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Resenha - LARAIA, Roque de Barros. Cultura um Conceito Antropológico. 14 Ed. Rio de Janeiro; Jorge Zahar, 2001.

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LARAIA, Roque de Barros. Cultura um Conceito Antropológico. 14 Ed. Rio de Janeiro; 
Jorge Zahar, 2001. 
Este livro aborda o conceito antropológico de cultura, tema que é discutido desde os 
primórdios até hoje, onde muitos sociólogos tentaram explicar e conciliar a unidade biológica 
e a grande diversidade cultural da espécie humana. 
Redigido em quatro capítulos que se relacionam como aparato para o desenvolvimento do 
conhecimento sobre o conceito antropológico da cultura, o livro está divido em duas partes: a 
primeira, que se refere ao desenvolvimento do conceito de cultura a partir das manifestações 
iluministas até os autores modernos; a segunda parte procura demonstrar como a cultura 
influencia o comportamento social e diversifica enormemente a humanidade, apesar de sua 
comprovada unidade biológica. 
Inicialmente são apresentados na obra os primeiros pensadores que tentaram explicar o 
conceito de cultura, se preocupando com a diversidade de modos de comportamento 
existente entre os diferentes povos. Confúcio, um dos primeiros pensadores, é citado por 
enunciar que “A natureza dos homens é a mesma, são os seus hábitos que os mantêm 
separados”, os demais autores tiveram suas teorias baseadas em suas experiências com outros 
povos, como Heródito baseado pelo sistema social dos lícios; Tácidos sobre as tribos 
germânicas; Marco Polo sobre os tártaros; padre José de Anchieta sobre os índios tupinambá; 
Montaigne sobre os tupinambá; levando alguns a destacar o clima regional como influencia 
para diferentes comportamentos, entretanto, apesar dessas tentativas, a obra trás a tona 
exemplos que servem para mostrar que as diferenças de comportamento entre os homens 
não podem ser explicadas através das diversidades sematológicas ou mesológicas. 
Para refutar alguns conceitos, o primeiro capítulo da obra focaliza no determinismo biológico, 
um conceito antigo que atribui a capacidades específicas inatas a “raças” ou a outros grupos 
humanos, que logo é contestada, pois é de consenso dos antropólogos que as diferenças 
genéticas não são determinantes das diferenças culturais, baseando-se na teoria de Felix 
Keesing, que enuncia que “não existe correlação significativa entre a distribuição dos 
caracteres genéticos e a distribuição dos comportamentos culturais. Qualquer criança humana 
normal pode ser educada em qualquer cultura, se for colocada desde o inicio em situação 
conveniente de aprendizado”, sendo este um processo que é chamado de endoculturação. 
O segundo capítulo já aborda o determinismo geográfico, que ganhou grande popularidade no 
final do século XIX e no inicio do século XX, os geógrafos levantaram a tese de que as 
diferenças do ambiente físico condicionam a diversidade cultural, no entanto, os antropólogos 
logo denegam esta tese no segundo capítulo do livro, demostrando que existe uma limitação 
na influência geográfica sobre os fatores culturais, um dos exemplos clássicos que refutam 
essa ideia é o dos esquimós x lapões, diversas tribos indígenas, entre outros, onde mesmo 
estando em ambientes semelhantes tem sua cultura diversificada, não podendo então ser 
explicada a diversidade cultural em termos das limitações que lhes são impostas pelo seu 
aparato biológico ou pelo seu meio ambiente. 
Voltando-se para a história do conceito de cultura, o terceiro capítulo cita diversos 
acontecimentos históricos que influenciaram na criação deste conceito, sendo formalizado por 
Edwar Tylor que “tomado em seu amplo sentido etnográfico é este todo complexo que inclui 
conhecimentos, crenças, artes, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hábitos 
adquiridos pelos homens como membro de uma sociedade”, abrangendo diversas ideias que 
já vinha crescendo na mente humana, sendo citado na obra o conceito de Locke, Marcin 
Harres e Jacques Turgot. Por fim, Tylor definiu como sendo todo o comportamento aprendido, 
tudo aquilo que independe de uma transmissão genética, como diríamos hoje. Completando a 
definição por Kroeber, que representou o afastamento crescente desses dois domínios, o 
cultural e o natural. Contudo, sobre este assunto, a obra segue apenas os procedimentos 
básicos da elaboração de diversidade de fragmentos teóricos. 
No ultimo capitulo, seguindo da historia do conceito de cultura, ele desenvolve este conceito, 
voltando-se a Tylor, que procurou demonstrar que cultura pode ser objeto de um estudo 
sistemático, pois se trata de um fenômeno natural que possui causas e regularidades, 
permitindo um estudo objetivo e uma análise capaz de proporcionar a formulação de leis 
sobre o processo cultural e a evolução. Além de preocupar-se com a diversidade cultural, Tylor 
a seu modo preocupa-se com a igualdade existente na humanidade. A diversidade é explicada 
por ele como o resultado da desigualdade de estágio existente no processo de evolução. Assim 
a antropologia deveria estabelecer uma escala de civilização. Decorrente disto, a obra reflete 
que esperava-se que a sociedade percorresse etapas que já tinham sido percorridas pelas mais 
avançadas, todavia, destaca que Tylor esqueceu-se do relativismo cultura, que fora abordado 
por Stocking e reforçado por Boas que desenvolveu o particularismo histórico, segundo a qual 
cada cultura segue os seus próprios caminhos em função dos diferentes eventos históricos que 
enfrentou. 
Discorrendo, a obra afirma que com a cultura o homem passou a se diferenciar do mundo 
animal, passando a ser superior a ele, pois esta acima de suas limitações. O homem é 
resultado do meio cultural em que foi socializado, que reflete o conhecimento e a experiência 
adquirida pelas numerosas gerações que o antecederam. A manipulação adequada e criativa 
desse patrimônio cultural permite as inovações e as invenções. Estas não são, pois, o produto 
da ação isolada de um gênio, mas o resultado do esforço de toda uma comunidade. 
A obra arremata que a comunicação é um processo cultural. Mais explicitamente, a linguagem 
humana é um produto da cultura, mas não existiria cultura se o homem não tivesse a 
possibilidade de desenvolver um sistema articulado de comunicação oral. 
Dada à premissa, são evidentes os pontos defendidos pelo autor, com argumentos coerentes 
que facilita o entendimento do seu raciocínio, no entanto, algumas partes ainda intrigam e 
instigam a dissertar ou contrapor a ideia. 
Iniciando por partes, no primeiro capitulo da obra o autor discorre sobre o determinismo 
biológico, em que a influencia educação (ou seja, o meio em que o individuo se encontra) 
forma o seu caráter, sendo, juntamente com os outros sociólogos, contra tal enunciado, 
contraposição esta que pode ser compartilhada veemente, contudo, a parte intrigante é o 
seguinte argumento utilizado: “A verificação de qualquer sistema de divisão sexual do trabalho 
mostra que ele é determinado culturalmente e não em função de uma racionalidade biológica 
(...). Mesmo as diferenças determinadas pelo aparelho reprodutor humano determinam 
diferentes manifestações culturais. Margareth Mead mostra que até a amamentação pode ser 
transferida a um marido moderno por meio da mamadeira (...)”, em partes, essa premissa é de 
cunho real, porém da a entender que homens e mulheres estão em mesmo patamar. De certa 
forma se igualam, em quesito de raciocínio, poder hierárquico, capacitação em diversas 
funções, no entanto, quando parte do porte físico, segundo a anatomia, dois indivíduos de 
sexo diferente postos em mesmas condições físicas, predomina-se o sexo masculino, devido a 
sua estrutura biológica. Apesar dos aparatos criados para igualar os gêneros, utilizando da 
evolução tecnológica como processo evolutivo sem necessidade de submeter-se a 
modificações biológicas radicais (como menciona o capitulo 4 – Odesenvolvimento do 
conceito de cultura), não podemos ignorar a diferença entre ambos, principalmente se 
tratando de força física, mas este é só um detalhe a ser ressaltado, visto que o restante da tese 
levantada pode ser utilizada em diversos exemplos atuais. 
Prosseguindo no raciocínio do primeiro capitulo, reforçando a tese da educação como 
influencia da cultura, voltando-a a criminalidade, a de se pensar que cada individuo é 
influenciado pelo meio ambiente em que vive, uma vez que devido a sua educação ou 
condição, ele acaba por optar em seguir as oportunidades que lhes acham conveniente, isso se 
aplicando até mesmo a sociopatas e psicopatas. No Behaviorismo, que é o conjunto das teorias 
psicológicas que postulam o comportamento como o mais adequado objeto de estudo da 
psicologia, tem um fundamento semelhante, pois afirma que todo o comportamento do 
individuo é baseado em suas experiências, de modo que tudo que ele vive define o que ele é, 
com isso, a teoria de John B. Watson, o considerado pai do Behaviorismo, crê ser possível 
prever e controlar toda conduta humana, com base no estudo do meio em que o individuo 
vive, assim, qualquer modificação orgânica resultante de um estímulo do meio-ambiente pode 
provocar as manifestações do comportamento. Concordando com tais teses, pode-se deduzir 
que o individuo é aquilo que capta da sociedade, pois ele nasce sem caráter e sem consciência 
e adquire as mesmas por meio da existência. Em vista disto é possível afirmar que a sociedade 
pode moldar-se a si mesma e se priorizar a educação cultural local pode até mesmo extinguir a 
criminalidade, pois a raiz de tal problema não encontra-se em criminosos já existentes, que 
quando eliminados do meio tem seus sucessores tornando assim em um circulo vicioso, mas se 
voltarmos para o lado psicológico de cada individuo, poderemos finalizar este processo e criar 
uma sociedade harmonizada. 
Apesar de a teoria ser um tanto utópica, todavia que a sociedade já esta impregnada de uma 
cultura não fácil de dissipar, a premissa é um fato que se colocado em pratica seria bem 
aproveitado. 
Em sua contraposição sobre o determinismo geográfico, à de se concordar com os seus 
argumentos, visto que esta teoria torna-se muito física, limitada e pouco estruturada, sem 
base psicológica ou cientifica para o sustento da mesma, tão pouco uma base geográfica para 
tal, pois com a globalização cada vez mais expandida, tem-se uma noção da realidade vivida 
por diversas regiões e climas, quebrando e tornando extremamente pobre esta premissa, não 
deixando duvidas de sua inexatidão. 
A tese de Tylor sobre a evolução da sociedade ainda é empregada por alguns pensadores 
atuais, utilizando como esperança para países menos desenvolvidos em comparação a 
sociedades antigas que tem um avanço considerável, entretanto, a logica esta ao lado de 
Stocking, que ao discordar de Tylor quebra todas as estruturas associativas com a relatividade 
cultural, não sendo possível prever evoluções, ainda mais quando a cultura em uma única 
sociedade não é harmonizada e dinâmica entre si. 
A cultura, portanto, é de fato a base de toda a nossa vivencia e convivência e primordial para 
sociologia e antropologia e nosso senso de pensamento critico, pois molda um individuo como 
um todo e até nossas ações são consequência dela, até mesmo os pensamentos formulados 
por cada autor mencionado na obra, ou do próprio autor, ou até mesmo do autor que vos 
escreveu esta resenha, tem seus princípios na cultura vivenciada. 
É possível afirmar que esta obra introduziu o leitor ao conceito antropológico de cultura, 
destinado principalmente a um publico que se inicia no tema, com uma linguagem bastante 
clara e simples, facilitando a compreensão do assunto exposto. 
Roque Laraiaé um antropólogo brasileiro, bacharel em historia, pesquisador de diversos 
campos indígenas e experiências culturais com diferentes temas antropológicos como docente 
da Universidade de Brasília, autor de diversas obras como Índios e castanheiros; Tupi, índios 
do Brasil atual; e Los índios de Brasil. 
Gleiciany da Silva de Freitas acadêmica do curso de Enfermagem da Faculdade para o 
Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (FADESA).

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