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A Precarização e Flexibilização nas Relações de Trabalho

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Precarização e Flexibilização nas Relações de Trabalho 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
O presente trabalho presta-se a elaborar considerações a cerca do fenômeno da 
flexibilização das relações do trabalho. Desta feita, vislumbramos uma conjuntura de 
cunho histórico que traz em suas bases a imposição de modelos estruturais às relações 
de trabalho que tendem a permitir a perpetuação do poder e da hegemonia do capital 
sobre o trabalho. 
Notamos que há uma ligeira medição de forças antagônicas entre o capital e 
trabalho, em que aquele, representado pelos patrões, procuram se sobrepor ao outro, ao 
trabalho, de representação assente na categoria dos trabalhadores. 
Percebemos que o fenômeno é uma realidade cada vez mais nítido no esboço da 
sociedade, dizemos até que há quem veja, de certo modo, um benefício trazido a 
algumas categorias de trabalhadores, como as mulheres, já que passaram de uma 
inibição a uma permissibilidade de exercício de atribuições que há tempos eram de 
monopólio masculino. 
Por outro lado, em face até mesmo do movimento de transformações insertos 
âmbito da sociedade, visto como um movimento pendular, em que ora se tem a 
hegemonia de algum fenômeno em detrimento de outro, é possível que ocorra uma 
alteração na estrutura do contrato individual de trabalho, e, por tal disposição, compete 
aos órgãos judiciários, sobretudo à Justiça do Trabalho, ser guardião da tutela dos 
direitos já injetados no rol dos conferidos aos sociais concernentes aos direitos 
trabalhistas. 
 
2. BASES TÓRICAS DO DIREITO DO TRABALHO 
 
O Direito do Trabalho é constituído por duas palavras que se fizeram necessárias 
ao longo da história constitutiva da formação do homem – direito e trabalho. À 
primeira, dá-se inicialmente o sentido de conjunto de normas, diretrizes, modelos de 
comportamento segundo à acepção de determinado preceito, em face de uma sociedade 
e em determinada época. Dessa afirmativa decorre que o Direito é um fato histórico, 
conforme acentua Azevedo[1]. 
 
Todo Estado dispõe de ordenamento jurídico próprio, composto de normas nas 
quais se distinguem determinados valores protegidos pelo direito. Esses valores, ou bens 
jurídicos, contam com maior ou menor amparo perante as respectivas normas que os 
resguardam conforme a natureza e relevância que estas lhes emprestaram, no momento 
em que editadas e em face do ambiente social para o qual se destinaram; e como o 
substrato social se encontra em continuada alteração, também aquelas vão conhecendo 
periódicas mudanças, de acordo com a época e conveniência de sua manutenção, ou 
não. 
Desse modo, para compreenderem-se as transformações ocorridas no Direito, é 
imprescindível também que se conheçam as razões históricas que viabilizaram as 
transformações no seio da sociedade, em conformidade com o corolário ubi societas ibi 
jus. E é particularmente essa idéia que nos faz compreender a possibilidade de em 
algum momento da vida em sociedade determinado ato tido como crime deixar de sê-lo, 
 
 
isso porque a própria sociedade assim o quer que seja, ou vice versa, isto é, algum ato 
humano venha a se constituir em um ato ilícito de natureza criminal: 
 
Assim, conforme as exigências de ordem política, econômica ou cultural, um ato 
antijurídico, que estava a merecer apenas uma repressão de caráter civil, é colocado pelo 
legislador sob outro prisma de valores, e a necessidade de proteger a ordem jurídica 
provoca, então, uma sanção mais rigorosa para a hipótese; ou ocorre o inverso, e o ato, 
embora continue sendo reconhecido como ilícito, deixa de sofrer aquela pena, passando 
a ser coibido ou condicionado a outros meios igualmente válidos para o 
restabelecimento do direito atingido[2]. 
 
Então, cremos que conceber o Direito mediante a pressuposição da sociedade 
permite-nos compreender sua origem, principalmente se visualizarmos e se levarmos 
em consideração a sua gênese em face das várias teorias ou escolas jurídicas, como a 
escola jusnaturalista – para a qual o direito “é um conjunto de idéias ou princípios 
superiores, eternos, uniformes, permanentes, imutáveis, outorgados ao homem pela 
divindade, quando da criação, a fim de traçar-lhe o caminho a seguir e ditar-lhe a 
conduta mantida”; a escola teológica – segundo a qual o direito tem sua origem advinda 
diretamente de Deus, “já que as primeiras leis não teriam sido simplesmente inspiradas 
por Deus, mas escritas e outorgadas por Ele; a escola racionalista ou contratual – cuja 
acepção dada ao direito merece uma dupla causa para sua origem, uma buscada no 
direito natural (advinda da racionalidade do homem) e outra no direito positivo; a escola 
histórica do direito aponta que a razão de origem do direito se explicaria pela própria 
transformação histórica ocorrida em sede do próprio homem, isto é, “para ela, o Direito 
era um produto histórico, decorrente, não da divindade ou razão, mas sim da 
consciência coletiva dos povos, formado gradativa e paulatinamente pelas tradições e 
costumes”; a escola sociológica do direito assegura os fatos sociais como fundamentos 
de existência do Direito; e, finalmente (mas não exatamente nessa ordem) a escola 
marxista, para a qual, o Direito é explicado por meio de uma relação de poder. Não 
obstante as controvérsias existentes, sabe-se que cada uma dessas escolas tentou 
explicar a origem do Direito sob o olhar próprio de sua época. [3] 
 
Dessa idéia, pode-se chegar à conclusão de que a própria sociedade por vezes se 
confunde com a idéia de Estado, já que esse tem, em tese, por conseqüência, a aceitação 
das aspirações daquela, o que nos faz chegar ao pensamento de Marx, de que o Direito é 
determinado pelo Estado, consoante acentua Cavalieri Filho [4]:. 
 
Para a teoria marxista, o Direito pressupõe o Estado. Surge somente quando há 
uma sociedade – política, jurídica e economicamente organizada, com uma fonte 
emanadora do preceito jurídico e um órgão capaz de impor o cumprimento de suas 
prescrições. Isso significa que o Direito apenas sanciona uma relação já existente, 
aplicando uma regra a uma situação preexistente, regra essa única, que incide sobre 
diferentes pessoas, ainda que sejam em tudo desiguais. Fixa o Direito, acima de tudo, as 
relações econômicas que predominam em uma sociedade em certo momento histórico, 
razão pela qual Marx o considerava a expressão do interesse da classe dominante, 
instrumento ideológico de dominação da burguesia sobre o proletariado. 
 
 
 
 
No que diz respeito à outra palavra – trabalho – a qual tem sua origem no latim 
tripalium, o qual era um tipo de instrumento empregado para torturar; ou, ainda, uma 
canga que sobrepunha nos animais – faz de igual modo parte da constituição da 
nomenclatura do Direito do Trabalho, e passou também por concepções históricas 
distintas, de um sentido ora pejorativo a um senso ora significativo, valorativo, 
hodiernamente, conforme aponta Nascimento[5]: 
 
Seria incompleto o conceito cujo método de abordagem estamos procurando 
mostrar sem a verificação do conceito de trabalho – e não de direito do trabalho –, tema 
de filosofia do trabalho cujas raízes primeiras estão no pensamento da Antigüidade e da 
Idade Média – do trabalho como um castigo dos deuses –, no Renascimento – com as 
idéias de valorização do trabalho como manifestação da cultura –, e, mais recentemente, 
nos preceitos constitucionais modernos – do trabalho como direito, como dever, direito-
dever ou, ainda, como valor fundante das sociedades políticas. 
 
É dessa dialética existente entre Estado, Direito, trabalho, sujeitos (sociedade), 
que surgem as razões de um Direito do Trabalho, consubstanciado na problemática 
advinda das chamadas relações de trabalho. Essas configuradas na tópica de que há um 
sujeito que manda, de um lado,e outro que obedece, do outro; o que demonstra haver 
uma relação de poder, vislumbrada, sobretudo, no contrato de trabalho, percebida na 
autonomia da vontade (ambígua) como força motriz que rege a liberdade de contratar, 
isto é: “a liberdade individual de contratar revela, nas relações de trabalho, um 
excessivo desequilíbrio entre as partes, em face do predomínio do mais forte sobre o 
mais fraco” (ARAÚJO, 2003, 29)[6]. 
 
Isso porque, convém assinalar, as lutas travadas com a Revolução Francesa em 
busca de uma liberdade total de grupos sociais em face do Estado não proporcionaram 
de início um direito que percebesse que na relação entre os sujeitos há um que precisa 
ter um ponto de equilíbrio, um sustentáculo, um apoio para dar-lhe condições para 
reivindicar, na mesma proporção que o outro, direitos. Tendo em vista que o que se 
queria, naquele momento, era exatamente a retirada do Estado frente às decisões que 
envolvessem os particulares, e, neste caso, às relações de trabalho, o que 
consideravelmente acarretou num prejuízo àquele denominado de hipossuficiente. 
 
Somente com a chamada Revolução Industrial, em que há um incremento na 
produção de bens, com a descoberta da máquina a vapor, que as linhas gerais do direito 
do trabalho começam a fluir, trazendo assim o seu mais precioso fundamento – o 
princípio protetor do trabalhador. Não se quer dizer, com isso, que essa revolução tinha 
por ideal esse princípio, mas que, exatamente pelo antagonismo existente entre capital e 
(exploração de) trabalho (e sociedade), à conservação e preservação do poder que 
detinham os empregadores (grandes industriais, sobretudo), precisaram dar uma 
resposta favorável àqueles que poderiam se insurgir contra esse poder então instituído. 
 
2. NORMAS DE CONTEÚDO LIBERAL 
 
É com a Escola Liberal, representada por Adam Smith (1723-1790), que surge o 
conceito de normas que traziam uma conjetura liberal, assente na idéia de que via o 
 
 
 
“trabalho como a atividade humana aplicada á produção, medida e fundamento do 
valor”[7]. O que explicaria um vínculo de subordinação do empregado ao empregador, 
homem ao capital, como mecanismo normal determinado mercado, isto é, pelo que se 
convencionou a chamar de lei da oferta e da procura, conforme registra Nascimento 
(2006, 21). 
 
3. PRINCÍPIO OU CARÁTER PROTECIONISTA COMO FUNDAMENTO DO 
DIREITO DO TRABALHO 
 
A digressão histórica até aqui empreendida revela que a sociedade (para uns o 
próprio Estado) por muito não se preocupou com os acontecimentos decorrentes das 
relações de trabalho. O contrato, nesse prisma, era a própria lei em vigor, devendo 
prevalecer o que ali fosse estipulado. Essa particularidade gerou graves crises no plano 
econômico, tendo em vista que em se tratando de haver-se uma grande inserção de 
novos equipamentos de trabalho, haja vista a era das grandes descobertas cientificas, 
foram construídas máquinas cada vez mais potentes, e isso demandava maiores esforços 
por parte dos trabalhadores, com fins à produção cada vez mais em escala 
desproporcional às suas forças físicas. É nesse quadro que nasce a noção de direito de 
proteção ao trabalhador, este visto como parte mais frágil da relação de trabalho – o 
hipossuficiente. Mas não é tão-somente uma simples noção, trata-se de um princípio, 
aquele que vem fundamentar o novo ramo do Direito – o princípio de proteção, sobre o 
qual declara Araújo (2003, 182)[8]: 
 
O Princípio da Proteção ao Trabalhador é o mais importante dos princípios do 
Direito do Trabalho. Configura-se em um postulado universal de natureza trabalhista, 
posto que orientou a criação desse ramo jurídico em todos os países democráticos. Parte 
do pressuposto de que as partes celebrantes do contrato de trabalho acham-se em 
posição de desigualdade jurídica, haja vista que são diferentes economicamente, 
fazendo-se necessário criar normas capazes de mitigar esse desequilíbrio. 
 
Estranhamente, e até de forma antagônica, os objetivos traçados pela Revolução 
Francesa em busca de uma igualdade vista a partir da liberdade do indivíduo gerou uma 
desigualdade desse mesmo indivíduo em sociedade. E isso deu o norte para que surgisse 
o Direito do Trabalho com assento no princípio de proteção ao trabalhador. Esse 
princípio confere a esse ramo do direito o diferencial em relação aos demais. 
 
Enquanto o Direito Civil considera os sujeitos como sendo portadores dos 
mesmos direitos e deveres, em face de sua posição de igualdade jurídica, sendo essa 
característica um dado central do contratualismo civil, o fundamento do contrato de 
trabalho é diferente. Os indivíduos que vão manter uma relação de emprego encontram-
se em situações diferentes um em face do outro[9]. 
 
De forma que o princípio protetor confere ao Direito do Trabalho o status de 
guardião dos direitos do homem trabalhador, e por extensão, da própria sociedade, ou 
seja, “os preceitos de ordem pública que integram o Direito do Trabalho protegem não 
 
 
 
 
apenas o trabalhador isoladamente considerado, mas também toda a sociedade” 
(ARAÚJO, 2003, 183). 
 
4. A PROTEÇÃO AO CONTRATO DE TRABALHO COMO ESCOPO DO 
DIREITO DO TRABALHO 
 
O contrato de trabalho do Séc. XIX, esculpido nas idéias do pensamento 
individualista, não trazia normas que vislumbrassem preocupação com o trabalhador, já 
que: 
A relação de trabalho repousava no livre acordo de vontades, em decorrência do 
qual o trabalhador se obrigava a prestar um serviço pessoal, a conduzir uma pessoa ou 
uma coisa, ou a construir uma obra para o arrendatário, mediante um salário, preço ou 
retribuição. Essa perspectiva denota que o trabalho humano não era considerado como 
um elemento fundamental para a sociedade e para o crescimento do Estado[10]. 
 
Mas o mundo está em constante movimento, e com ele tanto os homens em 
sociedade quanto os próprios mecanismos de significados que recebem as relações 
intersubjetivas também passam por mudanças estruturais. Eis que o contrato de trabalho 
recebe do Direito do Trabalho uma nova roupagem, haja vista as novas aspirações 
sociais, e nesse conxtexto “são criadas leis dotadas de caráter de ordem pública, 
limitando a liberdade contratual e procurando proteger o hipossuficiente contra os 
abusos dos poderosos economicamente” (ARAÚJO, 2003, 41). 
 
A nova ordem trouxe um espírito da proteção ao trabalhador quando da 
realização do contrato de trabalho, o que acarretou em uma legislação trabalhista 
profundamente consistente de normas protetoras, amparadas, sobretudo na idéia 
principiológica da dignidade da pessoa humana. 
 
A Constituição brasileira de 1988, por exemplo, elencou uma série de direitos 
sociais previstos no Art. 7º[11], e dentre esses normas trabalhistas tanto de ordem 
organizacional quanto de cunho protetor, como auto-organização sindical e autonomia 
de administração do sindicato; incentivo à negociação coletiva; ampliação do direito de 
greve; generalização do regime do FGTS; aumento de 1/3 da remuneração de férias; 
ampliação da licença maternidade para 120 dias; criação da licença paternidade; 
inclusão de três estabilidades especiais: das empregadas gestantes, dos dirigentes 
sindicais e dos dirigentes da CIPA; equiparação constitucional dos trabalhadores 
urbanos e rurais; concessão de vários direitos trabalhistas aos domésticos, encontrados 
no parágrafo único. 
 
Convém assinalar, outrossim, que a idéia de livre vontade, de autonomia da 
vontade no contrato de trabalho seria mero discurso daqueles que detêm o poder de 
contratar, como contratante, ora, caso tais normas protetoras não houvesse dispostas na 
conjuntura do Direito do Trabalho. Em outras palavras, é a lei trabalhista que permite 
que a autonomia da vontade seja respeitada, quando se trata de abordá-lasob o ponto de 
vista do espaço ocupado pelo trabalhador na relação contratual. Ao revés, estar-se-iam 
ainda sob a égide de normas esculpidas do predomínio diretivo do século XIX: 
 
 
 
 
(...) nem mesmo se ocorresse a hipótese de ser conferido ao empregado um salário de 
ínfimo valor, insuficiente para assegurar as mais elementares necessidades de sua 
existência, poderia ser alegado um vício de consentimento. Ademais, o empregador não 
estava obrigado a respeitar, em benefício dos empregados, vítimas de acidentes, ou por 
fatos ocorridos no serviço que fossem prejudiciais à sua saúde, resultantes de 
negligência ou imprudência do patrão ou de seus representantes[12]. 
 
Diferentemente, no entanto, hoje o contrato de trabalho ganhou novos contornos 
em face da esparsa legislação que rege as relações contratuais trabalhistas favorável aos 
empregados. Se dantes o que se evidenciava era a execução do trabalho diante da tão 
almejada produção, de forma a desconsiderar a pessoa do trabalhador, hoje esse mesmo 
trabalhador ganha o aspecto de autor principal dessa relação, pois, consoante se 
depreende da leitura do Art. 7º, da CF/88, os fins do trabalho são os de obtenção à 
melhoria do trabalhador, portanto, toda regra contida no contrato individual de trabalho 
terá que buscar esse fim, sob pena de ferir tal dispositivo constitucional. 
 
5. A NOVA PROBLEMÁTICA DAS RELAÇÕES DE TRABALHO: 
DESREGULAMENTAÇÃO; PRECARIZAÇÃO E FLEXIBILIZAÇÃO NO 
DIREITO DO TRABALHO 
 
Historicamente, o homem parece viver em um movimento pendular, em que em 
certa época há a predominância de uma estrutura modelar de vida – como nas várias 
acepções dadas ao modelo econômico de mercado; à Literatura; ao Direito – de forma a 
ser possível visualizar a hegemonia de um modelo em detrimento de outro. Dessa idéia 
perpassam os conceitos de liberalismo, Estado liberal, intervencionismo, Estado Social, 
Estado de Direito, neoliberalismo. Cada um desses movimentos teve, ou tem ou está 
tendo, ou ainda terá a sua época no seio da sociedade. Uma das formas de perceber-se 
essa rotineira alteração no modus vivendi do homem diz-se quanto à visualização das 
forças antagônicas havidas entre capital e trabalho. 
 
Atualmente, encontra-se em discussão nas salas de aula das Faculdades de 
Direito a noção de flexibilização das relações do trabalho. Esse conceito, conforme 
asseguram os estudiosos e os especialistas, é trazido das novas nuanças do liberalismo, 
hoje com nova roupagem, agora denominado de neoliberalismo, o qual “tenta impor a 
subordinação dos interesses humanos em face do capital, elevado à categoria de valor 
supremo da vida dos povos” (ARAÚJO, 2003, 122). 
 
Podemos ver o fenômeno da flexibilização sob dois pontos de vista: um sob o 
olhar dos que são contrários, um outro dos que são a favor. Esses já denotam uma 
ascendente flexibilização das relações do trabalho. E não é difícil de ser visualizada tal 
assertiva, pois há movimentos sociais que tendem a impor esse feito, como o 
movimento feminista, que lutou por uma igualdade de direitos entre homens e mulheres. 
Dessas lutas advêm as possibilidades de as mulheres poderem trabalhar em empregos 
que até pouco tempo era tido como de exclusividade predomínio masculino, como 
motorista de caminhão, ônibus, até mesmo em caldeiras de usinas siderúrgicas; enfim, 
em trabalhos insalubres e periculosos. O impedimento de a mulher trabalhar nesses 
tipos de emprego era consubstanciado numa norma de proteção à mulher, que mais 
tarde se viu que de certa forma a tirava do mercado de trabalho. 
 
 
Por outro lado, aqueles que se dizem contrários à flexibilização expõem que esse 
modelo de trabalho tende a promover uma desregulamentação do próprio contrato de 
trabalho, em que muitas normas de aspecto protecionista deixariam de existir, e assim 
os empresários, com vistas ao lucro a quaisquer custos facilmente podem impor suas 
próprias regras quando da propositura do contrato, já que a idéia de livre vontade passa 
a ter uma acepção unilateral, em que o patrão “dá as cartas” (aforismo popular), já que 
não haveria normas que regulamentassem a operacionalização da execução do trabalho. 
 
Outro ponto que traz receio sobre a flexibilização diz-se quanto à precarização 
havida na relação de trabalho, conseqüentemente à desregulamentação. Se o conceito de 
precarização está para o de tornar algo precário, prejudicado e fragilizado, também põe-
nos em contato com o questionamento sobre o que será alvo da precarização. 
 
De um lado, poder-se-ia cogitar da precarização da mão-de-obra, o que 
acarretaria numa falta de especialização do empregado, o que traria prejuízos à empresa, 
em virtude de o trabalho final da execução do trabalho sairia mal-feito, portanto, 
prejudicado. Pensamos, todavia, tratar-se de ledo engano. Isso porque, em se 
confirmando o fenômeno ora tratado, seria possível ver uma mão-de-obra altamente 
qualificada realizando um trabalho com maior gasto de tempo, por um salário não 
compatível, e a realização do serviço ser de acordo com o esperado pelo empregador. 
 
Deste modo, pensamos que para visualizarmos os efeitos ditos maléficos da 
precarização das relações de trabalho, é imprescindível notar-se pelo ângulo do 
perdimento dos direitos já assegurados aos trabalhadores. Pois pensamos que o que faz 
com que exista uma idéia de livre vontade ou autonomia das vontades no contrato de 
trabalho é exatamente as normas que se por um lado compelem os empregadores a 
respeitarem os empregados, asseguram-lhes direitos. Assim sendo, o que se tornaria 
precário, fragilizado, nesse ínterim, seriam as normas de proteção ao trabalhador. Isso 
quando não ausentes por completo, como última cartada do neoliberalismo, o que 
aniquilaria toda a noção de livre vontade. 
 
Finalmente, a última preocupação é a despeito do destino do próprio Direito do 
Trabalho, “mais que isto: o Direito do Trabalho atual está em transformação ou em 
deformação?” (DALLEGRAVE NETO, 2003, 8), ante ao fenômeno da flexibilização e, 
de forma específica, qual o papel do Poder Judiciário do Trabalho diante desse novo 
quadro? No momento, não temos respostas, apenas percebemos o efeito do pêndulo 
sobre a nova conjuntura das instâncias da sociedade sobre a qual se diz haver um 
momento de passagem de uma realidade para outra, em que o capital parece estar 
mostrando sua força à desconstituição de direitos, conforme asseverado: 
 
A propósito deste momento de transição, constatam-se propostas e exegeses 
discrepantes: de um lado, chegando ao exagero de propor a alteração no caput do art. 7º 
da CF/88 para constatar que todos os direitos ali elencados poderão ser objeto de 
negociação coletiva via ACT ou CCT[13]. 
 
Não obstante os receios ora vigentes quanto à flexibilização, também cremos na 
reação da classe trabalhadora, corroborada por pensamentos de homens que conseguem 
 
 
perceber a necessidade de proteger certos direitos já inseridos no âmago da sociedade, 
como medida protetora da própria sociedade: 
 
Aqueles como o Min. Arnaldo Süssekind e Carlos Henrique Leite, que, ao 
incluírem corretamente os direitos trabalhistas nas cláusulas pétreas, asseveram que os 
direitos relacionados no art. 7º do Estatuto Político não podem ser abolidos sequer por 
Emenda, o que dizer de fazê-lo mediante Convenções e Acordos Coletivos de Trabalho. 
Importa lembrar que a categoria dos direitos sociais se constitui espécie do gênero 
direitos humanos e sob este prisma é que deve ser interpretada[14]. 
 
Conforme nos faz ver esse autor, importa proclamar a Justiça do Trabalho como 
derradeiro refúgio dos direitos sociais concernentes aos do trabalho para que assim, 
consiga, com “seus juízes independentes,estáveis e imbuídos do princípio tutelar”[15], 
promovam uma verdadeira reação ao movimento o qual tem por acepção à Justiça o 
pensamento de que “há que ser extinta ou, ao menos, desaparelhada: ... quanto mais 
morosa melhor”.[16] Pois, assim fazendo estará promovendo não somente proteção à 
sua própria existência, mas sobretudo à própria sociedade, principalmente do lado que 
se mostra mais carente, a comunidade, essa berço da classe trabalhadora. 
 
6. CONCLUSÃO 
 
Durante o procedimento de produção do presente trabalho trouxemos a lume uma 
questão que deveras se apresenta como uma das mais acirradas presentes no Direito do 
Trabalho, que é a questão da flexibilização das relações do trabalho. 
 
Para melhor delinearmos nosso pensamentos, preferimos escrever o presente texto em 
forma de título e subtítulos, conforme se tem: INTRODUÇÃO; BASES HISTÓRICAS 
DO DIREITO DO TRABALHO; NORMAS DE CONTEÚDO LIBERAL; PRINCÍPIO 
OU CARÁTER PROTECIONISTA COMO FUNDAMENTO DO DIREITO DO 
TRABALHO; A PROTEÇÃO AO CONTRATO DE TRABALHO COMO ESCOPO 
DO DIREITO DO TRABALHO; A NOVA PROBLEMÁTICA DAS RELAÇÕES DE 
TRABALHO: DESREGULAMENTAÇÃO; PRECARIZAÇÃO E FLEXIBILIZAÇÃO 
NO DIREITO DO TRABALHO. 
 
Ao longo da apresentação percebemos que há uma clara inserção do tema no que se 
dispõe a despeito do neoliberalismo, como movimento de perpetuação do poder 
político-econômico vigente. 
 
Aduz dizer, assim, há forças antagônicas que se superam, às vezes e parecem conviver 
de forma a suprir certas normas com fins a ora beneficiar, ora conceder direitos, 
mediante o travamento de lutas. 
 
Propusemos a falar que a sociedade, em face da dinâmica do movimento de 
transformações ocorridas em seu interior, está esposta às grandes decisões dos grupos 
econômicos, esses como representantes do capital. 
 
 
 
 
 
Finalmente, reconhecemos que à Justiça do Trabalho, enquanto que poder formalmente 
constituído da esfera judiciária, tem por objetivo a tutela de direitos em face do 
princípio protetor ao trabalhador, esse como hipossuficiente da relação de trabalho, por 
tais motivos, bem como por obtenção de garantias à sua própria existência significativa, 
deve permitir a inclusão de movimentos que tenham por propósito as lutas a favor da 
sociedade que clama, a mais e mais, por justiça social. 
 
 
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
1. ARAÚJO, Eneida Melo Correia de. AS RELAÇÕES DE TRABALHO: Uma 
Perspectiva Democrática. São Paulo: LTr, 2003. 
 
2. AUBIN, Gérad & BOUVERESSE, Jacques. Intoduction historique au droit du 
travail. Paris: Presses Universitaires de France, 1995, p. 104-105. Apud ARAÚJO, 
2003, 40. 
 
3. AZEVEDO, Luiz Carlos de. Introdução à História do Direito. São Paulo: Revista dos 
Tribunais, 2005. 
 
4. CAVALIERI FILHO, Sérgio. PROGRAMA DE SOCIOLOGIA JURÍDICA. Rio de 
Janeiro. 
 
5. DALLEGRAVE NETO, José Afonso. Direito do Trabalho Contemporâneo: 
flexibilização e efetividade.: Forense, 2005. 
 
6. NASCIMENTO, Amauri Mascaro. CURSO DE DIREITO DO TRABALHO. São 
Paulo: Saraiva, 2006. 
 
[1]AZEVEDO, Luiz Carlos de. Introdução à História do Direito. São Paulo: Revista dos 
Tribunais, 2005. 
 
[2] Ibidem. 
 
[3]As citações deste período foram retirados do livro: CAVALIERI FILHO, Sérgio. 
PROGRAMA DE SOCIOLOGIA JURÍDICA. Rio de Janeiro: Forense, 2005. 
 
[4]CAVALIERI FILHO, Sérgio. PROGRAMA DE SOCIOLOGIA JURÍDICA. Rio de 
Janeiro: Forense, 2005. 
 
[5] NASCIMENTO, Amauri Mascaro. CURSO DE DIREITO DO TRABALHO. São 
Paulo: Saraiva, 2006. 
 
 
 
 
 
 
 
[6]ARAÚJO, Eneida Melo Correia de. AS RELAÇÕES DE TRABALHO: Uma 
Perspectiva Democrática. São Paulo: LTr, 2003. 
 
[7] NASCIMENTO, Amauri Mascaro. CURSO DE DIREITO DO TRABALHO, São 
Paulo: Saraiva, 2006, p. 21. 
[8] ARAÚJO, Eneida Melo Correia de. AS RELAÇÕES DE TRABALHO: Uma 
Perspectiva Democrática. São Paulo: LTr, 2003. 
[9] Idem.

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