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TRALHO 2

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Boa Vista - RR 
2014 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
DARLA DA CUNHA ALMEIDA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SISTEMA DE ENSINO PRESENCIAL CONECTADO 
SERVIÇO SOCIAL 
 
Família e trabalho na restruturação produtiva: ausência de política de 
emprego e deterioração das condições de vida 
 
Boa Vista - RR 
2014 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Família e trabalho na restruturação produtiva: ausência de política de 
emprego e deterioração das condições de vida 
 
Trabalho de interdisciplinar individual apresentado à 
Universidade Norte do Paraná - UNOPAR, como 
requisito parcial para a obtenção de média bimestral na 
disciplina de SERVIÇO SOCIAL 2º SEMESTRE 
 
Orientador: Prof. ª Rosane; Sérgio; Wilson e Adir 
 
 
DARLA DA CUNHA ALMEIDA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
1INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 3 
2 DESENVOLVIMENTO .............................................................................................. 4 
2.1 A DIVISÃO SOCIAL DO TRABALHO .................................................................... 5 
2.1.1 FAMÍLIA NA CONTEMPORANEIDADE ............................................................. 7 
2.1.1.1 MULHER, MERCADO DE TRABALHO E AS CONFIGURAÇÕES 
FAMILIARES DO SECULO XX. .................................................................................. 9 
3 CONCLUSÃO ......................................................................................................... 11 
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 12 
 3 
1 INTRODUÇÃO 
Estarei expondo nesse trabalho o artigo que analisa as mudanças 
encontradas na relação família-trabalho sob o processo recente de reestruturação 
das atividades econômicas da Região Metropolitana de São Paulo e o modo como 
este processo, na ausência de políticas de proteção social, afeta o empobrecimento 
das famílias. A pequena expansão das oportunidades de trabalho no período, 
associada ao crescente desemprego dos principais mantenedores da família, levou a 
que se estabelecessem novos arranjos familiares de inserção no mercado de 
trabalho, de modo a garantir a subsistência. Os rearranjos observados entre 1990 e 
1994 refletem, assim, o deslocamento da responsabilidade pela manutenção da 
família dos principais mantenedores e seu maior partilhamento com os outros 
componentes do grupo familiar. O artigo mostra que o empobrecimento dos 
diferentes tipos de família está relacionado aos rearranjos de inserção familiar e às 
diferentes vantagens e restrições de inserção no mercado de trabalho que cada 
componente encontra, considerando-se que não existe "permutabilidade" entre eles 
para a inserção no mercado de trabalho. 
 
 
 
 4 
2 DESENVOLVIMENTO 
A reestruturação produtiva ao afetar a inserção dos diferentes 
componentes da família no mercado de trabalho teve por principais consequências, 
no referido período, o aumento do desemprego, a precarização das relações de 
trabalho e a deterioração da renda familiar. A não expansão das oportunidades de 
trabalho levou a que, para enfrentar esse momento de desemprego dos principais 
mantenedores da família, ocorressem rearranjos familiares de inserção no mercado 
de trabalho que se diferenciam segundo os tipos de família construídos com base 
em sua estruturação (bi parental ou monoparental) e momentos do ciclo vital familiar. 
Um dos temas privilegiados no estudo são as alterações da relação família-trabalho 
relacionadas às atuais transformações das atividades econômicas e as possíveis 
consequências destas na mudança das relações hierárquicas na família. 
A crescente precarização das relações de trabalho, bem como a deterioração da 
renda familiar - interrompida no período inicial do plano de estabilização (1995) e 
que parece voltar a ocorrer em 19981 -, associada à acentuação das elevadas taxas 
de desemprego nesta região metropolitana desde meados de 1997, trazem com 
mais força as indagações feitas por Bruno Lautier sobre os limites da atuação da 
família como "um amortecedor da crise" (Lautier, 1995). Seu artigo discute o papel 
da família como amortecedor da crise na Europa, nos países da América Latina e 
África. A questão levantada por Lautier e que. A ausência de políticas de emprego 
formuladas para enfrentar a modificação nas formas de produção e de 
gerenciamento no período 1990-1994, a não ser o apoio temporário ao 
desempregado através do Seguro-Desemprego, a intenção de implementar políticas 
de emprego esboçadas apenas a partir de julho de 1995 (Azeredo e Ramos, 1995) e 
o pequeno alcance das mesmas até 1998 (Presidência da República. Home Page 
Brasil em Ação, 1998), têm tornado evidente que os trabalhadores estão, até este 
momento, entregues aos mecanismos de incorporação da força de trabalho regidos 
pelas necessidades e conveniências do capital. Mesmo o movimento sindical tem 
tido pouco êxito no sentido de impedir o desemprego e a precarização das formas 
de inserção no mercado de trabalho. 
O referencial empírico para as análises é a Pesquisa de Condições de Vida 
 
 
 5 
realizada pela Fundação SEADE2 em dois anos do início da década: 1990, 
caracterizado como o início de um novo período recessivo (1990-1992), e 1994, ano 
de recuperação econômica sob a vigência da reestruturação produtiva, ambos 
momentos de elevados níveis de desemprego e com indícios de empobrecimento 
para a população da Região. 
2.1 A DIVISÃO SOCIAL DO TRABALHO – POR MAX, WEBER E DURKHEIM 
CIDINEY J. SILVA 
A sociedade é composta de diferentes indivíduos que desempenham 
diversos papéis juntamente a outros indivíduos que dão suporte aos papéis 
desempenhados. Quando essa estrutura se agiganta temos a presença das 
instituições compondo a sociedade. 
Quando se considera que indivíduos desempenham papéis e que há outros 
indivíduos dando suporte aos papéis desempenhados, há que se pensar a respeito 
de como esses indivíduos se relacionam entre si. Em uma sociedade dita civilizada / 
desenvolvida, essas relações seguem algum tipo de protocolo. Os protocolos são 
gerados de acordo com alguma necessidade social. Da mesma forma que a 
sociedade se agiganta, e os papéis desempenhados dentro dela, os protocolos 
assumem formas de processos formais entre as instituições, donde o aparecimento 
das estruturas judiciais e estatais nas sociedades complexas. Um exemplo disso é a 
necessidade dos estados de possuir um código penal, dada a necessidade social de 
segurança ou de punição. 
Ao se perceberem esses níveis de granularidade da sociedade 
(indivíduo/instituições; protocolos/estruturas judiciais) , os estudos subsequentes 
podem tomar um foco ou outro. Esses estudos estão nada mais que analisando as 
formas de divisão social do(s) trabalho(s) da sociedade. 
Dentre os estudos realizados, destacam-se as análises de Marx, Weber e Durkheim. 
Cada um deles procurou analisar os papéis e relacionamentos entre papéis da 
sociedade conforme uma ótica particular. 
Segundo Marx, a divisão social do trabalho segue todo um arranjo de tal forma que 
sempre hajam classes dominantes e classes dominadas, e que necessariamente 
essas classes estão em conflito entre si. Marx entende que as instituições das 
sociedades são criadas e estabelecidas pelas classes dominantes, que se legitimam 
dessa forma. O indivíduo é transparente na sociedade, importando somente a que 
classe esse indivíduo pertence e comoessa classe se comporta na sociedade – pelo 
menos, foi isso que a Revolução Russa procurou demonstrar, ao subjugar os 
interesses dos indivíduos diante dos interesses da coletividade. Diante das péssimas 
condições de vida dos trabalhadores de sua época, Marx, cuja sociologia não se 
limitava apenas à análise científica, mas se estendia à ação de modificação social, 
propõe que a classe subjugada (o proletariado) tomasse a posição de destaque da 
sociedade. Isso seria feito quando a divisão social do trabalho fosse modificada, não 
havendo a propriedade privada dos meios de produção. Esse arranjo burguês de 
 
 
 6 
divisão de trabalho – o da propriedade privada – seria o motivo da subserviência da 
classe trabalhadora de então. 
Para Weber, a sociedade era composta de partes cuja constituição depende 
fundamentalmente do indivíduo. As relações entre esses indivíduos seguiriam suas 
quatro formas de ação social (racional orientada a fins, racional orientada a valores, 
afetiva, tradicional). Essas relações acabariam por caracterizar a sociedade como 
um todo, à medida que fossem incorporadas à legislação, à constituição, à 
religiosidade e outras manifestações culturais, legais, valorativas e administrativas 
dessa sociedade. Dessa forma, nas sociedades cujo pano de fundo religioso era o 
protestantismo cristão, por exemplo, Weber pôde identificar elementos que 
justificassem o desenvolvimento do que ele chamou de espírito do capitalismo a 
partir da ética protestante. Essa ética, essencialmente asceta, levava os indivíduos 
da sociedade a atuar em seus papéis de trabalho (em suas divisões de trabalho 
social) de forma a sempre buscarem a acumulação e a eficiência e evitarem o 
desperdício ou a preguiça. Dessa forma, as sociedades inicialmente protestantes 
puderam experimentar um crescimento econômico e mesmo um melhoramento dos 
níveis sociais, entre outros fatores. 
Para Durkheim, para quem a sociedade era um organismo constituído de partes 
identificáveis e com relações bem definidas entre essas partes, a divisão social do 
trabalho significava o funcionamento, a princípio harmônico, desse organismo. Uma 
divisão sistemática da sociedade e dos trabalhos que cada divisão desempenharia 
se traduziria em uma melhor compreensão da sociedade e portanto, uma forma de 
melhorá-la como um todo. O indivíduo não teria importância nesse contexto de 
análise, já que ele não constrói a sociedade e suas instituições, mas as herda e deve 
se adequar ao contexto que elas proporcionam. Dessa forma, o indivíduo não 
influencia na divisão social do trabalho, apesar de executá-la. 
Esses pontos de vista, às vezes distoantes, se construíram em situações e 
motivações distintas. Marx apregoava que a ciência social deveria modificar a 
realidade das pessoas, que atualmente não era boa. Weber focava o indivíduo e o 
impacto que as ações do indivíduo – em especial a religiosidade – trazia à sociedade 
como um todo; isso em um contexto um pouco mais favorável ao capitalismo do que 
o encontrado por Marx. Durkheim, em sua tentativa de estabelecer a Sociologia 
como uma ciência quase que exata, procura identificar os “órgãos” da sociedade. 
Além disso, procura as leis que regem a coesão desses órgãos, e dessa forma a 
divisão social do trabalho seria a identificação da harmonia existente na operação 
desses órgãos em conjunto. 
Essa discussão é relevante para que se possa pensar a respeito da constituição das 
sociedades atuais. Até que ponto, por exemplo, as mesmas políticas públicas podem 
ser aplicadas aos meios rural e urbano, dadas as atribuições de trabalho social de 
cada um? Outro questionamento: como se podem entender as relações entre 
candidatos e eleitorado? Como as ideias individuais deste podem influir nas eleições 
daqueles? Existem outras questões em aberto. Porém, uma ampla compreensão 
dos contextos de papéis e relações entre papéis, quer nos planos individual ou 
institucional, pode significar numa melhor adequação das atitudes políticas e sociais 
a serem tomadas. 
 7 
2.1.1 FAMÍLIA NA CONTEMPORANEIDADE: MUDANÇAS E PERMANÊNCIAS - 
Carolina M. B. de Souza. 
SINGLY, François de. Sociologia da família contemporânea. Trad. Clarice Ehlers 
Peixoto. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2007. 208 p. (Família, geração & cultura). 
 
Ao longo das últimas décadas o debate sobre a crise da família, no 
Ocidente, foi propiciado pelos efeitos da generalizada aceitação social do divórcio, 
do declínio da instituição do casamento e da baixa taxa de fecundidade. Esses 
acontecimentos tanto indicaram a compreensão de que se delineara o 
enfraquecimento da família, quanto sugeriram a análise do surgimento de novos 
modelos familiares, caracterizados, por sua vez, pelas mudanças nas relações entre 
os sexos e as gerações, tais como: controle mais intenso da natalidade, autonomia 
relativa da sexualidade referente à esfera conjugal (posto que o exercício da 
atividade sexual deixe de estar circunscrito à esfera do matrimônio), inserção 
massiva da mulher no mercado de trabalho, questionamento da autoridade paternal, 
atenção ao desenvolvimento das necessidades infantis e dos idosos, entre outras. 
Essa segunda vertente de entendimento é a perspectiva condutora das análises de 
Singly (2007) em Sociologia da família contemporânea, que aborda a 
individualização das relações familiares, especificamente na França, estabelecendo 
associações entre as mudanças da modernidade e seus efeitos na família. O autor, 
que dirige o Centre d'Études sur les Liens Sociaux (Centro de Estudos sobre os 
Laços Sociais), em suas pesquisas, focaliza os comportamentos interpessoais no 
âmbito conjugal, procurando demonstrar que, nas sociedades contemporâneas 
ocidentais, os indivíduos não se parecem com aqueles das gerações precedentes, 
devido ao surgimento do indivíduo original e autônomo, resultante da imposição 
dessas sociedades, as quais fazem vigorar razões tanto ideológicas quanto 
objetivas. Salienta que a procura de si não traduz, primordialmente, narcisismo; 
solicita, contrariamente, destaque do olhar dos outros. Considera a dimensão 
relacional presente no processo constitutivo da identidade pessoal dos indivíduos, 
em que os outros significativos são, em geral e prioritariamente, o cônjuge ou o 
parceiro para um homem ou uma mulher, os pais para os filhos e reciprocamente. 
O livro compõe-se de três partes. Singly visa a elucidar a família contemporânea, 
demonstrando sua dependência em relação ao Estado (parte I) e sua independência 
quanto aos grupos de parentesco (parte II) e à família (parte III). Os argumentos 
apresentados em seu desenrolar examinam algumas características: a família 
contemporânea é relacional, é privada e pública, é individualista e precisa de 
horizonte Inter geracional - eixos norteadores através dos quais explicita suas ideias. 
A característica referente ao duplo movimento da família contemporânea de ser 
privada e, ao mesmo tempo, pública, é destacada pelo autor, que apreende a família 
como um espaço no qual os indivíduos acreditam proteger a sua individualidade, ao 
tempo em que sofrem intervenção do Estado mediante o apoio e a regulação sobre 
as relações dos seus componentes - como exemplo, refere-se à criação de leis que 
objetivam limitar o direito da punição paternal. 
Os argumentos apresentados no desenvolvimento do livro remetem à idéia central 
de Singly - a família contemporânea se define mais pelas relações internas travadas 
no cerne familiar e menos como instituição. O ponto em comum existente entre a 
família antiga e a família moderna, na compreensão do autor, consiste em contribuir 
para a função da reprodução biológica e sociais da sociedade, e ambas procuram 
 8 
manter e melhorar a posição da família no espaço social de uma geração a outra. O 
autor, que formula uma abordagem sociológica da percepção decomo se 
expressam sentimentos e emoções no âmbito da família durante o século XX, 
destaca a predominância, a partir da segunda metade desse século, de relações 
menos hierarquizadas, quer entre o casal, quer entre pais e filhos - ambos sob o 
olhar atento dos agentes do Estado (demógrafos, psicólogos, assistentes sociais e 
sociólogos). Assinala, todavia, que os conflitos não deixam de existir no contexto 
familiar. 
"A dependência da família em relação ao Estado" é o título da Parte I de Sociologia 
da Família Contemporânea, em que Singly examina detalhadamente as relações 
travadas entre Estado, escola e família. Nesse sentido, reflete sobre análises de 
Parsons, contrapondo-se à sua idéia, predominante na sociedade norte-americana 
nos anos 1950, de que toda responsabilidade assumida pela instituição escolar é 
retirada da família. Na tentativa de elucidar os elos existentes entre a família e a 
escola, Singly ratifica algumas concepções de Àries (1981), como aquela de que as 
preocupações educativas são pilares norteadores da família moderna, e de Bourdieu 
(1996), ao salientar a predominância do capital escolar nas sociedades 
contemporâneas. 
Um esboço da tendência geral dos processos de formação familiar pelas novas 
gerações é traçado por Singly na segunda parte da obra, ressaltando o desuso da 
recorrência aos casamentos arranjados e questionando se as alianças são seladas 
apenas pelo amor e pelo desinteresse. O autor utiliza, então, o conceito de capital 
cultural formulado por Bourdieu para apreender algumas mediações que tornam 
possível o amor desinteressado e a defesa dos interesses sociais - o corpo e o 
caráter revelam os capitais escolares e sociais. 
Singly demarca que o período contemporâneo se caracteriza pelo maior domínio do 
destino individual e familiar, devido a um sistema de valores que aprova a autonomia 
e a recusa dos indivíduos em seguirem costumes referentes ao desempenho dos 
papéis sociais de marido e esposa, das gerações passadas. Consequentemente, 
ocorre o duplo movimento - recusar a instituição do casamento e criticar a divisão do 
trabalho entre os sexos. Menciona, como exemplo, as condições objetivas que 
permitem o controle desse domínio individual, especialmente as técnicas modernas 
de controle dos nascimentos. 
Considera que as transformações da família têm uma grande coerência, embora 
deem a impressão de certa desordem e de uma incerteza, que poderiam preocupar. 
Singly destaca que a história da família contemporânea pode ser dividida em dois 
períodos. Assinala a evidência verificada em todos os meios sociais, durante meio 
século (1918-1968), do fato de o homem trabalhar fora para ganhar o dinheiro da 
família e de a mulher ficar em casa para se ocupar, o melhor possível, dos filhos. 
Essa tipologia familiar é designada, pelo autor, de família moderna 1, ou da primeira 
modernidade - está centrada no grupo, e os adultos estão a serviço da família e, 
principalmente, das crianças. A partir dos anos 1960, quando a modernidade na 
Europa muda de direção e entra no período denominado por Giddens (1991) de 
"modernidade avançada", a família atribui peso ao processo de individualização. 
Singly qualifica essa segunda tipologia familiar de família moderna 2. 
A diversidade das formas familiares e a menor estabilidade da vida conjugal não 
devem induzir a um diagnóstico errôneo, na elucidação de Singly, que constata, em 
suas pesquisas, o ideal da vida conjugal para um grande número de pessoas. 
Contrariamente ao celibato ou à vida solitária, a vida conjugal é mais atrativa, pois 
assegura a impressão de que não se é somente um personagem público ou um 
 9 
indivíduo que deve viver, sobretudo, segundo a lógica do interesse e das relações de 
competição que dominam a esfera do trabalho. 
O triplo movimento da segunda fase da família contemporânea, do ponto de vista 
das relações entre os sexos, é assinalado por Singly: diminuição sensível da 
dependência objetiva da mulher, manutenção dos investimentos profissionais e 
domésticos diferenciados segundo o sexo e fuga dos papéis sexuais que surgiram 
com o compromisso conjugal. 
No entender do autor, o movimento de individualização que perpassa as relações 
conjugais encontra-se inacabado, indicando a permanência das desigualdades do 
trabalho doméstico, devido à atribuição desse trabalho às mulheres, bem como a 
exclusão dos homossexuais do casamento. Considera que as sociedades ocidentais 
não seguem nem seguirão um processo similar de etapas, o que não significa que 
elas estejam ao largo da modernidade - entendida sob a perspectiva da 
individualização. 
Reflete, enfim, que, tal como a modernidade, a família se define por um futuro 
incerto, pois, embora os entraves e constrangimentos sociais estejam presentes, os 
indivíduos constroem suas histórias. 
 
2.1.1.1 MULHER, MERCADO DE TRABALHO E AS CONFIGURAÇÕES 
FAMILIARES DO SECULO XX. 
Evolução histórica da família Roudinesco (2003), em sua obra A 
família em desordem, faz uma análise das transformações que a família sofreu 
desde a antiguidade até a pós-modernidade. Um aspecto importante a ser 
destacado é o de que nas famílias ditas pós-modernas, o foco primordial não está na 
forma de organização das famílias e sim no modo pelo qual os seus membros 
vinculavam-se uns aos outros, de forma que o filho passa a ocupar um ouro espaço 
no imaginário parental. Relata-a em seus estudos que se pode distinguir a evolução 
da família em três períodos. Num primeiro momento, a família dita tradicional 
assentava-se na preocupação com as tradições, com a conservação e ampliação do 
patrimônio e a transmissão da herança. Os casamentos eram arranjados e a família 
devia submeter-se à ordem patriarcal. Em momento posterior, caracteriza-se a 
família moderna e prevalece a lógica afetiva; assim, a união do casal funda-se no 
amor romântico. Valoriza-se a reciprocidade de sentimentos e os desejos carnais por 
intermédio do casamento. Da mesma forma, a divisão de tarefas e 
responsabilidades deve ser partilhada pelo casal. No que diz respeito à educação 
dos filhos, o Estado devia responsabilizar-se. No século XX, por volta de 1960, 
surge, por fim, a família contemporânea ou dita pós-moderna, em que os vínculos 
fundamentam-se no amor e no prazer e cuja duração é relativa, ou seja, os vínculos 
duram enquanto durar o amor e o prazer. Consequentemente, a transmissão das 
responsabilidades, valores e da autoridade torna-se complicada. Na medida em que 
as separações e os divórcios acontecem, abrem-se possibilidades para novas 
composições familiares. 
Em função dessas mudanças na organização familiar, outros arranjos entre os seus 
membros acontecem. Anteriormente a figura paterna era imposta e assemelhada a 
Deus e o seu papel jamais era contestado. Com o transcorrer dos tempos, essa 
autoridade perde força, surgindo um pai afetuoso e tolerante, representado pela 
compaixão. Por meio deste sentimento, a posição de autoridade do Deus pai é 
 10 
diluída e complementada por outras instâncias como o Estado e a Nação, abrindo-se 
assim espaço para a figura do feminino. No início do século XIX, com a revolução 
burguesa, o pai não se configura mais como um Deus soberano. 
Fragilizado pela perda de poder da Igreja para o Estado, o pai recupera em parte 
sua autoridade estabelecendo-se como figura de referência por meio da economia 
gerada pelos empreendimentos industriais. Nessa época, constitui-se a família 
econômica burguesa que tem como princípio a liderança do marido, a subordinação 
das mulheres e a dependência dos filhos. Contudo, o poder paterno não é mais uma 
autoridade despótica e divina, mas é um pai justo e submisso às leis; e o seu poder 
é mediado pelo Estado que, por meio das leis, estabelece a vida familiar como um 
contrato livremente consentido entre o homem e a mulher. O casamento deixa de 
ser algo divino para ser um acordo consensual,ou seja, o casal permanecerá junto 
enquanto durar o amor. Com o aumento dos casos de divórcio, o casamento perde a 
sua força simbólica e já não é mais algo indissolúvel. Surge o conceito de família 
recomposta: no lugar da família sacramentada e divina surge a família pautada nos 
laços afetivos da relação entre homem e mulher. Dentro dessa nova configuração, 
os filhos poderiam vir a conviver sob o mesmo teto com seus meio-irmãos, ora 
vivendo com um único pai ou mãe, ora filhos dos dois cônjuges convivendo na 
mesma casa. Esses filhos “bastardos” mais tarde seriam considerados “normais” e 
integrados à nova ordem de uma família recomposta. Assim, na França surge a 
expressão “família monoparental”, que serviu para designar um modelo de família 
constituído apenas pela figura feminina, que, sendo designada “mãe solteira”, era 
antigamente concebida como transgressora dos bons costumes e das normas por 
não cumprir sua obrigação de procriar apenas no casamento. Sendo assim, essas 
mulheres não são bem vistas ou aceitas aos olhos da sociedade; já poderia desfrutar 
do prazer sexual sem que houvesse finalidade procriativa e sem incorrer no risco de 
ser julgada moralmente por ter um prazer diferente daquele proporcionado pela 
maternidade. Dessas mudanças no comportamento de homens e mulheres impõe-se 
uma nova conceitualização de família: 
 [...] de agora em diante esta não será mais vista apenas como uma estrutura de 
parentesco que restaura a autoridade derrotada do pai, ou sintetizando a passagem da 
natureza à cultura através dos interditos e das - 4 - Revista Vozes dos Vales da UFVJM: 
Publicações Acadêmicas – MG – Brasil – Nº 02 – Ano I – 10/2012 Reg.: 120.2.095–2011 – 
PROEXC/UFVJM – ISSN: 2238-6424 – www.ufvjm.edu.br/vozes 
Funções simbólicas, mas como um lugar de poder descentralizado e de múltiplas aparências. Em 
lugar de uma definição de uma essência espiritual, biológica ou antropológica de família, fundada 
no gênero e no sexo ou nas leis de parentesco, e em lugar daquela existencial, induzida pelo mito 
edipiano, foi instituída outra, horizontal e múltipla, inventada pelo individualismo moderno (...) 
esta família se assemelha a uma tribo insólita, a uma rede assexuada, fraterna, sem hierarquia 
nem autoridade, e na qual cada um se sente autônomo ou funcionalizado. (ROUDINESCO, 2003, 
p. 155). 
 11 
3 CONCLUSÃO 
Em virtude dos fatos mencionados entende-se que o tema abordado 
neste trabalho esta no cotidiano atual do mundo, mostrando que a família tem 
evoluído ao longo dessas décadas. Concluindo que a divisão social do trabalho tem 
diversos papeis na sociedade civilizada e desenvolvida, a família na 
contemporaneidade mostra as mudanças conquistadas entre os sexos e as 
gerações, mais com o mesmo objetivo de construir a sua historia no mundo 
moderno, a mulher no mercado de trabalho e a conciliação com a família sempre 
buscando o seu valor. Não deixando os seus compromissos familiares e seu lado 
feminino, romântico, cuidadosa com seus filhos, marido e família. Assim conclui-se 
que a mulher tem um papel muito importante na sociedade com direitos e poderes 
iguais aos homens. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 12 
REFERÊNCIAS 
 
 
TRONCOSO, Eugenia L. (1998), Renda familiar e trabalho da mulher na Região 
Metropolitana de São Paulo nos anos 80 e 90. Trabalho apresentado ao seminário 
Trabalho e gênero: mudanças, permanências e desafios, Campinas. 
 
PACHECO, Carlos A. et al. (1993), A dinâmica industrial e financeira na 
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Civilização. 
Brasileira, 2004. (2 volumes) 
 
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no Século XX. 5ª ed, Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1980. 
 
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Jorge 
Zahar, 1983. 
 
QUINTANEIRO, Tânia. BARBOSA, Maria Ligia de O. OLIVEIRA, Márcia Gardênia 
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ANGEL, Ah, quelle famille! Paris: Robert Laffont, 2003. 
 
 
Revista Vozes dos Vales da UFVJM: Publicações Acadêmicas – MG – Brasil – Nº 02 – Ano I – 
10/2012 Reg.: 120.2.095–2011 – PROEXC/UFVJM – ISSN: 2238-6424 – www.ufvjm.edu.br/vozes 
 
http://www.humbertodalla.pro.br/artigos.htm. Acesso 
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%20FAMILIARES%20NA%20CONTEMPORANEIDADE%20CONFLITOS%20E%20
SOLU+%E7+%F2ES%D4%C7%D8%20-%20Trabalho%20completo.pdf

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