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A queda da ordem do século XIX, Primeira Guerra Mundial e a recuperação dos anos 20. Bibliografia O: Isard (2005), cap. 2.1; Polanyi (1980), caps. 1 e 2. A: Kindleberger (1986), cap. 2. C: Eichengreen (2000), cap. 3 (até p.107); Kindleberger (1986), cap. 3. AULA 14 1 Aula 14 - Queda da ordem S. XIX 1. A “Civilização do Século XIX” e seu fim - I “A Civilização do século XIX ruiu” (Polanyi, 1980, p 23). Os elementos (dois políticos e dois econômicos, dois nacionais e dois internacionais): 1. Sistema de equilíbrio de poder que impedia guerras devastadoras (PI). 2. Padrão-ouro simbolizando uma organização única na economia mundial (EI). 3. Mercado auto-regulável, que produziu um bem- estar material sem precedentes (EN). 4. Estado Liberal (PN). 2 Aula 14 - Queda da ordem S. XIX 1. A “Civilização do Século XIX” e seu fim - II Interpretação de Polanyi: “O padrão-ouro provou ser crucial: sua queda revelou-se a causa mais aproximada da catástrofe (....) Todavia, a fonte e matriz do sistema foi o mercado auto-regulável. Foi essa inovação que deu origem a uma civilização específica. O padrão-ouro foi apenas uma tentativa de ampliar o sistema doméstico do mercado no campo internacional; o sistema de equilíbrio de poder foi uma superestrutura erigida sobre o padrão-ouro e parcialmente nele fundamentada; o estado liberal foi, ele mesmo, uma criação do mercado auto-regulável (....) Nossa tese é que a idéia de um mercado auto-regulável implicava numa rematada utopia. Uma tal instituição não poderia existir em qualquer tempo sem aniquilar a substância humana e material da sociedade (....) Inevitavelmente, a sociedade teria que tomar medidas para se proteger, mas, quaisquer que tenham sido essas medidas, elas prejudicaram a auto-regulação do mercado, desorganizaram a vida industrial e, assim, ameaçaram a sociedade em mais de uma maneira.” (Polanyi, 1980, p.23, grifos meus) 3 Aula 14 - Queda da ordem S. XIX 2. As causas da Iª Guerra - I • Expansão imperialista vinha aumentando rivalidades entre os países europeus, porém fora de Europa. “... O traço característico da expansão capitalista era justamente não ter limite. As “fronteiras naturais” da Standard Oil, do Deutsche Bank, da De Beers, estavam situadas nos confins do universo, ou antes, nos limites de sua capacidade de expansão (....) ... o que tornou o mundo um lugar ainda mais perigoso foi a equação tácita de crescimento econômico ilimitado e poder político, que veio ser aceita inconscientemente” (Hobsbawm, p. 439-40) 4 Aula 14 - Queda da ordem S. XIX 2. As causas da Iª Guerra - II • Corrida armamentista, conseqüência do próprio desenvolvimento industrial – Importância crescente da siderurgia e da indústria de armamentos. – Constituição de Marinhas que contestam o monopólio britânico. • Mudança das alianças tradicionais na política européia, e constituição de blocos fixos. – Cresce a rivalidade, antes inexistente, entre Alemanha e Inglaterra. – Alinham-se Rússia e França com Inglaterra (tradicional adversário de ambas) contra Alemanha e Áustria-Hungria. 5 Aula 14 - Queda da ordem S. XIX 3. As conseqüências econômicas da Iª Guerra - I • Custo em termos de vidas humanas foi o maior registrado até então na história da humanidade (10 milhões de mortos militares, outro tanto civis, 20 milhões de mortes relacionadas com fomes, etc., da guerra; 20 milhões de feridos e mutilados) . • Destruição física concentrada na Bélgica, no Nordeste da França, nos campos de batalha do Leste europeu e no nordeste da Itália. • Redução ou interrupção do comércio internacional pelo bloqueio → acabou estimulando o desenvolvimento de industrias em países que antes não conseguiam concorrer com os produtos importados. • Inflação na maioria dos países (preços do fim da guerra eram 2,5 vezes os do começo nos EUA, 15 vezes na Alemanha, 20 na Bulgária, etc.). 6 Aula 14 - Queda da ordem S. XIX 3. As conseqüências econômicas da Iª Guerra - II • Além das óbvias perdas humanas e materiais, e da reorganização territorial, a I Guerra alterou (ou interrompeu) o comércio mundial, gerou tensões inflacionárias, e consolidou os EUA como principal potência internacional. • Revolução Soviética (1917) altera o panorama econômico-político internacional. • Surgimento de novas nações leva a um aumento do nacionalismo, levando a um incremento (ou manutenção?) do protecionismo, que já tinha aumentado no período da I Guerra (e antes), com quotas, proibições, subsídios, além das tarifas. 7 Aula 14 - Queda da ordem S. XIX 4. O caráter das mudanças no período entre-guerras - I. “De acordo com os padrões daquele século [o XIX], a primeira década do pós-guerra surgiu como era revolucionária; à luz de nossa experiência atual ocorreu precisamente o contrário. A intenção daquela época era profundamente conservadora, e expressava a convicção quase universal de que somente com o restabelecimento do sistema pré-1914, „agora sobre fundações sólidas‟, poder-se-ia restaurar a paz e a prosperidade. Na verdade, foi justamente pelo fracasso desse esforço de volta o passado que surgiu a transformação dos anos 30 (....) Foi somente nos anos 30 que elementos inteiramente novos penetraram no padrão da história ocidental” (Polanyi, 1980, p.41) 8 Aula 14 - Queda da ordem S. XIX 4. O caráter das mudanças no período entre-guerras - II. Antes da I Guerra Antes da II Guerra Político Nacional Estado Liberal Tensão de classes (fascismo, socialismo, New Deal) Político Internacional Equilíbrio de poderes Rivalidades Imperialistas Econômico Nacional Mercado auto- regulável Desemprego (intervenção nos mercados, aumento nos gastos do governo) Econômico Internacional Padrão Ouro Pressão sobre o câmbio (aumento do protecionismo) 9 Aula 14 - Queda da ordem S. XIX 5. A reorganização econômica após Versalhes - I. • EUA emprestaram dinheiro durante a guerra aos aliados, e exigiram a devolução; estes, por sua vez, “passaram a conta” para a Alemanha → Reparações de Guerra (além de outras sanções econômicas e militares, e da cláusula de “culpado pela guerra”) equivalentes a mais do que o dobro do PIB alemão, com a esperança de que a Alemanha nunca se recuperasse como nação industrializada e como potência militar. • EUA saem da guerra como emprestadores líquidos de capital (sempre tinham sido devedores), com balança comercial altamente favorável (apesar disso, adotam novas medidas protecionistas: tarifas Fordney-McCumber de 1922, depois Smoot-Hawley, em 1930). 10 Aula 14 - Queda da ordem S. XIX 5. A reorganização econômica após Versalhes - II • Hiperinflação alemã de 1923: – Valor do dólar em diversos anos (em marcos). – 1914: 4,20 – 1918: 14,00 – 1922 (julho) 493,00 – 1923 (janeiro) 17.792,00 – 1923 (15/11) 4.200.000.000.000,00 • Cessação dos pagamentos, até o Empréstimo Dawes (1924) → Alemanha retorna ao padrão-ouro. • Inflação (diferentes níveis) em todos os países da Europa 11 Aula 14 - Queda da ordem S. XIX 5. A reorganização econômica após Versalhes - III • Lento retorno ao padrão-ouro. – EUA retornam em 1919. – Conferência de Genova (1922) recomenda volta ao padrão ouro porém com valores realistas (reconhecendo a inflação). – Câmbio flutuante generalizado até a volta da Inglaterra ao padrão-ouro em 1925 à paridade anterior à guerra (apesar da inflação); diferentes critérios levam a câmbio“desalinhado”. – Cooperação internacional existe, mas por tentar salvar um sistema irrealista acaba criando mais problemas. 12 Aula 14 - Queda da ordem S. XIX 5. A reorganização econômica após Versalhes - IV • Economia inglesa nos anos 20: volta ao padrão-ouro em 1925 favorece a City e os proprietários de ativos no exterior, mas leva ao desemprego e exige queda dos salários → greve de 1926. • Como regra geral, o ajuste no pós-guerra não pode ser realizado simplesmente contando com a flexibilidade dos salários e o desemprego da mesma forma do que antes da guerra: aumento das políticas sociais, do peso do sindicalismo, etc (e com o fantasma da Revolução Russa por trás). 13 Aula 14 - Queda da ordem S. XIX 5. A reorganização econômica após Versalhes - V • França: desvalorização e aumento de impostos (1926) permite recuperação e aumento das exportações (tensões com a Inglaterra). • Período 1925/9 de crescimento generalizado, especialmente nos EUA, Alemanha e França, mas muito dependente da manutenção do fluxo de empréstimos dos EUA a Alemanha. • Período 1928/9 de redução de tarifas a nível internacional. 14 14 Aula 14 - Queda da ordem S. XIX 5. A reorganização econômica após Versalhes - VI • Falta de “Banco Central” mundial inviabiliza a estabilização e abre as portas para a crise dos anos 30. – EUA não tinham interesse em assumir esse papel, e Inglaterra não tinha condições objetivas de assumí-lo. • Mudança no funcionamento dos fluxos de capital leva a um mecanismo procíclico: – Antes da guerra, quando Inglaterra vai bem, exporta pouco K; se vai mal, exporta K → contracíclico, pois empréstimos negativamente correlacionados com nível de atividade. – Mas EUA nos anos 20 passam a ter empréstimos externos positivamente correlacionados com nível de atividade → movimento procíclico que aumenta a instabilidade econômica internacional. 15 15 Aula 14 - Queda da ordem S. XIX
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