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CCJ0034-WL-B-PP-Dos Crimes Praticados por Particular Contra a Administração-Renan Marque

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ALUNO: 
MATRÍCULA: 
PROF: RENAN MARQUES – Penal IV 
Atenção ! – o presente material foi elaborado com base nos livros de Rogério Sanches 
Cunha(Direito Penal: Parte especial, 3 ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010 e 
Código Penal Para Concursos, 5ª Ed. Salvador: Editora JusPODIVM), Rogério Greco(Código 
Penal Comentado, Ed. Impetus, 2011) e Fernando Capez (Curso de Direito Penal: Parte 
Especial: dos crimes contra os costumes a dos crimes contra a administração pública,Volume 3, 
São Paulo: Ed. Saraiva, 2011) 
 
Dos Crimes contra a Administração Pública 
 
2. Dos Crimes praticados por particular contra a administração em geral. 
2.1Considerações Iniciais. 
 Os crimes que serão abordados a seguir, diferentemente dos estudados anteriormente, 
são crimes comuns, praticados por qualquer pessoa, estando incluídos qualquer particular 
(pessoa SEM vinculo com a Administração Pública), ou até mesmo funcionários públicos 
despidos da qualidade funcional (funcionário público que NÃO utiliza do exercício de sua 
função para cometer o crime), contra a Administração em Geral (atividade total do Estado). 
 
2.2 Dos Crimes praticados por particular contra a administração em geral em espécie. 
2.2.1 Usurpação de função pública (Art. 328 do CP). 
 Usurpação de função pública Simples (Art. 328, caput, CP) 
a) Tipo Objetivo. 
- Ele está no Art. 328, caput, do Código Penal, e ocorre na seguinte situação: “Usurpar o 
exercício de função pública: Pena - detenção, de três meses a dois anos, e multa”. 
- Veja que a conduta do agente é a de usurpar (assumir, exercer ou desempenhar 
indevidamente) o exercício da função pública. Ou seja, O particular se faz passar por 
funcionário público devidamente investido para a prática de ato de ofício. Há a necessidade, 
portanto, para efeitos de caracterização do delito em estudo, que o agente, efetivamente, 
pratique algum ato que diga respeito ao exercício de uma determinada função. Além disso, 
refere-se a lei a qualquer função, gratuita ou remunerada, sendo indispensável, portanto, que 
se trate de função própria da administração pública. 
b) Bem jurídico e Objeto Material. 
- O bem jurídico protegido é a Administração pública. 
- O objeto material é a função pública usurpada. 
c) Tipo Subjetivo. 
- Este crime SOMENTE pode ser praticado na forma DOLOSA. 
d) Consumação e tentativa. 
- A consumação do crime ocorre com a prática de algum ato de ofício, como se fosse legítimo 
funcionário. Desta forma, não se configura o crime em análise se o particular se limitar a atribuir 
a si mesmo a qualidade de funcionário público SEM praticar qualquer ato de ofício. 
- A tentativa é possível, se o crime não vem a se consumar por circunstâncias alheias a sua 
vontade, ocorrendo na hipótese de o agente ser impedido de executar ato de ofício por 
circunstâncias alheias a sua vontade. 
e) Sujeito Ativo e Passivo. 
- O sujeito ativo do crime é qualquer pessoa. 
- O sujeito passivo do crime é o Estado, bem como qualquer pessoa que tenha sido 
eventualmente prejudicada com a conduta praticada pelo sujeito ativo. 
 Usurpação de função pública Qualificada (Art. 328, parágrafo único, CP). 
- Ele está previsto no parágrafo único do Art. 328 do Código Penal e ocorre “se do fato o 
agente aufere vantagem. Pena - reclusão, de dois a cinco anos, e multa.”Trata-se neste caso 
de auferimento de vantagem material ou moral que o agente pode obter para si. 
OBS: Agente que finge ser funcionário público SEM praticar, efetivamente, qualquer ato 
praticará a contravenção penal de simulação da qualidade de funcionário, nos termos do Art. 
45 do Decreto-Lei n. 3.688/1941. 
OBS: Usurpação da função Pública x Estelionato – O crime de usurpação de função pública se 
distingue do crime de estelionato, tendo em vista que, embora no crime de usurpação pública 
o agente possa auferir alguma vantagem, esta advém do exercício indevido de alguma 
função pública. Por sua vez, no crime de estelionato, o agente NÃO exerce qualquer função 
pública, mas, sim, faz passar-se por um funcionário público com a finalidade de induzir ou 
manter em erro a vítima para obter uma vantagem ilícita. 
 2.2.2 Resistência (Art. 329 CP) 
 Resistência Simples – Art. 329, caput, CP. 
a) Tipo Objetivo. 
- Ele está no Art. 329, caput, do CP e ocorre quando o particular: “Opor-se à execução de ato 
legal, mediante violência ou ameaça a funcionário competente para executá-lo ou a quem 
lhe esteja prestando auxílio” 
- Veja que a ação do particular é a de opor-se à execução de ato legal, mediante violência 
ou ameaça a funcionário público, ou seja, SOMENTE é abrangida a oposição ativa que é 
aquela praticada pelo particular contra o próprio funcionário público, NÃO estando abrangida 
a oposição passiva, que é aquela dirigida a objetos, coisas e SEM violência ou ameaça ao 
funcionário público (ex. pessoa que se segura em um poste para não ser presa, não comete 
resistência, mas cometerá desobediência). Esta oposição ativa pode ser realizada mediante 
violência (violência física contra o corpo do funcionário público, Ex. causar lesões corporais) ou 
ameaça (neste caso é uma ameaça que possibilite abalar emocionalmente o funcionário). 
Além disso, a oposição do particular deve ser a um ato legal, ou seja, um ato pautado na lei, 
esta é que determina a prática do ato. Assim, se o ato for manifestamente ilegal poderá o 
particular se opor a execução do ato, não vindo a cometer nenhum crime, podendo estar 
amparado por causa de exclusão da ilicitude do fato. Por sua vez, o particular NÃO poderá se 
opor a atos legais ,mas que ele acha serem injustos. Por último, a oposição a ato legal, 
mediante violência ou ameaça deve ser contra funcionário competente para executá-lo (o 
funcionário público está no exercício de suas funções e tem a competência para executar o 
ato) OU contra quem preste auxílio ao funcionário público competente (quem presta auxílio 
pode ser um particular que está ajudando o cumprimento da ordem do funcionário público ou 
até mesmo outro funcionário público que não é competente para executar o ato e está 
auxiliando o funcionário competente). 
Ex. Policial que está cumprindo mandado de prisão e quando chega à casa do sujeito para 
prendê-lo, este agride fisicamente o policial e ainda ameaça o policial de morte. Neste caso, 
há o crime de resistência. 
b) Bem jurídico e Objeto Material. 
- A Administração Pública é o bem jurídico protegido. 
 - O objeto material do crime é a pessoa contra a qual foi praticada a violência ou proferida a 
ameaça. 
c) Tipo Subjetivo. 
- Este crime SOMENTE pode ser praticado na forma DOLOSA. 
d) Consumação e tentativa. 
- A consumação ocorre com a simples oposição ao ato legal mediante violência ou ameaça, 
ainda que a oposição não impeça a execução do ato. Assim, trata-se de crime formal. 
- A tentativa, via de regra, não é possível, pois se trata de crime formal. Entretanto, parte da 
doutrina entende que é possível a tentativa se a resistência fosse realizada por uma ameaça 
de forma escrita e esta fosse interceptada antes de ser entregue ao funcionário competente 
ou a quem auxilia este. 
- Qualquer pessoa pode ser sujeito ativo do crime. O sujeito passivo é o Estado, bem como o 
funcionário público ou terceira pessoa que lhe esteja prestado auxílio, contra quem foi dirigida 
a conduta praticada pelo sujeito ativo. 
e) Sujeito Ativo e Passivo. 
OBS: O Art. 329, § 2º, do CP prevê que: “As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo das 
correspondentes à violência.” Ou seja, se o particular resiste a ato legal de funcionário 
competente e utiliza de violência, vindo a causar eventuais lesões corporais neste, o particular 
responderá, além do crime de resistência, pelo crime de lesões corporais. Ou seja, o particular 
responderá pelo crime de resistênciae poderá responder pelo crime que resultar da violência 
empregada contra o funcionário competente. 
 Resistência Qualificada – Art. 329, § 1º, CP. 
- Ela está no Art. 329, § 1º, CP e ocorre: “Se o ato, em razão da resistência, não se executa: Pena 
- reclusão, de um a três anos”. Ou seja, como se percebe, como o crime de resistência é um 
crime formal, basta haver a oposição do particular contra o funcionário público com violência 
ou ameaça para que o crime se consume. Entretanto, se o ato praticado pelo funcionário 
competente NÃO se execute, a conduta do particular será mais censurável, pois houve uma 
clara desmoralização da autoridade que não consegue executar o ato a que estava 
encarregado. 
 
2.2.3 Desobediência (Art. 330 do CP). 
a) Tipo Objetivo. 
- Ele está no Art. 330 do CP e ocorre quando o particular: “Desobedecer a ordem legal de 
funcionário público”. 
- Veja que a ação do particular é desobedecer (desatender, não aceitar, não se submeter) à 
ordem legal do funcionário público. Neste crime NÃO há o emprego de violência ou ameaça 
contra o funcionário público (Ex. recusar-se a abrir a porta da residência para o oficial de 
justiça entrar, agarrar-se em um poste, jogar-se no chão, fugir para evitar a prisão), o que o 
diferencia do crime de resistência. Para que exista o crime é necessário ainda haver ordem 
legal emanada de funcionário público competente, ou seja, a ordem deve ser pautada na lei 
e transmitida diretamente do funcionário para o particular. Assim, se a ordem for 
manifestamente ilegal poderá o particular desobedecê-la, sem que reste configurado o crime 
de desobediência. Além disso, o funcionário público deve ser competente para executar a 
ordem legal, sob pena de o particular não vir a cometer o crime de desobediência. Por fim, 
vale ressaltar que a lei que o particular desobedece deve prever de forma expressa a 
possibilidade de o sujeito responder pelo crime de desobediência, caso ela NÃO preveja a 
possibilidade de responder pelo crime de desobediência o sujeito simplesmente NÃO 
responderá por este crime, podendo responder pelas sanções administrativas que a lei previr. 
(Ex. Código de Processo Civil (CPC – Art. 412) prevê que a testemunha que faltar a audiência 
será conduzida coercitivamente perante o juízo, bem como pagará as despesas pelo 
adiantamento da audiência, como o CPC NÃO prevê a possibilidade de o sujeito responder 
pelo crime de desobediência, NÃO haverá a configuração deste crime. Já o Código de 
Processo Penal (CPP Art. 219) prevê expressamente que a testemunha que faltar a audiência 
poderá responder por processo penal de crime de desobediência.) 
Ex. Policial vai cumprir mandado de prisão na casa de um particular e este se joga no chão 
para não cumprir o mandado, depois no meio do caminho se agarra em um poste. No caso há 
o crime de desobediência. 
b) Bem jurídico e Objeto Material. 
- A Administração Pública é o bem jurídico protegido. 
- O objeto material do crime para parte da doutrina é a ordem dada, já para outra parcela da 
doutrina NÃO existe objeto material. 
c) Tipo Subjetivo. 
- Este crime SOMENTE pode ser praticado na forma DOLOSA. 
d) Consumação e tentativa. 
- A consumação ocorre no exato momento em que o particular desobedecer à ordem legal 
de funcionário público. 
- A depender da forma de execução do crime será possível a tentativa, desde que se possa 
fracionar o inter crimines. 
e) Sujeito Ativo e Passivo. 
- Qualquer pessoa pode ser sujeito ativo do crime. O sujeito passivo é o Estado, bem como o 
funcionário público, de forma secundária. 
 
OBS: Se ligue na seguinte distinção: 
 Desobediência (Art. 330 CP) X Resistência (Art. 329 CP) – No crime de desobediência NÃO 
há o emprego de violência ou ameaça contra o funcionário público, podendo haver o 
emprego de violência contra objetos, coisas. Por sua vez, no crime de resistência HÁ o 
emprego de violência ou ameaça contra o funcionário público. 
OBS: A jurisprudência tem entendido que o sujeito NÃO é obrigado a produzir provas contra si 
mesmo, razão pela qual o sujeito não é obrigado, por exemplo, a fornecer material para 
exame de DNA, não constituindo crime de desobediência a recusa do fornecimento, mesmo 
que proveniente de ordem legal e através de funcionário público. 
 
2.2.4 Desacato (Art. 331 do CP). 
a) Tipo Objetivo. 
- Ele está no Art. 331 do CP e ocorre quando o particular: “Desacatar funcionário público no 
exercício da função ou em razão dela:” 
- Veja que a ação do sujeito é desacatar (consiste na prática de qualquer ato ou emprego de 
palavras que causem vexame, humilhação, falta de respeito, menosprezo) funcionário público 
no exercício da função (neste caso o funcionário público está desempenhando sua função e é 
desacatado, é também chamado de desacato in officio) ou em razão dela (neste caso o 
funcionário está fora do exercício de suas funções, mas a ofensa do particular é em razão da 
função que o funcionário público exerce, é também chamado de desacato propter officium, 
ex. Juiz está em um restaurante e um particular afirma que o referido funcionário público é um 
juiz caça-níquel). Vale ressaltar que a doutrina afirma que para que haja o crime o desacato 
deve ser realizado na presença do funcionário público, ou seja, se a ofensa NÃO for na 
presença do funcionário (ofensa por carta, telefone) haverá o cometimento de outro crime, 
Ex.Particular manda email a funcionário público xingando este, haverá o crime de injúria. 
Entretanto, NÃO se exige que a ofensa seja realizada na própria Administração Pública (no 
local físico), pois o que importa é que haja desacato perante o funcionário público no 
exercício da função ou em razão dela. 
Ex. Pode consistir o desacato na utilização de gestos ofensivos, no uso de expressões 
difamatória ou injuriosas, em ofensas a dignidade, ao prestígio do funcionário público. 
Ex. Cuspir no rosto de oficial de justiça, puxar o cabelo de Oficial de Cartório, atirar papéis no 
Promotor de Justiça, rogar praga no funcionário público, jogar urina nele, xingá-lo, dar uma 
leve bofetada na face do policial. 
b) Bem jurídico e Objeto Material. 
- A Administração Pública é o bem jurídico protegido. 
- O objeto material do crime é o funcionário público desacatado no exercício de suas funções 
ou em razão dela. 
c) Tipo Subjetivo. 
- Este crime SOMENTE pode ser praticado na forma DOLOSA. A doutrina esclarece que o 
particular deve agir com a finalidade especial de desacatar, querendo ofender ou 
desprestigiar a função exercida pelo funcionário público. Assim, o simples fato de o particular 
criticar, censurar, de forma justa o funcionário público, NÃO haverá o crime de desacato. 
d) Consumação e tentativa. 
- A consumação ocorre no exato momento em que o particular desacata o funcionário público 
no exercício de suas funções ou em razão dela. Assim, trata-se de crime formal, havendo a 
consumação do crime mesmo que o funcionário público não se sinta menosprezado, 
humilhado. 
- A tentativa, via de regra, não é possível, pois se trata de crime formal. Entretanto, parte da 
doutrina entende que é possível a tentativa a depender de como o crime é executado, Ex. 
Particular ia jogar lixo em policial, mas foi impedido por outra pessoa. 
e) Sujeito Ativo e Passivo. 
- Qualquer pessoa pode ser sujeito ativo do crime. O sujeito passivo é o Estado, bem como o 
funcionário público, de forma secundária. 
 
OBS: Se ligue nas seguintes distinção ! 
 Desacato X Resistência - Entende a doutrina que o desacato pode consistir em violência 
física desde que elas sejam com a intenção de humilhar o funcionário público, como as vias de 
fato (ex. puxar o cabelo, dar tapa no rosto de funcionário público com a intenção de humilhá-
lo). Por sua vez, NÃO haverá desacato se houver violência ou grave ameaça contra o 
funcionáriopúblico e com a finalidade de opor-se a execução de ato legal, como o 
cometimento de lesão corporal, neste caso haverá resistência. 
OBS: Entende a doutrina que se o desacato ocorrer durante o crime de resistência, somente 
responderá pelo crime de resistência, pois este, tendo pena maior, absorveria o crime de 
desacato. 
 
2.2.5 Tráfico de Influência (Art. 332 do CP). 
a) Tipo Objetivo. 
- Ele está no Art. 332 do CP e ocorre quando o particular: “Solicitar, exigir, cobrar ou obter, para 
si ou para outrem, vantagem ou promessa de vantagem, a pretexto de influir em ato praticado 
por funcionário público no exercício da função”. 
- Veja que as ações do particular são as de solicitar (pedir), exigir (ordenar, impor, terminar), 
cobrar (atuar no sentido de ser pago) ou obter (conseguir, adquirir), para si (para o próprio 
particular) ou para outrem (para terceira pessoa), vantagem ou promessa de vantagem (esta 
vantagem pode ser de qualquer tipo, podendo ser vantagem patrimonial ou não, além disso, 
pode o particular receber a vantagem ou então ter a promessa futura do recebimento da 
vantagem), a pretexto de influir em ato praticado por funcionário público no exercício da 
função. Ou seja, como se percebe da expressão “a pretexto de influir”, o particular NÃO tem 
influência sobre o funcionário público, vindo a enganar a vítima. 
Ex. Particular solicita a uma pessoa que está sendo processada administrativamente por uma 
Autarquia a quantia de R$ 1.000,00 (mil reais) para que ele possa influenciar o funcionário 
público encarregado da investigação a requerer o arquivamento do caso, mas o particular 
NÃO tem nenhuma influência sobre o funcionário público. Há o crime de tráfico de influencia. 
OBS: Causa de aumento de pena – conforme prevê o Art. 332, parágrafo único do CP “A pena 
é aumentada da metade (1/2), se o agente alega ou insinua que a vantagem é também 
destinada ao funcionário”. O aumento de pena é justificado porque o desprestígio para a 
Administração Pública é ainda maior já que o particular alega ou insinua que um funcionário 
público também receberá uma vantagem. 
b) Bem jurídico e Objeto Material. 
- A Administração Pública é o bem jurídico protegido. 
- O objeto material do crime é a vantagem perseguida pelo particular. 
c) Tipo Subjetivo. 
- Este crime SOMENTE pode ser praticado na forma DOLOSA. Exige-se a finalidade especial de 
atuar a pretexto de influir sobre o funcionário público. 
d) Consumação e tentativa. 
- A consumação ocorre no exato momento em que o particular solicitar, exigir, cobrar a 
vantagem ou promessa de vantagem, vindo a se consumar independentemente do efetivo 
recebimento da vantagem, sendo um crime formal nestas ações. Por sua vez, haverá a 
consumação no exato momento em que o particular obter a vantagem, nesta ação o crime é 
material, pois exige-se a obtenção da vantagem para que haja a consumação. 
- A tentativa será possível na hipótese em que se pode fracionar o inter crimines, ou seja, 
quando a agente obtém vantagem indevida. Por sua vez, a consumação NÃO será possível 
nas hipóteses em que o crime é formal. 
e) Sujeito Ativo e Passivo. 
- Qualquer pessoa pode ser sujeito ativo do crime. O sujeito passivo é o Estado, bem como a 
vítima, de maneira secundária. 
 
OBS: Se ligue nas seguintes distinção ! 
 Tráfico de influência X Exploração de Prestígio (Art.357 CP) – o crime de Exploração de 
prestígio ofende os interesses da administração da Justiça, de forma que, toda vez que o 
particular solicitar ou receber dinheiro ou qualquer outra utilidade a pretexto de influir em juiz, 
jurado, órgão do Ministério Público, funcionário de justiça, perito, tradutor, intérprete ou 
testemunha cometerá o crime específico de exploração de prestígio. 
 
2.2.6 Corrupção Ativa (Art. 333 CP) 
a) Tipo Objetivo. 
- Ele está no Art. 333 do CP e ocorre quando o particular: “Oferecer ou prometer vantagem 
indevida a funcionário público, para determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício”. 
- Veja que as ações do particular são as de oferecer (colocar a disposição, propor) ou 
prometer (comprometer-se a entregar futuramente) vantagem indevida (é uma vantagem 
ilícita, que pode ser patrimonial ou não) a funcionário público, para determiná-lo a praticar, 
omitir ou retardar ato de ofício. Perceba que a conduta de oferecer ou prometer vantagem 
indevida ao funcionário público deve ser dirigida finalisticamente para determiná-lo a praticar, 
omitir ou retardar ato de ofício, ou seja, o particular atuará para convencer o funcionário 
público a praticar (funcionário público age positivamente e pratica o ato de ofício recebendo 
vantagem indevida, Ex. Particular oferece dinheiro a policiais para que estes procedam 
rapidamente a investigação de um crime de furto que o particular foi vítima e recuperem o 
veículo desta), omitir (funcionário público praticaria uma abstenção, agiria negativamente, Ex. 
Particular oferece dinheiro a guarda de trânsito para que não aplique multa) ou retardar (o 
funcionário público protelaria o seu ato, demoraria mais que o normal para executar o ato, Ex. 
particular oferece dinheiro a oficial de justiça para que este somente efetua a penhora de seus 
bens no próximo ano) ato de ofício. Observe que o funcionário público deve ser competente 
para praticar, omitir ou retardar ato de ofício (o ato deve estar dentro das atribuições 
específicas do funcionário público, este deve ser competente para realizar o ato). Por fim, 
cumpre esclarecer que somente se pune a corrupção ativa se o funcionário público ainda irá 
praticar, omitir ou retardar o ato de ofício, ou seja, a vantagem indevida oferecida ou 
prometida deve ser anterior ao comportamento praticado pelo funcionário público. 
 OBS: Causa de aumento de pena – conforme prevê o Art. 333, parágrafo único do CP “A pena 
é aumentada de um terço (1/3), se, em razão da vantagem ou promessa, o funcionário retarda 
ou omite ato de ofício, ou o pratica infringindo dever funcional. Ou seja, caso o funcionário 
público efetivamente pratique, omita ou retarde o ato de ofício a pena do crime de corrupção 
ativa será aumentada tendo em vista que haverá um dano maior causado a administração 
pública. 
b) Bem jurídico e Objeto Material. 
- A Administração Pública é o bem jurídico protegido. 
- O objeto material do crime é a vantagem indevida. Ou seja, é uma vantagem ilícita e que 
pode ser de natureza patrimonial ou não (como vantagem moral ou sexual). 
c) Tipo Subjetivo. 
- Este crime SOMENTE pode ser praticado na forma DOLOSA. O particular deve ter a finalidade 
específica de querer determinar o funcionário público a praticar, omitir ou retardar o ato de 
ofício. 
d) Consumação e tentativa. 
- A consumação ocorre no exato momento em que o particular oferece ou promete vantagem 
indevida ao funcionário público, com a finalidade de determiná-lo a praticar, omitir ou retardar 
ato de ofício, vindo a se consumar independentemente do efetivo recebimento da vantagem 
indevida, sendo um crime formal. Ou seja, o crime restará consumado ainda que o funcionário 
público recuse a indevida vantagem oferecida ou prometida pelo particular. 
OBS: Caso o funcionário público venha a receber a vantagem indevida ou aceite a promessa 
de vantagem indevida do particular, o referido funcionário público cometerá o crime de 
corrupção passiva (Art. 317 CP). Há uma quebra da chamada teoria monista ou unitária, pois 
cada criminoso responderá por um crime específico (particular – corrupção ativa e o 
funcionário público – corrupção passiva), NÃO vindo os dois a responder por um único crime. 
- A tentativa, via de regra, não é possível, pois se trata de crime formal. Entretanto, parte da 
doutrina entende que é possível a tentativa a depender de como o crime é executado, Ex. 
Oferecimento de vantagem indevida a funcionário públicona forma escrita que não vem a ser 
entregue a este porque foi interceptada por um particular. 
e) Sujeito Ativo e Passivo. 
- Qualquer pessoa pode ser sujeito ativo do crime. O sujeito passivo é o Estado, bem como, 
secundariamente, o funcionário público, desde que NÃO aceite a vantagem indevida, pois 
caso contrário cometerá o crime de corrupção passiva. 
 
OBS: Se ligue nas seguintes distinções ! 
1ª) Corrupção Ativa (Art. 333 CP) X Corrupção Passiva (Art. 317 CP). 
A corrupção, em nosso ordenamento jurídico, NÃO é um crime necessariamente bilateral, de 
forma que nem sempre a configuração da corrupção passiva dependerá da existência do 
crime de corrupção ativa e vice-versa, podendo ocorrer as seguintes situações: 
 - Corrupção Ativa SEM Corrupção Passiva: o oferecimento ou promessa de vantagem indevida 
realizada pelo particular ao funcionário público configura, por si só, o crime de corrupção 
ativa, independentemente do recebimento ou da aceitação da promessa pelo funcionário 
público. 
- Corrupção Passiva SEM Corrupção Ativa: se o funcionário público apenas solicitar vantagem 
indevida ao particular, tal ato por si só já configura o crime de corrupção passiva, 
independentemente da entrega da vantagem indevida ao particular. Ressalta-se que caso o 
particular aceite e venha a entregar a vantagem indevida solicitada pelo funcionário público, 
o particular NÃO cometerá crime, já que a sua conduta é atípica, tendo em vista que para 
que haja o crime de corrupção ativa o particular deverá oferecer ou prometer vantagem 
indevida ao funcionário público. 
- Corrupção Ativa COM Corrupção Passiva – embora o crime de corrupção não seja um crime 
necessariamente bilateral, existem hipóteses em que a Corrupção Passiva SOMENTE existirá se 
ocorrer Corrupção Ativa. Desta forma se o funcionário público recebe vantagem indevida 
(crime de corrupção passiva – Art. 317 CP), é pressuposto necessário que haja anteriormente o 
crime de corrupção ativa, pois o particular tem que oferecer vantagem indevida a funcionário 
público ( Art. 333 CP). O mesmo ocorre quando o funcionário público aceitar promessa de 
vantagem indevida (crime de corrupção passiva – Art. 317 CP), cujo pressuposto necessário é o 
de que o particular tenha prometido vantagem indevida (crime de corrupção ativa Art. 333 
CP). 
2ª) Corrupção Ativa (Art. 333 CP) X Concussão (Art. 316 CP) – segundo a jurisprudência são 
incompossíveis esses crimes, ou seja, NÃO é possível haver a existência conjunta deles em uma 
mesma situação. Para que haja o crime de corrupção ativa deve o particular livre e 
espontaneamente oferecer ou prometer vantagem indevida ao funcionário público, o que 
NÃO ocorre quando há o crime de concussão, tendo em vista que neste crime o funcionário 
público exige a entrega de vantagem indevida, ou seja, a vitime é coagida a entregar a 
vantagem indevida temendo um mau futuro. 
3º) Corrupção Ativa (Art. 333 CP) X Corrupção de testemunha, perito, tradutor ou interprete (Art. 
343 CP) – Caso o particular venha a “Dar, oferecer ou prometer dinheiro ou qualquer outra 
vantagem a testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete, para fazer afirmação falsa, 
negar ou calar a verdade em depoimento, perícia, cálculos, tradução ou interpretação”, 
responderá pelo crime previsto no Art. 343 do CP, sendo um crime contra a administração da 
justiça. 
4º) Corrupção Ativa (Art. 333 CP) X Tráfico de Influência (Art. 332 CP) – No tráfico de influência o 
particular NÃO tem qualquer influencia perante o funcionário público, o particular irá solicitar, 
exigir, cobrar ou obter, para si ou para outrem, vantagem ou promessa de vantagem, a 
pretexto de influir em ato praticado por funcionário público no exercício da função. Entretanto, 
caso o particular TENHA influência perante o funcionário público e venha a corromper este 
oferecendo ou prometendo vantagem para determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato de 
ofício, o particular responderá pelo crime de corrupção ativa (Art. 333 CP). 
Ex. A (particular) afirma a B (particular) que tem influencia na Prefeitura Municipal, de forma 
que, se B lhe der determinada quantia em dinheiro, ele poderá repassar para o funcionário 
público C, para que este deixe de praticar ato de ofício, tendo A efetivamente repassado o 
dinheiro. Neste caso A e B responderão por corrupção ativa, ao passo que C, se aceitar a 
vantagem indevida, cometerá o crime de corrupção passiva. 
5º) Corrupção Ativa (Art. 333 CP) X Extravio, sonegação ou inutilizarão de livro ou documento 
(Art. 314 CP) – Na hipótese em que o funcionário público solicita ou recebe, para si ou para 
outrem, vantagem indevida, ou aceita promessa de tal vantagem, a fim de extraviar, sonegar 
ou inutilizar livro oficial ou qualquer outro documento, de que tem a guarda, comete o delito 
de corrupção passiva (Art. 317, CP), e o particular que oferece ou promete a vantagem, pelo 
crime de corrupção ativa. Em uma primeira análise tem-se a impressão de que o fato se 
enquadraria no Art. 314 do CP, sendo o particular considerado coautor ou partícipe, entretanto 
este crime é estritamente subsidiário, sendo a corrupção muito mais grave, em face do 
oferecimento pelo particular e do recebimento pelo funcionário da vantagem indevida. 
 
2.2.7 Contrabando ou descaminho. (Art. 334 CP). 
a) Tipo Objetivo. 
- Ele está no Art. 334 do CP e ocorre quando o particular: “Importar ou exportar mercadoria 
proibida ou iludir, no todo ou em parte, o pagamento de direito ou imposto devido pela 
entrada, pela saída ou pelo consumo de mercadoria: Pena - reclusão, de um a quatro anos.” 
- Veja que as condutas do agente será a de praticar contrabando, este é toda entrada ou 
saída do território nacional de mercadoria cuja importação ou exportação for, totalmente ou 
parcialmente, proibida, ou descaminho, este é toda fraude empregada pra iludir, total ou 
parcialmente, o pagamento de impostos de importação (imposto pela entrada da mercadoria 
no território brasileiro), de exportação (imposto devido pela saída da mercadoria do território 
brasileiro) ou de consumo. 
- Vale ressaltar que a doutrina diferencia o contrabando em duas espécies, existe o 
contrabando próprio, que ocorrerá quando o agente traz (ou exporta) a mercadoria proibida, 
valendo-se da repartição alfandegária, ou seja, a mercadoria proibida passa por esta. Por sua 
vez, a segunda espécie é o contrabando impróprio, que ocorre quando a mercadoria proibida 
ingresse (ou saia) do país sem passar pela zona alfandegária, ex. utilizar-se de sítios desertos 
que estejam longes das vistas das autoridades. 
Ex. Sujeito entra com mercadoria proibida no Brasil através de zonas de fronteira que não 
possuem forte fiscalização. 
- Percebe-se, também que a grande diferença entre o contrabando e o descaminho é que no 
descaminho a mercadoria não é proibida e o agente busca iludir, mediante artifício, ardil ou 
qualquer outro meio fraudulento, o pagamento de direito ou imposto devido em face da 
entrada ou saída das referidas mercadorias. 
Ex. Sujeito que emprega no produto rótulos ou letreiros falsos, não correspondentes à 
quantidade ou qualidade visando pagar a menos tributo de importação, de exportação ou de 
consumo. 
b) Bem jurídico e Objeto Material. 
- A Administração Pública é o bem jurídico protegido. 
- O objeto material do crime é a mercadoria proibida, importada ou exportada, (no crime de 
contrabando) ou o direito ou imposto devido pela entrada, pela saída ou pelo consumo de 
mercadorias cujo pagamento fora iludido total ou parcialmente (no crime de descaminho). Por 
sua vez, o bem juridicamente protegido pelo delito de contrabando ou descaminho é a 
administração pública, mais especificamente o erário público(patrimônio público). 
c) Tipo Subjetivo. 
- Este crime SOMENTE pode ser praticado na forma DOLOSA, devendo o agente ter a vontadede praticar as ações nucleares do tipo. 
d) Consumação e tentativa. 
- A consumação ocorre, no caso do contrabando, na importação ou exportação de 
mercadoria proibida, com a passagem pelos órgãos alfandegários. Entretanto, se o agente se 
utiliza de meios ocultos (clandestinos), a consumação depende da transposição das fronteiras 
dos país. No descaminho, por sua vez, a consumação ocorre com a liberação pela alfândega, 
sem o pagamento dos impostos inerentes. 
OBS: Se ligue na competência !!! A competência para o processo e julgamento por crime de 
contrabando define-se pela prevenção do Juízo Federal do lugar da apreensão dos bens, nos 
exatos termos da Súmula 151 do STJ. Isso quer dizer o seguinte: SEMPRE a competência será da 
justiça federal para processar e julgar o crime de contrabando ou descaminho, pois há afronta 
a interesses da União, e além disso, será competente a justiça federal do local da apreensão 
dos bens que foram objeto de contrabando ou descaminho. 
- A tentativa pode ocorrer tanto no contrabando ou no descaminho, pois são delitos 
plurisubsistentes (pode-se fracionar o caminho percorrido pelo crime). 
Ex. Preparado para entrar ou sair do país com a mercadoria proibida, o agente é prezo por 
policias que estavam fazendo fiscalização de rotina, havendo tentativa do crime de 
contrabando. 
Ex. O agente, embora tenha empregado meios fraudulentos, não consiga iludir a autoridade. 
e) Sujeito Ativo e Passivo. 
- O sujeito ativo do crime poderá ser qualquer pessoa. O sujeito passivo é o Estado. 
 
 Formas equiparadas (ou assemelhadas) de contrabando e descaminho (Art. 334, § 1º,CP). 
- O Art. 334, § 1º, do CP traz modalidades equiparadas do crime de contrabando ou 
descaminho, ou seja, caso cometa alguma das condutas previstas neste parágrafo o sujeito 
incorrerá nas mesmas penas do crime de contrabando ou descaminho. O agente responderá 
por crime de contrabando e descaminho equiparado, quando: 
a) pratica navegação de cabotagem, fora dos casos permitidos em lei; 
 Navegação de cabotagem é a navegação costeira, ou entre cabos e portos do país. 
Será crime se tal navegação se der fora dos casos permitidos em lei (norma penal em 
branco). 
b) pratica fato assimilado, em lei especial, a contrabando ou descaminho; 
 Por vezes, a lei equipara a contrabando ou descaminho outros fatos, como por exemplo 
a saída de mercadorias da Zona Franca de Manaus, sem autorização legal, ou seja, sem o 
pagamento dos tributos quando o valor excede a cota que cada viajante pode livremente 
trazer(Art. 39, do Decreto Lei 288/67).Trata-se, também, de norma penal em branco. 
c) vende, expõe à venda, mantém em depósito ou, de qualquer forma, utiliza em proveito 
próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria de 
procedência estrangeira que introduziu clandestinamente no País ou importou 
fraudulentamente (1ª PARTE) ou que sabe ser produto de introdução clandestina no território 
nacional ou de importação fraudulenta por parte de outrem (2ª PARTE); 
 Na 1ª PARTE pune-se a conduta do autor de contrabando ou descaminho que, através 
de exercício do comércio ou de atividade industrial, vende, expõe à venda, mantém em 
depósito ou, de qualquer forma, utiliza em proveito próprio ou alheio mercadoria de 
procedência estrangeira que introduziu clandestinamente no País ou importou 
fraudulentamente. 
 Na 2ª PARTE é punida uma modalidade especial de receptação, tendo em vista que o 
comerciante ou industriário vende, expõe à venda, mantém em depósito ou, de qualquer 
forma, utiliza em proveito próprio ou alheio, mercadorias que possuem origem clandestina 
ou fraudulenta e que foram introduzidas no Brasil por outrem. Nesta caso o agente deve 
saber que o produto foi introduzido no Brasil ou foi de importação fraudulenta por parte de 
outrem. 
d) adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade 
comercial ou industrial, mercadoria de procedência estrangeira, desacompanhada de 
documentação legal, ou acompanhada de documentos que sabe serem falsos. 
OBS: O Art. 334, § 2º, do CP prevê uma cláusula de equiparação para atividades comerciais no 
seguinte sentido: “Equipara-se às atividades comerciais, para os efeitos deste artigo, qualquer 
forma de comércio irregular ou clandestino de mercadorias estrangeiras, inclusive o exercido 
em residências.” Dessa forma, tal artigo traz uma ampliação do que é considerado atividade 
comercial, estando incluídas, por exemplo, atividades praticadas por camelôs ou comerciantes 
que trabalham na própria residência. 
 
 Causa de Aumento de pena para o crime de contrabando ou descaminho (Art. 334, § 3º, 
CP) 
- O Art. 334, § 3º, do CP prevê que a pena do crime de contrabando ou descaminho aplica-se 
em dobro, se ele for praticado em transporte aéreo. Isto se dá em virtude de o meio utilizado 
pelo agente para a prática do crime, qual seja, o transporte aéreo, torna mais difícil a 
fiscalização e a repressão do crime, justificando o aumento de pena. Adverte a doutrina, 
entretanto, que a referida causa de aumento de pena somente se aplica aos voos 
clandestinos, sendo excluída a sua aplicação para os voos regulares de carreira, pois nestes 
últimos existe fiscalização aduaneira, não havendo motivo para o aumento da pena. 
 
OBS: DESTAQUES !!! 
1º) Princípio da Insignificância. 
- Os tribunais superiores tendem a aceitar a aplicação do princípio da insignificância ao crime 
de descaminho, quando o valor do tributo suprimido seja igual ou inferior a R$ 10.000,00 (dez) 
mil reais, sendo este valor, o valor limite para as Execuções Fiscais propostas pela União, nos 
termos do Art. 20 da Lei n.º 10.522/2002. Neste sentido, o seguinte entendimento do STJ: 
Processo 
AgRg no REsp 930930 / MG 
AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL 
2007/0046517-1 
Relator(a) 
Ministra LAURITA VAZ (1120) 
Órgão Julgador 
T5 - QUINTA TURMA 
Data do Julgamento 
03/02/2011 
Data da Publicação/Fonte 
DJe 21/02/2011 
Ementa 
AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. PENAL. CRIME DE DESCAMINHO. 
APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. POSSIBILIDADE. AGRAVO 
DESPROVIDO. 
1. A Terceira Seção desta Corte Superior de Justiça, por ocasião do julgamento do 
REsp n.º 1.112.748/TO, representativo da controvérsia, pacificou o entendimento no 
sentido de, adequando-se à orientação firmada pelo Supremo Tribunal Federal, 
consignar como parâmetro para afastar a relevância penal da conduta nos crimes de 
descaminho o previsto no art. 20 da Lei n.º 10.522/2002, qual seja, o valor de R$ 
10.000,00 (dez mil reais). 
 
- A 2ª Turma do STF, atualmente, a tem entendido NÃO ser aplicável o princípio da 
insignificância ao crime de contrabando, pois neste tipo penal o desvalor da ação seria maior, 
neste sentido o Informativo n. 654 do STF: 
Contrabando e princípio da insignificância 
A 2ª Turma denegou habeas corpus em que se requeria a aplicação do princípio da 
insignificância em favor de pacientes surpreendidos ao portarem cigarros de origem 
estrangeira desacompanhados de regular documentação. De início, destacou-se a 
jurisprudência do STF no sentido da incidência do aludido postulado em casos de 
prática do crime de descaminho, quando o valor sonegado não ultrapassar o 
montante de R$ 10.000,00 (Lei 10.522/2002, art. 20). Em seguida, asseverou-se que a 
conduta configuraria contrabando, uma vez que o objeto material do delito em 
comento tratar-se-ia de mercadoria proibida. No entanto, reputou-se que não se 
cuidaria de, tão somente, sopesar o caráter pecuniário do imposto sonegado, mas, 
principalmente, de tutelar, entre outros bens jurídicos, a saúde pública. Por fim, 
consignou-se não se aplicar, à hipótese, o princípio da insignificância, pois neste tipo 
penal o desvalor da ação seria maior. O Min. Celso de Mello destacou a aversão da 
Constituiçãoquanto ao tabaco, conforme disposto no seu art. 220, § 4º, a permitir que 
a lei impusse restrições à divulgação publicitária. HC 110964/SC, rel. Min. Gilmar 
Mendes, 7.2.2012. (HC-110964) 
- A 1ª Turma do STF, atualmente, tem entendido não ser cabível a aplicação do princípio da 
insignificância aos réus reincidentes, pois não haveria que se falar em reduzido grau de 
reprovabilidade do comportamento lesivo. 
Contrabando: princípio da insignificância e reincidência 
A 1ª Turma denegou habeas corpus em que se requeria a incidência do princípio da 
insignificância. Na situação dos autos, a paciente, supostamente, internalizara maços 
de cigarro sem comprovar sua regular importação. De início, assinalou-se que não se 
aplicaria o aludido princípio quando se tratasse de parte reincidente, porquanto não 
haveria que se falar em reduzido grau de reprovabilidade do comportamento lesivo. 
Enfatizou-se que estariam em curso 4 processos-crime por delitos de mesma natureza, 
tendo sido condenada em outra ação penal por fatos análogos. Acrescentou-se que 
houvera lesão, além de ao erário e à atividade arrecadatória do Estado, a outros 
interesses públicos, como à saúde e à atividade industrial interna. Em seguida, 
asseverou-se que a conduta configuraria contrabando e que, conquanto houvesse 
sonegação de tributos com o ingresso de cigarros, tratar-se-ia de mercadoria sob a 
qual incidiria proibição relativa, presentes as restrições de órgão de saúde nacional. 
Por fim, reputou-se que não se aplicaria, à hipótese, o postulado da insignificância — 
em razão do valor do tributo sonegado ser inferior a R$ 10.000,00 — por não se cuidar 
de delito puramente fiscal. O Min. Marco Aurélio apontou que, no tocante ao débito 
fiscal, o legislador teria sinalizado que estampa a insignificância, ao revelar que 
executivos de valor até R$ 100,00 seriam extintos. HC 100367/RS, rel. Min. Luiz Fux, 
9.8.2011. (HC-100367) 
2º) Distinções ! 
 Contrabando ou descaminho (Art. 334 CP) x Lei de Drogas (Lei 11.343/2006) – se a 
importação ou exportação tiver por objeto drogas, sem autorização legal ou em 
desacordo com determinação legal ou regulamentar, haverá o crime de tráfico de drogas, 
previsto no Art. 33, caput, da Lei 11.343/2006. Por sua vez se a exportação ou importação 
for de matéria-prima, insumo ou produto químico destinado à preparação de drogas, 
haverá o crime previsto no Art. 33, parágrafo 1º, I, da Lei 11.343/2006. Além disso, se pela 
natureza, a procedência da substância ou do produto apreendido e as circunstâncias do 
fato evidenciarem a transnacionalidade do delito, haverá a incidência do Art. 40, I, da Lei 
11.343/2006. Em virtude do princípio da especialidade deverá haver a aplicação da lei 
especial(Lei de Drogas), em detrimento da geral(Código Penal) 
 Contrabando ou descaminho (Art. 334 CP) x Tráfico Internacional de Armas (Art.18 da Lei 
10.826/2003) – Se houver a importação ou exportação de arma de fogo, acessório ou 
munição, sem autorização da autoridade competente, haverá o crime de tráfico 
internacional de arma de fogo, nos termos do Art. 18 da Lei 10.826/2003, trata-se de norma 
especial que prevalecerá sobre o Código Penal, relativamente ao crime de contrabando 
(Art. 334, caput, CP). Entretanto, por falta de previsão no Estatuto do Desarmamento, no 
caso de descaminho de arma de fogo, acessório ou munição, neste caso será aplicado o 
Código Penal, mais precisamente o Art. 334 do CP. 
3º) Concurso de Crimes. 
 Falsidade documental (Art. 297 CP) e Contrabando ou descaminho – a doutrina 
entende(Fernando Capez) que, se a falsificação do documento esgota-se na prática do 
crime de contrabando ou descaminho, exaurindo sem mais potencialidade lesiva, haverá 
absorção do crime de falso, incidindo o princípio da absorção. Caso contrário, servindo o 
documento falsificado pelo agente para a aplicação de uma série de fraudes, deverá 
responder pelo delito de contrabando ou descaminho em concurso material com o crime 
de falsidade documental. 
 Uso de documento falso (Art. 304, CP) e Contrabando ou descaminho (Art. 304, parágrafo 
1º, d), CP) – na hipótese em que o agente adquire, recebe, ou oculta em proveito próprio 
ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria de procedência 
estrangeira acompanhada de documentos que sabem serem falsos, responderá apenas 
pela modalidade criminosa prevista no parágrafo 1º, d), do Art. 334 do Código Penal, NÃO 
havendo concurso de crime com o uso de documento falso, pois somente aquele que 
entregou a mercadoria com os documentos falsos deverá ser responsabilizado por esse 
delito. 
 
4º)Extinção da punibilidade no crime de descaminho – Dispõe o Art. 34 da Lei 9.249/95 que: 
“Extingue-se a punibilidade dos crimes definidos na Lei nº 8.137, de 27 de dezembro de 1990, e 
na Lei nº 4.729, de 14 de julho de 1965, quando o agente promover o pagamento do tributo ou 
contribuição social, inclusive acessórios, antes do recebimento da denúncia.” Referido 
dispositivo legal não fez qualquer menção ao crime de descaminho, entretanto, a doutrina 
majoritária entende, em face da analogia em bonam partem , ser possível a extinção da 
punibilidade nos crimes de descaminho, pois se permite a extinção da punibilidade pelo 
pagamento antes do recebimento da denúncia nos crimes de sonegação fiscal, contra a 
Ordem Tributária e contra a Previdência Social, não há razão para negar tratamento paritário 
para o delito de descaminho, onde, igualmente, há apenas sonegação de tributos. 
OBS: Neste sentido, inclusive, existe a Súmula 560 do STF com o seguinte teor: “A extinção de 
punibilidade, pelo pagamento do tributo devido, estende-se ao crime de contrabando ou 
descaminho, por força do Art. 18, parágrafo 2, do Decreto-Lei 157-67.”

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