Encontro histórico entre Caetano Veloso, Gal Costa e João Gilberto realizado pela extinta TV Tupi em 1971.

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Encontro histórico entre Caetano Veloso, Gal Costa e João Gilberto realizado pela extinta TV Tupi em 1971.
Em janeiro de 1971, durante o exílio em Londres Caetano recebe uma permissão dos militares para voltar ao Brasil para assistir à missa pelos quarenta anos de casamento de seus pais e para permanecer durante um mês no país, permissão esta, concedida através da intercessão de sua irmã Maria Bethânia junto aos militares. 
Quando chegou ao Brasil foi interrogado pelos militares, onde lhe foi solicitado que fizesse uma canção elogiando a rodovia transamazônica que estava em construção. Durante esse período de tempo Caetano foi forçado pelos militares a participar de programas de televisão como ‘O programa do Chacrinha” e “Som livre exportação” para transmitir ao povo brasileiro a ideia de que com ele se passava tudo bem e de que tudo estava “normal”.
Em agosto deste mesmo ano, Caetano voltou ao Brasil para participar de um encontro histórico onde, junto de sua velha amiga Gal Costa, encontraria uma de suas maiores inspirações: João Gilberto.
O programa foi dirigido por Fernando Faro e Álvaro Moya e produzido por Cyro Del Nero. Não há informações precisas, mas o provável idealizador do encontro foi Fernando Faro, pois durante sua carreira na televisão foi um grande promotor da música popular brasileira.
A noite foi histórica pois se tratava de uma lenda da música popular brasileira. João Gilberto por ser o pioneiro da bossa-nova é sinônimo de inovação, modernidade e originalidade. Essa capacidade de inovação inspirou Caetano “A gente não queria ficar fazendo sub-Bossa Nova depois do João e do Tom" (Songbook Caetano Veloso vol.1).
Uma curiosidade sobre joão Gilberto é que quando ele, junto de seu amigo Otávio Terceiro se dirigia para os estúdios da TV Tupi em São Paulo, foi interceptado por um patrulheiro militar que desconfiou dos dois. Otávio explicou que se tratava do cantor João Gilberto e que eles estavam indo gravar um programa de TV e portanto não podiam se atrasar. O patrulheiro pediu então, que João provasse que era músico, João pegou o violão e cantou um samba para o patrulheiro.
Os três no estúdio, e a emoção tomou conta de caetano e Gal por estarem diante do ídolo. Os dois que eram super fãs, conheciam todos os discos, todas as músicas,e já haviam estado pessoalmente com o ídolo em outra ocasião na Bahia, mas desta vez tinham sido convidados pelo próprio para participar do programa. Inclusive, Caetano recebeu uma ligação do próprio João dizendo: "É Deus quem está me pedindo para eu lhe chamar. Ouça bem: você vai saltar do avião no Rio, todas as pessoas vão sorrir para você. Você vai ver como o Brasil te ama", como transcreveu Caetano em seu livro Verdade Tropical.
De início cantaram juntos “Saudade da bahia” de Dorival caymmi e falaram sobre sua terra natal, uma vez que, os três são baianos. Gal sugere que os três cantem “coração vagabundo”de Caetano veloso. João Gilberto aprecia a ideia, mas diz que não sabe tocá-la. Gal encoraja caetano a tocar, ele fica tímido diante do ídolo, mas cede, proporcionando um momento muito raro onde João Gilberto é visto cantando sem estar tocando ao mesmo tempo.
O jornal “A folha” teve acesso às duas fitas de rolo que contém o áudio. O lado A contém as seguintes faixas:
1. VOCÊ JÁ FOI À BAHIA? (Dorival Caymmi) João Gilberto, Gal Costa e Caetano Veloso
2. LARGO DA LAPA (Marino Pinto/Wilson Batista) João Gilberto e Gal Costa
3. CORAÇÃO VAGABUNDO (Caetano Veloso) João Gilberto, Gal Costa e Caetano Veloso
E o lado B as seguintes:
1. SAUDADE DA BAHIA (Dorival Caymmi) João Gilberto, Gal Costa e Caetano Veloso
2. TRISTE BAHIA (Caetano Veloso sobre poema de Gregório de Matos) Caetano Veloso
3. SAUDOSISMO (Caetano Veloso) Caetano Veloso e Gal Costa
Nesta descrição feita pelo jornalista Ronaldo Evangelista numa matéria da revista Rolling Stone do ano de 2011 podemos observar o clima de emoção desse momento épico na carreira de Caetano:
“Para quebrar o gelo, de saída, cantam juntos por 15 minutos "Saudade da Bahia", de Dorival Caymmi, e falam sobre a terra natal. "Tive uma ideia genial, posso dar?", pergunta, de repente, Gal. "Pode, eu não tenho ideia nenhuma", responde Caetano, tímido. "De a gente - nós três - cantar 'Coração Vagabundo'", sugere ela. "Espetacular", anima-se o pai da bossa nova. "Mas eu tenho que aprender a harmonia." Caetano se emociona: "Não faça isso...", suspira. "Caetano sabe", encoraja Gal. "Caetano sabe? Então me mostra." Diante de João, Caetano hesita - "Tocar violão com você eu sempre acho um absurdo" -, mas cede. "Eu toco como eu fiz a música, faço assim", Caetano diz, antes de respirar fundo e começar: "Meu coração não se cansa de ter esperança de um dia ser tudo o que quer..."
Durante os intervalos eles joragam ping-pong e beberam coca-cola, ao contrário de caetano João Gilberto jogava muito bem. Outras personalidades da época como o poeta Augusto de Campos e o guitarrista Lanny Gordin, músico do show “fa-tal” estavam presentes para prestigiar o encontro.
O programa foi exibido, mas as fitas foram perdidas num incêndio na TV Tupi. Quanto ao áudio, ele teria seus melhores momentos lançados pela Honogram produzidos por Manuel Barenbein, que já havia dirigido as gravações dos discos tropicalistas. As gravações não puderam ser lançadas porque não obtiveram a aprovação de João Gilberto, pois uma das cláusulas do contrato dizia que se ele não aprovasse a qualidade do áudio as gravações não poderiam ser lançadas. O que foi uma lástima para o público e uma lacuna na carreira desses brilhantes artistas.
Para Caetano o encontro foi mais que emocionante, foi um marco de reconhecimento na sua carreira artística, um tipo de consagração, afinal tratava-se do pai da bossa-nova, um dos maiores produtos culturais de importação do Brasil. Esse encontro também significou um marco pessoal de resistência de caetano diante do regime militar que o reprimia, pois apesar da repressão sua expressão cultural continuava viva e aplaudida eles gostando ou não. Sem falar que o encontro foi capa de várias revistas a época.
Bibliografia
https://musica.uol.com.br/noticias/redacao/2012/07/17/caetano-veloso-relata-pressao-de-militares-por-apresentacoes-na-tv-globo-ao-retornar-do-exilio.htm
http://dicionariompb.com.br/caetano-veloso/dados-artisticos
https://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_Gilberto#1971_-_1979
http://cultura.estadao.com.br/noticias/musica,joao--caetano--gal-e-o-pingue-pongue,1878878
http://cultura.estadao.com.br/noticias/musica,encontro-de-joao-com-caetano-veloso-e-gal-costa-inedito,1878882
https://www.facebook.com/GalRecanto/posts/576831515783121
http://www.tudosobretv.com.br/histortv/depo/faro/
http://rollingstone.uol.com.br/edicao/58/gal-costa-caetano-veloso?page=4#imagem0
http://arteeplural.blogspot.com.br/2016/06/gravacao-do-historio-encontro-entre.html
http://galcostafatal.blogspot.com.br/2010/07/1971-especial-caetano-gal-e-joao.html
http://www.caetanoveloso.com.br/biografia/
https://filmow.com/especial-caetano-gal-costa-e-joao-gilberto-t122671/