Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Direito Civil para AFRF Professores: Aline Santiago e Jacson Panichi - Aula - 05 Profs. Aline Santiago e Jacson Panichi www.estrategiaconcursos.com.br Página 1 de 60 AULA 05: Ato Ilícito. Responsabilidade civil: reflexos no direito do trabalho Olá alunos! Futuros Auditores Fiscais! A aula de hoje talvez seja a mais “tranquila” entre as que foram apresentadas até aqui. É de boa aplicabilidade prática e de fácil assimilação. Ao analisar questões que se referem aos atos ilícitos e à responsabilidade civil tenha em mente a situação de inferioridade na qual é colocado aquele que sofre o dano (em relação àquele que o causa) e que esta situação será sempre levada em consideração pelo direito. Imagine as situações na prática, ficando clara esta ideia, você poderá acertar questões mesmo sem um domínio absoluto do assunto. Mas antes de vermos a responsabilidade civil, o Ato ilícito e o abuso de direito, vamos relembrar rapidamente o ato jurídico lícito. Atos jurídicos lícitos (atos jurídicos em sentido amplo) são os ¹negócios jurídicos e, também, os chamados ²atos jurídicos em sentido estrito ou atos não negociais, sendo que estes últimos desencadeiam consequências jurídicas, independentemente da vontade do agente, porque seus efeitos estão previamente descritos na lei. Os efeitos desses atos se produzem ex lege. É o que acontece, por exemplo, quando um pai reconhece um filho, deste ato de reconhecimento – que não é um ato negocial, mas é lícito, decorre uma série de consequências jurídicas. Deste modo, existe um ato de vontade da pessoa, mas a produção dos efeitos não se dá de acordo com o seu querer, mas sim de acordo com o que está determinado na lei em relação aquele ato praticado. Isto não pode ser modificado pela pessoa interessada. Todo negócio jurídico é um ato lícito, mas nem todo ato lícito será um negócio jurídico, é o que ocorre com os atos jurídicos em sentido restrito que são apenas lícitos ou meramente lícitos. O ato lícito, embora seja um fato jurídico, não é considerado ato jurídico, pois atenta contra o direito (desta forma, sempre que você estiver diante da expressão ato jurídico – estará diante de um ato lícito). Direito Civil para AFRF Professores: Aline Santiago e Jacson Panichi - Aula - 05 Profs. Aline Santiago e Jacson Panichi www.estrategiaconcursos.com.br Página 2 de 60 Figura 1. O Fato Jurídico compreende: O ato Jurídico em sentido amplo (1 e 2); e, também, os atos ilícitos (3). Todos estes atos devem ter repercussão no mundo jurídico. A responsabilidade civil poderá ter origem em um ato que a princípio é lícito como, por exemplo, a contratação de uma obrigação, mas que no seu inadimplemento (não cumprimento) pode gerar a necessidade de indenizar. E a responsabilidade civil também poderá se originar pela não observação de determinadas regras de convívio em sociedade. Portanto, a responsabilidade pode advir de um não cumprimento contratual – diz-se responsabilidade civil ¹contratual ou negocial ou poderá advir de um não respeito a regras de convívio em sociedade – e, neste caso, diz-se responsabilidade civil ²extracontratual ou aquiliana. No Código Civil de 2002, a responsabilidade civil extracontratual ou aquiliana está baseada em dois dispositivos legais, quais sejam o art. 186 – que trata do ato ilícito, e o art. 187 – que trata do abuso de direito. Passemos agora ao seu estudo. -Ato ilícito e o abuso de direito (art. 186 e 187). O ato ilícito, embora também decorra da vontade do agente, produz efeito jurídico involuntário, gera obrigação de reparar o dano. Conforme lição de Flávio Tartuce1: “De início, o ato ilícito é o ato praticado em desacordo com a ordem jurídica, violando direitos e causando prejuízos a outrem. Diante da sua ocorrência, a norma jurídica cria o dever de reparar o dano, o que justifica o fato de ser o ato ilícito fonte do direito obrigacional. O ato ilícito é considerado um fato jurídico em sentido amplo, uma vez que produz efeitos jurídicos que não são desejados pelo agente, mas somente aqueles impostos pela lei”. Assim, estaremos no campo dos atos ilícitos se o agente, por ¹ação ou ²omissão voluntária, pratica ato contra o direito, com ou sem a 1 Manual de Direito Civil, vol. Único, ed. Método, 2ª ed, pg. 418. Fato Jurídico 1.Ato jurídico em sentido estrito 2.Negócio Jurídico 3.Atos ilícitos Direito Civil para AFRF Professores: Aline Santiago e Jacson Panichi - Aula - 05 Profs. Aline Santiago e Jacson Panichi www.estrategiaconcursos.com.br Página 3 de 60 intenção manifesta de prejudicar, no entanto ocasiona o prejuízo, ocasiona dano a outrem. Observe que para o Direito Civil existirá interesse no ato ilícito se houver dano a ser reparado (dano a ser indenizado). Não existe no Direito Civil o interesse em “punir” o culpado pelo ato. Neste ramo do direito o interesse está na reparação do dano, com a recomposição patrimonial da pessoa que foi atingida pelo ato ilícito. Neste momento, surge então a outra figura do nosso estudo de hoje, qual seja: a responsabilidade civil. Cabe fazermos aqui “um pequeno parênteses”, diferenciando o ato ilícito na esfera civil, como já explicado, e na esfera penal. Na esfera do Direito Penal, há uma série de condutas denominadas típicas, que estão descritas na lei, são condutas que atentam contra a lei penal, violam a lei, indo de encontro à vida social. Estas condutas constituem os crimes ou delitos penais. “Então, a violação do direito pode ser vista sob mais de um aspecto?” Exatamente. Para o nosso estudo, no que se refere a esta aula, é importante que você entenda que a violação do direito pode configurar ofensa à sociedade, pela infração de preceito indispensável à sua existência (infração a norma de direito público), ou configurar um simples dano individual (o interesse lesado é o privado). No primeiro caso, estaremos diante de um delito penal, consistente na violação da lei penal e que induz responsabilidade penal, tendente à punição. No segundo caso, estaremos diante de um “delito” civil, consistente na violação de um direito subjetivo privado e que induz reparação (indenização) do dano, a chamada responsabilização civil. Observe, no entanto, que existe a possibilidade de um ato ilícito violar as duas esferas. Neste caso, existirão, ao mesmo tempo, as duas responsabilidades, quais sejam: a penal e a civil. Outra ótica que pode ser analisada, mas que não cabe no direito civil o seu estudo aprofundado, é a que diz respeito às infrações administrativas. Importante: Ainda analisando a relação entre o direito civil e o direito penal, outra diferenciação que devemos fazer, para um melhor entendimento da aula, é com relação à palavra culpa. A culpa será um dos pressupostos da responsabilidade civil. No campo civil usa-se muito a palavra culpa em sentido lato sensu, ou seja, a culpa em sentido amplo. Na responsabilidade, quando falarmos em culpa, estamos nos referindo tanto ao dolo2 quanto a culpa3 propriamente dita. Em 2 No dolo o agente procura intencionalmente o resultado. 3 Na culpa o fato se dá por negligencia, imprudência ou imperícia. Direito Civil para AFRF Professores: Aline Santiago e Jacson Panichi - Aula - 05 Profs. Aline Santiago e Jacson Panichi www.estrategiaconcursos.com.br Página 4 de 60 sentido amplo a culpa abrange toda espéciede comportamento contrário a direito, seja ele intencional ou não, bastando que seja imputável ao causador do dano. O ato ilícito, para o direito civil, é aquele contrário à ordem jurídica e lesivo ao direito subjetivo individual, criando o dever de reparar tal prejuízo, seja ele ¹moral ou ²patrimonial. Assim está normatizado no artigo 186 do CC: “art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, ¹violar direito e ²causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.” Verificamos que o art. 186 menciona tanto o dolo como a culpa (assim considerados no campo penal). Quando fala em “ação ou omissão voluntária” se refere ao dolo – que é a situação em que o agente quer o resultado ou assume o risco de produzi-lo. A culpa, segundo o art. 186, vem estatuída pela expressão “negligência ou imprudência”. Na conduta culposa, há sempre ato voluntário determinante do resultado involuntário. A pessoa ou o agente, não prevê o resultado, mas existe a previsibilidade do evento, isto é, se olharmos objetivamente para o evento veremos que este era previsível. O agente é que não prevê o resultado, pois, se ele previsse o que iria acontecer e mesmo assim praticasse a conduta, estaria agindo com dolo e não com culpa. Figura 2. Representação do CC art. 186. Ato ilícito. Veja, então, que no art. 186 existem duas características marcantes: ¹A violação de direito e o ²dano a outrem. 1.Ação Imprudência 2.Omissão Voluntária Negligência Violar direito e causar dano a alguém Direito Civil para AFRF Professores: Aline Santiago e Jacson Panichi - Aula - 05 Profs. Aline Santiago e Jacson Panichi www.estrategiaconcursos.com.br Página 5 de 60 No artigo 187 aparece a figura do abuso de direito: “Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.” Assim, o abuso de direito consiste em um ato jurídico de objeto lícito, mas cujo exercício não observa os limites que são impostos. Desta forma, o agente exercita um direito seu, mas exorbita seus limites e acaba por desviar-se dos fins sociais para os quais estava voltado este direito. O ato em si é lícito, só perderá esta licitude tornando-se ilícito na medida de sua execução. Atente que este artigo não fala em culpa, pois para que se caracterize o abuso de direito basta que a pessoa seja titular de um direito e que, na utilização de suas prerrogativas, exceda seus limites. Deste modo, uma vez presentes os requisitos do art. 187, a responsabilidade será objetiva – ou seja, independente de culpa. (O conceito de responsabilidade objetiva, que independe de culpa; e o conceito de responsabilidade subjetiva, que depende da comprovação de culpa, são bastante importantes e você verá isso no decorrer desta aula) Neste sentido temos o enunciado 37 da I Jornada de Direito Civil do Conselho Nacional de Justiça: “Art. 187. A responsabilidade civil decorrente do abuso de direito independe de culpa, e fundamenta-se somente no critério objetivo-finalístico”. O Código Civil de 2002 (como vimos acima no art. 187) considera o abuso de direito um ato ilícito, isto porque, extrapolar os limites de um direito em prejuízo de outra pessoa merece uma resposta, em virtude de consistir em violação a princípios de finalidade da lei. Aquele que transborda os limites aceitáveis de um direito, ocasionando prejuízo, deve indenizar. A diferença básica entre os institutos vistos acima (ato ilícito e abuso de direito) é que no primeiro o ato já nasce ilícito e assim também serão suas consequências; já no segundo o ato nascerá lícito, mas será ilícito o exercício abusivo de suas prerrogativas. Ainda sobre o art. 187 temos o enunciado 413 da V Jornada de Direito Civil que reforça a orientação do atual código quanto ao princípio da sociabilidade, presente no mencionado artigo: “Os bons costumes previstos no art. 187 do CC possuem natureza subjetiva, destinada ao controle da moralidade social de determinada época; e objetiva, para permitir a sindicância da violação dos negócios jurídicos em questões não abrangidas pela função social e pela boa-fé objetiva”. Direito Civil para AFRF Professores: Aline Santiago e Jacson Panichi - Aula - 05 Profs. Aline Santiago e Jacson Panichi www.estrategiaconcursos.com.br Página 6 de 60 -Excludentes de ilicitude (art.188) O artigo 188 do CC enumera casos de exclusão de ilicitude, são os atos lesivos que não são considerados ilícitos: “art. 188. Não constituem atos ilícitos: I - os praticados em ¹legítima defesa ou no ²exercício regular de um direito reconhecido; II - a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão a pessoa, a fim de remover ³perigo iminente. Parágrafo único. No caso do inciso II, o ato será legítimo somente quando as circunstâncias o tornarem absolutamente necessário, não excedendo os limites do indispensável para a remoção do perigo.” Há, então, três casos excepcionais que não constituem atos ilícitos apesar de causarem lesões aos direitos de outrem, isto ocorre porque a própria norma jurídica lhes retira a qualificação de ilícito. São os casos elencados nos incisos do artigo 188: 1. A legítima defesa é considerada como excludente de responsabilidade civil, se com o uso moderado de meios necessários alguém repelir injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem. Observe que existe um ato que é praticado contra um agressor, mas os meios utilizados para esta defesa devem ser apenas aqueles estritamente necessários. Aqui também existe a figura da legitima defesa putativa – que acontece quando uma pessoa imagina estar sofrendo uma agressão, mas na realidade isso não está acontecendo. Nesta situação se a pessoa tomar alguma atitude com a intenção de se defender deste perigo imaginável, ainda caberá indenização para o prejudicado. Como também caberá indenização se houver excessos na defesa. Assim, para que ocorra a legítima defesa é preciso: • que a ameaça ou a agressão ao direito seja atual ou iminente; • que seja injusta; • que os meios utilizados na repulsa sejam moderados, isto é, não vão além do necessário para a defesa; • que a defesa seja de direito. 2. O exercício regular ou normal de um direito reconhecido exclui qualquer responsabilidade pelo prejuízo, por não ser um procedimento que fere ao direito. Parte-se do princípio que quem usa de um direito seu não causa dano a ninguém. Como exemplos podemos citar a pessoa que executa uma construção nos parâmetros permitidos por lei Direito Civil para AFRF Professores: Aline Santiago e Jacson Panichi - Aula - 05 Profs. Aline Santiago e Jacson Panichi www.estrategiaconcursos.com.br Página 7 de 60 em determinado terreno, mas que acaba por prejudicar o imóvel vizinho, ocultando a sua visão ou recepção solar. Mas cuidado! Conforme já explicado anteriormente, se houver abuso do direito será configurado ato ilícito. 3. O estado de necessidade consiste na ofensa do direito alheio – deterioração ou destruição de coisa pertencente a outrem ou lesão a uma pessoa – para remover perigo iminente, quando as circunstâncias o tornarem absolutamente necessário e quando não exceder os limites do indispensável para a remoção do perigo. Assim, por exemplo, age em estado de necessidade quem destrói a propriedade alheia para salvar vida de alguém. Para que se configureo estado de necessidade, exige-se: • perigo atual que ameace um bem jurídico, não provocado voluntariamente pelo agente; • prejuízo indispensável para evitar o dano iminente; • limitação do prejuízo ao necessário para a sua remoção; • proporção maior do dano evitado em relação ao dano infligido. Embora a lei declare que a o estado de necessidade (inciso II do art. 188) e a legitima defesa (art. 188, inciso I) não tipificam um ato ilícito, em determinados casos, sujeitam o autor do dano à reparação. É o que encontraremos nos arts. 929 e 930. Art. 929. Se a pessoa lesada, ou o dono da coisa, no caso do inciso II do art. 188, não forem culpados do perigo, assistir-lhes-á direito à indenização do prejuízo que sofreram. Art. 930. No caso do inciso II do art. 188, se o perigo ocorrer por culpa de terceiro, contra este terá o autor do dano ação regressiva para haver a importância que tiver ressarcido ao lesado. Parágrafo único. A mesma ação competirá contra aquele em defesa de quem se causou o dano (art. 188, inciso I)”. Portanto, se a pessoa lesada, ou dono da coisa destruída ou deteriorada não forem culpados do perigo, o autor do dano será responsável pela reparação, ficando, contudo, com ação regressiva contra seu causador. “Ficou complicado. Vocês podem esclarecer melhor isto?” Sim. Observe que nas hipóteses dos arts. 929 e 930 existem terceiros envolvidos. Ocorre mais ou menos o seguinte: Direito Civil para AFRF Professores: Aline Santiago e Jacson Panichi - Aula - 05 Profs. Aline Santiago e Jacson Panichi www.estrategiaconcursos.com.br Página 8 de 60 ¹Paulo lesa ²José, mas em virtude de causa provocada por ³Mario (causador do perigo). Nesta situação, ²José, não é o culpado pelo perigo e fará jus a indenização paga por ¹Paulo que lhe causou dano. ¹Paulo, por sua vez, terá direito de ação (regressiva) contra ³Mario, este sim o verdadeiro culpado pelo perigo. Observe que não há como não associarmos o assunto Atos ilícitos (arts. 186 a 188) com a Responsabilidade Civil (arts. 927 a 954). Pois o dano, principal efeito dos atos ilícito, gera a obrigação de reparação, a responsabilização civil. - Da Responsabilidade Civil (arts. 927 a 954) Para que uma pessoa seja responsabilizada civilmente e assim surja o dever de indenizar, três4 são os pressupostos5 que devem estar presentes, quais sejam: a) Fato lesivo voluntário ou conduta humana, causado pelo agente por ação ou omissão, que ocasione dano a outrem, ainda que exclusivamente moral. Normalmente ocorre uma ação positiva – ou seja, o sujeito pratica uma ação que ocasionará o dano. Já a omissão é mais trabalhosa para ser comprovada, uma vez que se precisa provar que existia um dever de agir e também que se tivesse ocorrido esta ação, o dano não se teria concretizado. O fato poderá estar relacionado tanto a ato próprio como a ato de terceiro e que esteja sob a guarda da pessoa. b) Ocorrência de um dano seja ele ¹patrimonial (material) ou ²moral (extrapatrimonial). Não pode haver responsabilidade civil sem a existência de um dano, é também necessário que exista prova, real e concreta, desta lesão. c) Nexo de causalidade entre o dano e o comportamento do agente. É uma ligação virtual entre a ação e o dano resultante. A causa do dano deve ser o comportamento do agente. Este nexo ficará afastado, excluindo a responsabilidade, por exemplo, se o evento se deu por culpa exclusiva da vítima, no chamado estado de necessidade, na legitima defesa e no caso fortuito ou força maior. 4 Existe divergência entre os doutrinadores sobre quais são os pressupostos do dever de indenizar. Alguns acrescentam aos três – a conduta, o nexo e o dano - a culpa genérica ou lato sensu. Nós optamos por explicar a culpa em separado, por uma questão didática, mas vale o esclarecimento. 5 Vocês também poderão encontrar estes pressupostos como elementos da responsabilidade civil. Direito Civil para AFRF Professores: Aline Santiago e Jacson Panichi - Aula - 05 Profs. Aline Santiago e Jacson Panichi www.estrategiaconcursos.com.br Página 9 de 60 São elementos necessários a configuração do ato ilícito: ³Nexo de causalidade entre: ¹Violação de direito ²Ocorrência do dano O código coloca o Título - Da Responsabilidade Civil – dentro da Parte Especial, no Direito das Obrigações, e o divide em dois capítulos: ¹Da Obrigação de Indenizar (arts. 927 a 943) e ²Da Indenização (arts. 944 a 954). A responsabilidade civil dirige-se à restauração de um equilíbrio moral e patrimonial desfeito. É a perda ou a diminuição verificada no patrimônio do lesado ou o dano moral que desencadeiam a reação legal, movida pela ilicitude da ação do autor, pela lesão ou pelo risco. Assim, todo aquele que causar dano a outrem (podendo estar envolvidas tanto as pessoas naturais quanto as pessoas jurídicas), fica obrigado a repará-lo, restabelecendo o equilíbrio rompido, é uma espécie de contraprestação. Este é o conteúdo do art. 927: “art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos ¹casos especificados em lei, ou ²quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem”. - A Culpa. Como já explicado, a culpabilidade no campo do direito civil é noção que envolve ¹a culpa stricto sensu (ou aquiliana) e ²o dolo. Destacamos que não há de se confundir os conceitos de dolo e de culpa que são bastante distintos, mas as consequências, no que diz respeito às indenizações civis, serão as mesmas. O dano causa desequilíbrio Direito Civil para AFRF Professores: Aline Santiago e Jacson Panichi - Aula - 05 Profs. Aline Santiago e Jacson Panichi www.estrategiaconcursos.com.br Página 10 de 60 A indenização, a princípio, baseia-se no dano sofrido, no entanto a culpa poderá ser analisada. Veja o que diz o artigo 944 e o artigo 945: “Art. 944. A indenização mede-se pela extensão do dano. Parágrafo único. Se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano, poderá o juiz reduzir, equitativamente, a indenização. Art. 945. Se a vítima tiver concorrido culposamente para o evento danoso, a sua indenização será fixada tendo-se em conta a gravidade de sua culpa em confronto com a do autor do dano.” No artigo 945 aparece a figura da culpa concorrente, que terá como consequência a diminuição dos efeitos do ato ilícito. “E o que vem a ser a culpa concorrente?” A concorrência de culpas se dá quando tanto o agente quanto a vítima agem com culpa. A culpa da vítima acaba por diminuir a culpa do agente. Portanto, quando a vítima também concorreu para o evento danoso, com sua própria conduta, é comum a indenização ser concedida pela metade ou em fração diversa, dependendo da contribuição da vítima. Pois como ambas as partes cooperaram para o evento, não seria justo que uma só respondesse pelos prejuízos. Mas atenção! Quando ocorre culpa exclusiva da vítima não há de se falar em indenização, porque, aqui, a outra parte não contribuiu para o evento danoso. Quando se tem a culpa como elemento necessário para a caracterização do dever de indenizar, estaremos diante da responsabilidade subjetiva – esta depende da culpa do agente causador do dano. O contrário tambémfoi previsto no nosso ordenamento jurídico. Existem várias situações para as quais o ordenamento dispensa a culpa para o dever de indenizar, bastando ¹o dano, ²a autoria e ³o nexo causal, o que se denomina responsabilidade objetiva. Em questões de prova, principalmente as que envolvem a chamada responsabilidade indireta, você deve dominar alguns conceitos, quais sejam: culpa in comittendo – está relacionada a uma ação culpa in omittendo – está relacionada a uma omissão culpa in ilegendo - está relacionada a má escolha do preposto culpa in vigilando – está relacionada a falta de atenção com o procedimento de outrem, cuja pessoa é responsável Direito Civil para AFRF Professores: Aline Santiago e Jacson Panichi - Aula - 05 Profs. Aline Santiago e Jacson Panichi www.estrategiaconcursos.com.br Página 11 de 60 culpa in custodiendo – está relacionada a falta de cuidados com a guarda de animal ou de objeto Vamos falar um pouquinho da imputabilidade. A imputabilidade, é o termo jurídico utilizado para aferir se alguém pode ser responsabilizado por seu ato, é elemento constitutivo da culpa, se refere a condições pessoais6 daquele que praticou o ato lesivo, é a verificação se o ato é resultado de uma vontade livre. Existem casos que afastam a imputabilidade: a menoridade – porém o ato ilícito por ele praticado acarretará a responsabilidade objetiva (art. 933 e 932, que será visto mais afrente); demência ou estado de grave desequilíbrio mental, acarretado pelo alcoolismo ou pelo uso de drogas, ou de debilidade mental, que torne o agente incapaz de controlar suas ações. Também neste caso haverá a responsabilidade objetiva do responsável pelo incapaz; anuência da vítima que por ato de vontade interna ou de simples escolha elege um de seus interesses em detrimento de outro; exercício normal de um direito, como por exemplo, um credor que penhora bens do devedor para pagamento de dívida; legítima defesa; estado de necessidade. -O risco e a teoria do risco. O parágrafo único do art. 927 é taxativo quando diz que haverá casos onde não se cogita a culpa do agente, são hipóteses em que o dano é reparável mesmo sem o fundamento da culpa (responsabilidade objetiva), baseando-se simplesmente no risco objetivamente considerado. Neste caso, de responsabilidade sem culpa, é preciso esclarecer que o perigo deve resultar do exercício da atividade e não do comportamento do agente. A atividade é lícita, mas causa perigo a outrem. “Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos ¹casos especificados em lei, ou ²quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.” 6 Se no momento da prática do ato, a pessoa tinha consciência do que fazia e mesmo assim o praticou. Direito Civil para AFRF Professores: Aline Santiago e Jacson Panichi - Aula - 05 Profs. Aline Santiago e Jacson Panichi www.estrategiaconcursos.com.br Página 12 de 60 São duas as situações da chamada responsabilidade objetiva: ¹Casos especificados em lei ²Atividade que por sua natureza implique risco ao direito de outro. Segundo Caio Mario da Silva Pereira7: “No campo da teoria objetivista situa-se a teoria do risco proclamando ser de melhor justiça que todo aquele que disponha de um conforto oferecido pelo progresso ou que realize um empreendimento portador de utilidade ou prazer, deve suportar os riscos a que exponha os outros.” A teoria do risco muda o foco, que até antão estava localizado na culpa, agora a responsabilidade baseia-se no risco. A culpa não é substituída apenas deixa de ser o principal elemento a ser observado. -Classificações da responsabilidade civil. Muito importante! (pensando em provas de concursos) As espécies de responsabilidade civil: Quanto ao seu fundamento, poderá ser: responsabilidade subjetiva que é a teoria clássica e pressupõe a culpa em sentido amplo como elemento necessário, como fundamento, para a responsabilização civil; e responsabilidade objetiva que se fundamentada no risco, no dano mesmo sem culpa, sendo necessários apenas o dano e o nexo de causalidade. Quanto ao seu fato gerador, como já falado anteriormente, poderá ser: responsabilidade contratual (quando oriunda de inexecução de negócio jurídico bilateral ou unilateral); responsabilidade extracontratual ou aquiliana (a fonte dessa responsabilidade é a inobservância da lei, é a lesão a um direito, sem que entre as partes exista qualquer relação jurídica). A responsabilidade contratual está localizada principalmente no que diz respeito ao Inadimplemento (não cumprimento) de obrigações: “CC Art. 389. Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e danos, mais juros e atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado. 7 Caio Mario da Silva Pereira, Instituições de direito Civil, volume I, 25 ed., pág. 560. Direito Civil para AFRF Professores: Aline Santiago e Jacson Panichi - Aula - 05 Profs. Aline Santiago e Jacson Panichi www.estrategiaconcursos.com.br Página 13 de 60 Art. 390. Nas obrigações negativas o devedor é havido por inadimplente desde o dia em que executou o ato de que se devia abster. Art. 391. Pelo inadimplemento das obrigações respondem todos os bens do devedor. Art. 392. Nos contratos benéficos, responde por simples culpa o contratante, a quem o contrato aproveite, e por dolo aquele a quem não favoreça. Nos contratos onerosos, responde cada uma das partes por culpa, salvo as exceções previstas em lei. Art. 393. O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso fortuito ou força maior, se expressamente não se houver por eles responsabilizado. Parágrafo único. O caso fortuito ou de força maior verifica-se no fato necessário, cujos efeitos não era possível evitar ou impedir. ... Art. 402. Salvo as exceções expressamente previstas em lei, as perdas e danos devidas ao credor abrangem, além do que ele efetivamente perdeu, o que razoavelmente deixou de lucrar. Art. 403. Ainda que a inexecução resulte de dolo do devedor, as perdas e danos só incluem os prejuízos efetivos e os lucros cessantes por efeito dela direto e imediato, sem prejuízo do disposto na lei processual.” Quanto ao agente (quanto à pessoa que pratica a ação), poderá ser: direta (se proveniente da própria pessoa responsabilizada), e indireta ou complexa (se derivada de ato de terceiro na vigência de vínculo legal de responsabilidade; ou de responsabilidade sobre animais (fato de animal) e objetos que estão sob sua guarda). -O dano. Após detalharmos a culpa e o risco passemos para o dano. Já falamos anteriormente que não pode haver responsabilidade civil sem um dano, para que haja pagamento de indenização, é necessária a comprovação da existência de lesão. Para fins de prova você precisa ter os seguintes entendimentos: Ao lado do dano individual – que constitui lesão a patrimônio ou a direito de personalidade, temos o dano social - que é uma lesão à sociedade no seu nível de vida, tanto por rebaixamento de sua segurança, quanto por diminuição de sua qualidade de vida. O dano individual basicamente poderá ser: O dano patrimonial é lesão concreta, a um interesse relativo a patrimônio da vítima, consistente na perdaou deterioração, total ou parcial, dos bens materiais que lhe pertencem, sendo suscetível de avaliação pecuniária e de indenização pelo responsável. Direito Civil para AFRF Professores: Aline Santiago e Jacson Panichi - Aula - 05 Profs. Aline Santiago e Jacson Panichi www.estrategiaconcursos.com.br Página 14 de 60 O dano moral é lesão aos direitos da personalidade, de pessoa natural ou jurídica. A indenização por dano moral inclusive encontra respaldo constitucional federal em seu art. 5, incisos V e X: “V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem; ... X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;” -A responsabilidade civil e a reparação do dano. Como você já pode perceber, a responsabilidade civil constitui uma relação obrigacional que tem por objeto a prestação de ressarcimento, ou seja, a reparação do dano procurando, na medida do possível, desfazer seus efeitos, restituindo o prejudicado ao statu quo ante. Portanto a função da responsabilidade é servir como sanção civil, punindo o lesante e desestimulando a pratica de atos lesivos, mas é também, principalmente, a garantia ao direito do lesado, tendo natureza compensatória, mediante a reparação do dano causado a vítima. A obrigação de ressarcir o prejuízo causado pode originar-se: 1. Inexecução contratual, pois se origina de responsabilidade contratual, o não cumprimento da obrigação, seja total ou parcial, bem como nos casos de retardamento de seu cumprimento. 2. A Lesão a direito subjetivo ocorre sem que preexista entre o lesado e lesante qualquer relação jurídica. Nesta responsabilidade extracontratual aparecerão, por exemplo, os casos de ¹responsabilidade por fato de terceiro, ²de animais e ³de coisas, que configuram a responsabilidade indireta. Vamos dar uma olhada em alguns artigos do Código Civil onde temos a possibilidade da responsabilidade indireta: “Art. 931. Ressalvados outros casos previstos em lei especial, os empresários individuais e as empresas respondem independentemente de culpa pelos danos causados pelos produtos postos em circulação. ... Art. 936. O dono, ou detentor, do animal ressarcirá o dano por este causado, se não provar culpa da vítima ou força maior. Direito Civil para AFRF Professores: Aline Santiago e Jacson Panichi - Aula - 05 Profs. Aline Santiago e Jacson Panichi www.estrategiaconcursos.com.br Página 15 de 60 Art. 937. O dono de edifício ou construção responde pelos danos que resultarem de sua ruína, se esta provier de falta de reparos, cuja necessidade fosse manifesta. Art. 938. Aquele que habitar prédio, ou parte dele, responde pelo dano proveniente das coisas que dele caírem ou forem lançadas em lugar indevido.” - reparação do dano. O princípio que rege a profundidade de alcance da responsabilidade no patrimônio da pessoa que deve indenizar é o princípio da responsabilidade patrimonial. Ou seja, a pessoa deverá responder com seu patrimônio pelos prejuízos causados a terceiros. Esta responsabilidade deverá ser total, cobrindo o dano em todos os seus aspectos, de modo que todos os bens do devedor respondam pelo ressarcimento, com exceção dos inalienáveis. A obrigação de prestar a reparação transmite-se com a herança e o lesado poderá demandar o espólio até onde alcançar o saldo positivo deixado pelo de cujus aos seus sucessores. Mas os herdeiros não responderão com seu patrimônio pessoal. Em tese, apenas o lesado ou seus herdeiros teriam legitimação para exigir a indenização do prejuízo, porém, atualmente, se tem admitido que a indenização possa ser reclamada pelos que viviam sob a dependência econômica da vítima. Havendo direito à reparação do dano, surge à liquidação, que é a operação de vai concretizar a indenização, fixando o quanto e o modo do ressarcimento, que não poderá exceder o valor do dano causado por não se permitir enriquecimento indevido. Deve–se dar ao credor aquilo que baste para restaurar a situação ao status quo ante, sem acréscimos nem reduções. Para se chegar ao quantum devido, de acordo com os arts. 944 e 945, deverá o magistrado analisar o grau de culpa do lesante e se houve participação (culpa) do lesado: “Art. 944 A indenização mede-se pela extensão do dano. Parágrafo único. Se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano, poderá o juiz reduzir, equitativamente, a indenização. Art. 945. Se a vítima tiver concorrido culposamente para o evento danoso, a sua indenização será fixada tendo-se em conta a gravidade de sua culpa em confronto com a do autor do dano”. Deverá analisar também: a situação da vítima ou do causador do dano; a influência de acontecimento exteriores ao fato prejudicial (visto que a responsabilidade civil requer nexo de causalidade entre o dano e a ação que o produziu); e o lucro obtido pela vítima com a reparação do dano. Direito Civil para AFRF Professores: Aline Santiago e Jacson Panichi - Aula - 05 Profs. Aline Santiago e Jacson Panichi www.estrategiaconcursos.com.br Página 16 de 60 - O nexo causal. O nexo causal vem a ser o vínculo entre o prejuízo sofrido e a ação. Para caracterizar este nexo, basta que se verifique que o dano8 não ocorreria se o fato não tivesse acontecido. Você precisa tomar cuidado com a negação da causalidade, as excludentes de responsabilidade. As principais excludentes de responsabilidade civil são: o estado de necessidade; a legitima defesa (já vistos quando analisamos os excludentes de ilicitude do art. 188); a culpa da vítima; o fato de terceiro; o caso fortuito ou força maior9 e a clausula de não indenizar. Atenção: todos os casos de excludentes de responsabilidade deverão ser devidamente analisados e comprovados, porque sua comprovação deixa o lesado sem a composição do dano sofrido. -Os efeitos da responsabilidade civil quanto aos titulares da ação ressarcitória e quanto aos devedores da indenização. Titulares da ação ressarcitória: No momento da consumação do fato lesivo surge para o lesado a pretensão de indenização, mas seu direito de crédito apenas se concretiza com a decisão judicial. Além disso, tal direito transmite-se com a herança. Assim temos o art. 943: “Art. 943 O direito de exigir reparação e a obrigação de prestá-la transmitem-se com a herança”. O direito de ressarcimento do dano atinge a todos os efetivamente experimentarem o prejuízo. Também, as pessoas jurídicas públicas ou privadas poderão propor ação fundada em dano material e em dano moral objetivo. 8 O dano poderá ter um efeito indireto, como por exemplo, quando uma pessoa quebra a vitrine de uma loja, e por causa desta atitude objetos são furtados da loja. Terá que indenizar o vidro e também os objetos que foram furtados, por ser dano indireto, embora efeito necessário da ação de quebrar a vitrine. 9 Se o evento danoso foi resultado de caso fortuito ou força maior, deixa de existir o elemento culpa, deixando de existir a responsabilidade. Neste caso, existem dois elementos: um de ordem interna – que é a inevitabilidade do evento, e outro de ordem externa – que é a ausência de culpa do agente. A alegação de caso fortuito ou força maior cabe ao réu, ou a pessoa que está sendo acusada de ter cometido o ato. Direito Civilpara AFRF Professores: Aline Santiago e Jacson Panichi - Aula - 05 Profs. Aline Santiago e Jacson Panichi www.estrategiaconcursos.com.br Página 17 de 60 Devedores da indenização: Como vimos o dano é pressuposto da responsabilidade civil e terá obrigação de repara-lo aquele para qual a lei impôs tal responsabilidade. Em regra, a obrigação de reparar o dano será individual, mas nem sempre vai ser direta (como já vimos nas espécies de responsabilidade), será indireta, por exemplo, quando a pessoa responder por fato de outrem, por animais ou coisas sob sua guarda. A responsabilidade direta e a responsabilidade indireta: A responsabilidade direta, simples ou por fato próprio - é a que decorre de um fato pessoal do causador do dano, resultando, portanto, de uma ação direta de uma pessoa ligada à violação ao direito ou ao prejuízo ao patrimônio, por ato culposo ou doloso. A responsabilidade complexa ou indireta - é aquela que só poderá ser vinculada indiretamente ao responsável. Compreende: A responsabilidade por fato de terceiro; a responsabilidade pelo fato do animal; e a responsabilidade pelo fato da coisa. Responsabilidade por fato de terceiro, são os casos previstos no art. 932 (este artigo é muito importante para fins de prova) “art. 932. São também responsáveis pela reparação civil: I - os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia; II - o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas mesmas condições; III - o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele; IV - os donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos onde se albergue por dinheiro, mesmo para fins de educação, pelos seus hóspedes, moradores e educandos; V - os que gratuitamente houverem participado nos produtos do crime, até a concorrente quantia”. O fato de terceiro não exclui a responsabilidade, mas aquele que ressarcir o dano causado por outrem, se este não for seu descendente, absoluta ou relativamente incapaz, poderá reaver o que pagou. Responsabilidade pelo fato do animal, caso do art. 936: “Art. 936. O dono, ou detentor, do animal ressarcirá o dano por este causado, se não provar culpa da vítima ou força maior”. Direito Civil para AFRF Professores: Aline Santiago e Jacson Panichi - Aula - 05 Profs. Aline Santiago e Jacson Panichi www.estrategiaconcursos.com.br Página 18 de 60 Responsabilidade pelo fato da coisa: “Art. 931. Ressalvados outros casos previstos em lei especial, os empresários individuais e as empresas respondem independentemente de culpa pelos danos causados pelos produtos postos em circulação.” O art. 931, acima, é caso de responsabilidade objetiva (independente de culpa). “Art. 937. O dono de edifício ou construção responde pelos danos que resultarem de sua ruína, se esta provier de falta de reparos, cuja necessidade fosse manifesta.” O titular do domínio ou possuidor, ao usar coisa inanimada que lhe pertencer ou que tem permissão para possuir, pode originar acidentes lesivos ao patrimônio e à integridade física do terceiro, caso em que deverá reparar o dano causado. Como exemplos podemos citar os prejuízos resultantes de: ruína total ou parcial de um edifício; queda de árvore; instalações domésticas; queda de elevador por falta de conservação. Art. 938. Aquele que habitar prédio, ou parte dele, responde pelo dano proveniente das coisas que dele caírem ou forem lançadas em lugar indevido.” Funda-se na obrigação geral de não colocar em risco a coletividade. - A Coautoria e a Solidariedade. Se houver coautoria ou cumplicidade no fato lesivo, responderão estas pessoas solidariamente, de acordo com o art. 942. “art. 942. Os bens do responsável pela ofensa ou violação do direito de outrem ficam sujeitos à reparação do dano causado; e, se a ofensa tiver mais de um autor, todos responderão solidariamente pela reparação. Parágrafo único. São solidariamente responsáveis com os autores os co- autores e as pessoas designadas no art. 932.” Assim a solidariedade possibilita que qualquer um dos codevedores seja demandado pelo total da dívida, permite que o titular do crédito possa exigir de qualquer deles o que lhe é devido e instaura o direito de reembolso do devedor, que, demandado pelo débito solidário, satisfez a dívida por inteiro. Este direito de reembolso ou direito de regresso está autorizado nos arts. 930 e 934: “Art. 930. No caso do inciso II do art. 188, se o perigo ocorrer por culpa de terceiro, contra este terá o autor do dano ação regressiva para haver a importância que tiver ressarcido ao lesado. Parágrafo único. A mesma ação competirá contra aquele em defesa de quem se causou o dano (art. 188, inciso I). Direito Civil para AFRF Professores: Aline Santiago e Jacson Panichi - Aula - 05 Profs. Aline Santiago e Jacson Panichi www.estrategiaconcursos.com.br Página 19 de 60 ... Art. 934. Aquele que ressarcir o dano causado por outrem pode reaver o que houver pago daquele por quem pagou, salvo se o causador do dano for descendente seu, absoluta ou relativamente incapaz”. -Outras situações (arts. 939 e 940): - A responsabilidade do demandante por dívida não vencida está no art. 939: “art. 939. O credor que demandar o devedor antes de vencida a dívida, fora dos casos em que a lei o permita, ficará obrigado a esperar o tempo que faltava para o vencimento, a descontar os juros correspondentes, embora estipulados, e a pagar as custas em dobro.” Tem-se aqui questão de excesso de pedido, em que o autor, movendo ação de cobrança de dívida, pede mais do que aquilo a que faz jus. Por este motivo, o demandante de má-fé deverá esperar o tempo que falta para o vencimento, descontar os juros correspondentes e pagar as custas em dobro. Se agiu de boa-fé, deverá pagar tão somente as custas vencidas na ação de cobrança, de que decairá, por ser intempestiva. - A responsabilidade por dívida já solvida rege-se pelo art. 940: “art. 940. Aquele que demandar por dívida já paga, no todo ou em parte, sem ressalvar as quantias recebidas ou pedir mais do que for devido, ficará obrigado a pagar ao devedor, no primeiro caso, o dobro do que houver cobrado e, no segundo, o equivalente do que dele exigir, salvo se houver prescrição”. Este art. trata do excesso de pedido, e tem por finalidade impedir que se exija uma segunda vez, dívida que já foi paga no todo ou em parte. O art. 941 diz: “As penas previstas nos arts. 939 e 940 não se aplicarão quando o autor desistir da ação antes de contestada a lide, salvo ao réu o direito de haver indenização por algum prejuízo que prove ter sofrido”. Portanto, se o credor desistir da ação, antes da outra parte ter respondido, não se aplicarão as penas previstas, salvo se o réu (devedor) tiver tido algum prejuízo por conta da ação. -A responsabilidade civil e sua relação com a esfera penal. Assim está no CC, art. 935: Direito Civil para AFRF Professores: Aline Santiago e Jacson Panichi - Aula - 05 Profs. Aline Santiago e Jacson Panichi www.estrategiaconcursos.com.br Página 20 de 60 “Art. 935. A responsabilidade civil é independente da criminal, não se podendo questionar mais sobre a existência do fato, ou sobre quem seja o seu autor, quando estas questões se acharem decididas no juízo criminal”. Trata-se do princípio da independência relativa daresponsabilidade civil em relação à criminal. O indivíduo poderá não ser penalmente responsabilizado e, no entanto, ser obrigado a reparar o dano civil ou, vendo por outra ótica, a pessoa poderá ser civilmente responsável, sem ter que prestar contas de seu ato na esfera criminal. No entanto, ainda conforme art.935, no que diz respeito a existência do fato ou de quem seja o seu autor, se estas questões já estiverem decididas na esfera criminal, não se pode mais questioná-las nas esfera civil. Assim, podemos definir a responsabilidade civil como a aplicação de medidas que obriguem alguém a reparar dano moral ou patrimonial causado a terceiro em razão de: ato próprio; ato de pessoa por quem ele responde; ou de fato decorrente de coisa ou animal sob sua guarda; ou, ainda, de simples imposição legal. - Responsabilidade civil: reflexos no direito do trabalho Haverá a aplicação subsidiária do Código Civil no direito do trabalho. Vejamos, primeiramente, onde está o fundamento disto no ordenamento jurídico: Constituição Federal. “Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: ... XXVIII - seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a indenização a que este está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa; ... Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar: ... VI as ações de indenização por dano moral ou patrimonial, decorrentes da relação de trabalho;” CLT. “Art. 2º - Considera-se empregador a empresa, individual ou coletiva, que, assumindo os riscos da atividade econômica, admite, assalaria e dirige a prestação pessoal de serviço. ... Art. 8º ... Parágrafo único - O direito comum será fonte subsidiária do direito do trabalho, naquilo em que não for incompatível com os princípios fundamentais deste.” Direito Civil para AFRF Professores: Aline Santiago e Jacson Panichi - Aula - 05 Profs. Aline Santiago e Jacson Panichi www.estrategiaconcursos.com.br Página 21 de 60 Código Civil. “Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. ... Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil: ... III - o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele; ... Art. 933. As pessoas indicadas nos incisos I a V do artigo antecedente, ainda que não haja culpa de sua parte, responderão pelos atos praticados pelos terceiros ali referidos. Art. 934. Aquele que ressarcir o dano causado por outrem pode reaver o que houver pago daquele por quem pagou, salvo se o causador do dano for descendente seu, absoluta ou relativamente incapaz.” Vamos analisar, aqui, a responsabilidade civil em duas situações: aquela relativa aos ¹atos de seus empregados e aquela relacionada aos ²acidentes de trabalho. 1. Atos de seus empregados: Pelos institutos normativos acima observamos que a responsabilidade do empregador é objetiva, independe de culpa, nos casos de ações relacionadas a atos de seus empregados no exercício do trabalho (responsabilidade por fato de outrem). Exemplo: Figura 3. Exemplo de como ocorre a responsabilidade objetiva da empresa (empregador). A empresa, além disso, não pode alegar o desconhecimento do ato, a sua responsabilidade independe de culpa. •empregado, no exercício do trabalho ou em razão dele pratica o ato lesivo •pessoa que sofreu dano (podendo ser inclusive outro empregado, hierarquicamente inferior) Aciona na justiça •a Empresa, que é o sujeito passivo sobre quem deve recair a ação, e não o empregado. a empresa responde objetivamente Direito Civil para AFRF Professores: Aline Santiago e Jacson Panichi - Aula - 05 Profs. Aline Santiago e Jacson Panichi www.estrategiaconcursos.com.br Página 22 de 60 Observamos também que é necessária a presença de requisitos para que se configure a responsabilidade do empregador em relação ao seu empregado ou preposto, como: que causador do dano seja efetivamente empregado, preposto ou serviçal do empregador que será responsabilizado; que o ato que gerou o dano e consequentemente ocasionou a responsabilização tenha se originado de suas atividades laborais, ou seja, que o ato tenha sido praticado quando o empregado estava no exercício de suas funções trabalhistas, ou em razão delas. O que importa neste tipo de responsabilidade é a relação de subordinação hierárquica que existe entre empregado e empregador. Ressaltamos ainda que a ordem normativa contida no art. 932, III do CC deve ser interpretada e entendida de modo amplo e não restritivo. Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil: ... III - o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele; Assim, para que se caracterize este tipo de responsabilidade, não se leva em conta que o ato danoso praticado pelo empregado esteja dentro de suas funções trabalhistas, bastando apenas que estas funções tornem sua prática mais fácil. Tem-se admitido também, para a caracterização da responsabilidade, a Teoria da Aparência. Ou seja, que a pessoa que se diz empregada tenha a aparência de que realmente o seja; que tenha a aparência de que pertença ao cargo ou função que se diz pertencer. Também é exigido pela Teoria da Aparência que a vítima acredite de boa-fé no empregado, ou seja, que este estava trabalhando em suas funções quando praticou o ato lesivo. Neste caso da Teoria da Aparência, a pessoa cria uma situação ou um enredo capaz de convencer outra da sua confiança, levando-a a realizar ou permitir o serviço. Uma última ressalva que nós fazemos, diz respeito a quando o empregador se responsabiliza por atos de seus empregados, nos casos de acidentes automobilísticos ocasionados por motoristas fora de seus horários de trabalho, conforme TAMG, Ap. 20.443, Boa Esperança, rel. Humberto Theodoro: “A circunstância de ter o acidente ocorrido num domingo, fora do horário de trabalho do empregado da empresa demandada, é irrelevante. O que é decisivo é que o motorista tenha acesso ao veículo causador do evento danoso, em razão do vínculo empregatício existente. Estando comprovado que o evento decorreu de ato culposo do motorista, presume-se a corresponsabilidade do patrão”. Como já falamos e ainda segundo o art. 934, teria o empregador direito a uma ação regressa contra seu funcionário. No entanto, esta questão da ação regressa não é pacífica na doutrina e, por ser um assunto mais específico do direito do trabalho, acreditamos que não será Direito Civil para AFRF Professores: Aline Santiago e Jacson Panichi - Aula - 05 Profs. Aline Santiago e Jacson Panichi www.estrategiaconcursos.com.br Página 23 de 60 objeto de questionamento em prova, caso isto ocorra há um posicionamento do STJ. Vejamos o que diz a Jornada I do STJ 44: “Na hipótese do CC art. 934 o empregador e o comitente somente poderão agir regressivamente contra o empregado ou preposto se estes tiverem causado dano com dolo ou culpa” 2. Acidentes de trabalho: A indenização acidentária (decorrente do seguro obrigatório) tem por fundamento a responsabilidade objetiva, independentemente da culpa ou não do empregador. No entanto: STF Súmula nº 229 “A indenização acidentária não exclui ado direito comum, em caso de dolo ou culpa grave do empregador”. Admitida a cumulatividade das indenizações, temos que: no que se refere à indenização decorrente de responsabilidade civil, a empresa responderá subjetivamente em relações aos danos causados a seus empregados. A responsabilidade neste caso decorre de dolo ou culpa e isto está no texto constitucional: Constituição. art. 7º... XXVIII - seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a indenização a que este está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa; É importante salientarmos que o empregador deve cumprir e exigir o cumprimento das normas preventivas do acidente do trabalho. Não basta fornecer o equipamento de proteção, é preciso exigir o uso deste equipamento e fiscalizar o cumprimento das normas reguladoras do trabalho. O não cumprimento destes preceitos acaba por indicar a culpa do empregador. Portanto, segundo as normas do Código Civil, terá o empregador que suportar a responsabilidade da indenização, qualquer que seja seu grau de culpa, sem compensações com a indenização paga pela Previdência Social. O empregador só estará isento de responsabilidade civil concomitante com a previdenciária, caso o evento danoso se dê por caso fortuito, força maior ou, ainda, caso ocorra por culpa exclusiva da vítima ou de terceiro. ....................................................................................................... Direito Civil para AFRF Professores: Aline Santiago e Jacson Panichi - Aula - 05 Profs. Aline Santiago e Jacson Panichi www.estrategiaconcursos.com.br Página 24 de 60 “A educação da mente custa esforço; um esforço voluntário e consciente. Recorde isto com frequência; recorde também que este esforço é vida, porque cria energias que suprem amplamente os desgastes que todo esforço ocasiona. Além disso, não esqueça que põe à prova, com vantagem para você, sua capacidade de produzir, de fazer, de realizar” (Carlos Bernardo Gonzáles Pecotche10) Um grande abraço e bons estudos. Aline Santiago & Jacson Panichi 10 Bases para sua Conduta, Editora Logosófica, 13 ed., 1996. Direito Civil para AFRF Professores: Aline Santiago e Jacson Panichi - Aula - 05 Profs. Aline Santiago e Jacson Panichi www.estrategiaconcursos.com.br Página 25 de 60 Questões e seu respectivo comentário: 1. ESAF 2007/PROCURADOR DA FAZENDA NACIONAL. Se um escritor, culposamente, não entregar ao editor, no prazo estipulado no contrato, a obra prometida, a sua responsabilidade, quanto ao fato gerador, será: a) objetiva b) indireta c) contratual c) direta e) subjetiva O importante nesta questão é verificarmos que o ato danoso ocorreu em virtude de uma obrigação pré-existente, ou seja, contrato ou negócio jurídico bilateral. Segundo seu fato gerador a responsabilidade pode ser contratual ou extracontratual. A responsabilidade contratual abrange o inadimplemento ou mora relativos a qualquer obrigação, ainda que proveniente de negócio jurídico unilateral – como o testamento, a procuração ou a promessa de recompensa, ou da lei – como a obrigação de prestar alimentos. E a responsabilidade extracontratual compreende, por seu turno, a violação dos deveres gerais de abstenção ou omissão, como os que correspondem aos direitos reais, aos direitos de personalidade ou aos direitos do autor. O caso apresentado na questão – escritor que culposamente não entrega a obra prometida, dentro do prazo estipulado no contrato – caracteriza a responsabilidade contratual. Gabarito C. 2. ESAF 2006 MTE/AFT. O empregador ou comitente, por ato lesivo de seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício de trabalho que lhes competir ou em razão dele, a) responsabiliza-se objetivamente pela reparação civil, pouco importando que se demonstre que não concorreu o prejuízo por culpa ou negligência de sua parte. b) responde subjetivamente pelo dano moral e patrimonial. Direito Civil para AFRF Professores: Aline Santiago e Jacson Panichi - Aula - 05 Profs. Aline Santiago e Jacson Panichi www.estrategiaconcursos.com.br Página 26 de 60 c) tem responsabilidade civil objetiva por não existir presunção juris tantum de culpa, mas não poderá reaver o que pagou reembolsando-se da soma indenizatória despendida. d) tem responsabilidade civil subjetiva por haver presunção juris tantum de culpa in eligendo e in vigilando. e) não tem qualquer obrigação de reparar dano por eles causado a terceiro. O CC/2002 estabeleceu, também, a responsabilidade objetiva, aquela que independe de culpa. Isto, por exemplo, é o que ocorre no que diz respeito aos empregadores e comitentes pelos atos de seus empregados, serviçais e prepostos – de acordo com o art. 932 e 933. Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil: I - os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia; II - o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas mesmas condições; III - o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele; IV - os donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos onde se albergue por dinheiro, mesmo para fins de educação, pelos seus hóspedes, moradores e educandos; V - os que gratuitamente houverem participado nos produtos do crime, até a concorrente quantia. Art. 933. As pessoas indicadas nos incisos I a V do artigo antecedente, ainda que não haja culpa de sua parte, responderão pelos atos praticados pelos terceiros ali referidos. Gabarito letra A. 3. ESAF 2006/CGU/AFC- ÁREA CORREIÇÃO. A falta de cautela ou atenção em relação a uma pessoa, animal ou objeto sob os cuidados do agente, que provoca dano a alguém, é considerada quanto ao conteúdo da conduta culposa a) culpa in committendo. b) culpa in abstrato. c) culpa in custodiendo. d) culpa in concreto. e) culpa in omittendo. Direito Civil para AFRF Professores: Aline Santiago e Jacson Panichi - Aula - 05 Profs. Aline Santiago e Jacson Panichi www.estrategiaconcursos.com.br Página 27 de 60 Observe que a questão traz a figura da culpa indireta. Como falamos em aula, você deve dominar alguns conceitos nas questões que envolvem a responsabilidade indireta, quais sejam: culpa in ilegendo - está relacionada a má escolha do preposto. culpa in vigilando – está relacionada a falta de atenção com o procedimento de outrem, cuja pessoa é responsável. culpa in custodiendo – está relacionada a falta de cuidados na guarda de algum objeto ou animal. Há também: Culpa in comittendo – é a que resulta de um ação do agente. Culpa in omittendo – é a que resulta de uma omissão do agente. (Cabe ressaltar que este último tipo de culpa só terá relevância para o direito quando havia o dever de não se omitir). Conforme o art. 936. “O dono, ou detentor, do animal ressarcirá o dano por este causado, se não provar culpa da vítima ou força maior”. Assim, este artigo presume a culpain custodiendo do dono do animal, vale ressaltar que esta presunção não é absoluta, pois admite a inversão do ônus da prova, permitindo-lhe provar culpa da vítima ou força maior. Gabarito letra C. 4. ESAF 2006/PROCURADOR DA FAZENDA NACIONAL. Constituem caso de responsabilidade civil por ato de outrem, exceto a) os pais, pelos filhos menores que estiverem sob seu poder e companhia, mesmo se comprovado que agiu de maneira incensurável quanto à vigilância e educação do menor. b) o tutor ou curador, pelos atos praticados pelos pupilos e curatelados, tenha ou não apurado sem culpa. c) o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho ou por ocasião dele. d) os donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos onde se albergue por dinheiro, menos para fins de educação, pelos seus hóspedes e moradores, havendo, ou não, culpa in vigilando e in eligendo. e) os que houverem participado nos produtos do crime, mesmo os que não participaram do delito mas receberam o seu produto. Direito Civil para AFRF Professores: Aline Santiago e Jacson Panichi - Aula - 05 Profs. Aline Santiago e Jacson Panichi www.estrategiaconcursos.com.br Página 28 de 60 Para esta questão vamos utilizar novamente o art. 932: (atente para a importância deste artigo) “art. 932 São também responsáveis pela reparação civil: I - os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia; II - o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas mesmas condições; III - o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele; IV - os donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos onde se albergue por dinheiro, mesmo para fins de educação, pelos seus hóspedes, moradores e educandos; V - os que gratuitamente houverem participado nos produtos do crime, até a concorrente quantia. Art. 933. As pessoas indicadas nos incisos I a V do artigo antecedente, ainda que não haja culpa de sua parte, responderão pelos atos praticados pelos terceiros ali referidos.” Observe que a banca mudou uma palavra e alterou o fim do inciso IV, modificando o seu significado. Gabarito D. 5. ESAF 2004 PGE-DF/PROCURADOR. Marginais foragidos de uma penitenciária estadual assaltaram uma residência, causando danos materiais e morais. Demandado judicialmente, o Estado deixou de ser condenado, em primeiro grau, a indenizar a família vítima da violência, pois o dano não haveria decorrido direta e imediatamente da ação/omissão estatal. Assinale a opção correta. a) A teoria sobre o nexo causal que inspirou o julgador a isentar o Estado de responsabilidade civil foi a da equivalência das causas. b) A teoria sobre o nexo causal que inspirou o julgador a isentar o Estado de responsabilidade civil foi a da interrupção do nexo causal. c) Na hipótese de responsabilidade civil objetiva, como a descrita no enunciado da questão, pouco importa se a vítima do ato danoso agiu culposamente, concorrendo para a sua ocorrência, vez que não se exige, no caso, a comprovação de qualquer culpa para a imposição do dever de indenizar. d) A responsabilidade civil objetiva do Estado, na presente hipótese, decorre da incidência do Código de Defesa do Consumidor sobre as relações entre o Poder Público e o Administrado. Direito Civil para AFRF Professores: Aline Santiago e Jacson Panichi - Aula - 05 Profs. Aline Santiago e Jacson Panichi www.estrategiaconcursos.com.br Página 29 de 60 e) Caso os marginais sejam condenados criminalmente pelos crimes cometidos contra a família do enunciado da questão, essa condenação fará coisa julgada no juízo cível, obrigando o Estado a ressarci-la pelos danos amargados, devendo ser reformado, pelo Colendo Tribunal de Justiça, o entendimento inicial, esposado pelo MM. juízo singular de que não haveria o dever de indenizar por parte do Estado. Para esta questão vamos utilizar uma decisão do STF, que diz: “A responsabilidade do Estado, embora objetiva por força do disposto no art. 107 da Emenda Constitucional n. 01/69 (e atualmente, no §6º do artigo 37 da Carta Magna), não dispensa, obviamente, o requisito, também objetivo, do nexo de causalidade entre a ação ou a omissão atribuída a seus agentes e a dano causado a terceiros. No caso, é inequívoco que o nexo da causalidade inexiste e, portanto, não pode haver a incidência da responsabilidade prevista no §6º da atual Constituição. Com efeito o dano decorrente do assalto por uma quadrilha de que participava um dos evadidos da prisão não foi o efeito necessário da omissão da autoridade pública que o acórdão recorrido teve como causa a fuga dele, mas resultou de concausas, como a formação da quadrilha, e o assalto ocorrido cerca de vinte e um meses após a evasão. Recurso extraordinário conhecido e provido”. Tendo isso em vista, a decisão baseou-se na Teoria da Interrupção do Nexo Causal. Gabarito letra B. 6. ESAF 2004 IRB/ANALISTA. Há responsabilidade civil objetiva: a) do tutor pelos atos lesivos praticados pelo tutelado, que estiver sob sua autoridade e em sua companhia. b) do dono de edifício pelos danos resultantes de sua ruína, se esta advier da falta de reparos necessários. c) do médico que, ao esquecer objeto no abdome do paciente durante a cirurgia causar-lhe a morte. d) do dentista que, por falta de assepsia, vier a transmitir aids ao seu paciente. e) do médico que continuar um tratamento que causa perturbação anormal no paciente. “Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil: I - os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia; Direito Civil para AFRF Professores: Aline Santiago e Jacson Panichi - Aula - 05 Profs. Aline Santiago e Jacson Panichi www.estrategiaconcursos.com.br Página 30 de 60 II - o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas mesmas condições; III - o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele; IV - os donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos onde se albergue por dinheiro, mesmo para fins de educação, pelos seus hóspedes, moradores e educandos; V - os que gratuitamente houverem participado nos produtos do crime, até a concorrente quantia”. Gabarito A 7. ESAF 2004 IRB/ADVOGADO. Aponte a assertiva falsa. a) A indenização mede-se pela extensão do dano, não admitindo a lei redução equitativa. b) A responsabilidade do transportador é objetiva. c) Têm legitimação para requerer indenização por lesão a direito da personalidade da pessoa falecida, o cônjuge sobrevivente, qualquer parente em linha reta ou colateral até o quarto grau. d) Há responsabilidade civil do advogado que perdeu prazo para cumprir determinação emanada do órgão da OAB, para contestação ou recurso desejado pelo constituinte. e) O dono, ou detentor, do animal ressarcirá o dano por este causado, se não provar culpa da vítima ou força maior. Observem o parágrafo único do art. 928: “art. 928 O incapaz responde pelos prejuízos que causar, se as pessoas por ele responsáveis não tiverem obrigação de fazê-lo ou não dispuserem de meios suficientes. Parágrafo único. A indenização prevista nesteartigo, que deverá ser equitativa, não terá lugar se privar do necessário o incapaz ou as pessoas que dele dependem”. Portanto, é admitida pela lei a redução equitativa da indenização. Gabarito letra A. 8. ESAF 2003 MT/AFT. A responsabilidade civil do empregador por ato lesivo de seu empregado, no exercício do trabalho, é: Direito Civil para AFRF Professores: Aline Santiago e Jacson Panichi - Aula - 05 Profs. Aline Santiago e Jacson Panichi www.estrategiaconcursos.com.br Página 31 de 60 a) subjetiva, quanto ao fundamento, e indireta, quanto ao agente. b) objetiva, quanto ao fundamento, e indireta, quanto ao agente. c) complexa, quanto ao fundamento, e objetiva quanto ao agente. d) subjetiva, quanto ao fundamento, e direta quanto ao agente. e) objetiva, quanto ao fundamento, e direta quanto ao agente. Em relação ao seu fundamento – observa-se se há necessidade de culpa (responsabilidade subjetiva) ou se não há necessidade de culpa, baseando-se no risco (responsabilidade objetiva). Em relação ao agente a responsabilidade pode ser direta quando o dano é causado diretamente por aquele que tem obrigação de indenizar; ou indireta quando o dano é causado por outra pessoa que não aquela que irá indenizar. Neste caso da questão a responsabilidade é objetiva, quanto ao fundamento, e indireta, quanto ao agente. Gabarito B. 9. ESAF 2010 MTE/AFT. Assinale a única opção falsa. a) Como consequência econômica da adoção da teoria do risco profissional, deve ser observado que o ressarcimento dos danos deve ser tão amplo como no caso da indenização pelo direito comum, pois o risco cobre todo o dano causado pelo acidente. b) A teoria do risco profissional reflete a evolução da teoria do risco, consistindo na responsabilidade fundada nas circunstâncias que cercam determinada atividade e nas obrigações oriundas do contrato de trabalho, sem levar-se em conta a culpa do empregador ou a do empregado. c) A teoria do risco consiste na consagração da responsabilidade do empregador, no caso de acidente do trabalho, baseada não na culpa, mas no contrato de locação de serviços; ao contratar, o empregador assume a responsabilidade contratual. d) As indenizações relativas ao risco profissional são pagas mediante tabelas previamente determinadas, catalogadas pelos institutos oficiais de Previdência Social e seus valores são fixados em patamares mais módicos, segundo o tipo de infortúnio. Direito Civil para AFRF Professores: Aline Santiago e Jacson Panichi - Aula - 05 Profs. Aline Santiago e Jacson Panichi www.estrategiaconcursos.com.br Página 32 de 60 e) A teoria do dano objetivo consagra a tese de que o dano deve ser reparado, independentemente da comprovação da culpa. A única alternativa que está incorreta é a alternativa A, pois segundo esta teoria (do risco) o empregador deve responder pelo pagamento de indenização quando o empregado sofre acidentes ou contrai enfermidade em virtude dos riscos pertinentes à natureza do local, ou do trabalho que executa, mesmo não tendo culpa. A alternativa “d” faz justamente a comparação da indenização nestes casos (justiça do trabalho) e nos casos da justiça comum, vejamos: “As indenizações relativas ao risco profissional são pagas mediante tabelas previamente determinadas, catalogadas pelos institutos oficiais de Previdência Social e seus valores são fixados em patamares mais módicos, segundo o tipo de infortúnio”. Gabarito A. Questões de outras bancas 10. FAURGS - 2010 - TJ-RS - Oficial Escrevente. De acordo com o Código Civil, constitui ato ilícito: a) o exercício arbitrário das próprias razões para a defesa de um direito b) aquele praticado em legítima defesa. c) aquele praticado no exercício regular de um direito reconhecido. d) a lesão a pessoa a fim de remover perigo iminente. e) a deterioração de coisa alheia, desde que necessária e limitada ao indispensável para a remoção de perigo iminente. Para resolvermos esta questão, vamos lembrar dois artigos bastante comentados em nossa aula: Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes. Neste artigo temos a definição legal de abuso de direito. E no artigo seguinte temos as condutas que não constituem atos ilícitos. Art. 188. Não constituem atos ilícitos: I - os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito reconhecido; II - a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão a pessoa, a fim de remover perigo iminente. Parágrafo único. No caso do inciso II, o ato será legítimo somente quando as circunstâncias o tornarem absolutamente necessário, não excedendo os limites do indispensável para a remoção do perigo. Gabarito A. Direito Civil para AFRF Professores: Aline Santiago e Jacson Panichi - Aula - 05 Profs. Aline Santiago e Jacson Panichi www.estrategiaconcursos.com.br Página 33 de 60 11. 2011 - SEFAZ-RJ - Auditor Fiscal da Receita Estadual. A respeito do ato ilícito, é correto afirmar que: a) o Código Civil dispõe que constitui ato ilícito lesão causada à pessoa, ainda que para a remoção de perigo iminente. b) comete ato ilícito aquele que, mesmo por omissão voluntária, cause dano a outrem, ainda que o dano seja exclusivamente moral. c) não comete ato ilícito aquele que exceda manifestamente os limites impostos pelos bons costumes, desde que seja titular de um direito e o esteja exercendo. d) quando a destruição de coisa de outrem se der a fim de remover perigo iminente, ainda que exceda os limites do indispensável, não configurará ato ilícito. e) atos praticados em legítima defesa, para o Direito Civil, constituem ato ilícito, sendo exigível a reparação de eventuais danos patrimoniais decorrentes. Para esta questão usaremos os seguintes artigos: Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes. Art. 188. Não constituem atos ilícitos: I - os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito reconhecido; II - a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão a pessoa, a fim de remover perigo iminente. Parágrafo único. No caso do inciso II, o ato será legítimo somente quando as circunstâncias o tornarem absolutamente necessário, não excedendo os limites do indispensável para a remoção do perigo. Destes artigos temos os conceitos de ato ilícito, de abuso de direito e os casos em que não consideram atos ilícitos. Gabarito letra B. 12. MPE-SP - 2006 - MPE-SP - Promotor de Justiça. O art. 188 do Código Civil prevê três causas de exclusão de ilicitude, que não acarretam no dever de indenizar. São elas: a) legítima defesa, erro substancial e estado de necessidade. b) legítima defesa, estado de necessidade e dolo bilateral. c) exercício regular de direito reconhecido, estado de necessidade e dolo bilateral. Direito Civil para AFRF Professores: Aline Santiago e Jacson Panichi - Aula - 05 Profs. Aline Santiago e Jacson Panichi www.estrategiaconcursos.com.br
Compartilhar