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1 2017 Prof. Drª. Michelle Traete Sabundjian AGRONOMIA - FAIT 06/02/2017 Bioquímica 1 Sumário Plano de Ensino ....................................................................................................................................... 2 1 Bioquímica dos aminoácidos, peptídeos e proteínas ....................................................................... 4 1.1 Aminoácidos................................................................................................................ 4 1.2 Peptídeos ..................................................................................................................... 7 1.3 Proteínas ...................................................................................................................... 8 2 Bioquímica dos carboidratos ......................................................................................................... 14 2.1 Características dos carboidratos ................................................................................ 14 2.2 Classificação dos carboidratos .................................................................................. 14 3 Bioquímica dos lipídeos ................................................................................................................ 20 3.1 Formas encontradas nos seres vivos .......................................................................... 20 3.2 Principais funções ..................................................................................................... 23 3.3 Substâncias lipofílicas – óleos e lipídeos em produtos cosméticos ........................... 24 4 Metabolismo e Bioenergética ........................................................................................................ 27 4.1 Mitocôndria ............................................................................................................... 27 4.2 Metabolismo .............................................................................................................. 27 4.3 Bioenergética e Termodinâmica ................................................................................ 31 4.4 Cadeia respiratória ou transportadora de elétrons ..................................................... 36 4.5 Equilíbrio energético ................................................................................................. 40 5 Introdução à enzimologia .............................................................................................................. 42 5.1 Conceitos gerais e funções das enzimas .................................................................... 42 5.2 Nomenclatura das enzimas ........................................................................................ 42 5.3 Classificação das enzimas ......................................................................................... 43 5.4 Cofatores enzimáticos e Coenzimas .......................................................................... 45 5.5 Especificidade Substrato-Enzima e o Sítio ativo....................................................... 45 5.6 Cinética enzimática ................................................................................................... 46 5.7 Os fatores externos que influenciam a velocidade de uma reação enzimática. ......... 47 5.8 Inibição enzimática ................................................................................................... 47 5.9 Regulação enzimática ................................................................................................ 47 5.10 Enzimas em cosméticos ............................................................................................ 49 Bioquímica Prof. Drª. Michelle Traete Sabundjian 2 Plano de Ensino Caracterização do componente curricular Componente curricular: Bioquímica Curso: Agronomia Carga horária específica: 40h/a Docente responsável: Michelle Traete Sabundjian Semestre/ano: 1°-2017 Objetivos. Proporcionar ao discente o conhecimento dos principais sistemas bioquímicos. Ementa. Química dos aminoácidos e proteínas. Química dos carboidratos. Enzimas. Bioenergética. Metabolismo dos carboidratos. Química dos lipídeos. Metabolismo das proteínas. Metabolismo dos lipídeos. Ácidos nucléicos. Interação do metabolismo. Eletroforese e espectrofotometria. Conteúdo Programático H/aula 1. Bioquímica dos Aminoácidos, Peptídeos e Proteínas Aminoácidos: estrutura e propriedades, doenças relacionadas com falta e/ou excesso de aminoácidos. Peptídeos e Proteínas: estrutura e funções. Biossíntese de proteínas. 2. Bioquímica dos Carboidratos Carboidratos: estrutura e propriedades. Classificação. Digestão e absorção. Glicólise e outros destinos metabólicos. Síntese e degradação de glicogênio. Regulação glicêmica. Doenças relacionadas com o metabolismo de carboidratos. 3. Bioquímica dos Lipídeos Lipídeos: estrutura, classificação e propriedades. Estudo da membrana celular e outros sistemas lipídicos. Mecanismos da estocagem de energia, transporte e viabilidade lipídica em sistemas aquosos. Relação entre as prostaglandinas e o mecanismo de inflamação e dor. Doenças relacionadas com acúmulo de lipídeos e transporte através da membrana celular. 4. Introdução a enzimologia Enzimas: classificação e cinética. Coenzimas e vitaminas. Modulação de atividades enzimáticas: inibição, ativação, repressão e indução. 5. Bioenergética e Metabolisno Bioenergética e Termodinâmica: oxidação biológica e ciclo de Krebs. Transporte de elétrons e Fosforilação oxidativa. 6. Eletroforese e Espectrofotometria Fundamentos 06 06 06 08 08 06 Estratégias, Recursos humanos e materiais. Estratégia: Aulas expositivas, palestras, avaliações dissertativas e de múltipla escolha, e seminários. Recursos humanos: professora e palestrantes. Material: Data show; Lousa; Livros, Apostila e textos/artigos/publicações. Instrumentos de Avaliação (embasado no Sistema de Avaliação da FAIT). Será aprovado, com direito ao aproveitamento dos créditos correspondentes, o discente que obtiver nota final igual ou superior a seis e tenha, no mínimo, 75% de frequência, do total da carga horária do componente curricular. Participação nas atividades didáticas (exercícios e atividades propostas em sala de aula); Avaliações individuais; Trabalhos; Seminários; e Recuperação. As provas terão atribuição numa escala de zero (0) a dez (10,0). A média das notas das provas (MProvas) terá seu valor multiplicado por 0,8. Onde, P1, P2 e Pn são, respectivamente, notas das provas 1, 2, n. Outras atividades propostas terão seus valores computados nos moldes da equação abaixo. A média das notas (MAtividades) será multiplicada por 0,2. Onde, A1, A2 e An são, respectivamente, notas das atividades 1, 2, n. Para a aprovação, a somatória entre a MProvas e MAtividades deverá atingir a média seis (7,0) Ao aluno que não atingir o acima exposto, é oferecida a oportunidade de prestar uma prova de recuperação, contemplando todo o conteúdo desenvolvido no semestre, com notas atribuídas numa escala de zero (0) a dez (10,0), com média mínima para aprovação seis (7,0) e esta nota substituirá a menor nota de prova no semestre. Bibliografia Bibliografia Básica LEHNINGER, A.L.; NELSON, D.L.; COX, M.M. Princípios de bioquímica. 2. ed. SP: Sarvier, 1995. 839 p. MORAN, L. A. et al. Bioquímica. 5. ed. São Paulo: PEARSON EDUCATION DO BRASIL, 2013. 798 p. ISBN 8581431267. VOET, D.; VOET, J.G.; PRATT, C.W. Fundamentos de bioquímica. Porto Alegre, RS: Artmed, 2002. Bibliografia ComplementarBEHE, M.J. A caixa preta de Darwin: o desafio da bioquímica à teoria da evolução . Rio de Janeiro: Zahar, 1997. 300 p. (Ciência e Cultura) ISBN 8571104123 CAMPBELL, M.K. Bioquímica. Porto Alegre: Artmed, 2000. xxiii, 752 p. ISBN 9788573076769 CAMPBELL, M.K.; FARRELL, S. O. Bioquímica. São Paulo: Thomson Learning, 2007. 2 v. ISBN 8522105243 HARVEY, R.A.; HARVEY, R.A.; FERRIER, D.R. Bioquímica ilustrada. Porto Alegre: Artmed, 2012. 520 p. ISBN 9788536326252STRYER, Lubert. Bioquímica. 5.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000. MARZZOCO, A.; TORRES, B.B. Bioquímica básica. 2. ed. RJ: Guanabara, 1999. 360 p. Aprovado pelo colegiado do curso de Agronomia. Bioquímica Profa. Dra. Michelle Traete Sabundjian 3 A bioquímica, segundo Motta [1,2], estuda as estruturas moleculares, os mecanismos e os processos químicos responsáveis pela vida. Os organismos vivos continuamente efetuam atividades que permitem a sua sobrevivência, crescimento e reprodução. Para realizar as suas funções, os seres vivos dependem da capacidade de obter, transformar, armazenar e utilizar energia. Sem energia ocorre a perda da vitalidade e a morte celular. A maioria dos constituintes moleculares apresenta formas tridimensionais que executam inúmeras reações químicas entre si para manter e perpetuar a vida. Em bioquímica, a estrutura, a organização e as atividades potenciais dessas moléculas são examinadas na tentativa de elucidar que aspectos promovem as indispensáveis contribuições à manutenção da vida. Os organismos vivos são estruturalmente complexos e diversificados. Todavia, muitas características são comuns a todos eles. Todos fazem uso das mesmas espécies de moléculas e extraem a energia do meio ambiente para as suas funções. Quando as moléculas que compõem os seres vivos são isoladas, estão sujeitas a todas as leis da química e da física que regem o universo não vivo. Apesar da grande diversidade dos processos bioquímicos que envolvem a integração funcional de milhões de moléculas para manter e perpetuar a vida, a ordem biológica é conservada por vários processos: (i) síntese de biomoléculas, (ii) transporte de íons e moléculas através das membranas biológicas, (iii) produção de energia e movimento e (iv) remoção de produtos metabólicos de excreção e substâncias tóxicas. A quase totalidade das reações químicas que ocorre nos seres vivos é catalisada por enzimas – proteínas com funções catalíticas. As reações celulares, conhecidas coletivamente como metabolismo, resultam de atividades altamente coordenadas. Os tipos mais comuns de reações encontradas nos processos bioquímicos são: (i) substituição nucleófila, (ii) eliminação, (iii) adição, (iv) isomerização e (v) oxidação e redução. Os seres vivos são formados por uma grande variedade de moléculas, tais como: carboidratos, lipídeos, proteínas, ácidos nucléicos e compostos relacionados. Além dessas, outras substâncias estão presentes em pequenas quantidades: vitaminas, sais minerais, hormônios, etc. Muitos desses compostos se caracterizam por um ou mais grupos ácidos ou básicos em suas moléculas e ocorrem em solução aquosa como espécies ionizadas. A ionização tem lugar em água, sendo este um pré-requisito para muitas reações bioquímicas. O grau de dissociação ou a extensão da ionização de um grupo químico em particular e, portanto, a reatividade bioquímica da molécula, é amplamente influenciada pela concentração do íon hidrogênio da solução. Isto é aplicável tanto para as vias metabólicas, como também para os catalisadores biológicos (enzimas), que controlam as reações celulares. Segundo Motta (2011) “os organismos vivos são compostos por milhares de moléculas inorgânicas e orgânicas diferentes. Contêm cerca de 27 elementos químicos. O número real depende do tipo de célula e a espécie de organismo. Acima de 99% da massa da maioria das células, são compostas por oito elementos denominados elementos principais. Os outros constituintes são elementos secundários (Tabela 1). A grande maioria dos constituintes moleculares dos sistemas vivos contém carbonos ligados covalentemente a outros carbonos e a átomos de hidrogênio, oxigênio e nitrogênio” [2]. Tabela 1: Elementos encontrados nas células. Elementos principais Oligoelementos Elemento Símbolo Elemento Símbolo Carbono C Arsênico As Hidrogênio H Boro B Nitrogênio N Cloro Cl Oxigênio O Cromo Cr Fósforo P Fluor F Enxofre S Iodo I Cálcio Ca Ferro Fe Potássio K Magnésio Mg Manganês Mn Molibdênio Mo Níquel Ni Selênio Se Silicônio Si Sódio Na Estanho Sn Vanádio V Zinco Zn Fonte: Motta (2011). Diferentes tipos de grupos funcionais são ligados às estruturas carbônicas, e estes grupos funcionais determinam as propriedades químicas das moléculas orgânicas. As biomoléculas (proteínas, polissacarídeos, ácidos nucléicos e lipídeos) também têm formas características em três dimensões. Muitas das biomoléculas ocorrem em formas assimétricas, ou quirais, chamadas de enantiômeros e estereoisômeros, as quais são imagens especulares e que não se sobrepõem umas às outras. Usualmente, apenas um dos enantiômeros do par tem atividade biológica [2]. Bioquímica Prof. Drª. Michelle Traete Sabundjian 4 De modo simplificado, consideram-se as moléculas biológicas como esqueletos de átomos de carbono ligados covalentemente entre si para formar cadeias longas, lineares ou ramificadas ou, ainda, estruturas cíclicas. Os átomos de hidrogênio que estão ligados aos átomos de carbono podem ser substituídos por N, O e S para formar uma grande variedade de grupos funcionais, tais como: aminas, aldeídos, álcoois e sulfidrilas. Isso confere uma grande variedade de propriedades químicas específicas encontradas nas moléculas e que determinam as suas funções biológicas específicas. As moléculas biológicas muitas vezes contêm mais que um grupo funcional e são denominadas polifuncionais. Por exemplo, os aminoácidos contêm grupos aminos e grupos carboxílicos. As quatro principais classes de moléculas biológicas são: 1. Proteínas ou polipeptídeos. São longos polímeros formados por vinte diferentes aminoácidos. Apresentam elevada massa molecular que variam de centenas a milhões de daltons. Atuam como elementos estruturais, catalisadores (enzimas), anticorpos, transportadores, hormônios, reguladores gênicos, toxinas, etc. 2. Carboidratos. São polímeros de açúcares simples, como a glicose, com elevadas massas moleculares. Liberam e armazenam energia e também são elementos estruturais extracelulares. 3. Lipídeos. São formados por moléculas relativamente pequenas (ao redor de 300-1.500 D) que podem se associar para constituir grandes moléculas que servem, principalmente, como componentes estruturais das membranas, como forma de armazenamento de energia e outras funções (hormônios esteróides, vitaminas, proteção, material isolante). 4. Ácidos nucléicos (DNA e RNA). São polímeros formados por nucleotídeos. Armazenam, transmitem e transcrevem a informação genética. São componentes das organelas celulares. 1 Bioquímica dos aminoácidos, peptídeos e proteínas As proteínas são as biomoléculas mais abundantes nos seres vivos e exercem funções fundamentais em todos os processos biológicos. São polímeros formados por unidades monoméricas chamadas α - aminoácidos, unidos entre si por ligações peptídicas. As proteínas são constituídas de 20 aminoácidos-padrãodiferentes reunidos em combinações praticamente infinitas, possibilitando a formação de milhões de estruturas diversas. 1.1 Aminoácidos A análise de um grande número de proteínas de quase todas as fontes conhecidas mostrou que todas elas são compostas por 20 aminoácidos- padrão (Tabela 4). Nem todas as proteínas contêm todos os 20 tipos de aminoácidos, mas a maior parte das proteínas contém a maioria deles, se não todos [2,3,4]. Figura 1: Estrutura geral de um α-aminoácido. Os grupos R diferenciam os 20 aminoácidos-padrão. 1.1.1 Estrutura dos Aminoácidos Os aminoácidos comuns são conhecidos como α- aminoácidos (Figura 1) porque possuem um grupo amino primário (―NH2) ligado ao carbono α, que é o carbono próximo ao grupo carboxílico (―COOH). A única exceção é a prolina, que possui um grupo amino secundário (―NH―); todavia, por uma questão de uniformidade, iremos referir-nos a ela como um α- aminoácido. 1.1.2 Propriedades gerais Os aminoácidos (aa) podem agir como ácido ou como base, isto se deve ao fato de serem moléculas que carregam grupos de polaridade oposta, sendo conhecidos como zwitteríons ou íons dipolares [3]. 1.1.3 Reações dos aminoácidos Os aminoácidos com seus grupos carboxílicos, grupos amino primários e os grupos presentes nas cadeias laterais podem sofrer diferentes reações químicas. Duas reações – ligação peptídica e a oxidação da cisteína – são de especial interesse por afetar a estrutura das proteínas [2]. 1.1.3.1 Ligação peptídica Os aminoácidos podem ser polimerizados para formar cadeias, pela reação de condensação (formação de uma ligação e eliminação de molécula de água) ou desidratação. O grupo amino (de um aminoácido) somado ao grupo carboxila (de outro aminoácido) resulta em ligação CO―NH (amida resultante) e H2O, sendo conhecida como ligação peptídica (Figura 2). Bioquímica Prof. Drª. Michelle Traete Sabundjian 5 Os polímeros compostos por dois aminoácidos são dipeptídeos, por três aminoácidos são tripeptídeos, por 11-100 aminoácidos são oligopeptídeos, e por mais que 100 aminoácidos são polipeptídeos. Figura 2: Formação de ligação peptídica. 1.1.3.2 Oxidação da cisteína O grupo sulfidrílico da cisteína é reversivelmente oxidado. A oxidação de duas moléculas de cisteína produz a cistina uma molécula que contém uma ponte dissulfeto. A síntese da cistina é realizada após a incorporação da cisteína às proteínas e exerce importante papel na estabilização da conformação proteica. A ligação covalente pode ocorrer entre cisteínas de uma única cadeia polipeptídica formando um anel ou entre cadeias separadas para formar pontes intermoleculares. [2] O resultado do ácido “duplo” amino é chamado de cistina (Figura 3). A formação da ligação enxofre- enxofre (S-S) envolve a remoção de dois átomos de hidrogênio e por isso é um processo de oxidação e requer um agente oxidante. As ligações S-S são ligações covalentes relativamente fracas (energia de ligação 266 kJ mol -1 comparados com 347 kJ mol -1 para a C-C e 413 kJ mol -1 para C-H). No entanto, as ligações S- S são muito mais fortes do que as ligações de hidrogênio e pode contribuir significativamente para a realização das estruturas secundária e terciária de proteínas. Figura 3: Reação de oxidação e redução da cistina na formação e quebra de pontes dissulfeto na molécula de proteína. A queratina do cabelo tem um número elevado de cisteína em sua estrutura e as ligações de S-S são altamente significativas. Assim, a chave para a ação química está em quebrar as ligações de S-S, utilizando um agente de redução adequado. Um exemplo de reagente é o ácido tioglicólico (Figura 4). Ácido tioglicólico é um reagente usado para quebrar as ligações S-S em cistina e usado em uma solução alcalina, ou seja, usado em valor de pH alto. Figura 4: Processo de separação de pontes de enxofre realizado por ácido tioglicólico. O pH alcalino enfraquece o cabelo, deixando-o ressecado. Foi demostrado que 63% de ligações S- S tinham sido quebradas após 30 min de imersão em solução de tioglicolato de amônio (pH 7,5). Quanto mais alcalino o meio (solução), mais pontes de enxofre são rompidas. Tabela 2: Taxas relativas de reação de tioglicolato de amônio no cabelo com valores de pH. Valor de pH Taxa de reação 8,0 1,0 9,0 3,0 9,4 4,9 9,5 4,1 Os tioglicolatos são formados pela mistura do ácido tioglicólico, com um composto alcalino. Os compostos alcalinos mais utilizados são: Hidróxido de amônio + Ácido tioglicolico = TIOGLICOLATO DE AMONIA; Etanolamidas + Ácido tioglicólico = TIOGLICOLATO DE ETANOLAMINA; e Arginina + Ácido tioglicolico = TIOGLICOLATO DE ARGININA. 1.1.4 Classificação dos α- aminoácido Classificação pela polaridade das suas cadeias laterais: Com grupos R apolares; Com grupos R polares não carregados ou neutros; e Com grupos R polares carregados (Tabela 4). Classificação pela fonte de obtenção: Aminoácidos naturais: Também chamados de aa não essenciais, são produzidos pelo próprio organismo. O organismo animal é capaz de produzir apenas 12 dos 20 aa existentes na natureza, devendo os demais aa ser retirados da alimentação. Em contrapartida, os vegetais são capazes de produzir os 20 aa, isto não quer dizer que todo vegetal produza os 20 aa, mas que diferentes vegetais em conjunto podem fornecê-los. Bioquímica Prof. Drª. Michelle Traete Sabundjian 6 Aminoácidos essenciais: São os aa que os animais não conseguem produzir, mas são obrigatórios na fabricação das proteínas, portanto devem ser retirados dos alimentos. Nem todos os alimentos contêm todos os aa (Tabela 3), por isso a alimentação deve ser bastante diversificada. Os alimentos mais ricos em aa essenciais são de origem animal: carne, ovos, leite, queijos, entre outros. Os vegetais não possuem todos os aa essenciais, logo uma dieta vegetariana precisa ser bem diversificada [5]. Tabela 3: Lista de aminoácidos naturais e essenciais. Naturais ou Não-essenciais Essenciais Glicina Ácido Glutâmico Fenilalanina Alanina Arginina Valina Serina Histidina Triptofano Cisteína Asparagina Treonina Tirosina Glutamina Lisina Ácido Aspártico Prolina Leucina Isoleucina Metionina 1.2 Peptídeos Como vimos anteriormente os peptídeos são cadeias de aminoácidos. Os peptídeos sintéticos compreendendo 2 a 10 aminoácidos designam-se por recurso ao prefixo adequado, di-, tri-, tetra-, etc., seguido do termo “peptídeo” e um número arbitrário, por exemplo, 2 moléculas de aa podem ser unidas covalentemente por meio de uma ligação amida substituída, chamada de ligação peptídica, para formar um dipeptídeo; 3 aa podem ser reunidos por duas ligações peptídicas para formar um tripeptídeo, da mesma maneira os aa podem ser reunidos para formar tetra e pentapeptídeos. Os peptídeos de ocorrência natural variam em tamanho, entre dois a muitos milhares de resíduos de aminoácidos. Mesmo os menores peptídeos podem ter efeitos biológicos importantes. É o caso do dipetídeo comercial sintético, éster metílico de L-α-aspartil-L-fenilalanina, o adoçante artificial mais conhecido por aspartame (Figura 5). Figura 5: Fórmula estrutural do aspartame. Nome IUPAC: Éster metílico da L-α-aspartil-L- fenilalanina Muitos pequenos peptídeos exercem seus efeitos em concentrações muito pequenas. Por exemplo, diversos hormônios como a oxitocina (9 aa) e abradicinina (9 aa). Alguns venenos extremamente tóxicos de cogumelos, como a amanitina, bem como muitos antibióticos. Um pouco maiores são os pequenos oligopeptídeos, como a insulina (duas cadeias polipeptídicas uma com 30 aa e outra com 20 aa), o glucagon (29 aa), a corticotropina (39 aa), entre outros. Os peptídeos sintéticos compreendendo 11 a 100 aa designam-se pelo termo oligopeptídeos (oligopeptide), seguido de um número arbitrário. Os peptídeos sintéticos compreendendo mais de 100 aa designam-se pelo termo polipeptídeos (polypeptide), seguido de um número arbitrário. Os peptídeos são moléculas “mensageiras” de atividade altamente específica, especialmente in vitro: eles podem ativar certos genes, estimular a síntese macromolecular, inibir os processos metabólicos, desencadear ações de proteção celular, entre outras propriedades de mediar importantes funções biológicas. Disso deriva uma enorme variedade de potencialmente diferentes aplicações cosméticas, como, tratamento de rugas, crescimento do cabelo, combate à celulite, estimulando as células-tronco, tratamento dos lábios, os olhos inchados e olheiras. Bioquímica Prof. Drª. Michelle Traete Sabundjian 7 Tabela 4: Estruturas covalentes e abreviações dos aminoácidos-padrão. Nome, Símbolo de três letras e Símbolo de uma letra Fórmula Estrutural Aminoácidos com cadeias laterais apolares Glicina Gly G Alanina Ala A Valina Val V Leucina Leu L Isoleucina Ilê I Metionina Met M Prolina Pro P Fenilalanina Phe F Triptofano Trp W Aminoácidos com cadeias laterais neutras Serina Ser S Treonina Thr T Aspargina Asn N Glutamina Gln Q Tirosina Tyr Y Cisteína Cys C Aminoácidos com cadeias laterais carregadas positivamente (básicos) Lisina Lys K Arginina Arg R Histidina His H Aminoácidos com cadeias laterais carregadas negativamente (ácidos) Ácido aspártico Asp D Ácido glutâmico Glu E Fonte: Voet e Pratt [3] modificado. Bioquímica Prof. MSc. Edson Hideaki Yoshida 8 1.3 Proteínas As proteínas são macromoléculas (monômeros ou polímeros) mais abundantes nas células vivas [2]. As proteínas são constituídas por unidades chamadas de aa ligados entre si por ligações peptídicas. As proteínas são os constituintes básicos da vida: tanto que seu nome deriva da palavra grega "protos", que significa "em primeiro lugar". Nos animais, as proteínas correspondem a cerca de 80% do peso dos músculos desidratados, cerca de 70% da pele e 90% do sangue seco. Mesmo nos vegetais as proteínas estão presentes. A importância das proteínas, entretanto, está relacionada com suas funções no organismo, e não com sua quantidade. Todas as enzimas conhecidas, por exemplo, são proteínas; muitas vezes, as enzimas existem em porções muito pequenas. Mesmo assim, estas substâncias catalisam todas as reações metabólicas e capacitam aos organismos à construção de outras moléculas - proteínas, ácidos nucléicos, carboidratos e lipídeos - que são necessárias para a vida. As proteínas podem ser reduzidas a seus aa constituintes (hidrolisadas) por uma variedade de métodos [2]. As proteínas são componentes essenciais à matéria viva devido às funções que exercem nesta. Atuam como catalizadores (enzimas), transportadores (oxigênio, vitaminas, fármacos, lipídeos, ferro, cobre, etc.), armazenamento (caseína do leite), proteção imune (anticorpos), reguladores (insulina, glucagon), movimento (actina e miosina), estruturais (colágeno), transmissão dos impulsos nervosos (neurotransmissores) e o controle do crescimento e diferenciação celular (fatores de crescimento) [2]. Além das resumidas acima, citam-se algumas funções de grande importância fisiológica das proteínas: manutenção da distribuição de água entre o compartimento intersticial e o sistema vascular do organismo; participação da homeostase e coagulação sanguínea; nutrição de tecidos; formação de tampões para a manutenção do pH, etc [2]. Devido às proteínas exercerem uma grande variedade de funções na célula, estas podem ser divididas em dois grandes grupos: Dinâmicas - Transporte, defesa, catálise de reações, controle do metabolismo e contração, entre outros; Estruturais - Proteínas como o colágeno e elastina, por exemplo, que promovem a sustentação estrutural da célula e dos tecidos. A proteína queratina é produzida por todos os animais vertebrados. Podemos, ainda, dividir as funções das proteínas quanto à atividade: Atividade biológica: Anticorpos, Estrutural, Hormonal e Enzimática. Atividade enzimática: Catalizador biológico. Fatores que interferem na atividade enzimática: Aumento da temperatura; Mudança do pH; e Concentração de substrato. Temperatura. Dentro de certos limites, a velocidade de uma reação enzimática aumenta com o aumento da temperatura. Entretanto, a partir de uma determinada temperatura, a velocidade da reação diminui bruscamente. O aumento de temperatura provoca maior agitação das moléculas e, portanto, maiores possibilidades de elas se chocarem para reagir. Porém, se for ultrapassada certa temperatura, a agitação das moléculas se torna tão intensa que as ligações que estabilizam a estrutura espacial da enzima se rompem e ela se desnatura. Figura 6: Velocidade da reação enzimática em função da temperatura. Para cada tipo de enzima existe uma temperatura ótima, na qual a velocidade da reação é máxima, permitindo o maior número possível de colisões moleculares sem desnaturar a enzima (Figura 6). A maioria das enzimas humanas tem sua temperatura ótima entre 35 e 40ºC, a faixa de temperatura normal do nosso corpo. Já bactéria que vivem em fontes de água quente têm enzimas cuja temperatura ótima fica ao redor de 70ºC. Grau de acidez (pH). Outro fator que afeta a forma das proteínas é o grau de acidez do meio, também conhecido como pH (potencial hidrogeniônico). A escala de pH vai de 0 a 14 e Bioquímica Prof. MSc. Edson Hideaki Yoshida 9 mede a concentração relativa de íons hidrogênio (H + ) em um determinado meio. O valor 7 apresenta um meio neutro, nem ácido nem básico. Valores próximos de 0 são os mais ácidos e os próximos de 14 são os mais básicos (alcalinos). Figura 7: Velocidade da reação enzimática em função do pH. Cada enzima tem um pH ótimo de atuação, no qual a sua atividade é máxima (Figura 7). O pH ótimo para a maioria das enzimas fica entre 6 e 8, mas há exceções. A pepsina, por exemplo, uma enzima digestiva estomacal, atua eficientemente no pH fortemente ácido de nosso estômago (em torno de 2), onde a maioria das enzimas seria desnaturada. A tripsina, por sua vez, é uma enzima digestiva que atua no ambiente alcalino do intestino, tendo um pH ótimo situado em torno de 8. Concentração de substrato. Foi observado experimentalmente que para uma determinada concentração de enzima, o aumento da concentração de substrato (S) causa um aumento gradual na velocidade inicial (V0) da reação catalisada (Figura 8). Figura 8: Velocidade da reação enzimática em função da concentração de substrato. 1.3.1 Classificação das proteínas As proteínas diferem uma das outras pela: Ordem dos aa; Tipo dos aa;e Número dos aa. Quanto à composição ou critério químico o Proteínas simples: Por hidrólise liberam apenas aa. Pode-se mencionar como exemplo: As Albuminas. São as de menor massa molecular (MM), encontradas nos animais e vegetais, e são solúveis na água. Exemplos: albumina do plasma sanguíneo e da clara do ovo. As Globulinas. Possuem MM um pouco mais elevado. São encontradas nos animais e vegetais e são solúveis em água salgada. Exemplos: anticorpos e fibrinogênio. As Escleroproteínas ou proteínas fibrosas. Possuem MM muito elevado. São exclusivas dos animais e são insolúveis na maioria dos solventes orgânicos. Exemplos: colágeno, elastina e queratina. o Proteínas conjugadas (proteínas ligadas a outras substâncias): Por hidrólise liberam aa mais um radical não-peptídico. As proteínas conjugadas, além das cadeias polipeptídicas também possuem componentes orgânicos e inorgânicos. A porção não-peptídica das proteínas conjugadas é denominada grupo prostético. As mais importantes proteínas conjugadas são: nucleoproteínas, lipoproteínas, fosfoproteínas, metaloproteínas, glicoproteínas, hemoproteínas e flavoproteínas. Tabela 5: Classes de proteínas conjugadas, seus grupos prostéticos e respectivos exemplos. Classe Grupo(s) prostético(s) Exemplo Lipoproteínas Lipídeos Β1-Lipoproteína do sangue Glicoproteínas Carboidratos Imunoglobulina G Fosfoproteínas Grupos fosfatos Caseína do leite Hemoproteínas Heme (ferro porfirina) Hemoglobina Flavoproteínas Nucleotídeo Flavina Succinato deidrogenase Metaloproteínas Ferro Ferritina Zinco Álcool deidrogenase Cálcio Calmodulina Molibdênio Dinitrogenase Cobre Plastocianina Quanto ao número de cadeias polipeptídicas ou critério funcional Bioquímica Prof. MSc. Edson Hideaki Yoshida 10 o Proteínas Monoméricas - Formadas por apenas uma cadeia polipeptídica, como a mioglobina (Figura 9). o Proteínas Oligoméricas - Formadas por mais de uma cadeia polipeptídica; são as proteínas de estrutura e função mais complexas. Várias cadeias polipeptídicas que compreendem subunidades de proteínas oligoméricas e podem ser a mesma ou diferentes cadeias polipeptídicas. Um exemplo é a hemoglobina (Figura 9), é constituído por quatro subunidades, cada um de uma cor diferente representada na figura a seguir. Quanto à sua conformação o Proteínas Fibrosas - Na sua maioria, as proteínas fibrosas são insolúveis nos solventes aquosos e possuem MM muito elevadas. São formadas geralmente por longas moléculas mais ou menos retilíneas e paralelas ao eixo da fibra. A esta categoria pertencem às proteínas de estrutura, como colágeno do tecido conjuntivo, as queratinas dos cabelos, as esclerotinas do tegumento dos artrópodes, a conchiolina das conchas dos moluscos, ou ainda a fibrina do soro sanguíneo ou a miosina dos músculos. Algumas proteínas fibrosas, porém, possuem uma estrutura diferente, como as tubulinas, que são formadas por múltiplas subunidades globulares dispostas helicoidalmente. o Proteínas Globulares - De estrutura espacial mais complexa, são mais ou menos esféricas. São geralmente solúveis nos solventes aquosos e as suas massas moleculares situam- se entre 10 mil e vários milhões. Nesta categoria situam-se as proteínas ativas como as enzimas, transportadores como a hemoglobina, etc. Figura 9: Representação da mioglobina e da hemoglobina logo abaixo. 1.3.2 Níveis de organização das proteínas Estrutura primária – Consiste no número, espécie e a sequência dos aa unidos por ligações peptídicas e pontes dissulfeto. É especificada por informação genética. A sequência ou resíduos de aa de sua cadeia polipeptídica ou das suas cadeias polipeptídicas, quando a proteína for constituída por mais de uma cadeia. Estrutura secundária – É o arranjo espacial – regular e recorrente – da cadeia polipeptídica, sem levar em consideração a conformação de suas cadeias laterais. Podem ser de dois tipos: α-hélice ou folha β- pregueada que estabilizam-se por pontes de hidrogênio entre o nitrogênio e o oxigênio dos grupos. Estrutura terciária – Descreve o desdobramento final da cadeia polipeptídica por interação de regiões com estrutura regular (α-hélice ou folha β-pregueada), segmentos distantes da estrutura primária podem aproximar-se e interagir por intermédio de ligações não covalentes entre as cadeias laterais dos resíduos de aa. Estas ligações podem ser de diferentes tipos como pontes de hidrogênio, Interações Hidrofóbicas e ligações Iônicas. Refere-se à cadeia polipeptídica ou estrutura tridimensional estável de um polipeptídio inteiro, inclusive a de suas cadeias laterais. Estrutura quaternária – Muitas proteínas são compostas de duas ou mais cadeias laterais, normalmente referidas como subunidades. A estrutura quaternária de uma proteína refere-se ao arranjo espacial de suas subunidades, isto é, as subunidades montadas. A estrutura quaternária é o arranjo espacial de Bioquímica Prof. MSc. Edson Hideaki Yoshida 11 duas ou mais cadeias polipeptídicas (ou subunidades proteicas) com a formação de complexos tridimensionais. Os quatros níveis de estruturas das proteínas (primária, secundária, terciária e quaternária) são apresentados na Figura 10. Figura 10: Níveis da estrutura das proteínas. Fonte: UFSC - Departamento de Engenharia Química. 1.3.3 Polímeros de proteína Ambas as fontes, animais e plantas, podem gerar materiais proteicos adequados para a preparação de ingredientes cosméticos. Proteínas a partir de organismos inferiores como fungos e algas, no entanto, também são cada vez mais utilizados como fontes de proteína. As proteínas tipicamente obtidas a partir de animais (conhecidas como polímeros naturais ou biopolímeros) incluem colágeno, elastina, queratina, leite, reticulina, fibronectina e seda (a partir de bicho da seda). Além disso, os extratos brutos a partir de tecidos animais, como timo, placenta, coração e medula óssea também têm sido de utilização em indústrias. Uma vez que as preparações de proteína animal são tratadas com vários processos de inativação para remover quaisquer contaminantes virais e bacterianos, o risco da transmissão de doenças infecciosas com o uso de derivados de proteínas animais em cosméticos é considerado baixo. No entanto, as autoridades (por exemplo, a Comunidade Europeia) proibiram o uso de ingredientes cosméticos derivados do cérebro, medula espinhal e olho de bovinos, ovinos e caprinos, devido ao risco de BSE (encefalopatia espongiforme bovina). As proteínas a partir de fontes vegetais tornaram- se cada vez mais populares. As plantas mais comumente utilizadas como material de partida para a produção de proteínas vegetais são o trigo e o glúten de milho, concentrados de proteína de soja, arroz e aveia, e sementes oleaginosas desengorduradas (amendoim, amêndoa, de girassol). Entre a grande variedade de vegetais as proteínas do glúten de trigo e globulinas de soja são, de longe, de uso mais amplo e de interesse. Glúten de trigo (muitas vezes chamado apenas proteína de trigo) é uma proteína de cereais única de elasticidade elevada, quando hidratada. As proteínas de soja são úteis devido à sua gelificação e os efeitos da emulsão. Devido à sua solubilidade em água muito pobre, apenas algumas poucas proteínas naturais são solúveis (porexemplo, albumina e enzimas). A conversão em forma solúvel geralmente é feito por hidrolização, um processo onde a proteína é cortada em pedaços menores. Esta clivagem é feita quimicamente por íons de hidrogênio ou biologicamente por enzimas. As proteínas hidrolisadas da seda são obtidas da hidrólise de fibras puras de seda, em condições controladas cuidadosamente. A seda é uma fibra extracelular produzida por uma variedade de animais, porém, a seda mais comum comercialmente, provém de um inseto da ordem Lepidoptera, o Bombyx mori, conhecido como bicho da seda. As duas proteínas principais da seda são fibroína e sericina. É principalmente a estrutura fibrosa da fibroína que confere à seda as propriedades conhecidas, que faz dos aa da seda um produto de qualidade premiada: brilho, maciez, luminosidade, combinadas com excelente força e elasticidade. A derivatização é usada para adicionar ou melhorar uma função específica de uma proteína de grupos químicos específicos é fixado (formando um derivado). As proteínas podem também ser complexadas com moléculas de surfactante. O principal objetivo é conseguir a solubilidade em água, caso contrário das proteínas, de alta massa molecular, são insolúveis em água. Além disso, tais Bioquímica Prof. MSc. Edson Hideaki Yoshida 12 complexos surfactante-proteína podem ser utilizados como veículo para a obtenção de alta concentradas soluções de proteínas pouco solúveis como o colágeno ou a proteína de trigo. Bioquímica Prof. MSc. Edson Hideaki Yoshida 13 Bioquímica dos aminoácidos, peptídeos e proteínas Questões de revisão 1. O que são α-aminoácidos e qual a sua estrutura geral? 2. Quais são os 20 aminoácidos-padrão que podem compor a maioria das proteínas? 3. Defina a ligação peptídica. 4. Segundo as ligações peptídicas, como os polímeros compostos podem ser classificados? 5. Defina as proteínas. 6. Dê seis exemplos de possíveis funções das proteínas. 7. Quais são os principais fatores que interferem na atividade enzimática? 8. Como as proteínas se diferem uma das outras? 9. Quais os possíveis tipos de classificação das proteínas? 10. Quais são os níveis de organização estrutural das proteínas? Bioquímica Prof. MSc. Edson Hideaki Yoshida 14 2 Bioquímica dos carboidratos “O açúcar que as pessoas põem no café, as fibras de uma folha de papel e o principal constituinte da carapaça de um besouro são substâncias que pertencem ao mesmo grupo: os carboidratos. Sabe-se, há muito tempo, que essas substâncias atuam como reservas de energia do organismo, mas estudos recentes revelam que elas têm outras – e importantes – funções biológicas. Esses resultados indicam que muitos carboidratos podem ter aplicação na medicina. Os carboidratos extraídos de ouriços-do-mar, por exemplo, apresentam propriedades que as apontam como candidatos a substitutos da heparina, um dos compostos naturais mais utilizados hoje como medicamentos em todo o mundo.” [6] Os açúcares são moléculas relativamente simples que podem ser ligadas de várias maneiras para formar moléculas maiores. Os açúcares ou carboidratos (do grego glukus, que significa suave) ou sacarídeos (do grego sakcharon, que significa açúcar) são as moléculas biológicas mais abundantes. Eles são compostos de hidrogênio, carbono e oxigênio. À medida que os carboidratos são a principal fonte de energia para o corpo e combustível para o exercício, existem duas categorias de carboidratos: os açúcares simples e os açúcares complexos. Os açúcares simples são aqueles com estrutura química molecular de tamanho reduzido. Fazem parte deste grupo os monossacarídeos (glicose, frutose e galactose), os dissacarídeos (sacarose, lactose e maltose) e os oligossacarídeos (rafinose, estraquiose, frutooligossacarídeo, etc). Os carboidratos simples são digeridos e absorvidos rapidamente, produzindo um aumento súbito da taxa de glicose no sangue (glicemia). Exemplos de alimentos que são fontes de carboidratos simples: frutas, mel, xarope de milho, leite e derivados, açúcares e vegetais. Os açúcares complexos (polissacarídeos) requerem uma hidrólise mais avançada. Encontramos açúcares complexos nas frutas, nas hortaliças, nas leguminosas (feijão, ervilha, grão- de-bico, etc.), nas féculas (batata, mandioca, etc.), nas nozes (oleoginosas: noz, avelã, amêndoa, castanha de caju, castanha-do-pará, pinhão, amendoim, pecã, etc.), nos cereais (trigo, centeio, cevada, aveia, arroz, milho, etc.) e nos grãos (gergelim, girassol, linho, sementes de abóbora, etc.). Os açúcares complexos são reduzidos, pela digestão, a açúcares simples. Absorvidos pelo intestino delgado e transportados pelo sangue, os açúcares fornecem combustível que faz funcionar o metabolismo das células. Os açúcares que não são utilizados imediatamente são armazenados no fígado e nos músculos para serem utilizados em caso de necessidade, como, por exemplo, por ocasião de um exercício físico intenso. Todos os carboidratos naturais - inclusive o açúcar de cana não refinado (melado, mascavo, demerara e rapadura), o mel e os açúcares complexos como o açúcar extraído do malte (obtido das sementes germinadas de cevada) - são absorvidos lentamente pelo intestino delgado e não provocam hiperglicemia brusca (elevação da taxa de açúcar no sangue). Além disso, contêm, em proporção ideal, os minerais, as enzimas e vitaminas necessárias ao metabolismo. As frutas secas, conservadas sem emprego de gases ou produtos químicos, são ricas em açúcares complexos, vitaminas e magnésio. Constituem um alimento energético de primeira qualidade. De preferência, devem ser comidas depois de ficarem de molho durante algumas horas. Isso facilita sua digestão e aumenta sua vitalidade. O organismo humano saudável precisa de 4 gramas de hidratos de carbono por dia e kg de massa. Os músculos e o cérebro necessitam muito de carboidratos. Portanto, o papel de hidratos de carbono é, essencialmente, de energia. Através da dieta, eles são transformados em glicose e em seguida distribuídos por todo o corpo. Alguns são armazenados como glicogênio no fígado e nos músculos, que serão usados como uma reserva. Outros hidratos de carbono têm um papel edifício. Sendo fatores de composição de tecido do corpo, incluindo cartilagem, ácido nucleico, muco e as substâncias antigênicas. 2.1 Características dos carboidratos Os carboidratos são quimicamente mais simples do que os nucleotídeos ou os aminoácidos, contendo apenas três elementos – C, H e O – combinados de acordo com a fórmula geral (CH2O)n, em que n ≥ 3. São conhecidos como: Hidratos de carbono ou carboidratos, Glucídios, Glicídios, Açúcares ou sacarídeos. 2.2 Classificação dos carboidratos A classificação dos carboidratos é feita de acordo com o tamanho que estes assumem. São então classificados como monossacarídeos, oligossaca- rídeos ou polissacarídeos. Os carboidratos também podem ser encontrados em associação com outras biomoléculas, sejam elas proteínas ou Bioquímica Prof. MSc. Edson Hideaki Yoshida 15 lipídeos, que, de uma forma geral, originam os chamados glicoconjugados. 2.2.1 Monossacarídeos Os monossacarídeos, ou açúcares simples, são sintetizados a partir de precursores menores, originalmente derivados de CO2 e H2O pela fotossíntese. Os monossacarídeos são aldeídos ou cetonas derivados de polihidroxialcoóisde cadeia linear contendo pelo menos três átomos de carbono. A. Classificação dos monossacarídeos Os monossacarídeos podem ser classificados de acordo com a natureza química de seu grupo carbonila: Se o grupo carbonila for um aldeído, o açúcar será uma aldose e se o grupo carbonila for uma cetona, o açúcar será uma cetose. Os monossacarídeos podem também ser classificados de acordo com o número de seus átomos de carbono: Os monossacarídeos menores, com três átomos de carbono, são as trioses. Aqueles com quatro, cinco, seis, sete ou mais átomos de carbono são, respectivamente, tetroses, pentoses, hexoses, heptoses, etc. Dois exemplos clássicos de monossacarídeos são a D-glicose (monossacarídeo mais abundante classificada como aldohexose) e a D-frutose (classificada como cetohexose) (Figura 11) têm como propriedades físicas o fato de serem incolores, solúveis em meio aquoso, formarem sólidos cristalinos e possuírem sabor adocicado. Figura 11: Exemplos de monossacarídeos. D-glicose D-frutose B. Configuração e conformação A estrutura de um monossacarídeo consiste em uma cadeia carbônica não ramificada com ligações simples entre os carbonos. Um ou mais desses carbonos estão ligados a grupos hidroxilas, podendo haver carbonos assimétricos chamados de centros quirais. Ver NOTA 1. Há duas formas isoméricas em que os carbonos quirais podem ocorrer, assim possuem proprie- dades químicas e físicas iguais, mas a direção em que desviam a luz plano polarizada é diferente. Os opticamente ativos são L-estereoisômeros, ou seja, têm configuração relacionada ao L-gliceraldeído, um açúcar com três átomos de carbono, sendo que o menor açúcar a possuir um carbono quiral (Erro! Auto-referência de indicador não válida.). Esse tipo de carboidrato apresenta ainda um grupo carbonila, que define se é um aldeído ou uma cetona. Figura 12: Carbonos Assimétricos. D-gliceraldeído D-ribose D-glicose Os monossacarídeos mais simples são constituídos por três átomos de carbono, como é o caso do gliceraldeído e da di-hidroxicetona, porém as unidades monossacarídicas podem ter quatro, cinco, seis, sete átomos de carbono. Os monossacarídeos podem converter-se em formas cíclicas, mediante o ataque do seu carbonila por um dos seus grupos hidroxilo. Esta reação é um exemplo relevante da formação de hemiacetais em biologia. As formas cíclicas só são estáveis se o anel tiver cinco ou mais lados (caso contrário os ângulos das ligações serão muito diferentes do valor ideal de ≈ 109o). Na prática os açúcares mais comuns formam anéis de cinco lados (chamados furanoses) ou de seis lados (chamados piranoses). Em solução aquosa as formas cíclicas são frequentemente muito mais estáveis do que as formas lineares. Figura 13: Formação das estruturas cíclicas da D- glicose. Note que são possíveis duas formas cíclicas (Figura 13), devido à posição inicial do carbonila ser variável. O carbono hemiacetal (normalmente chamado carbono anomérico) que se forma a partir do carbonila pode, portanto ter o grupo OH em duas orientações diferentes: se o OH estiver para baixo do anel, diz-se uma forma α; se estiver Bioquímica Prof. MSc. Edson Hideaki Yoshida 16 para cima do anel é uma forma β. Para as hexopiranoses de série D, isto significa que na forma α o OH do carbono anomérico e o CH2OH do último carbono assimétrico estão em lados opostos do anel. Os anéis formados por seis elementos podem ser piranosídicos, quando há cinco ou mais carbonos na cadeia carbônica, ou furanosídicos, formados por cinco átomos no anel. Os monossacarídeos podem ser considerados como agentes redutores por poder ser oxidados com íons férrico (Fe 3+ ) ou cúprico (Cu 2+ ). Tabela 6: Exemplos de monossacarídeos e funções correspondentes. Monossacarídeo Função Ribose (Pentose) Estrutural (RNA) Desoxirribose (Pentose) Estrutural (DNA) Glicose (Hexose) Energética Frutose (Hexose) Energética Galactose (Hexose) Energética 2.2.2 Oligossacarídeos Os oligossacarídeos atuam como fibras no organismo sem alterar o sabor e a textura dos alimentos. Muito mais do que manter o intestino em ordem, as tais moléculas diminuem o risco de tumores, auxiliam no controle do colesterol e ajudam a prevenir o diabetes. Toda explicação para a eficácia dos oligos- sacarídeos está no intestino. Lá moram milhões e milhões de microrganismos do bem, como as bifidobactérias e os lactobacilos. É fundamental que esse exercício seja sempre assim, numeroso, para que bactérias responsáveis por uma série de doenças como a E. coli, sumam do mapa. Os oligossacarídeos são constituídos pela união de duas a dez unidades monossacarídicas, sendo os dissacarídeos os representantes mais comuns dos oligossacarídeos (Tabela 10). Constituem-se a partir da união de monos- sacarídeos ligados covalentemente por ligação glicosídica, que ocorre quando um grupo hidroxila de uma molécula reage com o carbono anomérico da outra. Há, assim, a formação de acetal a partir de um hemicetal e de um álcool (um grupo hidroxila da 2ª molécula de açúcar). Observe que depois da ligação glicosídica estabelecida ainda resta uma extremidade hemicetal livre, indicando que a maltose é um açúcar redutor. Já a sacarose (açúcar comum elaborado pelos vegetais – Figura 15), formada por glicose e frutose possui átomos de carbonos anoméricos de ambos os monossacarídeos envolvidos na ligação glicosídica. Tabela 7: Exemplos de dissacarídeos, suas estruturas químicas, composição e fontes. D is sa ca - rí d eo s Estrutura química C o m p o - si çã o F o n te M al to se G li co se + G li co se C er ea is S ac ar o se G li co se + F ru to se C an a- d e- aç ú ca r L ac to se G li co se + G al ac to se L ei te Na Figura 14, observam-se as extremidades hemicetais da α-Dglicose e da ß-D-glicose participando da ligação glicosídica acetal para a formação da maltose. A sacarose é, portanto, um açúcar não-redutor. Vale lembrar que açúcares não redutores são também chamados de glicosídios e que ao participarem de uma ligação glicosídica, seus carbonos anoméricos não podem mais ser oxidado por íons férrico (Fe 3+ ) ou cúprico (Cu 2+ ), não podendo agir como agente redutor nem apresentar forma linear. Açúcares redutores: açúcares capazes de reduzir os íons férrico (Fe 3+ ) a íons ferroso (Fe 2+ ) ou os íons cúprico (Cu 2+ ) a íons cuproso (Cu + ); base da reação de fehling. Reações de óxido-redução: fornecem energia para que os organismos realizem seus processos vitais. Figura 14: Formação da Ligação Glicosídica. Bioquímica Prof. MSc. Edson Hideaki Yoshida 17 Figura 15: Sacarose, um açúcar não redutor. Há outro tipo de ligação glicosídica que reúne o átomo de carbono anomérico de um açúcar a um átomo de nitrogênio em uma glicoproteína. São as chamadas ligações N-glicosil, também encontradas em todos os nucleotídeos. 2.2.3 Polissacarídeos Os polissacarídeos são monossacarídeos enfileirados de maneiras infinitas, são também chamados de glicanos e diferem entre si na identidade das unidades monossacarídicas que possuem e do tipo de ligação que fazem, no comprimento da cadeiade suas moléculas, e no grau de ramificação desta. Os três polissacarídeos mais conhecidos dos seres vivos são amido, glicogênio e celulose (Erro! Auto-referência de indicador não válida. e De acordo com o tipo de unidades monossaca- rídicas, podem ser classificadas em: homopolis- sacarídeos ou heteropolissacarídeos (Figura 17). Os homopolissacarídeos são aqueles constituídos por apenas uma unidade monomérica e são formas de armazenamento de monossacarídeos, como por exemplo, o amido e o glicogênio, que possuem como principal função servir de reserva energética para célula vegetal e animal, respectivamente ou ainda como elementos estruturais, tal qual é o caso da celulose na parede celular dos vegetais ou o da quitina, componente do exoesqueleto de artrópodes Os heteropolissacarídeos contêm dois ou mais tipos de unidades monoméricas, como o Ácido hialurônico (encontrado no tecido conjuntivo) formado por resíduos alternados de dois açúcares diferentes. Figura 16). Ao contrário da glicose, os polissacarídeos dela derivados não possuem sabor doce, nem são solúveis em água. Tabela 8: Exemplos de polissacarídeos relacionados à sua função e/ou fonte. Polissacarídeo Função e/ou Fonte Glicogênio Açúcar de reserva energética de animais e fungos. Amido Açúcar de reserva energética de vegetais e algas. Celulose Função estrutural. Compõe a parede celular das células vegetais e algas. Quitina Função estrutural. Compõe a parede celular de fungos e exoesqueleto de artrópodes. Ácido hialurônico Função estrutural. Cimento celular em células animais. De acordo com o tipo de unidades monossaca- rídicas, podem ser classificadas em: homopolis- sacarídeos ou heteropolissacarídeos (Figura 17). Os homopolissacarídeos são aqueles constituídos por apenas uma unidade monomérica e são formas de armazenamento de monossacarídeos, como por exemplo, o amido e o glicogênio, que possuem como principal função servir de reserva energética para célula vegetal e animal, respectivamente ou ainda como elementos estruturais, tal qual é o caso da celulose na parede celular dos vegetais ou o da quitina, componente do exoesqueleto de artrópodes Os heteropolissacarídeos contêm dois ou mais tipos de unidades monoméricas, como o Ácido hialurônico (encontrado no tecido conjuntivo) formado por resíduos alternados de dois açúcares diferentes. Figura 16: Estruturas dos polissacarídeos. Representação da cadeia de amilose (A) e amilopectina (B) e estrutura de uma cadeia de celulose (C). Bioquímica Prof. MSc. Edson Hideaki Yoshida 18 Figura 17: Desenho esquemático dos homopolissacarídeos e heteropolissacarídeos. 2.3 Uso geral dos carboidratos Além da importância biológica dos carboidratos, esses compostos são matérias-primas importantes para indústrias, como os polissacarídeos, como ágar, pectinas e carragenanas, extraídos de algas marinhas, são utilizados – graças a suas propriedades gelatinosas – em cosméticos, remédios e alimentos. A empresa Elicityl comercializa uma linha de carboidratos naturais (OligoTech ® - Carbohydrates for Cosmetic applications) que inclui 188 produtos consistentes com as definições do INCI (International Nomenclature of Cosmetic Ingredients). A utilização de Carboidratos Naturais é por excelência uma hidratação natural, pois é constituído de uma mistura de carboidratos inspirados nos próprios açúcares presentes na pele humana. Uma vez que o mimetiza a composição natural da pele, ele consegue alcançar uma similaridade ou homologia funcional em termos de hidratação natural. Além disto, pode-se considerar que os Carboidratos Naturais possuem um grupo de carboidratos exatamente igual aos da pele humana e, como é sabido, os carboidratos são descritos nos livros de bioquímica como compostos constituídos de fórmulas mínimas múltiplas do carbono e de uma molécula da água, ou seja [C(H2O)]n. Isto justifica a característica dos carboidratos possuírem alta afinidade pelas moléculas de água a ponto de atraí-las para os tecidos onde estejam presentes. NOTA 1: Os estereoisómeros (isómeros estereoquímicos) são compostos que apresentam a mesma fórmula de estrutura mas diferem na fórmula estereoquímica, ou seja, os átomos assumem diferentes posições relativas no espaço. Os enantiômeros são moléculas que são imagens no espelho uma da outra e não são sobreponíveis, nem por rotação, nem por translação. A mistura de enantiômeros numa solução denomina-se mistura racêmica. Enantiômero é um de dois estereoisômeros de um composto quiral e pode ser a base do efeito terapêutico pretendido. A maioria das moléculas presentes na estrutura dos organismos vivos são quirais. Por exemplo, dos vinte aminoácidos do nosso organismo, 19 estão na forma L e o único que não está na forma L é a glicina, só porque não é um composto quiral. Fica bem explícita a relevância da quiralidade em organismos vivos. São Estereoisômeros que têm as mesmas propriedades físicas e químicas, exceto pela interação com o plano de luz polarizada ou com outras moléculas quirais. E consequentemente possuem atividade biológica diferente, mesmo possuindo ligações químicas e distâncias semelhantes. A maioria das substâncias apresentam 2 estereoisômeros, quando se tem somente um centro quiral, que pode ser a partir de uma molécula de carbono, ou de outras móleculas. Os enantiômeros apresentam os mesmos: ponto de fusão, e ebulição e espectros: UV, IV, RMN, EM, e mesmo peso molecular. Mas apresentam diferentes desvios de plano de luz polarizada, interação com sistemas quirais. Em organismos vivos os enantiômeros também produzem atividade biológica distinta. Bioquímica Prof. MSc. Edson Hideaki Yoshida 19 Um caso muito famoso foi o da talidomida, também chamado os "filhos da talidomida", no qual esta substância por possuir enantiômeros com propriedades distintas - uma que ajuda no controle de enjoos e mal-estar e outra teratogênica, ou seja, que ocasiona malformações no feto - causou certa polêmica por estar sendo usada em um medicamento. A talidomida é metabolizada no organismo e transformado em seu estereoisômero S que é teratogênico. Quando a molécula é simétrica (molécula não quiral), a substância é chamada de Meso. Bioquímica dos carboidratos Questões de revisão 1. O que são carboidratos e qual a sua principal função no organismo vivo? 2. Quais são os sinônimos dos carboidratos? 3. Segundo o tamanho das moléculas, como os carboidratos são classificados? 4. Como são classificados os monossacarídeos? 5. Dê cinco exemplos de monossacarídeos e suas respectivas funções. 6. O que são os oligossacarídeos? 7. Qual a importância dos oligossacarídeos para o nosso organismo? 8. Explique a ligação glicosídica. 9. O que são polissacarídeos? 10. Como são classificados os polissacarídeos? Bioquímica Prof. MSc. Edson Hideaki Yoshida 20 3 Bioquímica dos lipídeos Figura 18: A membrana plasmática consiste principalmente em fosfolipídeos, dispostos em uma bicamada, e proteínas, a maioria das quais são glicoproteínas. Devido à hidrofobicidade, os lipídeos não se misturam livremente com a fase aquosa, mas podem formar bicamadas. As membranas, que consistem em uma bicamada lipídica com as proteínas inseridas, circundam o citoplasma de todas as células e delimitam compartimentos metabólicos discretos dentro dascélulas. Os lipídeos (do grego lipos, gordura) constituem o quarto grupo principal de moléculas encontradas em todas as células. Os lipídeos não são poliméricos, mas se agregam e nesse estado desempenham sua mais óbvia função como matriz estrutural das membranas biológicas. 3.1 Características dos lipídeos • Substância orgânica insolúvel em água, mas solúvel em solventes orgânicos. • São chamados de ésteres de ácidos graxos (função éster – ácido carboxílico + álcool) 3.2 Formas de lipídeos encontradas nos seres vivos As formas de lipídeos encontradas nos seres vivos são: Ácidos graxos, Triglicerídeos ou trigleceróis, Fosfolipídeos ou glicerofosfolipídeos, Esteróides e Outros lipídeos. Ácidos graxos • São ácidos carboxílicos (ácidos orgânicos com grupamento carboxila terminal) com grupos laterais de longas cadeias de hidrocarbonetos. • Uma cadeia longa de hidrocarboneto possui de 14 a 22 átomos de carbono. Nas plantas e nos animais superiores, os resíduos de ácidos graxos predominantes são os de C16 a C18: ácidos palmítico, oléico, linoléico e esteárico (Figura 19). • Podem ser saturados (ligações covalentes simples entre os átomos de carbono) ou, como em sua maioria, instaurados (com ligações duplas ou triplas entre os átomos de carbonos). • O ponto de fusão dos ácidos graxos aumenta com o aumento da cadeia, mas diminui com o aumento do número de insaturações. Bioquímica Prof. MSc. Edson Hideaki Yoshida 21 Figura 19: Fórmulas estruturais de alguns ácidos graxos C18. Todas as ligações duplas possuem configuração cis. Figura 20: Representação de um triglicerídeo. Figura 21: Estrutura do glicerol e triacilglicerol. Bioquímica Prof. MSc. Edson Hideaki Yoshida 22 Figura 22: Representação de um fosfolipídeo (a) e (b) e fosfolipídeos de uma membrana celular (c). Triglicerídeos ou trigleceróis Um triglicerídeo consiste de dois tipos de unidades fundamentais: uma molécula de glicerol e três moléculas de ácidos graxos (Figura 20). • São os lipídeos mais abundantes, os ésteres do álcool glicerol ligado a três cadeias de ácidos graxos (Figura 21). • As gorduras e óleos existentes em plantas e em animais consistem, em sua maioria, em misturas de triglicerídeos (reserva de energia para animais e vegetais). Fosfolipídeos ou glicerofosfolipídeos Os fosfolipídeos são os principais lipídeos das membranas celulares (Figura 22). • Encontrados, exclusivamente, como componentes da membrana celular e do plasma sanguíneo como lipoproteína, consistem em glicerol-3-fosfato, cujas posições C1 e C2 são esterificadas com ácidos graxos. • Os fosfolipídeos são moléculas anfifílicas com “caudas” apolares alifáticas e “cabeças” polares de fosforil-X (Figura 24). • Os esfingolipídeos (Figura 23) são também componentes importantes das membranas. Os derivados de ácidos graxos N- acil da esfingosina são conhecidos como ceramidas (precursoras de esfingolipídeos): Figura 23: Estruturas da esfingosina e da ceramida. Figura 24: Estrutura dos glicofosfolipídeos. Bioquímica Prof. MSc. Edson Hideaki Yoshida 23 (a) Esqueleto, L-glicerol-3-fosfato. (b) Fórmula geral dos glicofosfolipídeos. R1 e R2 são caudas das cadeias longas de hidrocarbonetos dos ácidos graxos, e X é derivado de álcool polar (água, etanilamina, glicerol, serina, colina, etc.). Observe que o glicerol-3-fosfato e o glicofosfolipídeo são compostos quirais. Esteroides • Os esteroides são derivados de ciclopentanoperidrofenantreno (Figura 25) e possuem em sua estrutura um álcool de cadeia fechada. • Os esteroides têm funções metabólicas (Sais biliares e hormônios sexuais, tais como, cortisona, testosterona, aldosterona, β- estradiol, etc.) e o mais abundante é o colesterol. • As várias formas de vitaminas D, principalmente a ergocalciferol (Vitamina D2) e a colecalciferol (Vitamina D3), são derivadas do esterol. Figura 25: Estrutura do ciclopentanoperidrofenantreno e do colesterol. Outros lipídeos • Isopreno - É a unidade estrutural dos terpenos e borracha natural e é usado na produção de borrachas sintéticas. • Ubiquinona – conhecida como coenzima Q (a ubiquinona dos mamíferos consiste em 10 unidades isoprenóides). • Vitamina A ou retinol. • Vitamina E – é na verdade um grupo de compostos cujo membro mais abundante é o α-tocoferol. 3.3 Principais funções dos lipídeos • Os lipídeos que contêm cadeias de hidrocarbonetos servem como reservas energéticas. • As moléculas de lipídeos, na forma de uma bicamada lipídica, são componentes estruturais essenciais, juntamente com as proteínas, das membranas biológicas. • Muitos eventos de sinalização intra e intercelulares envolvem moléculas de lipídeos: › Isolantes térmicos, isto é, auxiliam o equilíbrio térmico. › Proteção contra choques mecânicos. › Precursores de alguns hormônios. › Os lipídeos só podem ser utilizados como fonte de energia nos seres vivos. › Os lipídeos são sempre causadores de doenças como o entupimento de artérias e veias. Figura 26: Exemplos de estruturas de ácidos graxos. Bioquímica Prof. MSc. Edson Hideaki Yoshida 24 Mais um caso de termo químico que se incorpora ao senso comum: os lipídeos, há tempos, extrapolaram os livros de química. Definem um conjunto de substâncias químicas que, ao contrário das outras classes de compostos orgânicos, não são caracterizadas por algum grupo funcional comum, e sim pela sua alta solubilidade em solventes orgânicos e baixa solubilidade em água. Juntamente com as proteínas, ácidos nucléicos e carboidratos, os lipídeos são componentes essenciais das estruturas biológicas, e fazem parte de um grupo conhecido como biomoléculas. Os lipídeos se encontram distribuídos em todos os tecidos, principalmente nas membranas celulares e nas células de gordura. Os fatores envolvidos na gênese da obesidade não são conclusivos, incluindo o papel dos macronutrientes da dieta na suscetibilidade ao ganho de peso. O carboidrato pode ser considerado um componente importante na saciedade. Sua substituição pelo adoçante reduz o valor energético da dieta, reduzindo a massa corporal. Os efeitos dos adoçantes sobre o apetite dependem da natureza e da densidade dos nutrientes consumidos simultaneamente. Não existem evidencias suficientes que mostrem que os adoçantes causam ganho de peso, mas seu uso pode resultar em compensação energética com alimentos ricos em lipídeos. Os lipídeos tendem a aumentar a densidade energética da dieta promovendo o superconsumo passivo de energia, além de apresentar baixa prioridade oxidativa, estando associado à baixa saciedade. Sua substituição tem sido relacionada à compensação da ingestão energética, principalmente por carboidratos. Um plano alimentar disciplinado deve incluir alimentos que reduzam a densidade energética da dieta, sem promoção do consumo alimentar. 3.4 Substâncias lipofílicas – óleos e lipídeos em produtos cosméticos Embora aparentemente não mostrem quaisquer efeitos espetaculares, óleos e lipídios pertencem aos ingredientes mais importantes em produtos cosméticos. Do ponto de vista corneoterapêutico, eles estão bem no foco de interesse atual: seletivamente aplicados ajudam a regenerar a pele danificada. Todas as substâncias lipofílicas mostram a característica de ser mais ou menos insolúvel em água. Assim, elas são geralmenteutilizadas para dar suporte à camada de lipídeos da pele. É um fato bem conhecido que a camada lipídica atua como a principal barreira contra influências externas. As substâncias lipofílicas tornam a pele resistente à água, reduzem a perda de água transepidérmica e, assim, protegem a pele contra a desidratação. Por preencher endentações microscópicas na pele, conduzem a um alisamento perceptível da pele que, simultaneamente, também reduz as rugas menores. Além dessas características comuns, existem também algumas propriedades específicas. Cremes à base de óleos com baixo ponto de solidificação espalham fácil e uniformemente sobre a pele. Lipídeos e ceras com ponto de fusão mais elevado mostram uma consistência mais sólida que, por exemplo, é necessário para batons. Hidrocarbonetos, parafinas, silicones e na maioria das ceras são particularmente recomendado para produtos com uma vida útil prolongada. No entanto, eles não têm os efeitos de óleos vegetais que são parcialmente discriminados na pele e, assim, libertam valiosos ácidos graxos. Como estes ácidos graxos, ao contrário dos ácidos graxos assimilados pela nutrição diária, estão sujeitos a um processo metabólico completamente diferente, sendo bastante importante. Os óleos vegetais Os efeitos interessantes, que acompanham as substâncias, desempenham um papel importante nas substâncias lipídicas vegetais. Frequentemente os óleos contêm vitaminas ou provitaminas como, por exemplo, betacaroteno e vitamina A nos óleos de cenoura e de abacate, vitamina E em quase todos os óleos vegetais e até 0,5% no óleo de gérmen de trigo. Outro componente importante de óleos vegetais e ceras são os fitosteróis. Os fitosteróis (ou fitoesteróis) são componentes naturais presentes nos óleos vegetais, podendo ser encontrados, na forma in natura, como esteróis livres ou conjugados ao ácido graxo (ésteres). Sua estrutura química é similar à do colesterol, diferindo do mesmo pela presença de um radical metila e etila adicional à cadeia carbônica. A função dos fitosteróis nos vegetais é semelhante à do colesterol nos animais: manutenção da membrana celular. As plantas apresentam alguns tipos de fitoesteróis, sendo mais abundantes o sitosterol, o campesterol e o estigmasterol. O óleo de abacate e manteiga de karité mostram os altos percentuais de fitosteróis. A estrutura dos fitosteróis é semelhante à do colesterol e os fitosteróis são capazes de substituí-lo largamente na pele. Isso pode ser notado especificamente por um efeito de barreira fortalecido. Neste caso o colesterol animal pode ser evitado. Especialmente Bioquímica Prof. MSc. Edson Hideaki Yoshida 25 os fitoesteróis para pele mais velha tem um efeito específico para cuidar da pele (skin caring effect). Na medida em que pequenas quantidades de fitohormônios como, por exemplo, as isoflavonas podem ter efeitos específicos dependendo do óleo em particular e, acima de tudo, no seu processo de fabricação e de refinamento. Como exemplo, O Lipoderma ® YS é um complexo fitoesteróide multifuncional (promove reposição fitohormonal com Yam mexicano e Soja) especialmente desenvolvido para combater os impactos da menopausa sobre a pele. Os critérios de seleção Um critério importante para a seleção de um óleo é a composição dos triglicerídeos contidos como, por exemplo, da ligação glicerol dos ácidos graxos. Nos ácidos graxos insaturados temos que os triglicerídeos são líquidos e podem espalhados facilmente. Esta é a razão para a utilização de ácido oleico contido nos óleos vegetais como o azeite para o cuidado da pele. Os óleos insaturados maiores, como óleos de semente de girassol, soja, açafrão e trigo liberam, por exemplo, o ácido linoleico que impede a descamação da pele, pois é integrada da substância de barreira ceramida I. O ácido gama linolênico (óleo de prímula, óleo de borragem) tem efeitos anti-inflamatórios e anti-pruriginosos e, portanto, é usado em preparações tópicas para o tratamento de condições de pele desidratada e atópica. Os efeitos de agente ativo desses óleos podem ainda ser aumentados quando encapsulados em nanopartículas que aumentam a sua penetração na pele. As baixas concentrações de triglicerídeos insaturados podem ser encontradas em óleo de coco e castanha de palma. Esta é a razão pela qual eles são menos propensos a rancificar. Óleos de amêndoa e de damasco são frequentemente usados para a pele jovem enquanto o óleo de macadâmia é o óleo típico para a pele madura e desidratada. A cera de abelha (Beeswax et al.) Os subprodutos apícolas semelhantes aos lipídeos (lipid-like) como a cera de abelha e a própolis também têm propriedades lipofílicas. Devido ao seu teor de flavona, a própolis mostra efeitos antimicrobianos, antioxidantes e até anti- inflamatória. Entre outros ingredientes, a cera de abelha também contém álcoois de cadeia longa que podem reter pequenas quantidades de água. Uma cera vegetal líquida que é frequentemente usada é o óleo de jojoba, que é tolerado por todos os tipos de pele devido à sua natureza neutra. A manteiga de karité é um exemplo para uma cera vegetal sólida que é um componente frequente em cremes atualmente utilizados para cuidados da pele. Fisiologia dos óleos Tendo como base a estrutura da pele humana e, especialmente, o estrato córneo, com o objetivo de reforçar a função de barreira da forma mais natural possível, é dado prioridade aos óleos vegetais e fitosteróis contendo componentes como manteiga de karité. Embora hidrocarbonetos também possam ser encontrados na camada lipídica da pele, altas concentrações de óleos parafínicos ou vaselinas exógenas topicamente aplicada diminuem a atividade de regeneração da pele, pois formam uma película impermeável sobre a superfície da pele. Estas substâncias são utilizadas principalmente porque não formam qualquer produto de decomposição e são resistentes contra o oxigênio atmosférico e radiação, enquanto os óleos vegetais têm de ser fornecidos com antioxidantes para protegê-los contra estas influências. Como óleos e substâncias lipídicas são basicamente insolúveis em água, eles têm de ser formulados em uma dispersão muito estável em água na forma de emulsão. Atualmente, os emulsionantes, em sua maioria, são utilizados para esta finalidade (Figura 27). Os produtos para cuidados da pele para uma pele sensível devem ser preparados com componentes formadores de membrana devido a estrutura física desses produtos corresponderem perfeitamente com a condição de pele natural. Figura 27: Exemplo de reação de saponificação. Como uma alternativa, os óleos podem ser transformados em oleogels, a fim de serem utilizados como cremes, no entanto, sem que contenham água. A vantagem é que estes produtos, como tal, são microbiologicamente estáveis. Os óleos podem também ter propriedades aditivas como, por exemplo, quando eles são utilizados como transportadores para fragrância ou de vitaminas solúveis em óleo. Características do agente ativo específico Bioquímica Prof. MSc. Edson Hideaki Yoshida 26 Além dos óleos graxos, como já descritos acima, os óleos essenciais devem ser mencionados. Eles também são insolúveis em água e adicionados durante a fase de arrefecimento do processo de produção de creme, devido à sua elevada volatilidade. Eles consistem em cadeia relativamente curtas de terpenos, aldeídos, cetonas, álcoois,
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