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Acesso à justiça

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Universidade regional do noroeste do estado do rio grande do sUl – UnijUí 
vice-reitoria de gradUação – vrg 
coordenadoria de edUcação a distância – cead 
coleção educação a distância
série livro-texto
Ijuí, Rio Grande do Sul, Brasil
2013
Patrícia Marques oliveski
acesso à 
jUstiça
 2013, Editora Unijuí
 Rua do Comércio, 1364
 98700-000 - Ijuí - RS - Brasil 
 Fone: (0__55) 3332-0217
 Fax: (0__55) 3332-0216
 E-mail: editora@unijui.edu.br
 Http://www.editoraunijui.com.br
Editor: Gilmar Antonio Bedin
Editor-adjunto: Joel Corso
Capa: Elias Ricardo Schüssler
Designer Educacional: Jociane Dal Molin Berbaum
Responsabilidade Editorial, Gráfica e Administrativa: 
Editora Unijuí da Universidade Regional do Noroeste 
do Estado do Rio Grande do Sul (Unijuí; Ijuí, RS, Brasil)
Catalogação na Publicação: 
Biblioteca Universitária Mario Osorio Marques – Unijuí
O489a Oliveski, Patrícia Marques. 
 Acesso à justiça / Patrícia Marques Oliveski. – Ijuí : Ed. Unijuí, 
2013. – 142 p. – (Coleção educação a distância. Série livro-texto) 
 ISBN 978-85-419-0061-4
 1. Direito. 2. Justiça. 3. Cidadania. 4. Democracia. 5. I. Título.
 CDU : 342.72/.73
Sumário
CONHECENDO A PROFESSORA ................................................................................................5
APRESENTAÇÃO ...........................................................................................................................7
O QUE VAMOS ESTUDAR ............................................................................................................9
UNIDADE 1 – ACESSO À JUSTIÇA E SEUS FUNDAMENTOS .............................................11
Seção 1.1 – Cidadania: A Condição Política Do Status Do Direto A Ter Direitos ......................11
Seção 1.2 – A Evolução Conceitual de Estado e Direito: 
 a Construção do Estado Democrático de Direito e a Cidadania ............................17
Seção 1.3 – A Importância da Constituição no Estado Democrático de Direito ........................30
Seção 1.4 – Cidadania e Acesso à Justiça no Estado Democrático de Direito ...........................32
UNIDADE 2 – O ACESSO À JUSTIÇA COMO ACESSO À JURISDIÇÃO ..............................41
Seção 2.1 – A Jurisdição Como Elemento De Inclusão Social ...................................................41
Seção 2.2 – O Acesso à Justiça como Acesso ao Poder Judiciário ..............................................46
Seção 2.3 – As Formas Alternativas de Justiça ............................................................................57
2.3.1 – Da Mediação ..........................................................................................................58
2.3.2 – Da Arbitragem........................................................................................................60
UNIDADE 3 – ASPECTOS HISTÓRICOS DO ACESSO À JUSTIÇA .......................................65
Seção 3.1 – Aspectos Históricos do Acesso à Justiça ..................................................................65
Seção 3.2 – Evolução do Acesso à Justiça no Brasil ....................................................................72
Seção 3.3 – Princípios Fundamentais que Informam o Acesso à Justiça ...................................79
3.3.1 – Princípio da Acessibilidade ...................................................................................79
3.3.2 – Princípio da Operosidade ......................................................................................80
3.3.3 – Princípio da Utilidade............................................................................................80
3.3.4 – Princípio da Proporcionalidade .............................................................................81
Seção 3.4 – As limitações do Acesso à Justiça .............................................................................82
UNIDADE 4 – O ACESSO À JUSTIÇA E O PROCESSO JUDICIAL ........................................89
Seção 4.1 – Acesso à Justiça e Magistratura ...............................................................................90
Seção 4.2 – Acesso à Justiça e o Ministério Público ...................................................................95
Seção 4.3 – Acesso À Justiça e a Assistência Judiciária ...........................................................101
UNIDADE 5 – O ACESSO À JUSTIÇA E JUDICIÁRIO: 
 DA CRISE À BUSCA DE SOLUÇÕES ..............................................................109
Seção 5.1 – Breve Histórico Sobre a Administração da Justiça no Brasil ................................109
Seção 5.2 – Poder Judiciário: Acesso à Justiça e a Identificação da Crise ...............................116
Seção 5.3 – Poder Judiciário e Acesso à Justiça: da Crise à Busca de Soluções ....................131
REFERÊNCIAS ...........................................................................................................................137
EaD
5
acesso à jUstiça
Patricia Marques oliveski 
Advogada, a professora possui Graduação em Direito pela 
Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul 
– Unijuí (1995). No ano de 1998 cursou especialização em Direito 
Público pela mesma Instituição. Em 1999 ingressou no Programa de 
Pós-Graduação Stricto Sensu – Mestrado em Direito pela Universi-
dade de Santa Cruz – Unisc –, obtendo o título em 2001, com área de 
concentração em Políticas Públicas e Direitos Sociais. Especialista em 
Direito Registral e Notarial pela Unisul – SC. Desde 1998 é docente do 
curso de Graduação e Pós-Graduação em Direito da Unijuí. Também 
atuou por vários anos como docente nos cursos de Graduação e Pós-
Graduação em Direito na Universidade de Passo Fundo – UPF – e na 
Universidade Luterana do Brasil – Ulbra. Sua atuação na docência 
atualmente abrange o campo do Direito Penal, Processual Penal e 
Práticas Jurídicas, tendo igualmente ministrado aulas de Acesso à 
Justiça, Metodologia da Pesquisa e Ensino Superior em diversos cursos 
de Especialização. Além disso, é autora de artigos científicos publi-
cados em revistas especializadas, voltados para a temática do acesso 
à Justiça, cidadania, poder Judiciário, sistema penal e penitenciário, 
dentre outras temáticas jurídicas. Atualmente cursa o Programa de 
Pós-Graduação Stricto Sensu – Doutorado em Direito na Universidade 
de Buenos Aires – UBA-AR.
Conhecendo a Professora
EaD
7
acesso à jUstiçaApresentação
O componente curricular optativo Acesso à Justiça objetiva proporcionar aos acadêmicos 
uma visão geral teórico-crítica acerca do direito fundamental do acesso à justiça, viabilizando 
no processo de ensino-aprendizagem uma compreensão ampla sobre o tema. 
Pretende-se aprofundar o estudo sobre o conceito de acesso à Justiça sob o ângulo da 
função jurisdicional, desenvolvendo estudos sobre a razoabilidade como expressão do princípio 
de Justiça. 
Buscar-se-á problematizar, a partir de um enfoque crítico, as principais questões acerca 
do acesso à Justiça, desenvolvendo estudos sobre o acesso à Justiça enquanto acesso ao poder 
Judiciário e suas limitações, bem como analisar a questão da efetividade do processo, tendo como 
pano de fundo a realização da cidadania.
Enfim, oportunizar ao acadêmico conhecimentos necessários à formação de um referencial 
teórico que o habilite a analisar o atual modelo de poder Judiciário, os aspectos da crise e as 
propostas de soluções e democratização desse poder.
EaD
9
acesso à jUstiça
Este componente curricular vai-se dedicar ao estudo do acesso à justiça com vistas a pro-
porcionar ao acadêmico do curso de Direito conhecimentos teórico-práticos que lhe ofereçam 
uma visão crítica acercada realização da Justiça no Estado Democrático de Direito.
Inicialmente serão analisados os fundamentos do acesso à Justiça, tendo como pano de 
fundo a questão da cidadania e da construção do Estado Democrático de Direito. A seguir estudar-
se-á o acesso à justiça como acesso à jurisdição, partindo-se de uma concepção instrumental do 
processo e da função de inclusão social da jurisdição, para então analisar as formas alternativas 
de jurisdição.
A partir desses conhecimentos teóricos prévios passa-se ao estudo específico do acesso à 
Justiça, sob seus aspectos históricos, princípios e limitações, para se ter ferramentas aptas à aná-
lise da atuação da magistratura, do Ministério Público, tanto em relação à realização do acesso 
à Justiça quanto à viabilidade da assistência judiciária, como forma de concretizar tal direito.
Assim, o estudo culmina na análise do acesso à Justiça e do modelo de poder Judiciário 
estabelecido no Estado Democrático de Direito, na identificação da chamada crise judiciária e no 
levantamento das medidas que se tem adotado como solução a esta crise com vistas à efetivação 
do acesso à Justiça e realização da cidadania.
Unidade 1
Objetiva compreender as noções introdutórias relativas aos fundamentos do acesso à Jus-
tiça. A questão da cidadania enquanto um status do direito a ter direitos e sua importância na 
efetivação do acesso à Justiça. Estudar a questão do acesso à Justiça e sua realização no Estado 
Democrático de Direito, observando a importância da Constituição e a realização da cidadania 
e o acesso à Justiça neste modelo de Estado.
Unidade 2
Nesta unidade o objetivo é estudar o acesso à Justiça como acesso à jurisdição. Para tanto 
faz-se imprescindível a compreensão da importância da jurisdição como instrumento e como 
elemento de inclusão social. A partir dessa concepção vai-se analisar, então, o acesso à Justiça 
como acesso ao poder Judiciário e às formas alternativas de jurisdição como meios de resolução 
de conflitos.
O Que Vamos Estudar
EaD
Patrícia Marques oliveski
10
Unidade 3
Compreendido o acesso à Justiça como acesso à jurisdição, neste momento passa-se ao 
estudo dos aspectos históricos do acesso à Justiça para que se possa ter uma compreensão do 
significado do termo e da abrangência de seus efeitos. A análise conceitual do acesso à Justi-
ça, portanto, não poderia prescindir do estudo de seus princípios fundamentais, que norteiam 
qualquer concepção teórica ou prática e dão suporte para viabilizar a compreensão dos limites 
e obstáculos do acesso à Justiça.
Unidade 4
Numa concepção mais restrita do acesso à Justiça, nesta unidade o foco passa a ser a 
questão da realização deste direito fundamental via instrumento do processo judicial, razão pela 
qual se traz à baila a correlação indispensável do acesso à Justiça e a magistratura e o Ministé-
rio Público enquanto órgãos responsáveis pela concretização deste fim. E para complementar o 
estudo analisa-se a questão da assistência judiciária e a atuação do juiz e do Promotor diante da 
necessidade de se garantir a todos o acesso à Justiça.
Unidade 5
Para fechar o estudo acerca do acesso à Justiça com vistas à concretização da cidadania, 
apresenta-se inicialmente um breve relato histórico acerca da administração da Justiça no Brasil, 
para que se identifique o modelo de poder Judiciário vigente. A partir de então, identifica-se a 
chamada crise do poder Judiciário para então culminar no levantamento das medidas que se 
tem adotado como solução à crise judiciária e por consequência à efetivação do acesso à Justiça 
e realização da cidadania.
EaD
11
acesso à jUstiça
acesso à jUstiça e seUs FUndaMentos
oBjetivos desta Unidade
Compreender os fundamentos do acesso à Justiça, notadamente em relação à questão da 
cidadania enquanto um status do direito a ter direitos e sua importância na efetivação do acesso 
à Justiça. Estudar a questão do acesso à Justiça e sua realização no Estado de Direito e a impor-
tância da Constituição neste processo.
as seçÕes desta Unidade
Seção 1.1 – Cidadania: a Condição Política do Status do Direito a ter Direitos
Seção 1.2 – A Evolução Conceitual de Estado e Direito: a Construção do Estado Democrático de 
Direito e a Cidadania
Seção 1.3 – A Importância da Constituição no Estado Democrático de Direito
Seção 1.4 – Cidadania e Acesso à Justiça no Estado Democrático de Direito
seção 1.1 
cidadania: a condição Política do status do direto a ter direitos
A cidadania nasceu vinculada à questão do Direito, ou melhor, ao discurso jusnaturalista 
formulado no bojo do contexto literário e revolucionário da época moderna (Corrêa, 1999). Para 
Carvalho, no entanto, a cidadania surge no mercantilismo, ou seja, 
com o sistema que se vai criar com a burguesia. Não é ainda sob o domínio da burguesia. É na cons-
trução do burguês, do comerciante ainda, que se vai colocando a questão da cidadania, quando ele 
está rejeitando a própria situação do direito feudal existente e outras situações no sistema feudal (apud 
Corrêa,1999, p. 210).
Unidade 1
EaD
Patrícia Marques oliveski
12
De acordo com Corrêa, a cidadania moderna surge como incompatível com o feudalismo 
medieval por este não ter padrões comuns nem direitos compartilhados por todos. De outro 
ângulo, analisa-se o capitalismo onde esse se caracteriza como um sistema de desigualdades, 
embora não mais por “status social”.
Demonstra-se que mesmo com o surgimento da cidadania não se deixou de constituir um 
princípio de igualdade, uma instituição em desenvolvimento. Corrêa enfoca o pensamento de 
Marshall, que esclarece:
Começando do ponto no qual todos os homens eram livres, em teoria, capazes de gozar de direitos, a 
cidadania se desenvolveu pelo enriquecimento do conjunto de direitos de que eram capazes de gozar. 
Mas esses direitos não estavam em conflitos com as desigualdades da sociedade capitalista; eram, ao 
contrário, necessários para a manutenção daquela determinada forma de desigualdade. A explicação 
reside no fato de que o núcleo da cidadania, nesta fase, se compunha de direitos civis. E os direitos 
civis eram indispensáveis a uma economia de mercado competitivo. Davam a cada homem, como 
parte de seu status individual, o poder de participar, como uma unidade independente, na concorrên-
cia econômica, e tornou possível negar-lhe a proteção social com base na suposição de que o homem 
estava capacitado a proteger a si mesmo (apud Corrêa, 1999, p. 213).
Corrêa continua demonstrando o pensamento de Marshall, em que este analisa o surgimento 
da cidadania em três partes: civil, político e social. Primeiramente enfoca o Direito Civil, este no 
século 18, compostos dos direitos necessários à liberdade individual, como exemplo: liberdade 
de ir e vir, liberdade de imprensa, etc. Essa cidadania civil é enriquecida com a valorização dos 
direitos políticos, no século 19, direitos esses de participar como eleitor, ou direito ao voto, ou 
membro de um organismo investido de autoridade política. E no século 20, surgem então os 
direitos sociais, que dizem respeito a um direito mínimo de bem-estar econômico: direito a um 
sistema educacional e aos serviços sociais (Corrêa, 1999).
Assim, analisar-se-á mais detalhadamente o surgimento da cidadania no decorrer dos 
séculos 18, 19 e 20, ou melhor, o desenvolver dos direitos para a conquista da cidadania, como 
mencionado anteriormente.
Segundo Bagatini (2001), os direitos civis tendem a diminuir o poder do Estado e garantir 
alguns direitos aos cidadãos. E entre estes, estão o direito à vida, a liberdade de expressão, a 
liberdade de consciência, etc. Nota-se então que a liberdade passou a ser um elemento forte no 
surgimento da cidadania dos direitos civis.E além da liberdade ser considerada um elemento forte, é definida também como um 
elemento fundamental para o desenvolvimento da economia da época. A cidadania do Direito 
Civil básico se dá no setor econômico como direito de trabalhar, desaparecendo o privilégio da 
ocupação laboral a ser exercida apenas por aqueles que moravam nas cidades, não possibilitando 
EaD
13
acesso à jUstiça
aos estranhos sobreviverem. A lei e os costumes da Idade Média, porém, haviam negado esses 
direitos, pois determinados trabalhos eram destinados a certas classes sociais, e ainda, por regu-
lamento, os habitantes das cidades tinham direitos de preferência sobre os demais interessados 
(Bagatini, 2001).
Ocorre que somente na sociedade moderna foi possível a concretização da condição uni-
versal de liberdade, pois na sociedade caracterizada como feudal o status era a marca distintiva 
de classe, e portanto, a medida da desigualdade. Já na Idade Média só havia a imposição de 
deveres, e não existiam direitos, em decorrência da absoluta desigualdade.
1 De acordo com o exposto, na cidadania 
dos direitos civis, séculos 18 e 19, só existia 
igualdade formal, pois como foi estudado ante-
riormente, foi possível notar que apenas alguns 
tinham acesso aos remédios jurídicos.
1Mesmo assim, todavia, era pregado que o pobre tinha os mesmos direitos que os ricos à 
propriedade, por exemplo, mas somente o rico tinha acesso a ela. O direito à igualdade estava 
à disposição, mas o remédio jurídico para satisfazer essa igualdade, para a grande maioria era 
inacessível.
Na visão de Bagatini (2001) a cidadania dos direitos políticos consistia não na criação de 
novos direitos, mas na doação de velhos direitos a novos setores da população, por exemplo, 
o voto, que já existia no século 18, era destinado apenas a uma parte da população, o qual, no 
decorrer dos séculos passou a privilegiar outros grupos de pessoas que não o usufruíam e que, 
portanto, eram consideradas deficientes para os padrões da cidadania democrática.
No decorrer dos séculos tudo foi se transformando, as sociedades evoluindo gradativamente, 
passando de um voto, a que a minoria da população tinha acesso, para o que hoje estamos viven-
do, uma democracia, em que todos, independentemente de condições financeiras, têm direito de 
escolher seu representante, pelo voto secreto. E mesmo assim não conseguiram reduzir a desi-
gualdade social, pois a classe hierarquicamente inferior não possuía um poder político efetivo.
Em se tratando de direitos sociais, esses elencados como sendo do século 20, trata Bagatini 
em sua obra que têm como objetivo a redução das diferenças existentes entre pessoas. A sua 
maior determinação é buscar uma transformação de toda a estrutura da sociedade.
1 Disponível em: <http://www.fem.org.br/cidadania/cidadania.php>. Acesso em: 6 abr. 2013.
EaD
Patrícia Marques oliveski
14
Mais rapidamente se tentará passar uma ideia do surgimento da cidadania e de como ela 
irá se desenvolver desde o seu surgimento na Idade Antiga até a Idade Contemporânea, ou seja, 
do século 18 até os dias atuais.
2 Primeiramente, a ideia de cidadania surgiu na Idade 
Antiga, após Roma conquistar a Grécia (século 5º d.C.), 
expandindo-se para o restante da Europa. Nesta época 
apenas homens e proprietários de terra (desde que esses 
não fossem estrangeiros), eram considerados cidadãos, 
diminuindo assim a ideia de cidadania, uma vez que 
mulheres, crianças, velhos, etc., não eram considerados 
cidadãos.
Já na Idade Média (século 5º ao século 15 d.C.), surgiram os feudos (mais conhecidos 
como fortalezas particulares) cujos proprietários eram os dominadores da época, e os servos que 
habitavam nesses feudos só trabalhavam para o seu senhor e não podiam participar de nenhuma 
decisão. Com isso, demonstra-se que a ideia de cidadania se acaba, pois não havia participação 
do povo, era apenas uma pequena minoria que ditava as regras. Após a Idade Média, termina-
ram as invasões bárbaras, extinguindo-se também os feudos, entrando-se assim em uma grande 
crise. Os feudos se decompõem, formando cidades e depois países.
Na Idade Moderna (di século 15 ao 18 d.C.) a formação dos países depois do desapare-
cimento dos feudos ocorreu em consequência da união do rei com a burguesia. Nessa época o 
rei mandava em tudo, era forte graças aos impostos que recebia. Com esse dinheiro nas mãos 
formava exércitos cada vez mais fortes e, além disso, dava apoio político à burguesia.
Com o passar do tempo a burguesia, cada vez mais rica, começou a ver o rei como um 
obstáculo a seu progresso. Então a burguesia resolveu tirar o rei do poder, ou melhor, acabar 
com o Absolutismo (poder total nas mãos do rei), e realizou cinco grandes revoluções burguesas: 
Revolução Industrial, Iluminismo, Revolução Francesa, Independência dos Estados Unidos e 
Revolução Inglesa. Todas essas cinco revoluções tinham o mesmo objetivo: tirar o rei do poder. 
Com o fim do Absolutismo, passa-se à Idade Contemporânea (século 18 até os dias de 
hoje), surgindo nessa nova idade um novo tipo de Estado, o Estado de Direito, que é uma grande 
característica do modelo atual. A principal característica do Estado de Direito é “que todos têm 
direitos iguais perante a Constituição”, percebendo-se assim uma grande mudança no conceito 
de cidadania. Por um lado, trata-se do mais avançado processo que a humanidade já conheceu; 
por outro lado, porém, surge a exploração do trabalho e dominação do capital.
2 Disponível em: <http://unijuv.org.br/ecidadania/historico-da-cidadania/>. Acesso em: 6 abr. 2013.
EaD
15
acesso à jUstiça
Nessa idade surge a grande contradição: cidadania X capitalismo. Cidadania é a parti-
cipação de todos em busca de benefícios sociais e igualdade. A sociedade capitalista, porém, 
alimenta-se de pobreza. No capitalismo a grande maioria não pode ter dinheiro. Então, mesmo 
na atualidade, ainda não temos a grande aplicação do conceito da cidadania na sua íntegra (re-
tirado do site: <http://www. webciencia.com/18_cidadania.htm>. Acesso em: 9 maio 2012).
A questão da cidadania está hoje em nossa Constituição, tendo assim uma garantia de sua 
aplicação e, a partir disso, analisaremos, segundo a visão de Bagatini (2001), as Constituições já 
existentes e de que modo a cidadania era enquadrada nas Constituições antigas. 
Neste sentido, afirma Bagatini (2001) que a primeira Constituição do Brasil, de 25 de março 
de 1824, já nos artigos iniciais refere-se ao termo “cidadão”, identificando-o com direitos políticos. 
Faz uma aproximação da cidadania com a nacionalidade, e seu artigo 6º prescreve o seguinte:
Art. 6º São cidadãos brasileiros:
I. Os que no Brasil tiveram nascido, quer sejam ingenuosos, ou libertos, ainda que o pai seja estran-
geiro, uma vez que este não resida por serviço de sua Nação.
II. Os filhos de pai Brasileiro, e os ilegítimos de mãe Brasileira, nascidos em país estrangeiro, que 
vierem estabelecer domicílio no império.
III. Os filhos de pai Brasileiro, que estivesse em país estrangeiro em serviço do império, embora eles 
não venham estabelecer domicílio no Brasil.
IV. Todos os nascidos em Portugal, e suas possessões, que sendo já residentes no Brasil na época em 
que se proclamou a Independência nas Províncias, onde habitavam, aderiram a esta expressa, ou 
tacitamente pela continuação de sua residência.
V. Os estrangeiros naturalizados, qualquer que seja a sua religião. A Lei determinará as qualidades 
precisas, para se obter Carta de Naturalização (Campanhole apud Bagatini, 2001, p. 54).
A segunda Constituição brasileira foi promulgada a 24 de fevereiro de 1891 e também traz 
o conceito de cidadania ligado à nacionalidade, mantendo a mesma redação da Constituição 
anterior.Em relação à terceira Constituição brasileira, a segunda republicana, foi promulgada 
em 16 de julho de 1934, e não traz o termo cidadania, e o capítulo dos direitos políticos somente 
trata de brasileiros.
Quando foi decretada a Constituição dos Estados Unidos foi reintroduzido no título da Na-
cionalidade e da Cidadania o termo “cidadania”. Já em 18 de setembro de 1946, foi promulgada 
mais uma Constituição Republicana, e no título “Da declaração de direitos”, trata de nacionalidade 
e cidadania, não aparecendo o termo “cidadania” em seu artigo 129 e sim o termo brasileiros.
EaD
Patrícia Marques oliveski
16
A quarta Constituição Republicana do Brasil foi outorgada em 24 de janeiro de 1967 e no 
seu texto não aparece o termo cidadania. E em relação à atual Constituição da República Fe-
derativa do Brasil, promulgada em 5 de outubro de 1988, deixa claro que essa se diferencia das 
demais no trato do tema cidadania, como o artigo 1º, II. Assim, a Constituição de 1988 destaca 
os direitos e garantias fundamentais, relacionado-os com a cidadania, prevendo em seu artigo 
o que segue: 
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e 
do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamento:
a soberania;
a cidadania;
a dignidade da pessoa humana;
os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
o pluralismo político (Constituição Federal de 1988).
No decorrer desta seção foi realizada uma análise da contextualização histórica da cidada-
nia, o desenvolver da cidadania no perpassar dos séculos, suas conquistas, seus avanços dentro 
de nossa Constituição, considerada como um direito básico. Depois de toda essa explanação, 
passa-se a analisar a cidadania como uma concepção moderna.
Na concepção moderna de cidadania, pode-se afirmar, portanto, que o conceito sofreu uma 
evolução histórica e sob esses aspectos procuramos entender o cidadão como um membro com-
pleto da sociedade. Segundo Marshall, “há uma espécie de igualdade humana básica associada 
com o conceito de participação integral na comunidade – ou como eu diria, de cidadania – o 
qual não é inconsistente com as desigualdades que diferenciam os vários níveis econômicos da 
sociedade” (apud Corrêa, 1999, p. 212).
O referido conceito vem mais ligado ao direito, ou aos direitos, conferindo-se praticamente 
com os referentes direitos humanos. Como regra, cidadãos são os portadores de direitos, entre 
eles os discriminados (Corrêa, 1999).
Na visão de Corrêa (1999), a cidadania significa a realização democrática de uma sociedade, 
compartilhada por todos os indivíduos a ponto de garantir a todos o acesso ao espaço público e 
condições de sobrevivência digna, tendo como valor fonte a plenitude da vida. Isso requer orga-
nização e articulação política da população, voltada para a superação da exclusão existente.
EaD
17
acesso à jUstiça
Na visão de Barbalet, “a cidadania pode ser descrita como participação numa comunidade 
ou como a qualidade do membro dela. Sendo que tipos diversos de comunidades políticas dão 
origens a diferentes formas de cidadania” (1989, p. 55).
Cidadania também pode ser considerada um conjunto de ações que fazem um cidadão. 
Pode ser a maneira de o cidadão viver o seu dia a dia, seja mulher, homem ou criança, usando 
plenamente os direitos e deveres do país em que nasceu e onde mora. 
seção 1.2 
a evolução conceitual de estado e direito: 
a construção do estado democrático de direito e a cidadania
Em fins do século 17, a Europa passa por profundas transformações políticas e sociais, 
com especial relevância para a transmissão do poder político da antiga nobreza feudal para a 
burguesia comercial e industrial, cujo ápice deu-se com a Revolução Francesa.
Cita-se, portanto, a Revolução como aquele ponto crítico em que se dá a passagem do cha-
mado ancien régime, poder político absoluto, ao novo poder político da burguesia, que fundou 
um regime de autoridade limitada, uma organização do poder con tido em bases jurídicas. E o 
Estado jurídico, emergente após a Revolução Francesa, representa para a teoria constitucional o 
coroamento ideológico das posições liberais e democráticas daqueles teoristas que já conhecemos: 
Locke e Montesquieu, e, em parte, Rousseau. Quando se dá a Revolução, a doutrina do Estado 
liberal-democrático surge completa com a obra de Locke e Montesquieu, e a contribuição parcial 
de Rousseau. Chegamos, assim, a um período das ideias políticas em que todos os princípios 
democráticos haviam sido exaustivamente expostos, discutidos (Bonavides, 1995, p. 47).
A Revolução Francesa, então, concluiu uma considerável obra de trans formação social, pois 
[…] apagara as desigualdades sociais baseadas no privilégio, suprimira a velha monarquia absoluta 
e com ela pu sera termo à tese do direito divino das realezas, proclamara os direitos fundamentais do 
cidadão a título de direitos naturais, sagrados, imprescritíveis e inalienáveis, e estabelecera as formas 
limitadas de exercício do poder, fazendo nascer para proteção da liberdade o conceito novo dos direitos 
e garantias constitucionais (Bonavides, 1995, p. 48).
O liberalismo, no entanto, se contentou com o modelo de sociedade que criara, ou seja, 
uma sociedade parcialmente democrática. A partir da industrialização, surge, ao final do século 
18, o mundo contemporâneo, no qual a Revolução Industrial passa a gerar consideráveis e dra-
máticos efeitos sobre o sistema capitalista, que são agravados em razão da conquista de novos 
mercados.
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A Inglaterra se substituía a Portugal e Espanha e, da contradição operada, todo um continente se 
emancipava politicamente, à sombra protetora dos interesses comerciais e industriais do capitalismo 
inglês. Deste lado do mundo a Revolução Industrial fazia, por reflexo, nações nominalmente livres, do 
outro lado do Atlântico, nas ilhas britânicas, o mesmo fenômeno escravizava uma considerável parcela 
da sociedade: o miserável proletariado urbano, filho das fábricas e da exploração do suor humano, 
transformado em máquina de trabalho e produção, sujeito a condições de vida mais duras e penosas 
que a do servo da gleba, na Idade Média. A Inglaterra da fome, das epidemias, da superpopulação 
impressionava-se com os efeitos daquele quadro (Bonavides, 1995, p. 49).
As revoluções burguesas do século 18, ao final do século 19, encontravam-se ameaçadas 
pelas forças conservadoras do feudalismo em iminente decomposição, representadas pela no-
breza e pelo clero, que ansiavam por res taurar o Estado absoluto e retirar a burguesia do poder 
político.
As forças revolucionárias eram representadas pela burguesia e pelo crescente proletariado, ambos 
descontentes com a situação socioeconômica. O embate dessas forças se fez sentir em 1830 e 1848 
nos grandes movimentos liberais e nacionais que, iniciados na França, se estenderam pela Bélgica, 
Polônia, Alemanha, Itália, Portugal e Espanha. A partir de 1848, o proletariado procura a expressão 
de sua própria ideologia, oposta ao pensamento liberal e inspirada de início no socialismo utópico. 
Começa a ficar mais clara a cisão entre as duas classes cuja contradição será explicitada pelas teorias 
que criticam o liberalismo. Na Alemanha ainda não ocorrera a unificação dos diversos Estados, o que 
se dará apenas em 1871, sob o comando da Prússia e seu primeiro-mi nistro Bismarck, depois de três 
guerras e muitas táticas de unificação econômica (Vicentino, 1993, p. 200).
Eis que surge, então, o marxismo numa Alemanha agitada e cheia de problemas. Na 
verdade, esse movimento é fruto não só de Karl Marx (1818-1883), mas também de seu amigo 
Friedrich Engels (1820-1895), que, além da colaboraçãoteórica, tinha boa situação financeira 
e pôde, por diversas vezes, ajudar Marx nos momentos mais críticos da vida deste. Escreveram 
juntos O Manifesto Comunista (1848). 
Marx e Engels formularam seu pensamento a partir da realidade social por eles observada: 
de um lado, o aumento do poder do homem sobre a natureza, o enriquecimento e o progresso; 
de outro, e contraditoriamente, a escravização crescente da classe operária, cada vez mais empo-
brecida. “O materialismo histórico não é mais do que a aplicação dos princípios do materialismo 
dialético ao campo da história. E, como o próprio nome indica, é a explicação da história por fa-
tores materiais (econômicos, técnicos)” (Aranha, 1986, p. 271). O referido autor afirma, ainda:
O senso comum pretende explicar a história pela ação dos “grandes homens”, das grandes idéias ou, 
às vezes, até pela intervenção divina. Marx inverte esse processo: no lugar das idéias, estão, os fatos 
materiais; no lugar dos heróis, a luta de classes. Não nega, com isso, que o homem tenha idéias, mas 
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as explica pela estrutura material da sociedade: a idéia é algo secundário, não no sentido de menos 
importante, mas no de algo derivado das condições materiais. Marx chama de infra-estrutura a estru-
tura material da sociedade – sua base econômica -, que consiste nas formas pelas quais os homens 
pro duzem os bens necessários à sua vida. A superestrutura corresponde à estrutura jurídico-política 
(Estado, direito, etc.) e à estrutura ideológica (formas da consciência social) (1986, p. 272).
O materialismo histórico “propõe que toda sociedade é determinada, em última instância, 
pelas suas condições socioeconômicas — a chamada infra-estrutura. Adaptadas a ela, as ins-
tituições, a política, a ideologia e a cultura, como um todo, compõem o que Marx chamou de 
superestrutura” (Vicentino, 1993, p. 211). Esse princípio fica claro ao se considerar a passagem 
do modo de produção feudal para o capitalista, quando as relações de produção, as bases eco-
nômicas, sociais e a cultura como um todo se transformaram. 
A teoria marxista também contribuiu para as teses sobre a origem do Estado, e se funda, a 
partir dos estudos de Marx, sobre a economia política, que analisa, segundo Corrêa,
[…] os fundamentos materiais da sociedade civil (esfera das relações econômicas), concluindo que 
essa esfera particularista das relações econômicas vem marcada por uma contradição antagônica 
fundamental: a divisão em classes sociais. De um lado estão os burgueses, detentores dos meios de 
produção (capital) e, do outro, os proletários-trabalhadores, que possuem apenas sua capacidade de 
trabalho (força-de-trabalho). [...] Desse tipo de relações de produção Marx deduz a função e a natureza 
específica do Estado no sistema capitalista: ao invés de representar a encarnação formal do suposto 
interesse universal (nos moldes de Hegel), ele se caracteriza como um organismo que garante a 
propriedade privada, assegurando e reproduzindo a sociedade de classes pela repressão coativa dos 
conflitos oriundos de tal antagonismo (1999, p. 127).
Esse contexto representa uma transformação pela qual passou o Estado Liberal e, nesse 
sentido, Bonavides lembra que o Estado Social conserva a sua adesão à ordem capitalista.
[...] este (o Estado Social) representa efetivamente uma transformação superestrutural por que passou 
o antigo Estado Liberal. Seus matizes são riquíssimos e diversos. Mas algo, no Ocidente, o distingue, 
desde as bases, do Estado proletário, que o marxismo socialista intenta implementar: é que ele conserva 
a sua adesão à ordem capitalista, princípio cardeal a que não renuncia (1996, p. 205).
As manifestações e alterações havidas na superestrutura passam a ser determinadas em 
razão das alterações da infraestrutura, consequência da passagem econômica do sistema feudal 
para o capitalista. Assim, para estudar a sociedade deve-se, segundo Marx, partir da forma como 
os homens produzem os bens materiais necessários a sua vida. “Analisando o contato que os 
homens estabelecem com a natureza para transformá-la por meio do tra balho e as relações entre 
si, é que se descobre como eles produzem sua vida e suas idéias” (Aranha, 1986, p. 274).
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As relações fundamentais de toda sociedade humana são as relações de produção, que revelam a ma-
neira pela qual os homens, a partir das condi ções naturais, usam as técnicas e se organizam através de 
uma divisão do trabalho social. As relações de produção correspondem a um certo estágio das forças 
produtivas. Estas consistem no conjunto formado pelo clima, água, solo, matérias-primas, máquinas, 
mão-de-obra, instrumentos de traba lho. Assim, por exemplo, os instrumentos de pedra são substituí-
dos pelos de metal, o desenvolvimento da agricultura supõe a descoberta de técnicas de irrigação, de 
adubagem do solo, o uso de arado e de veículos de roda. A maneira pela qual as forças produtivas se 
organizam em determi nadas relações de produção num dado momento histórico chama-se modo de 
produção. No entanto, as forças produtivas só podem se desenvolver até certo ponto, pois, ao atingirem 
um estágio por demais avançado, entram em contradição com as antigas relações de produção, que se 
tornam inade quadas. Surgem então as divergências e a necessidade de uma nova divisão de trabalho. 
A contradição aparece como antagonismo de classes (Aranha, 1986, p. 275). 
Segundo Marx, em seu prefácio à Contribuição Crítica da Economia Política, 
[…] a produção econômica e a organização social que dela resulta necessariamente para cada época 
da história constituem a base da história política e intelectual dessa época. Pois, na produção social 
dos meios de existência, os homens contraem relações determinadas, necessárias e independentes 
de sua vontade, relações de produção que são correlativas a determinado estágio do desenvolvimento 
de suas forças produtivas. Todo o conjunto dessas relações da produção forma a estrutura econômica 
da sociedade. Essa estrutura econômica é a base real, fundamental, a infra-estrutura, sobre a qual se 
constrói uma superestrutura jurídica, política, intelectual ou ideológica (1972, p. 12).
Numa visão marxista contemporânea, segundo Corrêa, os autores passam a trabalhar com 
a concepção de que o Estado não é instrumento exclusivo de dominação burguesa, embora as 
instituições político-jurídicas da atualidade estejam hegemonicamente comprometidas com as 
economicamente fortes.
Nesse sentido se procura valorizar o papel da política e do direito como um lugar estratégico da luta 
de classes numa sociedade desigual e excludente, sendo abordado em sua natureza de classe, mas 
não como instrumento exclusivo da burguesia. Seu fundamento continua sendo colocado nas relações 
de produção e na divisão social do trabalho, mas é visto como um espaço de poder onde se confronta 
a relação de forças das classes em conflito: capital e trabalho (Corrêa, 1999, p. 132).
Assim sendo, o modelo liberal de Estado caracterizou-se pela instituição de uma ordem 
social, econômica e política regida pela burguesia e as relações socioeconômicas passaram a 
ser reguladas pela lei do mercado, da oferta e da procura. Simultaneamente, verificava-se uma 
situação de miséria e exploração do trabalho, situação esta que clamava pelo estabelecimento 
de um novo modelo de Estado. 
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É nesse contexto que se constata a transição do Estado liberal para o Estado social, cuja 
prioridade passa a ser a tutela dos direitos sociais e a garantia do comprometimento do Estado 
com a dignidade da pessoa humana. Tal transição ocorreu como uma tentativa da burguesia para 
evitar sua queda do poder até então instituído. É oportuno ressaltar,no entanto, que, não obs-
tante as transformações estruturais pelas quais passou, o Estado, o novo modelo não repudiava 
os preceitos e princípios capitalistas até então instituídos.
Assim sendo, é pertinente que se estabeleça, desde logo, uma concepção de Estado a nor-
tear a análise dos temas propostos, razão pela qual se adota, por sua completude, a concepção 
de Corrêa que institui no bojo conceitual a finalidade do Estado e sua preeminente preocupação 
com a realização da cidadania, redefinindo o atual Estado capitalista, de modo que seu conceito 
dê conta de explicar politicamente as contradições da sociedade capitalista e que propicie as 
condições teóricas para uma estratégia de luta em prol da construção da cidadania. Corrêa en-
tende o Estado capitalista como sendo 
[…] a representação idealizada do espaço público que, sob forma jurídica, isto é, como dever-ser ju-
ridicamente qualificado, se materializa em aparatos repressivos, simbólicos e econômicos, os quais 
expressam e legitimam institucionalmente a relação de forças dos poderes sociais (1999, p. 221).
O que Corrêa pretende avançar com essa reconceituação do Estado e do direito é a dimen-
são política da nacionalidade e da cidadania, pois “enquanto se contrapõem como dicotômicas a 
cidadania civil (passiva) e a cidadania política (ativa), não se consegue apreender em profundidade 
a dimensão da cidadania plena” (1999, p. 226). Para se alcançar tal intento é preciso descons-
truir essa dicotomia que separa o sujeito jurídico do sujeito político, mediante a desconstrução/
reconstrução do público e do privado. 
Segundo o autor, “se continuarmos colocando o público como a esfera do político-estatal 
em oposição ao privado como a esfera das relações econômicas não conseguiremos esclarecer 
suficientemente as implicações e as contradições presentes nos discursos dos direitos huma-
nos e da cidadania” (1999, p. 226). Deve-se, portanto, entender que o público-estatal inclui o 
econômico-social em sua referência, pois a produção da vida material faz com que o trabalho 
seja um dos componentes da construção do espaço público, que diz respeito à sobrevivência da 
humanidade como um todo.
Embora o esforço neoliberal ocorra no sentido de preservar essa dicotomia público/privado 
com a separação do político e do econômico, não há como se negar essa nova dimensão do es-
paço público, na qual a cidadania assume um novo sentido, porque numa “sociedade capitalista 
o exercício da cidadania se dá de forma conflitiva na relação capital/trabalho, caracterizando 
avanços e recuos em termos de direitos sociais de acordo com a relação de forças das classes e 
poderes sociais dentro dos aparelhos de Estado” (Corrêa, 1999, p. 229).
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Não é mais possível reduzir-se o Estado a um mero defensor dos interesses de um deter-
minado grupo social, tampouco a uma função simplesmente distribuidora de “direitos” e favores 
aos setores oprimidos. O Estado e o Direito assumem uma nova dimensão, como componentes 
indispensáveis ao processo de materialização do espaço público, o que só é possível mediante a 
igualdade fundamental, principalmente no campo econômico.
José Theodoro Corrêa, em sua dissertação Justiça e Inclusão Social – uma construção con-
flitiva, ressalta que o Estado capitalista, “visto como representação simbólica concreta e ideali-
zada do espaço público, prevê em suas declarações constitucionais uma ordem social que deve 
respeitar os direitos do homem” (2000, p. 126). Assim, a expressão “idealizada” é empregada no 
sentido de ressaltar que tais direitos não são, necessariamente, aplicados na prática. 
Dessa forma, o Estado e o Direito não podem menosprezar os valores presentes nas relações 
sociais porque, segundo Darcísio Corrêa, “são construções histórico-culturais de que fazem parte 
os direitos humanos e a cidadania” (1999, p. 222), defendendo, assim, a necessidade da superação 
da polaridade Estado-mercado; em contrapartida, entende que um Estado forte e intervencionista 
com a marca registrada de estatal não pode ser a tônica do projeto socialista. 
É nesse sentido que José Theodoro Corrêa, ao citar Borón, lembra que “a renovação da 
esquerda passa, entre outros fatores, pela possibilidade de repensar o espaço público como 
uma esfera fundamental na qual podem ser criados instrumentos e instituições controladas so-
cialmente, sendo o Estado apenas uma delas, e por certo a longo prazo não a mais importante” 
(2000, p. 127).
Ao construir um novo conceito de Estado, Darcísio Corrêa explica, politicamente, as 
contradições da sociedade capitalista e sustenta as condições teóricas necessárias para uma 
estratégia de luta em prol da construção da cidadania. Verifica-se, portanto, ser equivocada e 
insuficiente uma definição de Estado que não inclua a dimensão simbólico-discursiva, pois se 
faz necessária para a institucionalização do poder público uma autojustificação legitimadora do 
exercício desse poder.
A formulação teórica do Estado e do Direito, portanto, não pode prescindir dos valores 
presentes nas relações sociais, uma vez que tanto Estado quanto o Direito são construções 
histórico-culturais, de que fazem parte os direitos humanos e a cidadania. Enquanto represen-
tação idealizada do espaço público, o Estado assume forma jurídica, pois os avanços e recuos no 
campo simbólico são conformados pelo Direito (Corrêa, 1999, p. 222). 
O dever-ser jurídico é a forma contemporânea que expressa e constitui a relação de força dos diversos 
poderes sociais em constante contradição. A institucionalização constitucional dos direitos humanos 
e sua efetiva viabilização através da legislação infraconstitucional dependem desse embate de forças 
de classe e das diversas forças sociais organizadas (1999, p. 223-224).
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Enquanto forma jurídica, o “dever-ser” do Estado é uma forma contemporânea que ex-
pressa e constitui a relação de forças dos diversos poderes sociais em constante contradição. 
Neste caso,
[...] a forma jurídica expressa a dupla função que o discurso dos direitos humanos pode ter numa so-
ciedade de classes: por um lado legitima ideologicamente o sistema capitalista [...]. Por outro lado, a 
forma jurídica também consagra na Constituição um marco positivo, uma referência de sentido para 
os trabalhadores lutarem dentro da legalidade pela efetivação de tais direitos formalmente garantidos 
(1999, p. 224).
Outro aspecto a considerar na definição de Estado capitalista, apresentada pelo autor, 
diz respeito aos seus diversos aparelhos, que se realizam por meio de uma estrutura material 
formalmente separada dos aparelhos privados da economia. Corrêa prossegue, ainda, alertando 
que tais mecanismos materiais não têm poder próprio, constituindo-se em lugares estratégicos 
para o embate da luta de classes e dos poderes socialmente organizados (p. 224). 
Essa representação, portanto, somente se materializa quando se tomarem decisões e me-
didas concretas, ou seja, políticas públicas resultantes da relação de forças dos diversos poderes 
em conflito (grupos dominantes/maiorias dominadas).
Assim, somente tem sentido falar em direitos humanos e cidadania uma vez que sejam 
caracterizados como produtores de sentido no embate político pela ocupação do espaço público-
estatal. Evidentemente que a universalização, tanto dos direitos humanos quanto da cidadania, 
depende da superação das contradições fundamentais do sistema, ou seja, enquanto houver 
sociedade de classes haverá violação de direitos, pois as desigualdades do sistema sempre con-
dicionarão uma ocupação desigual do espaço público-estatal, seja qual for sua representação 
simbólica (Corrêa, 1999, p. 231-232).
A ideia moderna de um Estado Democrático temsuas raízes no século 18, implicando a 
afirmação de certos valores fundamentais da pessoa humana, bem como a exigência de organi-
zação e funcionamento do Estado, tendo em vista a proteção daqueles valores. Para a entendi-
mento da ideia de Estado Democrático, inclusive para que se chegue a uma conclusão quanto 
à viabilidade de sua realização, em primeiro lugar será necessária a fixação dos princípios que 
estão implícitos na própria ideia de Estado Democrático. 
Segundo Dallari, a base do conceito de Estado Democrático é, sem dúvida, a noção de 
governo do povo, revelada pela própria etimologia do termo democracia, devendo-se estudar, 
portanto, como se chegou à supremacia da preferência pelo governo popular. Depois disso, 
numa complementação necessária, deverá ser feito o estudo do Estado que se organizou para 
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ser democrático, surgindo aqui a noção de Estado Constitucional, com todas as teorias que vêm 
informando as Constituições quanto às formas de Estado e de governo. Só então é que se poderá 
chegar à ideia atual de Estado Democrático (2000, p. 145-146).
O termo democracia no vocabulário político é controverso e assume distintas acepções. A 
palavra democracia, com procedência da língua grega, (de demos = povo, e kratos = autoridade) 
significa, etimologicamente, governo do povo. É reforçada, comumente, em seu sentido, a fim 
de expressar “governo do povo, pelo povo e para o povo”,3 mas, mesmo em Atenas, “no áureo 
período democrático, poder do povo, ou Democracia, nunca foi, como alguns pensaram, gover-
no exercido direta e exclusivamente pelo povo, identificação e coincidência de governantes e 
governados” (Azambuja, 1971, p. 216). 
Nesse sentido, democracia, segundo Menezes, é “simples e prodigiosamente o meio, a 
condição, o ambiente em que se efetua um governo, republicano ou monárquico, no sentido de 
atingir o Estado, qualquer que seja também a forma por que se apresente a sua alta destinação” 
(1996, p. 268).
A democracia, segundo Aristóteles, é forma de governo. Esse entendimento milenar assim 
se conservou entre os publicistas romanos e os teólogos da Idade Média, tendo em vista que não 
discreparam também do juízo aristotélico pensadores políticos da categoria de Montesquieu e 
Rousseau, presos à herança clássica. O primeiro a incluiu, por igual, na sua célebre classificação 
de formas de governo. Acontece, porém, que no século 19, surgiu o marxismo. (...) O socialismo 
marxista rebaixou, portanto, a democracia, desvalorizando-a como forma de governo da socie-
dade burguesa (Bonavides, 1995, p. 189).
Após o regime feudal, na Idade Média, depois das monarquias absolutas que se organiza-
ram desde o século 15, surgiu em fins do século 18, nos Estados Unidos da América e, no final 
do século 19, em quase toda a Europa, a chamada Democracia clássica, que se consolidava na 
Inglaterra desde o século 17. Essa Democracia clássica, segundo Azambuja, foi a vitória das 
ideias de liberdade política e civil contra o absolutismo, e seus traços característicos poderiam 
ser assim resumidos: 
3 Segundo Aderson de Menezes, em sua obra Teoria Geral do Estado (1996, p. 267-268), trata-se de uma definição concisa, que desde o 
século 18, foi proposta e vem sendo intensificada em seu sentido popular, conforme assinala A. Powell Davies, mas foi Thomas Cooper 
quem lançou, em 1795, o enunciado “Democracia é o governo do povo para o povo”. Já em 1819 o Juiz John Marshall, na Suprema 
Corte, disse que o governo dos Estados Unidos, como uma democracia, era, “enfaticamente e verdadeiramente um governo do povo”, 
porque na forma e na substância emanava do povo, recebia poderes do povo, que exercia sobre o povo e em seu benefício. Mais tarde, 
em 1850, Theodore Parker, pretendendo melhorar e revigorar a assertiva, define democracia como sendo “um governo de todo o povo, 
exercido por todo o povo, para todo o povo”, até que Abraham Lincon, em 1863, reduziu a expressão, para considerar a democracia 
como o “governo do povo, pelo povo e para o povo”.
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a) o poder político pertence ao povo, é a soberania popular; b) o poder político é exercido por órgãos 
diferentes, autônomos e independentes, é a teoria da divisão dos poderes; c) as prerrogativas dos go-
vernantes são limitadas explicitamente pela Constituição; d) são declarados e assegurados os direitos 
individuais (1971, p. 219).
O conceito de democracia ainda está em elaboração, pois não é concebida como devendo 
ser unicamente política, ademais, é reclamada a intervenção do Estado em matéria econômica, até 
porque não poderia haver liberdade política sem segurança econômica. Charles A. Beard, citado 
por Azambuja, entende que democracia engloba quatro princípios substanciais, quais sejam:
O 1º princípio diz que o povo é a fonte de todo o poder político e os votantes elegem dire-
tamente os principais agentes do governo; o 2º, diz que por esses agentes, eleitos pelos votan-
tes são feitas todas as leis; o 3º, que, em determinadas épocas, todos os principais agentes do 
governo, pelo menos os que compõem os poderes Legislativo e Executivo, são obrigados ou a 
se afastarem ou, se pretendem continuar exercendo suas funções, a se submeterem, bem como 
seus atos, à manifestação da vontade popular nas urnas; o 4º, diz que nesses processos todos os 
votantes são iguais e, nas eleições, o candidato que obtém o maior número de votos é elevando 
ao cargo em disputa. Resumindo, logicamente, democracia quer dizer igualdade no direito de 
votar, igualdade no direito de pleitear e obter um cargo público, e o critério da maioria ou da 
pluralidade nas eleições (1971, p. 221).
Democracia, contudo, não se restringe ao aspecto político. A democracia, ao lado dos 
direitos individuais, “deve também assegurar os direitos sociais, não somente deve defender o 
direito do homem à vida, à liberdade, mas também à saúde, à educação, ao trabalho, e daí, nos 
Estados modernos a abundante legislação social. Em resumo, a democracia não deve ser apenas 
política, e sim política e social” (Azambuja, 1971, p. 220).
É preciso ainda lembrar que todas as reivindicações que visam a amparar os trabalhadores, 
a infância, a velhice, que procuram evitar abuso do poder econômico e limitar a propriedade são 
conquistas democráticas, estampadas nas Constituições de quase todos os Estados.
A democracia é, pois, o regime em que o povo governa a si mesmo, quer diretamente, quer 
por meio de representantes eleitos por ele, para administrar os negócios públicos e fazer as leis 
de acordo com a opinião geral. Baseia-se em determinadas ideias cujo reconhecimento e rea-
lização foram demorados e difíceis, em reivindicações que foram a causa, e ainda são, de lutas 
prolongadas, quase sempre sangrentas, entre o povo e os indivíduos que lhe queriam impor pela 
força sua autoridade e sua vontade. Baseia-se, em primeiro lugar, na ideia de que cada povo é 
senhor de seu destino e tem o direito de viver de acordo com as leis que livremente adotar e de 
escolher livremente as pessoas que, em nome dele e de acordo com a opinião dele, hão de tratar 
dos interesses coletivos (Azambuja, 1971, p. 237).
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A democracia, pois, supõe a liberdade e a igualdade. A democracia de que tratamos é 
um regime político, uma forma de vida social, um método de coexistência e cooperação entre 
indivíduos membros de uma organização estatal. A liberdade que a democracia supõe, como 
fundamento e finalidade, é o fruto de uma longa elaboração histórica e está expressa em docu-
mentos públicos, cuja letra e espírito formam o ideal político da nossa civilização: são os direitos 
individuais, também chamados liberdades individuais, proclamadas solenemente nos Estados 
Unidosem 1776 e na França em 1789, e incorporadas a todas as Constituições democráticas 
(Azambuja, 1971, p. 239).
Assim, é por intermédio de três grandes movimentos político-sociais que se transpõem do 
plano teórico para o prático os princípios que iriam conduzir ao Estado Democrático: o primeiro 
deles foi a Revolução Inglesa, fortemente influenciada por Locke; o segundo foi a Revolução 
Americana, cujos princípios foram expressos na Declaração de Independência das 13 colônias 
americanas, em 1776; e o terceiro foi a Revolução Francesa, que teve sobre os demais a virtude 
de dar universalidade aos seus princípios, os quais foram expressos na Declaração dos Direitos 
do Homem e do Cidadão, em 1789, sendo evidente a influência direta de Rousseau, e contendo 
uma definição lapidar da igualdade democrática: “A lei deve ser a mesma para todos, quer quando 
protege, quer quando pune. Todos os cidadãos são iguais perante ela e são igualmente admissí-
veis a todas as dignidades, cargos e funções públicas, conforme a sua capacidade, e sem outras 
distinções senão as de suas virtudes e talentos” (Montoro apud Azambuja, 1981, p. 201-202).
Foram esses movimentos e ideias, expressões dos ideais preponderantes na Europa no século 
18, que determinaram as diretrizes na organização do Estado a partir de então. Consolidou-se a 
ideia de Estado Democrático como o ideal supremo, chegando-se a um ponto em que nenhum 
sistema e nenhum governante, mesmo quando patentemente totalitários, admitem que não sejam 
democráticos (Dallari, 2000, p. 150). O autor prossegue, ainda, afirmando que 
[...] uma síntese dos princípios que passaram a nortear os Estados, como exigências da democracia, 
permite-nos indicar três pontos fundamentais: a supremacia da vontade popular, que colocou o pro-
blema da participação popular no governo, suscitando acesas controvérsias e dando margem às mais 
variadas experiências, tanto no tocante à representatividade, quanto à extensão do direito de sufrágio 
e aos sistemas eleitorais e partidários. A preservação da liberdade, entendida sobretudo como o poder 
de fazer tudo o que não incomodasse o próximo e como o poder de dispor de sua pessoa e de seus 
bens, sem qualquer interferência do Estado. A igualdade de direitos, entendida como a proibição de 
distinções no gozo de direitos, sobretudo por motivos econômicos ou de discriminação entre classes 
sociais (p. 151).
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Assim, as transformações do Estado seriam determinadas pela busca da realização dos 
preceitos fundamentais antes mencionados, que se impunham, também, como limite a qualquer 
objetivo político. Dessa forma, a preocupação foi sempre a participação do povo na organiza-
ção do Estado, na formação e na atuação do governo, com vistas a resguardar a liberdade e a 
igualdade.
4 Nesse aspecto, a democracia pode ser con-
siderada a igualdade de oportunidade para todos, 
ou seja, é aquela que garante a todos o acesso ao 
exercício dos direitos civis, sociais, econômicos 
e políticos, em igualdade de condições, sendo 
que o produto dessa oportunidade dependerá da 
capacidade de cada cidadão.
3
Menezes, analisando a democracia sob os fundamentos da igualdade, liberdade e filosofia 
de vida, trazendo à colação a posição de vários juristas e sociólogos, idealiza um conceito gené-
rico de democracia, entendendo-a como “o ambiente em que um governo de feitio constitucio-
nal garante, com base na liberdade e na igualdade, o funcionamento ativo da vontade popular, 
através do domínio da maioria em favor do bem público, sob fiscalização e crítica da minoria 
atuante” (1996, p. 277).
Tomando por base esses parâmetros e analisando o Estado Democrático de Direito, a 
partir de um conceito operacional de Estado cujo fundamento e pressuposto é a realização da 
cidadania, como fim último da sociedade política, far-se-á uma breve análise das transformações 
que perpassaram o Estado de Direito, desde a vigência do Estado Liberal até o atual Estado De-
mocrático, tendo como enfoque as finalidades instituídas em cada modelo, pois cada um deles 
molda a sociedade e a cidadania com seu conteúdo próprio.
O Estado Liberal de Direito apresenta-se caracterizado pelo conteúdo liberal de sua legali-
dade – a submissão da soberania estatal à lei – com ênfase nas liberdades negativas, mediante a 
regulação restritiva da atividade estatal e a divisão de poderes, princípios esses que incorporam 
a qualidade de serem garantidores dos direitos individuais. Nestes termos afirma-se que o foco 
central desse modelo concentra-se na lei, motivo pelo qual Morais sustenta que
4 Disponível em: <http://www.a12.com/noticias/noticia.asp?ntc=brasil_comemora_hoje_dia_da_democracia_.html>. Acesso em: 6 abr. 
2013.
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a lei como instrumento da legalidade, caracteriza-se como uma ordem geral e abstrata, regulando a ação 
social através do não-impedimento de seu livre desenvolvimento; seu instrumento básico é a coerção 
através da sanção das condutas contraditórias. O ator característico é o indivíduo (1996, p. 79).
Esse favorecimento da lei decorre de algumas características fundantes desse modelo, 
dentre as quais Morais aponta as seguintes:
A. Separação entre Estado e Sociedade Civil mediada pelo Direito, este visto como ideal de justiça.
B. A garantia das liberdades individuais; os direitos do homem aparecendo como mediadores das 
relações entre indivíduos e o Estado.
C. A democracia surge vinculada ao ideário da soberania da nação produzido pela Revolução Francesa, 
implicando a aceitação da origem consensual do Estado, o que aponta para a idéia de representação, 
posteriormente matizada por mecanismos de democracia semidireta – referendum e plebiscito, etc. – 
bem como para a imposição de um controle hierárquico da produção legislativa através do controle 
de constitucionalidade.
D. O Estado tem um papel reduzido, apresentando-se como Estado Mínimo, assegurando, assim, a 
liberdade de atuação dos indivíduos (1996, p. 70-71).
Quando as relações sociais propiciam novas demandas há a transformação do modelo de 
Estado Liberal, emergindo, então, o Estado Social de Direito. Essa passagem está intimamente 
relacionada com a luta dos movimentos operários pela conquista de uma regulação da questão 
social.
[…] o Estado Social de Direito, da mesma forma que o anterior, tem por conteúdo jurídico o próprio 
ideário liberal, agregado pela convencionalmente chamada questão social, a qual traz à baila os pro-
blemas próprios ao desenvolvimento das relações de produção e aos novos conflitos emergentes de 
uma sociedade renovada radicalmente, com atores sociais diversos e conflitos próprios a um modelo 
industrial-desenvolvimentista (Morais, 1996, 71).
Verifica-se, nesse contexto, que o novo modelo de Estado caracteriza-se por um conjunto de 
garantias e prestações positivas, razão pela qual a lei assume uma nova função, a de instrumen-
talizar a ação concreta do Estado, que assume uma nova agenda de ação. Em outras palavras, 
ocorre a transformação ou passagem de um Estado Mínimo, cuja função era não impedir o livre 
desenvolvimento das relações socioeconômicas, para um Estado Intervencionista, que passa a 
exercer tarefas que até então eram relegadas à iniciativa privada.
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Assim, o Estado social deve garantir a concretização de uma agenda assistencial, podendo 
ser definido, no entendimento de Bobbio et al. como sendo o Estado que garante “tipos mínimos 
de renda, saúde, habitação, educação, assegurados a todo o cidadão, não como caridade mas 
como direito público” (1992, p. 416).
Na instituição do Estado Democrático de Direito verifica-se uma nova conjugação que 
incorpora novas características ao modelo tradicional,até então sustentadas pelo Estado Liberal 
e pelo Estado Social.
O Estado Democrático de Direito carrega consigo um caráter transgressor que implica em agregar o 
feitio incerto da Democracia ao Direito, impondo um caráter reestruturador à sociedade e, revelando 
uma contradição fundamental com a juridicidade liberal a partir da reconstrução de seus primados 
básicos de certeza e segurança jurídicas, para adaptá-los a uma ordenação jurídica voltada para a 
garantia/implementação do futuro, e não para a conservação do passado (Morais, 1996, p. 81).
Nestes termos, o Estado Democrático de Direito caracteriza-se pela incorporação efetiva 
da questão da igualdade, pois ao lado do núcleo liberal agregado à questão social, “a atuação 
do Estado passa a ter um conteúdo de mudança do status quo, a lei aparecendo como um ins-
trumento de transformação por incorporar um papel simbólico prospectivo de manutenção do 
espaço vital da humanidade” (Morais, 1996, p. 81).
Isso posto, para se conceber plenamente a democracia, é pertinente que se tenha presente 
o núcleo do Estado Liberal e Social, ou seja, de que aqueles que detêm o poder de decisão o 
façam de forma livre, mediante a garantia de que direitos de opinião, expressão das próprias 
opiniões, de reunião, de associação, dentre outros, sejam assegurados. Tais direitos constituem 
a base do surgimento do Estado Liberal e da construção da doutrina do Estado de Direito, pois, 
no entender de Bobbio, o Estado Liberal é exatamente o pressuposto, não histórico, mas jurídico, 
do Estado Democrático. Nesse sentido, afirma:
Estado liberal e Estado democrático são interdependentes em dois modos: na direção que vai do li-
beralismo à democracia, no sentido de que são necessárias certas liberdades para o exercício correto 
do poder democrático, e na direção oposta que vai da democracia ao liberalismo, no sentido de que é 
necessário o poder democrático para garantir a existência e a persistência das liberdades fundamen-
tais (2000, p. 33).
É sob essa perspectiva que Streck vai afirmar que no Estado Democrático de Direito “o 
Direito deve ser visto como instrumento de transformação social” (1999, p. 31), e essa transfor-
mação há que ocorrer, inevitavelmente, mediante a concretização dos direitos assegurados na 
Constituição Federal. Essa tarefa se viabiliza mediante a atuação do poder Judiciário, enquanto 
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poder do atual modelo de Estado, com vistas à concretização do princípio do acesso à Justiça e 
da realização da cidadania. É por essa razão que, a seguir, vamos analisar o papel assumido pela 
Constituição Federal no Estado Democrático de Direito.
seção 1.3 
a importância da constituição no estado democrático de direito
Antes, porém, da análise da importância da Constituição no Estado Democrático de Direito 
faz-se necessário o estudo de seu significado, pois todo sistema político, quando funciona normal-
mente, pressupõe uma ordem de valores sobre a qual repousam as instituições. Em se tratando 
de um modelo democrático, essa ordem é representada pela Constituição, cujos princípios guiam 
a vida pública e garantem a liberdade dos cidadãos. Nas formas democráticas a Constituição, 
segundo Bonavides, é tudo, ou seja, 
[…] o fundamento do Direito ergue-se perante a Sociedade e o Estado como o valor mais alto, porquan-
to, de sua observância deriva o exercício permanente da autoridade legítima e consentida. Num certo 
sentido, a Constituição aí se equipara ao povo, cuja soberania ela institucionaliza de modo inviolável. 
(...) A Constituição se converte, assim, na imagem da legitimidade nacional, valor supremo que limita 
todos os poderes e faz impossível o exercício da autoridade despótica, espancando as sombras do ar-
bítrio sempre familiar à ditadura e aos regimes sem participação popular (1995, p. 206-207).
O Estado constitucional, no sentido de Estado enquadrado num sistema normativo fun-
damental, é uma criação moderna, tendo surgido paralelamente ao Estado Democrático e, em 
parte, sob influência dos mesmos princípios. De um modo geral pode-se assegurar que o consti-
tucionalismo começou a nascer em 1215, quando os barões da Inglaterra obrigaram o Rei João 
Sem Terra a assinar a Carta Magna, jurando obedecê-la e aceitando a limitação de seus poderes. 
Finalmente, no século 18, conjugam-se vários fatores que iriam determinar o aparecimento das 
Constituições e infundir-lhes as características fundamentais. 
A afirmação da supremacia do indivíduo, a necessidade de limitação do poder dos gover-
nantes e a crença quase religiosa nas virtudes da razão, apoiando a busca da racionalização do 
poder, são os três grandes objetivos que, conjugados, segundo Dallari, iriam resultar no consti-
tucionalismo.
Este último objetivo, atuando como que um instrumento para criação das condições que permitissem 
a consecução dos demais, foi claramente manifestado pelos autores que mais de perto influíram na 
Revolução Francesa. E assim como ocorrera com a idéia de democracia, também a de Constituição teve 
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mais universalidade na França, de lá se expandindo para outras partes do mundo, justamente porque 
apoiada na razão, que é comum a todos os povos, mais do que em circunstâncias peculiares ao lugar 
e à época. Com efeito, embora a primeira Constituição escrita tenha sido a do Estado de Virgínia, de 
1776, a primeira posta em prática tenha sido a dos Estados Unidos da América, de 1787, foi a francesa, 
de 1789/1791, que teve maior repercussão (Dallari, 2000, p. 198).
Por seus próprios fundamentos e objetivos o constitucionalismo teve, no geral, um caráter 
revolucionário em alguns países enquanto instrumento de afirmação política de novas classes 
econômicas; noutros, porém, teve um sentido quase simbólico, para gerar as monarquias cons-
titucionais, em que o absolutismo adquire um fundamento legal. 
Do ponto de vista material, a Constituição é, segundo Bonavides, “o conjunto de normas 
pertinentes à organização do poder, à distribuição da competência, ao exercício da autoridade, à 
forma de governo, aos direitos da pessoa humana, tanto individuais como sociais” (1986, p. 57), 
conteúdo este que se refere à composição e ao funcionamento da ordem pública. Assim, aque-
las matérias que não dizem respeito a esse conteúdo, mas que estão inseridas na Constituição, 
apenas formalmente adquirem aparência constitucional, passando a gozar da garantia e do valor 
supremo que o texto constitucional lhes confere.
O conceito de Constituição, portanto, resultante da conjugação de seus dois sentidos (for-
mal e material), tem como resultado a ideia de que o titular do poder constituinte será sempre o 
povo. Segundo Dallari, é no povo que 
[…] se encontram os valores fundamentais que informam os comportamentos sociais, sendo, portanto, 
ilegítima a Constituição que reflete os valores e as aspirações de um indivíduo ou de um grupo e não do 
povo a que a Constituição se vincula. A Constituição autêntica será sempre uma conjugação de valores 
individuais e valores sociais, que o próprio povo selecionou através da experiência (2000, p. 202).
A Constituição vista, então, como um conjunto principiológico material é, no entendimento 
de Hesse, uma força normativa, ou seja, a Constituição não é simplesmente um conjunto de re-
gulações do espaço público da sociedade, mas é uma norma que estabelece o norte, o programa 
que o Estado (governo) deve seguir, afirmando que a Constituição Jurídica, condicionada pela 
realidade histórica, 
[…] não pode ser separada da realidade concreta de seu tempo. A pretensão de eficácia da Constituição 
somente pode ser realizada se se levar em conta essa realidade. A Constituição jurídica não configura 
apenas a expressão de uma dadarealidade. Graças ao elemento normativo, ela ordena e conforma a 
realidade política e social. As possibilidades, mas também os limites da força normativa da Constituição 
resultam da correlação entre ser (Sein) e dever-ser (Sollen) (1991, p. 24).
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No mesmo sentido, para caracterizar a supremacia e a devida importância da Constitui-
ção, cabe trazer à baila o ensinamento de Canotilho que, para caracterizar a Constituição como 
normativa e dirigente, explicita que
[…] a fundamentação da ordem jurídica da comunidade pode limitar-se à definição dos princípios 
materiais estruturantes (princípio do Estado de Direito, princípio Democrático, princípio Republicano, 
princípio da Socialidade, princípio Pluralista) ou estender-se à imposição de tarefas e programas que 
os poderes públicos devem concretizar. Esta constitucionalização de tarefas torna mais importante a 
legitimação material, embora se considere, em geral, que o fato de a lei constitucional fornecer linhas 
e programas de ação à política não pode nem deve substituir a luta política. (...) Da articulação destas 
várias funções se deduzirá que o problema da Constituição não é hoje o de escolher entre uma Consti-
tuição-garantia (ou Constituição quadro) e uma Constituição dirigente (ou Constituição programática), 
mas o de otimizar as funções de garantia e de programática da lei constitucional (1993, p. 74).
Essa, portanto, é a ideia da Constituição como dirigente, como explicitação do contrato 
social, é a ponte para tudo, todas as normas que se contrapuserem a esta norma básica deverão 
ser tidas como inconstitucionais, porque ferem este princípio da Constituição. Em razão desse 
quadro é que se defende, no presente trabalho, o necessário comprometimento do Judiciário com 
a Constituição, com vistas a realizar a cidadania e o princípio constitucional do acesso à Justiça, 
daí decorrendo a sua suprema importância.
seção 1.4
cidadania e acesso à justiça no estado democrático de direito
O princípio constitucional da cidadania, no atual Estado Democrático de Direito, está devi-
damente previsto na Constituição Federal de 1988, já no seu artigo 1O, inciso II, ao instituir que: 
“A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios 
e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: 
II – a cidadania”. Assim, a cidadania foi erigida a princípio fundamental, como valor supremo, 
em posição hierarquicamente superior às demais normas constitucionais.
Sabe-se, no entanto, que o conceito de cidadania evoluiu historicamente para passar a 
considerar o cidadão como integrante da sociedade; devendo, atualmente, ser entendida como 
a participação deste na comunidade da qual faz parte, como titular de direitos fundamentais, 
com direito de ter garantida a sua dignidade enquanto pessoa humana, entendendo-o como 
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participante do “processo do poder com a igual consciência de que essa situação subjetiva en-
volve também deveres de respeito à dignidade do outro, de contribuir para o aperfeiçoamento 
de todos” (Silva, 1999, p. 11).
A ideia essencial do conceito de cidadania consiste na sua vinculação com o princípio 
democrático. Por isso pode-se afirmar que, sendo a democracia um conceito histórico que evolui 
e se enriquece com o tempo, também a cidadania ganha novos contornos com a evolução de-
mocrática. É pertinente, assim, conceituar etimologicamente cidadania, que, segundo alguns, 
originou-se do termo “Cidade” (Civitas – latim), porém representa muito mais do que a fatali-
dade de nascer em determinado lugar no tempo e no espaço, sujeitando-se às regras impostas 
circunstancialmente. Como lembra Plácido e Silva:
Segundo a teoria, que se firmou entre nós, a cidadania, palavra que se deriva de cidade, não indica 
somente a qualidade daquele que habita a cidade, mas, mostrando a efetividade dessa residência, o 
direito político que lhe é conferido, para que possa participar da vida política do país em que reside 
(1993, p. 427).
No dicionário, a definição de cidadania é descrita como “qualidade ou estado de um ci-
dadão” que, por sua vez, é definido como, “indivíduo no gozo dos direitos civis ou políticos de 
um Estado, ou no desempenho de seus deveres para com este” (Schmidt, 1997, p. 74). Mais 
importante, porém, que a definição da palavra em plano semântico é a tentativa de entender seu 
significado ao longo do tempo para que fiquem claros os termos de sua conceituação.
O primeiro aspecto que deve ser ressaltado é o da ruptura do discurso sustentado pela bur-
guesia que distinguia o “homem” do “cidadão”, cuja consequência foi a Declaração de Direitos 
de 1789 – Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão. Esse discurso sustentava os direitos 
do homem como sendo aqueles direitos individuais, enquanto os direitos do cidadão referiam-
se aos direitos políticos de votar e ser votado. Essa ruptura ocorre a partir do momento em que 
surge uma nova concepção de cidadania, decorrente da ideia de Constituição dirigente, que se 
constitui em um sistema de previsão de direitos sociais, mais ou menos eficazes, em torno dos 
quais é que se vem construindo a nova ideia de cidadania (Silva, 1999, p. 10).
Assim, o desenvolvimento das forças produtivas e os agentes sociais que protagonizavam 
a história na passagem do regime de escravidão para a “liberdade” do sistema burguês emer-
gente impuseram novos limites e novas contradições ao exercício da cidadania plena. A classe 
burguesa, além de estabelecer novos parâmetros para definição do indivíduo e suas relações 
com a sociedade e o Estado baseados na trilogia liberdade, igualdade, fraternidade, postulou 
um projeto político de organização social expresso na fundamentação jurídica, em que o direito 
era, de fato, substitutivo do privilégio.
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Quanto à sua origem histórica a noção moderna de cidadania nasceu vinculada à questão do direito, 
ou seja, ao discurso jusnaturalista formulado no bojo do contexto libertário e revolucionário da época 
moderna. O projeto social da burguesia como nova classe emergente alicerçava-se em um novo status: 
não mais o status servil caracterizador do período medieval do feudalismo, marcado pela desigualdade 
institucionalizada em estamentos ou ordens, mas o status da cidadania civil (Corrêa, 1999, p. 210).
A partir deste marco histórico surgem as definições e conceitos de cidadania, traduzindo, 
assim, necessidades do novo indivíduo que emergiu da expansão das condições socioeconômicas. 
Pode-se, sem temor, afirmar que o conteúdo dessas novas conceituações era libertário, o que vai 
caracterizar todo o movimento de emancipação daí por diante.
A participação dos indivíduos na vida do Estado e o seu reconhecimento como pessoa in-
tegrada à sociedade significa que o funcionamento do Estado está submetido à vontade popular, 
e a cidadania, assim considerada, consiste na identificação do homem como titular de direitos 
fundamentais e em sua integração participativa no processo do poder e da dignidade da pessoa 
humana. 
Percebe-se, sob um outro aspecto, que a cidadania está intimamente vinculada à ideia de 
direitos humanos, aliás, o projeto da burguesia do século 18 surge sob a forma de direitos civis, 
tendo como forte expoente o direito de liberdade. Para se entender precisamente o conceito de 
cidadania, sem confundi-la com os direitos humanos, é preciso superar a postura estreita e re-
ducionista presente nas análises marcadas pelo ideário positivista-liberal. 
As desigualdades que surgiram diante da nova ordem instaurada pela burguesia carac-
terizam-se por uma lógica de mercado que privilegia o lucro e o acúmulo de capitais, desen-

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