesuítas teriam assentado os 
Aconan na aldeia de Colégio e que pertenciam à grande nação Kariri. (Saint-Adolphe) De 
acordo com o relatório do bacharel Manoel Lourenço da Silveira, em 1862, havia em Porto 
Real do Colégio, 193 índios, reconhecidos como Coropotó, Cariri e Acunan). (apud 
Antunes/1,20) Martius, em 1867, em sua obra Beitrage reconhecia os índios Acconan, 
oriundos da Lagoa Comprida em Penedo, como pertencentes, do ponto de vista linguístico, 
ao dialeto "Guck" ou "Coco" e que viviam aldeados em Porto Real do Colégio (apud 
Mamiani/2,XIX) Entretanto linguistas contemporâneos rejeitam tal classificação pois 
Martius incluia no mesmo grupo, variadas tribos não-tupi (umas Jê, outras Karib e outras 
Aruak) (Câmara Jr.,117) Segundo Adriano Jorge, eles foram aldeados em Porto Real de 
Colégio pelos jesuítas, juntamente com outras etnias da região. (Jorge,71) 
 Em pesquisas mais recentes [Abelardo Duarte (1938) e Carlos Estevão (1935)], foram 
encontrados sobreviventes desse grupo em Porto Real do Colégio. (Duarte,36) 
(Oliveira,172) Segundo Hohenthal, após expedição realizada no ano de 1952, os índios de 
Palmeira seriam descendentes dos antigos Wakonã, convivendo com os Xukuru, e que os 
casamentos inter-étnicos eram na época um padrão comum. (Hohenthal/4,95,109 - 
Hohenthal/1,48) Durante a viagem do zoólogo José Cândido de Melo Carvalho ao nordeste 
em 1961, para estudar um achado de 18 urnas funerárias durante a construção de uma 
estrada, à margem do rio Itiúba, ao chegar em Palmeira dos Índios, os índios se 
autodenominavam "Wakoná" e calculou o seu número entre 500 e 1000 indivíduos. 
(J.Carvalho,70) O próprio S.P.I em 1964, através de seu diretor José da Gama Malcher 
reconhecia os índios de Palmeira como Wakoná. (Malcher,261) Curt Nimuendaju, em seu 
mapa elaborado em 1944, reconhecia os índios de Penedo como Wakóna. (Nimuendaju,62) 
Talvez não seja coincidência o fato de existir em Palmeira dos Índios, um povoado com o 
nome de Lagoa Comprida. 
 Tais dados, relacionados acima, nos levam a concluir que os índios de Palmeira 
deveriam atualmente denominar-se Wakonã-Xukuru, acatando proposta do Prof. Clóvis 
Antunes em 1973. (Antunes/2,19) 
As constantes migrações dos índios de Alagoas são consequência das inúmeras pressões a 
que foram submetidos, ocasionadas pela ocupação de seu território pelos portugueses, 
durante os primeiros séculos do processo de conquista, tais como: 
 1) a guerra declarada de extermínio dos índios Caeté em virtude da morte do bispo D. 
Pero Fernandes Sardinha, na foz do rio Vazabarris em Sergipe; 
 2) a Guerra dos Palmares, quilombo de negros, que ocorreu de 1602 a 1695, no atual 
estado de Alagoas; 
 3) a Guerra dos Bárbaros, ocorrida no nordeste de 1650 a 1720, nos estados do 
Maranhão (região leste), Bahia (região norte, no vale do rio São Francisco), Ceará (parte 
apenas), Piauí, Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco; 
 4) as guerras do recôncavo baiano ocorridas entre 1651 e 1679 e as perseguições e 
bandeiras de preação de índios promovidas pelos membros da dinastia da Casa da Torre 
no vale do rio São Francisco; 
 5) o processo de catequese promovido pelas diversas missões católicas européias. 
 1) Os índios Caeté, que também pertenciam à grande nação Tupinambá, ocupavam a 
faixa litorânea desde a margem esquerda do rio São Francisco até a ilha de Itamaracá. As 
outras tribos Tupinambá chamava-os Caeté, por viverem numa região coberta de matas 
constituídas de árvores gigantescas, já que a palavra "caeté" significa "mata primitiva, 
verdadeira" ou "yga-até", "canoas diferentes", já que os índios Caeté eram navegadores e 
fabricavam canoas de piripiri , na opinião de Batista Nogueira.. (Cardim,115) (Pereira,40) 
O primeiro contato com os Caeté se deu com a chegada do donatário Duarte Coelho que 
tomou dos índios a antiga aldeia Marim, que acabou, após a expulsão dos índios, se 
transformando na cidade de Olinda. Em 1556, com o naufrágio da nau, que levava o bispo 
D. Pero Fernandes Sardinha para Lisboa, na foz do rio Vazabarris, a maior parte dos 
viajantes, inclusive o bispo, alcançaram a praia, sendo mortos e devorados pelos índios, 
salvando-se apenas três tripulantes que levaram a notícia ao governador. Um ano depois 
do naufrágio, o governo português promulgava ato considerando legal a escravidão 
perpétua de todos os índios Caeté e seus descendentes, sem distinção de sexo ou idade, por 
considerá-los culpados pelo sacrifício do bispo Sardinha, baseados na informação 
divulgada pelo português Gabriel Soares de Sousa. (Pereira,154) 
 Documentos conservados nos arquivos da Companhia de Jesus, escritos em época 
subseqüente ao evento, contém referências ao local da tragédia e aos índios que devoraram 
o bispo e demais tripulantes e afirmam que a nau teria naufragado na enseada do rio 
Vazabarris, considerada muito perigosa para a navegação costeira, e não no rio Coruripe, 
portanto em território onde os índios Caeté não viviam e sim os índios Tupinambá, 
inimigos dos índios Caeté. (Pereira,155) Evidentemente após a declaração de guerra aos 
índios Caeté, para que um índio qualquer fosse reduzido à escravidão, nada mais era 
preciso do que alegar-se que ele pertencia ou descendia da tribo dos Caeté. (Gama/I,130) A 
guerra de extermínio decretada contra os Caeté teve como consequência a morte de 70.000 
índios, provocadas também por epidemias de fome e de varíola. (B.Ribeiro/2,120) 
Entretanto um grupo de índios Caeté conseguiu escapar em épicas retiradas através do 
sertão e conseguiram alcançar a serra da Ibiapaba no Ceará e as costas do Maranhão e do 
Pará, onde se fixaram, livres da perseguição dos colonos de Olinda que ambicionavam a 
posse de suas ricas terras para levantar engenhos de açúcar e currais de gado. 
(D´Abbeville,208) 
 2) A guerra promovida contra o quilombo dos Palmares mobilizou todos os recursos 
militares da colônia contra os negros que se rebelaram contra o processo ultrajante da 
escravidão. A região onde se estabeleceram ficava bem próxima dos atuais territórios de 
Palmeira dos Índios, Quebrangulo e Bom Conselho. Inclusive no século XIXainda havia 
em Taquari (hoje Rainha Isabel) um quilombo de negros. 
 Com a guerra de extermínio decretada pelos portugueses contra os índios Caeté, o 
território antes ocupados por eles ficou vazio, pois os índios ou foram trucidados ou 
fugiram para o interior e os portugueses ocuparam o território com engenhos e fazendas 
de gado. (C.Carvalho,140) Os índios aliados dos portugueses também foram recrutados 
para combater os negros rebeldes dos Palmares e, além disso, constituíam a maior parte 
da tropa liderada pelo bandeirante Domingos Jorge Velho. Os negros fugiam das senzalas 
na calada da noite, embrenhando-se no mato e pouco a pouco foram aumentando de 
número, chegando ao expressivo número de 20.000 indivíduos, chamando a atenção das 
autoridades coloniais que organizaram inúmeras expedições, quase todas fracassadas 
diante das estratégias de luta adotadas pelos negros liderados primeiramente por Ganga 
Zumba e depois por Zumbi. Do grande quilombo também faziam parte, índios e também 
mulheres brancas, algumas vezes raptadas das cidades vizinhas a Palmares. Os holandeses 
(1644-1645) ainda tentaram duas vezes derrotar os negros do quilombo, mas não tiveram 
sucesso. 
 Após a restauração em 1654, os portugueses organizaram 15 expedições destinadas ao 
fracasso, com exceção da última que levou ao cerco e morte de Zumbi e 20 combatentes em 
1695. Em 1661, o desembargador Cristóvão de Burgos recebe 30 léguas de terras em 
sesmaria, que abrangia parte do teatro da guerra contra os Palmares, nela incluída, as 
terras dos índios Xukuru e Kariri. Domingos Jorge Velho denuncia em 1687 que os 
moradores e sesmeiros davam apoio aos negros de Palmares, interessados que estavam no 
desbravamento inicial da região, para depois usufruirem e por isso tentavam afastar o 
Terço de Domingos da região conflagrada. Entre outros moradores, Domingos acusava 
nominalmente Cristóvão de Burgos, já octagenário, muito rico e sem obrigações de ser 
"colono dos negros", já que pagava pelo direito de povoar suas próprias terras, com 
ferramentas, pólvora, chumbo e armas. Domingos considerava uma injustiça que o 
desembargador tenha recebido 30 léguas de terras "sem lhe haver custado mais que o 
pedi-las". (Carneiro,40) 
 Após a derrota de Zumbi, Domingos Jorge Velho reconhece que seria impossível 
derrotar o quilombo dos Palmares sem a participação dos índios Oroaz e Cupinharom, 
componentes de seu Terço e que o melhor pagamento que lhes dava era ensinar-lhes a 
trabalhar a terra para o seu sustento. (Carneiro,104) Evidentemente os índios que se 
recusaram a acompanhar o Terço tiveram o mesmo fim que 200 índios em 1691 que, 
depois de se renderem, se negaram a acompanhar Domingos e seu Terço. Foram todos 
trucidados. Por outro lado, o bispo de Pernambuco, que visitou o Terço dos paulistas nos 
Palmares, escrevia ao rei em 1697: 
 "Este homem é um dos maiores selvagens com que tenho topado: quando se avistou 
comigo trouxe consigo língua, porque nem falar sabe, nem se diferencia do mais bárbaro 
tapuia mais que em dizer que é cristão, e não obstante o haver-se casado de pouco, lhe 
assistem sete índias concubinas e daqui se pode inferir como procede no mais; tendo sido a 
sua vida ... até o presente, andar metido pelos matos à caça de índios, e de índias, estas para o 
exercício das suas torpezas, e aqueles para os granjeios dos seus interesses". (Carneiro,105) 
 Segundo o geógrafo francês Saint-Adolphe, depois da destruição do quilombo, várias 
tribos indígenas teriam sido aldeadas na região Palmeira dos Índios. (Saint-Adolphe) 
 3) Existem registros históricos comprovando a ocupação do território ao sul do atual 
estado da Paraíba e norte de Pernambuco pelos índios "Sucuru", segundo a grafia da 
época. Os índios ocupavam o triângulo formado pelas serras do Jacará e Jabitacá até o rio 
Sucuru, onde hoje se localiza a cidade de Monteiro (PB). Por interesse da administração 
colonial, os índios foram removidos para o norte do estado com o objetivo de impedir o 
avanço dos índios Janduí, então em guerra contra os portugueses. Note-se que Sucuru é a 
denominação de um dos primeiros afluentes do rio Paraíba do Norte, corroborando a 
possibilidade de ser o primitivo território da tribo. (apud Magalhães,307) Os índios 
Xukuru pertenciam à grande nação Tarairu, que lutaram ao lado dos holandeses contra os 
portugueses, durante o domínio holandês no Brasil (1630-1654). Após a expulsão dos 
holandeses, os índios Tarairu e Kariri sofreram represálias dos portugueses gerando então 
a denominada "Guerra dos Bárbaros" ou "Confederação dos Kariris", descrita pelo 
historiador Pedro Puntoni e que ocorreu de 1650 a 1720, sendo os índios inevitavelmente 
derrotados. (Puntoni) 
 Depois da retirada dos holandeses do nordeste do Brasil, os portugueses e seus 
colaboradores penetraram cada vez mais longe no sertão, para instituir nele as próprias 
normas e leis. Os índios que não queriam sujeitar-se a elas, foram combatidos e 
exterminados como inimigos. Também deviam ser castigados por terem sido os aliados dos 
odiados holandeses. Os portuguesess foram então melhor armados e organizados, 
possessos de anseio de terra, e estimulados por um intenso proselitismo religioso. Em face 
de semelhante superioridade, os Tarairú, havia pouco tão orgulhosos e conscientes de seu 
próprio valor, foram aniquilados em breve tempo. (Teensma,96) Não foi portanto por 
acaso que a transferência dos Xukuru para Palmeira dos Índios ocorre exatamente 20 anos 
após o término da guerra, segundo o próprio depoimento do vigário José de Maia Mello. 
(Antunes/2,47) 
 Além disso, os índios Xukuru tinham assinado uma capitulação com os portugueses em 
10/04/1692. Um dos maiorais que assinou o documento chamava-se Nhongugê e 
representava a aldeia Sucuru, que pertencia a mesma nação Janduin, sendo também 
cunhado de Canindé, rei dos Janduin, que tinha poder absoluto sobre 22 aldeias, situadas 
no sertão sobre as capitanias de Pernambuco, Itamaracá, Paraíba e Rio Grande, com uma 
população total de 13 a 14 mil indivíduos e 5.000 homens com arcos e destros nas armas de 
fogo. No documento reconhecem a soberania do rei de Portugal, solicitando, em 
retribuição, a liberdade natural em que nasceram e a liberdade de suas aldeias e que 
nunca os índios da nação Janduin possam ser escravizados, nem vendidos sob qualquer 
título. Os índios desejavam ser batizados e seguir a lei cristã. No tratado, também ficava 
reservada para cada aldeia, 10 léguas de terras. (Ennes, 62) 
 Em 20/05/1699, o rei Canindé morreria de "maleita" (malária), em Guaraíras, futura 
vila de Arez, sem ter sido batizado, por negligência dos jesuítas que aldearam os índios em 
região insalubre e junto com outras etnias, com quem os Janduim não se entendiam. 
(Ennes, 70-Puntoni, 265) 
 Em 1969, o Prof. Clóvis Antunes recolheu a seguinte melodia cantada durante as 
sessões do toré dos Xukuru-Kariri de Palmeira dos Índios: 
ôlê-ôlê Canindé 
ôlê-ôlê Canindé 
ôlê-ô Mestre Canindé 
 
O prefeito é Canindé 
ôlê-ôlê Canindé 
 
O padre é Canindé 
ôlê-ôlê Canindé 
 
Mestre Janduí é Canindé 
ôlê-ôlê Canindé. 
(Antunes/2, 105) 
 Quase 300 anos depois, os índios Xukuru de Palmeira ainda preservam a memória dos 
feitos do rei dos Janduim, que recebeu esse tratamento dos holandeses, por considerarem 
as etnias como reinos autônomos. (Puntoni, 159) Os portugueses, apesar de reverenciá-lo 
da mesma maneira, nunca reconheceram a autonomia das etnias indígenas. 
 Provavelmente os índios Xukuru que migraram para a Serra da Palmeira já estavam 
catequizados, já que o início do processo de catequese dos Xukuru da vila de Cimbres 
promovida pela Congregaçãodo Oratório inicia-se em 1683. Em 1746, havia 640 índios na 
aldeia de Ararobá, segundo autor anônimo.(Anônimo,179) Em 1817, Aires do Casal 
registra que as mulheres Xukuru de Cimbres trabalhavam em olaria com arte, fiavam e 
teciam algodão e faziam um pranto lúgubre quando os maridos não traziam caça do mato. 
Eram 472 indivíduos em 1817, segundo Casal. (Casal/II,191) Atualmente os Xukuru (6.000 
índíos), descendentes do rei Canindé, estão aldeados em Cimbres, no município de 
Pesqueira - PE.(Puntoni, 86) 
 4) Mas existem outras causas para explicar a migração dos índios para a região da 
Serra da Palmeira: as Guerras do Recôncavo baiano (1651-1679), assim como a opressão 
provocada pelos sesmeiros liderados pela dinastia dos Garcia d´Ávila da Casa da Torre de 
Salvador, que freqüentemente invadia as aldeias indígenas, já em processo de 
catequização, por diversas ordens religiosas, para criar gado ou até mesmo para prear 
índios, e, evidentemente, nos casos de reação violenta por parte dos índios, a simples e 
imediata guerra de extermínio, que, nesses casos, a legislação existente favorecia. (Puntoni) 
 O Pe. Martinho de Nantes narra em seu livro as lutas imensas travadas com a Casa da 
Torre, no período de 1672-1683, lideradas por Francisco Dias de Ávila, a quem eram 
atribuídas todas as terras do rio, 30 léguas abaixo até mais de 100 léguas para cima, por 
força de doação do rei de Portugal. Segundo Basílio de Magalhães, Dias d´Ávila era dono 
do maior latifúndio que já existiu no Brasil. (Magalhães,303) Por diversas vezes, as tropas 
de Ávila invadiram a aldeia dos índios e destruíram as plantações existentes na ilha de 
Acapará, dos índios Aramuru, da nação Kariri, aldeados e catequizados pelos padres 
capuchinhos e que falavam na época o dialeto dzubucúa da língua kariri.(Nantes,112 - 
Calmon,85) Além de possuir incontáveis terras na capitania da Bahia, liderou bandeiras 
na capitania de Pernambuco e iniciou o processo de conquista da capitania do Piauí, a 
partir de 1674, até então ocupada apenas pelos indíos conhecidos na época como tapuias 
do sertão. 
 Segundo o historiador Basílio de Magalhães, a conquista do nordeste tinha como 
objetivo o expurgo ou extermínio dos índios de propriedades imensas, previamente 
obtidas, gastando apenas papel e tinta em requerimentos de sesmarias. (Magalhães,310). 
Na verdade, os herdeiros da Casa da Torre, para poder estender seus domínios através do 
sertão tinham que submeter os índios tapuias, primitivos ocupantes do território, que 
segundo o padre Martinho de Nantes tinha sido erguida e enriquecida à custa dos pobres 
índios e, sobretudo, tendo se oposto tantas vezes, por interesse pessoal, à conversão deles 
ao cristianismo. (Nantes,97) 
 5) Juntamente com a chegada do primeiro Governador Geral, vieram 8 missionários 
jesuítas sob a chefia do Pe. Manoel da Nóbrega, com o objetivo de converter o gentio 
indígena à fé católica. Para isso era necessário combater os diferentes padrões culturais 
das etnias encontradas no litoral, as tribos pertencentes à nação Tupi, assim como as etnias 
tapuias encontradas no sertão, os índios Cariri e Tarairu. 
 Dez anos depois, o Pe. Manoel da Nóbrega reconhece que pregar a religião cristã aos 
gentios "era pregar para pedras no deserto". (Dourado,175) Diante do insucesso da 
catequese dos índios, a solução encontrada pelos jesuítas, diante de uma obra que custara 
tantos sacrifícios e se mostrara vã, foi o uso da força bruta como único modo de converter 
o índio, conforme afirmação do Pe. Anchieta: "não há melhor pregação do que espada e 
vara de ferro". O próprio Inácio de Loyola pressionou o monarca português para se 
resolver a "mandar para aqui (Brasil) uma força armada e numerosos exércitos, que dêem 
cabo de todos os malvados que resistem à pregação do Evangelho e os sujeitem ao jugo da 
escravidão; e honrem aos que se aproximarem de Cristo". (Gambini,204) 
 Mais tarde o Alvará de 28/04/1688 autorizava a escravização do índio que impedisse 
com mão armada a entrada aos sertões e a doutrina dos Santos Evangelhos. O que 
resultou da pregação missionária não foi, porém um índio convertido à fé cristã, mas um 
índio subjugado, domesticado, que, sentindo que seus costumes tribais estavam 
desmoralizados e constantemente condenados pelos padres, e não tendo assimilado a fé que 
lhe quiseram impor, não encontrava mais motivo nem força para viver. (B.Ribeiro/2,43) 
 O índio entrava então em estado de anomia, que segundo Mannheim, se refere a uma 
situação quando as bases da ação coletiva unificada começam a enfraquecer, a estrutura 
social tende a se partir e a produzir tal estado, que poderia ser descrito como uma espécie 
de vazio ou vácuo sociais que quase sempre leva ao suicídio, ao crime e à desordem, 
porque a existência individual não se vê mais enraizada em um ambiente social estável e 
integrado e grande parte da atividade da vida perde inteiramento o sentido. 
(Mannheim,22) 
 Verificada a inoperância do processo de catequese como instrumento de conversão, os 
jesuítas continuaram a trabalhar com o indígena nas aldeias, fazendo dele, principalmente 
seu auxiliar na atividade econômica das granjas, armazéns, currais, pescarias, fazendas, 
etc., constituindo na prática uma grande empresa mercantil e produtora de artigos rurais. 
Em 1750, os jesuítas possuíam no Pará 9 fazendas rurais e no Maranhão 6 fazendas de 
criação de gado. Entretanto o processo de redução missionária não contribuiu para a 
preservação física das etnias do nordeste, na medida em que tal processo levou ao 
desaparecimento de inúmeras etnias. Das 43 tribos históricas, localizadas no rio São 
Francisco, apenas 9 sobreviveram até hoje, e assim mesmo grandemente reduzidas em 
número, misturadas com outras raças. 
 A razão desse desaparecimento rápido parece terem sido as desesperadas guerras 
contra os portugueses, doenças intencionalmente introduzidas pelos portugueses, tais 
como, cólera, febre amarela, varíola, sarampo, tuberculose e doenças venéreas, ruína 
econômica e aculturação forçada com a população neo-brasileira. 
 A reclusão dos índios em reservas indígenas certamente contribuiu materialmente para 
o seu declínio, por causa da prevalência das doenças epidêmicas e da falta de meio de 
tratá-las. Além do mais, devem-se mencionar as devastadoras secas do nordeste. No 
período em que os índios percorriam de maneira nômade, o sertão, os índios podiam 
escapar melhor às calamidades, mas como "cativos da cruz" não o podiam. Em reservas, 
durante o período da seca, quando não era possível plantar, os índios não podiam deixar a 
aldeia e era insuficiente a ração alimentar fornecida pelo governo, conforme o depoimento 
de Hohenthal. (Hohenthal/1,42) 
 Mas, de qualquer forma, durante os primeiros séculos da colonização, as missões de 
índios foram um refúgio para índios vencidos, que tinham perdido seus territórios 
originais e, em tal situação, também seus costumes, língua, danças, música, etc. 
 Através do resumido relato do que foi o processo de colonização do Brasil e do nordeste 
em particular, onde o contato mais direto com as as frentes de expansão colonial 
submeteram os índios da região a um processo de transfiguração cultural muito intenso, 
podemos avaliar em que condições se deu a formação do povoamento de Palmeira dos 
Índios, pelo menos a partir do século XVIII, até quando conseguimos obter informações 
fidedignas. 
 Segundo Melatti, cada uma das atuais etnias do nordeste parece resultar de cisões e 
fusões que ocorreram ao longo de seu atribulado e secular contato com os europeus: 
envolvidos nas lutas entre portugueses e holandeses, primeiro, e depois somente tiveram asalternativas de recolherem-se a aldeamentos missionários ou serem alvo das investidas de 
criadores de gado e de bandeirantes, pressionados a abandonar suas identidades étnicas ou 
suas terras, principalmente depois da Lei de Terras de 1850 e finalmente hoje, algumas 
daquelas etnias que sobreviveram a todo esse processo, tem suas terras submersas pelas 
modernas barragens das hidrelétricas, ou afetadas pelos programas governamentais de 
remanejamento agrícola que as acompanham.(Melatti/1) 
 Entretanto durante todo o processo de conquista, os índios denominados "mansos", isto 
é, que tinham sobrevivido à catequese e escravização, para obter benefícios, eram 
compelidos a participar das guerras de extermínio promovidos pelas entradas e bandeiras, 
quase sempre embalados por falsas promessas. Portanto, o elemento principal, em que se 
apoiavam todas as entradas, foi a própria gente do país, os índios. Esta cooperação 
voluntária e na maioria, senão na totalidade das vezes, leal e desinteressada, foi sempre no 
fim das jornadas, retribuída com o cativeiro e com atrocidades. (Batista,219) 
 Nash cita que durante um ataque dos índios Aimoré à Bahia, o Governo solicitou de 
Pernambuco a remessa de uma força, formada por índios Potiguara. Ningúem senão um 
jesuíta poderia congregar a força necessária. Mediante o juramento de um dos sacerdotes 
a quem veneravam e em quem depositavam inteira confiança, de que, logo que terminasse 
a luta, eles poderiam voltar a Pernambuco, oitocentos índios reuniram seus guerreiros e 
puseram-se com suas famílias à disposição do jesuíta que os encaminhou aos funcionários 
do Governo. Quando essa força chegou a Salvador, o perigo tinha passado. O Governador 
então declarou-os solenemente rebeldes e como tais atacou-os e reduziu-os à escravidão! 
(Nash,163) 
 Com a criação do Diretório Indígena em 1757, o uso de idiomas nativos foi abolido e o 
regulamento exigia que os índios adotassem sobrenomes tirados de famílias de Portugal. 
Por isso já no século XIX, em Alagoas, somente se encontra referência de nomes de índios 
na nomenclatura binomial portuguesa. Apesar da proibição, a língua ainda continuou 
sendo falada secretamente durante todo o século. Entretanto, com as perseguições sofridas 
pelos índios de Palmeira, os índios mais velhos foram gradativamente deixando de falar a 
língua nativa e evitando ensiná-la aos mais jovens, com medo das represálias. Pelo menos o 
"Tuxá", José Francelino de Melo, falecido em 1940, com 101 anos, e José Firmino da Silva, 
nascido em 1901, sabiam falar a língua primitiva. Além disso a legislação estimulava a 
miscigenação através dos casamentos mistos e, no ambiente doméstico, o português acabou 
substituindo a língua nativa. Enfim o objetivo claro da legislação era "civilizar" 
definitivamente e eliminar a estrutura social indígena, seus costumes, língua, religião, 
enfim buscava atingir a assimilação definitiva do indígena brasileiro. (Malheiro/I,215) 
 Com a expulsão dos jesuítas em 1759, a direção das aldeias foi entregue a diretores 
leigos, cuja legislação, reservava aos diretores um sexto dos rendimentos da aldeia, 
estimulando-os a utilizar os índios como mão-de-obra para atingir seus interesses 
comerciais. O cargo oferecia tantos atrativos que, em Palmeira dos Índios, no ano de 1822, 
houve disputa pelo cargo entre três candidatos, escolhido finalmente pela câmara de 
vereadores de Anadia, sede da comarca, e confirmado pela Junta Governativa. 
(Torres/2,109) 
 A administração do Diretório estabelecia rigorosos regulamentos para serem 
cumpridos pelos Diretores dos Índios que deveriam agir com severidade e estabelecendo 
castigos aos índios que o desobedecessem, podendo recorrer aos juízes ordinários, 
vereadores e oficiais de justiça. Em 1759, a Secretaria de Governo da capitania de 
Pernambuco publicou um regulamento com 117 parágrafos, com base nos Alvarás de 1755 
e 1758, através do qual proibia até mesmo as atividades relacionadas com o culto do 
Ouricuri, "abolindo inteiramente o (bebida) das juremas, contrário aos bons costumes e 
nada útil, antes prejudicialíssimo à saúde das gentes." (Correa,129) O regulamento 
obrigava os índios a "uzarem vestidos decorozos e decentes, desterrando a desnudez,... não 
consentindo de modo algum andem nus, especialmente as mulheres." (Correa,130) As 
proibições incluíam também o uso da língua geral ou da língua própria das suas nações, o 
controle e mapeamento dos índios que desertavam ou que buscavam o refúgio nas matas, e 
até mesmo as choupanas deveriam ser substituídas, já que "para o aumento das povoações 
concorre muito a nobreza dos edifícios." (Correa,156) 
 - durante o império, os índios de Palmeira dos Índios foram recrutados militarmente e 
constituíram companhia de soldados, compondo pelo menos 3 companhias, duas Kariri e 
uma Xukuru, cada companhia com um mínimo de 50 índios. (Torres/1,20) Em diversos 
episódios históricos, os índios de Palmeira dos Índios foram recrutados para lutar, quase 
sempre assumindo posições ao lado do governo, tais como, na Confederação do Equador 
(1824), que, mesmo sem munição e armamento suficientes, as companhias de índios de 
Palmeira estavam dispostas a marchar para onde fosse determinado, para defender a 
aldeia dos ataque dos republicanos revoltosos. (Torres/1,28) Mais tarde, em 1865, 120 
índios foram recrutados para a Guerra do Paraguai. Os índios atuais ainda lembram 
alguns nomes dos que morreram defendendo "a honra nacional, ultrajada pelos 
paraguaios." Apenas um índio teria retornado, Pedro Ferreira, avô de Aristides Balbino 
Ferreira, nascido em 1926, que recebeu a patente de sargento, pelos feitos realizados 
durante a guerra. Por outro lado, outro índio de Palmeira, Luís Caborge, recrutado à 
força para a guerra, saltou do navio que o levava para o cenário da guerra e teria 
conseguido escapar. Da família Santana, hoje ocupando a aldeia da Mata da Cafurna, dos 
5 irmãos, 4 teriam sido convocados para a guerra e nenhum deles retornando. Da família 
Celestino, a tataravó de Antonio Celestino, Vevéia, contava que sua família possuía 8 
irmãos, e o único irmão homem fora "sorteado" para lutar na guerra e não voltara. 
 Enfim, em toda a história do relacionamento dos índios de Palmeira com os 
representantes da sociedade envolvente, os índios tem sido sempre trapaceados na maioria 
dos episódios. Para maior clareza vamos enumerá-los: 
 a) em 1822, a promessa de demarcação de uma légua em quadro foi cumprida, de 
acordo com a legislação colonial. Entretanto após a demarcação, nada mais se fez, e as 
terras continuaram sendo esbulhadas. 
 b) em 1861, durante a denominada "Questão Papacaceira", a demarcação de 1822, foi 
sentenciada pelo juiz de Anadia, apenas para atender o interesse dos proprietários de 
terras que tinham ocupado as terras indígenas, para se defenderem de uma ação judicial 
promovida pelos herdeiros da viúva que tinha doado meia légua de terras para o 
patrimônio da Igreja. 
 c) durante o século XIX, os documentos comprovam que os índios eram convocados 
para prestar serviços em obras públicas de responsabilidade do Estado, especialmente as 
obras insalubres, e não eram pagos, de acordo com o prometido. 
 d) a perda das terras, em muitos casos, ocorreu em virtude da ingenuidade dos índios 
que permitiam a ocupação de suas terras, em função do oferecimento de amizade e 
compadrio. Após a ocupação das terras, os índios acabavam perdendo o acesso às suas 
próprias terras e também a suposta amizade e o parentesco com o futuro proprietário de 
suas próprias terras! 
 e) em 1872, com a extinção das aldeias, promovido pelo Presidente da Província, sob a 
orientação do Governo Imperial,

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