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Estudo de caso para a Disciplina Análise de Projetos e Orçamento Empresarial – Prof. Luiz Eduardo Lanzini. CURSO DE ADMINISTRAÇÃO/CIÊNCIAS CONTÁBEIS Disciplina: Análise de Projeto e Orçamento Empresarial Período: 3º Professor Responsável: Luiz Eduardo Lanzini Informações gerais e instruções: O método de estudo de caso de ensino é um conjunto de processos pelos quais se torna possível conhecer uma determinada realidade, produzir determinado objeto ou desenvolver certos procedimentos ou comportamentos. O método caracteriza-se pela escolha de procedimentos sistemáticos para descrição e explicação de uma determinada situação sob estudo e sua escolha deve estar baseada em dois critérios básicos: a natureza do objetivo ao qual se aplica e o objetivo que se tem em vista no estudo. O caso adotado para esta disciplina visa atender a necessidade de se resolver conflitos que podem ocorrer em empresas e que para eliminar tal situação, se apresenta uma ferramenta de gestão definida como Orçamento Empresarial. Durante o primeiro bimestre, as atividades práticas relacionadas ao conteúdo da disciplina, terá como objeto a empresa descrita no presente estudo de caso. No final deste material, há um cronograma com roteiro das atividades e respectivas entregas que devem desencadear as respostas necessárias. Antes de qualquer proposta de solução, a primeira recomendação é a devida leitura deste material. Bons estudos! Prof. Luiz Eduardo Lanzini Caso de Ensino I Gestão – Tocaobra (adaptado) Fonte: Revista TAC (TECNOLOGIA DE ADMINISTRAÇÃO E CONTABILIDADE). V1, N1 Jan-Jun/2011 Autor original artigo: Fábio Frezatti. Universidade de São Paulo - FEA/ USP São Paulo, SP, Brasil. Introdução Momentos que antecederam 'aquela' reunião de outubro de 2008(1) Luiz Mário chegou cedo naquela segunda-feira, pois sabia que o dia seria muito intenso. Em alguns minutos deveria conduzir uma reunião para discutir o orçamento do próximo ano; a diretoria normalmente utilizaria toda a manhã para discutir os itens da pauta. Era a terceira reunião de planejamento; as dificuldades em avançar eram muito grandes. As reuniões anteriores foram muito desgastantes e ele não percebia avanços qualitativos. Os participantes da reunião seriam os gerentes da empresa e ele, como novo diretor, se sentia na obrigação de ser assertivo, competente e tratar com muita clareza as questões da empresa. "Que faço eu, se, desta vez, as coisas não estiverem mais arredondadas? Posso demitir alguns deles e isso vai permitir avançar em alguns sentidos. Mas demitir agora pode ser pior do que ficar quieto: afinal, quem ficar vai ter mais que fazer, ou seja, vai sobrar para mim...", pensava Luiz Mário, olhando a foto dos filhos sobre a sua mesa. "Acho que fui muito duro com eles e agora não dá para puxar mais a corda. De qualquer forma, temos de avançar nos ajustes do modelo de gestão da empresa e não dá para ficar postergando mudanças". Como diretor da Unidade de Negócios Leste (UNE), uma das mais relevantes da construtora Tocaobra, ele deveria coordenar uma reunião de estruturação do orçamento da sua área para o próximo ano. Era a primeira vez que liderava o ciclo de planejamento, já que tinha sido promovido recentemente. "Meu antecessor era um executivo muito paternalista, centralizador e, frequentemente, truculento, que gostava de exercer o poder com ostentação. Seu afastamento não tinha sido fácil de ser operacionalizado. A sua aposentadoria foi algo difícil de ser aceita por ele; mas para a diretoria da empresa era uma etapa necessária para agilizar e tornar mais rápido o crescimento". Aos 37 anos, Luiz Mário era um executivo de carreira da Tocaobra. Foi contratado como estagiário durante o seu curso de engenharia e foi desenvolvendo-se ao mesmo tempo em que a empresa foi crescendo, tornando- se mais complexa. Demonstrando competência e foco para resultados, foi sendo promovido. Pelo fato de conhecer as peculiaridades do negócio, já que tinha intimidade com a operação a partir do canteiro de obra, era muito respeitado, tanto pela diretoria como pelos colegas funcionários. Na última promoção para a diretoria da Unidade de Negócios, como finalista, competiu com um executivo de fora da empresa. Uma das críticas que o comitê de seleção fez foi que ele era um executivo com formação exclusiva na Tocaobra, nada conhecendo fora dela. Luiz Mário questionara muito o estilo do seu antecessor, mas, ao mesmo tempo, admitia que a empresa tinha se desenvolvido muito com ele e as pessoas se haviam acostumado com o estilo centralizador. Em épocas de resultados bons, estilo não era percebido como problema. "Na verdade, obter resultados de maneira consistente com a cultura da organização é fundamental e complicado! Dá para perceber que carisma não é algo que se compra, mas que se constrói no dia a dia, com resultados", pensava. A grande dificuldade da sua gestão seria imprimir um estilo próprio, consistente com a sua forma de ver o mundo e ser coerente nos vários níveis hierárquicos e áreas. "No fundo, seria bom mudar? Uma dose de centralização no tempero do gerenciamento é tão bom! Essa história de muita conversa e participação toma muito tempo! Será que é possível mudar o estilo de gestão sem trocar as pessoas que serão lideradas?" A Empresa A empresa nasceu na metade da década de 90, como oportunidade de desenvolvimento de um negócio por três empreendedores que estudaram juntos e que resolveram montar uma construtora para desenvolver seus projetos. No início, pouco profissionalizada, todos faziam tudo. Começaram a construir casas populares e foram fortalecendo-se nesse segmento, que passou a ser gerenciado por área geográfica. Paulatinamente, com o crescimento das atividades, a empresa ficou mais profissionalizada, organizando-se melhor; vários profissionais foram contratados para compor a estrutura organizacional, definida para desenvolver o gerenciamento da entidade. No início foi combinado um rodízio entre os três sócios na presidência da empresa. Com o passar do tempo, perceberam que o talento de um deles era diferenciado e mais adequado para dirigir a empresa. O contínuo crescimento do mercado e a competição com outras entidades exigiram dos gestores constante adaptação da estratégia e estrutura organizacional para que a empresa fosse, ao mesmo tempo, ágil nas operações e também consistente na evolução das suas atividades. Era muito claro para eles que os sócios tinham papel estratégico no negócio e o seu envolvimento no dia a dia tirava o foco do direcionamento mais relevante. Assim que o porte permitiu, criaram uma holding para olhar os negócios de maneira abrangente e equilibrada. A gestão de Luiz Mário era vista com muita expectativa pelos sócios e diretores da empresa, que não apresentavam uma orientação uniforme na dicotomia top-down x bottom-up. A expectativa de novo estágio de gestão era muito grande, sem se esquecer de obter resultados, claro. Desde o início das atividades, foi entendido que a autonomia proporcionada pela estrutura baseada em Unidades de Negócios (UN) se mostraria muito útil ao que a empresa considerava adequado para sua segmentação regional, já que o negócio se voltou exclusivamente para a construção de casas populares (Figura 1). Figura 1. Canteiro de Obra e Conjunto Habitacional Popular As unidades de negócios (UN) agruparam atividades em perspectivas regionais, dadas as peculiaridades dos mercados e a logística de movimentação de recursos: pessoas, máquinas e materiais. Essa abordagem proporcionou a criação inicialmente de duas unidades de negócios e, posteriormente, de mais duas. Em cada umadelas existia um diretor, responsável por toda a operação na região e, subordinados a ele, gerentes que cuidavam das atividades de Marketing, Controladoria, Operações e Talentos. Esse desenho permitiu que cada unidade tivesse a estrutura que desejasse para obter o retorno, em função de sua proposta de gestão. No nível da holding existiam alguns especialistas (Figura 2) que se preocupavam em proporcionar apenas as linhas- mestras de coordenação. Figura 2. Organograma da Tocaobra Resultados Financeiros e Perspectiva da Concorrência Periodicamente a controladoria da empresa elaborava um relatório, comparando resultados e indicadores da empresa e dos três principais concorrentes: as quatro entidades, no ano de 2007, correspondiam a cerca de 45% do mercado nacional. A pulverização de concorrentes era um fator que tornava difícil a análise do negócio, em termos de dados precisos e as entidades analisadas se constituíam num grupo que permitia comparações consistentes ao longo do tempo. Por meio do relatório (Tabela 1), era possível entender o porte, a influência de alguns elementos de desempenho da Tocaobra em relação à concorrência mais próxima da empresa. Podiam ser percebidas também características relevantes dos seus resultados. Tabela 1 No que se refere à relevância da UN Leste no total dos negócios da Tocaobra, a Figura 3 mostra a contribuição de cada UN para a receita, lucro bruto e lucro líquidos referentes aos resultados de 2007. Descrição em R$1000 ou % Tocaobra Canteiro Prédiosobe Construbem Receita Bruta 600 136 188 117 Receita Líquida 580 127 178 110 Lucro Bruto 78 20 25 22 Margem Bruta 13,5% 15,7% 14,0% 20,2% EBIT 30 4 -1 14 EBITDA 44 8 3 17 Margem EBITDA 7,6% 5,9% 1,4% 15,5% Lucro antes do I. Renda 28 8 9 18 Comparação de Resultados do Ano de 2007 Continua Descrição em R$1000 ou % Tocaobra Canteiro Prédiosobe Construbem Lucro Líquido 9 3 10 16 Caixa e Aplicações 120 18 40 29 Contas e Títulos a Receber de Clientes 148 31 249 47 Sociedades da Organização 40 9 8 NA Imobilizado 63 13 16 13 Investimentos 17 27 2 20 Ativo Total 525 121 343 115 Fornecedores e Subempreiteiros 67 11 16 3 Adiantamentos Recebidos de Clientes 160 7 34 NA Dívida Bruta 94 3 55 6 Patrimônio Líquido 118 83 203 100 Lucro Líquido/P. Líquido final 7,7% 4,0% 4,8% 15,8% Dívida Bruta/EBITDA 2,1 0,4 21,3 0,4 Dívida Bruta/P. Líquido 80,4% 3,9% 26,9% 6,0% Figura 4. Comparativo de Resultados para o Ano de 2007 Contexto Macro da Economia e dos Negócios Para um horizonte de longo prazo, as expectativas relacionadas ao crescimento da construção civil, especificamente no que se refere a casas populares, eram muito otimistas. A conjugação de déficit relevante de moradias, aumento do poder aquisitivo dos potenciais clientes, disponibilidade de recursos materiais e humanos, com o crédito mais generoso, tudo parecia favorável. A Tabela 2 apresenta algumas variáveis macro, indicando aspectos da economia, do crescimento da população economicamente ocupada, da inflação, dos juros e da balança comercial. Tabela 2 Indicadores Macro 2005 2006 2007 2008 (est) Indicadores de atividade - % Crescimento econômico 3,2 3,7 4,7 4,8 População economicamente ocupada 3 2,3 2,9 3,2 Inflação e juros - % IGPM - Índice Geral de Preços do Mercado 1,21 3,83 7,75 6,5 INCC - Índice Nacional de Custos da Construção 6,84 5,04 6,15 7 O cenário macro para a atividade da empresa mostrava-se muito favorável e isso tendia a reforçar a opinião de que ela não precisaria de um instrumento de planejamento muito rígido. Pelo contrário, deveria ter uma ferramenta flexível, que pudesse contemplar as oportunidades que fossem surgindo no dia a dia. Vários executivos concordavam com a idéia. O problema era mostrar como fazer. Em termos de expectativa, esperava- se um crescimento muito intenso no volume de negócios e da lucratividade. Alguns argumentos colaboravam para o otimismo do mercado, em termos de crescimento dos negócios. As variáveis relevantes na análise de cenários para o mercado são: (a) perfil demográfico, (b) déficit habitacional, (c) ambiente macroeconômico e (d) oferta de crédito. A análise dessas dimensões pode ser apresentada como explicita a seguir. Perfil demográfico: (a) população jovem e com taxa de crescimento acima da média dos países desenvolvidos; (b) população entre 0-24 anos (50% do total) chegando a 90 milhões de habitantes; (c) população entre 25-50 anos, correspondendo a cerca de 30% do total; e (d) elevada demanda de primeira moradia, de baixo custo, qualidade e conceito. Déficit habitacional: (a) alto déficit habitacional, estimado em 7,5 milhões de domicílios; (b) moradias de baixa qualidade para os segmentos de baixa e média renda; e (c) maior parte do déficit concentrado nas famílias com renda de até R$ 1,750 (US$ 800). Ambiente macroeconômico: (a) inflação estabilizada em nível historicamente baixo; (b) diminuição da taxa de juros; (c) diminuição do risco país com consequência na entrada de investimentos do exterior; e (d) expectativa do Investment Grade. Expansão da oferta de crédito: (a) menores taxas e maiores prazos; (b) medidas governamentais de estímulo ao setor; (c) foco das políticas governamentais nas classes de menor renda; (d) crescente "apetite" dos agentes do setor privado; (e) pequena participação do crédito em relação ao PIB (5% no Brasil x 70% nos países desenvolvidos); (f) crescimento de emissão de CRIs; e (g) crescimento de emissão de FIPs. A Reunião de Planejamento Estratégico - Fevereiro 2008 O planejamento estratégico era uma prática desenvolvida na empresa desde longa data, mas não parecia ser uma coisa consolidada. A Figura 5 indica uma linha do tempo em que as coisas estavam acontecendo. A reunião tinha sido agendada com antecedência, para o início do ano de 2008, a pauta de discussão abrangia o seguinte elenco: (a) o planejamento estratégico proporcionado pela revisão anterior; (b) cenários para os próximos três anos; (c) indicadores relevantes para a organização; e (d) cenário interno. Figura 5. Linha do Tempo das Reuniões Os vários participantes foram chegando e Paulo, gerente de marketing e vendas, foi o primeiro. Era reconhecido especialista em vendas de imóveis, muito preparado para discutir questões como crédito imobiliário e poder aquisitivo dos clientes. Seus cinquenta anos de idade permitiram vivenciar diferentes momentos na empresa e obter experiência diversificada, o que proporcionou condições para certa ascendência sobre os demais, dada a sua enorme capacidade de argumentação. Começou sua vida profissional em outra organização na época, de maior porte, transitou por instituições financeiras; mas estava na Tocaobra por mais de dez anos, o que permitia grande conhecimento dos meandros decisórios da entidade. "Como vai, Luiz Mário? Vamos na inauguração do novo conjunto da Portelinha?" "Já marquei na agenda e não vou faltar." (Luiz Mário) "Bom dia, pessoal, a taxa de juros subiu de novo". (Márcia) Márcia, gerente de controladoria, era uma jovem que tinha vindo para a empresa recentemente e tinha como preocupação estruturar a organização, dar uma cara mais organizada. Sua carreira tinha sido muito rápida, tendo passado por uma experiência como trainee em empresa multinacional, detentora de MBA fora do país e grande experiência com sistemas de informações. Era vista como executiva com grande energia e determinação nos projetos em que se envolvia. Via na gestão de Luiz Mário uma grande oportunidade qualitativa de crescimento para si e para a empresa."Os nossos empréstimos estão sendo amortizados, não é?" (Luiz Mário) "Sim, mas toda a cadeia vai ser afetada. Ô Roberto, como vai? Os seus fornecedores diminuíram os prazos de pagamento?" (Márcia) "Claro que não. Por que você está perguntando?" (Roberto) Roberto, gerente de operações, era o sucessor de Luiz Mário, gerente anterior. Saiu de uma empresa concorrente para vir trabalhar na Tocaobra. A sua empresa anterior era de organização relativamente mais estruturada do que a Tocaobra. Questionador do modelo de gestão, sempre que podia apresentava seus comentários sobre a falta de estrutura no processo de gestão. "Vamos começar a nossa reunião? Manuela, Oscar e Antonio: vamos em frente?" (Luiz Mário) Manuela, gerente de talentos, psicóloga por formação e com muita experiência em seleção, remuneração e treinamento de pessoas. No início de sua atividade na empresa, não se sentia muito à vontade com o ambiente pouco aberto a uma visão de gestão mais participativa, em todos os níveis; vê com bons olhos a ascensão de Luiz Márcio. Oscar, supervisor de produção, ex-estagiário que foi efetivado. Muito ativo, tem pouco tempo de empresa. Muito preocupado em mostrar capacidade de liderança. A pressão por resultados de curto prazo é muito grande na sua área e ele é sensível a isso. Antonio, supervisor de logística, engenheiro com pós-graduação em logística, que veio para a empresa para aperfeiçoar os processos de disponibilização dos insumos. A diretoria da empresa tem apostado muito na melhoria de eficiência dos processos de logística e a vinda de Antonio provocou enorme expectativa de redução de custos, ainda não concretizada. Luiz Mário abriu a reunião colocando algumas expectativas em termos de processo e comportamento, informando que esperava dos vários níveis hierárquicos uma postura mais participativa, proativa e com abertura para discutir riscos. Prontamente os diálogos se sucederam. "Como assim? Você quer que eu faça tudo? Você é que fala com os sócios e sabe o que eles querem. Se o trabalho não for direcionado, vamos demorar muito tempo para montar o plano e não cumpriremos o cronograma. Eu não gosto dessa conversa de rodar muito para chegar a um lugar que já se espera. Sem isso eu nem sei como começar. Diga logo que metas você quer para o futuro". (Roberto) "Os tempos mudaram e nós temos que dar mais autonomia para nossos colaboradores e trabalhar com maior coerência entre discurso e prática. Afinal, todo o mundo concorda com o discurso de que somos empreendedores internos e que o nosso bolso vai ser recompensado pelo desempenho. Assumir riscos com mais intensidade e propor ações sem esperar alguém mandar é só consequência. É só isso!" (Luiz Mário) "Ele tem razão, Roberto: é agora que iremos mudar a forma de trabalhar. Não dá para fugir disso". (Márcia) "Márcia: tudo bem, é muito interessante esse direcionamento, mas não estamos preparados. Luiz Mário: Eu entendo que você está assumindo uma posição nova e queira mudar, mas eu acho difícil falar para os meus colaboradores que a visão de gestão muda de top-down para bottom-up. Ou seja, que esperamos deles a construção das metas e não vamos impô-las goela abaixo. Eles foram acostumados a fazer o que o diretor mandava. Em algum momento no passado essa expectativa participativa já teria ocorrido e a recompensa por maior arrojo no estabelecimento de metas extremamente difíceis de serem atingidas foi uma cobrança implacável". (Paulo) "Vocês reclamaram tanto e agora que eu quero bancar uma mudança vão resistir e não apoiar essa postura! Não esperem de mim a mesma atitude do meu antecessor, que definia tudo e depois não conseguia cobrar nada. Espero de vocês uma proposta bem desenvolvida, factível e com condição de compromisso". (Luiz Mário) "Não é que não sejamos favoráveis a uma gestão mais participativa com mais iniciativa da turma de baixo, mas não esperávamos isso assim de repente. Quem garante que, depois que os nossos subordinados oferecerem as metas, nós não exigiremos algo maior, pressionados por você e pela holding? Foi isso que aconteceu na outra vez. Eu lembro que convenci todos a realmente acreditar que bottom-up seria uma forma de participação. Aqueles que acreditaram colocaram metas muito desafiadoras e, depois, tiveram que aumentar ainda mais. No final do ano, ninguém tinha alcançado a meta e nada de bônus! Foi uma experiência inesquecível para todos. No ano seguinte ninguém se mexeu e tivemos que voltar para o top-down!" (Paulo) "As informações que eu recebo para projetar o futuro são muito estranhas e eu não sei o que é mais vantajoso para a organização: terceirizar algumas operações ou insistir em ter recursos próprios. Há muitos erros nos relatórios e, cada vez que eu peço alguma explicação, descubro novo erro. Acho que não dá para cobrar alguma coisa, a partir do nosso sistema de informações. Se eu tiver que propor minhas próprias metas, como vou saber se realmente posso alcançá-las?" (Roberto) "Erros são humanos e ocorrem em toda a empresa. Você está carregando nas tintas e aumentando a importância do problema." (Márcia) "Não está, não. Acho mesmo que o problema é ainda pior na minha área e eu preciso de ajuda. Eu não tenho indicadores que permitam entender o desempenho de uma área como a minha! Tudo aqui é feito para captar desempenho das áreas-fim e não meio. Eu não consigo refletir sobre o impacto favorável que gero na entidade e corro sempre o risco de perder cada vez mais os meus colaboradores. Como posso valorizar minhas ações? Pior ainda: eu sou um prestador de serviços para os demais. Como posso propor algo, se os meus clientes nem sabem o que devem fazer? Como migrar do top-down para uma situação dessas?" (Manuela) "Ou vocês apóiam a mudança ou não reclamem mais. A Márcia vai ajudar-nos a estruturar mais o processo e, paulatinamente, vamos ajustando-os. Eu não espero que tudo seja perfeito, mas acredito que é possível trabalhar de maneira diferente." (Luiz Mário) Primeira Reunião de Apresentação do Orçamento - Agosto de 2008 Rever o planejamento estratégico num momento em que as notícias são sempre positivas tem consequências: fica muito difícil não gerar metas excessivamente altas. No momento em que fizeram a revisão do planejamento estratégico, o ambiente de negócios estava muito aquecido e positivo. Essa percepção foi muito forte na montagem das metas de longo prazo e compromisso com os acionistas. Algum tempo depois, cessada a euforia, as coisas se mostraram mais restritas e o otimismo se foi. A revisão do planejamento estratégico ocorreu, sendo aprovada pelos sócios. Como consequência, na hora de montar o orçamento do primeiro ano do período por ele compreendido, o grau de dificuldade foi percebido como maior do que o normal e os executivos se perguntavam se o nível de detalhe com que foi elaborado teria sido adequado para estabelecer referenciais que pudessem ser discutidos com seriedade. "Os meus gerentes não se prepararam adequadamente; eu tenho que decidir as metas e passá-las a eles. Como consequência disso, eles dizem que o planejamento desta empresa é muito top-down, com participação muito pequena. No final, na hora de montar o orçamento, eles dizem que não poderiam atingir as metas definidas nem foram envolvidos na discussão do planejamento estratégico. No fundo, o que fizemos foi uma mudança parcial em que nem o diretor nem os funcionários do chão-de-fábrica foram envolvidos e o meio da pirâmide é que vai carregar sozinho o piano. Não dá para cumprir essa agenda". (Paulo) "Se vocês não colaborarem, dando o exemplo, nada vai mudar mesmo. Daqui a pouco os sócios estarão discutindo detalhes da operação no canteiro de obras". (Luiz Mário) "Eu preciso projetar os investimentosem equipamentos, mas não tenho como fazer isso. Falta confiança nos subordinados na hora de passar informações. Como posso projetar investimentos, se não sei o que vocês irão demandar? Na verdade, não consigo perceber o impacto que eu tenho no resultado. Onde eu vejo isso? No lucro, no caixa, na margem? Eu já tenho de acompanhar o avanço físico da obra e agora tenho de me preocupar com dinheiro!" (Oscar) "Oscar, eu já lhe expliquei, mais de uma vez, onde você deve olhar para se avaliar. Vocês não têm nenhum compromisso com o que discutimos anteriormente! O acionista espera um dado retorno, comprometido por todos na última revisão do planejamento estratégico. Agora parece que todo o mundo se esqueceu disso. Afinal, para que serve uma etapa prévia de análise e planejamento do longo prazo? O pior é que sempre sobra para mim ter de explicar as variações". (Márcia) "Eu acho que todo o mundo deveria ser cobrado de maneira igual. Eu tenho que projetar a minha capacidade de atender à área de marketing, mas não dá para confiar, pois eles projetam coisas que não dá para acreditar que se possam atingir. Nada acontece com eles e, no ano seguinte, tudo se repete". (Roberto) "Eu quero projeções realísticas, com desafios e não números cheios de reservas, que impeçam o entendimento da diretoria sobre a adequação dos resultados. Cada vez que eu recebo o resultado do acompanhamento orçamentário, percebo alguns desvios inaceitáveis em termos de magnitude. A boa nova é que sempre são favoráveis na receita, o que me leva a pensar que poderíamos ser mais exigentes na montagem das metas comerciais e não facilitar tanto os nossos executivos na hora de ganhar bônus por desempenho. Por outro lado, algumas despesas claramente foram superestimadas, pois nunca ocorrem". (Márcia) Reunião 'Final' do Orçamento - Outubro de 2008 Luiz Mário aguardava a chegada dos gerentes para o início da reunião do orçamento. Tinha tido tempo para pensar. Agora esperava que pudesse dar sequência ao seu projeto de gestão. "Elaborar o orçamento era parte relevante do processo de gestão, mas era sempre apenas parte. Depois disso, teria de ser realmente realizado", pensava Luiz Mário. Um processo adequadamente elaborado era parte importante do caminho a ser percorrido e, para Luiz Mário, até então, tinha sido um desastre, cheio de incoerências e situações indesejadas. De qualquer forma, ele esperava que a reunião de fechamento do orçamento, antecedente à apresentação aos sócios, fosse, como por milagre, algo diferente do que já tinha ocorrido. Percebia que o otimismo do futuro em relação ao negócio não tinha afetado favoravelmente o comportamento gerencial das pessoas. A sua UN, desde que ele tinha assumido, tinha apresentado desempenho inferior ao que era previsto e existia a expectativa de que a recuperação viria logo. Sentia que algo deveria ser feito. Na verdade, ele deveria tomar uma decisão importante de como queria gerenciar a sua área nos próximos anos e mostrar que era um vencedor, com resultados positivos. A última coisa que ele queria era aliar maus resultados às mudanças que desejava fazer. Aquele momento, independentemente das metas estabelecidas, poderia ser o seu momento de definir "a cara" da gestão que deveria imprimir e a abordagem (top-down x bottom-up) parecia ser um ponto crucial, para que a sua gestão começasse a ter cara e fisionomia. Enquanto se preparava para a reunião, lendo as mensagens do dia, Luiz Mário teve a sua atenção retida por duas mensagens. Uma delas referia-se à outra unidade de negócios, a UN Sul, que comemorava crescimento espetacular no faturamento, alardeado por seu diretor. A outra notícia referia-se à empresa concorrente, que tinha vencido uma concorrência para a construção de um conjunto de casas populares em que Luiz Mário considerava cativa. É, não se pode ganhar sempre. Mas os sócios também não vão aceitar que se perca com frequência. Notas 1 O caso aqui relatado descreve ocorrências verídicas em uma empresa fictícia, com personagens que não existem; mas poderiam existir e até com os mesmos nomes. Etapas do Roteiro de Solução 1. Identificação do problema: Os grupos devem descrever uma síntese do caso, com a identificação da empresa e dos personagens e principalmente qual o dilema e o problema a ser tratado. 2. Pontos de análise: Os participantes devem identificar os pontos que chamaram a atenção e que entendem que devam ser tratados para a solução do caso. Devem ser pontos que cubram os elementos relevantes. Um ponto de análise pode ser uma frase, pode ser uma informação oferecida, etc. 3. Proposta de solução: Os alunos devem indicar formas de resolver o dilema. São propostas estruturadas em Planos Operacionais. 4. Fechamento e apresentação da ferramenta de gestão (Orçamento) CRONOGRAMA DE DESENVOLVIMENTO ITEM DATA ATIVIDADE ENTREGA 1 8/03 Identificação Problema Descrição Síntese e problema a ser tratado 2 15/03 Pontos de Análise Posicionamento 3 22/03 Proposta de Solução Plano Operacional – Vendas 4 29/03 Proposta de Solução Plano Operacional - Processos 5 5/04 Proposta de Solução Plano Operacional – RH 6 12/04 Proposta de Solução Plano Operacional - Finanças 7 19/04 Fechamento Orçamento Importante: As entregas referentes aos itens 1 ao 6 são entregas parciais e não definitivas, ou seja, podem ser alteradas durante o desenvolvimentos dos planos. A entrega do item 7 é considerada a entrega definitiva.
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