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Direito Civil 2 Obrigações

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Direito Civil 2 - Obrigação 
 OBRIGAÇÃO 
 Na primeira aula conceituamos o Direito das Obrigações e o situamos dentro do 
Direito Civil, bem como situamos o Direito Civil dentro do ordenamento jurídico. 
Vamos hoje tratar da obrigação. 
 Conceito: 
Todos temos obrigações na nossa vida, seja para com o país (ex: serviço militar, votar 
nas eleições, pagar impostos) seja para com a família (1.566). Mas a obrigação que nos 
interessa neste curso é a obrigação civil. Num conceito mais simples, a obrigação é o 
direito do credor contra o devedor. Num conceito mais completo, a obrigação é 
um vínculo jurídico transitório em virtude do qual uma pessoa fica sujeita a satisfazer 
uma prestação econômica em proveito de outra. Expliquemos: 
 - vínculo jurídico: o vínculo é o motor da obrigação e precisa interessar ao 
Direito; um vínculo apenas moral (ex: ser educado, ser gentil, dar “bom dia”) ou 
religioso (ex: ir a missa todo Domingo) não tem relevância jurídica; 
 - transitório: a obrigação é efêmera, tem vida curta (ex: uma compra e venda de 
balcão dura segundos), podendo até ser duradoura (ex: alugar uma casa por um ano), 
mas não dura para sempre. Inclusive um direito de crédito se extingue quando é 
exercido (ex: José bate no carro de Maria, quando Maria cobra o prejuízo e José paga, a 
obrigação se extingue). Já os Direitos Reais são permanentes, e quanto mais exercidos 
mais se fortalecem (ex: a propriedade sobre uma fazenda passa por gerações de pai para 
filho, e quanto mais a fazenda for usada mais cumprirá sua função social, ficando livre 
de invasões e desapropriação). Há outras diferenças dos Direitos Reais para os Direitos 
Obrigacionais que serão abordadas em Civil 4. 
 - prestação: é o objeto da obrigação e se trata de uma conduta ou omissão 
humana, ou seja, sempre é dar uma coisa, fazer um serviço ou se abster de alguma 
conduta. Dar, fazer e não-fazer, estas três são as espécies de obrigação, voltaremos a 
elas abaixo. 
- econômica: toda obrigação precisa ter um valor econômico para viabilizar a 
responsabilidade patrimonial do inadimplente se não for espontaneamente cumprida. 
Em outras palavras, se uma dívida não for paga no vencimento o credor mune-se de 
uma pretensão e a dívida se transforma em responsabilidadepatrimonial. Que pretensão 
é esta de que se arma, de que se mune o credor? É a pretensão a executar o devedor para 
atacar/tomar seus bens através do Juiz (391, 942). E se o devedor/inadimplente não tiver 
bens? Então não há nada a fazer pois, como dito, a responsabilidade é patrimonial e não 
pessoal. Ao credor só resta espernear, é o chamado na brincadeira “jus sperniandi”. 
Realmente já se foi o tempo em que o devedor poderia ser preso, escravizado, 
esquartejado e morto por dívidas, pois isto hoje atenta contra a dignidade humana. Os 
únicos casos atuais de prisão por dívida são no contrato de depósito, que veremos em 
Civil 3 (652), e na pensão alimentícia, assunto de Direito de Família. 
 Elementos da obrigação: são três: 
 a) duplo sujeito: o Direito das Obrigações trata das relações entre pessoas, então 
toda obrigação tem dois sujeitos, um ativo, chamado credor, e um passivo, chamado 
devedor. Não existe relação obrigacional com apenas um sujeito (381). Pode haver num 
dos pólos mais de um credor e mais de um devedor (257). Numa relação simples, sabe-
se exatamente qual das partes é a credora e qual é a devedora (ex: José bate no carro de 
Maria, então José é devedor e Maria é credora), mas numa relação complexa ambos os 
sujeitos são simultaneamente credores e devedores (ex: contrato de compra e venda, 
onde o comprador deve o dinheiro e é credor da coisa, e o vendedor deve a coisa e é 
credor do dinheiro). Tais obrigações complexas são também chamadas 
de sinalagmáticas. Os sujeitos precisam ser bem identificados para que o devedor saiba 
a quem prestar, e o credor saiba de quem receber. Excepcionalmente o devedor pode ser 
desconhecido (ex: qualquer pessoa que adquira imóvel hipotecado responde pela dívida, 
apesar de não ter originariamente assumido a obrigação; 303, mais detalhes em Civil 5) 
e o credor também pode ser desconhecido (ex: o credor faleceu ou desapareceu, deve 
então o devedor pagar na Justiça para se livrar da obrigação, 334; outro ex: 855). 
b) vínculo jurídico: o vínculo liga os sujeitos ao objeto da obrigação. O vínculo é a força 
motriz da relação obrigacional. O vínculo seria qualquer acontecimento relevante para o 
direito capaz de fazer nascer uma obrigação (ex: um acidente de trânsito gera um ato 
ilícito, um acordo de vontades produz um contrato, etc). 
c) objeto: atenção com o objeto! O objeto da obrigação não é uma coisa, mas um fato 
humano/uma conduta ou omissão do devedor chamada prestação. A prestação possui 
três espécies: dar, fazer, ou não-fazer. Na obrigação de dar o objeto da prestação é uma 
coisa (ex: dar dinheiro, dar uma TV), mas o objeto da obrigação é a ação de entregar a 
coisa, não a coisa em si. Na obrigação de fazer o objeto da prestação é um serviço (ex: o 
cantor realiza um show, o advogado redige uma petição, o professor ministra uma aula). 
Finalmente, na obrigação de não-fazer, o objeto da prestação é uma omissão/abstenção 
(ex: o químico da fábrica de perfume é demitido e se obriga a não revelar a fórmula do 
perfume). 
Como o objeto da obrigação é a prestação, mesmo na obrigação de dar o credor não tem 
poder sobre a coisa, mas sim sobre a prestação (ex: compro uma geladeira e a loja 
promete me entregar em casa, mas a loja não cumpre, não posso por isso invadir a loja e 
pegar a geladeira à força, devo sim exigir perdas e danos, 389 – trata-se da 
responsabilidade patrimonial do devedor, como dito acima). 
As obrigações de dar e de fazer são positivas, e a de não-fazer é a chamada obrigação 
negativa. 
O objeto da obrigação para ser válido precisa ser lícito (ex: comprar drogas, contratar o 
serviço de um “pistoleiro”, etc), possível (ex: viagem no tempo, procurar um anel no 
mar, encontrar um dinossauro vivo), determinável (a coisa devida precisa ser 
identificada, 243) e ter valor econômico para viabilizar o ataque ao patrimônio do 
devedor em caso de inadimplemento (947). Acrescentem “valor econômico” ao art. 
104, II, do CC. 
 
Fonte das Obrigações 
 O Direito se origina dos fatos = ex facto iur oritur. As fontes do Direito são a lei, 
a jurisprudência, a doutrina e os costumes, conforme estudado em Introdução ao 
Direito. No caso das obrigações, quais suas fontes? De onde se originam as obrigações? 
Ressalto que há muitas obrigações que interessam a outras áreas jurídicas e que têm por 
fonte a lei, ex: obrigação de alimentar os parentes necessitados, assunto de Direito de 
Família (1.696); obrigação de votar, assunto de Direito Eleitoral; obrigação de pagar 
impostos, assunto de Direito Tributário; obrigação dos homens de prestar serviço 
militar, etc. 
Mas e as obrigações patrimoniais privadas? Como surgem as relações concretas entre 
particulares tendo por objeto determinada prestação? São três as fontes segundo o 
Código Civil, vejamos: 
 1 – Contratos: esta é a principal e maior fonte de obrigação. Através dos 
contratos as partes assumem obrigações (ex: compra e venda, onde o comprador se 
obriga a pagar o preço e o vendedor se obriga a entregar a coisa). No próximo semestre 
serão estudados com detalhes os inúmeros contratos (ex: locação, doação, empréstimo, 
seguro, transporte, mandato, fiança, etc). 
 2 – Atos unilaterais: segundo nosso Código, são os quatro capítulos entre os 
arts. 854 e 886, com destaque para a promessa de recompensa (ex: perdi meu cachorro e 
pago cem a quem encontrá-lo, obrigando-me perante qualquer pessoa que cumpra a 
tarefa). Não temos aqui um contrato, mas um ato unilateral gerador de obrigação, como 
será visto no próximo semestre. 
 3 – Atos ilícitos: já estudados no semestre passado, revisemo art. 186 (ex: João 
bate no carro de Maria e se obriga a reparar os prejuízos). O estudo dos atos ilícitos 
deve ser aprofundado na importante disciplina Responsabilidade Civil (927). 
 
 ESPÉCIES DE OBRIGAÇÃO 
 
 São três, duas positivas (dar e fazer) e uma negativa (obrigação de não-fazer). 
 1 – obrigação de dar: conduta humana que tem por objeto uma coisa, 
subdividindo-se em três: obrigação de dar coisa certa, obrigação de restituir e obrigação 
de dar coisa incerta. 
 1.1 – obrigação de dar coisa certa: vínculo jurídico pelo qual o devedor se 
compromete a entregar ao credor determinado bem móvel ou imóvel, perfeitamente 
individualizado. 
Tal obrigação é regulada pelo Código Civil a partir do art. 233, salvo acordo entre as 
partes, ou seja, se as partes não ajustarem de modo diferente, vão prevalecer as 
disposições legais. Na autonomia privada, como dito na aula 1, a liberdade das partes é 
grande, e o Código Civil serve mais para completar a vontade das partes caso haja 
omissão no ajuste entre elas. Diz-se por isso que a maioria das normas de direito 
privado são supletivas, enquanto a maioria das normas de direito público 
são imperativas = obrigatórias. 
 O que vai caracterizar a obrigação de dar coisa certa é porque o objeto da 
prestação é coisa única e preciosa, ex: a raquete de Guga, o capacete de Ayrton Senna, a 
camisa dez de Pelé, etc. (235). O devedor obrigado a dar coisa certa não pode dar coisa 
diferente, ainda que mais valiosa, salvo acordo com o credor (313 – mais uma norma 
supletiva). 
 Se o devedor recebe o preço e se recusa a entregar a coisa, o credor não pode 
tomá-la, resolvendo-se o litígio em perdas e danos (389). A obrigação não geral direito 
real ( = sobre a coisa), mas apenas direito pessoal ( = sobre a conduta). 
Excepcionalmente, admite-se efeito real caso a coisa continue na posse do devedor (ex: 
A combina vender a B o capacete de Ayrton Senna, B paga mas depois A recebe uma 
oferta melhor e termina vendendo o capacete a C; B não pode tomar o capacete de C, 
mas caso estivesse ainda com A poderia fazê-lo através do Juiz; esta é a interpretação 
do art. 475 do CC que vocês estudarão em Civil 3). Então o 389 é a regra e o 475 
(execução forçada do contrato) é a exceção. 
 E se a obrigação não gera direito real, o que vai gerar? Resposta: a tradição para 
as coisas móveis e o registro para as coisas imóveis. Tradição e registro são assuntos de 
Direitos Reais mas que já devo adiantar. Tradição é a entrega efetiva da coisa móvel 
(1226 e 1267), então quando compro uma geladeira, pago a vista e aguardo em casa sua 
chegada, só serei dono da coisa quando recebê-la. Ao contrário, se compro um celular a 
prazo e saio com ele da loja, o aparelho já será meu embora não tenha pago o preço 
(237). Eventual perda/roubo da geladeira/celular trará prejuízo para o dono, seja ele a 
loja ou o consumidor, a depender do momento da tradição. É a confirmação do brocardo 
romano res perit domino (= a coisa perece para o dono), seja o comprador ou o 
vendedor, até a tradição (492). Se o devedor danificar a coisa antes da tradição, terá que 
indenizar o comprador por perdas e danos (239). 
Por sua vez, o registro é a inscrição da propriedade imobiliária no Cartório de Imóveis, 
de modo que o dono do apartamento não é quem mora nele, não é quem pagou o preço 
ou quem tem as chaves. O dono da coisa imóvel é aquele cujo nome está registrado no 
Cartório de Imóveis (1245 e § 1º). Mais detalhes sobre tradição e registro em Civil 4. 
1.2 – obrigação de restituir: é também chamada de obrigação de devolver. Difere da 
obrigação de dar, pois nesta a coisa pertence ao devedor até a tradição, enquanto na 
obrigação de restituir a coisa pertence ao credor, apenas sua posse é que foi transferida 
ao devedor. Posse e propriedade são conceitos que serão estudados em Direitos Reais, 
mas dá para entender que quando se aluga um filme, a locadora continua sendo 
proprietária do filme, é apenas a posse que se transfere ao cliente. Então na locação o 
cliente/devedor tem a obrigação de restituir o bem ao locador após o prazo acertado 
(569, IV). Como se vê, na obrigação de restituir a prestação consiste em devolver uma 
coisa cuja propriedade já era do credor antes do surgimento da obrigação. Igualmente se 
eu empresto um carro a meu vizinho, eu continuo dono/proprietário do carro, apenas a 
posse é que é transferida, ficando o vizinho com a obrigação de devolver o veículo após 
o uso. Locação e empréstimo são exemplos de obrigação de restituir, ficando a coisa em 
poder do devedor, mas mantendo o credor direito real de propriedade sobre ela. Como a 
coisa é do credor, seu extravio antes da devolução trará prejuízo ao próprio credor 
(240), enquanto na obrigação de dar o extravio antes da tradição traz prejuízo ao 
devedor. Em ambos os casos, sempre prevalece a máximares perit domino. Mas é 
preciso cuidado para evitar fraudes (238, ex: alugo um carro que depois é furtado, o 
prejuízo será da loja, por isso é prudente a locadora sempre fazer seguro). Outro 
exemplo de obrigação de restituir está no art. 1.233, então se “achado não é roubado”, 
também não pode ser apropriado, devendo quem encontrar agir conforme o p.ú. do 
mesmo artigo. 
Próxima aula: 1.3 - obrigação de dar coisa incerta. UMA DICA REGRA MILENAR 
DO DIREITO, COISA CERTA PERECE(DESPARECE) COISA INCERTA NÃO 
PERECE (NÃO DE DESAPARECE), PORQUE COISA INCERTA E SEMPRE O 
GENERO, COISA CERTA TEM CARACTERISTICAS 
EX. JOÃO PROMETE DAR UM CARRO A MARIA NO FINAL DO ANO ( CARRO 
COISA INCERTA). 
JOÃO PROMETE DAR UM CARRO MARCA GOL, A GASOLINA, 4 PORTAS NO 
FINAL DO ANO (COISA CERTA O CARRO MARCA GOL, A GASOLINA, 4 
PORTAS) 
OUTRO EXEMPLO: JOÃO DEIXOU PARA MARIA UM APARTAMENTO NA 
BARRA (COISA INCERTA) 
JOÃO DEIXOU PARA MARIA UM APARTAMETO NA BARRA, SITUADO NA 
AV DAS AMERICAS , S/N APTª 201, (COISA CERTA), 
OBS: SE DEPOIS DO TESTAMENTO ELE VENDEU O APARTAMENTO SE ELE 
ESTIVER CARACTERIZADO (COISA CERTA) MARIA NÃO PODERA 
RECORRER A JUSTIÇA, MAS SE ESTIVER ESCRITO SOMENTE 
APARTAMENTO NA BARRA E ELE VENDEU A FAMILIA, OS HERDEIROS 
TERÃO QUE DAR O APARTAMENTO PARA MARIA. 
Espécies de Obrigação 
1 – obrigação de dar 
1.1 – obrigação de dar coisa certa 
1.2 – obrigação de restituir (já vistas na aula passada) 
1.3 – obrigação de dar coisa incerta: nesta espécie de obrigação a coisa não é única, 
singular, exclusiva e preciosa como na obrigação de dar coisa certa, mas sim é uma 
coisa genérica determinável pelo gênero e pela quantidade (243). Ao invés de uma coisa 
determinada/certa, temos aqui uma coisa determinável/incerta (ex: cem sacos de café; 
dez cabeças de gado, um carro popular, etc). Tal coisa incerta, indicada apenas pelo 
gênero e pela quantidade no início da relação obrigacional, vem a se tornar determinada 
por escolha no momento do pagamento. Ressalto que coisa “incerta” não é “qualquer 
coisa”, mas coisa sujeita a determinação futura. Então se João deve cem laranjas a José, 
estas frutas precisam ser escolhidas no momento do pagamento para serem entregues ao 
credor. 
Esta escolha chama-se juridicamente de concentração. Conceito: processo de escolha da 
coisa devida, de média qualidade, feita via de regra pelo devedor (244). A concentração 
implica também em separação, pesagem, medição, contagem e expedição da coisa, 
conforme o caso. As partes podem combinar que a escolha será feita pelo credor, ou 
por um terceiro, tratando-se este artigo 244 de uma norma supletiva, que apenas 
completa a vontade das partes em caso de omissão no contrato entre elas. 
Após a concentração a coisa incerta se torna certa (245). Antes da concentração a coisa 
devida não se perde pois genus nunquam perit (o gênero nunca perece). Se João deve 
cem laranjas a José não pode deixar de cumprir a obrigação alegando que as laranjas se 
estragaram, pois cem laranjas são cem laranjas, e se a plantação de João se perdeu ele 
pode comprar asfrutas em outra fazenda (246). 
Todavia, após a concentração, caso as laranjas se percam (ex: incêndio no armazém) a 
obrigação se extingue, voltando as partes ao estado anterior, devolvendo-se eventual 
preço pago, sem se exigir perdas e danos (234, 389, 402). Pela importância da 
concentração, o credor deve ser cientificado quando o devedor for realizá-la, até para 
que o credor fiscalize a qualidade média da coisa a ser escolhida. 
 
2 – obrigação de fazer: conduta humana que tem por objeto um serviço. Conceito: 
espécie de obrigação positiva pela qual o devedor se compromete a praticar algum 
serviço lícito em benefício do credor. Enquanto na obrigação de dar o objeto da 
prestação é uma coisa, na obrigação de fazer o objeto da prestação é um serviço (ex: 
professor ministrar uma aula, advogado redigir uma petição, cantor fazer um show, 
pedreiro construir um muro, médico realizar uma consulta, etc.). E se eu quero comprar 
um quadro e encomendo a um artista, a obrigação será de fazer ou de dar? Se o quadro 
já estiver pronto a obrigação será de dar, se ainda for confeccionar o quadro a obrigação 
será de fazer. 
 A obrigação de fazer tem duas espécies: 
 2.1 – fungível: quando o serviço puder ser prestado por uma terceira pessoa, 
diferente do devedor, ou seja, quando o devedor for facilmente substituível, sem 
prejuízo para o credor, a obrigação é fungível (ex: pedreiro, eletricista, mecânico, caso 
não possam fazer o serviço e mandem um substituto, a princípio para o credor não há 
problema). As obrigações de dar são sempre fungíveis pois visam a uma coisa, não 
importa quem seja o devedor (304). 
 2.2 – infungível: ao credor só interessa que o devedor, pelas suas qualidades 
pessoais, faça o serviço (ex: médico e advogado são profissionais de estrita confiança 
dos pacientes e clientes). Chama-se esta espécie de obrigação de personalíssima 
ou intuitu personae ( = em razão da pessoa). São as circunstâncias do caso e a vontade 
do credor que tornarão a obrigação de fazer fungível ou não. 
 Em caso de inexecução da obrigação de fazer o credor só pode exigir perdas e 
danos (247). Viola a dignidade humana constranger o devedor a fazer o serviço por 
ordem judicial, de modo que na obrigação de fazer não se pode exigir a execução 
forçada como na obrigação de dar coisa certa (art. 475 – sublinhemexigir-lhe o 
cumprimento). Imaginem um cantor se recusar a subir no palco, não é razoável o Juiz 
mandar a polícia para forçá-lo a trabalhar “manu militari”, o coerente é o credor do 
show exigir perdas e danos (389). Ninguém pode ser diretamente coagido a praticar o 
ato a que se obrigara. Assim, a execução “in natura” do art. 475 do CC deve ser 
substituída por perdas e danos quando for impossível (ex: a coisa devida não está mais 
com o devedor) ou quando causar constrangimento físico ao devedor (ex: obrigação de 
fazer). 
 Se ocorrer recusa do devedor de executar obrigação fungível, o credor pode 
pedir a um terceiro para fazer o serviço, às custas do devedor (249). Havendo urgência, 
o credor pode agir sem ordem judicial, num autêntico caso de realização de Justiça pelas 
próprias mãos (pú do 249, ex: consertar o telhado de casa ameaçando cair). 
 Mas se tal recusa decorre de um caso fortuito (ex: o cantor gripou e perdeu a 
voz), extingue-se a obrigação (248). 
 
Espécies de Obrigação (continuação) 
 ESPÉCIES DE OBRIGAÇÃO (continuação) 
1 – Obrigação de dar 
2 – Obrigação de fazer (já vistas) 
3 – Obrigação de não-fazer: trata-se de uma obrigação negativa cujo objeto da prestação 
é uma omissão ou abstenção. Os romanos chamavam de obrigação ad non faciendum. 
Conceito: vínculo jurídico pelo qual o devedor se compromete a se abster de fazer certo 
ato, que poderia livremente praticar, se não tivesse se obrigado em benefício do credor. 
O devedor vai ter que sofrer, tolerar ou se abster de algum ato em benefício do credor. 
Exemplos: o engenheiro químico que se obriga a não revelar a fórmula do perfume da 
fábrica onde trabalha; o condômino que se obriga a não criar cachorro no apartamento 
onde reside; o professor que se obriga a não dar aula em outra faculdade; o comerciante 
que se obriga a não fazer concorrência a outro, etc. Pode haver limite temporal para a 
obrigação (1.147). 
 Como na autonomia privada a liberdade é grande, as obrigações negativas 
podem ser bem variadas, mas obrigações imorais e anti-sociais, ou que sacrifiquem a 
liberdade das pessoas, são proibidas, ex: obrigação de não se casar, de não trabalhar, de 
não ter religião, etc. Tudo é uma questão de bom senso, ou de razoabilidade. Gosto 
muito da expressão “razoável”, é uma expressão muito ligada ao Direito, inclusive tem 
um artigo no site sobre a razoabilidade na aplicação da lei, confiram! 
 A violação da obrigação negativa se resolve em perdas e danos, então se o 
engenheiro divulgar a fórmula do perfume terá que indenizar a fábrica. Mas se for 
viável, o credor poderá exigir o desfazimento pelo devedor (ex: José se obriga a não 
subir o muro para não tirar a ventilação do seu vizinho João, caso José aumente o muro, 
João poderá exigir a demolição, 251). No caso do perfume não há como desfazer a 
revelação do segredo, então uma indenização por perdas e danos é a solução (389). 
 Neste exemplo do muro, se José se mudar, o novo morador terá que respeitar a 
obrigação? Não, pois quem celebrou o contrato não foi ele. Mas se João, ao invés de um 
simples contrato de obrigação negativa, fizer com José uma servidão predial, todos os 
futuros proprietários da casa não poderão aumentar o muro (1.378). Servidão predial é 
assunto de Civil 5, e por se tratar de um direito real, já se percebe sua maior força em 
relação a um direito obrigacional. Enquanto uma obrigação vincula pessoas (João a 
José), uma servidão predial vincula uma pessoa a uma coisa, então a segurança para o 
credor é bem maior. Mais detalhes em Civil 5 (vide no site aulas 8 e 9 de Direitos Reais 
na Coisa Alheia). 
 Ainda tratando do exemplo do muro, e se a Prefeitura obrigar José a aumentar o 
muro por uma questão de estética ou urbanismo? José terá que obedecer e João nada 
poderá fazer, pois o Direito Público predomina sobre o Direito Privado (250 – é o 
chamado “Fato do Príncipe”, em alusão aos monarcas que governavam os países na 
Europa medieval). 
 
 CLASSIFICAÇÃO ou MODALIDADES DE OBRIGAÇÕES 
 
 Vistas as espécies, vamos passar as próximas aulas tratando das modalidades de 
obrigações. São várias modalidades, mas que sempre irão corresponder a uma das três 
espécies de dar, fazer ou não-fazer. A primeira modalidade é: 
 
1 – Obrigação Natural: a obrigação civil produz todos os efeitos jurídicos, mas a 
obrigação natural não, pois corresponde a uma obrigação moral. Há autores que a 
chamam de obrigação degenerada. São exemplos: obrigação de dar gorjeta, obrigação 
de pagar dívida prescrita (205), obrigação de pagar dívida de jogo (814), etc. 
 A obrigação natural não pode ser exigida pelo credor, e o devedor só vai pagar 
se quiser, bem diferente da obrigação civil. Vocês sabem que se uma dívida não for 
paga no vencimento o direito do credor mune-se de uma pretensão, e a dívida se 
transforma em responsabilidade patrimonial. Mas tratando-se de obrigação natural, o 
credor não terá a pretensão para executar o devedor e tomar seus bens (189). A dívida 
natural existe, mas não pode ser judicialmente cobrada, não podendo o credor recorrer à 
Justiça. 
 Conceito: obrigação natural é aquela a cuja execução não pode o devedor ser 
constrangido, mas cujo cumprimento voluntário é pagamento verdadeiro. 
 Por que a obrigação natural interessa ao Direito se corresponde a uma obrigação 
moral? Porque a obrigação natural, mesmo sendo moral, possui um efeito 
jurídico: soluti retentio ou retenção do pagamento. 
 Mesmotratando-se de uma obrigação moral, o pagamento de obrigação natural é 
pagamento verdadeiro e o credor pode retê-lo. Então se João paga dívida prescrita e 
depois se arrepende não pode pedir o dinheiro de volta, pois o credor tem direito à 
retenção do pagamento (882). Como diz a doutrina, “a obrigação natural não se afirma 
senão quando morre”, ou seja, é com o pagamento e sua extinção que a obrigação 
natural vai existir para o direito, ensejando ao credor a soluti retentio. 
 Mas não se confunda obrigação natural com obrigação inexistente: se João paga 
dívida inexistente o credor não pode ficar com o dinheiro, e João terá direito à repetitio 
indebiti ( = devolução do indébito; em direito “repetir” significa “devolver”, e 
“indébito” é o que não é devido). Então quem efetua pagamento indevido pode exigir a 
devolução do dinheiro ( = repetitio indebiti) para que outrem não enriqueça sem motivo. 
O credor de obrigação natural tem direito à soluti retentio, mas quem recebe dívida 
inexistente não (ex: pago a meu credor João da Silva, mas por engano faço o depósito 
na conta de outro João da Silva, que terá que devolver o dinheiro, 876). Na obrigação 
natural não cabe a repetitio indebiti, pois o credor dispõe da soluti retentio. Falaremos 
mais de enriquecimento sem causa e pagamento indevido na aula 12. 
 Em suma, a obrigação natural não se cumpre por bondade ou liberalidade ou 
doação, mas por um dever moral, e a moral influencia o Direito, tanto que a lei lhe 
atribui o efeito jurídico da soluti retentio. 
 Falando de doação, vocês verão em Civil 3 que o donatário deve ser grato ao 
doador, então se João doa um carro a Maria, Maria lhe deve gratidão pelo resto da vida, 
não podendo agredi-lo ou ofendê-lo sob pena de perder a doação (557). Mas se por trás 
dessa doação existe uma obrigação natural, tal doação não se revoga por ingratidão 
(564, III; ex: João deve dinheiro a Maria mas a dívida prescreveu, porém mesmo assim 
João resolveu pagar e doou uma jóia a Maria; pois bem, caso Maria venha no futuro a 
agredir João, tal doação não se extinguirá já que não foi feita por liberalidade, mas sim 
em cumprimento de obrigação natural). 
 Finalizando, gostaria de transcrever a valiosa opinião de Washington de Barros 
Monteiro sobre a raridade da obrigação natural e a absurda proteção que a lei dá ao 
devedor no nosso ordenamento: 
 - numa época em que a noção do prazo tende a desaparecer, substituída pelo 
espírito de moratória e pela esperança da revisão; em que o devedor conhece a arte de 
não pagar as dívidas e em que aquele que paga com exatidão no dia devido não passa 
de um ingênuo, que não tem direito a nada; em que as leis se enchem de piedade pelos 
devedores e em que as vias judiciárias se mostram imprescindíveis como imposição ao 
devedor civil, aparece como verdadeiro anacronismo a obrigação natural, suscetível de 
pagamento voluntário, apesar de desprovida de ação (vide Direito das Obrigações, 1ª 
parte, Ed. Saraiva, 32ª edição, pág. 215). 
 Classificação ou Modalidades de Obrigações 
CLASSIFICAÇÃO ou MODALIDADES DE OBRIGAÇÕES 
 
1 – Obrigação Natural (já vista) 
 
2 – Obrigação Alternativa 
 
A obrigação simples só possui um objeto, mas a obrigação alternativa tem por objeto 
duas ou mais prestações, mas apenas uma será cumprida como pagamento. É muito 
comum na prática, até para facilitar e estimular os negócios (ex: vendo esta casa por 
vinte mil ou troco por terreno na praia; outro ex: um artista bate no seu carro e se 
compromete a fazer um show na sua casa ou a pagar o conserto; mais um ex: o 
comerciante que se obriga com outro a não lhe fazer concorrência, ou então a lhe pagar 
certa quantia; exemplo da lei: art. 1701, outro exemplo da lei, art 442). 
 Características da obrigação alternativa: 
a) nasce com objeto composto, ou seja, duas ou mais possibilidades de prestação; 
b) o adimplemento de qualquer das prestações resulta no cumprimento da obrigação, 
o que aumenta a chance de satisfação do credor, sem ter que se partir para as perdas e 
danos, caso qualquer das prestações venha a perecer. Como o credor aceitou mais de 
uma prestação como pagamento, qualquer delas vai satisfazer o credor (253 e 256); a 
exoneração do devedor se dá mediante a realização de uma única prestação. 
c) o devedor pode optar por qualquer das prestações, cabendo o direito de escolha, de 
regra, ao próprio devedor (252); mas o contrato pode prever que a escolha será feita 
pelo credor, por um terceiro, ou por sorteio (817); essa escolha chama-se de 
concentração, semelhante a da obrigação de dar coisa incerta; ressalto todavia que não 
se confunde a obrigação alternativa com a de dar coisa incerta; nesta o objeto é único, 
embora indeterminado até a concentração; já na obrigação alternativa há pelo menos 
dois objetos; 
d) se o devedor, ignorando que a obrigação era alternativa, fizer o pagamento, pode 
repeti-lo para exercer a opção. É um caso raro de retratação da concentração, e cabe ao 
devedor a prova de que não sabia da possibilidade de escolha (877). 
e) nas obrigações periódicas admite-se o jus variandi, ou seja, pode-se mudar a 
opção a cada período (§ 2o do art. 252). A doutrina critica essa mudança de prestação 
porque gera instabilidade para o credor. 
 
3 - Obrigação Facultativa 
 
 É parecida, é uma prima pobre, mas não se confunde com a obrigação 
alternativa. É também muito rara, tanto que nosso Código não reservou para ela um 
capítulo próprio. Sua fonte está mais na lei do que no contrato, conforme exemplos que 
veremos abaixo. Ou seja, há casos específicos na lei que contemplam obrigações 
facultativas, porque as partes dificilmente contratam prevendo uma obrigação 
facultativa. 
 Conceito: é aquela cujo objeto da prestação é único, mas confere ao devedor o 
direito excepcional de substitui-lo por outro. 
Exemplo: art. 1234, assunto de Civil 4, então quem encontra coisa perdida deve restitui-
la ao dono, e o dono fica obrigado a recompensar quem encontrou; mas o dono pode, ao 
invés de pagar a recompensa, abandonar a coisa, e aí quem encontrou poderá ficar com 
ela; pagar a recompensa é a prestação principal do devedor, já abandonar a coisa é 
prestação acessória do seu dono. O abandono da coisa não é obrigação, mas faculdade 
do seu dono. Ao invés de pagar a recompensa, tem o devedor a faculdade de dar a coisa 
ao credor. 
Outro exemplo: art. 1382, assunto de Civil 5, então imaginem que da Fazenda A sai um 
aqueduto para a Fazenda B, levando água, com a obrigação, ajustada em contrato, de 
que o dono da Fazenda A deverá conservar a obra. Pois bem, ao invés de manter o 
aqueduto, tem o dono da Fazenda A a obrigação facultativa de abandonar suas terras 
para o dono da Fazenda B. Ao invés de conservar o aqueduto, o devedor tem a 
faculdade de abandonar suas terras, dando-as ao vizinho. 
Ao nascer a obrigação o objeto é único, mas para facilitar o pagamento, o devedor tem a 
excepcional faculdade de se liberar mediante prestação diferente. É vantajosa assim 
para o devedor. 
Na obrigação facultativa, ao contrário da alternativa, o credor nunca tem a opção e só 
pode exigir a prestação principal, pois a prestação devida é única e só o devedor pode 
optar pela prestação facultativa. 
Ressalto que a impossibilidade de cumprimento da prestação principal extingue a 
obrigação, resolvendo-se em perdas e danos, não se aplicando o art. 253, pois, como já 
dito, a prestação acessória não é obrigação, mas faculdade do devedor. Então quem 
encontrar coisa perdida e não receber a recompensa, não poderá exigir o abandono da 
coisa, mas sim deverá processar o devedor pelo valor da recompensa. 
 Classificação ou Modalidades de Obrigações (continuação) 
4 – Obrigação divisível e indivisível 
 
Em geral, numa obrigação existe apenas um credor e um devedor. Mas caso existam na 
mesma relação vários devedores ou vários credores,o razoável é que cada devedor 
pague apenas parte da dívida, e que cada credor tenha direito apenas a parte da 
prestação. Essa regra sofre exceção nos casos deindivisibilidade, que veremos hoje, e 
de solidariedade, na próxima aula. Tanto na indivisibilidade como na solidariedade, 
embora concorram várias pessoas, cada credor pode reclamar a prestação por inteiro, e 
cada devedor responde também pelo todo (259 e 264). Comecemos pela divisibilidade e 
indivisibilidade: 
 Obrigação divisível é aquela cuja prestação pode ser parcialmente cumprida sem 
prejuízo de sua qualidade e de seu valor (ex: uma dívida de cem reais pode ser paga em 
duas metades; um curso de Direito Civil pode ser ministrado em várias aulas). Mas a 
depender do acordo entre as partes, o devedor deve pagar de uma vez só, mesmo que a 
prestação seja divisível (314). 
Já na obrigação indivisível a prestação só pode ser cumprida por inteiro (ex: quem deve 
um cavalo não pode dar o animal em partes, 258; mas se tal cavalo perecer e a dívida se 
converter em pecúnia, deixa de ser indivisível, 263). 
 Como dito, a indivisibilidade vai despertar interesse prático quando houver mais 
de um credor ou mais de um devedor. 
- pluralidade de devedores: imaginem que um pai morre e deixa dívidas, seus filhos irão 
pagar estas dívidas dentro dos limites da herança recebida do pai (1792, 1997). Então o 
credor do pai terá mais de um filho para cobrar esta dívida. Se a prestação for divisível, 
cada filho responde pela parte correspondente a sua herança, e a insolvência de um 
deles não aumentará a quota dos demais (257). Mas se a prestação for indivisível, cada 
filho responde pela dívida toda, e aquele que pagar ao credor, cobrará o quinhão 
correspondente de cada irmão (259 e pú – veremos sub-rogação em breve). A relação 
obrigacional antes era do credor com os filhos do pai morto, agora é do irmão pagador 
contra os outros irmãos. 
 - e se a pluralidade for de credores? Sendo divisível a prestação, cada credor só 
pode exigir sua parte (257). Mas sendo indivisível aplica-se o 260, pelo que o devedor 
deverá pagar a todos os credores juntos, para que um não engane os outros. Ou então o 
devedor deverá pagar àquele credor que prestar uma garantia ( = caução) de que 
repassará o pagamento aos outros (ex: João deve um carro a três pessoas, mas não 
encontra os três para pagar, assim, para se livrar logo daquela obrigação, paga ao credor 
que ofereceu uma fiança; se este credor não repassar o carro aos demais credores, o 
fiador poderá ser processado pelos prejudicados; fiança é assunto de Civil 3). Se o 
devedor pagar sem as cautelas do art. 260, terá que pagar de novo àquele credor que, 
eventualmente, venha a ser lesado pelo credor que recebeu todo o pagamento, 
afinal quem paga mal paga duas vezes, concordam? Diz-se por isso que o pagamento 
integral da dívida a um só dos vários credores pode não desobrigar o devedor com 
relação aos demais concredores. Mas pagando o devedor corretamente, caberá aos 
credores buscar sua parte com o credor que recebeu tudo (261). Tratando-se de coisa 
indivisível (ex: carro, barco, casa), poderão os credores usar a coisa em condomínio, ou 
então vendê-la e dividir o dinheiro (1320). 
 Espécies de indivisibilidade: a) física: a prestação é indivisível pela sua própria 
natureza, pois sua divisão alteraria sua substância ou prejudicaria seu uso (ex: obrigação 
de dar um cavalo, obrigação de restituir o imóvel locado, etc); b) econômica: o objeto 
da prestação fisicamente poderia ser dividido, mas perderia valor (ex: obrigação de dar 
um diamante, art. 87); c) legal: é a lei que proíbe a divisão (ex: a lei 6.766/79, que 
dispõe sobre o parcelamento do solo urbano, determina no art. 4º, II, que os lotes nos 
loteamentos terão no mínimo 125 metros quadrados, então um lote deste tamanho não 
pode ser dividido em dois); d) convencional: é o acordo entre as partes que torna a 
prestação indivisível (art. 88, ex: dois devedores se obrigam a pagar juntos certa quantia 
em dinheiro, o que vai favorecer o credor que poderá exigir tudo de qualquer deles, 
258 in fine, e 259). 
 Percebe-se que qualquer das três espécies de obrigação (dar, fazer e não-fazer) 
pode ser divisível ou indivisível (ex: dar dinheiro é divisível, mas dar um cavalo é 
indivisível; pintar um quadro é obrigação de fazer indivisível, mas plantar cem árvores é 
divisível; não revelar segredo é indivisível, mas não pescar e não caçar na fazenda do 
vizinho é divisível). 
 Classificação ou Modalidades de Obrigações (continuação) 
5 – Obrigações solidárias 
 
 Como visto na aula passada, quando numa obrigação indivisível concorrem 
vários devedores, todos estão obrigados pela dívida toda, como se existisse uma 
solidariedade entre eles (259). Assim, se várias pessoas devem coisa indivisível, a 
obrigação é também solidária. Mas pode haver obrigação solidária mesmo de coisa 
divisível devida por várias pessoas. 
 Conceito legal: há solidariedade quando na mesma obrigação concorre mais de 
um credor, ou mais de um devedor, cada um com direito ou com responsabilidade pela 
dívida toda, como se fosse o único (264). 
 As obrigações solidárias e indivisíveis têm conseqüências práticas semelhantes, 
mas são obrigações diferentes, vejamos: 
 - a obrigação indivisível é impossível pagar por partes, pois resulta da natureza 
da prestação (ex: cavalo, lote urbano, diamante, barco, fazer um quadro, etc). Já a 
obrigação solidária até poderia ser paga por partes, mas por força de contrato não pode, 
tratando-se de uma garantia para favorecer o credor. Na solidariedade cada devedor 
deve tudo, na indivisibilidade cada devedor só deve uma parte, mas tem que pagar tudo 
diante da natureza da prestação. Pelas suas características a solidariedade não se 
presume, decorre de contrato ou da lei (265). Exemplo de solidariedade decorrente de 
lei é a patroa que responde pelos danos causados a terceiros por sua empregada 
doméstica (932, III, 942 e pú). 
 - pode haver obrigação solidária de coisa divisível (ex: dinheiro), de modo que 
todos os devedores vão responder integralmente pela dívida, mesmo sendo coisa 
divisível. Tal solidariedade nas coisas divisíveis serve para reforçar o vínculo e facilitar 
a cobrança pelo credor. 
 - o devedor a vários credores de coisa indivisível precisa pagar a todos os 
credores juntos (260, I), mas o devedor a vários credores solidários se desobriga 
pagando a qualquer deles (269). 
 - se a coisa devida em obrigação solidária perece, converte-se em perdas e 
danos, torna-se divisível, mas permanece a solidariedade (271 e 279). Se a coisa devida 
em obrigação indivisível perece, converte-se em perdas e danos e os co-devedores 
deixam de ser responsáveis pelo todo (263). 
 - o devedor de obrigação solidária que paga sozinho a dívida ao credor, vai 
cobrar dos demais co-devedores a quota de cada um, sem solidariedade que não se 
presume (265 e 283). Então A, B e C devem solidariamente dinheiro a D. Se A pagar a 
dívida toda ao credor, A vai cobrar a quota de B e C sem solidariedade entre B e C. 
 Elementos da obrigação solidária: a) multiplicidade de credores ou de 
devedores, ou ainda, de uns e de outros; b) unidade de prestação; c) co-responsabilidade 
dos interessados. 
 
5.1 - Solidariedade ativa 
Configura-se pela presença de vários credores, chamados concredores, todos com o 
mesmo direito de exigir integralmente a dívida ao devedor comum (267). 
A solidariedade ativa é rara porque na sua principal característica está sua principal 
inconveniência (269). Assim, o devedor não precisa pagar a todos os concredores 
juntos, como na obrigação indivisível (260, I). Pagando apenas a um dos credores 
solidários, mesmo sem autorização dos demais, o devedor se desobriga, e se este credor 
for desonesto ou incompetente, e reter ou perder a quota dos demais,os concredores 
nada poderão reclamar do devedor, terão sim que reclamar daquele que embolsou o 
pagamento. 
Mas caso algum dos concredores já esteja executando judicialmente o devedor, o 
pagamento deverá ser feito ao mesmo (268), o que se chama de prevenção, ficando tal 
credor prevento para receber o pagamento com prioridade em nome de todos os 
concredores. 
Outro inconveniente é que se um dos credores perdoar a dívida, o devedor fica liberado, 
e os demais concredores terão que exigir sua parte daquele que perdoou (272). 
Como se vê, na solidariedade ativa cada credor fica sujeito à honestidade dos outros 
concredores. Por estes inconvenientes a solidariedade ativa é rara, afinal não interessa 
ao credor. 
 
5.2 – Solidariedade passsiva 
Esta é comum e importante, devendo ser estimulada já que protege o crédito, reforça o 
vínculo, facilita a cobrança e aumenta a chance de pagamento, pois o credor terá várias 
pessoas para cobrar a dívida toda. 
E quanto mais se protege o credor, mais as pessoas emprestam dinheiro, e com mais 
dinheiro os consumidores se equipam, as lojas vendem, as fábricas produzem, os 
patrões lucram, geram empregos e o governo arrecada tributos. Como se sabe: proteger 
o crédito é estimular o desenvolvimento sócio-econômico. Entendo até que, por isso 
mesmo, para proteger o crédito, a solidariedade passiva, não a ativa, deveria ser 
presumida. Violando o art. 265, o art. 829 acertadamente faz presumir a solidariedade 
passiva conforme será visto em fiança. 
Conceito: ocorre a solidariedade passiva quando mais de um devedor, chamado 
coobrigado, com seu patrimônio (391), se obriga ao pagamento da dívida toda (275). 
Assim, havendo três devedores solidários, o credor terá três pessoas para processar e 
exigir pagamento integral, mesmo que a obrigação seja divisível. O credor escolhe se 
quer processar um ou todos os devedores (pú do 275). Aquele devedor que pagar 
integralmente a dívida, terá direito de regresso contra os demais coobrigados (283). 
Na solidariedade passiva não se aplica o benefício de divisão e nem o benefício de 
ordem. O que é isso? 
Pelo benefício de divisão o devedor pode exigir a citação de todos os coobrigados no 
processo para juntos se defenderem. Isto é ruim para o credor porque atrasa o processo, 
por isso a solidariedade passiva não concede tal benefício aos co-devedores. 
Pelo benefício de ordem, o coobrigado tem o direito de ver executado primeiro os bens 
do devedor principal (ex: fiança, 827). Mas o fiador pode renunciar ao benefício de 
ordem e se equiparar ao devedor solidário (828, II). O avalista nunca tem benefício de 
ordem, sempre é devedor solidário, por isso se algum amigo lhe pedir para ser avalista 
não aceite, mas se ele insistir seja seu fiador com benefício de ordem, mas jamais 
fiador-solidário ou avalista. 
Fiança e aval são exemplos de solidariedade passiva decorrente de acordo de vontades. 
Então a Universidade quando financia o curso de um estudante, geralmente exige um 
fiador ou um avalista (897), de modo que se o devedor não pagar a dívida no 
vencimento, o credor irá processar o devedor, o fiador ou o avalista. Fiança será 
estudada em Civil 3 e aval em Direito Empresarial. 
Exemplos de solidariedade passiva decorrente da lei estão na responsabilidade civil 
(932), no comodato (585) e na gestão de negócios (pú do 867).

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