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CCJ0033-WL-A-PP-Unidade I -06-Apropriação Indébita - Renan Marques

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ALUNO:
MATRÍCULA:
PROF: RENAN MARQUES – Penal III
Atenção ! – o presente material foi elaborado com base nos livros de Rogério Sanches Cunha(Direito Penal: Parte especial, 3 ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010 e Código Penal Para Concursos, 5ª Ed. Salvador: Editora JusPODIVM), Rogério Greco(Código Penal Comentado, Ed. Impetus, 2011) e Fernando Capez (Curso de Direito Penal: Parte Especial: dos crimes contra os costumes a dos crimes contra a administração pública,Volume 3, São Paulo: Ed. Saraiva, 2011)
UNIDADE I. Crimes contra o Patrimônio.
6. Apropriação Indébita
Apropriação Indébita Simples. 
A) Tipo Objetivo. 
- Ela está no Art. 168, caput, do Código Penal, e ocorre na seguinte situação: “Apropriar-se de coisa alheia móvel, de que tem a posse ou a detenção. Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa”. 
- Veja que em relação à conduta, a apropriação (assenhorar-se,tomar para si) ocorre quando o agente, abusando da condição de possuidor ou detentor, inverte o animus, agindo arbitrariamente como se dono fosse. Ou seja, inicialmente o agente tem legitimamente a posse ou a detenção da coisa, a qual é transferida pelo proprietário, de forma livre e consciente, mas, em momento posterior, inverte esse título, passando a agir como se dono fosse. Nesse momento se configura a apropriação indébita. Veja-se: há a lícita transferência da posse ou detenção do bem para o agente pelo proprietário. O agente, por sua vez, estando de boa-fé, recebe o bem sem a intenção de apoderar-se dele. Até aqui não nenhum crime ocorre, entretanto, a conduta passa a ter conotação criminosa no memento em que o agente passa a dispor da coisa como se dono fosse. 
- Vale ressaltar que NÃO pode haver o emprego de violência ou fraude por parte do agente para conseguir a posse ou a detenção do objeto, pois sua obtenção contra a vontade do dono poderá caracterizar outros crimes contra o patrimônio, como o crime de roubo, estelionato ou furto.
Ex. O proprietário de um carro aluga este carro para uma pessoa, entretanto esta pessoa, após terminar o contrato de locação, passa a agir como se fosse dono do veículo, apresentando-se como proprietário do bem e nunca mais devolvendo o bem ao legítimo proprietário. 
- Além disso, a ação deve recair sobre coisa alheia móvel, que é aquela pertencente a uma pessoa diversa do sujeito ativo do crime e passível de ser transportada de um local para o outro. Por fim, observa-se que a posse ou detenção exercida pelo agente deve ser desvigiada (confiada sem vigilância, havendo a livre disponibilidade sobre a coisa) e legítima (com a concordância expressa ou tácita do proprietário).
OBS: Vale ressaltar que os conceitos de propriedade, posse e detenção são do âmbito do direito civil. Entretanto, de forma resumida, pode-se diferenciá-los da seguinte forma. A propriedade é um direito real em que o sujeito pode usar, gozar e dispor do bem, nos casos dos bens móveis a sua aquisição se dá com a tradição. A posse, por sua vez, é um fato e sua aquisição acontece desde o momento em que se torna possível exercer qualquer dos poderes inerentes à propriedade, ou seja, quando o possuidor exerce o poder de usar, gozar ou dispor do bem. A detenção, por fim, ocorre com a prática de atos materiais sobre o bem em cumprimento de ordens ou instruções alheias, havendo uma dependência hierárquica que recai sobre o detentor, como por exemplo, um motorista, um caseiro, uma empregada doméstica que atuam por ordem de um empregador. 
B) Bem jurídico e Objeto material. 
- O bem jurídico protegido é o direito de propriedade. 
- Por sua vez, o objeto material da apropriação indébita é a coisa alheia móvel que se encontra na posse ou sob a detenção do sujeito ativo do crime.
C) Tipo Subjetivo. 
- Este crime SOMENTE pode ser praticado na forma DOLOSA, entretanto o dolo é posterior à posse ou detenção da coisa, representado pela vontade consciente de se apropriar de objeto alheio móvel, existindo a intenção de se apropriar definitivamente do bem, agindo como se dono fosse (animus rem sibi habendi), ou seja, o agente tem a vontade de ter a coisa para si, como se fosse o dono. 
OBS: Distinções ! 
1ª) Apropriação indébita (Art. 168, CP) X Estelionato (Art. 171, CP) – No crime de estelionato o dolo é anterior à posse da coisa, ou seja, o agente age desde o início com a intenção específica de apoderar-se definitivamente do bem, o que NÃO ocorre com apropriação indébita, em que o dolo é sempre posterior ao recebimento da coisa. Além disso, no crime de estelionato existe o emprego de fraude, iludindo-se o proprietário do bem a agir em erro, vindo a entregar o bem sem saber que está sendo enganada. Já na apropriação indébita NÃO existe o emprego de fraude, sendo a coisa entregue livremente por quem detém a posse ou detenção da coisa alheia móvel.
Ex. Se o sujeito, com dolo antecedente, utiliza-se de um contrato de locação como artifício para cometer a apropriação, restará configurado o crime de estelionato. 
2ª) Apropriação indébita (Art. 168, CP) X Furto (Art. 155, CP) – No crime de furto a posse é vigiada, pois o agente NÃO tem a livre disponibilidade do bem (Ex. empregado de uma loja que é vigiado pelo gerente). Se a posse for desvigiada, ou seja, a posse do bem é confiada ao agente sem vigilância do proprietário, ocorrerá a apropriação indébita, ou seja, o exercício da posse não é controlado pelo proprietário (Ex. locatário que após alugar um carro resolve se apropriar definitivamente do carro que foi objeto de um contrato de locação). 
D) Consumação e tentativa. 
 
- A consumação do crime de apropriação indébita, por se tratar de crime material, ocorre com a exteriorização da inversão da posse, transformando-se em domínio, ou seja, quando o agente pratica atos inerentes à qualidade de dono, incompatíveis com a possibilidade de posterior restituição da coisa. 
Ex. Se o sujeito que detém a posse ou a detenção do bem a vende, ou doa a terceiro.
- Por sua vez, apesar de bastante divergente, entende-se possível a tentativa, pois trata-se, como regra, de crime plurissubsistente. 
Ex. O agente é surpreendido pelo proprietário no momento em que está vendendo a coisa, sendo impedido de concretizar o negócio. 
E) Sujeito Ativo e Sujeito Passivo. 
 
- O sujeito ativo do crime pode ser qualquer pessoa a quem seja confiada a posse ou detenção de determinado bem móvel. Inclusive o condômino pode figurar no polo ativo, desde que não se trate de coisa fungível e que ultrapasse a cota a que faz jus. 
- Por sua vez, o sujeito passivo será aquele atingido em seu patrimônio pela indevida apropriação, podendo ser pessoa física ou jurídica, não necessariamente aquele que entregou o bem ao agente. 
OBS: Se o sujeito ativo do crime for funcionário público, apropriando-se da coisa, pública ou particular, em razão do seu ofício, haverá a caracterização do crime de peculato apropriação, nos termos do Art. 312, caput, do Código Penal. 
Figuras Típicas. 
Apropriação Indébita Simples – Art. 168, caput, CP.
Apropriação Indébita com causa de aumento de pena – Art. 168, § 1º,CP. 
6.2.1 Apropriação Indébita com causa de aumento de pena.
- O Art. 168, § 1º, do Código Penal, prevê que a pena é aumentada de um terço, quando o agente recebeu a coisa:
I - em depósito necessário – a legislação civil (Art. 647 do CC) define o depósito necessário como sendo aquele atribuído no desempenho de função legal ou na ocorrência de calamidades, ou ainda, de acordo com o Art. 649 do CC, no caso de depósito por equiparação. Segundo Nelson Hungria (acompanhado pela maioria da doutrina), o dispositivo abrange somente a hipótese de depósito ocorrido em calamidades, já que o depositário legal será o funcionário público, que cometerá peculato, recebendo a coisa em razão do cargo. No deposito por equiparação, por sua vez, afirma Nelson Hungria que deverá o agente responder como incurso no 168, § 1º, III, do CP.
II - na qualidade de tutor,curador, síndico, liquidatário, inventariante, testamenteiro ou depositário judicial – a causa de aumento de pena se dá em razão da qualidade pessoal do agente. Vale lembrar que tutor – é pessoa que rege menor e seus bens; curador – é aquele que dirige pessoa e bens maiores e capazes; síndico – é pessoa incumbida da administração da falência; inventariante – é quem administra o espólio até a partilha; testamenteiro – é aquele que cumpre as disposições de ultima vontade do de cujos; e, por fim, depositário judicial – é a pessoa nomeada pelo juiz com a incumbência de guardar objetos até decisão judicial, cuida-se aqui de particular nomeado depositário judicial pelo juiz, pois, se for funcionário poderá haver a punição pelo crime de peculato. 
III - em razão de ofício, emprego ou profissão – a causa de aumento de pena se dá em razão da atividade desempenhada pelo agente. A doutrina esclarece que ofício – é a atividade, com fim de lucro, habitual e consistente em arte mecânica ou manual, como exemplo, o ourives, o sapateiro; o emprego – é a ocupação em serviço particular em que haja relação de subordinação e dependência, por exemplo, empregada doméstica, operário de empresa particular; e, por fim, profissão – é a atividade habitual remunerada, de caráter intelectual, a exemplo do médico, advogado, professor. 
OBS: Apropriação Indébita Privilegiada. 
- Está prevista no Art. 170 do Código Penal que prevê que: “Nos crimes previstos neste Capítulo, aplica-se o disposto no art. 155, § 2º.”
- Desta forma, os requisitos da referida apropriação indébita são: a) que o criminoso seja primário; b) que a coisa seja de pequeno valor. Presentes as circunstancias judiciais legais, o juiz está obrigado a reduzir a pena de reclusão de um terço a dois terços ou substituí-la por detenção, ou aplicar apenas a multa.
- No mais, devem ser observados os comentários que foram feitos no art. 155, § 2º, do CP. 
6.3 Destaques. 
1º) Apropriação Indébita de Uso.
 
– É possível haver a chamada apropriação indébita de uso segundo a doutrina majoritária. Da mesma forma como ocorre com a subtração de uso, pode o agente, por exemplo, não devolver, momentaneamente, a coisa que se encontra em sua posse, a fim de usá-la por mais algum tempo. 
- Neste caso, NÃO restaria configurado o delito de apropriação indébita, em virtude da ausência do animus rem sibi habendi , vale dizer, o dolo de se apropriar da coisa, de tê-lo para si como se fosse dono, invertendo o título da posse. 
2º) Possibilidade de aplicação do princípio da insignificância ao crime de apropriação indébita. 
- É possível aplicar o princípio da insignificância ao crime de propriacao indébita segundo julgados recentes do STJ, neste sentido:
	Informativo nº 0463
Período: 14 a 18 de fevereiro de 2011.
	Sexta Turma
	INSIGNIFICÂNCIA. APROPRIAÇÃO INDÉBITA. AGENDA.
	A Turma concedeu a ordem de habeas corpus para reconhecer a atipicidade da conduta imputada ao paciente denunciado pela suposta prática do crime previsto no art. 168 do CP (apropriação indébita), ante a aplicação do princípio da insignificância. In casu, a vítima, advogado, alegou que o paciente – também advogado e colega do mesmo escritório de advocacia – teria se apropriado de sua agenda pessoal (avaliada em cerca de dez reais), a qual continha dados pessoais e profissionais. Para a Min. Relatora, a hipótese dos autos revela um acontecimento trivial, sem que tenha ocorrido qualquer circunstância hábil a lhe conferir maior relevância. Consignou que, por mais que se considere que o objeto supostamente tomado continha informações importantes à vítima, a conduta é dotada de mínimo caráter ofensivo e reduzido grau de reprovação, assim como a lesão jurídica é inexpressiva e não causa repulsa social. Precedentes citados do STF: HC 84.412-SP, DJ 19/11/2004; do STJ: HC 103.618-SP, DJe 4/8/2008; REsp 922.475-RS, DJe 16/11/2009; REsp 1.102.105-RS, DJe 3/8/2009, e REsp 898.392-RS, DJe 9/3/2009. HC 181.756-MG, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 15/2/2011.

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