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as fantasias seletivas

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AS FANTASIAS 
ELETIVAS 
PENSAMENTO DO AUTOR 
 
"Escrever é sempre uma esquizofrenia 
domesticada. Se algumas vezes é 
divertido, na maioria das vezes é doloroso, 
muito doloroso." 
(Schroeder, Carlos Henrique) 
ESQUEMA LITERÁRIO 
 PERÍODO: LITERATURA 
CONTEMPORÂNEA 
 ÉPOCA: ANO 2000 
 LOCAL: BALNEÁRIO CAMBORIÚ 
 NARRADOR: 3ª PESSOA – ONISCIENTE 
 ( O PRÓPRIO AUTOR) 
 PROTAGONISTA: RENÊ ( ANTI-HERÓI) 
 Renê, protagonista de As Fantasias 
Eletivas, é um tipo ao mesmo tempo 
sombrio e corriqueiro. Um funcionário 
de hotel que passa as noites a limpar 
com álcool o balcão, mas que no fundo 
guarda um passado secreto e um 
emaranhado de angústias. 
 TEMA: SOLIDÃO 
 PERSONAGENS: RENÊ E COPI 
(TRAVESTI) 
 ROMANCE FRAGMENTADO E NÃO-
LINEAR ( CHEIOS DE RECURSOS 
NARRATIVOS) 
 O LIVRO NUM DETERMINADO PONTO 
ABRE-SE PARA OUTRO LIVRO. 
 AS FOTOGRAFIAS SURGEM COMO 
ELEMENTOS NARRATIVOS DEGRANDE 
FORÇA. 
 NARRAR SIGNIFICA PERCORRER 
TRÂNSITOS NEM SEMPRE ÓBVIOS. 
 
 INFLUÊNCIA: CORTÁZAR E BRETON, 
SEBALD ( FOTOGRAFIAS) 
 “SEBALD A FOTOGRAFIA NÃO É 
ILUSTRAÇÃO É PERSONAGEM” 
 
BIOGRAFIA 
 Carlos nasceu na década de 1970 na cidade de 
Trombudo Central, no interior de Santa Catarina. 
 É filho do contabilista Renato Schroeder e da 
professora Maria do Carmo Schroeder 
 Carlos teve na biblioteca dos avós paternos o 
caminho para a escrita: obras completas de 
Maupassant, Hemingway e Tolstói 
 Estreou na literatura em 1998 com a novela "O 
publicitário do diabo" (Manjar de Letras) 
 Romances "A rosa verde" (Editora da UFSC, 
2005), "Ensaio do Vazio" (7 Letras, 2006) 
 Coletânea de contos "As certezas e as palavras" 
(Editora da Casa, 2010). 
 Em 2009 foi contemplado pelo Edital Elisabete 
Anderle, do Governo do Estado de Santa 
Catarina, com recursos para publicar uma 
antologia de suas peças de teatro. 
 
 Com vinte e poucos anos, Carlos Henrique 
Schroeder passava suas noites atrás de 
um balcão em Balneário Camboriú, cidade 
turística do litoral catarinense. 
 Os negócios em que havia investido antes 
tinham falido, ele tinha pouco dinheiro e um 
senso de observação aguçado. 
 Para se reestruturar, começou a trabalhar 
como recepcionista e passou por quatro 
ou cinco hotéis diferentes na cidade, 
trabalhando em turnos alternados . 
 A importância desse período se reflete no 
romance As Fantasias Eletivas(Editora 
Record). 
 
 “Foi uma época divertida, sobrava tempo para ler 
e escrever nas madrugadas sombrias que eu 
passava na recepção, e muitos hóspedes sul-
americanos esqueciam livros nos hotéis – muita 
porcaria, mas também coisas que foram muito 
importantes para minha formação, como Augusto 
Monterroso, Mario Levrero, Pablo Palacio, Onetti 
e Borges”, lembra o escritor. 
 Um pouco depois da experiência nos hotéis, 
escreveu um conto chamado “Os recepcionistas”, 
que está num de seus primeiros livros, As 
Certezas e As Palavras (de 2010, com o qual 
ganhou o prêmio Clarice Lispector de Literatura) 
 Trata da vida frenética de um recepcionista de 
hotel. O escritor revela que esse conto acabou 
se desdobrando na obra As Fantasias 
Eletivas. 
 Depois da experiência com recepção de 
hotéis, vendedor de loja de roupas, 
promoter e com mais grana no bolso, 
montou a Design Editora, que acabou se 
desdobrando também numa empresa de 
eventos – responsável pela Feira do Livro 
de Jaraguá do Sul-SC, Festival Nacional 
do Conto e que em breve prepara uma 
jornada literária no interior do país. 
 Longe do eixo Rio-São Paulo, Schroeder 
não acredita em fronteiras regionais na 
literatura. 
 “O regional pode ser universal, como 
Guimarães Rosa, por exemplo. Não há 
fronteiras na literatura, desde Dom 
Quixote”. 
 "Sempre soube que de alguma maneira 
seria escritor, e quando me descobri um 
leitor compulsivo, que fazia seus próprios 
gibis e rabiscava contos numa caderneta, 
percebi que o caminho era aquele... E 
quando descobri que eu era doido, que 
tinha poucos amigos, e que seria sempre 
um solitário, cultivando a solidão num 
campo de algodão... Tive a certeza." 
A OBRA 
 E romance nasceu de um conto. Eu queria 
escrever um romance sobre essa época, 
mas saiu outro absolutamente diferente, 
mais focado na solidão, na escrita, com um 
personagem forte como Copi surgindo e 
tomando conta do livro, 
 Renê, passo a ser o grande anti-herói. 
 Literatura é sobretudo risco, você corre 
riscos a todo instante, na escolha dos 
personagens, da abordagem. 
 Esse então esse livro é, na verdade, 
muitos livros, e precisei de ajuda de outras 
linguagens para criar e dar conta desse 
imaginário. Tem uma frase no livro que vai 
ao encontro disso: “Tem muita palavra no 
mundo”. 
 
 As Fantasias Eletivas tem o choque de 
dois mundos, o letrado e o iletrado, e 
ambos são açoitados pela solidão. 
 Esse livro é, na verdade, muitos livros, com 
diversas camadas, que vão se moldando 
de acordo com a percepção do leitor 
 A travesti-escritora do As Fantasias 
Eletivas adotou como nome de guerra o 
pseudônimo do escritor, quadrinista, 
dramaturgo e ator-travesti argentino Raúl 
Taborda, que usava Copi como nome 
artístico. 
 Copi foi um importante ativista gay. Foi 
uma forma também de mostrar o quanto a 
personagem do livro é um espelho sem 
fim, um espelho da própria escrita. 
 
Raul Taborda Damonte 
 Conhecido como Copi, nasceu na Argentina em 
1940 e tornou-se uma figura controversa na 
França, nunca escondendo sua condição de 
exilado, homossexual e portador do vírus HIV. 
Escreveu a sua primeira peça em Buenos Aires, 
em 1962 (Un angel para la señora Lisca), mas foi 
em Paris que produziu o essencial de sua obra. 
 
 
 Copi, morreu com Sida em 1987. "O 
frigorífico" é um dos emblemáticos 
monólogos que Copi chegou a representar, 
em 1983, o Teatro Plástico estreia na 
Fundação Escultor José Rodrigues, no 
Porto, em 2008. 
 
 
 
 Copi foi insubmisso. Desses que não se 
regram – literalmente, era sinônimo da 
desconstrução. Entre suas maquiagens 
extravagantes, seus vestidos 
escandalosos e gestual tão intrínseco fez 
de si a melhor definição da sua própria 
classificação: o ator-travesti. 
 Personagens complexos e angustiados. 
 As Fantasias Eletivas partiu de um 
ponto muito pessoal, o autor foi 
recepcionista de hotel, trabalhou em 
quatro ou cinco hotéis em Balneário 
Camboriú e em turnos diferentes. 
 Em As Fantasias Eletivas , A 
FOTOGRAFIA , é personagem também, 
como pura representação da solidão. 
 
 Num mundo saturado de informação como o 
nosso, as fotografias são uma espécie de 
segunda memória, é para lá que você corre 
quando quer lembrar os melhores momentos de 
uma viagem, de seu casamento, de sua família, 
do final de semana. 
 A fotografia é nossa memória externa, ou melhor, 
interna, como em Sebald. 
 
 
 Todas as fotos do livro são de autoria do 
autor , simulam instantes de, Polaroid, 
porém ele fez com seu Iphone 4 em 2012. 
 Não são fotos profissionais, mas o que 
move é a distância entre o fotógrafo e a 
fotografia e suas similaridades com a 
literatura. 
 “Às vezes, creio que o elemento definidor 
de minha interpretação pessoal de 
fotografias deriva do fato de que, durante 
anos, nunca pensei em quem as havia 
tirado”. 
 Aí entra Copi, nossa personagem, alguém 
que busca algo além da própria imagem, 
alguém que busca nas fotografias as 
ficções que gostariade criar para aplacar 
sua solidão. 
 
FÁBULA 
 Na turística Balneário Camboriú, Renê, um 
recepcionista noturno de hotel, tenta 
reconstruir sua vida e encontra na amizade 
de Copi, um travesti obcecado por 
fotografias, uma alternativa para sua vida 
destruída. 
 Renê lerá o que Copi escreve e será o 
único que terá acesso a suas fotos de 
surpreendente beleza. 
 As fantasias eletivas une prosa, poesia e 
fotografia para refletir sobre a solidão e a 
criação literária, e mostra como a literatura, 
a de verdade, é sobretudo feita de sangue. 
 É quando um livro se abre dentro do livro, 
e tudo se torna um grande ensaio da alma 
humana. 
AS PARTES DA OBRA 
 01. S DE SANGUE 
 02. A SOLIDÃO DAS COISAS 
 03. POESIA COMPLETA DE COPI 
 04. AS FANTASIAS ELETIVAS 
 I. S DE SANGUE 
 Narrador diz que Renê chegou rubro ao 
banheiro. 
 Olha-se no espelho. 
 A mulher esta ainda na mesa.(namorada) 
 Ele volta e diz que estava ansioso. 
 Percebe que na mesa vizinha um cara, 
enquanto acaricia a namorada , olha para a 
acompanhante de Renê. 
 Morre de ciúmes. 
 Foi casado, teve filho e quase matou 
mulher e filho, divorciado. 
 Bebia muito no passado. 
 A acompanhante disse que gostava de 
dançar, era aplicada nos estudos e 
ciumenta. 
 “Como a lua está linda hoje, né?” (ela) 
 “Pois então, a lua sempre parece mais 
bonita aqui na praia, não é?” 
 Eles não tinham papo, papo furado. 
 Renê estava com dor de estômago por 
causa da tainha, azia imensa, vontade de 
arrotar, não podia pagar uma garopa. 
 
 Ela tb não gostava de peixe, mas 
comeram. Para ela , peixe é comida de 
fracos, carne de verdade é pernil, chuleta 
de porco. 
 Ele fica triste com a seqüência da noite, 
sem relacionamento e sem frutificar. Ele 
quer ir embora logo para tomar antiácidos. 
B 
 Saiu do hotel, guardou o crachá. Uniforme 
de poliéster, muito quente. 
 Atravessou a Av. do Estado. Trabalhou 
toda a noite e não tinha dinheiro para 
mototáxi. Estava muito suado. 
 34 anos. Pensou em comprar macarrão e 
alho ( fiado). 
 Viu um cara magro vindo em direção a ele 
e chamou-o pelo nome. Cara mal vestido. 
 O rapaz deu uma facada na barriga de 
Renê. Faca de cozinha, grande ardência. 
 “ É um aviso, um lembrete, mermão, é pá 
deixá a Seca na dela. Some, sacó?” 
C 
 Recorda de quando apanhara quando 
pequeno. 
 Levou um chute, foi humilhado por um 
estranho. Tapa na cara e um chute. 
Apanhou porque estava bem vestido ( 20 
anos atrás) Mas seu futuro era inglorioso. 
 (Waldir, Humberto,...) as meninas 
gritaram... 
 Agora com a facada, sabia que não podia 
reagir, seria pior. 
 O rapaz fugiu, as pessoas começam a 
gritar e levam ele ao hospital. Viu tudo em 
câmera lenta. Foi para o hospital num 
Chevette velho atrás enrolado num lençol e 
coberto velho. 
 
 Pronto-socorro cheio. Palavra “ai”. 
 Relembra do passado quando uma lata 
cortou seu cotovelo, inflamou e teve que 
tomar antitetânica. Não dormiu naquela 
noite por causa de um louva-deus-verde. 
E 
 Há um corte na história. Renê esta no hotel 
e sr. Afonso convida-o para assumir novo 
horário na recepção: 23h às 7h. Se não 
aceitasse seria demitido como os outros. 
 Liga para sua mãe e esta o chama 
atenção, pois este molestou muito seu filho 
e sua esposa. Ela ligaria quando 
precisasse, no momento deve ficar sem 
contato. 
 Renê quando foi morar em Balneário 
comprou um sabonete da turma da Mônica 
para sentir o cheiro do filho. Seu filho 
chama-se LÉO. 
 Ele acreditava que seu filho iria perdoá-lo. 
 Há neste momento um corte na obra pois 
lembra que os turista ligavam para a 
recepção atrás do Ariel e pede algo em 
segredo. 
 Renê lembra que os hóspedes sempre 
davam boas gorjetas. 
 Ganhavam gorjetas de taxistas, prostitutas, 
prostitutos, tudo.... Tinha algum tipo de 
pagamento nem que seja um bom boquete. 
 Os hóspedes querem de tudo, de fotos 
pornográficas a acompanhantes (ambos 
sexos) . 
 Numa daquelas noites apareceu uma 
jovem, apresentou-se como Copi e deixou 
um book para que chamasse para um 
programa. 
 Ele percebe que é um travesti e que ele 
tinha “ palmito na salada “ (pau) e guarda o 
book , mas não o chama.. 
 
 Todos os dias passava pela frente do hotel 
e nada.Sempre a meia-noite. 
 Um dia entra e pergunta porque não o 
chamava. Sem Renê esperar recebe as 
sandálias de salto no peito. 
 “Sou copi, seu merda!” 
 Dias depois aparece, só que está vez Renê 
está com um taco para defender-se. 
 Lê no book: “Copi , Travesti magra, bonita, 
bem vestida e inteligente. Nível 
universitário. Ativa e passiva: não 
decpeciona, prazer além da carne. Atendo 
com local próprio e sem portaria.” 
 “Bregário Balnéario” dizia Copi. Shopping 
a céu aberto.... Turistas brasileiros e 
argentinos...depois os jubilados “cabeça 
branca’, a alegria das farmácias. 
 Depois Copi aparece para amançar o 
bicho. Trouxe uma caixa de alfajores 
Havanna, depois vinho.....por fim ele 
abandona o taco de beisebol. 
 “Que galo heim, lindão? Vim selar as 
pazes.” 
 
 Tornam-se amigos. Ela lembra da mãe.. 
Perguntava quando criança sobre amor, 
sobre a morte... 
 “Você morre e desaparece do mundo. Só 
ficam as lembranças boas ou ruins” 
 Renê conhece o apto de Copi, muitos 
livros. Ela foi jornalista em Argentina...caiu 
na vida . 
 “Há mais palavras no mundo do que gente. 
O que nos liga ao passado é as fotografias. 
A memória rege as inúmeras fantasias 
eletivas”. 
 Comecei a me incendiar ... Era jornalista 
em Mendoza...é tudo prostituição, uns 
vendem o corpo, outros a mente... É tudo 
putaria. 
 Conversam muito sobre tudo, como ela 
gosta de escrever e que ela tinha uma 
polaroid e adora registrar momentos... 
 Dessa imagens relia através das palavras 
a vida naquele momento. 
 Ela dava conselhos a ele.... Ah! Ratón... 
 Um dia recebe um telefonema da polícia 
perguntando se conhecia Sebastián 
Hernández. Ele não conhecia...e Copi, sim 
 A policia diz que ele cortou os dois pulsos 
com uma gilete, e demorou horas para 
morrer. Deixou-lhe uma carta. ( nada 
arrombado, nem bebidas, nem drogas) 
 Todas as roupas passadas e arrumadas. E duas 
malas feitas para uma viagem da Hello Kitty com 
o nome de Renê e o telefone. 
 Ele estava assistindo a um filme ruim. 
 Ela deixou seus poemas, a polaroid, várias fotos. 
 “É coisa de homens, não de Deus, nem de 
travestis”. 
 Dias antes Copi está feliz, reluzente. Ele 
não entendia. Ela contou seus amantes da 
Europa, do sul do Brasil... 
 “Ratón vou te contar uma história...” 
 “Fotografa tudo, é a fotografia das 
palavras.” 
Fotografias: 
 Menina no trilho. 
 Uma mulher e duas crianças acendendo 
velas no trilho. 
 Fotos da solidão. 
A SOLIDÃO DA COISAS 
 O maior caso de suicídios de objetos é 
justamente o dos ponteiros de relógio. 
Relógios parados , desprezados pelos 
homens. 
 
Foto bar de hotel 
 Todos ali exercitam sua solidão. Você tem 
quer sorrir e fingir que não está chicoteado 
pela solidão. 
 
Foto : pé solitário, num corredor de 
ônibus. 
 Está só, coberto por uma manta de tecido 
sintético. Não esconde a solidão, só o frio. 
 
Foto: ponte Hercílio Luz 
 Desativada há anos. Observa todos os dias 
a passagem de carros, caminhões nas 
suas primas ou irmãs pontes. Dizem que 
Cruz e Sousa, morreu 24 anos antes de 
começar a ponte, escreveu 37sonetos 
sobre a ponte metálica que morderia a ilha 
todas as noites. Descontente, jogou os 
sonetos foram onde foi construída a ponte. 
 
Foto: corredor vazio 
 Grito engasgado de um estupro ou morte 
violenta. É a mais perigosa, contagiosa. 
 
Foto: os rejuntes cerâmicos 
 Invisibilidade social. Apontados como 
verdadeiros párias. Cada rejunte cada 
canta em cada manhã uma música triste e 
arrastada... 
 
Foto: Placas de trânsito 
 A de proibido estacionar é a mais odiada. 
Antes nasceu de uma placa de indicação 
de velocidade ou aviso de lombadas. São 
reincidentes, cometeram crimes graves... 
 
Foto: Pino de alarme de incêndio 
 Ninguém quer tocá-lo. Tão pequeno, 
alguém bate no vidro e deixa ele ali 
solitário balançando. Pinos morrem de 
traumatismo. 
 
Foto: ginásio vazio 
 Ginásio de esporte vazio é a maior obra de 
arte de todos os tempos. 
 
Poesia Completa de Copi 
 Duas cambojanas nuas 
 Leem 
 James Joyce 
 Mas o que elas 
 Gostam 
 Mesmo neste 
 Lance é o suave 
 
 Odor que sai 
 Da boca 
 De cada uma 
 
 Um cheiro quente 
 De 
 Boceta. 
Poesia 02 
 Ninguém 
 Me disse 
 Que 
 Era 
 Fácil 
 Aprender 
 A sofrer 
 
Poesia 03 
 Toda 
 Palavra é 
 Um 
 Poema em ponto morto 
Poesia 4 
 
 No fim, 
 É só o fim 
As Fantasias Eletivas 
 “ Mãe sou escritora. Gostaria de escrever 
coisas alegres, engraçadas: que qualquer 
pessoa pudesse ler e soltar um sorriso. 
 Mas só escrevo coisas tristes ou 
incompreensíveis. 
 Sou apenas um traveco contador de 
histórias sem sentido. 
 Meu legado será o que fiz com a bunda. E 
não com a caneta. 
 Dirão assim: essa mexia, essa mexia. 
 Trabalhamos com empatia, nos colocamos 
no lugar do outro. 
 Sou esquizofrênica com meu corpo. 
 Escritores de verdades são aqueles que 
procuram na palavra aquilo que não 
encontram na vida. 
 Mãe sou escritora, sinto muito. 
final 
 Renê guarda a série de fotografias e textos 
sobre a solidão, e os poemas de Copi, 
junto com suas pastas de documentos 
pessoais. Nunca mostrou a ninguém. Copi 
seria de um leitor só, uma só solidão – 
Renê. 
 Recebe uma ligação de um hóspede 
pedindo algum book de acompanhantes. 
 Disse que não tinha essa coisas. O 
hóspede pede uma pizza. 
 
 Renê diz , acabei me acostumando com a 
vida de hotéis. O silêncio das quatro 
paredes. Ele é o mister do álcool. 
Certo dia rabiscou: 
 Não consigo 
 Não posso 
 Não mereço 
 Não sei 
 Não tenho 
 Não sonho 
 Não amo 
 Não choro mais 
 Copi ficaria orgulhosa... 
 
 “Ei, Ratón, você confiia em mim?..Claro, 
você é minha amiga, porra...”

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