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Direitos Fundamentais - Angelo Boreggio (prova 1)

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Prova 1 – Direitos Fundamentais
Professor: Ângelo Boreggio
Aluna: Gabriela Coelho
CONCEITO
▪ Os direitos fundamentais são direitos público-subjetivos de pessoas (físicas ou jurídicas), contidos em dispositivos constitucionais e, portanto, que encerram caráter normativo supremo dentro do Estado, tendo como finalidade limitar o exercício do poder estatal em face da liberdade individual.
• Fundamentalidade Formal e Material: A posição dos direitos fundamentais no sistema jurídico define-se com base na fundamentalidade formal, ou seja, um direito só é considerado fundamental se for garantido mediante normas que tenham a força jurídica própria da supremacia. Esse elemento formal é também condição suficiente da fundamentalidade: todos os direitos garantidos na Constituição são considerados fundamentais, mesmo quando seu alcance e/ou relevância social forem relativamente limitados, como por exemplo, o Estatuto do Idoso. 
• Fundamentalidade e Cláusulas Pétreas: Seria equivocado somente considerar fundamentais, os direitos protegidos pelas “cláusulas pétreas”. Distinguir entre direitos fundamentais constitucionalmente garantidos e o subgrupo de direitos “superfundamentais”, os quais foram resguardados contra reformas constitucionais por constituírem parte das chamadas cláusulas pétreas, é necessário do ponto de vista da dogmática da reforma constitucional, como instrução do poder constituinte derivado reformador. Mas essa distinção não é plausível no âmbito da dogmática dos direitos fundamentais, pois supõe a reformabilidade, sugerindo que, em caso de incompatibilidade, os não reformáveis teriam certa prevalência. Tal entendimento não corresponde à vontade do constituinte que atribuiu o mesmo valor jurídico a todos os direitos fundamentais. Por essa razão, deve-se insistir na teoria da fundamentalidade formal. 
• O problema da Historicidade: Sustenta-se frequentemente que os direitos fundamentais são anteriores ao seu reconhecimento por parte do Estado quando de sua garantia constitucional. Nessa ótica o Estado seria necessariamente obrigado a reconhecer esses direitos, pois a liberdade e igualdade dos indivíduos seriam não só “direitos naturais”, mas também condições sine qua non de legitimação da criação do Estado e por isso obrigariam e cercariam o exercício do poder estatal: “os direitos fundamentais [...] são direitos preexistentes ao ordenamento jurídico”, “os direitos humanos fundamentais são ‘inalienáveis’ e por isso anteriores ao Estado”. 
DIGNIDADE HUMANA
▪ Trata-se de um princípio aberto, ou seja, não há uma definição fática a respeito da dignidade humana. Portanto, aproxima-se da sua significância o seguinte conceito: “é o reconhecimento de direitos básicos (os direitos fundamentais) dado a todos os seres humanos, pelo simples fato de serem humanos”. Embora não se trate de unanimidade, a doutrina majoritária concorda que os direitos fundamentais “nascem” da dignidade humana. Dessa forma, haveria um tronco comum do qual derivam todos os direitos fundamentais.
DIREITOS FUNDAMENTAIS x DIREITOS HUMANOS
• Os direitos Humanos: são direitos atribuídos à humanidade em geral, por meio de tratados internacionais (Declaração Universal dos Direitos Humanos, da ONU, 1948, por exemplo).
• Os direitos Fundamentais: são direitos positivados em um determinado ordenamento jurídico (Constituição Federal Brasileira, Lei Fundamental Alemã, etc.)
TEORIAS
• Jusnaturalista: Para o Jusnaturalismo, os direitos fundamentais são direitos pré-positivos, isto é, direito anteriores mesmo à própria Constituição; direitos que decorrem da própria natureza humana, e que existem antes do seu reconhecimento pelo Estado. 
• Positivista: Já o Positivismo Jurídico considera que direitos fundamentais são aqueles considerados anteriores básicos na norma positiva (=norma posta), isto é, na Constituição. Isso não impede que se reconheça a existência de direitos implícitos, em face do que dispõe, por exemplo, o art. 5°, § 2°, da CF (ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei). OBS: varia de acordo com o país. 
• Moralista: Já a Teoria moralista, encontra a fundamentação na própria experiência e consciência moral de um determinado povo, de certa forma, faz uma crítica a teoria positivista.
CARACTERÍSTICAS GERAIS
• Historicidade: É uma concepção histórica dos direitos considerados fundamentais. Aborda o pretexto de que o mesmo, varia de época para época e de lugar para lugar. Segundo Norberto Bobbio: “os direitos do homem, por mais fundamentais que sejam, são direitos históricos, ou seja, nascidos em certas circunstancias, caracterizadas por lutas em defesa de novas liberdades contra velhos poderes [...] o que parece ser fundamental em uma época histórica e numa determinada civilização não é fundamental em outras épocas e em outras culturas”. 
• Imprescritibilidade: Os Direitos Fundamentais são imprescritíveis, ou seja, não são perdidos por falta de uso. Trata-se de uma regra geral e não absoluta, pois, alguns direitos são prescritíveis, como é o caso da propriedade, que pode ser perdida pelo instituto do usucapião.
• Inalienabilidade: Alienar significa transferir a propriedade. Via de regra, os direitos fundamentais são inalienáveis, pois, não podem ser vendidos, nem doados, nem emprestados, etc. Possuem eficácia objetiva, ou seja, não são meros direitos subjetivos (pessoais), mas são de interesse da coletividade. Por isso, não se pode vender um órgão, mesmo com a concordância do doador-vendedor. Mas, há exceções como: o direito à propriedade. 
• Irrenunciabilidade ou Indisponibilidade: Em regra geral, os direitos fundamentais não podem ser renunciados pelo seu titular, sendo esta afirmação emanada da fundamentalidade material dos referidos direitos na dignidade da pessoa humana; o titular de tais direitos não pode fazer com eles o que quiser, uma vez que os mesmos possuem uma eficácia objetiva no sentido que não importa apenas ao sujeito ativo, mas interessam a toda coletividade. Vale ressaltar que o STF vem admitindo a renúncia, ainda que excepcional, de certos direitos, como é o caso da intimidade e da privacidade.
• Indivisibilidade: Sob este prisma, podemos afirmar que tais direitos compõem um único conjunto de direitos, uma vez que não podem ser analisados de maneira isolada, separada. Afirma-se que o desrespeito a um deles constitui a violação de todos ao mesmo tempo
• Inviolabilidade: Ressalta a impossibilidade de os direitos fundamentais não serem observados por disposições infraconstitucionais ou por atos das autoridades públicas, sob pena de nulidades dos mesmos, bem como da responsabilização civil, penal ou administrativa.
• Universalidade: Tendo em vista que os direitos e garantias fundamentais vinculam-se ao princípio da liberdade, conduzido pela dignidade da pessoa humana, os mesmos devem possuir como sujeito ativo, todos os indivíduos, independente da raça, credo, nacionalidade, convicção política, a coletividade jurídica em geral, podendo pleiteá-los em qualquer foro nacional ou internacional, conforme devidamente expresso no parágrafo 5 na Declaração e Programa de Ação de Viena de 1993.
• Efetividade: Ao desenvolver seu papel de agente garantir das políticas sociais, o Estado deve garantir o máximo de efetivação dos direitos fundamentais.
• Interdependente: Os direitos fundamentais estão vinculados uns aos outros, não podendo ser vistos como elementos isolados, mas sim como um todo, um bloco que apresenta interpenetrações; as várias previsões constitucionais, apesar de autônomas, possuem diversas intersecções para atingirem suas principais finalidades. No intuito de exemplificarmos a característica relacionada neste comando, podemos dizer que a liberdade de locomoção está relacionada à garantia do habeas corpus e ao devido processo legal.
• Complementar: Os direitos fundamentais devem ser interpretados em conjunto, e não de forma isolada, não havendo hierarquia entre eles, com a finalidade de se alcançar os objetivos previstos pelo legisladosconstituinte.   
• Relativo: Afirma-se que nenhum direito fundamental poderá ser considerado absoluto, sendo que tais direitos deverão ser interpretados e aplicados levando-se em consideração os limites fáticos e jurídicos existentes, sendo que referidos limites são impostos pelos outros direitos fundamentais. “(...) os direitos fundamentais podem ser objeto de limitações, não sendo, pois, absolutos. (...) Até o elementar direito à vida tem limitação explícita no inciso XLVII, a, do art. 5º, em que se contempla a pena de morte em caso de guerra formalmente declarada”
As limitações aos direitos fundamentais não são ilimitadas, só podendo ser limitado o estritamente necessário, sendo que tal também deverá ser compatível com os preceitos constitucionais e respeitar os princípios da razoabilidade e proporcionalidade.
ATOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS
▪ As garantias fundamentais correspondem às disposições constitucionais que não enunciam direitos, mas objetivam prevenir e/ou corrigir uma violação de direitos: Tais garantias “são meios destinados a fazer valer esses direitos” ou “instrumentos a serviço da concretização fática da promessa normativa”
• Preventivas: São conhecidas como garantias da Constituição. Pertencem a essa categoria as normas que dispõem sobre a organização e fiscalização das autoridades estatais. Essas normas, além de seu intuito organizatório, objetivam limitar o poder estatal e concretizam o princípio da separação dos poderes mediante controles recíprocos dos órgãos estatais. 
• Repressivas: São conhecidas como remédios Constitucionais, visam impedir violações de direitos fundamentais ou sanar as lesões decorrentes de tais violações. O habeas corpus, o mandado de segurança, a ação popular e vários outros meios processuais previstos na Constituição desempenham esse papel ao oferecer aos interessados meios processuais para fazer valer seus direitos.
DIREITOS FUNDAMENTAIS x GARANTIAS FUNDAMENTAIS 
▪ Os direitos fundamentais são os direitos do homem jurídico-institucionalizadamente garantidos. Seriam os direitos objetivamente vigentes em uma ordem jurídica concreta, ou seja, são os enunciados constitucionais de cunho declaratório, cujo objetivo consistiria em reconhecer, no plano jurídico, a existência de uma prerrogativa fundamental do cidadão. Já as garantias fundamentais seriam os enunciados de conteúdo assecuratório, cujo propósito consiste em fornecer mecanismos ou instrumentos, para a proteção, reparação ou reingresso em eventual direito fundamental violado. São remédios jurídicos, tais como o direito de resposta (art. 5º, inciso V), a indenização prevista, o Habeas Corpus e Habeas Data, são garantias.
DIMENSÕES DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS
• 1ª. Dimensão – Individuais ou Negativos: Referem-se às liberdades negativas clássicas, que enfatizam o princípio da liberdade, configurando os direitos civis e políticos. Foram frutos das revoluções liberais francesas e norte-americanas, nas quais a burguesia reivindicava o respeito às liberdades individuais, com a consequente limitação dos poderes absolutos do Estado. Oponíveis, sobretudo, ao Estado, são direitos de resistência que destacam a nítida separação entre o Estado e a sociedade. Exigem do ente estatal, precipuamente, uma abstenção e não uma prestação, possuindo assim um caráter negativo, tendo como titular o indivíduo. Ex: o direito à vida, à liberdade, à propriedade, à liberdade de expressão, à liberdade de religião, à participação política, etc.
• 2ª. Dimensão – Liberdades positivas, reais ou concretas: Relacionam-se com as liberdades positivas, reais ou concretas, assegurando o princípio da igualdade material (redução de desigualdades) entre o ser humano. Ao invés de se negar ao Estado uma atuação, exige-se dele que preste políticas públicas, tratando-se, portanto de direitos positivos, impondo ao Estado uma obrigação de fazer, correspondendo aos direitos à saúde, educação, trabalho, habitação, previdência social, assistência social, entre outros.
• 3ª. Dimensão – Difusos e Coletivos: São direitos transindividuais, isto é, direitos que são de várias pessoas, mas não pertencem a ninguém isoladamente. Transcendem o indivíduo isoladamente considerado. São também conhecidos como direitos metaindividuais (estão além do indivíduo) ou supraindividuais (estão acima do indivíduo isoladamente considerado). Podemos citar como direitos de terceira geração: direito ao desenvolvimento ou progresso, ao meio ambiente, à autodeterminação dos povos, direito de comunicação, de propriedade sobre o patrimônio comum da humanidade e direito à paz, cuidando-se de direitos transindividuais, sendo alguns deles coletivos e outros difusos, o que é uma peculiaridade, uma vez que não são concebidos para a proteção do homem isoladamente, mas de coletividades, de grupos.
No Direito Processual Civil, faz-se a distinção entre direitos coletivos em sentido estrito, direitos individuais homogêneos e direitos difusos. A definição desses direitos está no art. 81, parágrafo único, do Código de Defesa do Consumidor:
“I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato;
 II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base; 
III - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os decorrentes de origem comum”.
Embora se trate, repitamos, de um assunto mais afeto ao Direito Processual Civil, podemos citar, ainda que de passagem, a distinção entre esses três grupos de direitos. A) Os direitos difusos são direitos de todos, mas que não pertencem a ninguém isoladamente. São de grupos cuja titularidade é absolutamente indeterminada. Ex: direitos dos consumidores contra a propaganda abusiva (atinge a todos, mesmo que não tenham uma ligação jurídica uns com os outros). 
B) Os direitos coletivos em sentido estrito são direitos de grupos determinados, mas que não pertencem a nenhum membro isoladamente, mas ao grupo como todo. Ex: direito da classe dos advogados de participar dos tribunais por meio do “quinto constitucional” (art. 94 da CF): trata-se de um direito de uma classe determinada (advogados), mas que não pertence a nenhum advogado específico, mas ao grupo.
C) Os direitos individuais homogêneos, apesar do nome (“individuais”) e da discordância de parte da doutrina, a maior parte dos estudiosos consideram que esses direitos são uma subespécie dos direitos coletivos. Portanto, de individuais, só têm o nome. São direitos de cada pessoa isoladamente, mas que podem ser protegidos em conjunto (de forma “homogênea”). Ex: direito dos consumidores lesados com um brinquedo defeituoso. Trata-se de um direito de cada consumidor, mas que podem ser tutelados (=protegidos) em conjunto.
• 4ª. Dimensão – Direitos Democráticos ou da Engenharia Genética: Há autores que se referem a essa categoria, mas ainda não há consenso na doutrina sobre qual o conteúdo desse tipo de direitos. Há quem diga tratarem-se dos direitos de engenharia genética (é a posição de Norberto Bobbio), enquanto outros referem-nos à luta pela participação democrática (corrente defendida por Paulo Bonavides). Por isso mesmo, é discutível a importância dessa categoria. 
• 5ª. Dimensão – Direito à Paz: Registre que já existem autores defendendo a existência dos direitos de quinta geração ou dimensão, sendo que entre eles podemos citar o próprio Paulo Bonavides. Segundo Raquel Honesko:
“...em recentes debates científicos (...), BONAVIDES fez expressa menção à possibilidade concreta de se falar, atualmente, em uma quinta geração de direitos fundamentais, onde, em face dos últimos acontecimentos (como, por exemplo, o atentado terrorista de “11 de setembro”, em solo norte-americano), exsurgiria legítimo falar de um direitoà paz. Embora em sua doutrina esse direito tenha sido alojado na esfera dos direitos de terceira dimensão, o ilustre jurista, frente ao insistente rumor de guerra que assola a humanidade, decidiu dar lugar de destaque à paz no âmbito da proteção dos direitos fundamentais. ”
DIREITO INTERNACIONAL x SOBERANIA
- Relação entre o direito nacional e o direito internacional dos direitos fundamentais.
̶> Complementaridade Condicionada: 
(§ 2° do art. 5° CF) – Este parágrafo estabelece que os direitos e garantias expressos na CF, não excluam aqueles decorrentes de outras “fontes” normativas, entre as quais se encontrem “Tratados Internacionais em que a República Federativa Brasileira faça parte”.
• A norma indica que o fato de um direito não se encontrar garantido no texto constitucional ou não ser reconhecido a determinado titular não exclui a possibilidade de sua alegação, desde que o mesmo se encontre reconhecido em tratado internacional ou que o tratado beneficie determinado titular. Assim sendo, os tratados internacionais de direitos humanos podem servir como parâmetro do controle de constitucionalidade (e de legalidade) no Brasil, mediante o mecanismo da complementaridade. Mas, como já dito, essa complementaridade é condicionada, podendo beneficiar o interessado se forem respeitados três requisitos:
 ◦ Origem Contratual da norma de direitos humanos: O primeiro e mais evidente
Requisito é que deve se tratar de uma norma internacional de origem contratual (convencional) que abrange os tratados internacionais e eventualmente outros acordos internacionais aprovados de forma semelhante, apesar de denominados “convenções”, “pactos”. Excluem-se, assim, como fontes de direitos humanos constitucionalmente reconhecidas normas decorrentes de costumes, princípios gerais ou outras fontes de direito internacional público. 
 ◦ Conformidade Constitucional dos tratados internacionais: A segunda condição implícita – mas logicamente indiscutível – é de que o tratado não contrarie norma constitucional. Trata-se aqui de reconhecer a absoluta prevalência das normas constitucionais em relação a todas as normas de direito internacional público. Se, no âmbito interno, a única base jurídica de validade dos tratados é a Constituição a complementaridade não se realiza com base na equivalência e sim com base na submissão da produção normativa internacional aos mandamentos constitucionais. Isso decorre da natureza do poder constituinte como criador de normas dotadas de (auto) primazia normativa. 
 ◦ Validade dos tratados internacionais de acordo com a forma de ratificação: O terceiro requisito para que um tratado adquira relevância jurídica no direito brasileiro é sua aprovação pelas autoridades brasileiras na forma constitucionalmente prevista.
DECRETO – LEI x PACTO DE SAN JOSE
▪ Súmula Vinculante 25:
É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade de depósito.
▪ Precedente Representativo:
"Se não existem maiores controvérsias sobre a legitimidade constitucional da prisão civil do devedor de alimentos, assim não ocorre em relação à prisão do depositário infiel. As legislações mais avançadas em matérias de direitos humanos proíbem expressamente qualquer tipo de prisão civil decorrente do descumprimento de obrigações contratuais, excepcionando apenas o caso do alimentante inadimplente. O art. 7º (n.º 7) da Convenção Americana sobre Direitos Humanos 'Pacto de San José da Costa Rica, de 1969, dispõe desta forma: 'Ninguém deve ser detido por dívidas. Este princípio não limita os mandados de autoridade judiciária competente expedidos em virtude de inadimplemento de obrigação alimentar.' Com a adesão do Brasil a essa convenção, assim como ao Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, sem qualquer reserva, ambos no ano de 1992, iniciou-se um amplo debate sobre a possibilidade de revogação, por tais diplomas internacionais, da parte final do inciso LXVII do art. 5º da Constituição brasileira de 1988, especificamente, da expressão 'depositário infiel', e, por consequência, de toda a legislação infraconstitucional que nele possui fundamento direto ou indireto. (...) Portanto, diante do inequívoco caráter especial dos tratados internacionais que cuidam da proteção dos direitos humanos, não é difícil entender que a sua internalização no ordenamento jurídico, por meio do procedimento de ratificação previsto na Constituição, tem o condão de paralisar a eficácia jurídica de toda e qualquer disciplina normativa infraconstitucional com ela conflitante. Nesse sentido, é possível concluir que, diante da supremacia da Constituição sobre os atos normativos internacionais, a previsão constitucional da prisão civil do depositário infiel (...) deixou de ter aplicabilidade diante do efeito paralisante desses tratados em relação à legislação infraconstitucional que disciplina a matéria (...). Tendo em vista o caráter supralegal desses diplomas normativos internacionais, a legislação infraconstitucional posterior que com eles seja conflitante também tem sua eficácia paralisada. (...) Enfim, desde a adesão do Brasil, no ano de 1992, ao Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos (art. 11) e à Convenção Americana sobre Direitos Humanos 'Pacto de San José da Costa Rica (art. 7º, 7), não há base legal par aplicação da parte final do art.5º, inciso LXVII, da Constituição, ou seja, para a prisão civil do depositário infiel." (RE 466343, Voto do Ministro Gilmar Mendes, Tribunal Pleno, julgamento em 3.12.2008, DJe de 5.6.2009)
NORMAS SUPRALEGAIS 
▪ O STF cria mais uma modalidade de hierarquia entre as normas jurídicas, qual seja a chamada norma supralegal, ou seja, aquela que está abaixo da Constituição pela Teoria do Austríaco Hans Kelsen e acima das Leis Ordinárias. Essa nova hierarquia surgiu com a manifestação do Supremo Tribunal Federal em relação à prisão civil do depositário infiel, a qual já era vedada pelo Pacto de San José da Costa Rica, tratado internacional de direitos humanos. Antes do novo entendimento adotado pela Corte Suprema, com base na hermenêutica jurídica, aplicava-se no Brasil a prisão do depositário infiel. Após a EC 45/2005, o Supremo passa a tratar de forma diferenciada no que tange aos tratados internacionais. Surge então que os tratados internacionais aprovados com quórum especial de Emenda Constitucional fazem com que os mesmos tenham status de norma constitucional. Em 2008, o Supremo dá mais um passo acerca dos tratados internacionais, no entanto, esclarece que somente os tratados internacionais de direitos humanos. Estes, quando ratificados pelo Brasil entrarão no ordenamento jurídico pátrio com status de norma supralegal, ou seja, abaixo da Constituição Federal e acima da Lei. Com isso, reconhecendo-se que o Pacto de San José da Costa Rica, tratado internacional de direitos humanos, tem status supralegal, e já previa em seu conteúdo que não haveria qualquer tipo de prisão civil por dívidas, fixou-se o entendimento de que o tratado, por questões de hierarquia, revogou o dispositivo legal da prisão civil do depositário infiel no Brasil.
EFICÁCIA (mandado de injunção)
• Vertical: Antigamente se pensava que os direitos fundamentais incidiam apenas na relação entre o cidadão e o Estado. Trata-se da chamada “eficácia vertical”, ou seja, a eficácia dos direitos fundamentais nas relações entre um poder “superior” (o Estado) e um “inferior” (o cidadão). 
• Horizontal: Em meados do século XX, porém, surgiu na Alemanha a teoria da eficácia horizontal dos direitos fundamentais, que defendia a incidência destes também nas relações privadas (particular-particular). É chamada eficácia horizontal ou efeito externo dos direitos fundamentais, também conhecida como eficácia dos direitos fundamentais contra terceiros. 
OBS: Em suma, pode-se que dizer que os direitos fundamentais se aplicam não só nas relações entre o Estado e o cidadão (eficácia vertical), mas também nas relações entre os particulares-cidadãos (eficácia horizontal).
TEORIASDA EFICÁCIA HORIZONTAL
• Teoria da Eficácia direta e imediata: Defendida na Alemanha por setores minoritários da doutrina e da jurisprudência, essa foi a tese que prevaleceu no Brasil, inclusive no Supremo Tribunal Federal. Segundo o que preconiza essa corrente, os direitos fundamentais se aplicam diretamente às relações entre os particulares. É dizer: os particulares são tão obrigados a cumprir os ditames dos direitos fundamentais quanto o poder público o é. As obrigações decorrentes das normas constitucionais definidoras dos direitos básicos têm por sujeito passivo o Estado (eficácia vertical) e os particulares, nas relações entre si (eficácia horizontal direta ou imediata).
• Teoria da Eficácia indireta e mediata: Para os partidários dessa teoria, os direitos fundamentais aplicam-se nas relações jurídicas entre os particulares, mas apenas de forma indireta (mediata), por meio das chamadas cláusulas gerais do Direito Privado. Em outras palavras: a regra geral, no Direito Privado (relações entre os particulares), seria a autonomia privada; os direitos fundamentais incidiriam apenas por meio de cláusulas gerais existentes no próprio Direito Privado, como ordem pública, liberdade contratual, boa-fé, etc. 
DIREITOS FUNDAMENTAIS EM ESPÉCIE
• Direito à Vida: Esse direito expresso art.5º é o basilar dos direitos fundamentais. Faz parte do Direito de 1ª dimensão. Nenhum outro direito poderia ser cogitado sem o direito à vida. Além disso, direito à vida não se resume a mera sobrevivência física. Deve-se abranger o direito a uma existência digna, visto que a dignidade da pessoa humana é um dos princípios da Constituição Federal da República Federativa do Brasil. Mesmo sendo caracterizado como principal, ele não é absoluto, ele é relativo assim como todos os outros. As exceções vêm do estado de sítio, situações de legitima defesa, etc.
• Direito à Liberdade:
 ◦ Liberdade de Expressão: Liberdade de expressão é o direito de todo e qualquer indivíduo de manifestar seu pensamento, opinião, atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, sem censura, como assegurado pelo artigo 5º da Constituição Federal. É direito da personalidade, inalienável, irrenunciável, intransmissível e irrevogável, essencial para que se concretize o princípio da dignidade humana. É uma forma de proteger a sociedade de opressões. É elemento fundamental das sociedades democráticas, que têm na igualdade e na liberdade seus pilares. Contudo, não se pode valer da liberdade de expressão e ficar no anonimato. Muitas vezes, quando esse direito é usado de forma inconsequente, pode ocasionar desconforto e/ou revolta por parte daquele que venha a sentir ofendido. Tal fato pode ser evidenciado nos casos de racismo.
OBS: Liberdade de Expressão VS. Biografia não autorizada: não se pode fazer uma biografia não autorizada e se for feita, é passível de indenização ao retratado. 
 ◦ Liberdade Religiosa: A liberdade religiosa é, em primeiro lugar, uma liberdade ‘individual’ dado que consiste, para o indivíduo, em dar ou não a sua adesão intelectual a uma religião, escolhendo-a, ou rejeitando-a livremente. [...] Mas é também uma liberdade ‘coletiva’ no sentido de que não se esgotando na fé ou na crença, dá, necessariamente, origem a uma ‘prática’ cujo livre exercício deve ser garantido. Portanto, o Brasil é um país laico, onde não há uma religião oficial, mas permite qualquer forma de expressão religiosa de qualquer tipo de religião.
• Direito à Privacidade:
 ◦ Intimidade: é aquele que nos preserva do conhecimento alheio, reserva-nos a nossa própria vivência. 
 ◦ Vida Privada: O direito à vida privada abrange o direito ao segredo, este por sua vez classifica-se no direito ao segredo das comunicações, ao segredo doméstico e familiar e ao segredo profissional.
 ◦ Honra: Conjunto de atributos morais, físicos e intelectuais da pessoa, que lhe conferem autoestima e reputação.
 - Subjetiva: Honra subjetiva, o juízo que determinada pessoa faz acerca de seus próprios atributos. Ex: autoestima. 
 - Objetiva: Honra objetiva pode ser compreendida como o juízo que terceiros fazem acerca dos atributos de alguém. Ex: reputação. 
 ◦ Imagem: O direito de imagem, de acordo com os citados dispositivos, é irrenunciável, inalienável, intransmissível, porém disponível. Significa dizer que a imagem da pessoa ou sua personalidade física jamais poderá ser vendida, renunciada ou cedida em definitivo, porém, poderá, sim, ser licenciada por seu titular a terceiros. A imagem do indivíduo, apesar de possuir certa relação com os demais direitos de personalidade e, por vezes, até com eles confundir-se, é um direito autônomo ou próprio, o que repercute diretamente no momento de eventual ação indenizatória ante o uso indevido da imagem do indivíduo.
 ◦ Inviolabilidade do domicilio: Art. 5º, XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial; portanto, a casa é o lugar onde a pessoa que nela mora tem proteção à sua intimidade e à sua vida privada. Devemos entender que a definição constitucional de “casa” vai alcançar qualquer compartimento não aberto ao público. 
 ◦ Sigilo de correspondências: A tutela do sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas representa dispositivo indispensável para a consecução de um estado de Direito, com respeito às prerrogativas do indivíduo. Os direitos individuais devem ceder em face de interesses mais abrangentes, que repercutem em toda a sociedade. Assim, a própria norma constitucional, in fine, prevê exceção à exigibilidade do sigilo dos dados acima mencionados. Porém, é importante que se diga que essa exceção não é de entendimento unânime na doutrina e jurisprudência dos Tribunais. 
• Direito à Segurança Jurídica: É a forma mais abrangente da proteção ao acesso judiciário. A constituição federal nos traz, na busca da segurança jurídica, o direito adquirido. Essa segurança firma a noção de equilíbrio da justiça.
LIBERDADE, IGUALDADE E PROPRIEDADE
• Liberdade: Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: 
IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato; 
VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei;
IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença;
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;
XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer;
XIV - é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional; - o anonimato é exigido nesse caso, para o sigilo das informações serem permitidos. 
OBS: O princípio da legalidade assegura certos atos, pois, subtende-se que todo ato é praticado garantidos na lei. (ART 5 – II)
• Igualdade: A teoria da igualdade é que “todos são iguais perante a lei”, Aristóteles citava um outro lema “todos iguais de acordo com suas igualdades, e diferentes de acordo com suas diferenças”. No termo da Constituição de 88 *um avanço para a sociedade*, cita que o homem e a mulher têm direitos e obrigações iguais. Na teoria tudo é decorrente da isonomia, na prática, há muitadesigualdade. Hoje, existem leis efetivas (legislações discriminatórias positivas) que trazem a nítida diferença entre o papel da mulher e do homem e dos cidadãos entre si, como a Lei Maria da Penha, a Lei de Cotas para universidades e concursos públicos, Estatuto da Criança, Estatuto do Idoso, etc. Portanto, negros, brancos, índios, amarelo entre outras raças e etnias, recebem certos “privilégios” pelo contexto histórico de exclusão, escravatura, conflitos étnicos, entre outros.
• Propriedade: O Brasil é um país democrático, é um país que garante o liberalismo social e o direito à propriedade. Essas propriedades nas características da legislação brasileira, podem ser rurais ou urbanas, ambas com a necessidade de cumprir a chamada FUNÇÃO SOCIAL, ou seja, a fim de garantir a titularidade de qualquer um desses bens, é preciso aderir a essa função. A função social da propriedade rural é a produtiva. Como por exemplo, territórios rurais que estão desocupados, sem o uso da terra para fins produtivos podem ser tomados pelo MST (movimento dos sem-terra) através da usucapião. A função social da propriedade urbana é efetivamente do direito à moradia, comércio e indústria. A lei do município titulariza o perímetro urbano do imóvel, que, precisa ser construído/edificado para ser caracterizado como propriedade urbana. Nem sempre essa edificação precisa ser extensiva, isso depende da lei municipal do local. (Art 5° – XXIV a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, mediante justa e prévia indenização em dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta Constituição;)
ARTIGO 5º DA CF
Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
• I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição;
• II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei; 
• IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;
• VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias;
• VII - é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência religiosa nas entidades civis e militares de internação coletiva;
• VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei;
• IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença;
• X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;
• XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial;
• XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual penal;
• XIV - é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional; 
• XV - é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens;
• XVI - todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente;
• XVII - é plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de caráter paramilitar;
• XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito;
• XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada;

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