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Boa Vista - RR 2014 DARLA DA CUNHA ALMEIDA SISTEMA DE ENSINO PRESENCIAL CONECTADO SERVIÇO SOCIAL Família e trabalho na restruturação produtiva: ausência de política de emprego e deterioração das condições de vida Boa Vista - RR 2014 Família e trabalho na restruturação produtiva: ausência de política de emprego e deterioração das condições de vida Trabalho de interdisciplinar individual apresentado à Universidade Norte do Paraná - UNOPAR, como requisito parcial para a obtenção de média bimestral na disciplina de SERVIÇO SOCIAL 2º SEMESTRE Orientador: Prof. ª Rosane; Sérgio; Wilson e Adir DARLA DA CUNHA ALMEIDA SUMÁRIO 1INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 3 2 DESENVOLVIMENTO .............................................................................................. 4 2.1 A DIVISÃO SOCIAL DO TRABALHO .................................................................... 5 2.1.1 FAMÍLIA NA CONTEMPORANEIDADE ............................................................. 7 2.1.1.1 MULHER, MERCADO DE TRABALHO E AS CONFIGURAÇÕES FAMILIARES DO SECULO XX. .................................................................................. 9 3 CONCLUSÃO ......................................................................................................... 11 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 12 3 1 INTRODUÇÃO Estarei expondo nesse trabalho o artigo que analisa as mudanças encontradas na relação família-trabalho sob o processo recente de reestruturação das atividades econômicas da Região Metropolitana de São Paulo e o modo como este processo, na ausência de políticas de proteção social, afeta o empobrecimento das famílias. A pequena expansão das oportunidades de trabalho no período, associada ao crescente desemprego dos principais mantenedores da família, levou a que se estabelecessem novos arranjos familiares de inserção no mercado de trabalho, de modo a garantir a subsistência. Os rearranjos observados entre 1990 e 1994 refletem, assim, o deslocamento da responsabilidade pela manutenção da família dos principais mantenedores e seu maior partilhamento com os outros componentes do grupo familiar. O artigo mostra que o empobrecimento dos diferentes tipos de família está relacionado aos rearranjos de inserção familiar e às diferentes vantagens e restrições de inserção no mercado de trabalho que cada componente encontra, considerando-se que não existe "permutabilidade" entre eles para a inserção no mercado de trabalho. 4 2 DESENVOLVIMENTO A reestruturação produtiva ao afetar a inserção dos diferentes componentes da família no mercado de trabalho teve por principais consequências, no referido período, o aumento do desemprego, a precarização das relações de trabalho e a deterioração da renda familiar. A não expansão das oportunidades de trabalho levou a que, para enfrentar esse momento de desemprego dos principais mantenedores da família, ocorressem rearranjos familiares de inserção no mercado de trabalho que se diferenciam segundo os tipos de família construídos com base em sua estruturação (bi parental ou monoparental) e momentos do ciclo vital familiar. Um dos temas privilegiados no estudo são as alterações da relação família-trabalho relacionadas às atuais transformações das atividades econômicas e as possíveis consequências destas na mudança das relações hierárquicas na família. A crescente precarização das relações de trabalho, bem como a deterioração da renda familiar - interrompida no período inicial do plano de estabilização (1995) e que parece voltar a ocorrer em 19981 -, associada à acentuação das elevadas taxas de desemprego nesta região metropolitana desde meados de 1997, trazem com mais força as indagações feitas por Bruno Lautier sobre os limites da atuação da família como "um amortecedor da crise" (Lautier, 1995). Seu artigo discute o papel da família como amortecedor da crise na Europa, nos países da América Latina e África. A questão levantada por Lautier e que. A ausência de políticas de emprego formuladas para enfrentar a modificação nas formas de produção e de gerenciamento no período 1990-1994, a não ser o apoio temporário ao desempregado através do Seguro-Desemprego, a intenção de implementar políticas de emprego esboçadas apenas a partir de julho de 1995 (Azeredo e Ramos, 1995) e o pequeno alcance das mesmas até 1998 (Presidência da República. Home Page Brasil em Ação, 1998), têm tornado evidente que os trabalhadores estão, até este momento, entregues aos mecanismos de incorporação da força de trabalho regidos pelas necessidades e conveniências do capital. Mesmo o movimento sindical tem tido pouco êxito no sentido de impedir o desemprego e a precarização das formas de inserção no mercado de trabalho. O referencial empírico para as análises é a Pesquisa de Condições de Vida 5 realizada pela Fundação SEADE2 em dois anos do início da década: 1990, caracterizado como o início de um novo período recessivo (1990-1992), e 1994, ano de recuperação econômica sob a vigência da reestruturação produtiva, ambos momentos de elevados níveis de desemprego e com indícios de empobrecimento para a população da Região. 2.1 A DIVISÃO SOCIAL DO TRABALHO – POR MAX, WEBER E DURKHEIM CIDINEY J. SILVA A sociedade é composta de diferentes indivíduos que desempenham diversos papéis juntamente a outros indivíduos que dão suporte aos papéis desempenhados. Quando essa estrutura se agiganta temos a presença das instituições compondo a sociedade. Quando se considera que indivíduos desempenham papéis e que há outros indivíduos dando suporte aos papéis desempenhados, há que se pensar a respeito de como esses indivíduos se relacionam entre si. Em uma sociedade dita civilizada / desenvolvida, essas relações seguem algum tipo de protocolo. Os protocolos são gerados de acordo com alguma necessidade social. Da mesma forma que a sociedade se agiganta, e os papéis desempenhados dentro dela, os protocolos assumem formas de processos formais entre as instituições, donde o aparecimento das estruturas judiciais e estatais nas sociedades complexas. Um exemplo disso é a necessidade dos estados de possuir um código penal, dada a necessidade social de segurança ou de punição. Ao se perceberem esses níveis de granularidade da sociedade (indivíduo/instituições; protocolos/estruturas judiciais) , os estudos subsequentes podem tomar um foco ou outro. Esses estudos estão nada mais que analisando as formas de divisão social do(s) trabalho(s) da sociedade. Dentre os estudos realizados, destacam-se as análises de Marx, Weber e Durkheim. Cada um deles procurou analisar os papéis e relacionamentos entre papéis da sociedade conforme uma ótica particular. Segundo Marx, a divisão social do trabalho segue todo um arranjo de tal forma que sempre hajam classes dominantes e classes dominadas, e que necessariamente essas classes estão em conflito entre si. Marx entende que as instituições das sociedades são criadas e estabelecidas pelas classes dominantes, que se legitimam dessa forma. O indivíduo é transparente na sociedade, importando somente a que classe esse indivíduo pertence e comoessa classe se comporta na sociedade – pelo menos, foi isso que a Revolução Russa procurou demonstrar, ao subjugar os interesses dos indivíduos diante dos interesses da coletividade. Diante das péssimas condições de vida dos trabalhadores de sua época, Marx, cuja sociologia não se limitava apenas à análise científica, mas se estendia à ação de modificação social, propõe que a classe subjugada (o proletariado) tomasse a posição de destaque da sociedade. Isso seria feito quando a divisão social do trabalho fosse modificada, não havendo a propriedade privada dos meios de produção. Esse arranjo burguês de 6 divisão de trabalho – o da propriedade privada – seria o motivo da subserviência da classe trabalhadora de então. Para Weber, a sociedade era composta de partes cuja constituição depende fundamentalmente do indivíduo. As relações entre esses indivíduos seguiriam suas quatro formas de ação social (racional orientada a fins, racional orientada a valores, afetiva, tradicional). Essas relações acabariam por caracterizar a sociedade como um todo, à medida que fossem incorporadas à legislação, à constituição, à religiosidade e outras manifestações culturais, legais, valorativas e administrativas dessa sociedade. Dessa forma, nas sociedades cujo pano de fundo religioso era o protestantismo cristão, por exemplo, Weber pôde identificar elementos que justificassem o desenvolvimento do que ele chamou de espírito do capitalismo a partir da ética protestante. Essa ética, essencialmente asceta, levava os indivíduos da sociedade a atuar em seus papéis de trabalho (em suas divisões de trabalho social) de forma a sempre buscarem a acumulação e a eficiência e evitarem o desperdício ou a preguiça. Dessa forma, as sociedades inicialmente protestantes puderam experimentar um crescimento econômico e mesmo um melhoramento dos níveis sociais, entre outros fatores. Para Durkheim, para quem a sociedade era um organismo constituído de partes identificáveis e com relações bem definidas entre essas partes, a divisão social do trabalho significava o funcionamento, a princípio harmônico, desse organismo. Uma divisão sistemática da sociedade e dos trabalhos que cada divisão desempenharia se traduziria em uma melhor compreensão da sociedade e portanto, uma forma de melhorá-la como um todo. O indivíduo não teria importância nesse contexto de análise, já que ele não constrói a sociedade e suas instituições, mas as herda e deve se adequar ao contexto que elas proporcionam. Dessa forma, o indivíduo não influencia na divisão social do trabalho, apesar de executá-la. Esses pontos de vista, às vezes distoantes, se construíram em situações e motivações distintas. Marx apregoava que a ciência social deveria modificar a realidade das pessoas, que atualmente não era boa. Weber focava o indivíduo e o impacto que as ações do indivíduo – em especial a religiosidade – trazia à sociedade como um todo; isso em um contexto um pouco mais favorável ao capitalismo do que o encontrado por Marx. Durkheim, em sua tentativa de estabelecer a Sociologia como uma ciência quase que exata, procura identificar os “órgãos” da sociedade. Além disso, procura as leis que regem a coesão desses órgãos, e dessa forma a divisão social do trabalho seria a identificação da harmonia existente na operação desses órgãos em conjunto. Essa discussão é relevante para que se possa pensar a respeito da constituição das sociedades atuais. Até que ponto, por exemplo, as mesmas políticas públicas podem ser aplicadas aos meios rural e urbano, dadas as atribuições de trabalho social de cada um? Outro questionamento: como se podem entender as relações entre candidatos e eleitorado? Como as ideias individuais deste podem influir nas eleições daqueles? Existem outras questões em aberto. Porém, uma ampla compreensão dos contextos de papéis e relações entre papéis, quer nos planos individual ou institucional, pode significar numa melhor adequação das atitudes políticas e sociais a serem tomadas. 7 2.1.1 FAMÍLIA NA CONTEMPORANEIDADE: MUDANÇAS E PERMANÊNCIAS - Carolina M. B. de Souza. SINGLY, François de. Sociologia da família contemporânea. Trad. Clarice Ehlers Peixoto. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2007. 208 p. (Família, geração & cultura). Ao longo das últimas décadas o debate sobre a crise da família, no Ocidente, foi propiciado pelos efeitos da generalizada aceitação social do divórcio, do declínio da instituição do casamento e da baixa taxa de fecundidade. Esses acontecimentos tanto indicaram a compreensão de que se delineara o enfraquecimento da família, quanto sugeriram a análise do surgimento de novos modelos familiares, caracterizados, por sua vez, pelas mudanças nas relações entre os sexos e as gerações, tais como: controle mais intenso da natalidade, autonomia relativa da sexualidade referente à esfera conjugal (posto que o exercício da atividade sexual deixe de estar circunscrito à esfera do matrimônio), inserção massiva da mulher no mercado de trabalho, questionamento da autoridade paternal, atenção ao desenvolvimento das necessidades infantis e dos idosos, entre outras. Essa segunda vertente de entendimento é a perspectiva condutora das análises de Singly (2007) em Sociologia da família contemporânea, que aborda a individualização das relações familiares, especificamente na França, estabelecendo associações entre as mudanças da modernidade e seus efeitos na família. O autor, que dirige o Centre d'Études sur les Liens Sociaux (Centro de Estudos sobre os Laços Sociais), em suas pesquisas, focaliza os comportamentos interpessoais no âmbito conjugal, procurando demonstrar que, nas sociedades contemporâneas ocidentais, os indivíduos não se parecem com aqueles das gerações precedentes, devido ao surgimento do indivíduo original e autônomo, resultante da imposição dessas sociedades, as quais fazem vigorar razões tanto ideológicas quanto objetivas. Salienta que a procura de si não traduz, primordialmente, narcisismo; solicita, contrariamente, destaque do olhar dos outros. Considera a dimensão relacional presente no processo constitutivo da identidade pessoal dos indivíduos, em que os outros significativos são, em geral e prioritariamente, o cônjuge ou o parceiro para um homem ou uma mulher, os pais para os filhos e reciprocamente. O livro compõe-se de três partes. Singly visa a elucidar a família contemporânea, demonstrando sua dependência em relação ao Estado (parte I) e sua independência quanto aos grupos de parentesco (parte II) e à família (parte III). Os argumentos apresentados em seu desenrolar examinam algumas características: a família contemporânea é relacional, é privada e pública, é individualista e precisa de horizonte Inter geracional - eixos norteadores através dos quais explicita suas ideias. A característica referente ao duplo movimento da família contemporânea de ser privada e, ao mesmo tempo, pública, é destacada pelo autor, que apreende a família como um espaço no qual os indivíduos acreditam proteger a sua individualidade, ao tempo em que sofrem intervenção do Estado mediante o apoio e a regulação sobre as relações dos seus componentes - como exemplo, refere-se à criação de leis que objetivam limitar o direito da punição paternal. Os argumentos apresentados no desenvolvimento do livro remetem à idéia central de Singly - a família contemporânea se define mais pelas relações internas travadas no cerne familiar e menos como instituição. O ponto em comum existente entre a família antiga e a família moderna, na compreensão do autor, consiste em contribuir para a função da reprodução biológica e sociais da sociedade, e ambas procuram 8 manter e melhorar a posição da família no espaço social de uma geração a outra. O autor, que formula uma abordagem sociológica da percepção decomo se expressam sentimentos e emoções no âmbito da família durante o século XX, destaca a predominância, a partir da segunda metade desse século, de relações menos hierarquizadas, quer entre o casal, quer entre pais e filhos - ambos sob o olhar atento dos agentes do Estado (demógrafos, psicólogos, assistentes sociais e sociólogos). Assinala, todavia, que os conflitos não deixam de existir no contexto familiar. "A dependência da família em relação ao Estado" é o título da Parte I de Sociologia da Família Contemporânea, em que Singly examina detalhadamente as relações travadas entre Estado, escola e família. Nesse sentido, reflete sobre análises de Parsons, contrapondo-se à sua idéia, predominante na sociedade norte-americana nos anos 1950, de que toda responsabilidade assumida pela instituição escolar é retirada da família. Na tentativa de elucidar os elos existentes entre a família e a escola, Singly ratifica algumas concepções de Àries (1981), como aquela de que as preocupações educativas são pilares norteadores da família moderna, e de Bourdieu (1996), ao salientar a predominância do capital escolar nas sociedades contemporâneas. Um esboço da tendência geral dos processos de formação familiar pelas novas gerações é traçado por Singly na segunda parte da obra, ressaltando o desuso da recorrência aos casamentos arranjados e questionando se as alianças são seladas apenas pelo amor e pelo desinteresse. O autor utiliza, então, o conceito de capital cultural formulado por Bourdieu para apreender algumas mediações que tornam possível o amor desinteressado e a defesa dos interesses sociais - o corpo e o caráter revelam os capitais escolares e sociais. Singly demarca que o período contemporâneo se caracteriza pelo maior domínio do destino individual e familiar, devido a um sistema de valores que aprova a autonomia e a recusa dos indivíduos em seguirem costumes referentes ao desempenho dos papéis sociais de marido e esposa, das gerações passadas. Consequentemente, ocorre o duplo movimento - recusar a instituição do casamento e criticar a divisão do trabalho entre os sexos. Menciona, como exemplo, as condições objetivas que permitem o controle desse domínio individual, especialmente as técnicas modernas de controle dos nascimentos. Considera que as transformações da família têm uma grande coerência, embora deem a impressão de certa desordem e de uma incerteza, que poderiam preocupar. Singly destaca que a história da família contemporânea pode ser dividida em dois períodos. Assinala a evidência verificada em todos os meios sociais, durante meio século (1918-1968), do fato de o homem trabalhar fora para ganhar o dinheiro da família e de a mulher ficar em casa para se ocupar, o melhor possível, dos filhos. Essa tipologia familiar é designada, pelo autor, de família moderna 1, ou da primeira modernidade - está centrada no grupo, e os adultos estão a serviço da família e, principalmente, das crianças. A partir dos anos 1960, quando a modernidade na Europa muda de direção e entra no período denominado por Giddens (1991) de "modernidade avançada", a família atribui peso ao processo de individualização. Singly qualifica essa segunda tipologia familiar de família moderna 2. A diversidade das formas familiares e a menor estabilidade da vida conjugal não devem induzir a um diagnóstico errôneo, na elucidação de Singly, que constata, em suas pesquisas, o ideal da vida conjugal para um grande número de pessoas. Contrariamente ao celibato ou à vida solitária, a vida conjugal é mais atrativa, pois assegura a impressão de que não se é somente um personagem público ou um 9 indivíduo que deve viver, sobretudo, segundo a lógica do interesse e das relações de competição que dominam a esfera do trabalho. O triplo movimento da segunda fase da família contemporânea, do ponto de vista das relações entre os sexos, é assinalado por Singly: diminuição sensível da dependência objetiva da mulher, manutenção dos investimentos profissionais e domésticos diferenciados segundo o sexo e fuga dos papéis sexuais que surgiram com o compromisso conjugal. No entender do autor, o movimento de individualização que perpassa as relações conjugais encontra-se inacabado, indicando a permanência das desigualdades do trabalho doméstico, devido à atribuição desse trabalho às mulheres, bem como a exclusão dos homossexuais do casamento. Considera que as sociedades ocidentais não seguem nem seguirão um processo similar de etapas, o que não significa que elas estejam ao largo da modernidade - entendida sob a perspectiva da individualização. Reflete, enfim, que, tal como a modernidade, a família se define por um futuro incerto, pois, embora os entraves e constrangimentos sociais estejam presentes, os indivíduos constroem suas histórias. 2.1.1.1 MULHER, MERCADO DE TRABALHO E AS CONFIGURAÇÕES FAMILIARES DO SECULO XX. Evolução histórica da família Roudinesco (2003), em sua obra A família em desordem, faz uma análise das transformações que a família sofreu desde a antiguidade até a pós-modernidade. Um aspecto importante a ser destacado é o de que nas famílias ditas pós-modernas, o foco primordial não está na forma de organização das famílias e sim no modo pelo qual os seus membros vinculavam-se uns aos outros, de forma que o filho passa a ocupar um ouro espaço no imaginário parental. Relata-a em seus estudos que se pode distinguir a evolução da família em três períodos. Num primeiro momento, a família dita tradicional assentava-se na preocupação com as tradições, com a conservação e ampliação do patrimônio e a transmissão da herança. Os casamentos eram arranjados e a família devia submeter-se à ordem patriarcal. Em momento posterior, caracteriza-se a família moderna e prevalece a lógica afetiva; assim, a união do casal funda-se no amor romântico. Valoriza-se a reciprocidade de sentimentos e os desejos carnais por intermédio do casamento. Da mesma forma, a divisão de tarefas e responsabilidades deve ser partilhada pelo casal. No que diz respeito à educação dos filhos, o Estado devia responsabilizar-se. No século XX, por volta de 1960, surge, por fim, a família contemporânea ou dita pós-moderna, em que os vínculos fundamentam-se no amor e no prazer e cuja duração é relativa, ou seja, os vínculos duram enquanto durar o amor e o prazer. Consequentemente, a transmissão das responsabilidades, valores e da autoridade torna-se complicada. Na medida em que as separações e os divórcios acontecem, abrem-se possibilidades para novas composições familiares. Em função dessas mudanças na organização familiar, outros arranjos entre os seus membros acontecem. Anteriormente a figura paterna era imposta e assemelhada a Deus e o seu papel jamais era contestado. Com o transcorrer dos tempos, essa autoridade perde força, surgindo um pai afetuoso e tolerante, representado pela compaixão. Por meio deste sentimento, a posição de autoridade do Deus pai é 10 diluída e complementada por outras instâncias como o Estado e a Nação, abrindo-se assim espaço para a figura do feminino. No início do século XIX, com a revolução burguesa, o pai não se configura mais como um Deus soberano. Fragilizado pela perda de poder da Igreja para o Estado, o pai recupera em parte sua autoridade estabelecendo-se como figura de referência por meio da economia gerada pelos empreendimentos industriais. Nessa época, constitui-se a família econômica burguesa que tem como princípio a liderança do marido, a subordinação das mulheres e a dependência dos filhos. Contudo, o poder paterno não é mais uma autoridade despótica e divina, mas é um pai justo e submisso às leis; e o seu poder é mediado pelo Estado que, por meio das leis, estabelece a vida familiar como um contrato livremente consentido entre o homem e a mulher. O casamento deixa de ser algo divino para ser um acordo consensual,ou seja, o casal permanecerá junto enquanto durar o amor. Com o aumento dos casos de divórcio, o casamento perde a sua força simbólica e já não é mais algo indissolúvel. Surge o conceito de família recomposta: no lugar da família sacramentada e divina surge a família pautada nos laços afetivos da relação entre homem e mulher. Dentro dessa nova configuração, os filhos poderiam vir a conviver sob o mesmo teto com seus meio-irmãos, ora vivendo com um único pai ou mãe, ora filhos dos dois cônjuges convivendo na mesma casa. Esses filhos “bastardos” mais tarde seriam considerados “normais” e integrados à nova ordem de uma família recomposta. Assim, na França surge a expressão “família monoparental”, que serviu para designar um modelo de família constituído apenas pela figura feminina, que, sendo designada “mãe solteira”, era antigamente concebida como transgressora dos bons costumes e das normas por não cumprir sua obrigação de procriar apenas no casamento. Sendo assim, essas mulheres não são bem vistas ou aceitas aos olhos da sociedade; já poderia desfrutar do prazer sexual sem que houvesse finalidade procriativa e sem incorrer no risco de ser julgada moralmente por ter um prazer diferente daquele proporcionado pela maternidade. Dessas mudanças no comportamento de homens e mulheres impõe-se uma nova conceitualização de família: [...] de agora em diante esta não será mais vista apenas como uma estrutura de parentesco que restaura a autoridade derrotada do pai, ou sintetizando a passagem da natureza à cultura através dos interditos e das - 4 - Revista Vozes dos Vales da UFVJM: Publicações Acadêmicas – MG – Brasil – Nº 02 – Ano I – 10/2012 Reg.: 120.2.095–2011 – PROEXC/UFVJM – ISSN: 2238-6424 – www.ufvjm.edu.br/vozes Funções simbólicas, mas como um lugar de poder descentralizado e de múltiplas aparências. Em lugar de uma definição de uma essência espiritual, biológica ou antropológica de família, fundada no gênero e no sexo ou nas leis de parentesco, e em lugar daquela existencial, induzida pelo mito edipiano, foi instituída outra, horizontal e múltipla, inventada pelo individualismo moderno (...) esta família se assemelha a uma tribo insólita, a uma rede assexuada, fraterna, sem hierarquia nem autoridade, e na qual cada um se sente autônomo ou funcionalizado. (ROUDINESCO, 2003, p. 155). 11 3 CONCLUSÃO Em virtude dos fatos mencionados entende-se que o tema abordado neste trabalho esta no cotidiano atual do mundo, mostrando que a família tem evoluído ao longo dessas décadas. Concluindo que a divisão social do trabalho tem diversos papeis na sociedade civilizada e desenvolvida, a família na contemporaneidade mostra as mudanças conquistadas entre os sexos e as gerações, mais com o mesmo objetivo de construir a sua historia no mundo moderno, a mulher no mercado de trabalho e a conciliação com a família sempre buscando o seu valor. Não deixando os seus compromissos familiares e seu lado feminino, romântico, cuidadosa com seus filhos, marido e família. Assim conclui-se que a mulher tem um papel muito importante na sociedade com direitos e poderes iguais aos homens. 12 REFERÊNCIAS TRONCOSO, Eugenia L. (1998), Renda familiar e trabalho da mulher na Região Metropolitana de São Paulo nos anos 80 e 90. Trabalho apresentado ao seminário Trabalho e gênero: mudanças, permanências e desafios, Campinas. PACHECO, Carlos A. et al. (1993), A dinâmica industrial e financeira na especialização das regiões. Instituto de Economia, Unicamp, mimeo. MARX, Karl. O Capital: crítica da economia política. 22ª ed., Rio de Janeiro: Civilização. Brasileira, 2004. (2 volumes) BRAVEMAN, Harry. Trabalho e Capital Monopolista: A Degradação do Trabalho no Século XX. 5ª ed, Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1980. BOTTOMORE, Tom (org.). Dicionário do Pensamento Marxista. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1983. QUINTANEIRO, Tânia. BARBOSA, Maria Ligia de O. OLIVEIRA, Márcia Gardênia de. Um toque de clássicos: Marx, Dürkheim e Weber. 2ª ed. Ver. Amp., Belo Horizonte: Editora UFMG, 2002. ARAÚJO, Maria F. Família igualitária ou democrática? As transformações atuais da família no Brasil. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Dissertação (Mestrado), 1993. ANGEL, Ah, quelle famille! Paris: Robert Laffont, 2003. Revista Vozes dos Vales da UFVJM: Publicações Acadêmicas – MG – Brasil – Nº 02 – Ano I – 10/2012 Reg.: 120.2.095–2011 – PROEXC/UFVJM – ISSN: 2238-6424 – www.ufvjm.edu.br/vozes http://www.humbertodalla.pro.br/artigos.htm. Acesso em 01/07/2012. http://www.aninter.com.br/ANAIS%20I%20CONITER/GT17%20Estudos%20de%20fa m+%A1lia%20e%20gera+%BA+%C1es/%D4%C7%A3AS%20RELA+%E7+%F2ES %20FAMILIARES%20NA%20CONTEMPORANEIDADE%20CONFLITOS%20E%20 SOLU+%E7+%F2ES%D4%C7%D8%20-%20Trabalho%20completo.pdf
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