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Direito do Trabalho I – Leonardo David – Profa. Adriana Wyzykowski – 2020.2 1. O TRABALHO E A FORMAÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO DO TRABALHO Primeiramente, importante salientar que a história do trabalho humano não se confunde com a história do direito do trabalho. A primeira existe desde que o homem existe, pois o trabalho consiste numa atividade em que temos um dispêndio de energia direcionado a uma atividade comum; a um fim comum. Já o direito do trabalho, enquanto disciplina organizada, com normas jurídicas e princípios próprios, só vai se desenvolver no período pós Revolução Industrial. a) Submissão e trabalho Nós primórdios da humanidade (antiguidade), trabalho tinha relação direta com submissão. Inicialmente, essa submissão acontecia no próprio âmbito familiar, por meio da figura do pater famílias. Este era o chamado “chefe de família” e que detinha o poder sobre os demais membros da família, que se tornavam, basicamente, peças dentro de uma chave de submissão. Então a primeira forma de agregação social é alguém tendo poder e alguém submetido a esse poder, mostrando uma figura já hierarquizada do trabalho. Já traz como resultado essa noção de submissão que existe no trabalho e no domínio de alguém que tem o poder em relação ao outro. Tanto é assim que a palavra trabalho vem de penalidade. Trabalho vem do latim “tripaliare”, que seria um verbo que advém do instrumento chamado “tripalium”, que era um instrumento de tortura da idade antiga, que era colocada na cabeça das pessoas. Daí que vem a palavra trabalho, associando-se à penalidade. Essa ideia de trabalho como penalidade é uma ideia enraizada até hoje na sociedade. O ócio sempre foi garantido para aqueles das classes mais abastadas. Direito do Trabalho I – Leonardo David – Profa. Adriana Wyzykowski – 2020.2 O trabalho é associado, primeiro, à construção .... Também se fala em perspectivas bíblicas do fruto proibido, em que a penalidade de Adão e Eva foi ir ao mundo para trabalhar. Tanto é assim que, quando pensamos na sociedade, que se desenvolveu na antiguidade clássica, essa perspectiva de trabalho como pena é muito evidente, pois temos o trabalho escravo como base. A penalidade é destinada àqueles que eram escravos, enquanto os nobres não trabalhavam, pois o trabalho intelectual não era considerado trabalho. Então fazer poesia, participar da política não era considerado trabalho. Quem se tornava escravo? Aqueles que eram capturados em guerra, aqueles que tinham dívidas, aqueles que nascem em castas inferiores etc. No entanto, no Direito Romano, além desses escravos, também tínhamos uma espécie de autônomo. Se fala das chamadas “locatio”, que seria uma espécie de locação, que se assemelha, de alguma forma, ao trabalho que conhecemos. A primeira forma de locatio, além da escravidão, no Direito Romano, é a chamada locatio operis. Nesta, tínhamos uma semelhança ao contrato de empreitada, de sorte que contratávamos alguém para realizar uma prestação global dos serviços. Exemplo: construção, pavimentação. Não se pode falar ainda de Direito do Trabalho, mas se assemelha ao contrato de empreitada, que não deixa de ser um trabalho em sentido amplo. Um empreiteiro pode ser um autônomo, por exemplo, o que é um trabalho. Mas isso não gera um direito do trabalho. A segunda forma é a chamada locatio operarum. É um estilo de prestação de serviços. Era como se a gente “locasse” aquela pessoa para realizar os serviços. Assim, a pessoa prestava os serviços como uma espécie de locação da sua força de trabalho. Exemplo: prestação de serviços de hoje. Mais uma vez, é trabalho em sentido amplo, mas não é direito do trabalho. Existe, ainda, a locatio rei relacionada aos direitos reais: posse e propriedade. Direito do Trabalho I – Leonardo David – Profa. Adriana Wyzykowski – 2020.2 Quando chegamos na Idade Média, essa ideia continua a ocorrer, pois a base continua sendo escravidão e, também, o feudalismo, com um regime diferente. São dois regimes que não têm como pressuposto a liberdade. Assim, depreende-se que, enquanto não há o trabalho livre, não se pode ter o direito do trabalho. O pressuposto para o direito do trabalho, necessariamente, tem de ser o trabalho livre. Por isso não se fala ainda de direito do trabalho. Mão de obra escrava trata o ser humano como coisa. No feudalismo, embora haja um padrão um pouco mais livre, ainda há uma coação para a realização daquele serviço. Liberdade é um pressuposto essencial do Direito do Trabalho. b) A ressignificação da palavra trabalho e a subordinação Ocorre na Revolução Protestante. Esta traz como um dos pressupostos que o trabalho dignifica o homem. Trabalho é algo bom. O trabalho faz com que a pessoa consiga ter uma vaga no céu. Essa premissa é essencial para o desenvolvimento do capitalismo e, consequentemente, resulta na origem do direito do trabalho, pois se não há um exercito de empregados, não há como desenvolver comércio e, consequentemente, não se desenvolve o direito do trabalho. Então é necessário pessoas que acreditem que o trabalho é algo bom. Assim, a revolução protestante é algo crucial para a origem do direito do trabalho, em que se tenta abandonar a ideia do trabalho como pena, passando a ser um elemento consagrador de dignidade. O iluminismo também colabora para a ideia de trabalho livre. O trabalho livre faz com que o direito do trabalho possa realmente se desenvolver enquanto disciplina. Por isso a grande maioria dos autores afirma que a revolução industrial é o momento em que há o desenvolvimento do direito do trabalho; quando, efetivamente, passa a ser visto como disciplina. Inicialmente, a classe trabalho vê a revolução industrial como uma oportunidade para a melhoria das suas condições sociais. Isso porque a sociedade era de agricultura e manufatura, ou seja, trabalhos que demandam muito esforço. A indústria possibilita uma rapidez. Então pensou-se, em primeiro Direito do Trabalho I – Leonardo David – Profa. Adriana Wyzykowski – 2020.2 momento, que a indústria seria extremamente benéfica para a classe trabalhadora. Mas depois foi vendo que havia uma imensa quantidade de mão de obra e um número reduzido de postos de trabalho. Isso implica a necessidade de uma proteção, afinal é um período marcado por uma grande rotatividade. Havia a ideia do exército de reserva, tornando os trabalhadores descartáveis, de modo que se reivindicassem direitos, seriam demitidos facilmente. Então desenvolve-se um trabalho numa perspectiva de insegurança, fazendo com que se vislumbre a necessidade de consciência coletiva, pois, individualmente, a fragilidade é latente. A consciência coletiva é muito importante para este período, justamente para a verificação de que demandas de natureza individual não teriam força diante dessa vulnerabilidade que o empregado tem. As demandas precisam ser coletividades; precisam ser fruto de uma atuação coletiva. Assim, desenvolve-se nesse período o sindicato. A Revolução Industrial deixa evidente o conflito capital/trabalho. Os interesses da classe operária e os interesses da classe patronal são distintos. Por conta desse conflito e dessa perspectiva de conscientização coletiva, as categorias passam a reivindicar alguns direitos. Essa reivindicação leva o nome de questão social. A primeira reivindicação foi a limitação da jornada de trabalho. A classe trabalhadora, no início da Revolução Industrial, trabalhava 16 a 18 horas por dia. Segunda reivindicação foram os intervalos e momentos de lazer. Por isso também se falava na necessidade de limitação do trabalho de crianças, idosos e mulheres gestantes. Uma boa parte dessa mão de obra era infantil. Mulheres em estado gestacional trabalhando até o dia do parto e voltando dias após o parto. O índice de acidentes de trabalho era altíssimo. Segundo estudo de Supiot, 70% das crianças trabalhadorasnão chegavam a 12 anos, pois morriam antes. Direito do Trabalho I – Leonardo David – Profa. Adriana Wyzykowski – 2020.2 Por fim, a última reivindicação era o salário mínimo. O hino dos trabalhadores desse período era “eight hours to work, eight hours to play, eight hours to sleep, eight shillings a day”. A Rerum Novarum, do Papa Leão XIII, determinou que o salário fosse justo e que houvesse melhores condição de trabalho. Ou seja, até a Igreja falava sobre isso. 1.1. FASES HISTÓRICAS DO DIREITO DO TRABALHO A doutrina costume dividir o desenvolvimento do direito do trabalho em três fases a nível mundial: (a) manifestações incipientes ou esparsas; (b) sistematização e consolidação; (c) a) Manifestações incipientes ou esparsas É marcada pelo início do Direito do Trabalho, ou seja, quando temos as primeiras normas voltadas à proteção social do trabalho, em especial, por meio de legislação que proteja crianças e mulheres grávidas. A primeira legislação que se faz menção a essa época é o popularmente chamado “Peel’s Act”, de 1802. Foi uma legislação realizada por Robert Peel, na Inglaterra, voltada à proibição da jornada noturna (a partir das 22h) pelos menores e fixação de jornada máxima de 12 horas diárias. Na Inglaterra também se proibiu trabalho de menores de 9 anos de idade e, também, a diminuição da jornada dos menores de 13 anos para 9 horas diárias. Nessa fase, a principal característica são normas esparsas, ou seja, leis assistemáticas com esse conteúdo, que é proteger o trabalho do menor e da mulher gestante. Poucas legislações voltadas à licença maternidade, mas pelo menos estabelecendo um período de 5 dias/uma semana, mas de forma pontual: algumas normas na Inglaterra, outras na França, de forma realmente assistemática. Enquanto isso nada se discute no Brasil, por ainda estar em regime de escravidão. Direito do Trabalho I – Leonardo David – Profa. Adriana Wyzykowski – 2020.2 Como elas não eram sistematizadas, era difícil a fiscalização do cumprimento dessas normas. O sindicato era o maior fiscal desse período, mas eles ainda eram vistos como crimes. Ainda era um período muito inicial do direito do trabalho. b) Sistematização e consolidação É inaugurada em 1848, com dois movimentos: o primeiro é o Movimento Cartista e o segundo é o Manifesto Comunista. O Movimento Cartista buscava o reconhecimento dos direitos sociais, não apenas trabalhistas, mas voltados a voto, democracia participativa, mas também direitos trabalhistas. O Manifesto Comunista é uma obra que escancara os conflitos capital/trabalho. Ela foi importante pois os estudos dos autores escancaram certos fenômenos, como, por exemplo, a alienação do trabalhador, mostrar a necessidade de períodos de repouso, escancarar a exploração do trabalho humano, já que não havia uma consolidação normativa. Isso serviu como um alerta à classe trabalhadora e, consequentemente, os Estados começaram a agir um pouco mais. Na França se reconhece uma redução de jornada para 10h, em 1848, pois a França acabou tendo um problema que seus escravos trabalhavam 10 horas e os trabalhadores não. Os escravos tinham jornada menor que os trabalhadores livres. E, também, reconhece como um direito trabalhista a associação e greve, descriminalizando a atividade sindical. Na Inglaterra também houve a redução, um ano depois, da jornada de trabalho para 10h (1849). Essa fase, os países começam a legislar mais, a reduzir jornada, a pensar em salário, e vai até 1919. Em 1890 há a primeira conferência internacional do trabalho, com a participação de 13 países, sendo o embrião da OIT, que será Direito do Trabalho I – Leonardo David – Profa. Adriana Wyzykowski – 2020.2 criada em 1919. Daí várias ideias surgem e, em 1894, a Austrália inaugura a primeira lei de salário mínimo do mundo, seguida pela Nova Zelândia. As caraterísticas são: Maior grau de consciência coletiva: as categorias começam a estar mais organizadas. Categoria no sentido da união de trabalhadores em prol de um interesse coletivo. Elas passam a reivindicar mais direitos, a fazer greve. Direito do Trabalho como parte das reivindicações sociais: o direito do trabalho ganha um aspecto de centralidade desse momento. Por isso é uma fase que acaba coincidindo com a segunda dimensão dos direitos fundamentais (os direitos sociais). Fala-se de direito ao trabalho nessa fase. Os países europeus, principalmente, começam a legislar sem parar. Surge a tríade normativa do direito do trabalho: (a) a norma estatal protegendo; (b) proteção pela entidade coletiva, pelas categorias, que ganham um grau de consciência coletiva; (c) a proteção individual, quando o direito do trabalho impede que faça negociações prejudiciais ao trabalhador. Ou seja, Estado, individual e coletivo, dando muita ênfase ao direito estatal. A Inglaterra vai dar uma prevalência para a atuação sindical e a França mais para o caminho do Estado legislando. O Brasil segue mais o caminho da França. c) Institucionalização do Direito do Trabalho Ocorre em 1919 com a criação da Organização Internacional do Trabalho (OIT). A influência para a sua criação foi, justamente, as duas constituições cidadãs: a Mexicana (1917) e a Weimar (1919). É por meio das convenções da OIT que temos um direcionamento da atuação dos países signatários em relação ao mundo do trabalho. Um dos principais pilares da OIT é a valorização do trabalho humano. Há outros: previsão de discriminação, combate ao trabalho infantil, às piores formas de trabalho humano, salários dignos, discriminação por gênero, Direito do Trabalho I – Leonardo David – Profa. Adriana Wyzykowski – 2020.2 questões que envolvem raça etc. A valorização do trabalho humano é mais geral, como um princípio universal do direito do trabalho. Buscamos, basicamente, esses quatro ideais: Descarte de interpretações que não tragam a valorização do trabalho, ou seja, se pode interpretar uma norma jurídica, tem de interpretar de forma a valorizar o trabalho humano, pois este conduz à dignidade, pois é parte da pessoa; Impedimento do labor desinteressado (sem retribuição/trabalho escravo e isonomia salarial): primeiro, todo trabalho precisa ter retribuição, se não ele é voluntário e trabalho voluntário é feito para finalidade altruística, para realização pessoal. Quando se fala de trabalho, precisa haver retribuição, e esta precisa ser digna; capaz de fazer com que a pessoa possa desenvolver as potencialidades. Outro combate é o trabalho escravo, que existe até hoje, o chamado trabalho escravo moderno. Também se busca a isonomia salaria. Ainda temos diferenças entre salários de homens e mulheres exercendo a mesma função. É uma diferença de pouco mais de 20%, segundo a última pesquisa da OIT. Há, também, as discriminações indiretas, onde, por exemplo, mulheres não chegam a determinados cargos. Descarte de exegeses que fomentem desigualdades Busca do pleno emprego: o ideal é que todos que quisessem trabalhar, tivessem emprego. O Poder Público não pode obrigar as empresas a contratar. Emprego decorre de diversos outros fatores econômicos e sociais. Então a busca do pleno emprego é uma utopia. É a busca do maior número de pessoas empregadas, se estas querem desenvolver atividade laboral. Na realidade do Brasil, há uma taxa de desempregados muito alta. Com a crise do Covid-19, a PNAD Contínua mostrou um percentual de mais de 13% de Direito do Trabalho I – Leonardo David – Profa. Adriana Wyzykowski – 2020.2 desempregados. Destaca-se que os trabalhadores informais, que estão trabalhando, mas sem carteira assinada não entram nesse percentual: eles entram no percentual de pessoas empregadas, pois para a pesquisa, você tendo trabalho ou emprego, tanto faz, pois está no grupo de pessoas que tem uma atividade, ainda que não seja formalizada. Então 13% é uma porcentagem de pessoas quequerem trabalhar, mas não fazem absolutamente nada. 1.2. MODELOS PRINCIPAIS DE ORDENS JURÍDICAS TRABALHISTAS Existem duas formas de se promover a proteção dessa categoria e de se desenvolver o direito do trabalho: a (a) normatização autônoma e privatística; (b) normatização privatística subordinada. a) Normatização autônoma e privatística É um modelo que traz como privilégio a norma jurídica negociada. Significa dizer, portanto, que a norma trabalhista advém muito mais de negociação coletiva; das negociações sindicais, do que do Estado. O Estado garante apenas o básico de direitos trabalhistas, de modo que o restante pode ser negociado, desde que esse patamar básico seja respeitado. Aqui entra como exemplos Estados Unidos e Inglaterra. Há um sindicato forte para negociar os direitos trabalhistas. No Brasil não temos esse modelo. b) Normatização privatística subordinada Neste modelo, há um privilégio às normas estatais e as negociações coletivas ficam subordinadas às normas estatais. Aqui entra o Brasil. O Brasil é um país cuja intervenção do direito estatal no direito do trabalho é muito forte. Temos Constituição Federal com texto trabalhista. Estão tentando o implementar o primeiro modelo no Brasil. Após a reforma trabalhista (2017), passou a existir uma busca de uma parte da doutrina trabalhista (muito mais do Congresso Nacional do que da própria doutrina em si), de dar um maior poder negocial às partes trabalhistas, em especial para a Direito do Trabalho I – Leonardo David – Profa. Adriana Wyzykowski – 2020.2 negociação trabalhista, para enfatizar a autonomia privada trabalhista. Surgiu aí o art. 611-A da CLT que diz que as negociações trabalhistas prevalecem sobre a lei (prevalência do negociado sobre o legislado). Então existe um movimento dentro do Congresso Nacional, principalmente, para tentar tirar essa dependência do Brasil das legislações. Assim, na realidade atual, o Brasil sofre com o enfraquecimento dos sindicatos. Um processo de precarização do Direito do Trabalho, chamado de “modernização”. AULA 25 DE AGOSTO 2. HISTÓRICO DO DIREITO DO TRABALHO NO BRASIL A) Primeiro período O brasil é um dos últimos países a desenvolver o direito do trabalho, vez que fomos um dos últimos a abolir a escravidão. Então o DT como uma disciplina autônoma só vem a acontecer no Brasil após a abolição da escravatura, enquanto o mundo todo já havia passado pelas transformações trabalhistas. Então a história do direito do trabalho no Brasil é tardia e, por isso, a forma do DT se desenvolveu diferente em comparação ao europeu. O trabalho era destinado à população negra, pois era visto como pena. Então até a abolição, não se pod falar nada de direito do trabalho no brasil, apenas manifestações pontuais. A Lei Áurea é a legislação que “permite” o início do Direito do Trabalho, pois ela trata do pressuposto “trabalho livre”, fazendo com que a gente possa desenvolver o direito do trabalho no Brasil. Então é a partir de 1888 que o Brasil, de uma forma tardia, pôde iniciar o Direito do Trabalho. A Lei Áurea foi uma mera formalidade, pois não houve uma política pública efetiva para a inclusão dos negros no mercado de trabalho, para que pudéssemos usufruir efetivamente de um direito de liberdade. Era uma Direito do Trabalho I – Leonardo David – Profa. Adriana Wyzykowski – 2020.2 liberdade muito mais formal do que efetiva e isso faz com que nós tenhamos resquícios de escravidão até hoje no trabalho brasileiro. Exemplo: quando pensamos em emprego doméstico, nós temos uma maioria de trabalhadoras negras (em torno de 89%). Temos, até hoje, uma diferença substancial, em termos salariais, entre brancos e negros. Isso tudo é fruto da história de exploração e de uma Lei Áurea que foi mera formalidade. Então os negros passam a trabalhar conforme essa perspectiva de trabalho livre, mas muitos acabam continuando nas antigas residências, inclusive realizando serviços domésticos, afetando a forma como enxergamos o trabalho no Brasil hoje. Essa fase é marcada por um movimento operário sem muita pressão ou organização, até porque o Brasil era predominantemente agrícola. Pouca manifestação, inclusive, trabalhista em termos legislativos. Tivemos pouca legislação nesse período (1888-1930). Basicamente a legislação que tínhamos era o CC/16, que, de forma equivocada, colocava a prestação laboral como uma forma de locação de serviços, objetificando os trabalhadores. Nessa fase, uma categoria se destaca e esse grupo é o dos ferroviários, pois se o Brasil era predominantemente agrícola, precisava dos ferroviários para escoar a Houve a estabilidade decenal aos ferroviários. Isso significava que, se você era ferroviário, após 10 anos prestando serviço para a mesma empresa, você se tornaria estável, tal como temos hoje no serviço público. Ser estável é não poder ser despedido sem justa causa. Também é desse período a criação do Conselho Nacional do Trabalho, que é um prelúdio do Ministério do Trabalho (hoje extinto). Direito do Trabalho I – Leonardo David – Profa. Adriana Wyzykowski – 2020.2 Surge as primeiras manifestações trabalhistas, tudo de forma bem desorganizada ainda. B) Segundo período O direito do trabalho começa a ganhar força no segundo período, que vai de 1930-1988. Em 1930 é criada o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio. Importante para a regulação social do trabalho, a fiscalização, controle melhor em relação ao combate escravo, erradicação do trabalho infantil, igualdade salarial. Em 1934, tivemos uma grande evolução trabalhista, consagrada numa Carta Constitucional. Esta Constituição traz autonomia sindical, férias, repouso, e vários outros direitos trabalhistas. A CF/34 enfatiza muito o poder dos sindicatos nas negociações coletivas, no exercício da liberdade. Então o direito do trabalho evolui no Brasil, começando a ter, inclusive, movimentos sociais voltados à conquista dos direitos trabalhistas. Por conta disso, vivemos uma intensa atividade legislativa. Isso porque o resto do mundo já havia vivido isso. Então o Brasil estava atrasado nesse aspecto. Em 1943 é um marco na área trabalhista, pois toda essa legislação é consolidada em uma só, surgindo a Consolidação das Leis do Trabalho – CLT. Ela leva esse nome (e não de Código), pois como foi um período de muita legislação, foi aglutinada essas legislações num documento único. Em 1946 temos uma grande atividade em relação a direitos trabalhistas pela própria Constituição. Temos a manutenção dos direitos trabalhistas que já existiam, a criação de outros, reconhecimento de direito de greve como um direito fundamental. Também é de 46 que a justiça do trabalho passa a ser órgão do Poder Judiciário. A Justiça do Trabalho surgiu no poder executivo, como uma justiça Direito do Trabalho I – Leonardo David – Profa. Adriana Wyzykowski – 2020.2 administrativa. Tanto é assim que a ação trabalhista é chamada, na CLT, de “Reclamação Trabalhista”, pois é resquício dessa época em que a justiça do trabalho era administrativa (quando vai num órgão administrativo, você “reclama”). Foi só em 1946 que incorpora-se a justiça do trabalho como uma justiça especializada. Quando chega entre 1966-67, o Brasil vive uma ditadura. Durante este período, temos certo freio em relação à criação dos direitos trabalhistas. Então é um período que passa a ter menos atividade legislativa, mais precária, mas não significa que não teve nada em relação ao direito do trabalho. Teve, por exemplo, a lei do empregado doméstico, a lei do empregado rural, a lei do trabalho temporário. Então há atividade legislativa, mas numa quantidade bem menor. C) Terceiro período Alguns acreditam que esse período está em curso, outros acreditam que está em vias de acabar. O marco é a CF/88. Há um avanço democrático em termos trabalhistas, um avanço nos direitos denatureza social. Então após um período conturbado de ditadura, passa-se a adotar o Estado democrático e, consequentemente, a valorização dos direitos sociais, influenciando no direito do trabalho. Por conta disso, a CF/88 dedica uma parte muito grande ao Direito do Trabalho. De forma específica, o art. 7º passa a elencar direitos trabalhistas. Encontra direitos como proteção em face dos riscos da automação, direito à licença maternidade/paternidade, férias, 13º salário, FGTS, jornada, dentre outros. Além desse, temos outros trechos da Constituição que tem toda a relação ao direito do trabalho, como, por exemplo, o direito à vida, saúde e segurança, lazer, dentre outros. Então a CF/88 é uma carta de direitos trabalhistas, específicos e inespecíficos. Direito do Trabalho I – Leonardo David – Profa. Adriana Wyzykowski – 2020.2 Por isso que em 88 temos a mudança na área trabalhista e essa visualização da necessidade de proteção àquele que é vulnerável, ao hipossuficiente. Isso dura até o final dos anos 1990, quando a gente tem a primeira onda de flexibilização de uma forma mais severa no Brasil. Defende-se com a flexibilização trabalhista um maior poder negocial das entidades coletivas e das negociações individuais entre empregado e empregador. Esse movimento de flexibilização entende que, se eu consigo ter uma maior negociação e, consequentemente, menos direitos trabalhistas, eu conseguiria aumentar o número de empregos no Brasil. Essa política flexibilizatória foi bastante recorrente no governo de FHC. O principal nome, na economia sobre essa tema, é o José Pastori. No entanto, essa primeira onda de flexibilização, que no resto do mundo ocorreu nos anos 1970, não ensejam o número de empregos que se esperava. A gente não tem um número de empregos grande, na verdade o Brasil passa por determinada crise, e um movimento de precarização nas condições laborais. Por isso, essas teorias acabam perdendo força, principalmente depois que temos a eleição de Lula, que retorna à primeira ideia de Estado democrático, de muitos direitos trabalhistas, de proteção ao vulnerável e garantias sociais. Esse período de um direito do trabalho protetivo é um período que vai até 2016-17 no Brasil. Por conta do impeachment de Dilma, várias teorias flexibilizatórias voltam a fazer parte do cenário brasileiro. Em especial, por conta de Michel Temer, que também defendia que menos direitos significava mais empregos. Por conta disso, um projeto de lei é apresentado nesse período, com o objetivo de “modernizar” o direito do trabalho, permitindo maior negociação, maior flexibilização. O relator desse PL é Rogério Marinho. Esse PL, incialmente, iria modificar nove artigos na CLT, seis artigos na Lei do Trabalho Temporário e mais alguns poucos esporádicos. Seria uma modificação em torno de 14 a 15 artigos na legislação trabalhista. Direito do Trabalho I – Leonardo David – Profa. Adriana Wyzykowski – 2020.2 Todavia, esse PL passa a ter uma tramitação recorde, e são apresentadas diversas emendas a esse projeto, que culminam em 200 alterações na legislação de uma forma geral. Essa é a primeira crítica que faz à reforma trabalhista, que é o seu déficit democrático, já que a discussão inicial foi em torno dos 14 primeiros artigos que seriam modificados. O Procurador do Trabalho disse que existe esse problema de conversa com a sociedade. O PL foi aprovado em tempo recorde e, no dia 13.07.2017, aprovou- se a Lei 13.467/17 (Reforma Trabalhista). Não houve vetos. O que foi feito foi um grande acordo com o Congresso Nacional, que iria aprovar a reforma como estava, e iria editar medida provisória para consertar alguns pontos da reforma, que eram nitidamente inconstitucional. Assim, veio a MP 808/17, justamente para consertar esses problemas de inconstitucionalidades que a reforma trabalhista possuía. Todavia, a MP caduca, isto é, não é votada a tempo, voltando, portanto, à redação original da reforma trabalhista. Assim, veio nova alteração no governo Bolsonaro que foi a Lei da Liberdade Econômica, tendo algumas modificações na CLT. Criou-se uma MP com um contrato chamado “contrato de trabalho verde e amarelo”, com menos direitos trabalhistas, para permitir o ingresso, principalmente, de jovens no mercado do trabalho. Foi a MP 905/19. Todavia, ela também caducou, por falta de acordo político. Isso tudo mostra que a área trabalhista toda hora sofre alteração. O governo está preparando nova reforma trabalhista, de natureza sindical. Por isso que alguns autores acham que nós estamos, na verdade, numa nova fase, voltada ao direito do trabalho menos protetivo, mais flexível etc. 3. CARACTERIZAÇÃO DO DIREITO DO TRABALHO 3.1. DEFINIÇÃO Direito do Trabalho I – Leonardo David – Profa. Adriana Wyzykowski – 2020.2 Nós temos definições que focam mais na questão relativa à relação jurídica desenvolvida, e definições que dão enfoques maior aos sujeitos da relação. Por isso, são três correntes básicas: Corrente subjetivista: Defendida por Nipperdey e Hueck, diz que o direito do trabalho deve ser definido de acordo com os sujeitos participantes das relações jurídicas trabalhistas. Então o direito do trabalho consiste num ramo autônomo do direito, voltado ao estudo dos empregados e dos empregadores. O problema dessa corrente é que ela não trata da relação jurídico-trabalhista em âmbito individual e coletivo. Por isso, a corrente oposta a ela seria a objetivista. Corrente objetivista: Defendida por Messias Donato, ela enfatiza a definição do direito do trabalho no seu objeto. Então o direito do trabalho consiste no ramo autônomo do direito, voltado ao estudo da relação jurídico- trabalhista, seja em âmbito individual ou coletivo. Aqui a crítica é por não trazer os sujeitos da relação de emprego. Corrente mista: Defendida por Octavio Buena Magano, essa corrente surgiu sendo hoje a que tem uma aceitabilidade melhor. Segundo ela, seria o direito do trabalho o ramo autônomo do direito, voltado a estudar as relações trabalhistas, que envolvem empregado e empregador e que envolvem os sujeitos coletivos de trabalho. 3.2. DENOMINAÇÃO As denominações tradicionais, também chamadas de denominações antigas, enfocavam à parte do direito que acontecia naquele momento histórico. Então elas traziam por enfoque um aspecto histórico do desenvolvimento daquele âmbito do direito. Por isso, incialmente o direito do trabalho foi chamado de “direito industrial”, pois o seu desenvolvimento se deu no seio da indústria (pós-revolução industrial). Também foi chamado nesse mesmo período de “direito operário”. Também foi chamado de “direito sindical”, enfatizando a importância dos Direito do Trabalho I – Leonardo David – Profa. Adriana Wyzykowski – 2020.2 sindicados. Atualmente direito sindical é tido como parte do direito coletivo do trabalho. Por fim, também levou o nome de “legislação social”, pois antigamente não havia a distinção entre direito do trabalho e previdenciário. Atualmente, encontra-se o direito do trabalho como a denominação mais ampla, mais aceitada e mais difundida. É comum encontrar, também, “direito laboral”, principalmente em outros países. 3.3. CONTEÚDO E CARACTERÍSTICAS Conteúdo do Direito do Trabalho relação de emprego e direito sindical Ele se divide em dois grandes âmbitos, quais sejam, direito individual e coletivo do trabalho. Direito individual: No direito individual do trabalho, a nossa preocupação é com a relação de emprego. As características da relação de emprego são: (a) pessoa física; (b) pessoalidade; (c) onerosidade; (d) não-eventualidade; e (e) subordinação jurídica. Essas são as características que tornam alguém emprego. Direito coletivo: Essas relações envolvem (a) sindicato obreiro x sindicato dos empregadores; ou (b) sindicato obreiro x empresa(s). Esse é o panorama do direito coletivo de trabalho.OBS: Quando há uma relação que envolve sindicato obreiro e sindicato dos empregadores, teremos uma formação de uma norma jurídica chamada de “Convenção coletiva”. Já quando se tem uma relação que envolve o sindicato obreiro e as empresas, tem-se uma norma chamada de “Acordo coletivo”. A norma jurídica trabalhista pode vir, normalmente, de lei ou pode vir de uma norma negociada. Características a) Tendência in fieri (ampliação crescente) Direito do Trabalho I – Leonardo David – Profa. Adriana Wyzykowski – 2020.2 O Direito do Trabalho, incialmente, se preocupou especificamente com a indústria, com a situação do capitalismo de “chão de fábrica”. Mas percebeu-se que outas características também deveriam estar sob a tutela do direito do trabalho, como, por exemplo, trabalho doméstico, trabalho rural, contratos temporários, terceirização etc. Então a nossa tendência é de expandir o âmbito de proteção, a rede de proteção social do trabalho. Mesmo nas relações de trabalho (não de emprego), há direitos trabalhistas. b) Cunho intervencionista A intervenção estatal por meio da legislação. Faz parte da ideia de proteção. c) Direito tuitivo, de reivindicação de classes A palavra tuitivo vem de proteção. Então o direito do trabalho é um direito com base protetiva em face desses conflitos que existem entre as classes ali envolvidas. 3.4. DIVISÃO INTERNA Há aqui uma amplitude maior, em sentido lato sensu. 3.4.1. Área Trabalhista lato sensu Significa analisar quais são as matérias que tem relação com o mundo do trabalho. Quais sejam: • Direito internacional do trabalho: não é parte da nossa disciplina. É uma disciplina autônoma. • Direito público do trabalho (direito processual, administrativo, previdenciário, acidentário, penal): Aqui envolve o processo do trabalho • Direito material do trabalho: É o foco da disciplina. Direito do Trabalho I – Leonardo David – Profa. Adriana Wyzykowski – 2020.2 3.4.2. Direito do trabalho Subdivide-se o direito do trabalho em direito coletivo e direito individual. Direito coletivo: não tem subdivisões internas, ele é uno. O conteúdo é (a) o estudo principiológico do direito coletivo, em especial, por conta do princípio da liberdade sindical; (b) o estudo das entidades sindicais e do sistema confederativo brasileiro; (c) o estudo da negociação coletiva e das formas de soluções dos conflitos coletivos do trabalho; e (d) a greve. Direito individual: subdividido em parte geral e parte especial. A parte geral tem relação com as noções iniciais históricas, princípios, os sujeitos da relação de emprego e a própria relação em si. A parte especial, por sua vez, diz respeito ao estudo do contrato de trabalho. Aqui, os contratos de trabalho, em regra, são por prazo indeterminado, mas também se estuda os contratos por prazo determinado (exceções) e os direitos que são decorrentes desse contrato. 3.5. AUTONOMIA DO DIREITO DO TRABALHO É a compreensão do porquê o direito do trabalho é um ramo autônomo do direito. Autonomia didática: Existe legislação no MEC específica que autoriza os cursos de direito, que traz a cadeira trabalhista à área trabalhista como obrigatória. Então a nossa legislação reconhece o direito do trabalho como uma cadeira própria. Autonomia científica: Temos princípios próprios, autores próprios, livros próprios. Então é uma disciplina completa, que comporta dogmática, teoria, princípios específicos para a área trabalhista. Autonomia legislativa: Temos legislação própria para a área trabalhista, inclusive temos até um “Código”, pois a CLT não deixa de ser um Código, bem como outras leis esparsas. Direito do Trabalho I – Leonardo David – Profa. Adriana Wyzykowski – 2020.2 Autonomia judicial: Justiça do Trabalho. Temos uma justiça que é especializada em processar e julgar os conflitos que envolvem as relações de trabalho em sentido amplo. 3.6. NATUREZA JURÍDICA Aqui é compreender qual o lugar do direito do trabalho, ou seja, onde ele se encaixa, como ele pode ser vislumbrado. A discussão maior é saber se é de âmbito público, privado ou misto. Com isso, há doutrinas para vários lados. Público: A primeira corrente defende que o direito do trabalho faz parte do direito público, na medida em que temos a presença do Estado nas intervenções estatais por meio da legislação. Privado: A segunda corrente defende que o direito do trabalho está inserto no direito privado, na medida em que a relação trabalhista seria um negócio jurídico, pautada, portanto, na autonomia privada dos sujeitos. Mista: Por fim, a corrente mista enxerga o direito do trabalho como um direito social, possuindo características de direito público e de direito privado. A maioria da doutrina entende que o direito do trabalho é um ramo do direito privado. E a reforma trabalhista vai justamente nessa linha (art. 8º, CLT), afirmando que, nos casos de lacunas, deve-se utilizar o direito comum, direito civil. 4. FONTES DO DIREITO DO TRABALHO 4.1. CONCEITO DE FONTES DO DIREITO As fontes têm importância salutar, em qualquer ramo do direito, para que possamos compreender de onde o direito vem. O nosso fenômeno social é o mundo do trabalho. 4.2. CLASSIFICAÇÃO GERAL DAS FONTES a) Fontes materiais Direito do Trabalho I – Leonardo David – Profa. Adriana Wyzykowski – 2020.2 Elas representam um momento pré-jurídico, ou seja, um momento em que as fontes ainda não foram incorporadas formalmente pelo ordenamento. Então elas resultam em momentos de natureza econômica, sociológica, política etc., situações que ocorrem no mundo e que influenciam a criação das chamadas fontes formais. Ao direito do trabalho, as fontes materiais sociológicas são muito importantes, pois o mundo do trabalho acontece na sociologia. Então identifica- se as fontes econômicas, sociológicas e político-filosófico. Econômicas: As econômicas dizem respeito às fontes que advém do fato econômico, seja num modelo de organização econômica de determinado estado, seja por momentos de crises/prosperidades. Pós-impeachment, nós mudamos de um estado de social democracia para um Estado que tem características voltadas ao sistema neoliberal, influenciando, diretamente, o direito do trabalho. Com características neoliberais, consequentemente se quer flexibilização, menos direitos trabalhistas etc. Então as fontes materiais econômicas influenciam diretamente o direito do trabalho. Sociológicas: Também influenciam diretamente o direito do trabalho, pois o fato social trabalhista é diuturno, da nossa vida. A nossa vida é uma vida laboral. Então movimentos sociais influenciam diretamente no mundo do trabalho, como, por exemplo, reivindicações sociais. Político-filosóficas: Entendendo o fenômeno político que influencia diretamente na área trabalhista, como, por exemplo, a mudança de perspectiva de Estado, a mudança de líderes estatais, de formação de Congresso Nacional, e isso influencia diretamente em determinada legislação ou em outra legislação. OBS: Destaca-se que esses três aspectos andam juntos, influenciando diretamente nas fontes formais. b) Fontes formais Direito do Trabalho I – Leonardo David – Profa. Adriana Wyzykowski – 2020.2 Estamos falando aqui de um momento jurídico, ou seja, de um momento de incorporação dessas ideias, dessas questões que vêm das fontes materiais para o âmbito do direito. Então quando se fala de fonte formal, já está se falando dessa incorporação no âmbito jurídico. Aqui se destacam as teorias monistas e pluralistas das fontes formais. Teoria monista: O monismo é muitas vezes atribuído ao monismo estatal, embora não seja a única forma de monismo. Por essa teoria, as normas jurídicas, as fontes formais, advêm de um único centro de poder e esse centro de poder, para aqueles que defendem o monismo estatal, é o Estado. Então só caberia ao Estado a elaboração de fontesformais. Essa teoria, inclusive, coincide, em alguma medida, com a ascensão do liberalismo, na medida em que fazia necessário um Estado que estivesse presente, mas que desse liberdade às pessoas. Por isso, a regulação ficava no âmbito do Estado (fontes formais), embora houvesse essa liberdade no âmbito prático. Por conta disso, o monismo se desenvolve nessa premissa (monarquias absolutistas, “Estado sou eu”), embora as teorias pluralistas sejam até mais antigas que as teorias monistas estatais. Teoria pluralista: Defende que as fontes formais podem advir de diversos centros de poder, inclusive não estatais. Defende diversos centros de poder atuando de forma paralela na elaboração de fontes formais. Por isso, inclusive, elas são mais antigas. Quando pensamos na Idade Média, regime feudal, a Igreja atuando etc., são diversos centros de poder. Todavia, o pluralismo ficou por um tempo desprezado, por conta da ascensão do liberalismo e da necessidade da centralização do poder no Estado. Mas os centros de poder diferentes do Estado sempre existiram, como, por exemplo, a Igreja, sindicatos, centros de bairros etc. Na ideia pluralista é que o direito do trabalho se desenvolve em dois tipos de fontes: Fontes formais autônomas: São aquelas cujos interessados na norma participam diretamente da sua elaboração. O principal exemplo está na área trabalhista, quando pensamos nos acordos e nas convenções coletivas. Os Direito do Trabalho I – Leonardo David – Profa. Adriana Wyzykowski – 2020.2 acordos e convenções coletivas visam criar normas jurídicas específicas para aquela categoria. Por exemplo: temos as normas jurídicas dos professores de Salvador; bancários de Salvador. Elas são bem específicas para a realidade de cada categoria. No Brasil, só podemos ter um único sindicato por base territorial, por categoria e a base territorial não pode ser inferior a área de um município. Significa, portanto, que eu tenho uma convenção ou acordo coletivo para cada categoria em cada base territorial. Por isso é “professores de Salvador”, que não vai ser a mesma norma de “professores de Feira de Santana”. Então no Brasil só temos um único sindicado por base territorial por categoria, sendo que a base territorial não pode ser inferior a área de um município. Fontes formais heterônomas: Os sujeitos interessados na norma não participam diretamente na sua elaboração. Por exemplo: toda a legislação que vem do Congresso Nacional. EU pariticpo indiretamente a partir do momento que eu voto em determinado representante político, mas não participo diretamente da elaboração da norma. Na área trabalhista, as duas espécies de fontes convivem (autônomas e heterônomas), podendo aplicar, por exemplo, numa mesma situação, uma norma estatal e outra que advém de acordo ou de convenção. Espécies de fontes formais heterônomas I - Constituição Ela é fonte formal autônoma em face do seu conteúdo normativo. Em sentido formal, a Constituição é vista como as disposições que são encontradas dentro do texto constitucional. Já em sentido material, a CF é vislumbrada como aqueles aspectos que garantem a estruturação e funcionamento do Estado, os órgãos relativos ao poder estatal, e a declaração de direitos. Na área trabalhista, a CF traz disposições de direitos trabalhistas específicos e inespecíficos, como, por exemplo, aqueles vinculados a meio ambiente, vida, lazer etc. Direito do Trabalho I – Leonardo David – Profa. Adriana Wyzykowski – 2020.2 II – Leis em sentido amplo A legislação é tida como geral, abstrata, impessoal, obrigatória, oriunda de autoridade competente e expressa em fórmula escrita (Bobbio). É importante salientar que para a ideia de Direito do Trabalho, em regra, a competência legislativa é da União. De forma excepcional, quando se trata de meio ambiente de trabalho, segurança e saúde no trabalho, se admite competência legislativa concorrente. Exemplo: CLT e legislações esparsas na área trabalhista. III – Tratados e convenções internacionais São documentos de natureza internacional obrigatórios, programáticos e com conteúdos normativos. O BRASIL É um dos países fundadores da OIT e, por conta disso, é que nós temos toda essa vinculação em relação aos tratados internacionais advindos da OIT. No entanto, a OIT não tem uma formula de realizar uma obrigatoriedade nas ratificações de convenções internacionais. Não tem como obrigar um país, mesmo sendo um país que fundou, que tem um bom relacionamento, a ratificar tratados internacionais. E, por isso, o Brasil não ratifica todos os tratados da OIT, inclusive tratados de natureza fundante da OIT. Por exemplo: Convenção nº 87 da OIT, que é uma convenção que trata de liberdade sindical, pois ela não é compatível com a nossa Constituição. Por exemplo: Convenção nº 110 que trata de assédio no ambiente de trabalho. Os tratados quando são ratificados, eles adentram como normas de natureza infraconstitucional, salvo os de conteúdo de direitos humanos, que entram como normas de natureza constitucional. Nesses casos de direitos humanos, o tratado deve ser ratificado com quórum de emenda constitucional, conforme art. 5º, § 3º, CF/88. Direito do Trabalho I – Leonardo David – Profa. Adriana Wyzykowski – 2020.2 Exemplo de direitos humanos: Pacto de Nova Iorque, que trata das pessoas com deficiência. Enquanto esse tratado não passar por esse procedimento constitucional, terá status supralegal, por decisão do STF. Ou seja, acima da legislação infraconstitucional, mas abaixo do texto constitucional. OBS: Há quem entenda que tratados com conteúdo de direitos humanos já estariam automaticamente incorporados como eficácia constitucional. Porém é doutrina minoritária. IV – Sentença normativa Na sentença normativa, temos uma atuação do judiciário trabalhista para resolver o conflito coletivo de trabalho. Numa negociação trabalhista, as vezes as categorias não conseguem chegar a um acordo sozinhas, nem convenção coletiva com os empregadores. Daí pode surgir a mediação e arbitragem, pode partir para uma greve, ou pode levar o conflito ao judiciário. Quando levamos ao judiciário, ajuíza-se uma ação chamada de “dissídio coletivo”. Assim, a sentença normativa é o produto do dissídio coletivo. Por isso que sentença normativa é fonte formal, pois é um terceiro que decide aquele conflito e cria norma daquela categoria. Então pode haver norma vinda de acordo, de convenção (autônomas) ou advinda do poder judiciário. A justiça do trabalho, se for analisar convenção ou acordo, só poderá analisar elementos relativos ao negócio jurídico, não podendo intervir mais no conteúdo. Mas quando a justiça do trabalho atua num dissídio coletivo, para resolver o impasse da categoria, ela terá um poder de criação maior, vai criar a norma coletiva daquela categoria, por meio da sentença normativa. No entanto, como dito, se a Justiça do Trabalho só for analisar uma convenção ou um acordão coletivo já existentes, ela não poderá intervir no Direito do Trabalho I – Leonardo David – Profa. Adriana Wyzykowski – 2020.2 conteúdo, de modo que a análise será apenas em relação aos elementos essenciais daquele suposto negócio jurídico. Isso é fruto da modificação promovido do art. 8º, § 3º, da CLT, pós reforma trabalhista. V- Sentença arbitral A sentença arbitral é fruto da arbitragem na área trabalhista. Discute-se se a sentença arbitral seria uma fonte heterônoma ou uma fonte autônoma do direito do trabalho. Isso porque, na arbitragem, as partes que estão no conflito, decidem pela utilização do procedimento arbitral, que não é obrigatório. Então parte da doutrina entende que, como o poder decisório é das partes, por submeter aquele conflito à via arbitral, estaríamos diante de uma fonte autônoma. No entanto, a grande maioria defende que a sentença arbitral é uma fonte heterônoma, pois emboraas partes tenham esse poder decisório de submeter ou não o conflito à via arbitral, o poder decisório, a criação da norma advinda da sentença arbitral, está diante do árbitro ou do corpo de árbitros. Ou seja, a criação da norma advinda da sentença arbitral é feita pelo árbitro, ou corpo de árbitros, e não pelas partes. No direito do trabalho, em âmbito coletivo, a CF/88 autoriza a utilização de arbitragem (art. 114, § 2º). Em âmbito individual, há controvérsias. Não há disposição na CF/88 sobre isso. O que se tem é um artigo inserido pela reforma trabalhista na CLT, permitindo a utilização de arbitragem no direito individual do trabalho, desde que respeitados alguns requisitos (art. 507-A, CLT). “Art. 507-A. Nos contratos individuais de trabalho cuja remuneração seja superior a duas vezes o limite máximo estabelecido para os benefícios do Regime Geral de Previdência Social, poderá ser pactuada cláusula compromissória de arbitragem, desde que por iniciativa do empregado ou mediante a sua concordância expressa, nos termos previstos na Lei nº 9.307/1996.” Direito do Trabalho I – Leonardo David – Profa. Adriana Wyzykowski – 2020.2 Críticas do dispositivo: (a) O dispositivo só permite “cláusula compromissória de arbitragem”, não falando sobre o “compromisso arbitral”. Essa seria a primeira crítica; (b) a segunda crítica é que a arbitragem poderia acontecer se fosse por iniciativa do empregado, ou pela sua concordância expressa. Ocorre que na prática não haverá concordância expressa, na medida em que um empregado firmando um vínculo vai aceitar qualquer coisa; (c) a parte mais polêmica diz respeito ao critério que foi estabelecido: a remuneração. Qual é o tipo de empregado que pode utilizar a arbitragem? Aquele que tem a remuneração superior a duas vezes o limite máximo estabelecido para os benefícios do Regime Geral de Previdência Social (que hoje é em torno de 6 mil reais), ou seja, o empregado deve ter remuneração superior a 12 mil reais. Significa que os direitos são disponíveis nesse caso? O fato de eu receber uma remuneração superior a duas vezes o teto da previdência, significa que aquele direito é disponível? Antes da reforma, a posição da doutrina era contrária à utilização da arbitragem em âmbito individual, justamente porque os direitos não são disponíveis enquanto houver um contrato de trabalho vigente. É a ideia da subordinação, que faz com que a pessoa queira aceitar tudo para a manutenção do vínculo empregatício. A reforma veio, trouxe a possibilidade de arbitragem, mas não enfrentou diretamente esses problemas que a doutrina identificava. Então a arbitragem é possível hoje, embora a doutrina critique muito esse dispositivo, o que não significa que é contra a arbitragem. AULA 1º DE SETEMBRO Espécies de fontes formais autônoma Sempre que falamos de fonte formal autônoma, há a participação da classe trabalhadora. I – Convenção e acordo coletivo de trabalho Direito do Trabalho I – Leonardo David – Profa. Adriana Wyzykowski – 2020.2 São normas trabalhistas negociadas. São fruto, portanto, de negociação coletiva entre a classe obreira e a classe patronal. A diferença é que a convenção é mais ampla. O acordo é mais restrito. Isso porque, na convenção, a negociação coletiva se dá entre sindicato dos empregados e sindicato dos empregadores, numa base territorial (pelo menos do tamanho da área de um Município). Já o acordo coletivo ocorre quando temos negociação entre o sindicato dos empregados e a empresa ou grupo de empresas. Então o acordo acaba sendo mais restrito, pois aquela norma jurídica criada será aplicada somente naquela empresa ou grupo de empresas. OBS: A CF/88 reconhece o acordo e a convenção coletiva como normas jurídicas trabalhistas (art. 7º). II – Usos e costumes O art. 8º da CLT faz menção como fontes do direito do trabalho aos usos e costumes. O uso seria um modelo de conduta reiterada, estabelecida numa relação jurídica em específico. Então quando falamos de uso, imaginemos que estamos falando de uma situação em que empregado e empregador, naquela relação jurídica estabelecida, estabelecem um padrão jurídico normativo. Exemplo: Adriana é uma ótima empregada, se você terminar seu serviço antes, você pode não cumprir sua jornada integral, pode sair mais cedo. Isso não é uma conduta geral na empresa, é específico para Adriana. O costume, por sua vez, consiste numa fonte que advém de um modelo de conduta impessoal, aplicável a todo e qualquer empregado daquela empresa. Imaginemos que todos os empregados dessa empresa podem sair mais cedo se, porventura, terminam o serviço antes. É algo típico daquela empresa. Ou, na sexta feira, os empregados podem se vestir da forma que quiserem. Direito do Trabalho I – Leonardo David – Profa. Adriana Wyzykowski – 2020.2 A exegese que temos da escola histórica do direito é que os usos e costumes seriam um método de integração. 4.3. FIGURAS ESPECIAIS I – Regulamento empresarial Consiste num documento empresarial que contém as diretrizes básicas de atuação dos empregados naquela empresa. Pode contemplar o código de ética e conduta, normas internas, dentre outras questões. Aqui se discute se esse regulamento de empresa poderia ser tido como uma fonte formal. A jurisprudência vem negando essa ideia de fonte formal, se o documento for feito de forma unilateral, ou seja, de vontade única do empregador. No entanto, aqueles documentos que tenham a participação dos empregados, eles são tidos como fontes autônomas. Na reforma trabalhista há o art. 611-A que traz as hipóteses que a negociação coletiva prevalece sobre a lei, ainda que a negociação seja pior que a lei. II – Jurisprudência/doutrina São tidas como fontes do direito do trabalho e a reforma trabalhista fala um pouco sobre elas. 4.4. HIERARQUIA ENTRE AS FONTES JUSTRABALHISTAS A defesa doutrinária é de falta de rigidez na pirâmide Kelseniana. É aquilo que se chama de hierarquia dinâmica da norma trabalhista, em oposição à hierarquia estática (hierarquia Kelseniana). Significa que posso mudar a posição da norma, dentro da pirâmide, se ela for mais favorável ao empregado. Se há duas ou mais normas aplicáveis numa situação concreta, deve prevalecer aquela que for mais favorável ao empregado. No entanto, essa hierarquia dinâmica encontra alguns limites: Direito do Trabalho I – Leonardo David – Profa. Adriana Wyzykowski – 2020.2 Normas heterônomas proibitivas sempre terão preponderância. Ou seja, se há na legislação uma proibição, esta sempre irá prevalecer. Exemplo: proibição do trabalho infantil. Segundo limite é o art. 611-A, da CLT. Foi incluído pela reforma trabalhista. Ele traz um status maior para a convenção ou acordo coletivo de trabalho. O dispositivo traz o rol que o acordo ou a convenção coletiva prevalece sobre a lei. OBS: Tudo indica que o rol é exemplificativo e não taxativo. Mas há quem diga (Jorge Luis Souto Severo e Valdete Souto Severo) que não há como pensar nesse rol de forma exemplificativa, desconsiderando a aplicação da norma mais favorável. Mas não é a posição que prevalece. Esse dispositivo é muito mal visto dentro da área trabalhista, mas até então não houve manifestação do STF acerca da sua inconstitucionalidade. Há duas situações específicas que são evidentemente inconstitucionais, quais sejam, os incisos XII e XIII (insalubridade e prorrogação da jornada). “Art. 611-A. A convenção coletiva e o acordo coletivo de trabalho têm prevalência sobre a lei quando, entre outros, dispuserem sobre: I – pacto quanto à jornada de trabalho, observados os limites constitucionais; II – banco de horas atual; III – intervalo intrajornada, respeitando o limite mínimo de trinta minutos para jornadas superiores a seis horas; IV – adesão ao Programa Seguro-Emprego (PSE), de que trata a Lei nº 13.189, de 19 de novembrode 2015; V – plano de cargos, salários e funções compatíveis com a condição pessoal do empregado, bem como identificação dos cargos que se enquadram como funções de confiança; VI – regulamento empresarial; Direito do Trabalho I – Leonardo David – Profa. Adriana Wyzykowski – 2020.2 VII – representante dos trabalhadores no local de trabalho; VIII – teletrabalho, regime de sobreaviso, e trabalho intermitente; IX – remuneração por produtividade, incluídas as gorjetas percebidas pelo empregado, e remuneração por desempenho individual; X – modalidade de registro de jornada de trabalho; XI – troca do dia de feriado; XII – enquadramento do grau de insalubridade; XIII – prorrogação de jornada em ambientes insalubres, sem licença prévia das autoridades competentes do Ministério do Trabalho; XIV – prêmios de incentivo em bens ou serviços, eventualmente concedidos em programas de incentivo; XV – participação nos lucros ou resultados da empresa.” Insalubridade é medida por perícia. Assim, o adicional vem para minorar o potencial dano à saúde do empregado. Então o empregado poderá estar diante de um grau máximo de insalubridade, sem receber adicional proporcional ao grave dano. OBS: Se o empregado é hipersuficiente, ele pode negociar nos mesmos termos que o sindicato. O hipersuficiente é aquele com nível superior e que percebe salário mensal igual ou superior a duas vezes o limite máximo dos benefícios do Regime Geral da Previdência Social. Esse empregado pode negociar nos mesmos termos do art. 611-A. 5. APLICAÇÃO DO DIREITO DO TRABALHO 5.1. APLICAÇÃO NO TEMPO Depende de qual tipo de norma para saber o padrão de aplicação no tempo. Há diversas fontes do direito do trabalho e essas fontes reagem a um padrão de participação na vida trabalhista de formas diferentes. I – Norma heterônoma estatal Direito do Trabalho I – Leonardo David – Profa. Adriana Wyzykowski – 2020.2 Ela se incorpora imediatamente ao contrato de trabalho, respeitando-se, por óbvio, o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada. Então o efeito é imediato. Lembrando que o efeito imediato ocorre após o período de vacatio legis, se assim o legislador determinar. Claro que se eu já tiver um direito adquirido, a alteração legislativa não ensejará mudança no direito adquirido. Exemplo: a CF/88 extinguiu as estabilidades decenais, isto é, após 10 anos na mesma empresa, o empregado se tornava estável, não podendo ser dispensável sem justa causa. Quem já tinha direito adquirido, não teve nenhum tipo de prejuízo com essa alteração constitucional, mas aqueles que ainda não tinham adquirido esse direito, submeteram-se ao efeito imediato da norma. II – Determinações contratuais Em regra, não é possível suprimir. É o que se chama de “aderência contratual absoluta”. Então se a norma é prevista no contrato de trabalho, a alteração apenas pode se dar para beneficiar o empregado, em homenagem ao princípio da inalterabilidade contratual lesiva. Em relação ao empregado hipersuficiente, a modificação do contrato de trabalho que não lhe seja benéfica é possível, nos termos do art. 611-A, CLT. III – Normas jurídicas autônomas É tratada a norma trabalhista no tempo em relação aos acordos e convenções coletivas. Aqui a aderência ao contrato de trabalho é uma aderência relativa, limitada. Segundo o art. 614, § 3º, CLT, os acordos e convenções têm vigência máxima de dois anos. E quando terminam esses dois anos? Os direitos previstos no acordo e convenção coletiva passam a fazer parte do patrimônio jurídico do empregado Direito do Trabalho I – Leonardo David – Profa. Adriana Wyzykowski – 2020.2 ou ele perde aqueles direitos, dependendo de um novo acordo ou nova convenção coletiva? Esse é o questionamento sobre o tema. Duas teses jurídicas forma criadas: Aderência limitada no prazo: afirma que os direitos previstos no acordo e na convenção só são aplicáveis durante o período de vigência deste acordo ou desta convenção. Exemplo: meu acordo me garante um plano de saúde nacional e garante que a hora extra que eu recebo, se eu fizer a hora extra, é num percentual de 100%, ao invés dos 50% que a lei determina. Imaginemos que acabou o acordo e convenção. Eu perco esses benefícios? Volta o padrão da lei? Para essa primeira tese, é isso que ocorre. O direito decai. Aderência limitada por revogação: essa teoria entende que aquele direito previsto no acordo ou convenção se incorpora ao contrato de trabalho do empregado até que haja revogação expressa desse direito. Então essa é uma tese que prevê uma ultratividade normativa. Exemplo: plano de saúde nacional e adicional de hora extra de 100%. A categoria tentou negociar e não conseguiu. Mesmo encerrado o prazo de vigência, continua com os benefícios, salvo se fosse negociada a revogação desses direitos. De outro modo, ele irá se incorporar ao patrimônio jurídico. Até 2012 a primeira corrente que prevalecia na jurisprudência. Deste ano até 2016, prevaleceu a segunda corrente. A súmula 277 do TST foi alterada para demonstrar que a posição nova deste Tribunal era a segunda teoria. Foi ajuizada uma ADPF 323 contra o contexto da aludida súmula, alegando que não poderia o TST legislar. Ou seja, não poderia criar uma ultratividade. O fundamento da ADPF, portanto, vai na linha da legalidade e separação de poderes. Direito do Trabalho I – Leonardo David – Profa. Adriana Wyzykowski – 2020.2 Em 2016, o Min. Gilmar Mendes defere medida cautelar para suspender a súmula 277. Hoje esse processo está parado no supremo. Mas houve uma perda de objeto nele, pois a reforma trabalhista passou a aderir a primeira corrente, por meio do art. 614, § 3º, CLT. “§ 3º Não será permitido estipular duração de convenção coletiva ou acordo coletivo de trabalho superior a dois anos, sendo vedada a ultratividade”. O objetivo foi não engessar a negociação, pois os empregadores afirmavam que seria sempre uma negociação apenas para manter ou para melhorias aos empregados. 5.2. APLICAÇÃO NO ESPAÇO Dentro das fronteiras brasileiras, aplica-se, óbvio, o Direito brasileiro. No entanto, alguns empregados são contratados no Brasil para prestar serviços no exterior, ou são transferidos para o estrangeiro. Nesse sentido, qual a norma será aplicada? A do local da contratação ou a norma do local onde ele está prestando o serviço? Durante muito tempo se pensou que o critério deveria ser o local da prestação dos serviços, pensando num critério de territorialidade da aplicação da norma trabalhista. O próprio TST pensava dessa forma. Todavia, a posição atual e que encontra sustentáculo legal na lei 7.064/82, é a de que se aplica a norma mais favorável ao empregado. Exemplo: uma pessoa foi contratada na Bahia para trabalhar em Angola. Tem que verificar qual das duas legislações é mais favorável ao sujeito. Há uma técnica para conseguir fazer a definição de qual lei é a mais favorável. 6. PRINCÍPIOS DO DIREITO DO TRABALHO Os princípios, tal como qualquer outro princípio, possuem algumas funções. Lembrando que os princípios são as vigas mestras de sustentação de uma área, considerados por Alexy como “mandados de otimização”. Direito do Trabalho I – Leonardo David – Profa. Adriana Wyzykowski – 2020.2 6.1. FUNÇÕES DOS PRINCÍPIOS DO DIREITO 6.1.1. Fase pré-jurídica ou política Na fase política, os princípios funcionam como fontes materiais do direito. Antecedem, portanto, as fontes formais, inspiram os fatos sociais e o desenvolvimento social, econômico, político, filosófico do direito do trabalho. 6.1.2. Fase jurídica Aqui, os princípios possuem tripla função: (a) função de integração; (b) interpretação; e (c) normativa. Função de integração: podemos ter uma integração do direito levando-se em consideração os princípios. Então, em caso de lacunas jurídicas, os princípios funcionam comométodos de integração do direito. Função de interpretação: indica que a interpretação jurídica deve levar em consideração os princípios atinentes àquela área. No direito do trabalho nós interpretamos o direito com base no nosso principal princípio, que é o princípio da proteção. É o princípio que dá ensejo aos demais princípios. Fundação normativa: enxerga os princípios como verdadeiras normas jurídicas, de sorte que em caso de conflito entre uma regra e um princípio, deve prevalecer o princípio, em face da sua densidade normativa. E, em caso de conflitos entre princípios, o Brasil vem seguindo a técnica da ponderação desenvolvida por Alexy. 7. PRINCÍPIOS ESPECÍFICOS AO DIREITO DO TRABALHO Existem princípios que são comuns a diversos ramos do direito, mas há aqueles que são específicos ao direito do trabalho. Quais sejam: 7.1. Princípio da proteção É o princípio mor do direito do trabalho. Decorre da própria origem do direito do trabalho, de se reconhecer que uma das partes da área trabalhista, da Direito do Trabalho I – Leonardo David – Profa. Adriana Wyzykowski – 2020.2 relação jurídico-trabalhista, se encontrem em posição de vulnerabilidade, o que faz com que seja necessária uma atenção maior para a garantia da isonomia substancial. A vulnerabilidade se manifesta na relação trabalhista de diversas formas. A primeira forma é a chamada vulnerabilidade negocial, em que se verifica que empregado e empregador não estão na mesma posição jurídica em termos negociais. Isso ocorre, pois o empregador detém poder social, poder econômico, poder de comando, de controle da relação de emprego. Então o empregador está numa posição superior. O empregado está numa posição de inferioridade. O direito do trabalho, então, protege o empregado visando equilibrar essa negociação. Nessa mesma linha, também se verifica a vulnerabilidade que decorre da subordinação jurídica. A relação de emprego é uma relação subordinada, em que o empregado se submete aos poderes do empregador. O empregador tem poder de comando (poder diretivo), tem poder disciplinar (sanções), poder regulamentar e poder de fiscalizar, de verificar se o empregado vem cumprindo suas atividades. Todos esses poderes do empregador colocam o empregado numa posição de vulnerabilidade/inferioridade. Ainda é vislumbrada uma vulnerabilidade econômica, pautada na ideia de que o empregado não possui os meios de produção. Logo, ele depende economicamente daquele emprego para sua subsistência e para a subsistência da sua família. A última vulnerabilidade é a informacional. Essa se manifesta porque o empregado, em regra, não tem conhecimento acerca do direito do trabalho, sendo mais difícil a assimilação. Isso se dá por diversos motivos, como, por exemplo, a linguagem jurídica. Direito do Trabalho I – Leonardo David – Profa. Adriana Wyzykowski – 2020.2 Plá Rodrigues subdivide o princípio da proteção em (a) princípio da norma mais favorável; (b) princípio da condição mais benéfica; e (c) princípio do in dubio pro operario. Porém, vamos trabalha-los como princípios autônomos. Crítica ao princípio da proteção: Encontra-se dentro da teoria econômica e do direito do trabalho uma parcela da doutrina que critica o princípio da proteção, da forma que ele está posto no Brasil (Arion Sayão Romita e José Pastore como dois dos principais nomes). Eles defendem que o direito do trabalho precisa ser mais flexível, isto é, menos legislado e mais negociado. Então são autores que prezam pela valorização da autonomia privada no direito do trabalho. Eles defendem uma liberdade negocial mais ampla, que não seja tão amarrada ao texto de lei. Existem diversas teorias flexibilizatórias. Há autores que defendem uma flexibilização mais radical e outros que defendem uma flexibilização mais segura (flexissegurança). Nesta, o poder de negociação seria maior aos sindicatos. Caberia a legislação só estabelecer um patamar mínimo de direitos e o sindicato teria um amplo poder negocial. No entanto, em âmbito individual, das negociações entre empregado e empregador, não se visualizaria essa mesma premissa, ou seja, teríamos maiores restrições à negociação. Já aqueles que defendem uma flexibilização mais radical, defendem a amplitude de poderes negociais em âmbito individual e coletivo. Essa é a linha seguida pelo Ministro da Economia na atualidade (Paulo Guedes). OBS: Flexibilização não se confunde com desregulamentação. A flexibilização pode levar a uma desregulamentação, mas são fenômenos diferentes. Desregulamentar consiste em retirar direitos que estão previstos na legislação. Nós podemos, com a flexibilização, se ela for muito radical, retirar direitos. Mas são fenômenos distintos. Para alguns, a flexibilização é o primeiro passo para a desregulamentação. Direito do Trabalho I – Leonardo David – Profa. Adriana Wyzykowski – 2020.2 7.2. Princípio da norma mais favorável Para Plá Rodrigues, é uma decorrência do princípio da proteção. Esse princípio foi criado para aquelas situações em que haja confrontos de normas concorrentes. Havendo duas ou mais normas trabalhistas, aplicáveis à mesma situação concreta, deve se optar por aquela que for mais favorável ao empregado. Após a reforma trabalhista, esse princípio enfraqueceu, pois ele sempre foi pensado para proteger o empregado. No entanto, a reforma trouxe situações que já há uma prevalência de uma norma em detrimento de outras, independentemente dela ser mais favorável ou não. São três situações: Prevalência do negociado sobre o legislado (art. 611-A, CLT): a negociação coletiva prevalecendo sobre a lei, independentemente dela ser mais benéfica ou não; Prevalência do acordo coletivo sobre a convenção coletiva (art. 620, CLT): o acordo coletivo prevalece por ele ser mais específico. Esse artigo 620 foi modificado com a reforma. Antes, esse dispositivo dizia que prevalece o acordo sobre a convecção, salvo se a convenção for maios favorável. Essa última parte foi retirada com a reforma. Prevalência da negociação individual sobre a coletiva (art. 644, par. Único, CLT): acontece para aqueles empregados chamados hipersuficientes. Então são três modificações substanciais e que mitigam a importância deste princípio. Execução do critério hierárquico Para a execução desse critério, temos três teorias: Teoria da acumulação ou atomista: havendo conflito normativo, iremos pinçar os trechos mais favoráveis de ambas as normas, construindo nova norma. A principal crítica é a atividade legislativa Direito do Trabalho I – Leonardo David – Profa. Adriana Wyzykowski – 2020.2 Teoria do conglobamento: entende que havendo conflito normativo, deve se optar pela norma que for mais favorável no todo. O problema dessa teoria são os juízos de valor pessoais. Teoria do conglobamento por institutos ou mitigado: defende que, no conflito normativo devemos optar pela norma mais favorável, comparando o conjunto de matérias ou institutos. Exemplo: compara regime de férias com o regime de férias dessa norma. Aplico, no tocante às férias, o que for mais favorável. 7.3. Princípio da condição mais benéfica Devemos preservar as cláusulas contratuais e regulamentares mais benéficas aos empregados. É um princípio que tem relação com o passar de tempo no direito do trabalho. E, por isso, aquelas cláusulas regulamentares que alterem vantagens trabalhistas, diminuindo ou retirando essas vantagens, só serão aplicáveis aos empregados contratados após a alteração. Esse princípio é sumulado no verbete 51, I, do TST 7.4. Princípio do in dubio pro operario Na dúvida, em relação à interpretação do direito do trabalho, temos que decidir pró-empregado. A primeira crítica diz respeito à sua redundância, pois o princípio da proteção já fala isso. Alguns autores falam que ele não deve ser um princípio só de direito material, mascom aplicação, também, no direito processual. Então o magistrado, analisando o conteúdo probatório, e tendo dúvidas, deve decidir pró- empregado. Mas o ônus da prova serviria para quê? AULA 08 DE SETEMBRO Direito do Trabalho I – Leonardo David – Profa. Adriana Wyzykowski – 2020.2 7.5. Princípio da imperatividade das normas trabalhistas Segundo esse princípio, as normas trabalhistas são cogentes, são obrigatórias, de sorte que não pode o empregador, de alguma forma, se negar a cumpri-las. Por conta dessa interatividade, é que entendemos que a autonomia privada é restringida na área trabalhista, justamente porque como as normas têm conteúdo imperativo, não há muito espaço para liberdade negocial individual. Além disso, importante salientar que estou diante de uma relação jurídica em que há um desequilíbrio de forças, que há necessidade de proteção a aquele está na posição de vulnerabilidade. Logo, há uma restrição em relação à sua expressão de vontade, justamente porque nós podemos ter vícios de consentimento por conta desse desequilíbrio. Não pode o empregador, por exemplo, negociar o 13º salário individualmente. OBS: Em relação ao empregado hipersuficiente pode haver uma liberdade negocial um pouco mais ampla. 7.6. Princípio da indisponibilidade de direitos trabalhistas Também encontra esse princípio com o nome da “irrenunciabilidade de direitos”. É aquele que proíbe renúncias e transações como regra em âmbito individual. Proíbe-se, portanto, que o empregado abra mão do seu direito. Não é um princípio específico da área trabalhista, apenas. Fala-se, também, na seara constitucional (direitos fundamentais), no direito civil (direitos da personalidade) etc. Portanto, o objetivo maior desse princípio é a prevenção de renúncias. De o empregado renunciar ao seu direito. Direito do Trabalho I – Leonardo David – Profa. Adriana Wyzykowski – 2020.2 Por conta dessa característica, é que tradicionalmente, no direito do trabalho, se fala em princípio da irrenunciabilidade de direitos, de sorte a se proibir renúncia (ato de abdicar de um direito). No entanto, autores mais modernos defendem que o princípio deveria ser chamado da “indisponibilidade de direitos”, pois traria um conceito mais amplo de proteção aos direitos trabalhistas, sendo, portanto, maior do que apenas a ideia de proibição da abdicação de direitos. O maior exemplo é Godinho Delgado. Segundo ele, o princípio da indisponibilidade teria uma subdivisão: (a) indisponibilidade absoluta; e (b) indisponibilidade relativa. Os direitos da indisponibilidade absoluta seriam aqueles que indicam um patamar civilizatório mínimo na área trabalhista. Esse patamar seriam, por exemplo, os direitos fundamentais trabalhistas, específicos e inespecíficos. Então esses direitos não poderiam sofrer renúncia, tampouco transação. Já os direitos que não estivessem vinculados a esse patamar civilizatório mínimo, poderiam ser alvo de transação, jamais de renúncia. Então, por exemplo, eu não poderia, de forma alguma, suprimir um intervalo de almoço do intervalo. Período de descanso é norma de saúde. Agora eu poderia transacionar para aumentar o período, ao invés de uma hora, ser duas horas. O cuidado que Godinho traz é que essas transações devem trazer uma melhoria para a vida laboral do empregado. 7.7. Princípio da inalterabilidade contratual lesiva Tem origem na pacta sunt servanda. Esta significa que os contratos devem ser cumpridos, a chamada força obrigatória dos contratos. O Direito do Trabalho fez algumas modificações para adequar esse princípio à nossa realidade. Daí que surgiu esse princípio. Direito do Trabalho I – Leonardo David – Profa. Adriana Wyzykowski – 2020.2 Veda-se, em regra, as alterações contratuais lesivas. Aquelas que tragam prejuízo ao empregado. No entanto, são permitidas as alterações benéficas. Existem situações em que a própria legislação (ou norma autônoma) permite modificação contratual prejudicial. Exemplo: art. 469, CLT, que traz as possibilidades de transferências sem a anuência do empregado. Esse princípio encontra sede no caput do art. 468 da CLT. 7.8. Princípio da intangibilidade salarial Segundo esse princípio, o salário é intocável. Intangível, portanto, por se tratar de uma verba de natureza alimentar. Logo, há todo um sistema de proteção ao salário previsto na CLT, relacionada a dia de pagamento, local de pagamento, proteção em relação aos credores etc. Um desses mecanismos acaba resultando no próximo princípio: 7.8.1. Princípio da irredutibilidade salarial. Segundo esse princípio, o salário é irredutível, salvo se houver acordo ou convenção coletiva. Essa exceção encontra-se no art. 7º, VI, CF/88. É irredutível para a promoção do mínimo existencial. O art. 503 da CLT afirma que nas situações de força maior ou prejuízo comprovado da empresa, seria possível a redução salarial, desde que essa redução não atingisse o salário-mínimo e não fosse maior do que 25%. Perceba que não fala da negociação coletiva, que é o que o art. 7º da CF/88 fala, pois é anterior ao texto constitucional. Então discute-se se o art. 503 foi ou não recepcionado pela Constituição. Aqui temos dois posicionamentos: (a) uma parte acredita que esse dispositivo não foi recepcionado (posição MINORITÁRIA); (b) mas a maioria da doutrina entende que o art. 503 deve ser interpretado em conjunto com o art. 7º, VI, da CF/88. Ou seja, poderia aplicá-lo, desde que seja por acordo ou convenção coletiva. 7.9. Princípio da primazia da realidade sobre a forma Direito do Trabalho I – Leonardo David – Profa. Adriana Wyzykowski – 2020.2 Afirma que deve prevalecer a realidade dos fatos em detrimento dos documentos formais. Significa dizer, portanto, que se o contrato traz determinada disposição, mas, na prática, ocorre outra, é a realidade que prevalece. Exemplo 1: pagamento por fora, normalmente feito como uma fraude. O pagamento por fora é um salário. Exemplo 2: seu contrato diz que você tem determinada função, mas, na prática, você exerce outra completamente diferente. Prevalece a prática. 7.10. Princípio da continuidade da relação de emprego A relação de emprego se prolonga no tempo, devendo ser firmada por prazo indeterminado, como regra. Por isso falamos em continuidade, pois conseguimos vislumbrar o termo inicial, mas não o termo final, pois ele não existe, como regra. Entretanto, existem algumas repercussões desse princípio: PRIMEIRA REPERCUSSÃO: Os contratos a termo são exceções no nosso sistema jurídico, pois, em regra, não temos termo final. Então os contratos por prazo determinado são excepcionais na área trabalhista. SEGUNDA REPERCUSSÃO: Sucessão trabalhista (ou trabalhista ou empresarial). Permite que tenhamos alteração no empregador (ou seja, de um dos polos da relação jurídica), sem alteração no contrato de trabalho. Ocorre, por exemplo, quando há transferência de uma emprega. Uma empresa X foi vendida a outro grupo. O meu contrato continua o mesmo, tendo apenas a alteração do empregador. OBS: Esse princípio vem se enfraquecendo ao longo do tempo. Ele tinha muita força na área trabalhista até a CF/88, pois até lá, se você completasse 10 anos na mesma empresa, você adquiria uma estabilidade, chamada “estabilidade decenal”. No final dos anos 1960, esse regime passou a ser adotado em conjunto Direito do Trabalho I – Leonardo David – Profa. Adriana Wyzykowski – 2020.2 com o regime FGTS, cabendo ao empregado a escolha se ele queria ser estável após 10 anos, ou se ele queria receber uma indenização caso fosse demitido. Com a CF/88, o regime da estabilidade decenal foi extinto, resguardando- se o direito adquirido. Atualmente, há algumas estabilidades chamadas “provisórias” (garantia de emprego, pois nada pode ser considerado estável provisoriamente). RELAÇÃO DE TRABALHO X RELAÇÃO DE EMPREGO Trabalho
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