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Aula de Max Weber

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Max Weber – 1864 – 1920
“Exagerar é a minha profissão” – a frase expressa muito bem o significado de sua vida e de sua obra - Envolvimento apaixonado com os debates e problemas políticos de sua época, especialmente da Alemanha, busca do conhecimento através de uma forte erudição, dedicação intensa à pesquisa e reflexão metodológica, crítica veemente ao que lhe parecia errado.
Postura nem sempre coerente diante das questões práticas – 1ª Guerra Mundial – crítica ao governo alemão – Guilherme II – quando intensifica a guerra submarina atrai como inimigo os EUA. Quando se encerra a guerra Guilherme II é obrigado a renunciar - nova constituição e República de Weimar – Weber volta-se para os grupos revolucionários que estariam comprometendo a integridade nacional da Alemanha derrotada na guerra.
Afirmava ser mais cientista que político – ao político é possível estabelecer compromissos ao cientista não.
Postura Teórica – associado à formulação de um conceito para a análise histórico-social: o tipo ideal – recurso metodológico para orientar o cientista diante da inesgotável variedade de fenômenos observáveis da realidade. A realidade é caótica – é necessário ordená-la para reter seus traços específicos – consiste em enfatizar determinados traços da realidade, na sua expressão mais pura e, portanto, nunca se apresentando assim na realidade – recurso metodológico – uma construção conceitual – existe no plano das idéias, no pensamento do pesquisador para formulação de questões, orientação na pesquisa e estabelecimento de comparações entre os fenômenos observados. 
Primogênito de oito filhos – pai jurista e político pragmático – mãe Helene Weber – imprime ao filho socialização segundo preceitos severos do protestantismo. Segundo seus intérpretes essas características de sua socialização tiveram forte influência em sua formação e comportamento – tensão constante entre reflexão e ação, entre repressão ascética dos impulsos em nome da autodisciplina e uma postura mais tolerante e descontraída.
Convívio cotidiano com políticos e intelectuais da época – Georg Simmel e Georg Lukács. Divide sua vida entre atividade intelectual e participação prática na vida política alemã. Participa da comissão de redação da Constituição da República de Weimar – 1919 – integra grupo de assessores da delegação de paz alemã em Versalhes.
Formação acadêmica – Direito, História, Economia, Filosofia, Teologia. Sua dedicação à Sociologia se dá no final de sua vida, embora suas contribuições já datem de 1913.
Período de 1891-1897 – atividade acentuada seguida de crise psíquica que o afasta da vida intelectual durante 5 anos.
1903 – professor honorário da Universidade de Heidelberg. Três períodos que marcam sua produção: 1903-1906, 1911-1913, 1916-1919.
1903-1906 – A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, estudos metodológicos e sobre a revolução russa de 1905. 
1911-1913 – Economia e Sociedade e Sobre Algumas Categorias da Sociologia Compreensiva.
1916-1919 – Retoma e dá forma final a outros temas já iniciados a exemplo da ética econômica das religiões mundiais e as tendências da política alemã da época.
 Seu estilo é marcado pela busca de uma posição autônoma em relação às questões teórica e políticas de seu tempo – por isso seu tom polêmico.
Principais idéias que marcam suas reflexões:
Não há uma linha unívoca nem um curso objetivamente progressivo no interior da história – cabe à pesquisa histórica tratar do que é particular, daquilo que permite identificar na sua peculiaridade uma configuração cultural e buscar explicações causais para essa particularidade.
Acentua os fatores econômicos, materiais para a explicação do processo histórico em exame, contra as interpretações idealistas existentes na época. Mas ao mesmo tempo se afasta do materialismo histórico ao negar a possibilidade de se encontrar um curso objetivo e determinado dos processos históricos. 
Não aceita a idéia de que é possível encarar um período histórico como se nele estivesse já configurada a época seguinte – progresso ou outra idéia similar não cabem – não se pode pressupor a presença das mesmas causas operando ao longo do tempo em diferentes configurações históricas.
Ao mesmo tempo que está preocupado com o caráter peculiar de uma configuração cultural e com suas causas, dedica-se em compreender os elementos dessa configuração que tenham um caráter mais geral e possam ser encontrados em outras épocas e lugares.
A análise comparativa resulta em compreensão da especificidade de cada período. A Análise comparativa sempre incide sobre aspectos parciais e selecionados dos processos em confronto. O importante não é encontrar o que é comum, mas sim o que é peculiar em cada uma das configurações históricas.
Seu grande tema de análise e estudos: o capitalismo moderno e o processo de racionalização da conduta de vida da qual ele é expressão. O que é específico ao mundo ocidental moderno – um capitalismo organizado em moldes racionais e a racionalização da conduta em todas as esferas da existência humana. (estudos sobre a religião “ A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo”) – regulação prático-racionalista da conduta da vida. 
Outro ponto de referência principal: O Estado Nacional e, mais especificamente, a Alemanha de sua época. Contrariamente ao Durkheim que enfatizava que a diferenciação social e sobretudo a divisão do trabalho resultariam em uma forma de suavização da vida, Weber é um analista do conflito por excelência, do confronto de interesses e valores inconciliáveis, da dominação e do poder.
Para ele , as diversas esferas da existência (econômica, política, religiosa, jurídica, etc) são autônomas entre si, se articulam a cada momento ao longo do tempo conforme lógicas internas específicas, conforme sua legalidade própria. Não é possível explicar o desenvolvimento de uma delas em termos de desenvolvimento da outra.
O Objetivo então da Sociologia é compreender as afinidades e as tensões entre o modo como a orientação da conduta da vida (da ação cotidiana de agentes individuais) se dá em esferas diferentes, sendo possível encontrar congruência entre os sentidos que os homens imprimem à sua ação em diferentes esferas da existência e expor essa descobertas a um tratamento causal.
 
Fica explícita a sua posição de que a adesão a determinados valores (éticos, estéticos ou qualquer outro) sempre está envolvida na seleção de um tema para análise, ainda que despojada de valores em seu de desenvolvimento. Conceitos como nação, cultura, estão carregado de valores e orientam a pesquisa, por isso a necessidade de construção de conceitos (tipos ideais) – recurso metodológico - para alcançar o objetividade do conhecimento (e controlar os valores).
A dimensão política – luta pelo poder – ocupa posição de destaque em suas análises, o que não significa que a economia perca a sua importância como dimensão particular da atividade humana. Na realidade Weber defende a autonomia da dimensão do político (afastamento de Marx) – não aceita a determinação do econômico – não há caráter imperativo para as conclusões dos cientistas- relativização das análises.
O cientista deve abster-se de qualquer juízo de valor na sua análise precisamente porque enquanto tal não lhe cabe reivindicar um caráter imperativo para suas conclusões. Ao cientista cabe reconstituir os fatos considerados significativos e analisa-los conforme as exigências universais do método científico. Ao homem de ação cabe tomar decisões impulsionado por questões práticas, interesses e com fundamento em valores. (ser e o dever ser).
Qualquer análise reflexiva dos elementos últimos da ação significativa humana está em princípio ligada às categorias de fim e meio. O domínio da ciência empírica é o dos meios e não o dos fins. A Ciência não pode propor fins à ação prática, no máximo pode ministrar elementos para a avaliação da conveniência de certos meios propostos para atingir finsdados.
Uma Ciência empírica não está apta a ensinar aquilo que deve, mas apenas aquilo que pode e, em certas circunstâncias, aquilo que quer fazer.
Combate a idéia de que a ciência possa produzir concepções de mundo de validade universal, fundadas no sentido objetivo de decurso histórico. Não existe este sentido objetivo e por isso não existe uma ciência livre de pressupostos valorativos. O que existe é sempre uma luta que extravasa o domínio da ciência, pela atribuição prática de um sentido ao mundo e pela sua sustentação diante das alternativas concretamente existentes. 
O que Weber está condenando é a confusão entre as duas ordens de conhecimento: o empírico e o que exprime juízos de valor.
Por mais que Weber tente deixar claras essas discussões, a idéia de objetividade do conhecimento para ele continua sendo problemática. Não é possível entender este conceito no seu sentido convencional ( racionalidade).
Contrariamente ao Durkheim não admite que o objeto se imponha ao pesquisador, cabendo apenas sua análise. Para Weber, o objeto de análise é constituído no processo de pesquisa – processo de construção, através de procedimentos metódicos. Não há uma lei interna que governa a realidade e os fenômenos sociais e que se impõe ao conhecimento do pesquisador.
A tarefa do conhecimento científico consiste na ordenação racional da realidade empírica, tendo em vista que se apresenta de forma caótica e múltipla. Por isso a necessidade da construção de conceito – tipos ideais – recurso metodológico para orientar a pesquisa e confrontar com o real e reter as especificidades que procura.
Esquema Analítico
Apesar de admitir que a análise sociológica trata de fenômenos coletivos, seu ponto de partida é a ação dos indivíduos – no estudo dos fenômenos sociais não se pode presumir a existência dada de estruturas sociais dotadas de um sentido independente dos sentidos que os indivíduos imprimem às suas ações.
Weber constrói passo a passo um esquema coerente e internamente consistente que permita ao sociólogo operar com conceitos coletivos, a exemplo do conceito de Estado, sem atribuir a estes uma realidade substantiva fora das ações concretas dos indivíduos.
Sociologia – ciência voltada para a compreensão interpretativa da ação social e para a sua explicação causal no seu transcurso e nos seus efeitos.
Ação social – conduta à qual o agente associa um sentido subjetivo – orientada pelo agente conforme a conduta de outros e que transcorre em consonância com isso.
Sentido – aquele subjetivamente visado pelo agente – aquele sentido que se manifesta em ações concretas e que envolve um motivo sustentado pelo agente como fundamento de sua ação – circularidade: sentido é o que se compreende e compreensão é captação do sentido.
Motivo é a ponte entre sentido e compreensão – é o fundamento da ação. Por isso, para o sociólogo compreender a ação significa reconstrução do motivo, pois ele é causa da ação – apontando para seu fim.
O sentido tem a ver com o modo como se encadeia o processo de ação – a ação efetiva dotada de sentido como um meio para alcançar um fim – subjetivamente visado pelo agente – ação social como processo com seqüência definida de elos significativos ( construção de tipos ideais – conceitos para dirigir a possibilidade de compreensão do sentido ) – cadeia motivacional – um ato opera como fundamento do ato seguinte...
Através dos sentidos apreendemos os nexos entre os diversos elos significativos de um processo particular de ação – reconstruir esse processo como uma unidade é compreender o sentido da ação – não é intuição nem ato psicológico e/ou subjetivo, mas reconstrução do encadeamento significativo do processo de ação. Há necessidade de um distanciamento do pesquisador em relação ao seu objeto e nunca identificação empática com o agente em questão.
Agente – a ação é sempre de agentes individuais – é a única entidade capaz de conferir sentido às ações – por isso é possível conferir autonomia interna às diferentes esferas da existência humana – ação religiosa, ação econômica, etc. Elas têm suas legalidades próprias nenhuma é determinante da outra.
O agente individual é a única entidade em que os sentidos específicos dessas diferentes esferas da ação estão simultaneamente presentes e podem entrar em contato.
Os agentes e os sentidos das suas ações não podem ser incorporados tal como se apresentam empiricamente, pois são feixes inesgotáveis e diversificados de processos que se mesclam – construção de instrumentos e orientação na realidade empírica e meio para elaboração de hipóteses – tipo ideal.
A análise sociológica opera no fato empiricamente constatável de que existem certas regularidade na ação social – certos processos de ação repetem-se ao longo do tempo – tornam-se rotina e incorporam-se ao cotidiano de múltiplos agentes – compreender as especificidades desses processos é o objetivo da Sociologia.
 Portanto, apesar de Weber partir do agente individual, sua análise sociológica chega ao coletivo, pois esses processos tornam-se coletivos – múltiplos agentes agem significativamente de maneira análoga – relação social. 
Diferença entre ação social e relação social
Ação social - a conduta do agente está orienta significativamente pela conduta de outro ( ou outros ).
Relação social – a conduta de cada qual entre múltiplos agentes envolvidos orienta-se por um conteúdo de sentido reciprocamente compartilhado
Ex: um aperto de mão é uma ação social, a amizade é uma relação social.
Qualquer relação social só existe quando se traduz em ações efetivas, por isso, qualquer relação social deve ser pensada em termos de probabilidade de acontecimento – que será maior ou menor dependendo do grau de aceitação do conteúdo do sentido da ação pelos seus participantes.
O conteúdo de sentido aceito e incorporado como legítimo assume a forma de validação de uma ordem legítima ( Estado, Igreja, Poder,etc ). Pode-se falar assim de uma ordem econômica, quando é relativa aos conteúdos de sentido das relações sociais referentes ao mercado, de uma ordem social, quando diz respeito aos conteúdos de sentidos das relações sociais referentes a uma concepção de honra, estilo de vida dos agentes ou, ainda, uma ordem política relativa aos conteúdos de sentido referentes à apropriação e luta pelo poder. 
Destes resultam os conceitos: classe – ordem econômica; estamento – ordem social; partido – ordem política.
A legitimação pelos agentes da persistência (probabilística) de determinadas linhas de ação só é possível pela operação efetiva de processos de dominação (certos agentes obterem obediência para seus mandatos). A legitimação é a contrapartida necessária para a existência de certa regularidade dos sentidos da ação e da relação social.
Não se trata de uma continuidade sempre possível, mas de uma persistência problemática que envolve sempre confronto de interesses e a presença sempre de ruptura por abandono pelos dominados da crença na legitimidade dos mandatos.
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