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4º PERÍODO GASTROENTEROLOGIA 4º PERÍODO TAYNARA LOPES GASTROENTEROLOGIA 1 AULA 1 DISTÚRBIOS MOTORES DO ESÔFAGO O esôfago é dividido em: terço superior, terço médio e terço inferior. O terço superior é basicamente feito de musculatura estriada; logo abaixo da região da laringe está o esfíncter esofagiano superior, que é composto por essa musculatura estriada, cuja inervação é domínio do núcleo ambíguo, ou seja, tem inervação específica. Do terço medial ao distal tem-se musculatura lisa, inervada pelo núcleo dorsal do nervo vago. Então se tem duas inervações e dois tipos de musculatura que compõem o esôfago e isso é importante quando se fala em distúrbio motor do esôfago porque cada doença é específica de uma musculatura, facilitando, assim o diagnóstico a partir da região afetada. Processo fisiológico da deglutição: Quando nós deglutimos um alimento ou líquido, ativa-se o movimento de uma série de 20 músculos; quando se aumenta a pressão na parte posterior da língua para deglutir o alimento, é feita uma onda de alta pressão de contração positiva visualizada por manometria esofagiana – nessa região tem-se o aumento da pressão para empurrar o bolo alimentar. Quando se tem esse aumento, a musculatura do esfíncter superior relaxa, formando uma onda de pressão negativa, para logo depois haver força para empurrar o bolo. Relaxa, passa o alimento e empurra por contração para que essa onda siga ao longo do corpo do esôfago inteiro. Essa onda de contração vai progredindo para empurrar o alimento. Além disso, quando relaxamos o esfíncter superior, automaticamente se relaxa o esfíncter esofagiano inferior (EEI). Ou seja, o EEI está programado para relaxar quando se inicia o processo de deglutição, seja de saliva, líquidos ou comida. Esse esfíncter permanece relaxado até que a onda de contração que empurra o que foi deglutido termine. Quando o que está sendo deglutido passa para dentro do estomago, esse esfíncter novamente contrai e permanece em uma pressão de contração de repouso – fica contraído com aproximadamente 30 a 45 mmHg para que não haja refluxo (não volte para o esôfago). 4º PERÍODO TAYNARA LOPES GASTROENTEROLOGIA 2 Distúrbios motores do esôfago: são as doenças provenientes da alteração no processo fi- siológico. Existem vários tipos de distúrbios motores, podendo eles ser classificados em (1) pri- mários: são exclusivos do esôfago; envolvem problemas no músculo do órgão, no núcleo ambí- guo, nos nervos do esôfago. O mais importante é a acalasia, além do espasmo esofagiano difuso, esôfago hipercontrátil (dividido em quebra nozes e EEI hipertensivo), esôfago hipocontrátil (dis- túrbio de motilidade ineficaz e EEI hipotenso (geralmente associado à DRGE)) e (2) secundários: quando causados por várias doenças sistêmicas que comprometem secundariamente o esôfago; doença do colágeno, vascular, endócrinas e metabólicas, neuromusculares e envelhecimento. Distúrbios motores primários Distúrbios motores secundários Acalasia Doenças do colágeno e vasculares Espasmo esofagiano difuso Doenças endócrinas e metabólicas Esôfago hipercontrátil Esôfago em quebra nozes Doenças neuromusculares EEI hipertensivo Esôfago hipocontrátil Motilidade ineficaz Envelhecimento EEI hipotenso ACALASIA: é o mais importante e mais frequente distúrbio. Compromete a musculatura lisa, ou seja, os dois terços distais do esôfago (domínio do nervo vago). Essa musculatura vai ter uma perda da peristalse, um enfraquecimento, uma diminuição da contratilidade, ou seja, uma perda de contração do esôfago da parte afetada e uma alteração do EEI (relaxamento). São duas coisas que a caracterizam: (1) perda do tônus muscular – é a força de contração do esôfago médio distal e (2) um defeito no relaxamento do esfíncter. Acalasia é um distúrbio motor do esôfago que compromete a musculatura lisa e se caracteriza pela perda da peristalse do corpo esofagiano e por defeito no relaxamento do EIE. Causas: no Brasil uma das causas mais importantes (principalmente nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste) é a doença de Chagas. Na parte Sul nós temos muito mais casos de origem autoimune, familiar ou, então, idiopática-viral. Autoimune: acontece depósito de anticorpos contra neurônios, levando à destruição de neurônios do plexo mioentérico. Isso faz uma alteração nos estímulos nervosos enviados para o esôfago, de modo que o órgão perde a peristalse. 4º PERÍODO TAYNARA LOPES GASTROENTEROLOGIA 3 Doença de Chagas: existe uma neurotoxicidade na natureza da doença pela própria presença do Trypanosoma, que leva à produção de substâncias neurolíticas, as quais, provavelmente, destroem os neurônios. Há, ainda, um componente autoimune que vai colaborar para a doença. Idiopática-viral: se imagina que a pessoa teve uma virose em alguma fase da vida e passou a produzir anticorpos, dentre os quais alguns, eventualmente, eram neurolíticos e agiam destruindo o plexo mioentérico, ocasionando, posteriormente, uma alteração da motilidade do esôfago. Fisiopatologia: seja de qual natureza for, o que se tem, basicamente, é uma destruição do plexo mioentérico do esôfago, com redução das células ganglionares do plexo de Auerbach, degeneração das fibras aferentes do nervo vago, alterações do núcleo motor dorsal do nervo vago e perda dos neurônios inibitórios do plexo mioentérico. Tem-se um mecanismo que afeta o EEI e a musculatura lisa do órgão; como existe uma perda dos neurônios inibitórios do esfíncter, ele não consegue relaxar adequadamente, sempre mantendo uma pressão mais alta pela contração. Um esôfago que está com a musculatura enfraquecida pela destruição do plexo mioentérico não tem estimulo motor (não contrai) e o seu EIE não relaxa; assim, quando a pessoa come, a comida para e não tem como ir para o estômago porque o esôfago não empurra e o esfíncter não abre. Isso acontece caracteristicamente na acalasia. Clinicamente: o paciente tem disfagia (come e sente que o alimento não desce pelo tubo digestório), que geralmente é do tipo baixa (quando o alimento para no terço médio distal do esôfago). Normalmente essa disfagia é lenta e progressiva – começa aos sólidos, dias depois aos pastosos e, por último, aos líquidos. Entretanto, pode ser paradoxal: em um dia o paciente não consegue ingerir líquidos, no dia seguinte não consegue ingerir sólidos e no outro volta a não conseguir ingerir líquidos novamente, ou seja, não segue uma ordem de progressão. Apesar disso, a grande maioria é evolutiva. *Alguns pacientes falam que a comida enrosca na garganta: isso é disfagia alta. Quando o paciente diz que a comida para no peito, é disfagia baixa. Isso é importante porque indica qual nervo e qual músculo está comprometido – lisa ou estriada? Permite exclusão de doenças. Além disso, o paciente pode apresentar regurgitação (por acumular comida no esôfago; é mais comum após as refeições e à noite, quando o paciente se deita, pois não tem gravidade para ajudar na digestão) e retardo no esvaziamento esofágico na ausência de uma obstrução crônica (é um problema mecânico do órgão, pois não existe nada obstruindo a passagem do alimento). Quanto mais grave for a doença, mais difícil é fazer a digestão e mais o paciente regurgita. Como o paciente regurgita, não é raro que faça aspiração, situação em que gotículas do alimento vão para o pulmão, podendo causar tosse 4º PERÍODO TAYNARA LOPES GASTROENTEROLOGIA 4 e, até mesmo, pneumonia. Em casos mais avançados há perda de peso, por falta de alimentação (já que o alimento não chega ao estômago para ser digerido).Pode haver, ainda, pirose (queimação retroesternal, azia) e dor torácica, mas são incomuns. Evolução: megaesôfago. O esôfago com acalasia começa a dilatar e isso acontece porque o órgão começa a virar um reservatório de alimentos, já que o EIE não abre, a musculatura do corpo do esôfago não contrai e o alimento não passa para o estomago. Diagnóstico: é feito pela verificação da sorologia positiva para Chagas (provavelmente é a causa da doença), endoscopia digestiva alta (aplicação restrita), exame radiológico (muito importante) e manometria esofagiana (padrão ouro = melhor exame para o diagnóstico). EDA: não é tão útil assim para megaesôfago, principalmente nos estágios iniciais da doença. É útil apenas para excluir outros processos obstrutivos; para excluir neoplasia em pacientes com disfagia e estenose péptica (quando o paciente tem DRGE, há bloqueio do esôfago por regurgitação), ou seja, é boa para excluir lesões orgânicas e mecânicas que fazem disfagia. Também pode verificar resíduos alimentares e acúmulo de saliva, indicando que o esvaziamento do esôfago não está adequado. Em grau II de megaesôfago é possível verificar o aumento do calibre do órgão. Exame radiológico é importante porque classifica (gradua) o megaesôfago. Pede-se um esôfago contrastado ou seriografia, exame em que o paciente ingere bário, um contraste, e é radiografado – à medida que o bário vai descendo pelo tubo digestivo, o paciente está num radioscópio que vai tirando fotos, as quais permitem ver como esse trajeto é realizado. A seriografia é pedida para se visualizar o retardo da passagem do bário ao longo do esôfago no paciente com acalasia; não consegue ser empurrado com rapidez, ficando uma coluna dessa substância armazenada no órgão. Como existe uma redução ou ausência da peristalse, percebe-se que o esôfago não contrai e está dilatado no exame: a parte distal contém bário (fica branco na imagem do rx) e acima fica uma coluna de ar (cor negra) chamada de nível hidroaéreo. O esôfago distal fica num aspecto de bico de pássaro, bico de pena ou chama de vela e isso acontece por causa do espasmo do fechamento do EIE (cardioespasmo – contração da musculatura na cárdia). Megaesôfago grau I tem-se o órgão com um calibre ainda normal (até 3 cm), não muito dilatado. O esôfago não se contrai e o bário mancha a parede, deixando sua visualização nítida; vê-se a coluna de bário, seu 4º PERÍODO TAYNARA LOPES GASTROENTEROLOGIA 5 transito lento, sem contração esofágica e cardioespasmo (pois o EIE não está se abrindo adequadamente). Megaesôfago grau II: o esôfago já começa a dilatar (tem 4 a 7 cm de diâmetro), há retenção de contraste mais importante e o bico de pássaro já passa a ser mais visível (indica que o EIE não relaxa para a passagem do bário, ele fica estagnado dentro do esôfago, é retido de maneira mais visível). O órgão não tem contração (a parede fica parada, imóvel), inclusive se visualizam resíduos de alimentos sólidos. Megaesôfago grau III: o calibre do órgão fica entre 7 e 10 cm – esboça contrações, mas descoordenadas, não propulsivas, para empurrar a comida. Contraem-se vários locais ao mesmo tempo. Vê-se nível hidroaéreo em que se tem uma divisa, separando a coluna de bário com o ar. Megaesôfago grau IV: visualiza-se uma dilatação maior que 10 cm; está tão dilatado, pesado e cheio de resíduos, que deita sobre o diafragma – fica cheio de comida, resíduo e saliva. Existe uma grande retenção de alimento e o esôfago está muito dilatado, parado. É também chamado de dólecomegaesôfago. Manometria esofagiana: é o melhor exame para diagnóstico. Coloca-se no paciente uma sonda pelo nariz, até atingir o esôfago, que tem um manômetro, um aparelho com medidor de pressão conectado a um computador. A sonda é colocada no paciente e por medidas de pressão se verifica onde está o terço superior, médio e distal. Isso é possível porque à medida que a sonda é posicionada, ela tem vários marcadores de pressão e se sabe aproximadamente como é a pressão do esfíncter superior, do corpo esofágico e do esfíncter inferior. Mede-se primeiro com o GRAU I GRAU II GRAU II GRAU III GRAU IV 4º PERÍODO TAYNARA LOPES GASTROENTEROLOGIA 6 paciente em repouso, depois deglutindo saliva, depois deglutindo água e depois comida pastosa; à medida que o paciente deglute, formam-se ondas peristálticas que formam um gráfico. A análise desse gráfico resultante permite dizer se está normal ou não; o normal é que o ESE relaxe na deglutição e depois contraia, assim como a faringe se contrai em seguida e assim por diante até o estômago. O gráfico tem varias ondas indicando a propulsão. Toda vez que o ESE relaxa, o EIE também relaxa até a passagem do bolo alimentar e depois eles sobem essa pressão, mantendo-a entre 30 a 45 mmHg. Na acalasia não há movimento do corpo do esôfago, então as ondas peristálticas não vão acontecer. Além disso, o EIE não relaxa. Vê-se no exame, então, uma ausência de peristalse no corpo do esôfago, um relaxamento incompleto ou anormal do EIE ou uma pressão elevada dele. No gráfico não existem ondas lineares, são desorganizadas. Complicações: megaesôfago, aspiração (pode causar abscessos ou pneumonia), bezoar (acúmulo de resíduo dentro do esôfago que vai se solidificando e forma uma massa firme, dura, dentro do órgão), divertículo do esôfago (acontece por causa do peso do esôfago – é tão grande às vezes há uma herniação da parede do esôfago, causando o divertículo por causa do megaesôfago; o grande problema é que causa um processo inflamatório no órgão, que acaba às vezes por romper o divertículo e ocasionar uma fístula (comunicação do esôfago com qualquer estrutura que estiver próxima a ele)) e carcinoma de esôfago (devido ao processo inflamatório pela estase de alimento na parede do esôfago pode haver mutações celulares – pacientes com acalasia têm 33x mais frequente o desenvolvimento dessa neoplasia). Tratamento: quando a acalasia começa, ou seja, quando o paciente está nos primeiros sintomas, é importante fazer orientações alimentares (mastigar bem a comida, deglutir com calma) e medicação. Entretanto, nas acalasias mais evoluídas, há tratamentos mais agressivos (endoscópicos ou cirúrgicos). Tratamento farmacológico: trata-se a doença apenas na fase inicial, quando ainda não se desenvolveu o megaesôfago ou desenvolveu 4º PERÍODO TAYNARA LOPES GASTROENTEROLOGIA 7 apenas o grau I. Acima do grau II a doença já está avançada e não adianta medicar. Usam-se medicamentos que relaxam a musculatura lisa do EIE e reduzem a sua pressão (deseja se atuar na cárdia). Relaxando essa musculatura, a comida escoa para o estômago por gravidade. Esses medicamentos são nitratos e bloqueadores de canal de cálcio (dinitrato de isossorbida, nifedipina e diltiazem). Antes da alimentação o paciente deve colocar um comprimido de isossorbida embaixo da língua até o EIE relaxar. Os dois outros ajudam a diminuir a pressão também. O mais usado é diltiazem porque causa menos alteração de PA, já que não está se tratando uma hipertensão – um tempo antes da alimentação, paciente ingere o comprimido, espera haver relaxamento do EIE (leva mais tempo que o isossorbida, em média meia hora). Tratamento endoscópico: para megaesôfago grau II, III e IV. Pode ser por: (1) injeção de toxina botulínica – relaxa a musculatura; é injetada na cárdia através de um endoscópio com uma agulha. Injetou a toxina, essa musculatura abre, relaxa e o paciente consegue se alimentar. É de difícil execução e o paciente apresenta apenas uma melhoratransitória (dura de 4 a 6 meses) e é caro; e por (2) dilatação pneumática do esôfago com balão – o balão pneumático é um balão que entra no endoscópio por um fio-guia, murcho, e depois, dentro do esôfago, é posicionado na região da cárdia e insuflado, até que a pressão feita seja capaz de abrir o EIE. A partir dessa abertura, o endoscopista deixa o balão inflado na cárdia por uns 5 minutos, aguardando a pressão dilatar a luz. Depois que desinsufla e retira o balão, observa-se uma abertura da cárdia. É o tratamento de escolha na acalasia para grau I que não responde ao medicamento – melhora os sintomas em 70 a 80%. As dilatações podem ser seriadas, feitas a cada 15 dias ou 6 meses – varia do paciente. Apresenta um ótimo resultado para grau II e III, mas ruim para grau IV. (1) (2) 4º PERÍODO TAYNARA LOPES GASTROENTEROLOGIA 8 Tratamento cirúrgico: quando a dilatação pneumática já não ajuda mais ou o paciente tem megaesôfago grau IV, a escolha é fazer a cardiomiotomia Heller – o cirurgião chega ao esôfago por vídeolaparoscopia, de acesso abdominal, traciona o órgão, o posiciona dentro do abdome e faz um corte longitudinal na musculatura esofagiana; quando é feito esse corte na região da cárdia, expõe-se o esôfago e com isso o esôfago com cardioespasmo faz uma dilatação por corte da musculatura. Cortando essa musculatura, o esôfago fica mais aberto. O grande problema é o refluxo – à medida que se abre essa região da cárdia, o que estiver dentro do estômago pode voltar para o esôfago. Outra técnica é fazer cardiomiotopia e fundoplicatura (gastrofundoplicatura) juntas – anastomosa-se o fundo gástrico à região do corte, para evitar um pouco o refluxo. Nos pacientes com dólecomegaesofago, totalmente comprometido, não tem como preservar o órgão e o melhor é fazer esofagectomia – é feita uma anastomose do esôfago superior (musculatura estriada) com o estômago, de modo que o estômago passe a ser intratorácico. ESPASMO ESOFAGIANO DIFUSO: não é muito frequente. Não se sabe sobre sua etiologia, nem fisiopatologia; nada é muito definido, apenas suposições literárias não usadas. Clinicamente: espasmo (contração), podendo causar dor torácica retroesternal. Basicamente a clinica é dor torácica. O comprometimento dessa doença é basicamente o esôfago médio distal, ou seja, musculatura lisa, que se contrai repentinamente, causando a dor. A dor simula angina pectoris, pode se irradiar para a mandíbula ou para a região interescapular (lembra muito uma dor cardíaca). Não está obrigatoriamente associada à deglutição, mas quando o paciente ingere algo muito quente ou muito frio, pode desencadear espasmo (os extremos de temperatura podem causar dor) e pode ser desencadeada em momentos de estresse e tensão. Pode acontecer durante o dia e noite (paciente pode ate acordar por essa dor). Diagnóstico: o padrão ouro é a manometria, confirmando-se na radiografia. Radiografia: no rx o esôfago tem aspecto de saca-rolhas. Há várias contrações, chamadas de ondas terciárias – não são secundárias a um movimento de deglutição (seria uniforme, normal na manometria), ou seja, são várias ondas simultâneas, descoordenadas e que às vezes não dependem da deglutição. 4º PERÍODO TAYNARA LOPES GASTROENTEROLOGIA 9 Manometria: o problema é que, às vezes, na hora do exame, o paciente pode não estar fazendo espasmos, comprometendo a veracidade do exame (na acalasia a qualquer hora pode ser feita a manometria); o paciente pode ter espasmos 1x por ano, por exemplo. Quando há alteração, observam-se ondas de contração simultâneas, o que não poderia acontecer – cada onda deveria estar posicionada em seu devido lugar no gráfico e não no mesmo lugar ao mesmo tempo. Ondas simultâneas em mais de 20% das deglutições durante a manometria caracterizam espasmo esofagiano difuso. ESÔFAGO EM QUEBRA NOZES: alteração da contratilidade do órgão. A etiologia e a fisiopatologia também são desconhecidas. Entretanto, é uma situação frequente, acontece em 27- 40% dos distúrbios motores do esôfago. É uma doença que pode evoluir para um espasmo difuso ou acalasia - parece que nessa doença existe lesão do nervo vago, no seu núcleo dorsal. A real situação que leva o paciente a não fazer de cara acalasia ao invés de quebra nozes é inexplicada. É uma doença associada à DRGE. Clinicamente: o paciente apresenta dor torácica, com disfagia intermitente (não muito comum, acomete menos de 30% dos casos) e pirose frequente (por causa da DRGE associada). É a principal causa de dor torácica não cardíaca. É o mesmo tipo de dor do espasmo esofagiano, acontece a qualquer momento. Diagnóstico: Radiologia: têm-se ondas terciárias, várias ondas de contração sem deglutição e o aspecto é de quebra nozes. Observam-se ondas de contração simultâneas, parecendo o aparelho que quebra nozes. Manometria: basicamente vê-se uma pressão brutal de contração do esôfago – normalmente a pressão de contração peristáltica do corpo do esôfago varia de 90 a 140 mmHg; nessa patologia a pressão varia em até 2x mais, o que é muito alto, ou seja, tem-se uma alta pressão de contração. 4º PERÍODO TAYNARA LOPES GASTROENTEROLOGIA 10 ESFÍNCTER ESOFAGIANO INFERIOR HIPERTENSIVO: situação rara, também com etiologia e fisiologia desconhecidas. Clinicamente: o paciente pode ter dor torácica e disfagia. O EIE não relaxa adequadamente. Diagnóstico: no rx não se encontra nada, o estudo contrastado com bário é normal. Na manometria tem-se o aumento da pressão do EIE (> 45mmHg), mas as ondas peristálticas estão normais. O paciente não evolui para megaesôfago porque o corpo do esôfago tem peristalse normal (a pressão da peristalse é superior à pressão do EIE (>140 mmHg) quando contraído). Tratamento dos três últimos casos: tanto no espasmo difuso como no esôfago em quebra nozes e no EIE hipertensivo o tratamento é medicamentoso, buscando relaxar a musculatura. Os mesmos remédios para acalasia são uteis: bloqueadores de canal de cálcio, além de anticolinérgicos (como buscopam). Esses pacientes não têm sintomas contínuos, portanto o tto não é tão comum; é de demanda, só é feito quando precisa, ou seja, quando o paciente tem dor. Uma questão interessante é que esses pacientes se beneficiam muito com psicotrópicos – provavelmente o estresse emocional potencializa as patologias, dando mais sintomas, por isso podem ser usados esses medicamentos, como antidepressivos (mais usados – relaxam muito bem a musculatura; amitriptilina, imipramina e trazodona) e ansiolíticos (benzodiazepínicos como lorazepan e buspirona). Os psicotrópicos podem acalmar os sintomas do paciente. MOTILIDADE ESOFAGIANA INEFICAZ: é um esôfago que não tem força para contrair adequadamente; não tem onda peristáltica com força de contração, sem amplitude de contração boa – a pressão não atinge o necessário (90-140mmHg), fica em 30 ou abaixo de 30 mmHg. Essas ondas não têm força de propagação, então não empurram para o estômago o que está sendo ingerido. Esses pacientes podem também ter uma alteração no relaxamento do EIE, podendo ter associada uma hipotonia do EIE, causando DRGE (acontece na metade dos pacientes). Clinicamente: pirose, disfagia (geralmente baixa, pois quando o paciente come, o esôfago não tem força para empurrar a comida) e dor torácica. Os sintomas geralmente se alternam, não acontecem em conjunto. DISTÚRBIOS MOTORES SECUNDÁRIOS: (1) doenças do colágeno e vasculares: causam distúrbio de motilidade ineficaz. Podem ser: esclerose sistêmica progressiva, doença mista do tecido conjuntivo, dermatopolimiosite,lúpus, artrite reumatoide, artrite juvenil, vasculites, síndrome de Sjögren e miscelânia. (2) Distúrbios endócrinos e metabólicos: diabetes mellitus - o 4º PERÍODO TAYNARA LOPES GASTROENTEROLOGIA 11 DM de longa duração e mal controlado vai fazer lesão do nervo vago, processo chamado de neuropatia visceral; tem-se, então, uma destruição do SN autônomo, que faz com que não haja o estímulo motor. Assim o nervo vago não faz com que o TGI contraia. Clinicamente o paciente tem disfagia, pirose e regurgitação (sintomas de refluxo e de dificuldade de progressão do alimento). Na manometria têm-se ondas fracas, que n se propagam, com baixa amplitude e distúrbio de motilidade ineficaz. O tratamento é controlar o diabetes, evitando que chegue ao distúrbio da motilidade ineficaz. Usam-se IBPs (se necessários, quando o paciente tem sintoma do refluxo) e procinéticos (aumentam a contração do esôfago distal e a pressão do EIE – não têm resposta muito boa). (3) Doenças neuromusculares: comprometem o esôfago proximal, principalmente AVC, distrofia miotônica, miastenia gravis, esclerose múltipla, Parkinson e esclerose lateral amiotrófica. São doenças neurológicas que comprometem a musculatura estriada, o ESE e estão relacionadas ao núcleo ambíguo. Nessas doenças, os pacientes podem desenvolver manifestações esofagianas, como disfagia alta (às vezes eles não conseguem engolir a comida, por isso se afogam com facilidade), há aspiração e regurgitação nasofaríngea (acumula secreção). Esses distúrbios não comprometem o esôfago médio e distal! Na manometria verifica-se diminuição da contração faríngea e do ESE e diminuição da peristalse do esôfago proximal – diminuição de movimento na parte superior do esôfago. Não tem tratamento gástrico, apenas neurológico, eventualmente com fonoterapia para ajudar, ou então o paciente recebe sonda de alimentação (em casos mais graves), gastrostomia (sonda para dentro do estomago a partir da parede do abdome) ou enterostomia (sonda para dentro do intestino a partir da parede do abdome). 4º PERÍODO TAYNARA LOPES GASTROENTEROLOGIA 12 CASO CLÍNICO I ID: homem de 44 anos, comerciante, natural e procedente de Curitiba. QP: azia HMA: há 4 anos iniciou com pirose retroesternal, regurgitação pós-prandial e às vezes quando deita. Raramente apresenta dor torácica sem fator desencadeante. Há 6 meses refere também tosse seca, sem febre ou dispneia. Foi avaliado pelo pneumologista, mas nada foi encontrado. Nega outros sintomas gastrointestinais. HMP: HAS em uso de losartana 50mg/dia e ansiedade em uso de alprazolam 0,25mg/dia. HMF: pai com sintomas semelhantes desde a adolescência e mãe colecistectomizada CHV: tabagista de 5 cigarros ao dia há 20 anos, etilista de cerveja nos fins de semana, aproximadamente 6-10 latas ao dia, alimentação com pouca fibra e muita proteína animal e sedentário. RS: ganho de 10 kg em cerca de 5 anos. Ao exame físico: PA: 130/90mmHg FC: 78bpm Temperatura axilar: 36,4oC Peso: 91Kg (IMC 28 = sobrepeso. Precisa emagrecer, mesmo que 10kg em 5 anos não sejam muito) Altura: 1,78m Paciente corado, hidratado, anictérico e eupneico. Exame da cabeça, tórax e membros sem alterações. Abdome plano, RHA+, flácido, indolor, sem visceromegalias e timpanismo normal. Tutorial (10/08): As principais informações do caso são: pirose, regurgitação, dor torácica, tosse seca, tabagismo, alcoolismo, sobrepeso, sedentarismo e dieta irregular. O exame físico está ok. 4º PERÍODO TAYNARA LOPES GASTROENTEROLOGIA 13 Dx diferenciais para o caso: DRGE, esofagite (pode ser infecciosa, por droga e eosinofílica), acalasia, úlcera péptica, gastrite e neoplasia. A principal causa de esofagite infecciosa é a candidíase, seguida pelo citomegalovírus e herpes simples (esofagite herpética); por bactéria é muito raro (faz mais episódios de esofagite pós-operatória). A esofagite causada por droga é comum com o uso de alendronato, para osteoporose; tem poder de “parar” no esôfago, levando a uma inflamação ao redor do comprimido ingerido, que ocasiona sintomas como disfagia e lesão local (onde está o comprimido). A esofagite cáustica ocorre pela ingesta de soda cáustica acidentalmente ou por tentativa de suicídio – é outra causa de esofagite por droga. A esofagite eosinofílica é uma reação alérgica alimentar em que não se identifica direito o alimento, mas se tem um infiltrado eosinofílico no esôfago – o sintoma principal é a parada do alimento no esôfago, tratada com corticoide – é o grande dx diferencial para DRGE. Complicações da DRGE: estenose péptica, neoplasia e esôfago de Barrett. A hérnia de hiato é uma causa para a doença e não uma complicação. - Sintomas típicos do refluxo: pirose e regurgitação. - Sintomas atípicos do refluxo: tosse seca e dor torácica. Não necessariamente o paciente precisa ter os sintomas típicos para ser diagnosticado; pode ter só os atípicos. A DRGE pode ter sintomas de disfagia por estenose péptica, neoplasia, anel de Schatzki (em que a mucosa do esôfago começa a proliferar e faz um anel dentro do esôfago, diminuindo a luz esofágica) e distúrbio motor associado à motilidade do esôfago. Úlcera péptica e gastrite não são dx diferenciais tão relacionados à DRGE porque os sintomas são diferentes. Barrett é uma metaplasia intestinal colunar COMPLETA – não faz disfagia, além dos sintomas do refluxo. Entretanto, se desenvolver um adenocarcinoma, faz disfagia sim. Existem dois tipos principais de hérnia de hiato: (1) por deslizamento – está associada à DRGE - o estômago se estende por cima do pinçamento diafragmático e (2) paraesofágica – a transição esofagogástrica está no pinçamento correto, mas o fundo gástrico faz herniação para dentro do tórax. Nem todo paciente com hérnia de hiato tem DRGE porque o clearance do meu esôfago pode ser o suficiente para não causar lesões, distúrbios e sintomas dessa doença. A endoscopia é pedida para pacientes com mais de 40 anos, com sinais de alerta (emagrecimento, sangramento, anemia, disfagia) para procurar por problemas mais agressivos. Um desses pontos é o suficiente para se pedir a endoscopia. 4º PERÍODO TAYNARA LOPES GASTROENTEROLOGIA 14 O melhor exame é a pHmetria, indica se tem ou não tem a DRGE – se o paciente diz que tem azia, não precisa ser feito o exame. É importante fazer esse exame quando o paciente tem apenas os sintomas atípicos, pois ajuda. É um exame desconfortável – a sonda é posicionada no esôfago durante 24h. Prova terapêutica: deixa o paciente tomando 2 meses medicamentos para DRGE e observa se houve melhora. Aí não precisa fazer a pHmetria. Pcte com DRGE: primeiro exame a ser pedido é a endoscopia, seguida por pHmetria (impedância é melhor ainda). A manometria é indicada para dx diferencial com acalasia e como exame pré-operatório – não serve para dx. Tto: IBP – omeprazol por 12 semanas. É refratária se não melhora depois de 12 semanas de IBP em dose dobrada. No tempo certo, com tratamento certo, haverá cicatrização da doença. Anti-ácido – alivia sintomas. Hidróxido de magnésio. 1- Qual o diagnóstico provável? Justifique utilizando os sintomas clínicos. Doença do refluxo gastroesofágico, pois apresenta pirose retroesternal com regurgitação do conteúdo gástrico, principalmente após se alimentar. Além disso, apresenta tosse seca crônica, considerada como um sintoma extraesofágico. É um refluxo atípico. 2- Descreva a fisiopatologia desta doença. O refluxo gastroesofágico é o deslocamento sem esforço do conteúdo gástrico do estomago para o esôfago. Desde que nãohaja sintomas ou sinais de lesão mucosa, pode ser considerado um processo fisiológico. A etiologia da patologia é multifatorial. Tanto os sintomas quanto as lesões teciduais resultam do contato da mucosa com o conteúdo gástrico que refluiu, decorrentes de falha em uma ou mais das seguintes defesas do esôfago: (1) barreira anti-refluxo, (2) mecanismos de depuração in- traluminal e (3) resistência intrínseca do epitélio. (1) Barreira anti-refluxo: é a principal proteção. É composta pelo esfíncter inferior do esôfago (esfíncter interno - EIE) e esfíncter externo (formado pela porção crural do diafragma). O EIE se mantém fechado em repouso e relaxa com a deglutição e com a distensão gástrica. O relaxamento não relacionado com a deglutição é chamado de relaxamento transitório do esfíncter interno do esôfago, sendo considerado o principal mecanismo fisiopatológico as- sociado à DRGE. Em pacientes com formas graves de DRGE a pressão de repouso do EIE está diminuída. Muitas substâncias afetam essa pressão: (1) colecistocinina – CCK - é responsável pela diminuição dessa pressão, observada após a ingestão de gorduras; outros neu- 4º PERÍODO TAYNARA LOPES GASTROENTEROLOGIA 15 rotransmissores, como óxido nítrico (NO) e o peptídeo intestinal vasoativo (VIP). Ou- tro parâmetro para avaliar a função do EIE é o comprimento total e o comprimento abdominal – são valorizados quando diminuídos. A presença de hérnia de hiato con- tribui para o funcionamento inadequado da barreira através da dissociação entre o esfíncter externo e o interno e do refluxo sobreposto (fluxo retrógrado do conteúdo refluxado preso no saco herniário para a porção tubular do esôfago). A distensão gástrica, principalmente após as refeições, contribui para o refluxo, assim como o retardo do esvaziamento gástrico, o aumento da pressão intragástrica (ambos pre- sentes quando há obstrução ou semi-obstrução antropilórica) e alteração da secre- ção gástrica (embora menos frequente). (2) Mecanismos de depuração intraluminal: a depuração do material refluxado presente na luz do esôfago decorre de uma combinação de mecanismos mecânicos (retirando a maior quantidade do volume refluído, através do peristaltismo e da gravidade) e químicos (neutralização do conteúdo residual pela saliva ou pela mucosa). A alteração do peristaltismo pode ser primária (distúrbios motores do esôfago) ou secundária (em doenças do tecido conjuntivo). A diminuição do fluxo salivar pode ser secundária à síndrome de Sjögren ou ao uso de diversos medicamentos. A depuração do ácido pela saliva não é instantânea – episódios de refluxo noturno, na posição supina, são duradouros e têm grandes chances de causar lesão mucosa devido à diminuição do fluxo de saliva associada à falta de ação da gravidade. (3) Resistência intrínseca do epitélio: engloba três mecanismos de defesa: (a) pré-epitelial – composta por muco, bicarbonato e água no lúmen do esôfago, formando uma barreira fí- sico-química, que é pouco desenvolvida no esôfago, em comparação à mucosa gástrica e duodenal; (b) epitelial – junções intercelulares firmes, características do epitélio estratifi- cado pavimentoso, o que dificulta a retrodifusão de íons e substâncias tamponadoras in- tersticiais e (c) pós-epitelial – suprimento sanguíneo, responsável tanto pelo aporte de oxi- gênio e nutrientes quanto pela remoção de metabólitos. 3- Quais as complicações mais frequentes? Esofagite erosiva – paciente apresenta alterações fisiológicas mais claras. A visualização endoscópica mostra erosões esofágicas e sela o diagnóstico de DRGE. Estenose péptica – não existem fatores que possam predizer sobre a tendência evolutiva para estenoses esofágicas, pois a DRGE não se associa com essa tendência. Esôfago de Barret – é a condição em que um epitélio colunar associado à metaplasia intestinal substitui o epitélio escamoso normal que recobre o esôfago distal. O exame histopatológico 4º PERÍODO TAYNARA LOPES GASTROENTEROLOGIA 16 evidencia uma forma incompleta de metaplasia intestinal. A grande preocupação é essas células sofrerem alterações genéticas associadas ao adenocarcinoma. Sintomas de alarme: odinofagia, disfagia, sangramento, anemia e emagrecimento. 4- A investigação é sempre necessária? Como podemos investigar? Não. A identificação dos sintomas cardinais, como pirose e regurgitação, permite um diagnóstico presuntivo da DRGE, sem a necessidade da realização de outros exames complementares. Entretanto, exames complementares para o dx podem ser: (1) pHmetria esofágica prolon- gada – não é padrão ouro porque apresenta limitações, pois esse exame mede apenas um aspecto fisiopatológico da doença, que é multifatorial. Outros fatores além da exposição ácida vão deter- minar a presença ou ausência de sintomas e de lesões epiteliais, como sensibilidade e resistência da mucosa e presença de outras substâncias no refluxado, além do ácido. Além disso, os sintomas da DRGE podem variar de um momento para o outro, o que torna uma única avaliação de exposi- ção ácida passível de subestimar o refluxo; (2) impedância – permite a identificação do refluxo gastresofágico independente de seu pH e de seu estado. Possibilita a avaliação qualitativa do tipo de refluxo (ácido ou fracamente ácido), seu alcance proximal, sua composição (liquido, gasoso ou misto), bem como seu tempo de clearance. É indicado para pacientes com sintomas típicos ou ex- traesofágicos atribuídos à DRGE que não responderam de forma completa ao tratamento com ini- bidores de prótons; (3) endoscopia digestiva alta – é o padrão ouro para avaliação de alterações da mucosa secundárias à DRGE e para coleta de fragmentos esofágicos para biopsia. É indicada para excluir outras doenças ou complicações da DRGE (principalmente em pacientes com sintomas de alerta), pesquisar esôfago de Barret, avaliar a gravidade da esofagite, orientar o tratamento e fornecer informações sobre a tendência de cronicidade do processo. A investigação de biópsias é importante para o dx diferencial com a esofagite eosinofílica; (3) estudos radiológicos – cintilografia (ao invés de bário, usa-se outro material marcador) e esofagograma com bário (seriografia = raio x contrastado do esôfago) são utilizados na avaliação da DRGE e suas complicações, pois podem detectar hérnias de hiato, estenoses e anéis esofágicos – são indicados para disfagia e odinofagia e (4) teste de Bernstein-Baker – infusão de acido clorídrico 0,1 N na luz esofágica e solução salina como placebo – o teste é positivo quando o paciente apresenta sintomas típicos de DRGE quando se injeta HCl (deve ser usado em situações em que não se dispõe de pHmetria prolongada). A manometria esofágica não deve ser realizada para dx da doença – é útil na avaliação da gravidade da DRGE, podendo prever sua gravidade ao demonstrar um EIE com defeito ou disfunção peristáltica. O Bilitec é usado para identificar uma forma mais grave de DRGE, que é o refluxo duodenogastroesofágico – identifica substâncias com pH mais alto, como a bilirrubina. 4º PERÍODO TAYNARA LOPES GASTROENTEROLOGIA 17 5- Como tratar os pacientes com esta doença? O tratamento pode ser de quatro vertentes: (1) Medidas higienodietéticas – educar o paciente a respeito dos fatores que podem precipitar os episódios de refluxo, como ingerir refeições pouco volumosas, com muita proteína e pouca gordura, se alimentar nas três horas precedentes ao horário de deitar, não exagerar na ingestão de bebidas alcóolicas (cerveja e vinho), controle da obesidade, não fumar, elevar a cabeceira da cama de 10 a 15 cm e deitar em decúbito lateral esquerdo. São medidas que podem ser evitadas porquediminuem a pressão do EIE. Essas medidas, entretanto, não são o suficiente para serem adotadas sozinhas; (2) Tto medicamentoso Inibidores da bomba de prótons: aliviam os sintomas mais rapidamente e cicatrizam as lesões na maior parte dos pacientes. Omeprazol 20 mg, lansoprazol 30 mg, pantoprazol 40 mg, rabeprazol 20 mg e esomeprazol 40 mg são os mais usados e devem sempre ser tomados antes das refeições. Inicalmente se inicia a terapia mais potente, seguida pela redução da dose suficiente para obter controle sintomático (step-down). São usados na terapia de manutenção. Se o paciente tem sintomas pouco frequentes, a medicação pode ser por demanda própria. Pacientes com esofagite grave começam com a dose- padrão e a mantêm, mas se os sintomas ou lesões persistirem, acrescenta-se uma se- gunda dose à noite. O controle dos sintomas atípicos é mais difícil e necessita do uso de dose dupla de IBP. Deve-se levar em conta que os IBP podem levar a casos de hipergas- trinemia (reversível com a interrupção do tratamento), progressão da gastrite do corpo gástrico induzida por H. pylori e possível interferência na absorção de nutrientes (devido à hipocloridria resultante do uso prolongado desses medicamentos). Eles agem dimi- nuindo o ácido e o volume da secreção gástrica. É recomendável, no entanto, usar a menor dose de IBP para obtenção do efeito terapêutico desejável. Antagonistas de H2: cimetidina, ranitidina, famotidina e nizatidina são drogas seguras, mas com curta duração de ação (entre 4 e 8h). Resultam em inibição incompleta da se- creção ácida; portanto, para tratamento da DRGE são necessárias doses múltiplas. Ob- serva-se, ainda, declínio da inibição da secreção ácida quando usados por mais que duas semanas (taquifilaxia), de modo que sua eficácia seja limitada. São mais indicados para pacientes com esofagite leve a moderada. São insuficientes na inibição ácida após refei- ções, mas têm eficácia comprovada na inibição da secreção noturna. Procinéticos: são eficientes apenas quando usados em pacientes com sintomas dispépti- cos associados. Metoclopramida não é boa escolha porque atua no SNC (sonolência, ir- ritabilidade, tremores e discinesia). Domperidona é útil, mas se observa hiperprolactine- mia em 15% dos usuários crônicos. A cisaprida não é mais usada porque induzia arrit- mias cardíacas por toxicidade cardíaca. Digesan = bromoprida. Plasil = metoclopramida. 4º PERÍODO TAYNARA LOPES GASTROENTEROLOGIA 18 São acessórios aos IBP – para pacientes com mais desconfortos. Também fazem taquifilaxia. Podem ser associados a IBP para auxiliar no desconforto. (3) Tratamento cirúrgico – consiste no reposicionamento do esôfago na cavidade abdomi- nal associado à hiatoplastia e fundoplicatura. É uma alternativa segura e eficaz. As indi- cações para sua realização variam – é considerada uma opção para tratamento de ma- nutenção em pacientes com DRGE bem documentada e também apropriada de ser rea- lizada em todos os pacientes que optem por ela. O II consenso brasileiro da DRGE indica o tto cirúrgico em casos não complicados quando houver razoes que impossibilitem a continuidade do tto clínico e nos casos em que for exigido tto contínuo de manutenção com IBP, especialmente em pacientes com menos de 40 anos, que optem pelo tto cirúr- gico. É recomendado também nas formas complicadas de DRGE – estenose e ulcera – e quando há adenocarcinoma. O problema é que os pacientes podem voltar a ter a doença após a cirurgia e pode levar à disfagia, incapacidade de arrotar, acumulo de flatulências, abdome estufado. Atualmente é raro enviar paciente para cirurgia. (4) Tratamento endoscópico – ainda está sendo investigado. Pode ser radiofrequência (Stretta – cria uma lesão que, ao cicatrizar, resulta em estenose), sutura endoscópica (cria uma plicatura endoluminal no esôfago distal – não é uma técnica adequada porque não dura muito) e implantação de microesferas. 4º PERÍODO TAYNARA LOPES GASTROENTEROLOGIA 19 AULA 2 DRGE A doença do refluxo gastresofágico é uma afecção crônica decorrente do refluxo de parte do conteúdo gastroduodenal para o esôfago e/ou órgãos adjacentes, acarretando um espectro de sintomas e sinais esofagianos e/ou extra-esofagianos, associados ou não a lesões teciduais. Em um estudo realizado nos EUA, descobriu-se que cerca de 14-15% da população americana tem pirose pelo menos 1 vez por semana. Já um estudo brasileiro feito em 22 cidades, aproximadamente 14 mil pessoas foram entrevistadas em relação a queixas de pirose no passado ou atual (sendo 66% positivos), pirose retroesternal (20%) e pirose 1 ou mais vezes na semana (12%). Existem várias causas de DRGE; a fisiopatologia é multifatorial, tendo influência de (1) fatores externos: dieta, obesidade, uso de certos medicamentos e tabagismo; (2) fatores gástricos: principalmente produção excessiva de ácido e refluxo biliar, que pode se acumular no esôfago no caso de refluxo duodenogastresofagiano, além de problemas no esvaziamento gástrico e a distensão gástrica (estufamento que a pessoa sente ao comer muito); (3) diminuição do clearance esofagiano: por alteração da peristalse ou salivação, que não são o suficiente para limpar o conteúdo que se acumula na parede do esôfago e (4) defeitos na barreira anti-refluxo: no EIE, no pilar diafragmático e a presença de hérnia de hiato. Sem sombra de dúvidas os grandes mecanismos estão na alteração do clearance esofagiano e na barreira anti-refluxo. A resistência do epitélio esofágico é diferente da resistência do epitélio gástrico: no estômago existem as células epiteliais com tight junctions e o epitélio em si é um grande produtor de bicarbonato e muco; o ácido secretado pelas células parietais do estômago vai para a luz gástrica e existe uma barreira mucosa que faz com que esse ácido seja neutralizado à medida que vai se retrodifundindo. O que comprova essa eficácia é que o pH da cavidade gástrica é 2, enquanto que na superfície do epitélio é entre 6-7 graças à barreira protetora. Então, quando o ácido retrodifunde, ele é neutralizado. No esôfago o epitélio é diferente, com células epiteliais que praticamente não secretam bicarbonato – é muito menor essa secreção do que no epitélio gástrico, gerando muito pouco muco. O que acaba acontecendo é que quando o ácido do estômago reflui para o esôfago, ele facilmente penetra pela fina camada de muco e atinge as células; quando as atinge, pode fazer lesão. Tanto a superfície quanto a luz do esôfago ficam ácidas na presença do refluxo. A resistência do epitélio esofagiano não é grande, mas existem alguns elementos que tentam clarear esse epitélio quando existe refluxo: (1) peristalse: responsável pelo clearance de 90% do ácido que reflui; conforme vamos deglutindo, o movimento peristáltico vai levando o que refluiu de volta para o estômago. As deglutições são mais frequentes quando estamos acordados (60-90 4º PERÍODO TAYNARA LOPES GASTROENTEROLOGIA 20 vezes/hora) e dormindo cai radicalmente para 4-6 vezes/hora – por isso que o refluxo noturno é mais lesivo; (2) produção de saliva: faz o clearance de 10% do refluxo. A saliva tem bicarbonato, que neutraliza o ácido clorídrico e alcaliniza o meio esofagiano e (3) a gravidade: ajuda a empurrar de volta para o estomago o conteúdo refluído. Devido a isso, o refluxo noturno é pior que o diurno porque quando deitados temos menos gravidade influenciando na descida do alimento. O principal ator dessa doença é o EIE, pois nele estão os maiores problemas que levam à lesão do esôfago. O maior problema do EIE é o relaxamento transitório; oEIE não é um esfíncter verdadeiro, é somente uma zona de alta pressão que não tem uma musculatura bem definida. Então é a pressão na região que evita a passagem do conteúdo do estômago para o esôfago. Cerca de 70-80% dos refluidores têm o relaxamento transitório do EIE, que acontece quando há relaxamento independente da deglutição. Esse esfíncter só deveria relaxar ao deglutirmos alguma coisa – se houver relaxamento fora desse período, não é normal e é isso que acontece no relaxamento transitório (o esfíncter relaxa a qualquer momento). Outro defeito é a alteração da pressão desse esfíncter – normalmente fica entre 10-35 mmHg; se for menor que isso, aumenta a chance de a pessoa ter DRGE. Além disso, pode-se ter, ainda, uma resposta adaptativa anormal do EIE à ingesta de alimentos: o paciente acaba tendo uma distensão gástrica porque come muito - o estomago distende tanto que o EIE não consegue fechar devido à alta pressão e, então, faz refluxo do conteúdo para o esôfago. Outro defeito que colabora para a DRGE é a hérnia de hiato: o estômago tem que ficar abaixo do pilar diafragmático; quando esse pilar, por algum mecanismo, relaxa (seja por hipotonia do diafragma, ganho de peso ou aumento de pressão intra-abdominal) o diafragma abaixa e o estômago é empurrado para dentro do tórax porque tem pressão negativa, com isso forma-se hérnia. A hérnia, então, é um deslocamento do estomago para a cavidade torácica. Podemos ter hérnia com refluxo ou não: se o EIE na região do cárdia está funcionando, mesmo que a pessoa tenha hérnia de hiato, não haverá refluxo. Entretanto, se o paciente tem o EIE incompetente e ainda por cima uma hérnia de hiato, o refluxo dele é muito maior e muito mais grave porque perdeu dois grandes mecanismos de defesa (o EIE e o diafragma). Ou seja, a hérnia de hiato colabora para piorar a situação do refluxo. 29% dos pacientes que têm hérnia de hiato vão ter uma esofagite não erosiva, (que não corroeu o esôfago). 71% desses pacientes apresentam DRGE erosiva 72% dos pacientes com Barrett têm hérnia de hiato e 96% dos pacientes com hérnia de hiato têm Barrett clássico (com mais de 3 cm). 4º PERÍODO TAYNARA LOPES GASTROENTEROLOGIA 21 Endoscopicamente se vê o pilar diafragmático fechado e a mucosa esofagiana (em rosa mais claro), a linha Z de transição esofagogástrica, a mucosa gástrica (mais avermelhada) e as pregas do fundo gástrico – a transição que deveria coincidir com o pinçamento do diafragma não está acontecendo – a transição está bem acima desse pinçamento e isso caracteriza a hérnia. Fisiopatologia: de forma resumida, tem-se a alteração do clearance esofagiano; um defeito no EIE com relaxamento transitório, hipotensão ou alteração de acomodação; defeitos no pilar diafragmático dos componentes anatômicos anti-refluxos; alteração do esvaziamento gástrico ou aumento da pressão abdominal por obesidade e um defeito na resistência do epitélio esofágico (porque não tem muco produzido em quantidade suficiente). Além disso, leva-se em conta a agressividade do conteúdo que reflui - quanto mais ácido, pior é o sintoma do paciente, principalmente se o refluído for de bile. O conteúdo refluxado pode ser de H+, pepsina, bile e tripsina. Clínica: os sintomas típicos são os sintomas esofagianos e podem ser com lesão ou sem (sem esofagite). Os sintomas atípicos são fora do esôfago, nos órgãos adjacentes, podendo ser da boca, otorrinolaríngeos, pulmões ou coração. Sintomas típicos: acontecem quando o ácido ou a bile refluem para o esôfago. São: pirose (com ou sem dor retroesternal) e regurgitação (sem eructações). Quando o paciente tem esses sintomas, há 90% de certeza de que ele tem DRGE. Pode haver, também, sialorreia (situação em que o paciente produz mais saliva para aumentar o clearance esofágico). Sintomas atípicos: disfagia e odinofagia não são frequentes, mas quando presentes, pensar em complicações, assim como dor epigástrica. Sangramento (hematêmese ou melena), dor torácica e globo esofagiano (“bola que sobe e desce”). São as manifestações que ocorrem fora do esôfago e podem ser sinais orais, pulmonares e otorrinolaringológicos. 40-75% dos pacientes com DRGE podem ter essas manifestações e não obrigatoriamente vão ter os sintomas típicos de pirose e regurgitação. Tórax: dor torácica não cardíaca 4º PERÍODO TAYNARA LOPES GASTROENTEROLOGIA 22 Otorrinolaringológico: rouquidão, pigarro, laringite posterior crônica e otalgia, globo faríngeo e sinusite crônica. Oral: erosão dentária (desgaste do esmalte dentário) e halitose Pulmonar: asma, tosse crônica, hemoptise, bronquite, bronquiectasia, pneumonias de repetição e fibrose pulmonar. A tosse nem sempre acontece por microaspiração; o broncoespasmo e a tosse têm dois mecanismos: (1) microaspiração: em que o ácido vai até a laringe, o paciente respira e aspira o ácido para o pulmão e (2) via reflexa vagal: em que o ácido entrou no esôfago e estimulou o nervo vago, fazendo uma manifestação reflexa de espasmo e tosse. Aproximadamente metade dos pacientes com asma têm DRGE, mesmo na infância. Não é obrigatório que os pacientes apresentem regurgitação e pirose – 1/3 dos pacientes com asma não têm os sintomas de DRGE, mas têm a doença. Diagnóstico: só pelos sintomas o diagnóstico pode ser feito. O primeiro exame solicitado no Brasil é a endoscopia; ela não vai ser feita em todos os pacientes, mas é o método de escolha por ser mais fácil de ser realizada. A EDA não diagnostica o refluxo, mas sim as lesões causadas por ele – muitas das vezes o esôfago do paciente com DRGE pode estar normal. Ou seja, a EDA não é um exame para diagnóstico da doença e sim das suas complicações. É indicada a EDA para pacientes com sinais de alarme: (1) mais de 40 anos, (2) paciente com sintomas atípicos, (3) paciente que acorda à noite devido ao sintoma (acorda tossindo, por exemplo), (4) com historia de emagrecimento, (5) histórico familiar de câncer gástrico, (6) disfagia, (7) odinofagia, (8) com massa palpável em região alta epigástrica, (9) paciente com anemia, (10) presença de sangue oculto nas fezes, melena ou hematêmese. Cerca de 50% dos pacientes com DRGE têm exame endoscópico normal. A EDA serve para verificar injúria da mucosa esofagiana; visualizar a presença de úlceras, esofagite, epitélio metaplásico, herniações, estenose de esôfago, neoplasia. Além disso, permite a coleta de material para biópsias. *Hérnias de hiato: o estrangulamento do esôfago que se vê na endoscopia corresponde ao pinçamento diafragmático. A hérnia é considerada quando o estômago está a mais de 2 cm desse pinçamento (percebe-se a mudança na cor da mucosa – o estomago é mais vermelho e o esôfago é mais rosa) O que realmente faz o diagnóstico de refluxo é a pHmetria (ainda é considerada padrão ouro). Esse exame é indicado para pessoas com sintomas de DRGE e sem lesão endoscópica, para pessoas com sintomas atípicos sem lesão endoscópica e para pacientes que não respondem ao 4º PERÍODO TAYNARA LOPES GASTROENTEROLOGIA 23 tratamento. O problema desse exame é que só vai medir o ácido que reflui, ou seja, só tem capacidade de ver quanto ácido reflui, sem identificar o que está refluindo. A pHmetria pode ser (1) simples – em que se insere um cateter nasofaringiano no paciente para medir o refluxo do esôfago distal e pode ser (2) de duplo canal – avalia o refluxo no esôfago distal e proximal; é pedida quando o paciente tem sintomas atípicos da DRGE. O diagnóstico de DRGE é dado ao paciente com pH esofagiano menor que 4. A impedanciometria é um teste igual à pHmetria: mede todo o conteúdo que reflui,mas analisa, ainda, qualquer matéria refluída pela diferença de carga elétrica de cada substância. Ou seja, permite a identificação do que é ácido, do que é bile, do que é água e do que é comida. Por essa diferença de corrente elétrica é possível diferenciar o conteúdo. É um exame mais completo que a pHmetria, mas é ainda um procedimento que está começando a se instalar. A manometria serve para localizar o EIE, avaliar sua pressão, e avaliar a motilidade esofagiana. Isso é importante porque, às vezes, o paciente pode ter DRGE com esôfago em quebra nozes ou com distúrbio de motilidade ineficaz. Além disso, também serve como exame pré- operatório, pois a fundoplicatura não pode ser feita em paciente com distúrbio de motilidade; então permite avaliar quem pode ou não passar pela cirurgia. A seriografia é um exame auxiliar que permite identificar hérnias de hiato e distúrbios de motilidade do esôfago, estomago e duodeno. Complicações: estenose, hemorragia, Barrett e adenocarcinoma. Pode haver, ainda, evolução para úlcera esofagiana, uma lesão mais profunda que erosões, coberta por material fibrinoso e esbranquiçado. A estenose distal do esôfago faz com que a abertura da mucosa seja muito pequena. A complicação mais preocupante é o esôfago de Barrett: é a substituição do epitélio escamoso estratificado do esôfago por epitélio colunar contendo células intestinalizadas (não basta ser células colunares gástricas, somente intestinais, como células caliciformes). Essa substituição acontece em qualquer extensão do órgão. Pode ser uma metaplasia curta, quando tem extensão menor que 3 cm (acontece em ate 5% dos pacientes com DRGE) ou longa, o tipo mais clássico, em que a extensão da metaplasia é maior que 3 cm (acontece em cerca de 10 a 15% dos pacientes). O epitélio metaplásico tem cor rósea-salmão em meio ao rosa clarinho do esôfago. Como acontece? Primeiro o paciente precisa ter um refluxo intenso de ácido gástrico e bile; ou seja, não é todo paciente com DRGE que vai fazer Barret - vai fazer quem tem 4º PERÍODO TAYNARA LOPES GASTROENTEROLOGIA 24 refluxo duodenogastresofagiano. A lesão causada pelo ácido e pela bile evolui para uma inflamação, uma esofagite, que faz com que as células totipotentes do esôfago se transformem, ou seja, mudem na área inflamada para um epitélio intestinal com células intestinais. Essa metaplasia não é de células gástricas porque tem bile no refluxo, logo o epitélio precisa resistir a ela. Se o refluxo acontecer só de ácido puro, sem bile, a metaplasia é colunar gástrica – dai não é Barrett. Geralmente o Barrett acomete em maior intensidade homens brancos com mais 50 anos, com prevalência de 15% em pacientes com DRGE intensa. A prevalência de adenocarcinoma em pacientes com Barrett é de 1/200 pacientes ao ano. O Barrett clássico tem mais chances de levar à instalação do adenocarcinoma, quando comparado ao Barrett curto. O problema do epitélio colunar metaplásico intestinal é que ele pode levar a displasias e neoplasias, fazendo adenocarcinoma de esôfago – a chance de isso acontecer é de 0,5% ao ano dentre os pacientes com Barrett. Quanto maior é a extensão com metaplasia, maior é a chance de uma das células mutadas sofrer displasia. Os sintomas do Barrett são os mesmos da DRGE ou, ainda, o paciente pode ser assintomático, quando grande parte da mucosa já está mutada e adaptada. O diagnóstico é feito por endoscopia; o endoscopista suspeita da mucosa que vê, biopsia e o patologista confirma, ou seja, o diagnóstico final é sempre histopatológico. O paciente pode desenvolver úlceras no epitélio metaplásico quando o refluxo continua acontecendo mesmo com a metaplasia. No adenocarcinoma se visualiza uma massa sólida obstruindo o esôfago. Tratamento: a curto prazo é preciso eliminar os sintomas e cicatrizar as lesões. A longo prazo, prevenir e tratar as complicações e evitar recidivas. O tratamento é basicamente pautado em três pilares: (1) medidas comportamentais, (2) medidas farmacológicas e (3) medidas cirúrgicas. (1) As modificações do estilo de vida incluem modificações dietéticas, tais como fazer refeições pequenas, não deitar depois de comer (esperar no min 2h) e evitar lanches noturnos. Além disso, é recomendado que o paciente emagreça, levante a cabeceira da cama, pare de fumar e ajuste medicação concomitante (existem vários medicamentos que fazem relaxamento do EIE, como opioides, anti-espasmódicos, anticolinérgicos, estrogênio, alguns anti-hipertensivos e broncodilatadores) (2) A terapia medicamentosa pode ser feita em vários níveis. 4º PERÍODO TAYNARA LOPES GASTROENTEROLOGIA 25 a. Os antiácidos (ou alcalinos) são substâncias que neutralizam o ácido já produzido - hidróxido de magnésio e alumínio, magaldrato e alginato. Eles melhoram a sintomatologia emergencialmente, mas os médicos raramente prescrevem, é mais automedicação. Os bloqueadores de H2 atuam no receptor histamínico das células parietais e diminuem a produção de ácido: cimetidina, ranitidina, famotidina e nizatidina. Eles bloqueiam parcialmente a secreção e principalmente para a secreção noturna são muito bons. Entretanto, aproximadamente 40% dos pacientes vão responder clinicamente ao medicamento, por isso não são bons. b. Os procinéticos aumentam a motilidade do estômago, aumentam o esvaziamento gástrico e aumentam a pressão do EIE e isso é importante porque esvaziar o estômago contribui para não ter material a refluir, mas não é capaz de cicatrizar esofagite e não alivia todos os sintomas do paciente. Podem ser usados quando o paciente tiver retardo do esvaziamento gástrico (reclama de plenitude gástrica) ou então em conjunto com um bloqueador. Os procinéticos mais usados são: cisaprida, bromoprida, domperidona e metoclopramida. c. Os melhores medicamentos, entretanto, são os que bloqueiam de forma efetiva a secreção de ácidos – bloqueiam a bomba produtora de ácido, a bomba de prótons: IBPs. Esses medicamentos têm ação rápida e efetiva e permitem a cicatrização de esofagites. A dose padrão é usada quando o paciente tem grau mais leve de DRGE (A ou B). O tratamento convencional é feito por 8 a 12 semanas. Se o paciente tiver muita esofagite (grau C ou D) ou manifestação atípica, o IBP é usado em dose dupla (um antes do café da manhã e outro antes do jantar). Omeprazol 20-80 mg/d Lansoprazol 30-60 mg/d Pantoprazol 40-80 mg/d Rabeprazol 20-40 mg/d Esomeprazol 40-80 mg/d Efeitos colaterais dos IBPs: alteração da absorção de cálcio, de ferro e vitamina B12 e também podem estar relacionados à pneumonia em pacientes que fazem aspiração do conteúdo gástrico. O maior problema é que o paciente pode continuar tendo DRGE depois do tratamento; se o defeito básico da doença persiste, o paciente pode ter sintomas novamente e isso acontece porque ele tem um problema no relaxamento do EIE. Então, o que se indica fazer quando os sintomas voltam é manter o IBP (como tratamento de manutenção) em dose completa, em dose reduzida ou sob demanda (quando o paciente tiver os sintomas, toma o remédio). Além do tratamento de manutenção, pode ser indicado o tratamento cirúrgico. 4º PERÍODO TAYNARA LOPES GASTROENTEROLOGIA 26 (3) A cirurgia anti-refluxo é indicada em diversas situações: (1) quando o paciente está em uso de IBP, mas não está respondendo bem ao tratamento, (2) quando o distúrbio do paciente é intratável ou ele precisa de altas doses de medicamentos para se sentir bem e cicatrizar sua esofagite, (3) pacientes com esofagite muito grave – graus C e D, (4) esôfago de Barrett, (5) refluxo biposicional – há regurgitação no pacientequando ele está deitado e em pé, (6) hipotonia do EIE ou (7) pacientes com sintomas atípicos, principalmente pulmonares (aspiração). Nessa cirurgia se faz uma fundoplicatura por videolaparoscopia; identifica-se o pilar diafragmático, fecha um pouco seu orifício (geralmente está mais alargado do que deveria), depois traciona o fundo gástrico e a parede anterior do estômago de modo a envolver o esôfago e estrangula-lo – isso reforça o pinçamento do órgão e fecha mais a sua luz. Assim, a comida desce e não consegue mais subir. A cirurgia apresenta 90% de sucesso, mas 10% dos casos apresentam sintomas pós-cirúrgicos. *No Barrett: o tratamento deve ser feito com IBP em dose dupla ou o paciente pode ser encaminhado para cirurgia. O monitoramento é feito de 1 a 3 anos com realização de endoscopia, pois dependendo do grau e dos fatores de risco do paciente, ele pode desenvolver neoplasia. É preciso ter controle efetivo da DRGE nesse paciente e sempre manter a sua mucosa cicatrizada. Se houver displasia de baixo grau, acompanhar o paciente a cada 6 meses para ver evolução. Se passar para displasia de alto grau, deve-se indicar: (1) ablação do esôfago (queima-se a região do Barrett, cauteriza) e (2) mucosectomia (quando o endoscopista começa a cortar o epitélio do esôfago entre o epitélio e a submucosa; vai escavando embaixo da submucosa, tirando a camada onde está o Barrett). Além disso, se a displasia de alto grau for extensa, melhor fazer esofagectomia porque alguma área já pode ter câncer. Se já tem o câncer, não tem saída: precisa ser tirada a parte comprometida – é mais comum acontecer no esôfago distal – fazendo, então, esofagectomia e anastomose esôfago-gástrica. IBP + procinético = não cicatriza a esofagite. Essa associação só é indicada para pacientes que regurgitam muito e que têm plenitude pós-prandial. 4º PERÍODO TAYNARA LOPES GASTROENTEROLOGIA 27 Caso Clínico II Identificação: mulher de 26 anos, bancária, natural e procedente de Curitiba. Queixa principal: “dor no estômago” História Mórbida Atual: há 2 anos iniciou com epigastralgia em queimação, cíclica, sem relação com alimentação e de predomínio diurno. Dependendo do alimento apresenta sensação de peso e plenitude pós-prandial. A epigastralgia melhora com o uso de antiácidos e piora quando está tensa. Nega alterações do ritmo intestinal e diz estar com o peso estável. História Mórbida Pregressa: Transtorno de Humor (Depressão): faz psicoterapia 2 vezes na semana e usa Escitalopran 20mg/dia. Fibromialgia: sem tratamento adequado; usa Paracetamol ou Dipirona ou Ciclobenzaprina para alivio das dores no corpo. História Mórbida Familiar: Mãe: depressiva e hipertensa Pai: com histórico de úlcera péptica Condições e Hábitos de Vida: Nega tabagismo e etilismo Uso de maconha na adolescência Sedentária Revisão dos Sistemas: Misto de sintomas depressivos e irritabilidade. Ao exame físico: PA: 110/70 mmHg FC: 80bpm Temperatura axilar: 36,0oC 4º PERÍODO TAYNARA LOPES GASTROENTEROLOGIA 28 Peso: 65 Kg Altura 1,70m Paciente corada, hidratada, anictérica e eupneica. Exame da cabeça, tórax e membros sem alterações. Exame do abdome: plano, RHA+, flácido, doloroso à palpação profunda de epigástrio, sem visceromegalias e timpanismo normal. *A paciente tem síndrome da dor epigástrica associada à síndrome pós-prandial: dor ou queimação localizada no epigástrio, moderada a intensa, intermitente e que ocorre, no mínimo, 1x/semana, nos últimos 3 meses. *Gastrite nervosa: estresse orgânico grave (politraumatizado, p.ex.). Acontece porque o corpo tira o sangue do estomago e distribui para órgãos vitais. Essa diminuição da vascularização do estomago, leva a gastrite nervosa. *Gastrite crônica por H. pilory: geralmente é assintomática, há um infiltrado linfocítico (monomorfonuclear). Isso faz atrofia da mucosa gástrica. É o terreno fértil para fazer ulcera e câncer gástrico. Além disso, o paciente pode apresentar diminuição de vitamina B12, pela diminuição da produção do Fator intrínseco levando a uma anemia. *Tem outro tipo de gastrite, que é a gastrite medicamentosa, principalmente causada por anti- inflamatórios. E também há a gastrite erosiva. *Úlcera péptica: a principal causa, 90% dos casos, é devido a H. pylori. Depois é causada por anti- inflamatórios. Na ulcera há uma perda de substancia, uma ferida. Enquanto que a gastrite é um ‘aranhado’. A úlcera é evolução da gastrite crônica. A paciente pode ter UP, mas ela não tem desconforto relacionado à alimentação e também porque a paciente tem 2 anos de sintomas cíclicos ‘curtos’. A UP se apresenta em ciclos, mas são ciclos longos. A complicação da UP é o sangramento e a perfuração (cai acido na cavidade abdominal). *Parasitose: giárdia faz dor abdominal epigástrica (se acomoda no intestino proximal). O exame parasitológico de fezes. *Dispepsia funcional: baixo limiar de dor (hipersensibilidade), motilidade alterada e alterações emocionais. *Intolerância à lactose: deficiência enzimática. Quando o paciente come ele tem os sintomas. A lactase quebra a lactose em glicose e galactose. O dx é feito com um teste em que o paciente tem que tomar 50g de lactose – para o exame ser negativo, a glicose sanguínea tem que aumentar em, 4º PERÍODO TAYNARA LOPES GASTROENTEROLOGIA 29 no mínimo, 20 mg/dL. Se esse teste não der certo, fazer o teste caseiro (o paciente para de comer alimentos com lactose). *Doença de Crohn: doença inflamatória intestinal (pode acometer todo tubo digestivo). Pode ter uma ulcera estomacal por doença de Crohn (extremamente raro). *Doença celíaca: podem não apresentar diarreia. A doença celíaca é uma intolerância ao glúten (que tem no trigo, cevada, centeio e aveia). É uma doença inflamatória da mucosa intestinal devido a uma resposta imune ao glúten. Pode causar anemia, gases, estufamento. A doença celíaca tem um componente genético (HLA DQ2 e DQ8) e afeta principalmente intestino proximal (duodeno e jejuno). Tratamento de DC: dieta. Dx: dosagem de anticorpo e biopsia. *Pacreatite crônica: a grande causa é o álcool. Na idade da paciente, a causa de pancreatite mais comum é Fibrose Cística. *Adenocarcinoma: a idade da paciente e o tempo de doença não sugerem adenocarcinoma. Nesta idade, a neoplasia mais comum é o linfoma. 1- Clinicamente é possível definir o diagnóstico? Justifique? Segundo o Consenso Roma III, a Dispepsia Funcional pode ser diagnosticada de acordo com 3 critérios diagnósticos: - Queixas dispépticas durante os últimos 3 meses e que se iniciaram, no mínimo, há 6 meses. - É fundamental a presença de um ou mais dos seguintes sintomas: Empachamento pós-prandial. Saciedade precoce. Dor epigástrica. Queimação epigástrica. - Fundamental a ausência de lesões estruturais, incluindo-se a realização de uma endoscopia digestiva alta, que possam justificar os sintomas. Portanto, não é possível definir o diagnóstico apenas clinicamente. Seria necessária a realização de uma endoscopia digestiva alta para confirmar a ausência de lesões, que poderiam estar causando os sintomas da paciente. Mas a dispepsia funcional é um diagnóstico muito provável, já que a paciente apresenta dor epigástrica, queimação epigástrica e empachamento pós-prandial (peso e plenitude). Além disso, os sintomas se iniciaram há 2 anos. Tem-se, ainda, um histórico familiar que pode ter uma relação com o quadro da paciente (pai com úlcera péptica). Há, também, o estado emocional da paciente, que pode gerar um aumento da produção de ácidogástrico. 4º PERÍODO TAYNARA LOPES GASTROENTEROLOGIA 30 2- De acordo com seu diagnóstico clínico, cite os fatores etiológicos relacionados com a doença. Cerca de 20-40% da população mundial apresenta alguma queixa dispéptica. Entretanto, apenas 30% procura atendimento médico. Os sintomas podem surgir em qualquer idade e são mais prevalentes no sexo feminino. A fisiopatologia da doença é desconhecida. São vários os fatores etiológicos considerados: (1) hipersecreção ácida, (2) alteração da motilidade gastroduodenal, (3) alteração da sensibilidade visceral, (3) alteração de acomodação gástrica, (4) fatores pscicossociais e (5) gastrite associada a H. pylori. Atualmente se acredita que uma combinação dos fatores pscicossociais e fisiológicos possa ser responsável pelo quadro clinico. Tabagismo, etilismo e uso de AINES (anti-inflamatórios não esteroidais) NÃO são considerados fatores de risco. Contudo, os pacientes com DF apresentam mais risco de desenvolver sintomas quando tratados com AINES. Alguns mecanismos fisiopatológicos estão sendo propostos para tentar explicar o inicio do quadro: (1) dispepsia pós-infecciosa, em que os sintomas surgem após episódio de gastrenterite, particularmente depois de surtos de salmonelose; (2) presença de inflamação crônica no duodeno, que cursa com infiltração eosinofílica e (3) fatores genéticos, como o gene β-3 – tem sido associado com frequência a essa doença. Tem sido demonstrada a não relação entre um aumento na produção de ácido pelo estômago e os pacientes com DF. Foram analisados pacientes e se observou que tanto a produção basal, quanto a produção máxima de ácido pelo estômago são normais nos dispépticos quando comparados a indivíduos que não possuem a doença. Contudo, os pacientes com DF podem apresentam uma hipersensibilidade quando submetidos a uma mesma quantidade de ácido no estômago que os indivíduos normais. Fatores psicossociais: diagnósticos psiquiátricos, como depressão e ansiedade, são comuns em pacientes com DF. Esses fatores parecem estar associados a um contingente expressivo de dispépticos funcionais, porém deve ser ressaltada a necessidade de estudos muito bem elaborados, objetivando uma melhor quantificação do estresse, tanto aguda como crônica, e das inter-relações entre função gastrintestinal, sistema nervoso autônomo, limiar de dor e estresse. 3- Há necessidade de investigar o caso? Se a resposta for negativa justifique, se afirmativa, qual (s) exame (s) solicitar. Sim, é necessária a investigação dos sintomas para descartar dispepsia orgânica (ulcerosa) – que acontece por fator genético, um dos fatores que ela tem, já que seu pai tinha a doença ulcerosa. 4º PERÍODO TAYNARA LOPES GASTROENTEROLOGIA 31 Não é necessário realizar muitos exames, sobretudo em pacientes com sintomas típicos e que não apresentam sintomas de alarme (emagrecimento, vômitos recorrentes, disfagia progressiva, presença de sangramento, icterícia). O Comitê de Roma III sugere que a abordagem dos pacientes dispépticos seja separada em dois grupos: - Dispepsia não investigada: Avaliação de sintomas de alarme Exclusão de AAS e outros AINES Na presença concomitante de sintomas típicos de refluxo, o diagnóstico deve ser DRGE. Iniciar tratamento com IBPs. Em pacientes jovens, sem sinais e sintomas de alarme, exames não invasivos para pesquisa de H. pylori (teste respiratório, antígeno fecal ou sorologia). Nos casos positivos iniciar o tratamento com ATB. Endoscopia digestiva alta: pacientes que apresentam sinais de alarme e com idade superior a 40 anos, especialmente aqueles com sintomas agudos. - Pacientes com diagnóstico de dispepsia funcional: EDA: realizar durante um período sintomático e, preferencialmente, sem terapia antissecretora é essencial para o diagnóstico. É recomendada a realização de biopsias durante o procedimento, visando detectar H. pylori. Ultrassonografia não é indicada de rotina. Deve ser realizada quando há suspeita de doença pancreática ou na via biliar. Eletrogastrograma e Barostato gástrico: avaliar motilidade e tempo de esvaziamento gástrico. 4- Como tratar? A melhor forma de tratar pacientes com DF é de maneira ampla e global, tentando identificar os fatores causadores dos sintomas, particulares a cada paciente. Muitos pacientes obtêm melhora do quadro com simples mudanças no estilo de vida e adoção de hábitos mais salutares em seu cotidiano (dieta, atividade física e exercícios de relaxamento). - Recomendar hábitos saudáveis: comer devagar, mais vezes ao dia, menor quantidade. Evitar alimentos gordurosos, condimentados, ácidos, café, cigarro e álcool. - A utilização de remédios está indicada para fases sintomática, cuja duração é variável. 4º PERÍODO TAYNARA LOPES GASTROENTEROLOGIA 32 - Antiácidos, drogas anti-secretoras (IBP e inibidores de H2 – principais drogas de escolha para pacientes com DF e dor epigástrica), procinéticos (metoclopramida, domperidona e bromoprida – pacientes com desconforto pós-prandial), ATB para erradicação de H. pylori (claritromicina e amoxicilina associado com IBP), ansiolíticos e antidepressivos. Os fatores emocionais devem ser avaliados. Muitas vezes está indicada psicoterapia, ou outras técnicas que objetivem redução do estresse e também antidepressivos tricíclicos. Os antidepressivos têm uma ação sobre o limiar de dor do paciente, além de diminuir a ansiedade. Tutorial (17/08): Pontos importantes do caso: dor epigástrica do tipo queimação, sensação de plenitude, sem dor noturna, sem relação com alimentação, melhora com antiácidos, piora com tensão, sem alteração de hábitos intestinais e perda de peso. Faz uso contínuo de escitalopran (da classe dos inibidores da captação de serotonina), tem depressão, fibromialgia (pessoa chega com várias dores ao longo do corpo, sem existir uma alteração inflamatória, é uma doença funcional (sem lesão)). Doença funcional primária ou doença idiopática: não se sabe direito o que é. Não tem causa para ocorrência, como a fibromialgia. Doença orgânica: existe uma causa, uma lesão, que justifica os sintomas do paciente. A dor é sentida por processo inflamatório. UP: existe uma relação com fatores genéticos e é causada, primordialmente, pelo H. pylori (é a causa maior da doença). O principal dessa história é a dor epigástrica. O que causa esse tipo de dor? Gastrite, úlcera péptica (gástrica ou duodenal), coronariopatia, pancreatite, refluxo, gastrinoma, doença celíaca, dispepsia funcional, doença biliar, aneurisma, pneumonia e dor na parede abdominal. Pneumonia 4º PERÍODO TAYNARA LOPES GASTROENTEROLOGIA 33 não pode ser porque a paciente não tem sintomas respiratórios. Aneurisma não pode ser porque o quadro é crônico e a paciente não está na idade de tal feitio. Doença celíaca não pode ser porque não dói. Coronariopatia não se encaixa pela cronicidade, idade do paciente, sem fatores de risco e sem história familiar. Pancreatite pode ser descartada porque a paciente não apresenta fator de risco, que é o alcoolismo. Gastrinoma (tumor que produz gastrina, hormônio responsável pela secreção de HCl) entra como causa de ulcera péptica, pois a alta produção de HCl lesiona a mucosa). Dor biliar é do tipo cólica e agudamente forte, com momentos de desaparecimento, portanto pode ser descartada também, além de que o histórico da doença é de acometimento de mulheres obesas e com mais de 50 anos. DRGE pode ser, mas a paciente não apresenta nenhum sintoma que remete a essa doença. Portanto, sobra gastrite, úlcera péptica e dispepsia
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