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1 SOCIOLOGIA APLICADA SOCIOLOGIA APLICADA Graduação SOCIOLOGIA APLICADA 63 U N ID A D E 6 CONCEITOS E EXPRESSÕES FREQÜENTES UTILIZADAS NA SOCIOLOGIA Muito bem, pessoal! Aqui vocês encontrarão alguns dos conceitos e expressões muito utilizados no campo da Sociologia. OBJETIVOS DA UNIDADE: Conceituar e diferenciar os principais conceitos da ciência sociológica observando sua dinâmica a fim de instrumentalizar-se para a compreensão da mesma. PLANO DA UNIDADE: • ACOMODAÇÃO • E adaptação? • ALIENAÇÃO: Você já ouviu falar em alienação? • ANTAGONISMO SOCIAL • ASSIMILAÇÃO • CIDADANIA • COMPETIÇÃO • CONFLITO • CONSCIÊNCIA DE CLASSE • COOPERAÇÃO • DIREITOS FUNDAMENTAIS • INTERAÇÃO SOCIAL • JUSTIÇA SOCIAL • MOBILIDADE SOCIAL • MOVIMENTOS SOCIAIS Bons estudos! UNIDADE 6 - CONCEITOS E EXPRESSÕES FREQÜENTES UTILIZADAS NA SOCIOLOGIA 64 A nossa preocupação foi articular esses conceitos com letras de música, textos de historiadores, poetas, jornalistas, pois é a partir da contextualização que os significados se tornam mais claros. ACOMODAÇÃO A acomodação é um processo pelo qual os indivíduos se ajustam formal e exteriormente a uma sociedade, muitas vezes de forma imposta e obrigatória. Desenvolve-se a acomodação quando as pessoas ou grupos julgam necessário agir em conjunto, apesar das diferenças e divergências. É uma situação que pode ter vida curta ou perdurar séculos. É um processo que pode acompanhar, reduzir ou evitar um conflito, o que não significa que a solução gere satisfação para ambos os contendores. Repare como Gilberto Freire (1984, p.163) aborda esse assunto: “Não foi só de alegria a vida dos negros escravos dos ioiôs e das iaiás brancas. Houve os que se suicidaram comendo terra, enforcando- se, envenenando-se com ervas e potagens dos mandingueiros. O banzo deu cabo de muitos. O banzo - a saudade da África. Houve os que de tão banzeiros ficaram lesos, idiotas. Não morreram, mas ficaram penando.” E ADAPTAÇÃO? A adaptação é um processo pelo qual o indivíduo se ajusta à sociedade, podendo-se afirmar que esse ajuste ocorre em três níveis: o afetivo, o biológico e o cognitivo. Há de salientar-se que o primeiro está relacionado aos valores prezados pela sociedade, os afetivos em relação aos pais, aos namorados, a pátria, etc. - que geram inclusive datas comemorativas. O segundo refere-se aos hábitos de um povo e o terceiro, aos padrões desenvolvidos por ela, como, por exemplo, os padrões morais. Em relação ao patriotismo, percebe-se que os próprios poetas trataram de cultivá-lo e difundi-lo, muitas vezes até de formas diversas. Veja como esse sentimento se revela nos versos extraídos do poema “Pátria Minha”, de Vinícius de Moraes (1998, p.179) (...) Se me perguntarem o que é a minha pátria direi: Não sei. De fato, não sei Como, por que e quando a minha pátria Mas sei que a minha pátria é a luz, o sal e a água Que elaboram e liquefazem a minha mágoa Em longas lágrimas amargas. Vontade de beijar os olhos de minha pátria De niná-la, de passar-lhe a mão pelos cabelos... Vontade de mudar as cores do vestido (auriverde!) tão feias SOCIOLOGIA APLICADA 65 De minha pátria, de minha pátria sem sapatos E sem meias pátria minha Tão pobrinha! (...) O segundo e o terceiro níveis podem ser ilustrados pelo seguinte poema (Oswald de Andrade, 1971, p.84) que trata da chegada dos portugueses ao Brasil. Veja a estranheza que os hábitos e os padrões de comportamento dos índios causam aos portugueses: (...) os selvagens Mostraram-lhes uma galinha Quase haviam medo dela E não queriam por a mão E depois a tomaram como espantados primeiro chá Depois de dançarem Diogo Dias Fez o salto real as meninas da gare Eram três ou quatro moças bem moças e bem gentis Com cabelos mui pretos pelas espáduas E suas vergonhas tão altas e tão saradinhas Que de nós as muito bem olharmos Não tínhamos nenhuma vergonha. ALIENAÇÃO: VOCÊ JÁ OUVIU FALAR EM ALIENAÇÃO? Naturalmente, sim. Alienação é um afastamento ou separação de partes ou do todo da personalidade em relação à realidade exterior na qual se insere. Esse fato pode ser exemplificado a partir dos versos de Bertolt Brecht (1982, p.183) em “O analfabeto político”: O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa Dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, Da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas. UNIDADE 6 - CONCEITOS E EXPRESSÕES FREQÜENTES UTILIZADAS NA SOCIOLOGIA 66 O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais.” ANTAGONISMO SOCIAL Antagonismo social é a incompatibilidade de convívio harmonioso entre as classes sociais, sendo cada uma destas, tal como Karl Marx afirmava, o conjunto dos agentes sociais colocados nas mesmas condições no processo de produção com afinidades ideológicas e políticas. Dessa forma, uma tenta manter seus privilégios, e a outra, superar a dominação tanto política quanto econômica que sofre por parte da primeira. Não é isso que Cazuza retrata em seus versos “Brasil”? Não me ofereceram Nem um cigarro Fiquei na porta estacionando os carros Não me elegeram Chefe de nada O meu cartão de crédito é uma navalha Brasil Mostra tua cara Quero ver quem paga Pra gente ficar assim Brasil Qual é o teu negócio? O nome do teu sócio? Confia em mim ASSIMILAÇÃO A assimilação é um processo pelo qual um conjunto de traços culturais é abandonado e um novo conjunto é adquirido. Este entendido como padrões de comportamento, sentimentos e tradições. Pode ocorrer não só entre povos distintos, mas também entre classes sociais. Como exemplo, pode ser citado o caso de determinadas construções lingüísticas próprias das camadas socialmente desprestigiadas que acabam influenciando o linguajar das mais abastadas. Repare como Oswald de Andrade (1971, p.112) trata dessa questão: SOCIOLOGIA APLICADA 67 Pronominais Dê-me um cigarro Diz a gramática Do professor e do aluno E do mulato sabido Mas o bom negro e o bom branco Da Nação Brasileira Dizem todos os dias Deixa disso camarada Me dá um cigarro. E também em Erro de Português, do mesmo autor, com um tom, porém, bastante irônico: Quando o português chegou Debaixo de uma bruta chuva Vestiu o índio Que pena! Fosse uma manhã de sol O índio tinha despido O português. (Ibid., p.123) CIDADANIA Da forma como abordada por Thomas Marshall, o conceito de cidadania pode ser compreendido a partir da articulação de três tipos distintos de direito: 1) direitos civis, que incluem os direitos fundamentais à vida, à liberdade, à propriedade e à igualdade perante a lei. 2) direitos políticos, se referem à participação do cidadão na vida política da sociedade. Consistem na capacidade do cidadão participar da organização dos partidos políticos de votar e de ser votado. 3) direitos sociais, se referem aos direitos que garantem sua participação na riqueza coletiva. São direitos sociais: a educação, a saúde, o trabalho, o salário, a segurança pública, a habitação, o lazer, etc. Portanto, na ótica de Marshall, seria considerado cidadão pleno aquele que usufruísse dos três tipos de direito. Cidadãos incompletos seriam os que parcialmente usufruíssem alguns dos direitos. Os que não se beneficiassem de nenhum direitonão seriam considerados cidadãos. UNIDADE 6 - CONCEITOS E EXPRESSÕES FREQÜENTES UTILIZADAS NA SOCIOLOGIA 68 É o que se verifica nas estrofes de Ferreira Gullar (1980, p.137) em seu poema O Açúcar: O branco açúcar que adoçará meu café Nesta manhã de Ipanema Não foi produzido por mim Nem surgiu no açucareiro por milagre. (...) Este açúcar veio da mercearia da esquina e tampouco o fez o Oliveira, dono da mercearia. Este açúcar veio de uma usina de açúcar em Pernambuco ou no Estado do Rio e tampouco o fez o dono da usina. (...) Em lugares distantes, onde não há hospital nem escola, homens que não sabem ler e morrem de fome aos 27 anos plantaram e colheram a cana que viraria açúcar. Em usinas escuras, homens de vida amarga e dura produziram este açúcar branco e puro com que adoço meu café esta manhã em Ipanema.” COMPETIÇÃO Você já reparou como os indivíduos competem entre si na sociedade em maior ou menor intensidade, porque seus desejos e necessidades são diferentes? A competição se faz presente quanto maior for a escassez dos recursos ou mesmo quando existem poucos lugares para muitos. A competição é a luta que ocorre quando as pessoas tentam maximizar suas vantagens a expensas dos demais. A competição pode ser pessoal, como quando dois rivais lutam para vencerem uma eleição; ou pode ser impessoal, como nos concursos públicos, SOCIOLOGIA APLICADA 69 em que os concorrentes nem ao menos têm a consciência da identidade dos outros. Todas essas tentativas de melhorar de vida ou de atingir uma posição mais significativa na sociedade tem por base uma competição. No inciso II, do art. 37, da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, encontra-se a seguinte determinação: (...) a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia em concurso público de provas ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em lei, ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração. Nasce desse dispositivo, então, uma intensa luta entre candidatos por uma vaga no serviço público. Ao se empenharem nos estudos, tentam através destes alcançar seu objetivo, excluindo assim o uso da força e da violência. CONFLITO Conflito é um processo que pode ser definido como um processo em que os envolvidos procuram obter recompensas pela eliminação ou enfraquecimento dos competidores. É um processo que revela uma grande tensão entre os indivíduos, já que o objetivo a ser alcançado visa à lesão, neutralização e eliminação dos rivais. Isso torna-se freqüente quando os privilégios de uma classe social chegam a tal ponto que a menos favorecida já consegue obter o mínimo necessário para a sobrevivência. A todo momento a imprensa noticia os conflitos entre os fazendeiros e os integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra: MST e ruralistas entram em conflito em Cascavel O conflito no campo teve mais um capítulo de tensão ontem: integrantes do Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST) afirmam terem sido agredidos após pararem em um bloqueio promovido por ruralistas em Cascavel, no Oeste do Paraná. Os supostos agressores negam e acusam os sem-terra de terem agido com violência. O resultado da confusão: vários feridos. Os sem-terra se dirigiam para a fazenda experimental da Sygenta Seeds, desapropriada pelo governo estadual, em Santa Tereza do Oeste, quando foram parados quilômetros antes do destino por um bloqueio da Sociedade Rural Oeste (SRO) na BR-277. Segundo a assessoria do MST, os integrantes tiveram que descer dos veículos e atravessar a pé os tratores e caminhões parados na pista, momento em que alguns teriam sido atingidos por pauladas. A viagem somente pôde prosseguir no fim da tarde, quando a pista começou a ser liberada. Já o presidente da SRO, Alessandro Meneghel, afirma que os cerca de 150 produtores rurais não agrediram ninguém e que, UNIDADE 6 - CONCEITOS E EXPRESSÕES FREQÜENTES UTILIZADAS NA SOCIOLOGIA 70 ao contrário, teriam sido alvejados por pedras. “Uma delas acertou um homem de 70 anos”, contou. “Chegaram a mostrar arma para nós”. O MST promovia uma marcha de encerramento da 1ª Jornada de Educação na Reforma Agrária, que teve início no último domingo (26), no Centro de Convenções e Eventos de Cascavel. A manifestação dos ruralistas aconteceu em frente ao Parque de Exposições Celso Garcia Cid. Disponível em: <http:/ /www.terradedireitos.org.br>. Acesso em: 27/12/2006 Outro caso remete a uma situação particular que desde tempos remotos vem preenchendo as páginas da literatura universal – o tão malfadado triângulo amoroso. Confira em “Domingo no Parque”, de Gilberto Gil: (...) A semana passada, no fim da semana João resolveu não brigar No domingo de tarde saiu apressado E não foi pra Ribeira jogar capoeira Não foi pra lá, pra Ribeira, foi namorar (...) Foi no parque que ele avistou Juliana Foi que ele viu Foi que ele viu Juliana na roda com João Uma rosa e um sorvete na mão Juliana seu sonho, uma ilusão Juliana e o amigo João (...) Olha a faca! (olha a faca!) Olha o sangue na mão (ê, José) Juliana no chão (ê, José) Outro corpo caído (ê, José) Seu amigo João (ê, José) Amanhã não tem feira (ê, José) Não tem mais construção (ê, João) Não tem mais brincadeira (ê, José) Não tem mais confusão (ê João) CONSCIÊNCIA DE CLASSE Já ouviu falar de consciência de classe? Pois bem. De acordo com Karl Marx, é um processo pelo qual os membros de uma classe – o proletariado SOCIOLOGIA APLICADA 71 - se tornam consciente de si mesmos como classe. Tornam-se conhecedores de sua condição de vendedores de sua força de trabalho aos detentores dos meios de produção e, conseqüentemente, lutam pelo rompimento dos privilégios e da dominação política e econômica que estes últimos exercem sobre eles. Assim, não há como separar conhecimento da realidade e o resultado deste, que vem no bojo da luta entre dominantes e dominados. Para ilustrar o exposto, cabe a leitura de um fragmento de “Operário em Construção”, de Vinícius de Moraes (1998, p.335): “Era ele que erguia casas Onde antes só havia chão. Como um pássaro sem asas Ele subia com as casas Que lhe brotavam da mão. Mas tudo desconhecia De sua grande missão: Não sabia, por exemplo Que a casa de um homem É um templo Um templo sem religião Como tampouco sabia Que a casa que ele fazia Sendo a sua liberdade Era a sua escravidão. (...) Mas ele desconhecia Esse fato extraordinário: Que o operário faz a coisa E a coisa faz o operário. De forma que, certo dia À mesa, ao cortar o pão O operário foi tomado De uma súbita emoção Ao constatar assombrado Que tudo naquela mesa UNIDADE 6 - CONCEITOS E EXPRESSÕES FREQÜENTES UTILIZADAS NA SOCIOLOGIA 72 — Garrafa, prato, facão — Era ele quem os fazia Ele, um humilde operário, Um operário em construção. (...) E um fato novo se viu Que a todos admirava: O que o operário dizia Outro operário escutava. E foi assim que o operário Do edifício em construção Que sempre dizia sim Começou a dizer não. E aprendeu a notar coisas A que não dava atenção: (...) Que seus dois pés andarilhos Eram as rodas do patrão Que a dureza do seu dia Era a noite do patrão Que sua imensa fadiga Era amiga do patrão. E o operário disse: Não! E o operário fez-se forte Na sua resolução. COOPERAÇÃO É um processo pelo qual se visa à realização de um objetivo comum. É o esforço coordenado para atingir objetivos comuns. Pode ser temporária quando os indivíduos ou grupos se reúnem num determinadoperíodo de tempo para executar a ação ou contínua quando os indivíduos ou grupos se reúnem freqüentemente, pois necessitam sempre da colaboração entre eles. Pode ser direta quando os indivíduos fazem atividades semelhantes ou indireta quando fazem atividades diferentes e necessitam uns dos outros. Quando os detentores dos cargos eletivos se reuniram em Assembléia Constituinte em 1988 para a elaboração da nossa atual Carta Magna, o fizeram temporária e diretamente. Naquele momento, a sociedade ansiava por uma Constituição que extirpasse todo o autoritarismo dos governos SOCIOLOGIA APLICADA 73 militares, trazendo como um de seus pontos altos a ampliação e defesa dos direitos de cidadania. Outro exemplo relaciona-se a uma fábrica que se volta para uma atividade complexa, que exige fases diversas, desenvolvendo-se numa forma contínua e indireta, pois a etapa seguinte depende da anterior e, evidentemente, cada momento tem um trabalhador especializado. DIREITOS FUNDAMENTAIS Naturalmente você já deve ter ouvido falar em Direitos Fundamentais. São aqueles direitos considerados indispensáveis à pessoa humana, necessários para assegurar a todos uma existência digna, livre e igual. Direitos Individuais são limitações impostas pela soberania popular aos poderes constituídos, para resguardar direitos indispensáveis à pessoa humana. Após os governos militares, fez-se questão de que a Constituição Federal, também denominada “Constituição Cidadã”, deixasse explícitos esses direitos, conforme se verifica no artigo 5º: Art. 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...) INTERAÇÃO SOCIAL É o processo que ocorre quando pessoas agem sob a influência recíproca de um contexto social. Pode ocorrer por meio de comunicação. Saiba que a esse conceito relacionam-se cooperação, competição e conflito. Observe a seguinte estrofe de Bertolt Brecht (1982): Eu vim para a cidade no tempo da desordem, quando a fome reinava. Eu vim para o convívio dos homens no tempo da revolta e me revoltei ao lado deles. Assim se passou o tempo que me foi dado viver sobre a terra.” JUSTIÇA SOCIAL Numa concepção ampla, justiça é um conceito que remete a idéia de eqüidade, ou seja, o processo em que as pessoas almejam obter aquilo que merecem. Do ponto de vista jurídico, por exemplo, justiça assume o sentido de tratamento imparcial de todos perante a lei, com vistas a garantir os direitos prescritos nas normas legais instituídas em uma determinada sociedade. Você já deve ter observado que o termo tem sido empregado para designar uma realidade determinada, uma justiça específica. UNIDADE 6 - CONCEITOS E EXPRESSÕES FREQÜENTES UTILIZADAS NA SOCIOLOGIA 74 Há uma divisão clássica que distingue três espécies da justiça nas relações entre os homens: a) as relações entre grupos ou pessoas particulares; b) as relações entre a sociedade e seus membros; c) as relações entre os membros das sociedades como tais ligadas à justiça regida pelo direito, isto é, justiça legal. Tem sido freqüente, no entanto, o emprego dessa expressão para a distribuição igualitária das riquezas, a justa remuneração, que incluiria as condições mínimas de sobrevivência, a distribuição da propriedade privada e dos seguros sociais. E não havendo isso, haverá naturalmente injustiça social, fato elucidado por Émile Zola (1978, p.209), ao tratar do dia-a-dia dos trabalhadores de uma mina de carvão no século XIX, em O Germinal: Na rua estava escuro, era noite fechada, e a lua, entre as nuvens, iluminava a terra de uma maneira sinistra. Em vez de atalhar pelos jardins, a mulher [ esposa de Maheu, que saiu de casa para implorar comida para a família de 10 pessoas] fez a volta, desesperada, não ousando entrar em casa. Mas, ao longo das fachadas mortas, todas as portas ressudavam fome e inércia. De que adiantava bater? A miséria estava por toda parte. Havia semanas que não se comia mais, o próprio cheiro de cebola tinha desaparecido, esse cheiro forte que de longe, do campo, anunciava a aldeia; agora só havia um odor de porões bolorentos, de buracos úmidos onde ninguém vive. Os ruídos vagos iam esmorecendo aos poucos: eram lágrimas abafadas, pragas soltas ao léu. E o silêncio era cada vez mais pesado, sentia-se avançar o sono da fome, o esquecimento dos corpos jogados nas camas sob os pesadelos dos estômagos vazios (...) MOBILIDADE SOCIAL É o movimento ascendente ou descendente próprio das sociedades estratificadas. Segundo Cherkaoui (1995, p.183) pode-se considerar a mobilidade como resultado de uma seleção de indivíduos através de uma série de mecanismos próprios de certos agentes como a família, a escola, a Igreja, as burocracias. Essas instâncias controlam, orientam, determinam diretamente a posição dos indivíduos dentro da sua estratificação própria. O lugar e a importância desses agentes de seleção variam de sociedade para sociedade. Para determinada mobilidade social, a família constitui instância de orientação mais importante; para outra, é a Igreja ou o exército; para uma terceira, é a escola e a competência adquirida no seio de certas organizações. MOVIMENTOS SOCIAIS Segundo Alain Touraine (1995), os movimentos sociais se identificam simultaneamente por um modo de ação, por um tipo de participantes e, sobretudo, por um desafio. Segundo ele, os movimentos sociais consistem de fato numa: 1- “ação conflitual”, 2- conduzida por um “ator de classe”, 3- SOCIOLOGIA APLICADA 75 que se opõe a seu adversário de classe com vistas a fazer prevalecer uma nova ordem de vida e de sociedade. Exemplo de movimento social é o Movimento dos Sem-Terra no Brasil. Este movimento consiste em um movimento político-social brasileiro cujos integrantes vêm ocupando as terras improdutivas como forma de pressão pela reforma agrária, reivindicando também empréstimos e ajuda para que possam realmente produzir nessas terras. Apesar dos constantes conflitos e massacres, hoje existem escolas em sua área de assentamento e acampamento e um trabalho de alfabetização de jovens e adultos sem-terra. Tem-se notícia também da formação de técnicos e de educadores em cursos de nível médio e superior, assim como diversas outras iniciativas de formação de sua militância e do conjunto da família Sem-Terra. É interessante notar que a Constituição da República Federativa, em seu inciso XXIII, do art. V, determina que a propriedade atenderá a sua função social, ainda que o inciso anterior garanta o direito de propriedade. Caso contrário, em se tratando de propriedade rural, haverá desapropriação para fins de reforma agrária. Assim, esperamos que você daqui para frente comece também a associar esses conceitos com a sua realidade e o mundo que o envolve. Boa sorte! É HORA DE SE AVALIAR! Não esqueça de realizar as atividades desta unidade de estudo, presentes no caderno de exercício! Elas irão ajudá- lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no processo de ensino-aprendizagem. Caso prefira, redija as respostas no caderno e depois as envie através do nosso ambiente virtual de aprendizagem (AVA) .Interaja conosco! LEITURA COMPLEMENTAR: ANDRADE, C. D. de. Obra Completa. 4ª edição. Rio de Janeiro: Nova Aguillar, 2000. 163p. ANDRADE, O. A Descoberta. 2ª edição. Rio de Janeiro: Civilização brasileira. 1971. 253p. BOURDON, R. & Bourricaud F. Dicionário Crítico de Sociologia. 2ª edição. São Paulo: Ática, 2002. 653p. BRECHT, B. Poemas. 2ª edição. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1982. 224p. CHAUÍ, M. Conviteà filosofia. 13ª edição. São Paulo: Ática, 1995. 424p. FERREIRA G. Toda poesia. 3ª edição. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1980. 300p. FREIRE, G. Casa grande & senzala. 7ª edição. Rio de Janeiro: José Olympio, 1984. 294p. UNIDADE 6 - CONCEITOS E EXPRESSÕES FREQÜENTES UTILIZADAS NA SOCIOLOGIA 76 MARSHALL, T. H. Cidadania, classe social e status. 1ª edição. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1967.232p. MORAES, V. de. Poesia completa e prosa. 4ª edição. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1988. 1597p. ZOLA, É. Germinal. 2ª edição. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978.280p. Terminamos nesta unidade os nossos estudos sobre a Sociologia Aplicada. Daqui para frente, nos dedicaremos ao estudo da Sociologia Aplicada ao Direito (como texto complementar).
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