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I. PROF. JOB FURTADO A. Oscilador Harmoˆnico O oscilado harmoˆnico esta´, por assim dizer, em praticamente todas as a´reas da f´ısica, emergindo desde o simples movimento de uma mola ate´ na dinaˆmica na˜o trivial de uma rede cristalina, fazendo- se ainda presente no que ha´ de mais fundamental em f´ısica de altas energias. Portanto, o estudo do oscilado harmoˆnico, mesmo em n´ıvel cla´ssico, e´ de suma importaˆncia. Antes de extrair as equac¸o˜es de movimento propriamente ditas, faremos uma breve considerac¸a˜o acerca do movimento oscilato´rio. Portanto, considere inicialmente uma part´ıcula restrita a um movimento oscilato´rio unidimensional. Supondo a existeˆncia de uma posic¸a˜o de equil´ıbrio esta´vel, designada por origem, se a part´ıcula e´ deslocada da origem, esta e´ forc¸ada a voltar para a sua posic¸a˜o inicial, mediante a ac¸a˜o de uma forc¸a restauradora F . Nos casos mais simples, F e´ uma func¸a˜o somente do deslocamento, isto e´, F = F (x). Supondo que F = F (x) e´ de classe C∞, podemos tomar a seguinte expansa˜o: F (x) = ∞∑ n=0 F (n)(x) n! |x=x0(x)n = F (x0) + x ( dF (x) dx ) x=0 + 1 2! x2 ( d2F (x) dx2 ) x=0 + · · · . (1) Obviamente F (x0) = F0 = F (0) e´ nulo, pois se F0 6= 0 a part´ıcula na˜o estaria em equil´ıbrio esta´vel na origem. Logo, em primeira aproximac¸a˜o, F (x) = x ( dF (x) dx ) x=0 . (2) Como a forc¸a F e´ restauradora, ( dF (x) dx ) x=0 < 0, (3) e ∃ k > 0 constante tal que ( dF (x) dx ) x=0 = −k, (4) logo, F (x) = −kx. Tal expressa˜o foi obtida empiricamente pelo f´ısico Robert Hooke, ficando conhecida como Lei de Hooke. Supondo que uma part´ıcula esteja submetida unicamente a ac¸a˜o da lei de Hooke, isto e´, sem nenhuma forc¸c¸a˜o ou resisteˆncia, temos, pela segunda lei de Newton que m d2x(t) dt2 = −kx ⇒ md 2x(t) dt2 + kx = 0. (5) 1 No entanto, tal abordagem e´ um tanto restritiva, em virtude disso consideraremos a priori um fator de resisteˆncia, um amortecimento, do tipo FA(x˙) = −bx˙, com b > 0 arbitra´rio, logo, pela segunda lei de Newton m d2x(t) dt2 = −kx− bdx(t) dt ⇒ d 2x(t) dt2 + b m dx(t) dt + k m x = 0. (6) A equac¸a˜o anterior e´ uma equac¸a˜o diferencial ordina´ria (EDO) de segunda ordem, linear e ho- mogeˆnea, que pode ser solucionada fazendo-se uso da equac¸a˜o caracter´ıstica, supondo que x(t) = ept e´ uma soluc¸a˜o, de modo que, substituindo esta soluc¸a˜o na equac¸a˜o (6), obtemos:( p2 + b m p+ k m ) ept = 0. (7) Como ept 6= 0 ∀ p, t ∈ R, temos que p2 + b m p+ k m = 0. (8) Devemos encontrar as soluc¸o˜es para p da equac¸a˜o caracter´ıstica acima. O delta de Bha´skara e´ enta˜o, ∆ = ( b m )2 − 4k m , ou ∆ = 1 m2 ( b2 − 4km) , (9) e portanto as soluc¸o˜es para p sa˜o: p1 = −b+√b2 − 4km 2m (10) p2 = −b−√b2 − 4km 2m . (11) Foi assumido anteriormente que x(t) = ept era soluc¸a˜o da EDO, na˜o obstante, pelo teorema da existeˆncia e unicidade, sabe-se que existe uma soluc¸a˜o geral x(t) u´nica, dada pela combinac¸a˜o linear de todas as soluc¸o˜es particulares, isto e´, x(t) = A1e p1t +A2e p2t (12) = A1 exp [( − b 2m + 1 2m √ b2 − 4km ) t ] +A2 exp [( − b 2m − 1 2m √ b2 − 4km ) t ] . (13) Com esta soluc¸a˜o avaliaremos alguns casos importantes. Caso b = 0 (sem amortecimento) Neste caso, temos que a soluc¸a˜o geral passa a ser escrita como x(t) = A1 exp [ 1 2m √−4kmt ] +A2 exp [ − 1 2m √−4kmt ] . (14) 2 Sendo k ,m > 0 e √−4km = i√4km, obtemos x(t) = A1 exp [ i √ k m t ] +A2 exp [ i √ k m t ] . (15) Aqui faremos a substituic¸a˜o ω0 = √ k/m, assim, x(t) = A1 exp(iω0t) +A2 exp(−iω0t), (16) sendo ω0 a frequeˆncia angular caracter´ıstica na auseˆncia de amortecimento. Faremos agora as seguintes considerac¸o˜es A1 = A 2 expiφ (17) A2 = A 2 exp−iφ (18) com A ∈ R e φ ∈ [0, 2pi]. Portanto, apo´s feitas as substituic¸o˜es, obtemos que x(t) = A cos(ω0t+ φ). (19) Percebe-se aqui eu a part´ıcula realiza, de fato, um movimento oscilato´rio, sendo regido por uma func¸a˜o T-perio´dica. Munidos da expressa˜o (19), pode-se calcular facilmente as energias cine´tica e potencial do sistema. T = 1 2 m(x˙)2 = 1 2 kA2 sin2(ω0t+ φ) (20) e V = 1 2 kx2 = 1 2 kA2 cos2(ω0t+ φ). (21) Nota-se claramente que a energia total do sistema e´ conservada, visto que, E = T + V = 1 2 kA2 (22) e´ independente do tempo, mantendo-se constante durante toda a trajeto´ria da part´ıcula. Caso b 6= 0 e b2 − 4km > 0 (sobreamortecido) Neste caso, a equac¸a˜o (13) passa a ser escrita como x(t) = A1e − b 2m t exp ( 1 2m √ b2 − 4kmt ) +A2e − b 2m t exp ( − 1 2m √ b2 − 4kmt ) , (23) 3 ou ainda como x(t) = e− b 2m t A1 exp √( b 2m )2 − k m t +A1 exp − √( b 2m )2 − k m t . (24) Neste ponto faremos as seguintes substituic¸o˜es β = b 2m (25a) ω20 = k m . (25b) Ficamos assim com: x(t) = e−βt ( A1e ω2t +A2e −ω2t) , (26) com ω2 = √ β2 − ω20. Observe que ω2 na˜o representa uma frequeˆncia angular, uma vez que o movimento na˜o e´ perio´dico. Como β2 − ω20 > 0, enta˜o β2 > ω20. Temos ainda que β = √ β2 >√ β2 − ω20. Caso b 6= 0 e b2 − 4km = 0(criticamente amortecido) Neste caso, no´s temos apenas uma soluc¸a˜o caracter´ıstica do sistema, que e´, p = −β. Sendo, portanto, x(t) = e−βt a soluc¸a˜o correspondente para x(t). Mostraremos agora que a outra soluc¸a˜o para a EDO e´, neste caso, dada por x(t) = te−βt. Para provar isto, basta computar as seguintes quantidades: x˙ = e−βt − βte−βt (27) x¨ = −2βe−βt + β2te−βt. (28) Substituindo estes resultados na equac¸a˜o (6), obtemos x¨+ 2βx˙+ ω20x = (ω 2 0 − β2)te−βt. (29) O lado esquerdo da equac¸a˜o anterior resultara´ em zero quando ω20 = β 2 que implica que b2 = 4km. Portanto, a soluc¸a˜o geral no caso em que b2 = 4km e´ do tipo: x(t) = (C1 + C2t)e −βt. (30) Caso b 6= 0 e b2 − 4km < 0(subamortecido) Para este caso, a equac¸a˜o (13) fica escrita como x(t) = e−βt [ A1 exp (√ β2 − ω20t ) +A2 exp ( − √ β2 − ω20t )] , (31) 4 mas como b2 − 4km < 0 ⇒ β2 − ω20 < 0, logo, x(t) = e−βt [ A1 exp ( i √ ω20 − β2t ) +A2 exp ( −i √ ω20 − β2t )] (32) = e−βt [ A1e iω1t +A2e −iω1t] , (33) sendo ω1 = ω 2 0 − β2 > 0. Note que o termo entre colchetes e´ semelhante ao caso solucionado para b = 0. Portanto podemos escrever x(t) como: x(t) = Ae−βt cos(ω1t+ φ). (34) Aqui nota-se que a amplitude ma´xima do oscilador amortecido diminui com o tempo por causa do fator e−βt, e o envolto´rio da curva versus tempo e´ fornecido por xen(t) = ±Ae−βt. (35) Note que os casos apresentados anteriormente sa˜o apenas os casos mais usuais no contexto cla´saco do oscilado harmoˆnico. Pode-se ainda estudar um oscilador harmoˆnico com um termo de forc¸ac¸a˜o. Neste caso, tem-se que combinar a soluc¸a˜o da equac¸a˜o homogeˆnea associada e a soluc¸a˜o particular da equac¸a˜o, e assim, torna-se poss´ıvel ver que existe uma frequeˆncia de ressonaˆncia caso a forc¸ac¸a˜o externa seja determinada por uma func¸a˜o perio´dica. O mesmo ocorre para o caso de oscilados acoplados, ou seja, ha´ uma frequeˆncia de ressonaˆncia associada ao sistema. Sa˜o conhecidas tambe´m as curvas de Lissajous, que aparecem no estudo de uma part´ıcula sujeita a um movimento oscilato´rio num plano bidimensional. 5
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