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PALACIOS.Idadeeinflunciasnodesenvolvimento_20170306125324.pdf

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20 Mudança e desenvolvimento cc::::::: - .. '
durante a idade adulta e a velhice
JESÚS PALACIOS
Já vai longe o tempo em que as descri-
ções limitavam o desenvolvimento psicológi-
co às mudanças e às transformações evolutivas
que acontecem na infância e na adolescência.
Longe também está a identificação de infân-
cia e adolescência como uma subida, a idade
adulta como um platô e a velhice como uma
descida (evolução-estabilidade-declínio). Con-
forme foi mostrado no Capítulo 1, a década
de 1970 marcou o princípio do fim dessas
descrições e dessa identificação. A partir des-
se momento, a psicologia evolutiva é o estu-
do de todo o ciclo vital, e isso, como também
foi indicado no Capítulo 1, significou para a
disciplina não só uma ampliação nas idades
de estudo, mas também, e sobretudo, uma
ampliação dos conceitos, dos modelos, da lin-
guagem e da metodologia. O certo é que a
infância continua sendo o período da vida
humana sobre o qual mais se acumulou co-
nhecimento na pesquisa psicológica, mas tam-
bém é verdade que é cada vez maior o corpo
de informação de que dispomos em relação
ao desenvolvimento após a adolescência.
Os próximos três capítulos abordam de
forma detalhada os processos de desenvolvi-
mento psicológico no campo da inteligência
(Capítulo 21), da personalidade (Capítulo 22)
e da socialização (Capítulo 23). Cabe a nós,
neste capítulo, introduzir alguns conceitos e
idéias-chave para um melhor conhecimento do
significado evolutivo do desenvolvimento pos-
terior à adolescência, como também para faci-
litar a compreensão dos conteúdos que são
expostos nos três capítulos seguintes. Para isso,
em primeiro lugar, vamos analisar o tipo de
desenvolvimento que mencionamos ao falar da
idade adulta e da velhice mediante uma análi-
se que apresenta diferentes abordagens do con-
ceito de idade, que é chave para entender es-
sas etapas da vida humana. Em segundo lugar,
vamos nos referir a vários fatos biológicos que
adquirem uma particular relevância na idade
adulta e na velhice. Depois, vamos nos centrar
em algumas das propostas teóricas gerais que
foram feitas a respeito dessas etapas da vida
humana, concluindo com várias reflexões so-
bre a mudança e a continuidade após a ado-
lescência, reflexões que serão ilustradas com
alguns comentários sobre o desenvolvimento
intelectual, pessoal e social nessas idades. As-
pectos que serão analisados com mais detalhes
nos capítulos seguintes.
IDADE E INFLUÊNCIAS
NO DESENVOLVIMENTO
Quando em psicologia evolutiva se diz
que a idade é uma variável vazia, está se des-
tacando um fato sobre o qual existe um acor-
do generalizado: a idade, por si mesma, não
explica nada, e a passagem do tempo, por si
só, não fornece elementos que possam nos aju-
dar a compreender os processos de desenvol-
vimento psicológico. Conforme foi indicado no
Capítulo 1, a idade tem, sem dúvida alguma,
um valor descritivo, porque costuma estar as-
sociada a uma série de circunstâncias e mu-
danças que realmente possuem uma capacida-
de explicativa; mas as relações entre idade e
conduta são de natureza correlacional, não do
•
372· COLL, MARCHESI, PALACIOS & COLS.
tipo causal: no processo de desenvolvimento
psicológico existem determinadas mudanças
que são mais características de umas idades
do que de outras, mas isso não significa que
seja a idade a que produz, por si mesma, as
mudanças.
Conforme dissemos, a idade tem um in-
contestável valor descritivo e referencial. As-
sim, por exemplo, a respeito das etapas de de-
senvolvimento que estamos analisando, é co-
mum fazer uma fragmentação da idade adulta
e da velhice em agrupamentos de idades que
nos permitem falar de idade adulta inicial (ti-
picamente, dos 25 aos 40 anos), idade adulta
média (tipicamente, dos 40 aos 65 anos), ida-
de adulta tardia ou velhice precoce (tipicamen-
te, dos 65 aos 75 anos) e de velhice tardia (após
os 75 anos). No entanto, o valor dessa frag-
mentação é muito relativo, e outros agrupa-
mentos de idades, com outros limites cronoló-
gicos e outras denominações, também são pos-
síveis. Mas, longe de poder resolver a proble-
mática idade-desenvolvimento comas reflexões
anteriores, por mais corretas que possam ser,
vale a pena nos aprofundarmos um pouco nos
diferentes significados do conceito de idade,
porque irá nos permitir situar melhor o signifi-
cado das etapas de desenvolvimento posterio-
res à adolescência e àjuventude. Para isso, uti-
lizaremos a diferenciação proposta por Birren
e Renner (1977) entre os diferentes significa-
dos da idade:
• Idade cronológica: refere-se ao núme-
ro de anos que transcorreram desde
o nascimento de uma pessoa. É mui-
to provável que este seja o indica-
dor menos útil de todos os que ana-
lisaremos a seguir, talvez com a ex-
ceção dos primeiros segmentos do
desenvolvimento (vida pré-natal e
primeira infância), porque nesses ca-
-soshá uma forte associação entre a
idade cronológica e os processos que
nos permitem fazer previsões mais
exatas (mas, lembrem-se de que não
é a idade per se a que permite, por
exemplo, aprender a andar aos 12
meses, entre outras coisas, porque se
fosse assim todos as crianças come-
çariam a andar nessa idade; o que
permite aprender a andar tem a ver
com a maturação, a estimulação e a
motivação).
• Idade biológica: é uma estimativa do
lugar em que uma pessoa se encon-
tra em relação ao seu potencial de
vida. Esse conceito se relaciona com
a saúde biológica e não tanto com a
idade cronológica: podemos ter duas
pessoas de 70 anos com uma idade
biológica muito diferente se uma de-
las apresenta uma integridade física
muito aceitável e a outra tem sérios
transtornos da saúde.
• Idade psicológica: está relacionada
com a capacidade de adaptação de
uma pessoa, isto é, com suas possibi-
lidades para enfrentar as demandas
do ambiente; de novo, duas pessoas
com a mesma idade cronológica po-
dem apresentar idades psicológicas
muito diferentes se uma é capaz de
utilizar seus recursos psicológicos (in-
teligência, motivação, emoção, com-
petitividade social, etc.) de maneira
que responde adequadamente aos
desafios da vida cotidiana, enquanto
a outra mostra dificuldades em algu-
ma ou várias dessas áreas (problemas
de memória, falta de motivação, iso-
lamento social, etc.).
• Idade funcional: integra os conceitos
de idade biológica e idade psicológica
e se refere à capacidade de autono-
mia e independência; assim, por exem-
plo, para viver sozinha em sua casa,
uma pessoa deve ter um certo nível
de saúde biológicaque lhe permita sair
e entrar, ir de um lugar a outro, etc., e
também um determinado nível de
competência psicológicapara lembrar,
planejar, organizar-se, etc.
• Idade social: está relacionada com os
papéis e as expectativas sociais asso-
ciadas a determinadas idades. Um
exemplo disso é que aos 30 anos a so-
ciedade espera que uma pessoa esteja
trabalhando, que antes dos 40 tenha
tido um filho, que aos 65 consiga a
aposentadoria e que, alguns anosmais
tarde, tenha netos. Aidade social tem
importância, entre outros fatores, por-
que as experiências que ocorrem fora
das margens habituais - particular-
mente quando se distanciam muito
delas - costumam ser uma fonte de
estresse e de dificuldades, como acon-
tece quando uma jovem é mãe aos 16
anos ou quando uma pessoa se apo-
senta com 50 anos. No entanto, asmu-
danças nos costumes e expectativas a
que estamos assistindo no ocidente nos
últimos anos exigem que sejamosmui-
tos flexíveis no momento de estabele-
cer os limites da idade social, embora
talvez não até o extremo que alguns
chegam quando dizem que a idade
social passou a ser irrelevante.
Além das distinções anteriores, devemos
acrescentar uma diferenciação da relação que
há entre a idade e as influências que moldam
o desenvolvimento, distinção que foi aponta-
",,-----------_ ••••• 0
.", .
; ,
; "
/ "/ ,
/ ,/ ,
/ ' .•.
~ou..
Influências normativas
relacionadas com a história
DESENVOLVIMENTO PSICOLÓGICO E EDUCAÇÃO, V.1 373
da rapidamente no Capítulo 1 e que agora é a
hora de analisar com mais profundidade. É a
distinção proposta por Baltes, Reese e Lipsitt
(1980) entre influências normativas relaciona-
das com a idade, influências normativas rela-
cionadas com a história e influências não-nor-
mativas. Adistinção corresponde ao gráfico da
Figura 20.1
As influências normativas relacionadas com
a idade estão ligadas a fatores que afetam o
desenvolvimento psicológico com um vínculo
muito forte com a idade, permitindo que, ao
conhecer a idade de uma pessoa, tenhamos
condições de fazer previsões razoavelmente
certas sobre alguns de seus processos evoluti-
vos. Por exemplo, pelo fato de sabermos que
um bebê tem entre seis e nove meses, pode-
mos prever que ele está em plena formação dos
sistemas de apego e de cautela diante de estra-
nhos (tema já abordado no Capítulo 5). Pelo
fato de sabermos que uma criança tem entre
seis e oito anos, podemos prever que ela é ca-
paz de raciocinar logicamente e que tem um
determinado controle emocional, como tam-
........... -,
Influências
não-normativas
I
I
I
I
I
I
I
I .• '
Infância Adolescência VelhiceIdade adulta
FIGURA 20.1 Influências normativas, associadas com a idade e a história, e influências não-normativas.
Fonte: Baltes et aI., 1980.
Influências normativas
relacionadas com a idade
374 COLL, MARCHESI, PALACIOS & COLS.
bém supor que as relações com outras crian-
ças da mesma idade têm muita importância
(conforme foi analisado nos respectivos capí-
tulos). À medida que nos distanciamos da in-
fância, esse tipo de influências vai diminuindo
em magnitude, porque a maturação associada
à idade vai impondo menos e permitindo mais.
Assim, outras fontes de influências vão trans-
formar-se em predominantes, especialmente a
partir da adolescência.
Conforme se observa na Figura 20.1, a
curva que representa de maneira gráfica esse
tipo de influências tem um certo movimento
de recuperação no final da vida, o que se rela-
ciona com a influência que exercem as mudan-
ças biológicas do último trecho da vida sobre
os aspectos psicológicos (menos reflexos, mais
lentidão em determinados processamentos,
etc.). Esse tema será abordado no próximo ca-
pítulo. No entanto, vale a pena notar que, na
velhice, a magnitude da influência desse tipo
de fatores é muito mais fraca do que foi na
infância. Podemos ilustrar o que acabamos de
afirmar com dois exemplos bem simples: sa-
ber que um bebê tem entre seis e nove meses
nos permite fazer previsões evolutivas muito
mais certas em relação ao apego do que saber
que um senhor tem entre 75 e 80 anos, e saber
que uma menina tem nove anos nos permite
fazer previsões evolutivas mais certeiras de suas
capacidades de memória do que em relação a
uma senhora que tem 70 anos. Apesar disso,
devemos reconhecer que, em termos evoluti-
vos, não é muito exagerado supor que o siste-
ma de apego do senhor que tem entre 75 e 80
anos e a memória da senhora de 70 anos te-
nham passado por algumas alterações em re-
lação ao que havia sido característico em am-
bos na etapa da idade adulta.
As influências normativas relacionadas
com a história afetam todas as pessoas que vi-
vem em uma determinada época e sociedade,
mas não àqueles que tenham vivido ou venham
a viver em outra época e outra sociedade. Es-
sas influências apresentam um perfil inverso
aos das relacionadas com a idade, tal como po-
demos observar na Figura 20.1, na qual as in-
fluências normativas relacionadas com a ida-
de apresentam um perfil de fraca influência,
as relacionadas com a história apresentam-no
forte e vice-versa, Quando a lógica biológica
da maturação ou do envelhecimento impõe sua
lei, as diferenças vinculadas com o ambiente
em que se vive podem ser muito menos nota-
das, como acontece com a maturação do cére-
bro que permite à criança aprender a caminhar
sozinha em idades semelhantes entre crianças
criadas em sociedades com práticas de criação
muito diferentes. Outro exemplo é o que acon-
tece com as dificuldades que têm os conteúdos
da memória de curto prazo para ascender à me-
mória de longo prazo quando há transtornos
neurológicos relacionados com o envelhecimen-
to (muito embora, tal como temos sustentado,
a magnitude da influência de ambos os fatos
seja muito diferente). No entanto, durante a
maior parte da nossa existência, desde o final
da infância até a chegada - se é que ocorre - de
determinados transtornos funcionais no cérebro
perto do fim da vida, as influências normativas
relacionadas com a história exercem uma in-
fluência muito importante.
O conceito de geração é o mais estreita-
mente associado a essas influências normati-
vas relacionadas com a história. No Capítulo 1
este conceito foi analisado com detalhe. Na
Espanha, por exemplo, há uma geração que
viveu a Guerra Civil (1936-1939) e suas con-
seqüências, enquanto outras gerações não pas-
saram por isso. Também não é a mesma coisa
ter nascido em 1918 e pertencer a um dos ban-
dos que lutaram na guerra do que ter nascido
em 1930 e ter vivido essa experiência como
criança. Não é a mesma coisa ter se formado
na universidade na década de 1970, quando
acontecida a expansão econômica e havia mui-
tas possibilidades de conseguir emprego, do
que se formar na primeira parte da década de
1990, quando havia recessão e o mercado de
trabalho era muito reduzido. Não é igual, nos
dias de hoje, ser uma pessoa idosa do que tê-lo
sido em outra época em que não existiam mui-
tos tratamentos médicos para atenuar algumas
de suas dificuldades sensoriais. As pesquisas
realizadas por Elder (1998), que foram resu-
midas no Capítulo 1, são uma excelente ilus-
tração dos fatos que estam os comentando. Po-
demos encontrar um exemplo da influência dos
fatores geracionais na população espanhola no
estudo do Centro de Investigações Sociológi-
cas sobre as atitudes e condutas afetivas dos
espanhóis (CIS, 1995). Diante da pergunta se
um relacionamento amoroso deve perdurar a
vida toda, houve poucas diferenças nas respos-
tas de homens e mulheres. Entretanto, a dife-
rença foimuito significativa entre as gerações:
responderam afirmativamente 86% das pes-
soas entre 55 e 66 anos; 74% entre 45 e 54
anos; 64% entre 35 e 44 anos e 57% entre os
que tinham menos de 35 anos.
O fato de diminuir, na velhice, a curva de
influências normativas relacionadas com a his-
tória está relacionado com o aumento da cur-
va das influências normativas vinculadas à ida-
de: quando a lógica biológica impõe as regras,
as influências de gerações se enfraquecem. Isso
se toma muito evidente quando se trata de in-
fluências biológicas para as quais não há res-
postas terapêuticas, como, por exemplo, no mal
de Alzheimer, para o qual até hoje não temos
um tratamento eficiente. Por isso, duas pessoas
afetadas gravemente por tal doença serão mui-
to parecidas, independentemente da geração
a que pertençam.
Por último, as influências não-normativas
se referem às experiências de caráter idiossin-
crásico ou quase-idiossincrásico. Em todo caso,
são experiências não-normativas, isto é, expe-
riências pelas quais se sabe que não passam
todos aqueles que pertencem a uma determi-
nada geração ou que têm uma determinada ida-
de. Se um adolescente tiver um acidente de
moto que deixa seqüelas das quais necessitará
de vários anos para se recuperar, é um fato não-
normativo. Se uma mulher adolescente émãe,
é um fato nâo-normativo; se um adulto ganhar
um prêmio alto em um jogo de azar, tem uma
experiência nâo-normativa; ficar viúvo aos 40
anos de idade é um acontecimento não-
normativo. Na verdade, o que faz com que um
fato seja não-normativo é, por um lado, a con-
dição de afetar um ou mais indivíduos, mas
não a todos e, por outro lado, que esse fato
sejaimpossível de ser previsto em um momen-
to determinado. É exatamente o contrário do
que acontece com as influências normativas,
que são previsíveis em termos biológicos e de
geração. A curva que representa as influências
não-normativas na Figura 20.1 não deixa de
aumentar com o passar do tempo, porque se
DESENVOLVIMENTO PSICOLÓGICO E EDUCAÇÃO, V.1 375
.supõe que os acontecimentos de que estamos
falando vão sendo acrescentados uns aos ou-
tros, acumulando uma história pessoal cada vez
mais diferenciada.
Um bom exemplo de influências não-
normativas é o dos chamados "encontros ca-
suais" de pessoas desconhecidas (Bandura,
1982), que se transformam em importantes
do ponto de vista evolutivo quando têm re-
percussões relevantes para a pessoa. A pro-
fessora que influencia decisivamente na to-
mada de decisões vocacionais dos alunos; um
desconhecido que nos é apresentado, e por
meio dele conseguimos um trabalho; o encon-
tro casual com uma pessoa, mediante apre-
sentação feita por um amigo, que se transfor-
mará em nosso(a) namorado(a); todos esses
são encontros casuais, que não se podem pre-
ver, nâo-normativos, que exercem uma influ-
ência relevante em nossas vidas. No estudo
realizado pelo CISantes citado, 21% dos adul-
tos entrevistados afirmou ter conhecido seu
(sua) companheiro (a) de forma totalmente
casual, e 19% o fez mediante apresentação
por familiares ou amigos, o que também pos-
sui um importante fator de acaso.
Se olharmos novamente a Figura 20.1, po-
deremos tirar a conclusão de que o desenvol-
vimento a partir da adolescência está muito
pouco determinado pela idade cronológica e
muito mais pela idade psicológica e pela idade
social. Se falarmos de idade biológica, pode-
mos afirmar que enquanto o organismo manti-
ver níveis de funcionamento que permitam uma
correta adaptação, a sua influência não será
decisiva na maior parte dos casos; ela se con-
verterá em relevante quando a idade compro-
meter a adaptação, aí incidirá causalmente na
idade funcional.
Idade adulta e velhice são etapas da vida
que estão abertas a mudanças, sensíveis às di-
versas fontes de influência das quais estivemos
falando. Muitas das mudanças são totalmente
evolutivas, pois se apresentam em uma deter-
minada seqüência e possuem uma certa orga-
nização que se relaciona com o conjunto de
características que a pessoa tem em cada mo-
mento da vida. Na idade adulta e na velhice,
há, efetivamente, perdas e declínios, tal como
sustentavam os velhos estereótipos, mas tam-
376 COLL, MARCHESI, PALACIOS & COLS.
bém há ganhos, aquisições, conquistas, acrés-
cimos e reorganizações que contrariam essas
velhas crenças. Portanto, são etapas tão evolu-
tivas quanto podem ser a infância ou adoles-
cência, muito embora tenham características
bem peculiares.
MUDANÇAS BIOLÓGICAS NA IDADE
ADULTA E NA VELHICE
Muito embora não seja a proposta deste
trabalho se aprofundar, minuciosamente, nas
mudanças físicas que acontecem quando ter-
mina o processo de maturação biológica e as
pessoas se convertem em adultos do ponto de
vista maturativo, consideramos muito impor-
tante que uma análise do significado evolutivo
da idade adulta e da velhice não fique sem al-
gumas referências vinculadas com as mudan-
ças físicas, especialmente para distinguir entre
os diversos processos envolvidos no envelheci-
mento e para mencionar algumas das mudan-
ças físicas de relevância do ponto de vista do
funcionamento psicológico.
Envelhecimento primário e secundário
o corpo humano atinge sua maturidade
entre os 25 e os 30 anos, etapa que se conside-
ra caracterizada pelos maiores índices de vita-
lidade e saúde. Uma vez determinado esse fato,
é difícil dizer quando começa o envelhecimen-
to biológico, entre outras coisas porque não é
um processo unitário que aconteça de modo
simultâneo em todo o organismo, mas ao con-
trário, é um processo muito assincronicamente
distribuído entre as diferentes funções biológi-
cas e os diferentes órgãos corporais. Mesmo
dentro de um mesmo órgão, como o cérebro,
distintas partes seguem padrões muito diferen-
tes de envelhecimento. Além disso, é um pro-
cesso que permite grandes diferenças entre
umas pessoas e outras como, por exemplo, na
idade média de 40 anos há muitas pessoas que
necessitam usar óculos para compensar as per-
das de capacidade visual, mas há outras que
podem prescindir desse tipo de ajuda durante
a vida toda. Na verdade, podemos afirmar que
apesar da existência do processo de envelheci-
mento, nosso corpo e os diversos órgãos são
potencialmente capazes de manter um correto
funcionamento biológico até idades muito
avançadas, permitindo a adaptação às deman-
das do ambiente.
Não há um consenso total sobre o que é,
realmente, o processo de envelhecimento e
quais são as causas que o provocam. Entretan-
to, existe um amplo consenso na hora de dis-
tinguir entre o envelhecimento primário e o
secundário.
O envelhecimento primário consiste em
processos de deterioração biológica, genetica-
mente programados, que acontecem inclusive
nas pessoas que têm muita saúde e que não
passaram por doenças graves na vida. Fica cla-
ro que parte do processo de envelhecimento
está programada pelo nosso sistema biológi-
co, isto é, é inevitável sob quaisquer circuns-
tâncias individuais e ambientais. Ascélulas do
nosso organismo estão, por exemplo, progra-
madas para envelhecer. Isso está demonstrado
no fato de que não podem se dividir infinita-
mente para produzir novas células, porque a
capacidade de regeneração é limitada. Outros
índices do que acabamos de afirmar são: com
o tempo, diminui a capacidade para enfrentar
os problemas que resultam da deterioração das
cadeias de DNA;as células são afetadas, de ma-
neira crescente, pelos radicais livres produzi-
dos como conseqüência do metabolismo e da
resposta às influências ambientais como a ali-
mentação, os raios solares e a poluição atmos-
férica, desencadeando uma série de reações
químicas que provocam danos moleculares ir-
remediáveis, que se acumulam com a idade. O
sistema imunológico humano também está pro-
gramado para envelhecer. Com o tempo, dimi-
nui a capacidade para se defender das infec-
ções e aumentam os transtornos auto-imunes,
o que acontece quando o sistema imunológico
ataca células sadias do próprio corpo, muito
provavelmente por errar na sua identificação
e achar que são patológicas. O nosso sistema
endócrino, que controla tantas funções corpo-
rais, também envelhece. Quando começa opro-
cesso de deterioração dele e dos centros cere-
brais que o controlam (hipotálamo e pituitária)
tanto o funcionamento biológico quanto a saú-
de se ressentem do desgaste e ficam ameaça-
dos. Em resumo, o corpo humano está feito e
programado para morrer; muito provavelmen-
te, como conseqüência dos fatores antes men-
cionados, o organismo humano tem um poten-
cial de vida muito importante, mas limitado
no tempo: estima-se que o potencial máximo
está entre os 110 e os 120 anos. Não nos dife-
renciamos dos outros animais mamíferos que
também possuem um potencial de vida, mas
na maioria das espécies é muito menor do que
nos humanos. O envelhecimento primário é,
pois, inevitável, universal e, até onde sabemos, •
também irreversível.
O envelhecimento secundário, por sua vez,
refere-se a processos de deterioração que au-
mentam com a idade e se relacionam com fa-
tores que podem ser controlados, como, por
exemplo, a alimentação, a atividade física, os
hábitos de vida (incluído o tabagismo) e as in-
fluências ambientais. É evidente que há pes-
soas que podem viver sem passar por todos ou
alguns dos efeitos desse tipo de envelhecimen-
to. Então, podemos afirmar que pode ser pre-
venido, é evitável e não-universal. Ficar expos-
to aos raios solares sem nenhum tipo de prote-
ção, por exemplo, provoca o envelhecimento
das células da pele e é um fator de risco de
câncer dermatológico.Maus hábitos.alimenta-
res, ausência de exercícios físicos regulares,.
consumo de tabaco e excesso de álcool, con-
dutas de risco sexual, contaminação ambiental
(incluída a poluição acústica), todos esses são
fatores relacionados estreitamente com o en-
velhecimento secundário. Muitas vezes, os fa-
tores enunciados se agrupam para formar uma
verdadeira ecologia envelhecedora. Muitos dos
transtornos e das doenças que observamos nos
adultos e nos idosos não são conseqüência do
processo de envelhecimento primário, mas des-
se tipo de envelhecimento secundário evitável
e não-universal.
Alguns autores propõem a existência de
um envelhecimento terciário, relacionado à hi-
pótese do conhecido como "queda terminal". De
acordo com os resultados de numerosas pesqui-
sas longitudinais sobre os diversos conteúdos
psicológicos, parece que, à medida que se apro-
xima a morte de um ser humano, vão ocorren-
do declínios generalizados nas funções psicoló-
DESENVOLVIMENTO PSICOLÓGICO E EDUCAÇÃO, V.1 377
gicas. Se forem analisados retrospectivamente,
a deterioração parece ser muito mais clara quan-
to mais próximo da morte estiver o idoso. A ca-
pacidade de se adaptar diminui, todas as habi-
lidades cognitivas se deterioram, a personali-
dade fica desestabilizada e mais vulnerável.
Os três tipos de enyelhecimento interagem
e acrescentam, mutuamente, seus efeitos. Por
isso, Birren e Cunningham (1985) propõem a
metáfora do envelhecimento em cascata: o en-
velhecimento primário provoca uma avançada
lentidão do processamento da informação; o en-
velhecimento secundário (especialmente no
caso das doenças cardiovasculares e em algu-
mas doenças crônicas) faz com que as perdas
sejam mais intensas, e tanto mais quanto maior
for a idade, e, por último, o envelhecimento
terciário implica declínios generalizados que
afetam todos os processos psicológicos.
Finalmente, não podemos nos esquecer
de mencionar a importância das diferenças in-
terindividuais que são o resultado tanto de fa-
tores genéticos quanto ambientais. Essas dife-
renças se acumulam com o tempo, por isso duas
pessoas que, quando tinham 35 anos, por
exemplo, eram muito parecidas nos hábitos que
tinham, quando atingem os 50 anos podem ter
diferentes níveis de saúde, mesmo que tenham
continuado a ter estilos de vida semelhantes.
Quando tiverem 70 anos, as diferenças entre
elas terão se acentuado e uma delas poderá
viver muito mais anos do que a outra. Confor-
me foi mencionado anteriormente, duas pes-
soas com a mesma idade cronológica podem
ter uma idade biológica muito diferente, e isso
fica mais evidente quanto mais entramos nos
anos da velhice.
As mudanças e sua repercussão
no funcionamento psicológico
Considerando tudo o que foi dito ante-
riormente, pela acumulação dos efeitos do en-
velhecimento primário e do secundário, nosso
organismo envelhece. Envelhece, por exemplo,
nosso cérebro, cujo tamanho e peso diminuem
à medida que passam os anos. O peso médio
do cérebro, aos 20 anos, é de 1.400 gramas;
entre os 50 e 60 anos de idade o peso médio é

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