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CCJ0053-WL-B-AMRP-04-Espécies de Jurisdição e Relação Jurisdição Penal e Não Penal

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TEORIA GERAL DO PROCESSO. Aula nº 04. 
Professor: Rodolfo Kronemberg Hartmann / www.rodolfohartmann.com.br 
 
1. Espécies de jurisdição: 
1.1. de equidade e de direito. 
Quanto ao critério “obediência ou não as fontes normativas primárias”, a 
jurisdição pode ser classificada em de “direito” ou de “equidade”. Na primeira 
delas, o magistrado que presta a jurisdição deve necessariamente observar os 
preceitos normativos, modelo este que é o adotado entre nós na maior parte 
das vezes. 
 
1.2. superior e inferior. 
Quanto ao critério “órgão que aplica a jurisdição”, a jurisdição pode ser 
classificada em “superior” ou “inferior”. A distinção é singela, posto que a 
jurisdição “inferior” é aquela prestada por órgãos integrantes do Poder 
Judiciário em primeira instância, ao passo em que a jurisdição “superior” é 
prestada pelos Tribunais, estejam ele no exercício de competência originária ou 
mesmo recursal. 
 
1.3. contenciosa e voluntária, 
Em linhas gerais, a jurisdição denominada “contenciosa” é aquela que 
apresenta os sinais mais visíveis da jurisdição. Em breve síntese, na jurisdição 
contenciosa: a) a parte interessada exerce direito de ação, pois o magistrado 
tem que ser provocado para prestar a jurisdição (coincide com a característica 
da “inércia”); b) é aplicada em um processo judicial em que foi deduzida uma 
pretensão; c) nela há a presença de partes com interesses contrapostos, ou 
seja, em litígio; d) a decisão que o magistrado vier a proferir será acobertada 
pelo manto da coisa julgada no aspecto formal e até mesmo material, conforme 
o caso (coincide com a característica da definitividade); dentre outras mais. 
Na jurisdição “voluntária”, ao revés, estas características se encontram 
ausentes, o que até mesmo leva ao questionamento se a mesma realmente 
decorre do exercício da atividade jurisdicional ou se a mesma se consubstancia 
em atividade meramente administrativa desempenhada eventualmente pelo 
magistrado. Com efeito, há quem defenda que, também na jurisdição 
“voluntária”, há o exercício de jurisdição, eis que se trata de atividade 
desempenhada por um membro do Poder Judiciário e, também, porque mesmo 
nos casos típicos de jurisdição “contenciosa” nem sempre todas as 
características acima estarão presentes 
 
1.4. penal em ao penal. 
Quanto ao critério “matéria”, a jurisdição pode ser classificada em “penal” ou 
“não penal”, diferenciando se a demanda deduzida pelo interessado pretende 
obter uma sanção punitiva, ou seja, se o demandante pretende que no 
processo seja discutida e julgada a prática ou não de um ilícito penal. 
 
 
2. Relação entre a jurisdição penal e não penal. 
2.1. Abordagem dos efeitos civis da sentença penal condenatória e seu 
paralelo com o transporte in utilibus da sentença coletiva para os pedidos 
individuais de liquidação e execução dos danos pessoalmente sofridos. 
A sentença penal, proferida por um juízo que exerce competência criminal, 
pode gerar tanto efeitos penais (v.g. restrição ao direito de liberdade do 
acusado) como civis (v.g. condenação a reparar os danos causados). A vítima 
pode, portanto, optar entre dois caminhos: o primeiro, que seria promover uma 
demanda perante o juízo cível e aguardar a sentença para então executá-la e, 
o segundo, que seria aguardar o início e desenvolvimento do processo criminal 
(usualmente iniciado pelo Ministério Público), a prolação da sentença penal 
condenatória e, também, a preclusão das vias impugnativas (o inciso é bem 
objetivo ao não admitir a “execução provisória” neste caso) para que somente, 
então, possa ser liquidada a sentença penal e, posteriormente, dado o início à 
sua execução. É o que consta no art. 64 do CPP: “Sem prejuízo do disposto no 
artigo anterior, a ação para ressarcimento do dano poderá ser proposta no 
juízo cível, contra o autor do crime e, se for caso, contra o responsável civil”. 
No entanto, esta possibilidade de apreciação, concomitante, dos mesmos fatos 
em dois instrumentos processuais distintos pode gerar algumas situações 
extremamente complexas, que demandarão maior cuidado por parte do 
aplicador do direito. Por exemplo, a via penal e a civil são absolutamente 
distintas entre si, mas, por vezes, a segunda se curva ao que foi decidido na 
primeira. É o que ocorre quando no juízo criminal for reconhecida a inexistência 
material do fato, nos termos do art. 66 do CPP: “Não obstante a sentença 
absolutória no juízo criminal, a ação civil poderá ser proposta quando não tiver 
sido, categoricamente, reconhecida a inexistência material do fato”. Da mesma 
forma, se o juízo criminal definir a existência do fato e da autoria, isso não mais 
poderá ser discutido no juízo cível, conforme indica o art. 935 do CC: “A 
responsabilidade civil é independente da criminal, não se podendo questionar 
mais sobre a existência do fato, ou sobre quem seja o seu autor, quando estas 
questões se acharem decididas no juízo criminal”. 
 
2.2. A liquidação dos efeitos civis na própria sentença penal 
condenatória. 
A Lei no 11.729/2008, alterou a redação do parágrafo único, do art. 63 do CPP, 
passando a admitir que o magistrado lotado em juízo criminal já possa, na sua 
própria sentença penal condenatória, liquidar os prejuízos sofridos pela vítima, 
o que dispensaria uma nova liquidação perante o juízo de competência cível. A 
constitucionalidade deste dispositivo, contudo, é extremamente duvidosa por 
alargar a pretensão inicial do demandante (violação ao princípio da inércia), 
conferir legitimidade ao Ministério Público para a defesa de interesses 
individuais disponíveis (patrimônio), ampliar os limites objetivos da coisa 
julgada (ao incluir a obrigação de indenizar, ainda que seja por valor mínimo), 
dente outros motivos mais. Sobre o assunto, recomenda-se: CÂMARA, 
Alexandre Freitas. “Efeitos civis e processuais da sentença condenatória 
criminal. Reflexões sobre a Lei no 11.719/2008”. Revista da EMERJ – Escola 
da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro, v. 12, no 46. 2009, p. 111. 
 
Síntese extraída das obras: HARTMANN, Rodolfo Kronemberg. A 
Execução Civil. 2ª Ed. Niterói: Impetus, 2011. HARTMANN, Rodolfo 
Kronemberg. Teoria Geral do Processo. Niterói: Impetus, 2012.

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