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Mackeila Goulart Gestão de pessoas 0303 Sumário CAPÍTULO 4 – Processos de Manter e Monitorar Pessoas ....................................................05 Introdução ....................................................................................................................05 4.1 Comunicação e relacionamento com colaboradores ....................................................05 4.1.1 Comunicação organizacional ...........................................................................06 4.1.2 Endomarketing ................................................................................................08 4.1.3 Relações trabalhistas e direitos ..........................................................................08 4.2 Motivação e clima organizacional ..............................................................................10 4.2.1 Conceitos .......................................................................................................10 4.2.2 Teorias da motivação .......................................................................................11 4.2.3 Gestão do clima organizacional ........................................................................14 4.3 Conflitos .................................................................................................................16 4.3.1 Conceitos .......................................................................................................16 4.3.2 Processo de conflito .........................................................................................17 4.3.3 Gestão de conflitos..........................................................................................17 4.4 Qualidade de vida no trabalho, saúde e segurança .....................................................19 4.4.1 Qualidade de vida no trabalho .........................................................................19 4.4.2 Saúde e segurança ..........................................................................................21 4.5 Banco de dados e sistemas de informações gerenciais ..................................................22 4.5.1 Banco de dados ..............................................................................................22 4.5.2 Sistemas de informações ..................................................................................23 4.5.3 Balanço social ................................................................................................24 Síntese ..........................................................................................................................25 Referências Bibliográficas ................................................................................................26 0505 Capítulo 4 Introdução Você pode ser um bom gestor de pessoas sabendo agregar as pessoas certas para a organização e aplicá-las ao trabalho de forma a obter bom desempenho, conhecendo formas de recompensá- -las e desenvolvê-las de modo que contribuam para o desenvolvimento da organização. No entanto, não há como ser um bom gestor de pessoas se você não conseguir mantê-las para que continuem gerando os resultados desejados. Que tipo de relação é preciso estabelecer com as pessoas para que elas se mantenham na em- presa? Como promover um clima agradável no qual as pessoas se sintam motivadas e satisfeitas com o que fazem? Os dois primeiros capítulos desta unidade buscam esclarecer estas dúvidas, permitindo identificar práticas que promovam a comunicação eficaz e o bom relacionamento com colaboradores, bem como compreender os aspectos que influenciam na motivação das pessoas. Mas o que devo fazer se minha empresa tiver muitos conflitos? Devo evitá-los ou encará-los? É possível intervir na causa ou devo atuar direto no episódio de conflito? Para sanar esses questio- namentos, o terceiro capítulo lhe tornará apto a identificar causas de conflitos nas organizações e definir estratégias de resolução. Além de se comunicar, motivar e solucionar conflitos, é papel do gestor garantir a saúde e a se- gurança de seus colaboradores. O estudo do quarto capítulo lhe permitirá identificar práticas de gestão de pessoas que promovam qualidade de vida e condições de trabalho saudáveis e segu- ras. Por fim, todo o trabalho de gestão de pessoas precisa também ser gerenciado, para que não seja apenas um amontoado de dados. No capítulo final, você conhecerá aspectos referentes ao monitoramento de recursos humanos, gerindo informações de forma transparente e que auxiliem na tomada de decisão em gestão de pessoas. 4.1 Comunicação e relacionamento com colaboradores A comunicação é essencial para a vida em sociedade. É nos comunicando que conhecemos, aprendemos, compartilhamos histórias e objetivos, nos sentimos parte de um grupo. A comuni- cação nos permite estabelecer vínculos: com a família, com colegas de escola, com amigos, com colegas de trabalho e com a organização. Qual a relação entre comunicação e gestão de pessoas? Como a comunicação influencia no trabalho realizado? Quando estudamos as relações humanas no trabalho, necessariamente es- tamos falando de comunicação, seja ela verbal ou não verbal. Assim, fazer a gestão da comu- nicação nas empresas é também fazer a gestão das pessoas. O esclarecimento de objetivos, a definição de regras, o feedback e o trabalho em equipe se dão por meio de processos de comu- nicação que asseguram maior qualidade nos resultados. Processos de Manter e Monitorar Pessoas 06 Laureate- International Universities Gestão de pessoas A interação da organização com seus colaboradores pode contribuir positiva ou negativamente para mantê-los na empresa. Como manter, então, um bom relacionamento com os colaborado- res? Sua abertura para ouvir sugestões e críticas, sua transparência nas informações, o respeito aos direitos e à dignidade das pessoas são aspectos que devem ser considerados se quisermos pessoas engajadas na organização. 4.1.1 Comunicação organizacional A dinâmica das organizações só é possível quando seus membros estão devidamente conectados e integrados. Desde o desenho da organização, deve-se levar em conta a comunicação, pois as estruturas organizacionais têm impacto direto na eficiência da comunicação. Além disso, a orga- nização depende da cooperação de seus membros para chegar aonde pretende. No entanto, a comunicação não é útil apenas para permitir interação e cooperação: a reunião e o repasse das informações contribuem para a tomada de decisão, bem como avaliação das decisões tomadas. Saiba que, na era industrial, administradores dispendiam valioso tempo atrás de informações para compreender e melhorar os processos organizacionais. Além disso, a demora para conse- guir determinadas informações prejudicava o controle sobre a empresa. Atualmente, as informa- ções chegam em tempo real e com abundância, de tal forma que os administradores ficam sobre- carregados com tanta informação, precisando aprender a selecionar apenas o que é relevante para a sua decisão. Assim, a informação não é mensurável nem tangível, porém possui grande valor para as organizações (CHIAVENATO, 2005). Quais são os patrimônios intangíveis nas organizações? A palavra intangível é definida pelos dicionários como aquilo que não pode ser tocado, que não existe concretamente. No entanto, algo intangível também pode ter grande valor. Assim, a empresa possui patrimônios tangíveis e intangíveis. São patrimônios intangíveis os relacionamentos ex- ternos com clientes, fornecedores e sociedade; relacionamentos internos como mode- los de gestão, sistemas de informação e registros de patentes; e a competência de seus colaboradores. NÓS QUEREMOS SABER! Apesar de todo o progresso e avanços tecnológicos na área, a comunicação entre as pessoas ainda deixa a desejar e apresenta constantesfalhas e conflitos. Isso porque a eficiência da co- municação não depende tanto da tecnologia, mas sim das pessoas. Comunicação é o ato de tornar algo comum. Assim, a fonte – o comunicador – busca estabelecer uma relação com o receptor, criando uma comunidade. A informação é repassada por um canal de comunicação e codificada em símbolos comuns. Esses símbolos podem ser verbais, relacio- nados ao nosso alfabeto e idioma, ou não verbais, como gestos e expressões. Utilizando esses símbolos, compartilhamos ideias, sentimentos, conhecimentos e experiências. No entanto, não basta o repasse da informação: para haver comunicação, é preciso que esta seja compreendida pelo receptor, ou seja, decodificada. O processo de comunicação finaliza com o feedback do receptor ao comunicador, evidenciando que a mensagem foi compreendida. Quando há distorção na mensagem, prejudicando sua com- preensão, constata-se a presença do ruído no processo de comunicação. O ruído pode ocorrer em qualquer etapa do processo. 07 Feedback Fonte Codi�cação Canal Decodi�cação Receptor Ruído Figura 1 – O processo de comunicação. Fonte: Adaptada de Chiavenato, 2005. O processo de comunicação nem sempre funciona como gostaríamos. Às vezes a mensagem não é decodificada de forma idêntica ao que o emissor pretendia, posto que algumas variáveis indesejadas podem constituir barreiras que precisam ser superadas. Existem barreiras pessoais, relacionadas a limitações, emoções e valores, como a falta do hábito de ouvir as pessoas, a di- ficuldade de raciocínio e de argumentação em situações de estresse e o preconceito que podem distorcer a percepção. Há também barreiras físicas decorrentes do ambiente, como distância, paredes entre emissor e receptor, interferências no telefone e barulhos que causam distração: sirenes, portas batendo ou outras pessoas conversando. Podemos citar também as barreiras semânticas oriundas dos sím- bolos utilizados, como dupla interpretação de certas expressões, termos desconhecidos, gestos pouco claros ou diferenças de idiomas, especialmente em empresas multinacionais. A comunicação nas organizações apresenta quatro funções básicas. Entre elas está o controle, que pode ser realizado formalmente, por meio de regras e procedimentos, e informalmente, controlando o comportamento quando um grupo hostiliza certo comportamento ou quando há reclamação sobre o desempenho de algum membro. Outra função da comunicação é a moti- vação, por meio do estabelecimento de objetivos, de feedback sobre os resultados alcançados e do reforço de comportamentos desejáveis. A comunicação tem a função também de expressar emoções, permitindo que as pessoas manifestem seus sentimentos de satisfação e insatisfação. Por fim, a comunicação organizacional tem função de subsidiar a tomada de decisão com infor- mações pertinentes. A gestão da comunicação organizacional requer o gerenciamento da atenção, do significado e da confiança. Isso significa direcionar a atenção das pessoas para o que é importante e mantê- -las antenadas ao que acontece na empresa e requer a criação de um ambiente de credibilidade entre as pessoas, promovendo confiança e comprometimento recíprocos. Assim, a comunicação interna tende a obter sucesso, recomendando-se o uso de abordagens espontâneas ao invés de ameaçadoras, linguagem questionadora e não julgadora e postura aberta, assertiva e franca, evitando posicionamentos agressivos ou rudes. A comunicação em uma empresa pode ocorrer por diferentes canais formais: comunicações des- cendentes, ascendentes e horizontais (CHIAVENATO, 2005). A comunicação descendente segue o sentido predominante “de cima para baixo”, enviadas do topo para os subordinados por meio de conversas, reuniões, e-mails, manuais, telefonemas, memorandos, políticas, entre outros. Este canal geralmente aborda assuntos como a implementação de objetivos e estratégias, instruções para execução de tarefas, estabelecimento de regras, feedback e mensagens doutrinadoras com intuito de motivar e estimular certos valores. 08 Laureate- International Universities Gestão de pessoas A comunicação ascendente parte dos colaboradores para os níveis hierarquicamente superiores. Os meios também podem ser diversos, como conversas, telefonemas e e-mails. Esse tipo de co- municação envolve questões como relatos de problemas e dificuldades identificadas para realizar o trabalho, sugestões de melhoria com relação a procedimentos ou práticas, informações sobre o desempenho das pessoas ou setores e informações financeiras como custos, volume de vendas, previsão de lucro, entre outros. Há também a comunicação horizontal, por meio da qual colegas e departamentos trocam in- formações entre si e solicitam atividades de suporte para poderem realizar seu trabalho. Essa comunicação ocorre principalmente quando é preciso resolver problemas que envolvem mais de um departamento, coordenar esforços de diferentes departamentos para algum projeto ou objetivo comum ou assessorar algum departamento ou gestor que necessite de informações para tomar suas decisões. 4.1.2 Endomarketing O marketing visa satisfazer necessidades e desejos de clientes, uma vez que sua satisfação pro- move o sustento da empresa. O endomarketing, por sua vez, visa atender as necessidades de seus clientes internos, ou seja, seus colaboradores. E, ao utilizá-lo, a empresa constrói bons relacionamentos, estimulando assim seu comprometimento e o aumento da qualidade do traba- lho. Saiba que o impacto do endomarketing pode ser extrapolado para o nível departamental, visando melhorar a qualidade do serviço prestado entre os departamentos, promovendo assim maior cooperação e integração. Para França (2014), endomarketing pode ser definido como um modelo de gestão dotado de filo- sofia e de práticas que visam integrar as diferentes áreas e os níveis organizacionais, promovendo entre seus colaboradores motivação, capacitação, informação e orientação para a satisfação do cliente. Um dos principais objetivos do endomarketing é manter, na empresa, talentos orientados para os objetivos organizacionais, o que coincide com o objetivo da gestão de pessoas. Assim, programas de endomarketing podem ser gerenciados pelo RH, pelo Marketing ou em parceria. Para atender aos seus objetivos, o endomarketing deve estimular a participação de todos. Para isso, há empresas que criam setores de ouvidoria, possibilitando um canal de comunicação para receber sugestões, críticas e elogios, que podem ser anônimos ou não. Há também práticas que premiam boas ideias, com critérios claros e acessíveis a todos. No entanto, para que as pessoas tenham boa comunicação, pode ser necessário treiná-las com relação a habilidades como inte- ração, relação interpessoal, feedback, empatia e formas adequadas de fala e escrita. As principais atividades de endomarketing estão relacionadas à comunicação interna. Este re- curso permite fortalecer a cultura organizacional e o relacionamento entre empresa e colabora- dores, informando mudanças, novidades, programas, benefícios etc. Podem ser utilizados canais de comunicação como vídeos, palestras, manuais, reuniões, murais, jornal interno, rádio interna e intranet. 4.1.3 Relações trabalhistas e direitos São inúmeras as práticas de comunicação e relacionamento com os colaboradores. No entanto, é preciso conhecer e respeitar certos limites impostos nessa relação. A relação de trabalho é mediada por diferentes tipos de legislação, atribuindo à empresa e ao trabalhador seus direitos e deveres. A Constituição Federal de 1988 apresenta em seu texto uma série de direitos básicos do trabalha- dor. Hierarquicamente abaixo da Constituição, o Decreto-lei nº 5.452/1943, conhecido como a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), reúne a maior parte dos direitos relacionados ao trabalho. No entanto, outras leis devem ser observadasfora da CLT, como a Lei nº 8.213/199, 09 que trata dos benefícios previdenciários, a Lei nº 4.749/1965, que dispõe sobre o 13º salário, a Lei nº 11.788/2008, que regulamenta os contratos de estágio, entre outras. A Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) reúne os principais direitos trabalhistas, sen- do o seu conhecimento importante para todo trabalhador e essencial para todo gestor e profissional da área de Recursos Humanos. Veja mais em: <http://www.planalto.gov. br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm>. NÃO DEIXE DE LER... Além das leis, é preciso observar as Normas Regulamentadoras (NRs), que tratam de questões relativas à saúde e segurança do trabalho. Em nível regional e de categoria, é preciso também conhecer os instrumentos de negociação coletiva: acordos coletivos, feitos entre uma ou mais empresas e o sindicato dos trabalhadores, e convenções coletivas, firmadas entre sindicato das empresas e sindicato dos trabalhadores. Em nível individual, é preciso, claro, respeitar às condi- ções firmadas no contrato de trabalho. CASO O trabalhador tem seus direitos descritos na legislação trabalhista. No entanto, a empresa na qual trabalha determina o seu enquadramento sindical, podendo trazer consigo mais direitos. Dessa forma, o trabalhador de uma empresa do comércio de determinada cidade será automati- camente representado pelo sindicato dos trabalhadores do comércio dessa cidade. A convenção coletiva do comércio, criada a partir da negociação entre sindicato das empresas e sindicato dos trabalhadores, pode aumentar o direito ao pagamento de 50% como adicional de horas extraordinárias previsto na CLT para 70%, de forma que todas as empresas do comércio dessa cidade deverão obedecer à regra. A empresa tem a opção de fazer um acordo coletivo com o sindicato dos trabalhadores, estabelecendo regras que valerão apenas para essa empresa. No entanto, sempre valerá o que for mais benéfico ao trabalhador: caso a convenção coletiva, de modo geral, seja mais benéfica que o acordo firmado pela empresa, esta deverá seguir a con- venção coletiva. Da mesma forma, se algum direito descrito na convenção ou no acordo coletivo for inferior ao que a legislação já oferece – por exemplo, oferecer adicional de 40% em horas extraordinárias ao invés de 50% já previsto em lei –, a cláusula será considerada inválida. Entenda que, quando o colaborador apresenta desvio em relação às regras e normas, a empresa pode dispor de instrumentos disciplinadores. O poder disciplinar conferido ao empregador no ar- tigo 2º da CLT deve ter fins pedagógicos, ou seja, ensinar o que precisa ser mudado. Este poder autoriza a empresa a aplicar punições ao colaborador que comete ato faltoso. As punições podem ser realizadas por meio de advertência verbal, conversando com o colabo- rador sobre o ato cometido e alertando-o sobre a necessidade de mudança. É possível também advertir por escrito, registrando o ato cometido. A suspensão do serviço também é permitida, implicando no não pagamento dos dias de trabalho em que esteve suspenso. Na pior das hipó- teses, existe a possibilidade de demitir o colaborador por justa causa, conforme explicitado no artigo 482 da CLT, desde que haja comprovação da falta grave cometida. Esse poder, no entanto, não é ilimitado. A punição deve sempre ser proporcional à gravidade do ato. Assim, um colaborador que costuma se atrasar pode ser advertido verbalmente, mas não justifica uma demissão por justa causa como a primeira medida disciplinar. Nesse caso, pode- 10 Laureate- International Universities Gestão de pessoas riam ser aplicados diferentes níveis de punição conforme a reincidência, culminando na demis- são por justa causa apenas se o colaborador não apresentar evolução. Já a um colaborador que comete falta muito grave, como roubo comprovado ou agressão física ao empregador, poderia ser cogitada a demissão por justa causa como primeira medida disciplinar. 4.2 Motivação e clima organizacional Todos somos diferentes, com os objetivos e as necessidades diversas. Além disso, nós também mudamos ao longo do tempo. Quando crianças, temos interesses e desejos que não são os mesmos de quando crescemos. Como alguém pode mudar de comportamento de uma hora para outra? Como a motivação pode ser tão diferente entre as pessoas? Gerenciar a motivação das pessoas nas organizações é uma tarefa altamente complexa. Para facilitar este trabalho, você conhecerá algumas teorias que traçaram certos padrões de compor- tamento entre as pessoas. Esses estudos identificaram aspectos que tendem a variar pouco de um indivíduo a outro, nos permitindo pensar em estratégias para atuar na gestão das pessoas. Conhecer a fundo o que é motivação e como ocorre o processo motivacional é essencial para proporcionar um bom clima de trabalho. Assim, o clima organizacional representa o nível de mo- tivação, a qualidade dos relacionamentos e a satisfação das pessoas com seu trabalho e com a organização. Neste tópico, você poderá conhecer algumas estratégias e posturas recomendadas aos gestores para melhorar o clima no ambiente de trabalho. 4.2.1 Conceitos No passado, entendia-se que a motivação era determinada a partir da ação de outras pessoas, como os pais em casa, os professores na escola e os líderes no trabalho. No entanto, esta visão mudou. Hoje a motivação é reconhecida como uma força interna que nos estimula a fazer algu- ma coisa. Sua origem é interna porque é oriunda de nossas necessidades. Assim, é equivocado afirmar, por exemplo, que uma pessoa pode motivar a outra, já que as necessidades pessoais são distintas (GIL, 2013). Pode-se dizer que a motivação é a consequência de nossas necessidades que não foram satisfei- tas. Partindo dessa concepção, constatamos que um gerente não pode impor uma necessidade a alguém. Sua atuação limita-se a apresentar estímulos ao colaborador, para que este se motive por meio da satisfação de suas necessidades. O comportamento humano é movido pelo desejo de atingir objetivos que satisfaçam sua necessi- dade. Porém, nem sempre conseguimos identificar nossos objetivos e necessidades com clareza. Isso ocorre porque certos desejos são inconscientes, como Freud sinalizava em seus estudos psicanalíticos (GIL, 2013). Assim, os motivos ou as necessidades são direcionados para nossos objetivos, que são externos a nós, nos fazendo dirigir nosso comportamento para comprar comi- da, por motivo de fome, por exemplo. A maioria dos seres humanos tem inúmeras necessidades ao mesmo tempo. Todas elas dispu- tam nossa atenção e nosso comportamento para satisfazê-las. A necessidade mais forte ou mais importante tende a dominar e dirigir nossas ações. Assim, por exemplo, imagine que você só tem mais algumas horas para concluir esta disciplina, a leitura deste material e dos materiais e exercícios complementares. Você pode estar com sono, mas a necessidade de terminar os estu- dos pode ser mais forte e urgente, o que terá maior impacto em sua motivação e dirigirá seu comportamento para esta atividade. 11 Nem sempre, no entanto, conseguimos satisfazer às necessidades como gostaríamos. Às vezes podem ocorrer bloqueios que impeçam a satisfação do objetivo, fazendo com que tentemos atingi-lo de outras maneiras. De acordo com Gil (2013), as primeiras tentativas tendem a ser racionais. Caso não obtenhamos resultados positivos, partimos para objetivos substitutos, que não são exatamente o que queríamos, mas ainda assim atendem pelo menos parcialmente ao nosso objetivo. Por exemplo, se você tinha o interesse em fazer um curso de pós-graduação em determinada instituição, mas percebe que não há previsão de novas turmas, você pode recorrer ao mesmo curso em outra instituição ou a outro curso em área semelhante na mesma instituição. Há situações em que os objetivos substitutos também não trazem bons resultados. A frustração gerada poresse contexto pode nos levar a emitir comportamentos irracionais, conhecidos como mecanismos de defesa. Podemos nos tornar agressivos, sendo hostil com alguém que entende- mos ter causado a frustração, por exemplo, o coordenador do referido curso. Caso não tenha- mos condição de ser agressivos diretamente com o causador, podemos deslocar a frustração para outra pessoa. Outro comportamento comum é a racionalização. Neste mecanismo, tentamos criar respostas racionais como desculpas para o insucesso, por exemplo, dizendo que, na verdade, o curso não era tão interessante ou que você, de qualquer forma, teria dificuldades em pagá-lo. Quando não conseguimos racionalizar, pode ocorrer também a regressão, fazendo-nos desistir de tentativas construtivas de atingir o objetivo e recorrer a comportamentos infantis, não ajudando em nada para a solução do problema. Existem, também, três mecanismos de defesa comuns em momentos de frustração. A fixação con- siste na repetição sistemática do comportamento que se mostrou improdutivo. Isso ocorre, por exemplo, quando alguém tenta explicar repetidamente porque cometeu certo erro, esperando obter, sem sucesso, o perdão do superior imediato. A fuga, por sua vez, consiste em ignorar ou fugir do problema, por exemplo, faltando a uma apresentação importante para a qual não se sentia preparado. Por fim, há a resignação, presente quando desistimos de alcançar um objetivo após longo período de frustração, o que gera o comodismo em muitas empresas onde o colabo- rador não percebe possibilidade de melhoria. 4.2.2 Teorias da motivação Devido à complexidade do fenômeno da motivação, existem diferentes teorias que buscam expli- cá-lo. A seguir, serão apresentadas as teorias abordadas por Gil (2013): teoria das necessidades humanas de Maslow, teoria X e Y de McGregor, teoria motivação-higiene de Herzberg e teoria da modificação comportamental de Skinner. A teoria da motivação de Maslow, de 1943, permitiu estruturar uma hierarquia das necessidades humanas. Constatou-se que nossas necessidades apresentam diferentes níveis de força, podendo ser classificadas em cinco grupos: fisiológicas, segurança, sociais, estima e autorrealização. 12 Laureate- International Universities Gestão de pessoas De autorrealização Autonomia, crescimento, desa�o, criatividade, espontaneidade Fisiológica Descanso, comida, água, exceções, respiração, sexo, vestimentas, abrigo De estima Con�ança, conquistas, respeito De segurança Segurança do corpo, da família, da saúde, da propriedade, do emprego Social Amizade, família, relacionamentos amorosos Figura 2 – Pirâmide da hierarquia das necessidades humanas de Maslow. Fonte: Elaborada pela autora, 2015. As necessidades fisiológicas estão relacionadas à manutenção da vida. Enquanto não garantir- mos nossa sobrevivência, dificilmente outras coisas nos motivarão: as necessidades de segurança implicam em estarmos livre de perigos no presente e no futuro. Uma vez sobreviventes e seguros, as pessoas tendem a sentir necessidade de se relacionar com outras pessoas, de fazer parte de grupos e serem aceitas. Após essa necessidade, as pessoas passam a querer não só fazer parte de um grupo, mas a serem bem estimadas, seja pela autoestima ou pelo reconhecimento pelos outros. Enfim, após todas essas necessidades serem satisfeitas, buscamos a autorrealização, uti- lizando ao máximo nosso potencial. A teoria de Maslow tem grande importância no meio organizacional. Ela chama a atenção para o fato de que não são apenas recompensas financeiras que motivam as pessoas, mas também as- pectos como respeito e atenção dos outros. Assim, os gestores e líderes precisam levar em conta as diferentes necessidades de seus colaboradores para estimularem sua motivação. Sabe-se, no entanto, que a hierarquia proposta é questionável. É possível identificar pessoas que prezam mais pela segurança de seus filhos do que a própria alimentação, ou pessoas que abrem mão da própria segurança em busca de desafios. No entanto, ainda assim, esta análise hierárquica é útil para ser utilizada como base. Além da teoria de Maslow, a teoria motivacional de McGregor de 1960 também teve grande influência na área organizacional. A teoria X e teoria Y pressupõe que a forma de os gerentes pensarem influencia fortemente no comportamento das pessoas. Foram identificados dois tipos de relacionamento entre gestor e colaborador: X e Y. Os adeptos da teoria X partem do princípio de que as pessoas em geral não gostam de trabalhar, funcionando apenas pela disciplina e por uma possível recompensa. Já gestores que pensam como a teoria Y entendem que o colaborador encara o trabalho como fonte de satisfação, sendo capaz de obter bons resultados. As principais concepções do gestor da teoria X são que, se a equipe não for controlada direta- mente, não será produtiva, sendo necessário às vezes demitir ou repreender alguém para ensinar 13 aos demais. Isso porque os empregados não possuem ambição e precisam de um “empurrão” para melhorarem. Este tipo de gestor entende que é preciso haver uma relação de distanciamen- to da equipe para garantir seu poder e que as decisões são todas tomadas exclusivamente pelo gestor, sem contribuições da equipe. Já o gestor da teoria Y entende que, se devidamente estimu- lada, qualquer pessoa pode ser criativa. Os empregados merecem a confiança do líder, podendo inclusive, eventualmente, conduzir reuniões. Esses gestores compreendem que as pessoas têm condições de se autocontrolar e, sob condições favoráveis, gostam de trabalhar. De modo geral, os gestores ou a forma de pensar em uma organização não são simplesmente categorizados como X ou Y. O mais comum é haver características de ambas as teorias. Ocor- re, também, a necessidade de assumir posturas diferentes com algumas pessoas da equipe que requeiram maior acompanhamento, com o objetivo de promover seu desenvolvimento e sua autonomia. Herzberg contribuiu para as teorias da motivação em 1975, apontando a existência de dois fatores: higiênicos e motivadores. Os fatores higiênicos são aqueles necessários para adaptar a pessoa ao ambiente e ao trabalho, como salário, condições de trabalho e políticas da empresa. Esses fatores não são suficientes para motivar, porém sua insuficiência promove a desmotiva- ção. Chiavenato (2005) compara os fatores higiênicos aos três primeiros níveis hierárquicos de Maslow – necessidades fisiológicas, de segurança e sociais. Já os fatores motivacionais, como responsabilidade, reconhecimento, desafios, realização e crescimento são aqueles que realmente promovem a motivação. Esses fatores são comparáveis às necessidades de estima e autorreali- zação apontadas por Maslow. A teoria dos fatores higiênicos e motivacionais indica que cabe ao gestor promover fatores moti- vacionais para estimular sua equipe, como o enriquecimento do trabalho, apresentando desafios e novas responsabilidades. Porém, é preciso garantir os fatores higiênicos para que seja mantida a motivação. Assim, um aumento salarial pode não garantir a motivação a longo prazo, mas um salário adequado permite satisfazer suas necessidades mais básicas, abrindo espaço para que outros fatores o motivem. Caso nem o salário e as condições de trabalho sejam satisfatórios, os fatores motivacionais não serão suficientes para incentivar o bom desempenho. Embora essas teorias tenham amplo valor no meio organizacional, existem certas limitações em sua aplicação prática. Saiba que isso ocorre principalmente porque as necessidades não são di- retamente observáveis, dificultando a implementação de certas ações. Assim, nota-se certa prefe- rência por adotar modelos que permitam uma aplicação prática, como a teoria comportamental de Skinner. Essa teoria visa a modificação do comportamento organizacional por meio de trans- formações nas consequências do comportamento.Isso porque o comportamento é reforçado e aumenta as chances de ocorrer quando sua consequência traz algum benefício direto ou indireto para a pessoa. Assim, modificando as consequências e monitorando as situações antecedentes, conseguimos controlar ou ao menos influenciar o comportamento. Burrhus Frederic Skinner (1904-1990) foi o psicólogo americano mais influente na ciência do comportamento humano. Estudou o controle do comportamento a partir de inúmeros experimentos em laboratórios, descobrindo a importância dos estímulos antecedentes e da consequência para a frequência de determinado comportamento. VOCÊ O CONHECE? Chiavenato (2005) apresenta quatro estratégias para modificação do comportamento: reforço positivo, reforço negativo, punição e evitação. O reforço positivo ocorre com a apresentação de uma consequência agradável com o objetivo de aumentar a frequência de um comportamento 14 Laureate- International Universities Gestão de pessoas desejável, como o reconhecimento público de uma atitude positiva. O reforço negativo ocorre quando um comportamento é estimulado para evitar uma consequência desagradável, como uma reunião para eliminar possíveis problemas de comunicação e atraso no projeto. A punição acontece quando ocorre um comportamento indesejado e apresenta-se um estímulo aversivo para diminuir sua chance de voltar a ocorrer, como a suspensão do recebimento de um bônus devido ao atraso do trabalho. É importante saber, no entanto, que o efeito da punição tende a durar temporariamente, não necessariamente aumentando a chance de o comportamento de- sejado ocorrer. Já a evitação implica em não apresentar consequências a um comportamento, visando extingui-lo, por exemplo, aconselhando a equipe a não demonstrar aprovação social ao comportamento faltoso de um colaborador. Entenda que enquanto as demais teorias focam em questões internas do indivíduo, como suas necessidades e seus interesses, o modelo comportamental coloca a ênfase nas variáveis externas. Esta teoria tem a vantagem de permitir maior controle ao gestor, não no sentido autoritário, mas de permitir maior influência na gestão organizacional. Assim, o gestor é encorajado a analisar os comportamentos de sua equipe, identificando quais consequências reforçam seu comportamen- to, ou seja, o motivam a fazer algo. É importante destacar também que a motivação é fortemente influenciada pela cultura de cada região. As teorias motivacionais traduzem a forma de pensar americana. Podemos observar cul- turas nas quais a autorrealização é mais importante que a integração social, ou ainda a seguran- ça no emprego trazendo mais satisfação do que a recompensas materiais e autonomia. Ocorre também que a própria pessoa pode apresentar outras motivações em diferentes momentos. É preciso ter cuidado ao fazer generalizações, sendo necessário conhecer seus colaboradores para identificar o que os satisfaz e que tipo de consequências ou recompensas reforçarão aqueles comportamentos relacionados ao bom desempenho. 4.2.3 Gestão do clima organizacional Enquanto o conceito de motivação é compreendido como um fenômeno individual, a sua análise em nível organizacional remete ao conceito de clima. Quando há motivação elevada no am- biente de trabalho, há bom clima organizacional, traduzido em relações de satisfação, interesse, animação, colaboração, entre outros. Já quando a motivação está baixa, o clima organizacional piora, percebido através de estados de depressão, apatia, desinteresse, boicote, insatisfação, agressividade ou até mesmo greve. Assim, o clima organizacional é a qualidade do ambiente or- ganizacional percebida pelos colaboradores e tem poderosa influência sobre o comportamento das pessoas (CHIAVENATO, 2005). O clima organizacional é um dos principais fatores que fazem uma empresa ser interessante ou não para se trabalhar. É, inclusive, muitas vezes o principal motivo da saída ou permanência de um empregado. Para identificar o nível de satisfação dos colaboradores, é possível aplicar uma pesquisa de clima organizacional e assim identificar a opinião das pessoas com relação a aspectos como liderança, infraestrutura, tarefas, oportunidade de crescimento, capacitação, valorização, segurança e remuneração. As pesquisas de clima são anônimas e permitem mensurar quais necessidades estão sendo aten- didas e em quais pontos a empresa precisa melhorar para garantir a motivação de seus colabo- radores. Esta ferramenta tem função também como comunicação e endomarketing, permitindo conhecer seu cliente interno e aproveitar seu próprio conhecimento para identificar problemas organizacionais. Na posse desses indicadores, é importante elaborar planos de ação para gerir o clima organizacional e apresentá-los aos colaboradores, junto aos resultados da pesquisa realizada, demonstrando assim o compromisso da empresa com uma gestão transparente e de valorização das pessoas. 15 Melhores empresas para trabalhar (Great Place to Work – GPTW) – <http://www.gre- atplacetowork.com.br/> – A GPTW está entre as maiores consultorias do mundo que atuam avaliando as empresas do ponto de vista do colaborador. Com base em resul- tados de pesquisas de clima organizacional e análise de políticas e práticas de gestão de pessoas, são divulgados anualmente os rankings mundiais, regionais e setoriais contendo as melhores empresas para trabalhar. NÃO DEIXE DE LER... Embora o que motive uma pessoa não necessariamente motive outra, é possível elencar algumas recomendações aos gestores para que estimulem a motivação de suas equipes e promovam um bom clima organizacional (GIL, 2013). Em primeiro lugar, o gestor deve genuinamente valorizar e respeitar todas as pessoas, sem eleger preferidos e sem preconceitos relacionados a hábitos pessoais ou aparência física. Pode ser preciso agir de forma diferente com alguns colaboradores, pois nem sempre um estilo de liderança funciona com a mesma efetividade para todos, reque- rendo mais ou menos acompanhamento, mais ou menos autonomia. Independentemente do desempenho do colaborador, o gestor deve reconhecer seus avanços para assegurar sua motivação. Tanto os grandes quanto os pequenos avanços devem ser valo- rizados. Os êxitos devem ser bem recebidos e elogiados de forma sincera, seja por meio de um sorriso ou um polegar indicando sinal positivo. Por outro lado, é importante que o gestor apoie o colaborador quando houver algum erro, auxiliando-o a melhorar na próxima situação e evi- tando culpá-lo ou humilhá-lo. Caso o erro seja apenas repreendido, causará desmotivação e incentivará que o colaborador esconda seu erro em uma próxima situação, podendo implicar em problemas ainda maiores. Se reconhecermos os pontos fortes, a tendência é que comportamen- tos desejáveis sejam cada vez mais frequentes que aqueles indesejáveis ou errôneos. Um bom clima de trabalho ocorre quando o gestor encoraja a iniciativa das pessoas. Solicitar opinião e coletar sugestões para resolver problemas geralmente impacta fortemente na motiva- ção, uma vez que o simples cumprimento de ordens pode ser desmotivador para muitas pessoas. Da mesma forma, parabenizar a participação, agradecer a iniciativa e esforçar-se para aceitar a maioria das sugestões, mesmo que requerendo adaptações, são estratégias para manter a motivação em alta na equipe. Aliado a isso, os incentivos por objetivos atingidos, sejam eles financeiros ou não, certamente estimularão ainda mais a motivação das pessoas. Como a motivação também depende do interesse do colaborador pelo que faz no trabalho, as suas tarefas podem ser algo que o motive ou desmotive. O enriquecimento das funções, atribuin- do responsabilidades diversificadas e desafiadoras ao invés de entediantes e sem significado para o colaborador, tem grande impacto na motivação. Além disso, um trabalho complexo demanda nível de competência e especializaçãoque confere status ao seu ocupante, enquanto trabalhos muitos simples podem ser pouco valorizados no currículo, no salário e perante as outras pessoas. Entenda desta forma: é importante que o gestor tenha uma postura constante de avaliação. No entanto, não se trata de vigiar com o intuito de recompensar e punir, mas sim de conhecer as pessoas e o seu desempenho. Sem uma postura avaliativa do gestor, as pessoas tendem a ficar estagnadas em sua posição, sem evolução na carreira e sem desenvolver os aspectos que precisam para se tornar um profissional melhor. Da mesma forma, sem avaliar o ambiente de trabalho, o gestor deixa de identificar sinais de desinteresse e desmotivação. A postura avaliativa envolve também a autoavaliação, necessária para que o gestor perceba seus pontos fortes e fracos. Assim, um gestor atento deve sempre avaliar o ambiente em seu entorno, verificando a percepção da equipe e intervindo quando necessário para promover melhorias. 16 Laureate- International Universities Gestão de pessoas NÃO DEIXE DE VER... Como enlouquecer seu chefe (1999) – Mike Judge – Este filme retrata de forma diver- tida o fenômeno da motivação no trabalho, com um chefe que demonstra pouco res- peito às pessoas, atividades entediantes, clima organizacional ruim devido a mudanças e demissões, comunicação organizacional burocratizada e ineficiente, conflitos, entre outros aspectos relativos à gestão de pessoas. 4.3 Conflitos As pessoas sempre possuem objetivos e interesses diferentes daqueles ao seu redor. Assim, diante de tantas diferenças, a vida de um ser humano é uma eterna sucessão de conflitos. Em nossas interações com amigos, parceiros, familiares, colegas de escola e de trabalho, quase sempre há algum tipo de conflito, seja ele grave ou não. Conflitos entre pessoas, entre grupos e entre setores também fazem parte do cotidiano das or- ganizações. Isso quer dizer que devemos eliminar os conflitos nas organizações? Os conflitos, dependendo dos motivos e de como são geridos, podem trazer resultados bons ou ruins. Dessa forma, considerando que os conflitos existem, sempre existiram e sempre existirão, precisamos aprender a lidar com eles. A organização depende da cooperação e da colaboração das pessoas. Isso requer certa harmo- nia e bem-estar entre todos os envolvidos. Como agir, então, diante de um conflito? Quando é a hora de enfrentar e quando devemos ceder? Para saber a melhor postura para cada situação, é importante conhecer o que pode causar um conflito e compreender sua dinâmica para intervir quando necessário. 4.3.1 Conceitos Saiba que a palavra conflito está ligada à ideia de desacordo, divergência, discórdia e anta- gonismo. As diferenças de objetivos e interesses individuais ou de um grupo sempre produzem algum tipo de conflito. O conflito existe quando uma das partes envolvidas – uma pessoa ou uma equipe – busca atender a seus objetivos de modo que interfira na outra parte e a prejudique em seus próprios objetivos (CHIAVENATO, 2008). Assim, o conflito é mais do que uma simples desavença: ele é uma interferência ativa ou passiva que bloqueia o alcance de objetivos da outra parte envolvida. Embora sejam vistos, em geral, como algo negativo, os conflitos podem ser funcionais, trazendo algumas vantagens para a empresa. A existência de diferentes visões pode contribuir para encon- trar novas soluções para os problemas existentes e para se tomar decisões mais bem fundamen- tadas. O debate pode promover aprendizado para seus participantes, agregando novas ideias e reflexões. Com isso, o desempenho individual e organizacional pode ser potencializado a partir de conflitos. No entanto, quando o conflito é disfuncional, vira fonte de estresse, insatisfação, di- ficuldades de comunicação, queda do comprometimento e da satisfação de todos os envolvidos direta ou indiretamente, prejudicando o desempenho geral, incluindo o atendimento ao cliente e a qualidade do produto ou serviço. O conflito pode ser analisado por diferentes pontos de vista. Quanto à abrangência, o conflito pode ser interno, envolvendo dilemas intrapessoais, ou externo, nos níveis interpessoal, intra- grupal, intergrupal, intraorganizacional e interorganizacional. Já quanto à gravidade, o conflito 17 pode ser percebido, experienciado ou manifestado. Conflito percebido ocorre quando ambas as partes reconhecem um conflito em potencial por perceber diferença entre seus objetivos, sendo um tipo de conflito latente. Conflito experienciado é quando são despertados sentimentos hostis como raiva, medo e descrédito, sendo um conflito velado, dissimulado, oculto. Conflito manifestado é quando ocorre a interferência de uma parte sobre a outra, ativa ou passivamente, tornando-se um conflito aberto. 4.3.2 Processo de conflito Existem certas condições que propiciam o surgimento de conflitos nas organizações. Um exemplo comum é quando a organização não esclarece suas expectativas ao colaborador, o que pode criar uma ambiguidade de papéis, a partir do sentimento de que algumas pessoas estão traba- lhando com propósitos incompatíveis. Na medida em que a organização cresce, os departamen- tos tendem a se diferenciar e especializar, momento no qual podem surgir objetivos concorrentes dentro da empresa, podendo ser incompatíveis entre si e também divergentes dos objetivos da organização, criando conflitos em diversos níveis. A necessidade de compartilhar recursos como capital de giro, máquinas, ferramentas, instrutores e salas de reunião também é grande fonte de conflitos nas empresas, especialmente quando há má distribuição desses recursos. Da mesma forma, a interdependência de certas atividades pode produzir conflitos devido às diferentes prio- ridades entre cada setor. A partir das condições antecedentes, uma das partes percebe o potencial conflito e desenvolve sentimentos de divergência em relação à outra parte. Esses sentimentos estimulam comporta- mentos que impactarão na equipe e no ambiente, havendo assim a resolução que pode ser o fim ou a intensificação do conflito. Todas as etapas na qual ocorrem interações conflituosas são chamadas de episódio de conflito. Episódio de con�ito Comportamento da outra parte Condições antecedentes Percepção do con�ito Comportamento do con�ito Resolução Resultado Figura 3 – O processo de conflito. Fonte: Adaptada de Chiavenato, 2008. 4.3.3 Gestão de conflitos Considerando que os conflitos são comuns nas organizações, é preciso saber gerenciá-los. Para que o gestor intervenha em situações conflituosas que estejam trazendo consequências negativas, 18 Laureate- International Universities Gestão de pessoas ele dispõe de três tipos de abordagens: abordagem estrutural, atuando nas causas; abordagem de processos, atuando no episódio de conflito; e abordagem mista, ou seja, nas causas e no episódio. Para utilizar a abordagem estrutural, primeiramente é preciso relembrar as condições que esti- mulam o surgimento de um conflito: ambiguidade de papéis, objetivos concorrentes, recursos compartilhados e interdependência das atividades. Para diminuir a ambiguidade de papéis e a sensação de objetivos concorrentes, uma estratégia é a redução da diferenciação dos grupos. O gestor deve esclarecer suas expectativas e buscar evidenciar os objetivos comuns entre os grupos conflituosos. Para facilitar a identificação de objetivos compartilhados, o gestor pode recorrer às ameaças externas e aos inimigos comuns entre as partes do conflito. Outra opção é reagrupar os indivíduos, tornando essas equipes parte de uma unidade maior ou promovendo rotação de cargos, para que se tenha a visão “do outro lado”. Saiba que é possível também interferir nos recursos compartilhados. Utilizar ferramentas de ges- tão que incentivem e recompensem o desempenho conjunto, como participação nos lucros ou bônuspor metas compartilhadas, pode estimular a cooperação na utilização desses recursos. Assim, aqueles que requerem maior quantidade de recursos podem utilizá-lo, no entanto os de- mais não se sentirão prejudicados, uma vez que a recompensa geral favorecerá a todos. Outra estratégia da abordagem estrutural é a redução da interdependência das atividades, ocorrendo a partir do distanciamento físico e estrutural das equipes, diminuindo a interferência entre seus trabalhos e reduzindo a probabilidade de conflitos. Existem casos nos quais pode ser necessário interferir diretamente no episódio do conflito. A interferência pode vir de uma das partes envolvidas ou de pessoas de fora do conflito, como um consultor ou um gestor neutro. Uma estratégia com esse tipo de abordagem é a busca pela de- sativação do conflito. Assim como uma ação agressiva tem uma resposta agressiva, o encoraja- mento de comportamentos menos conflitantes em uma das partes tende a estimular uma reação cooperativa da outra. Quando a desativação não for possível ou suficiente, é preciso promover um confronto mediado entre as partes. Reuniões de confrontação devem ser realizadas para colocar as partes uma em frente a outra, permitindo a estas externalizar suas emoções, discutir, caracterizar o conflito e encontrar soluções que satisfaçam, ao menos parcialmente, ambos os lados. Por fim, é possível também colocar as partes conflitantes atuando diretamente na colabo- ração, para que juntas busquem a solução do problema e identifiquem objetivos comuns. Quando o gestor adota abordagem estrutural e de processo, ou seja, mista, ela pode se dar de duas formas. A primeira é a definição de regras para resolução de conflitos. A organização pode determinar políticas e procedimentos para os diferentes tipos de conflito, delimitando o poder de atuação dos mediadores. Assim, fica claro, por exemplo, que tipo de conflito a equipe deve buscar solucionar entre seus membros, quando a pessoa deve acionar o departamento de RH ou a Ouvidoria, a partir de que ponto o líder precisa ser acionado e quando a alta gestão precisa ser envolvida. A segunda forma é a criação de papéis integradores. Esses papéis são atribuídos a equipes interdepartamentais que ficam disponíveis para ajudar na resolução de conflitos sempre que necessário. Essas equipes podem ser compostas, por exemplo, de gestores, diretores, analis- tas de recursos humanos, entre outros. Independente da abordagem utilizada, nosso conjunto de características nos faz adotar certos estilos de gestão de conflitos. Há pessoas mais assertivas, que enfatizam o próprio interesse, e outras mais cooperativas, que consideram mais o interesse da outra parte. A combinação entre o grau de assertividade e de cooperação compõem cinco estilos de gestão de conflitos: evitação, acomodação, competição, compromisso e colaboração. A evitação resulta de baixa assertividade e baixa cooperação. Reflete uma postura de querer fugir do conflito e deixar as coisas como estão, sendo utilizada quando é necessário tempo ou mais informações para sua resolução, quando as pessoas precisam se acalmar ou quando os riscos são muito altos e requerem análise mais cuidadosa. A acomodação resulta de alta cooperação 19 e baixa assertividade. Busca manter a harmonia, resolvendo os problemas menores, porém man- tendo inconclusas as questões mais complexas para que sejam resolvidas em outro momento. Este estilo é recomendado em situações nas quais a harmonia é necessária para requerer apoio futuro da outra parte envolvida. A competição é oriunda de alta assertividade e baixa cooperação. Consiste na imposição de uma opinião, indicada quando é requerida uma decisão rápida ou quando estão em jogo inte- resses importantes, dos quais não é possível abrir mão. Já o estilo compromisso vem de níveis médios e equilibrados de assertividade e cooperação. Este estilo é possível quando há tempo suficiente para decidir sem pressão, buscando encontrar saídas que tragam perdas e ganhos aceitáveis para as partes, sendo recomendável para obter o compromisso das pessoas com a solução identificada, quando não for possível atender plenamente a todos. Por fim, existe o estilo de colaboração, composto de alta colaboração e alta assertividade. Este estilo busca saídas nas quais ambas as partes saiam ganhando, sendo utilizado quando for possível a combinação de seus pontos de vista. Como já mencionado, os conflitos podem ser funcionais ou disfuncionais. Suas consequências podem ser boas, trazendo inovações, fortalecendo identidade dos grupos e solucionando pro- blemas organizacionais; ou ser ruins, criando ambientes hostis, tensão, mal-estar e queda na produtividade. O grande desafio dos gestores é administrar os conflitos de modo a potencializar seus efeitos construtivos e minimizar efeitos prejudiciais. 4.4 Qualidade de vida no trabalho, saúde e segurança Nós modificamos as organizações por meio do trabalho e o trabalho nos modifica. Os efeitos do trabalho sobre as pessoas podem ser positivos, como crescimento, satisfação, aprendizado; ou negativos, como doenças, lesões e sofrimento. Promover qualidade de vida, saúde e segurança no trabalho não é apenas cumprir com certas obrigações legais. Cuidar das pessoas que tocam o negócio é uma atitude ética. Você já deve ter ouvido a frase “trate os outros como você gostaria de ser tratado”. Mas será que o que traz qualidade de vida para a outra pessoa é o mesmo que traz para você? Neste tópico, será abordado o conceito de qualidade de vida no trabalho, que está relacionado também com o conceito de motivação e satisfação das necessidades de cada um. Garantir a saúde e a segurança das pessoas é essencial para a manutenção da relação de tra- balho. Essas necessidades, quando não supridas, trazem uma cascata de efeitos maléficos para a organização e para as pessoas: insatisfação, baixa produtividade, erros, doenças, acidentes de trabalho, faltas, sabotagem, imagem ruim da organização perante a sociedade e inúmeros processos trabalhistas. O que fazer para evitar esses problemas? 4.4.1 Qualidade de vida no trabalho Com a crescente importância da gestão de pessoas no mercado de trabalho, cada vez mais as empresas percebem a necessidade de promover qualidade de vida no trabalho a seus colabora- dores. Seja para atrair bons profissionais ou para manter os atuais, essas práticas vêm sendo um importante diferencial competitivo. França (2014) define a gestão da qualidade de vida no trabalho (QVT) como a capacidade de gerir um conjunto de ações alinhado à cultura organizacional, conferindo prioridade absoluta para o bem-estar dos colaboradores. Essas ações incluem o diagnóstico e a implantação de me- 20 Laureate- International Universities Gestão de pessoas lhorias e inovações gerenciais, estruturais e tecnológicas no ambiente de trabalho. Assim, a QVT representa o quanto os membros da organização são capazes de satisfazer suas necessidades pessoais através de seu trabalho. A estruturação de programas de QVT precisa levar em conta os interesses de ambos os lados: empresa e colaborador. Por um lado, deve promover bem-estar e satisfação. Por outro, precisa ter bons resultados na produtividade, qualidade do trabalho e redução de custos, mas não em detrimento do bem-estar do colaborador. Você poderia se perguntar: dando ótimas condições de trabalho eu garanto a QVT de meus co- laboradores? Não. Isso porque não são só as condições de trabalho que impactam na qualidade de vida de uma pessoa. Fatores pessoais também afetam o desempenho e o comportamento no trabalho, de forma que problemas fora da organização podem também impactar internamente. Embora se fale em separar o lado pessoal e o profissional, na prática, uma real separação não é possível. Dessa forma, a organização deve compreender o colaborador como um ser humano completo, e não apenasum profissional. Buscar promover QVT implica em verdadeiro e profundo respeito às pessoas e suas necessida- des. Afinal, o objetivo maior de todos, no fim, não é tão diferente. O gestor ou o empresário também busca seu bem-estar geral e sua própria satisfação no trabalho e na organização que comanda. É no mínimo ético e moral ele, como detentor do poder de gerir a organização e o trabalho das pessoas, promover o mesmo para seus trabalhadores, retribuindo à sociedade o que ele mesmo ganha com isso. A importância das necessidades humanas pode variar entre diferentes culturas e indivíduos. Por- tanto, a QVT não depende apenas das características individuais ou organizacionais, mas sim da interação sistêmica dessas caraterísticas. A partir dessa premissa, existem diferentes modelos de QVT utilizados como base desses programas. Um dos modelos mais adotados é de Walton, de 1973. Esse modelo considera oito aspectos im- portantes para promover a QVT: a compensação justa e adequada, que depende da adequação da remuneração ao trabalho que a pessoa realiza, da equidade interna – equilíbrio entre salários dentro da organização – e da equidade externa – equilíbrio com as remunerações do mercado de trabalho; as condições de segurança e saúde no trabalho, envolvendo jornada de trabalho, nível de esforço requerido e ambiente físico adequado às necessidades das pessoas; a utiliza- ção e o desenvolvimento de capacidades, desenvolvendo autonomia e autocontrole, obtendo informações sobre o processo total do trabalho para compreender seu significado, bem como feedback quanto ao seu desempenho; as oportunidades de crescimento contínuas, com relação a aprendizado e carreira e a segurança no emprego. Fazem parte do modelo de Walton também a integração social na organização, eliminando barreiras hierárquicas, promovendo apoio mútuo, franqueza e ausência de preconceito nas rela- ções. O respeito e a clareza sobre seus direitos e deveres, tanto obrigações legais quanto regras definidas pela organização, garantindo abertura para questionar decisões arbitrárias e um clima democrático dentro da organização. O trabalho e espaço total de vida, evitando que o trabalho consuma todo o tempo e a energia do trabalhador, em prejuízo de sua vida pessoal ou familiar, de seu lazer e suas atividades comunitárias. Por fim, a relevância social da vida no trabalho, trazendo orgulho para as pessoas em participar de uma organização, devido a sua boa imagem perante a sociedade, responsabilidade social e ambiental, boas práticas e administração eficien- te (CHIAVENATO, 2008). Uma infinidade de ações pode ser feita para promover a qualidade de vida. Elas vão desde o bá- sico exigido pela legislação até ações no local de trabalho ou extensíveis à vida pessoal e familiar do colaborador, por exemplo, cuidando de sua saúde e incentivando o lazer e os hábitos saudá- veis. No entanto, ao implantar um programa de QVT, é preciso avaliar seus resultados. Para isso, devem ser definidos indicadores que permitam mensurar as mudanças observadas e com isso 21 comprovar sua eficácia. São exemplos de indicadores de QVT a rotatividade, os afastamentos, a quantidade de candidatos voluntários, a quantidade de processos trabalhistas, as avaliações de desempenho, a pesquisa de clima, a adesão às práticas promovidas e pesquisas internas. 4.4.2 Saúde e segurança Embora saúde e segurança sejam termos distintos, não é necessário estudar separadamente esses conceitos. Em geral, quando fazemos a gestão da segurança do trabalho, incluímos os aspectos que impactam na saúde do colaborador. Uma pessoa com saúde apresenta equilíbrio psicofisio- lógico. Uma pessoa segura está protegida dos possíveis riscos que o ambiente apresenta à sua segurança e saúde. Para regulamentar parâmetros mínimos, existem as Normas Regulamentado- ras (NRs) do Ministério do Trabalho e Emprego, atribuindo responsabilidades ao empregador e ao empregado, com o objetivo de promover saúde e segurança ocupacional. Essas normas têm força de lei e seu cumprimento é um dos principais focos das fiscalizações trabalhistas. De acordo com a área de atuação e do tamanho da empresa, ela deverá possuir uma equipe de Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho (SESMT). Essa equipe, regida pela NR 04, é composta de profissionais como médicos ou enfermeiros do traba- lho, engenheiros ou técnicos de segurança, variando sua composição conforme apresentado na NR. Seu objetivo básico é promover a saúde e proteger a integridade do colaborador no local de trabalho, realizando tarefas como mudanças nas estações e nos processos de trabalho, redução de riscos ocupacionais, avaliação da saúde dos trabalhadores, e orientação, treinamento e ma- nutenção dos registros necessários para a gestão da saúde e segurança. O trabalho do SESMT é apoiado pela Comissão Interna de Prevenção a Acidentes (CIPA), re- gida pela NR 05. A CIPA é composta de colaboradores em geral, sendo metade eleitos pelos trabalhadores e outra metade indicados pela empresa. Cabe à CIPA responsabilidades como a elaboração e divulgação de mapas de riscos existentes no trabalho, realização de ações preven- tivas, verificação dos ambientes de trabalho e organização anual do evento obrigatório chamado Semana Interna de Prevenção de Acidentes de Trabalho (SIPAT). Para promover saúde e segurança, é preciso buscar sempre eliminar os riscos ocupacionais exis- tentes. Risco é tudo aquilo que cria uma possibilidade de ocorrer um acidente ou desenvolver uma doença. Os riscos podem ser biológicos, químicos, físicos, ergonômicos e de acidente. Em primeiro lugar, busca-se eliminar o risco direto na fonte, como mudando uma máquina que faz muito ruído ou apresenta risco de acidente. Quando não é viável, parte-se para o controle na trajetória, tentando fazer com que o risco não chegue ao trabalhador, por exemplo, colocando isolamento acústico na máquina ou alguma peça de proteção. Essa ordenação é importante para que o risco seja realmente reduzido, uma vez que as pessoas, mesmo treinadas, podem cometer erros ou esquecimentos. Assim, apenas em último caso, ocorre o controle direto no colaborador, exigindo a utilização de equipamentos de proteção individual (EPI), como protetor auricular, óculos, capacetes, luvas e coletes. A gestão dos riscos faz parte do Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA) obrigatório para todas as empresas que possuem funcionários regidos pela CLT, conforme NR 09. Cabe a esse programa identificar os possíveis riscos, implementar medidas para eliminá-los ou reduzi-los e propor ações para prevenir possíveis acidentes e doenças. O Programa de Controle Médico e Saúde Ocupacional (PCMSO), também obrigatório, por sua vez, monitora a saúde das pessoas por meio de avaliações médicas na admissão e na demissão do colaborador, bem como em mu- dança de função e de retorno ao trabalho após afastamento. Além disso, o PCMSO deve prever avaliações periódicas com todos os colaboradores, conforme especificado na NR 07, e planejar ações de promoção de saúde, como campanhas de vacinação e incentivos a hábitos saudáveis. Caso algum colaborador sofra acidente de trabalho, é preciso realizar a comunicação de aci- dente de trabalho (CAT), preenchendo formulário próprio disponibilizado pela Previdência Social. Para isso, é importante reconhecer que acidente de trabalho é toda situação que gere lesão cor- 22 Laureate- International Universities Gestão de pessoas poral, perturbação funcional ou morte a partir do trabalho prestado à empresa. Assim, inclui-se no conceito de acidente de trabalho o acidente que ocorre no trajeto da casa-trabalho-casa e as doenças adquiridas ou agravadas a partir do trabalho. Embora a segurança e saúde do trabalho sejam regidos por legislação e exigências específicas, faz parte de todas as práticas de gestão de pessoaso objetivo de criar um ambiente de trabalho saudável e seguro. Como pontua Bohlander e Snell (2010), para isso é preciso também prevenir o tabagismo, o alcoolismo e a dependência de drogas, conscientizar sobre a aids, desencorajar a violência, prestar assistência para problemas pessoais e ajudar a controlar o estresse no trabalho. 4.5 Banco de dados e sistemas de informações gerenciais Em todo o instante, nas organizações, decisões precisam ser tomadas. Muitas dessas decisões são relacionadas às pessoas. Quanto mais informações dispomos, menor a incerteza na tomada de decisões. Para isso, podemos dispor de sistemas informatizados que gerenciam as informa- ções a partir de bancos de dados alimentados por seus usuários. Os colaboradores precisam conhecer as informações a seu respeito: seu histórico, sua evolução, as possibilidades de crescimento. O RH e os gestores acessam essas e outras informações para conhecer as necessidades da organização e se planejar para intervir a respeito. Enfim, precisa- mos de informações para fazer nosso trabalho com qualidade e satisfação, seja como colabora- dor, profissional de RH ou gestor. Para isso, neste tópico você conhecerá os conceitos básicos sobre banco de dados, sistemas de informações. 4.5.1 Banco de dados Todo tipo de registro é um dado. Um dado isolado, no entanto, possui pouco significado. Ao pro- cessarmos dados, classificando-os e relacionando-os, atribuímos significados para que possam informar algo. A partir disso, surge a informação. Os bancos de dados são a base para qualquer sistema de informação. Para permitir o gerencia- mento desses sistemas, os bancos armazenam e acumulam dados para que possam ser proces- sados e consultados. A organização dos bancos de dados diminui a chance de duplicidade de arquivos e de inconsistência ou erro nas informações obtidas. Os dados sobre determinado assunto de interesse podem ser extraídos em formato de relatórios com diferentes níveis de complexidade. Os dados pessoais dos colaboradores; dos cargos da empresa, seus requisitos e ocupantes; a relação de colaboradores por líderes, setores, departa- mentos ou unidades; os dados sobre salários e benefícios; os treinamentos previstos e realizados, com os resultados de suas avaliações; a relação de candidatos a uma vaga; e as consultas mé- dicas realizadas são exemplos de dados que devem estar corretamente armazenados e cruzados para que sejam transformados em informação e sirvam de apoio a decisões e planejamentos diversos na organização. A manutenção dos bancos de dados é de responsabilidade de seus usuários, sejam eles pro- fissionais de RH, líderes ou colaboradores. Todos devem contribuir para manter as informações completas e atualizadas no que compete a cada um. Assim, por exemplo, o colaborador tem a responsabilidade de manter atualizados – com as devidas comprovações documentais – dados 23 como estado civil e endereço; o líder deve inserir os dados sobre agendamento de férias de sua equipe; e o RH, registrar os novos cargos criados. É preciso garantir a segurança do banco de dados utilizado. Embora o banco possa ser parcial- mente acessível a todos, não se deve simplesmente permitir acesso irrestrito aos dados. Informa- ções como salários de cada colaborador, por exemplo, devem ser visualizadas apenas pelo RH, pelo líder e pelo próprio colaborador, impedindo assim o acesso aos demais colaboradores. Da mesma forma, as informações como faturamento ou desempenho de determinado setor podem ou não serem visualizadas por outros gestores. As permissões de acesso variam de acordo com a cultura da organização. De qualquer forma, além de gerir o acesso normal, é preciso evitar falhas que permitam que o sistema seja burlado ou invadido. 4.5.2 Sistemas de informações Uma das principais estratégias de gestão e pessoas consiste em comunicação e feedback cons- tantes com os colaboradores. Para isso, o uso de sistemas integrados de informação se faz muito útil. Essa necessidade ocorre especialmente em grandes empresas: como saber o que está acontecendo mundialmente ou nacionalmente? Como acompanhar as metas e os indicadores de gestão de pessoas? No início da gestão de pessoas, suas informações ficavam centralizadas e restritas ao setor de RH. No entanto, entendendo que os líderes são responsáveis pela gestão das pessoas, constatou- -se que estes necessitam também dessas informações. Mais recentemente, esses sistemas de informação têm sido aberto também aos colaboradores, para que conheçam seu desempenho e sua situação na organização (CHIAVENATO, 2008). O conceito atual de sistema de informação está relacionado à tecnologia da informação, en- volvendo necessariamente um computador ou uma rede de computadores, além de programas específicos para processar os dados e gerar informações. Assim, é preciso que este sistema disponha de profissionais especializados para realizar seu suporte em caso de dúvidas ou pro- blemas identificados, bem como realizar customizações conforme as necessidades da empresa. O que são customizações? Customização é um termo utilizado na área de tecnologia da informação adaptado do inglês customization, que significa personalização. Quan- do uma empresa adquire um sistema de informação, é comum requerer a criação de novos campos de cadastro, novas telas de consulta e relatórios que atendam às neces- sidades específicas daquela empresa, sendo solicitada, para a empresa desenvolvedo- ra, a customização do sistema. NÓS QUEREMOS SABER! São diferentes as informações que o RH, os gestores e os colaboradores precisam acessar. O RH precisa gerenciar seus programas de forma alinhada às estratégias, às metas e aos objetivos organizacionais; registrar e gerenciar informações sobre folha de pagamento, férias, 13º salário, faltas, atrasos e medidas disciplinares; e relatórios de cargos, setores, remuneração, benefícios, planos de carreira, recrutamento, seleção, treinamento, saúde e segurança. Os gestores também necessitam de certas informações para tomar suas decisões. Para isso, o RH pode colaborar na identificação dessas necessidades junto ao gestor, como salário e data de admissão de seus colaboradores, experiência profissional, treinamentos realizados, progressos e evolução no de- sempenho, características pessoais, competências e potencial de desenvolvimento. Já os cola- boradores precisam saber sobre suas informações pessoais, seu trabalho, seu cargo, seu setor e a organização em geral. Essas informações envolvem a quantidade de horas trabalhadas – in- 24 Laureate- International Universities Gestão de pessoas cluindo banco de horas ou horas extras – e salário a receber no mês, possibilidades de carreira, treinamentos previstos, resultados de avaliações de desempenho, nível de alcance das metas e potencial de desenvolvimento. Os sistemas de informação otimizam os processos de gestão de pessoas, a comunicação organi- zacional e a tomada de decisões em geral. No entanto, sua implantação requer investimento em termos de programa, equipamentos, instalações, treinamento e manutenção. Por esse motivo, é preciso ter cautela na escolha do sistema e realizar a avaliação a respeito de sua eficácia nas melhorias organizacionais previstas. Para verificar se o sistema está sendo útil, é possível ouvir a opinião dos usuários ou mensurar o quanto este está sendo utilizado. Por exemplo, quando um sistema é muito complexo, as pessoas podem tender a utilizar apenas suas funções mais básicas, resultando em investimento mal aproveitado, requerendo assim simplificação do processo ou mais treinamentos. Pode-se, também, medir o tempo dos processos realizados antes e depois da implantação do sistema, para atestar sua contribuição. 4.5.3 Balanço social A imagem da organização é algo que deve ser zelado por todos seus membros. Um dos aspectos mais importantes atualmente para a boaimagem no mercado é a responsabilidade social das organizações. Atuar de forma responsável implica no comprometimento da organização e de seus membros com seus impactos na sociedade em geral e especialmente na comunidade em seu entorno mais próximo, o que contempla inclusive seus colaboradores. Para dar visibilidade às suas práticas socialmente responsáveis, algumas empresas elaboram e divulgam seu balanço social. Esse balanço é um documento que torna público suas intenções e compromissos de forma transparente, relatando e mensurando as suas principais práticas que afetam a sociedade e a comunidade, como ações filantrópicas, doações, patrocínios, projetos ambientais, entre outros. Com relação à gestão de pessoas, os relatórios de balanço social costumam conter informações sobre demografia dos colaboradores, sistemas de remuneração, incentivos, encargos sociais, condições de trabalho, níveis de produtividade e disfunções como rotatividade, afastamentos e conflitos trabalhistas. 2525 Síntese • A interação da organização com as pessoas pode contribuir positiva ou negativamente para manter os colaboradores na empresa. Uma gestão da comunicação organizacional de forma transparente e uma relação de respeito às pessoas e seus direitos são necessárias para aumentar a cooperação, a satisfação e o comprometimento das pessoas. Com isso, consequentemente, se obtêm maior qualidade no trabalho e economia com demissões e processos trabalhistas. • Diversas teorias buscam explicar o processo motivacional, geralmente atribuindo-o a uma força interna que nos estimula a fazer algo. Assim, a motivação é um processo complexo que influencia nosso comportamento a partir de nossas necessidades e nossos interesses. Uma das formas de perceber o nível de motivação das pessoas de uma organização é analisando o clima organizacional. • Os conflitos nas organizações existem e sempre existirão. Por isso, é preciso saber gerenciá- los, intervindo na causa ou no episódio de conflito. Em uma situação conflituosa, temos certa tendência de comportamento: podemos evitar, competir, cooperar, nos acomodar ou assumir compromissos, porém cada postura é indicada em um tipo diferente de situação. É preciso potencializar os efeitos positivos do conflito e mitigar seus efeitos negativos. • Promover qualidade de vida no trabalho implica em permitir que as pessoas satisfaçam suas necessidades pessoais ou profissionais por meio do trabalho. Garantir a saúde e segurança de seus colaboradores significa respeitar as pessoas, prevenindo doenças e acidentes e atuando para que seu estado de saúde seja igual ou melhor do que quando iniciou o trabalho. • Bancos de dados atualizados e seguros são importantes para a eficácia dos sistemas de informações. A partir desses sistemas, dados são convertidos em informações úteis para o colaborador, o gestor e o RH. Com isso, intensifica-se a transparência da gestão e da comunicação na organização. Ampliando essa relação à comunidade, algumas empresas fortalecem sua responsabilidade social elaborando e divulgando seus balanços sociais. Síntese Referências BOHLANDER, George; SNELL, Scott. Administração de recursos humanos. São Paulo: Cen- gage Learning, 2010. CHIAVENATO, Idalberto. Comportamento organizacional: a dinâmica do sucesso das orga- nizações. 2. ed. São Paulo: Elsevier, 2005. ______. Gestão de pessoas: e o novo papel dos recursos humanos nas organizações. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008. FRANÇA, Ana Cristina Limongi. Práticas de recursos humanos: conceitos, ferramentas e pro- cedimentos. São Paulo: Atlas, 2014. GIL, Antônio Carlos. Gestão de pessoas: enfoque nos papéis profissionais. São Paulo: Atlas, 2013. Bibliográficas
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