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André Fortuna Costa Bian Ribeiro Gustavo Henrique Monteiro de Almeida Jacqueline de Oliveira Catta Preta Vinicius Bernardes Silva A UTILIZAÇÃO DO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO NA GESTÃO DE PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS Monografia apresentada ao Curso de MBA em Gestão de Negócios da FEAD Minas – Centro de Gestão Empreendedora, como requisito parcial para obtenção do título de Especialista em Gestão de Negócios. Orientador: Dra. Patrícia Gazzoli Belo Horizonte FEAD – MINAS 2005 1 André Fortuna Costa Bian Ribeiro Gustavo Henrique Monteiro de Almeida Jacqueline de Oliveira Catta Preta Vinicius Bernardes Silva A UTILIZAÇÃO DO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO NA GESTÃO DE PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS Monografia apresentada ao Curso de MBA em Gestão de Negócios da FEAD Minas – Centro de Gestão Empreendedora, como requisito parcial para obtenção do título de Especialista em Gestão de Negócios. Orientador: Dra. Patrícia Gazzoli APROVADA em ____ de _______________________ de 2005 Prof. Dr. ______________________________ Belo Horizonte FEAD – MINAS 2005 2 DEDICATÓRIA Aos nossos pais, exemplo de determinação, coragem e confiança. Aos nossos companheiros, pelo amor, apoio e motivação para cumprirmos mais uma etapa em nossas vidas. Obrigado pela compreensão nos momentos em que estivemos ausentes. 3 AGRADECIMENTOS Agradecemos a todos que colaboraram para a realização deste trabalho. À Professora Patrícia Gazzoli, pela orientação, apoio e profissionalismo, que nos prestigiou com sua ajuda, incentivando desde o início com seus elogios ao tema e à condução do trabalho. À FEAD pelo material disponibilizado e à organização da disciplina. Aos amigos e familiares que nos incentivaram e nos apoiaram neste trabalho, quando perdíamos horas de sono e longos feriados e fins de semana. Aos empresários entrevistados na pesquisa, que tiveram a presteza e o interesse em ajudar e tornar nosso trabalho possível, dedicando horas na gravação da entrevista e atendendo às nossas dúvidas posteriores. Nosso muito obrigado... 4 EPÍGRAFE “Ser pequeno tem suas vantagens. Procure usar o seu tamanho a seu favor. Aposte na sua agilidade e na sua flexibilidade para alterar planos e produtos ou serviços. Concentre a sua atenção numa área específica. Torne-se um especialista no que faz. Tente entender as necessidades do seu consumidor, adapte-se ao seu estilo de vida. Comprometa-se com a qualidade do atendimento e com a oferta de serviços diferenciados. Tudo isso é fundamental....São ações que as grandes empresas não conseguem fazer porque estão mais distantes do mercado e pensam apenas em grandes volumes.” (Juracy Parente – FGV) 5 SUMÁRIO Página LISTA DE ILUSTRAÇÕES ............................................................................................ 8 RESUMO............................................................................................................................ 9 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 10 1.1 Contextualização e formulação do problema ....................................................... 11 1.2 Descrição do objetivo............................................................................................ 13 1.3 Justificativa da pesquisa ........................................................................................ 13 2 O PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO .......................................................... 15 2.1 Planejamento e Estratégia: conceito e evolução.................................................... 15 3 O PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO COMO FERRAMENTA DE COMPETITIVIDADE ..................................................................................................... 16 3.1 Metodologias que abordam o Planejamento Estratégico ...................................... 17 3.1.1 A Escola Empreendedora: leve-nos ao seu líder ................................................... 18 3.1.2 A Escola do Aprendizado: se na primeira vez não conseguir, tente de novo........ 19 3.1.3 A Escola Ambiental: tudo depende ....................................................................... 19 4 GESTÃO DE PEQUENAS EMPRESAS .......................................................... 20 4.1 Definição de uma pequena empresa...................................................................... 21 4.2 A sobrevivência das pequenas empresas............................................................... 22 4.3 Vantagens e desvantagens competitivas................................................................ 23 5 O PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO NA PEQUENA EMPRESA ........... 24 5.1 Os tipos de particularidades da pequena empresa e o planejamento estratégico .. 25 5.1.1 Particularidades comportamentais ........................................................................ 25 5.1.2 Particularidades estruturais ................................................................................... 25 6 5.1.3 Particularidades contextuais ................................................................................. 26 6 O PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO COMO FERRAMENTA DE GESTÃO E COMPETITIVIDADE NA PEQUENA EMPRESA................................. 27 7 LAN HOUSE........................................................................................................ 28 8 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ..................................................... 31 8.1 Entrevista semi-estruturada ................................................................................... 31 8.2 Estudo de caso ....................................................................................................... 32 9 APRESENTAÇÃO DOS DADOS COLETADOS............................................ 33 9.1 Lan House X.......................................................................................................... 34 9.1.1 Criação da empresa ............................................................................................... 35 9.1.2 Estrutura e planejamento inicial da empresa......................................................... 36 9.1.2.1 Definição do local de abertura e público alvo....................................................... 36 9.1.2.2 Definição da estrutura da empresa ....................................................................... 37 9.1.2.3 Definição dos produtos a serem oferecidos........................................................... 38 9.1.2.4 Definição do preço ................................................................................................ 39 9.1.3 Estratégias para funcionamento da empresa e análise do ambiente...................... 39 9.1.3.1 Estrutura organizacional e horário de funcionamento........................................... 39 9.1.3.2 Estratégias promocionais e de divulgação............................................................. 40 9.1.3.3 Consumidores em potencial .................................................................................. 41 9.1.3.4 Concorrentes em potencial ....................................................................................42 9.1.3.5 Poder de barganha dos fornecedores ..................................................................... 42 9.1.4 Investimentos efetuados pela empresa .................................................................. 44 9.1.5 Planos futuros ........................................................................................................ 45 9.1.6 Análise interna ...................................................................................................... 46 9.1.7 Análise externa ...................................................................................................... 47 9.2 Lan House Y.......................................................................................................... 48 9.2.1 A criação da empresa ............................................................................................ 49 9.2.2 A estrutura e planejamento inicial da empresa...................................................... 51 7 9.2.2.1 Análise inicial e definição do local de abertura .................................................... 51 9.2.2.2 Definição do público alvo ..................................................................................... 52 9.2.2.3 Definição de estrutura ........................................................................................... 52 9.2.2.4 Definição dos produtos a serem oferecidos........................................................... 53 9.2.2.5 Definição do preço ............................................................................................... 54 9.2.3 Estratégias de funcionamento da empresa............................................................. 54 9.2.3.1 Horário de funcionamento..................................................................................... 54 9.2.3.2 Estratégias promocionais e diferenciais ............................................................... 55 9.2.3.3 Estratégias de divulgação ...................................................................................... 56 9.2.3.4 Concorrentes em potencial .................................................................................... 56 9.2.3.5 Poder de barganha dos fornecedores ..................................................................... 57 9.2.4 O fechamento da empresa ..................................................................................... 57 10 ANÁLISE DOS DADOS COLETADOS........................................................... 62 11 CONCLUSÃO FINAL ....................................................................................... 66 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................... 69 8 LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração Página Tabela 1 Classificação das empresas segundo o número de funcionários.................. 21 Tabela 2 Classificação das empresas segundo o faturamento bruto anual ................. 21 Figura 1 Organograma da Lan House X .................................................................... 35 Figura 2 Organograma da Lan House Y .................................................................... 49 Quadro 1 Quadro comparativo entre as Lan Houses X e Y......................................... 59 9 RESUMO O planejamento estratégico é considerado uma ferramenta que permite um processo contínuo de interação da empresa com seu ambiente, permitindo estabelecer seus objetivos e identificar suas potencialidades, além de orientá-la no aproveitamento de todos os seus recursos disponíveis. Mas, as pequenas empresas pouco utilizam esta ferramenta, seja pela sua complexidade ou por suas características de gestão, apresentando, muitas vezes, ineficiência no processo estratégico. O principal objetivo desta pesquisa foi analisar a utilização do planejamento estratégico em pequenas e médias empresas, tomando como base duas empresas de Lan House, levando-se em conta suas particularidades e possíveis falhas no desenvolvimento de um planejamento estratégico efetivo. Faz-se necessário abordar o planejamento estratégico de forma menos complexo e formal, considerando as principais particularidades de gestão na pequena empresa. Nas empresas analisadas, os dirigentes criam uma visão estratégica, por meio de síntese e intuição, ao invés de formular estratégias deliberadas por meio de processos sistematizados e racionais. As ferramentas de planejamento estratégico não forma ignoradas, mas utilizadas de maneira bastante informal. As particularidades de uma pequena empresa e o entendimento dos elementos essenciais ao planejamento estratégico mostraram a dificuldade de se elaborar um planejamento que seja simples e apresente resultados satisfatórios. Palavras-chave: pequenas empresas, planejamento estratégico, particularidades de gestão, segmento em ascensão. 10 1- INTRODUÇÃO Para que uma empresa se torne competitiva no mercado globalizado, ela deve se aperfeiçoar continuamente, procurando adaptar seus processos e sua estrutura organizacional à nova realidade de constantes mudanças, que podem representar ameaças ou oportunidades para a empresa. O planejamento estratégico é uma importante ferramenta que auxilia uma empresa na tomada de decisão, a se antecipar às mudanças ou mesmo a se preparar para tal. Sua principal característica deve ser a flexibilidade para se ajustar face às necessidades do mercado. Apesar da importância crescente e dos avanços na sua aplicação para a tomada de decisões nas organizações, há um segmento no qual o uso do planejamento estratégico ainda é raro: o das pequenas empresas. Nota-se que as pequenas empresas apresentam grandes dificuldades no processo de elaboração de um planejamento estratégico e este contexto remete-nos à questão das particularidades deste segmento como o pequeno porte das empresas, falta de recursos para a contratação de profissionais para suprir a falta de conhecimento administrativo, excesso de tarefas operacionais no dia a dia do empresário, centralização de poder, entre outros. No Brasil, as pequenas empresas constituem um universo de aproximadamente 3,5 milhões de unidades, mobilizando um contingente estimado de 60 milhões de pessoas, entre empreendedores, suas famílias e funcionários, respondendo por 98% dos estabelecimentos industriais, comerciais e de serviços e praticamente 60% dos empregos urbanos (SEBRAE, 2004)1. No entanto, através de estatísticas do SEBRAE, pode-se verificar que 49,4% destas empresas morrem com até dois anos de existência. Em que o planejamento estratégico poderia contribuir para diminuir este percentual? Seria a falta de planejamento estratégico, um fator causador deste percentual tão alto? É o que pretendemos abordar através desta pesquisa. Diante do exposto, pergunta-se: O planejamento estratégico pode ser considerado uma ferramenta de competitividade e sucesso, considerando as particularidades das pequenas empresas? 1 http://www.biblioteca.sebrae.com.br/bte/bte.nsf/9A2916A2D7D88C4D03256EEE00489AB1/$File/NT0008E4CA.pdf 11 A partir da análise de utilização do planejamento estratégico por duas pequenas empresas de Lan House2, procuraremos identificar e analisar as particularidades da pequena empresa no processo estratégico e a eficiência na utilização desta ferramenta como diferencial competitivo e fator de sucesso. Além disso, tentaremosidentificar indícios de planejamento utilizados na criação das Lan House, segundo as peculiaridades que este segmento possui. Esperamos com isso contribuir para o aumento da competitividade das pequenas empresas. O texto será dividido em cinco partes principais que são: • o primeiro tópico aborda a contextualização e formulação do problema a ser pesquisado. • o segundo tópico descreve os objetivos desta pesquisa. • o terceiro tópico apresenta a importância do planejamento estratégico na pequena empresa. • o quarto tópico refere-se ao referencial teórico, onde são explanadas teorias e estudos dos principais autores sobre planejamento estratégico, planejamento estratégico nas pequenas empresas e as pequenas empresas em si. • o quinto tópico aborda os procedimentos mercadológicos que serão utilizados junto a duas pequenas empresas de Lan House. Espera-se estudar a aplicação do planejamento estratégico como fator de sucesso na pequena empresa, além das dificuldades de sua aplicação na gestão e as peculiaridades de sua implementação neste tipo de empresa. 1.1 - CONTEXTUALIZAÇÃO E FORMULAÇÃO DO PROBLEMA O processo do planejamento estratégico tem o intuito de definir um plano de ação de médio e longo prazo que leve em consideração acontecimentos passados e presentes como uma forma de “prever” o futuro dos ambientes internos e externos da empresa e planejar com eficácia as ações a serem tomadas para adaptar a empresa a seu ambiente ou para que este ambiente seja ajustado. Este planejamento serve como base para ações que devem ser realizadas no presente para que se atinjam os objetivos futuros. 2 Loja de jogos de computadores conectados em rede e na internet de banda larga, onde vários jogadores se divertem com as últimas novidades do ramo de jogos, todos conectados em um único ambiente virtual. 12 O processo do planejamento estratégico é uma maneira de conhecer melhor a empresa e avaliar o mercado, traçando estratégias que tornem a empresa mais competitiva e possibilitem a expansão do seu mercado. As pequenas empresas são extremamente sensíveis às mudanças na economia. A instabilidade da economia brasileira faz com que cada vez seja mais difícil se planejar para o futuro. As pequenas empresas, devido ao clima de incertezas em que vivem, têm uma grande dificuldade em realizar um planejamento estratégico. E, justamente, devido à fragilidade da pequena empresa o planejamento estratégico fosse tão útil. Mas, normalmente faltam a estas empresas pessoas com capacitação para fazer tal planejamento, fazendo com que as ações tomadas sejam, em grande parte, reações a mudanças no ambiente, ao invés de serem decisões pró-ativas. Segundo Corrêa e Prochno (1998) tais abordagens reativas consomem doses de esforço gerencial e recursos que deveriam ser utilizados para a gestão estratégica. Além disso, o planejamento estratégico praticamente não é utilizado pelas pequenas empresas, porque as metodologias existentes foram desenvolvidas para grandes empresas, e não levam em consideração as particularidades das pequenas empresas. No Brasil, as pequenas empresas constituem um universo de aproximadamente 4,63 milhões de unidades, mobilizando um contingente estimado de 60 milhões de pessoas, entre empreendedores, famílias e funcionários, respondendo por 99,2% dos estabelecimentos industriais, comerciais e de serviços e praticamente 56,1% dos empregos urbanos (SEBRAE, 2004)3. No entanto, através de estatísticas do SEBRAE (2004)4, pode-se verificar que 49,4% destas empresas morrem com até dois anos de existência. Em que o planejamento estratégico poderia contribuir para diminuir este percentual? Seria a falta de planejamento estratégico um fator causador deste percentual tão alto? É o que pretendemos abordar nesta pesquisa. Diante desta questão, pergunta-se: O planejamento estratégico pode ser considerado uma ferramenta de competitividade e sucesso, considerando as particularidades das pequenas empresas? 3 http://www.biblioteca.sebrae.com.br/bte/bte.nsf/9A2916A2D7D88C4D03256EEE00489AB1/$File/NT0008E4CA.pdf 4 http://www.biblioteca.sebrae.com.br/bte/bte.nsf/9A2916A2D7D88C4D03256EEE00489AB1/$File/NT0008E4CA.pdf 13 1.2 - DESCRIÇÃO DO OBJETIVO Tomaremos como objeto de estudo duas empresas de Lan House, uma com mais de três anos de funcionamento e outra que fechou antes de completar dois anos de existência. Estes dois exemplos serão utilizados como estudos de caso para nossa análise. O objetivo principal deste trabalho é analisar a utilização do planejamento estratégico em pequenas e médias empresas, tomando como base estas duas empresas de Lan House, levando-se em conta suas particularidades e possíveis falhas no desenvolvimento de um planejamento estratégico efetivo. As duas empresas serão avaliadas e comparadas, com o objetivo de associar as características de seu desenvolvimento com a utilização de um planejamento estratégico, mesmo que incipiente ou informal. Pretendemos assim identificar se a utilização de um planejamento estratégico efetivo poderia ter evitado o fechamento de uma das empresas estudadas ou mesmo permitir maior rentabilidade e lucratividade para as empresas consideradas. Como objetivos secundários podem-se apontar: • identificar as particularidades das pequenas empresas durante o processo de elaboração e execução do planejamento estratégico; • contribuir para o desenvolvimento de novas pesquisas sobre a importância do planejamento estratégico nas pequenas empresas. 1.3 - JUSTIFICATIVA DA PESQUISA Segundo Almeida (1994), as pequenas empresas são eficientes no seu dia a dia, mas ineficazes nas decisões estratégicas. O autor acredita que com o aumento da competitividade através da utilização de um planejamento estratégico eficiente, as pequenas empresas poderão até concorrer com as grandes organizações.. Diante disso, estudaremos este tema com o intuito de proporcionar uma orientação aos pequenos e médios empresários ou empreendedores que desejam utilizar os recursos da administração estratégica na gestão de suas empresas, além de avaliar a real eficácia de sua utilização. Pretendemos conciliar os estudos administrativos de estratégia às peculiaridades das pequenas empresas, o que constitui em uma área ainda pouco explorada. 14 Escolhemos este tema, também, para aprofundar o estudo científico da administração nas pequenas e médias empresas de entretenimento em jogos eletrônicos, que revela, presentemente, ser um mercado em ascensão, segundo a empresa de consultoria Lanhousing5. 5 http://www.lanhousing.com.br 15 2 – O PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO O planejamento estratégico é uma ferramenta de gestão muito utilizada e estudada nas organizações pelos principais autores de administração. Porém é raro que as pequenas empresas, tanto as que obtêm sucesso como as que fecham utilizarem tal ferramenta como instrumento de planejamento e de estratégia em sua gestão. Neste referencial teórico, iremos explicitar macro conceitos de planejamento estratégico, efetuando posteriormente um levantamento teórico das características da pequena empresa. Em seguida, exporemos a teoria existente sobre a aplicação do planejamento estratégico na pequena empresa e suas particularidades. Finalmente, disponibilizaremos informações sobre as empresas de Lan House, que serão utilizadas como estudos de caso para análise da efetiva utilizaçãodo planejamento estratégico nas pequenas empresas. Esperamos com este referencial embasar a pesquisa a ser realizada junto às duas pequenas empresas escolhidas para nosso estudo. 2.1 - PLANEJAMENTO E ESTRATÉGIA: CONCEITO E EVOLUÇÃO Para um melhor entendimento sobre o conceito de planejamento estratégico, é importante conhecer bem o que vem a ser planejamento e estratégia. Por definição, o planejamento significa o desenvolvimento de um projeto para a realização de objetivos e metas organizacionais, envolvendo a escolha de um caminho de ação, a decisão antecipada do que deve ser feito, a determinação de quando e como a ação deve ser realizada. A estratégia possui várias definições e, da mesma forma que para o planejamento, a maioria delas está relacionada às grandes organizações. Porém, alguns conceitos podem ser ajustados também dentro do contexto de pequenos empreendimentos. De acordo com Mintzberg et al. (2000), pode ser que não haja uma definição simples de estratégia, mas existem algumas áreas gerais de concordância a respeito da natureza da estratégia. Assim, a estratégia: • diz respeito tanto à organização como ao ambiente; • é complexa, pois mesmo considerando que as mudanças remetem a novas circunstâncias para a organização, a essência da organização deve permanecer 16 inalterada; • afeta uma organização em seu todo; • implica em questões de conteúdo e processo; • não são determinadas, elas podem diferir entre si; • existe em níveis diferentes na organização; • envolve vários aspectos conceituais e analíticos. Assim, pode-se considerar que a estratégia está relacionada à ligação da empresa ao seu ambiente interno e externo. Neste contexto, a empresa procura definir e operacionalizar ações que maximizem os resultados da interação estabelecida. 3– O PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO COMO FERRAMENTA DE COMPETITIVIDADE Um dos maiores obstáculos das empresas é prever as mudanças do mercado e se antecipar a elas. Diante deste constante nível de incerteza, cada vez mais as empresas se remetem à necessidade de terem um planejamento estratégico. De acordo com Tiffany & Peterson (1999), o planejamento estratégico é uma ferramenta que fornece à organização uma visão do futuro, aumentando a probabilidade de uma empresa aproveitar as oportunidades e explorar suas potencialidades. O planejamento estratégico implica numa visão do futuro, através da qual a empresa analisa o segmento de sua atuação, o mercado, os concorrentes, os produtos e serviços oferecidos, o valor a ser estipulado ao cliente, as vantagens a longo prazo e a lucratividade, entre outros aspectos. Para que uma organização olhe para o futuro, aproveite as oportunidades, se previna das ameaças e se mantenha ativa e próspera em um mercado é necessário que ela tenha um planejamento estratégico ativo, contínuo e criativo. Caso contrário, a administração desta empresa estará apenas reagindo ao seu ambiente. È importante ressaltar, porém, que o planejamento empresarial não se resume ao processo de planejamento estratégico, podendo ser definido como um conjunto de atividades de planejamento que se estendem a todos os níveis da empresa. Existem diversos tipos de planejamento, posicionados em diferentes níveis hierárquicos na organização, que podem ser classificados como o planejamento operacional que ocorre na administração de nível mais 17 baixo, o planejamento tático que é utilizado na administração de nível intermediário e o planejamento estratégico que é feito pela alta administração. 3.1 – METODOLOGIAS QUE ABORDAM O PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO De forma geral, o planejamento estratégico é realizado nas organizações através de uma metodologia. Existem diversas metodologias que abordam o processo do planejamento estratégico. Apesar da gama de informações sobre planejamento estratégico, nota–se que as abordagens e metodologias possuem muitos pontos em comuns e pequenas diferenças. De uma forma em geral, todos os autores possuem teorias que seguem uma trajetória de pensamento semelhante e pretendem alcançar os mesmos objetivos. Segundo Oliveira (1998), os pontos chaves que todas as metodologias apresentam são os seguintes: • direcionamento de esforços da organização; • consolidação do entendimento da missão, dos propósitos, da postura estratégica, dos objetivos gerais e funcionais, dos desafios, das metas, das políticas e projetos da empresa por todos os funcionários da organização; • elaboração do programa de atividades das várias unidades da organização que integram a sua estrutura; • estabelecimento de uma agenda de trabalho para um período de tempo que permita a empresa se dedicar às prioridades estabelecidas e justificar alterações em sua estratégia. Mas, o maior desafio está em construir um modelo que indique um futuro e seja flexível, para ser alterado de acordo com as condições do ambiente. Mintzberg et al. (2000) afirmam que a idéia de que o planejamento estratégico pode ser desenvolvido em um processo estruturado e formalizada é uma ilusão, pois o planejamento estratégico não é por si só um gerador de estratégias, não garante o seu sucesso, a sua implementação e o alcance dos objetivos pré-determinados. Desta forma, as empresas devem pensar em estratégia com algo que se desenvolve com o tempo, por meio de um objetivo claro que estimula e alavanca recursos. Somente assim é possível construir bases de competência que permitam sobreviver em mercados em constantes 18 transformações. Além disso, à medida que o processo de formação de estratégias engloba a participação de diversos agentes dentro e fora da organização, fica mais evidente como a responsabilidade de cada membro de uma organização pode exercer impacto na formação e implementação do planejamento estratégico. Mintzberg et al. (2000) devido aos diferentes significados e usos dados ao conceito de gestão estratégica, propôs a existência de dez escolas mais influentes, onde cada uma tem sua perspectiva única, focalizando um aspecto importante do processo estratégico: a escola do design, a escola do planejamento, a escola do posicionamento, a escola empreendedora que estuda como as estratégias são formuladas pelo empreendedor, a escola cognitiva, a escola do aprendizado, a escola do poder, a escola cultural, a escola ambiental e a escola configurativa. Aprofundaremos a análise de três escolas: 3.1.1 – A ESCOLA EMPREENDEDORA: LEVE-NOS AO SEU LÍDER Essa escola de pensamento estuda como as estratégias são formuladas pelo empreendedor, cuja figura é vista como a força motriz da organização que a criou ou a transformou. O processo empreendedor se inicia com uma imagem do negócio, das necessidades a serem satisfeitas, do público que se pretende atingir e, principalmente, da forma como se atenderá esse público e de qual será o caminho para o futuro. As estratégias concebidas pelos empreendedores são, muitas vezes, baseadas em sua intuição, julgamento pessoal, experiência, sabedoria e valores. Por isso, a estratégia empreendedora pode tanto levar em consideração princípios éticos e responsabilidade da empresa perante a sociedade quanto ser moralmente vazia, orientada apenas para o lucro em si. Isso depende muito do que se passa na mente do empreendedor, que é o estrategista, e da razão de ser que este vê para o empreendimento, se é apenas um investimento com vistas a retorno financeiro ou se tem uma missão maior. Suas premissas podem ser assim resumidas: • na mente do líder a estratégia existe como uma orientação de longo prazo, uma visão do futuro da organização; • o processo de concepção da estratégia é baseado na experiênciae na intuição do líder; • o líder promove a visão de forma decidida, controlando a sua implementação; 19 • a organização é flexível e a sua estrutura simples responde às diretivas do líder; • tende a assumir a forma de nicho e tem várias posições no mercado. 3.1.2- A ESCOLA DO APRENDIZADO: SE NA PRIMEIRA VEZ NÃO CONSEGUIR, TENTE DE NOVO A explicação para o fenômeno de as estratégias emergirem, segundo essa escola, reside na capacidade das pessoas em aprenderem a respeito de uma nova situação tanto quanto a capacidade da organização de lidar com ela. A formação de estratégia é vista como um processo incremental lógico e emergente, com a participação de diversos agentes envolvidos. À medida que as pessoas e as organizações vão vivenciando uma situação ou oportunidade, elas aprendem e novas estratégias vão emergindo. Esse processo pode estar tanto centrado na cúpula quanto disperso na hierarquia abaixo da organização. As premissas desta escola são baseadas: • na natureza complexa do mercado que exige que a criação estratégica assuma um caráter de aprendizagem constante; • todos aprendem, embora o líder seja, em sua maioria, o principal aprendiz; • iniciativas bem sucedidas podem se tornar estratégias emergentes; • o papel do líder é gerenciar o processo de aprendizagem; • as estratégias surgem como padrões inspirados no passado, só mais tarde como planos para o futuro. 3.1.3 – A ESCOLA AMBIENTAL: TUDO DEPENDE O ambiente é o agente central da formação estratégica, ou seja, as atitudes estratégicas de uma organização são respostas adaptativas a imposições ambientais, através de um processo reativo. Sendo assim, a consideração da responsabilidade social na formação de estratégias pode ser fruto de uma resposta a uma maior pressão do ambiente no sentido de cobrar da empresa o papel de fomentar o desenvolvimento e o bem-estar da sociedade na qual está inserida. As premissas desta escola podem ser assim resumidas: • O ambiente é o ator principal no processo de geração de estratégica; 20 • a organização deverá responder eficazmente a estas forças externas; • a liderança é a garantia de uma adaptação apropriada da estratégia ao ambiente externo; • as organizações que tomam posições isoladas e permanecem até que os recursos se esgotem tendem a se extinguirem. Assim, pode-se concluir que as escolas olham para o mesmo processo estratégico, cada uma à sua maneira. No entanto, é muito difícil encontrar qualquer uma das escolas em sua forma pura dentro de uma organização. Na realidade, as diferenças situam-se em termos de qual abordagem é preponderante em cada situação em que a empresa se encontra. Em conjunto, elas podem contribuir para que as organizações tenham uma visão mais globalizada da estratégica. Desse modo, as empresas devem formular e encarar suas estratégias com foco num processo incremental, onde um objetivo é resultado da habilidade de inúmeras decisões menores ao longo de um planejamento estratégico. “... A verdadeira estratégia tende a evoluir à medida que decisões internas e eventos externos fluem em conjunto para criar um novo e amplo consenso para ação entre os membros-chaves da equipe gerencial. Nas organizações bem dirigidas, os gerentes guiam pró – ativamente estas correntes de ações e eventos de forma incremental, na direção de estratégias conscientes...” (QUINN, 1980 apud MINTZBERG et. Al., 2000, p. 137) Porém, quando se trata de pequenas empresas algumas considerações devem ser feitas para melhor contextualizar o ambiente. 4 - GESTÃO DE PEQUENAS EMPRESAS Para a análise da utilização do planejamento estratégico empregado nas pequenas empresas, consideram-se os critérios de definição da pequena empresa, de forma a buscar maior assertividade direcionando o estudo proposto para as empresas desse porte. Esse fator é importante, pois as pequenas empresas possuem particularidades decorrentes de sua estrutura, formação e outros fatores que influenciam diretamente sua gestão e atuação no mercado. 21 4.1 – DEFINIÇÃO DE UMA PEQUENA EMPRESA A classificação das pequenas empresas é uma questão problemática, dada a diversidade de critérios, o tamanho das empresas e as suas condições econômicas e produtivas. No Brasil, vários critérios são utilizados por diferentes instituições públicas e privadas. O SEBRAE (2004)6 adota o critério estabelecido pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), que classifica as empresas segundo o número de funcionários combinado com o setor de atuação da empresa. Os critérios para definição do porte da empresa conforme número de funcionários e faturamento bruto anual, utilizados atualmente no Brasil, estão representados abaixo: Tabela 1: Classificação das empresas segundo o número de funcionários SETOR PORTE COMÉRCIO E SERVIÇOS (número de funcionários) INDÚSTRIA (número de funcionários) Microempresa até 09 até 19 Empresa de Pequeno Porte de 10 a 49 de 20 a 99 Empresa de Médio Porte de 50 a 99 de 100 a 499 Empresa de Grande Porte mais de 99 mais de 499 Fonte: SEBRAE (2004) Tabela 2: Classificação das empresas segundo o faturamento bruto anual PORTE FATURAMENTO BRUTO ANUAL Microempresa até R$ 244.000,00 Empresa de Pequeno Porte de R$ 244.000,00 a R$ 1.200.000,00 Fonte: SEBRAE (2004) Considerando estas dificuldades, Ducker (1981) alega que a estrutura administrativa, especialmente a estrutura da alta administração é o único critério de confiança para avaliar o 6 http://www.biblioteca.sebrae.com.br/bte/bte.nsf/9A2916A2D7D88C4D03256EEE00489AB1/$File/NT0008E4CA.pdf 22 tamanho de uma empresa, afirmando que uma empresa é do tamanho da estrutura administrativa que ela necessita. Acrescenta, ainda, que o maior problema das pequenas empresas é que, geralmente, são pequenas demais para manter a administração de que precisam. Os cargos de cúpula destas empresas exigem uma versatilidade maior que as posições correspondentes nas grandes organizações. Por fim, pode-se dizer que as empresas distinguem-se pelo tamanho, nicho de produto mercado e estágio de desenvolvimento. 4.2 – A SOBREVIVÊNCIA DAS PEQUENAS EMPRESAS Apesar do grau de importância econômica e social das pequenas empresas, a sua sobrevivência é uma questão constante em seu dia-a-dia. O panorama da sobrevivência das pequenas empresas pode ser definido pelas altas taxas de natalidade (abertura de novas empresas) versus as altas taxas de mortalidade (inatividade, fechamento ou falência). No primeiro trimestre de 2004, o SEBRAE (2004)7 promoveu a realização de uma pesquisa nacional, para a avaliação das taxas de mortalidade das micro e pequenas empresas brasileiras e identificação dos fatores causais da mortalidade. As taxas de mortalidade verificadas são: 49,4% para as empresas com até 2 anos de existência (2002); 56,4% para as empresas com até 3 anos de existência (2001) e 59,9% para as empresas com até 4 anos de existência (2000). Um dado relevante é a experiência anterior dos pequenos empresários que tiveram suas empresas extintas: 26% do total de entrevistados declararam ter começado os negócios sem nenhum conhecimento prévio do ramo em que se iniciou ou qualquer experiência em negócios, e 19% apontaram como referência para a própria experiência “alguém na família tinha um negócio similar”. Portanto, pode-se concluir que 45% dos empresários de empresas extintas não dispunham de experiência anterior direta no ramo. Essa condição não representa uma falha, pois sempre há muitos novos empresárioscomeçando pela primeira vez um negócio, mas ela indica a importância e a necessidade de apoio gerencial prévio à abertura de um novo empreendimento. Relativamente ao levantamento realizado sobre os fatores determinantes da mortalidade, foram avaliados os principais motivos que, na opinião dos empresários das 7 http://www.biblioteca.sebrae.com.br/bte/bte.nsf/9A2916A2D7D88C4D03256EEE00489AB1/$File/NT0008E4CA.pdf 23 empresas extintas, levaram as empresas ao encerramento das atividades. São eles: falta de capital de giro e o conseqüente descontrole de fluxo de caixa ou mesmo sua falta (42%), problemas financeiros com a situação de alto endividamento (21%), localização inadequada (8%) e falta de conhecimentos gerenciais (7%). Além disso, predominaram as causas econômicas conjunturais, como a falta de clientes (25%), maus pagadores (16%) e recessão econômica no País (14%), sendo que o fator “falta de clientes” pressupõe, também, falhas no planejamento inicial da empresa, como o não direcionamento de seus esforços de marketing ou, até mesmo, uma escolha errada de seu público-alvo. Outra causa indicada, em 14% de citações, refere-se à falta de crédito bancário (SEBRAE, 2004)8. Uma conclusão importante da pesquisa é que a mortalidade das pequenas empresas não pode ser atribuída a um único fator. Uma empresa encerra suas atividades devido a um conjunto de fatores que, combinados, podem aumentar ou reduzir o risco de seu fechamento. Segundo o SEBRAE (2004)9, para aumentar as chances de sobrevivência e sucesso de uma pequena empresa é necessário: • ter alguma experiência prévia no ramo de atividade da empresa; • analisar o mercado de atuação; • planejar suas atividades, principalmente em relação aos fornecedores, aspectos legais do negócio e qualificação de mão de obra disponível no mercado; • utilizar ferramentas básicas de administração, procurando aperfeiçoar seus produtos e serviços frente às necessidades dos clientes; • ter disponibilidade de capital. Assim, a partir dos diversos fatores apresentados pelas pesquisas do SEBRAE, pode-se afirmar que a mortalidade das empresas deve-se basicamente a certos fatores externos ou conjunturais e aos fatores internos de gestão. 4.3 – VANTAGENS E DESVANTAGENS COMPETITIVAS Competitividade pode ser definida como a capacidade que uma empresa tem de formular e implementar estratégias que lhe permitirão manter-se, de forma duradoura, em uma posição sustentável no mercado. O sucesso e o desenvolvimento de uma empresa dependem 8 http://www.biblioteca.sebrae.com.br/bte/bte.nsf/9A2916A2D7D88C4D03256EEE00489AB1/$File/NT0008E4CA.pdf 9 http://www.biblioteca.sebrae.com.br/bte/bte.nsf/9A2916A2D7D88C4D03256EEE00489AB1/$File/NT0008E4CA.pdf 24 de vários fatores internos e externos. Os fatores internos que influenciam a competitividade da empresa estão sob sua esfera da decisão e podem ser subdivididos em pontos fortes e pontos fracos. Em uma pequena empresa, os pontos fortes e fracos podem ser avaliados em relação à sua estrutura organizacional, cultura organizacional, postura estratégica, nível de tecnologia empregada, capacidade de inovação e criatividade, talento do empresário, capacidade de adaptação às flutuações de mercado, baixos custos indiretos, entre outros. Por outro lado, as empresas são geralmente afetadas na sua produtividade pela má aplicação (ou falta de aplicação) de recursos materiais e financeiros disponíveis, má utilização de técnicas gerenciais fundamentais, baixa dinâmica na utilização da mão de obra, ausência de qualidade e aspectos inovadores dos produtos. Já os fatores externos que exercem influência sobre a viabilidade ou crescimento da pequena empresa são as condições econômicas, estrutura de negócios, condições do mercado, problemas fiscais, comportamento dos clientes, fornecedores e força dos concorrentes. 5 – O PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO NA PEQUENA EMPRESA O planejamento estratégico pode auxiliar o pequeno empreendedor a se concentrar nos fatores-chave de sucesso da empresa e em suas prioridades proeminentes. Segundo Tiffany & Peterson (1998), a receita e o crescimento das pequenas empresas que possuem planos estratégicos são, em média, 50% superiores às empresas que não realizam algum tipo de planejamento. Além disso, é verificado que 80% dos problemas apresentados nas pequenas empresas são de natureza estratégica e apenas 20% resultam da insuficiência de recursos. Através de uma análise crítica, podemos notar que a grande questão para o aumento da competitividade e sobrevivência das pequenas empresas se relaciona à estratégia. Para avaliarmos o sucesso do planejamento nas pequenas empresas, será necessário observar algumas características que geralmente envolvem os seus processos, como a realidade das pequenas empresas, suas características e limitações ao planejamento. 25 5.1 - OS TIPOS DE PARTICULARIDADES DA PEQUENA EMPRESA E O PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO As pequenas empresas possuem algumas particularidades que influenciam na sua atuação e demandam um processo diferenciado de gestão e estratégia. É importante verificar a existência de diferentes particularidades entre diferentes empresas de porte pequeno. O processo de gestão deve considerar essas especificidades em cada contexto, já que elas podem ser os diferenciais competitivos da pequena empresa no seu mercado de atuação. 5.1.1 - PARTICULARIDADES COMPORTAMENTAIS As particularidades comportamentais estão relacionadas aos aspectos pessoais do pequeno empresário, refletindo seus valores, suas ambições, suas ideologias e sua visão. De forma geral, referem-se ao conservadorismo e individualismo, à centralização de poder, à tendência ao obsoletismo, à falta de habilidade na gestão do tempo, à utilização da improvisação em relação à ação planejada, ao imediatismo de resultado e ao desconhecimento da ferramenta (OLIVEIRA, 1994). Segundo Oliveira (1994) a grande maioria dos pequenos empresários desconhece as técnicas administrativas e, conseqüentemente, o processo de planejamento estratégico. Seu tempo é, normalmente, direcionado às tarefas do dia-a-dia, não se dedicando ao planejamento de longo e médio prazo. Devido à falta de estrutura (característica estrutural) que permita delegar responsabilidades e especializar atividades, o pequeno empresário centraliza poder e acaba por acumular várias funções. Assim, a gestão centralizadora do pequeno empresário é apresentada como um fator determinante no processo estratégico. 5.1.2 - PARTICULARIDADES ESTRUTURAIS As particularidades estruturais referem-se aos aspectos internos decorrentes da organização da pequena empresa. Entre as particularidades estruturais estão a informalidade das relações, a estrutura organizacional reduzida, a administração não-profissional, a falta de recursos e pessoal qualificado, a inadequação ou não utilização das técnicas gerenciais, a falta de comprometimento dos funcionários e, conseqüentemente, de planejamento. (ALMEIDA, 1994) 26 Nakamura & Escrivão Filho (1998) alegam que a informalidade decorrente de detalhes imprecisos pode causar transtornos na comunicação interna de metas e estratégias empresariais. Na maioria dos casos, o pequeno empresário não explicita as estratégias adotadas pela empresa aos demais funcionários, demonstrando um comportamento que enfatiza a subjetividade e intuição em detrimento da formalidade e racionalidade na gestão e tomada de decisões. Na pequena empresa, o planejamento deve ter a participação de todos os funcionários, pois o proprietário dificilmenteconsegue especificar em detalhes cada atividade executada na empresa. Além disso, cada funcionário poderia contribuir com mais idéias para a solução de problemas da empresa. 5.1.3 - PARTICULARIDADES CONTEXTUAIS As particularidades contextuais referem-se ao ambiente externo da pequena empresa e refletem no processo estratégico. São particularidades contextuais a carência de informação sobre a evolução do mercado e de seus produtos, a dificuldade de acesso a processos de treinamento gerencial e a dificuldade de acesso a fontes de financiamento para novos projetos (ALMEIDA, 1994). Ao pequeno empresário, mais do que recurso falta atitude em buscar informações do ambiente, demonstrando uma ausência de consciência da importância destas informações para a formulação de uma estratégia competitiva que permita o crescimento ou a sobrevivência de uma pequena empresa. Diante das particularidades mencionadas é importante avaliar técnicas e ferramentas de gestão estratégica que possam auxiliar as pequenas empresas a produzir melhores resultados gerenciais. Não são necessários, às pequenas empresas, procedimentos complicados nem técnicas sofisticadas, mas um bom planejamento estratégico que permita atuar sobre o ambiente externo. Suas particularidades podem influenciar sua forma de gestão e a maneira como as mudanças e inovações ocorrem. Faz-se necessário, elaborar um planejamento estratégico abrangente, mas, por sua vez, simples e que auxilie a pequena empresa a tornar-se mais competitiva. Assim sendo, mais relevante que a metodologia a ser utilizada em pequena empresa está o tratamento das 27 características e obstáculos presentes na pequena empresa. 6- O PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO COMO FERRAMENTA DE GESTÃO E COMPETITIVIDADE NA PEQUENA EMPRESA O planejamento estratégico nas pequenas empresas deve ser um processo contínuo de aprendizado, pois, com o tempo, os membros da organização compreenderão mais sobre suas capacidades e limitações, sobre ameaças e oportunidades de seu ambiente e sobre o próprio processo. À medida que for aumentando sua capacidade de elaboração do planejamento estratégico, o processo e os planos resultantes poderão ser mais sofisticados. A formulação de estratégias nas pequenas empresas é uma ferramenta simples e poderosa para melhorar a competitividade deste segmento, pois proporciona um aumento na produtividade, ao mesmo tempo em que as análises desenvolvidas possibilitam novos negócios. Por todas estas razões, é importante que os administradores das pequenas empresas percebam que o planejamento estratégico não precisa e nem deve ser caro, complexo, quantitativo ou mesmo muito formal, podendo ser realizado em escala modesta, com a participação de funcionários e concentrando-se apenas nos passos que interessam às necessidades de suas respectivas organizações. É sabido que todas as organizações desenvolvem, independentemente de seu porte, algum tipo de planejamento. No entanto, em vários casos, os planos estão presentes apenas na mente dos dirigentes enquanto, em outros, estão escritos e formalizados. Puderam-se constatar, através do estudo das referências utilizadas, algumas características da utilização do planejamento estratégico nas pequenas e médias empresas: • As metodologias existentes foram desenvolvidas para a grande empresa e a sua aplicação, na pequena empresa, não devem ser feitas apenas de forma simplificada, pois a pequena empresa comporta-se de forma diferente em relação à identificação de suas necessidades e o estabelecimento de estratégias. • Na pequena empresa, o processo de planejamento estratégico deve considerar suas especificidades, principalmente as características referentes ao pequeno empresário, caso contrário o processo não será contínuo, impossibilitando a obtenção dos resultados esperados. 28 Os autores Nakamura & Escrivão Filho (1998) e Almeida (1994) apresentam alguns elementos essenciais ao planejamento estratégico nas pequenas empresas, que são: • Participação de todos (proprietários, gerentes e supervisores) na definição de metas e objetivos; • Obtenção de todas as informações possíveis sobre os clientes; • Identificação e análise dos concorrentes; • Levantamento dos pontos fortes e fracos da empresa em relação às oportunidades e riscos; • Determinação das capacidades necessárias ao sucesso; • Relação de ações que a empresa pode desenvolver para agregar valor para o cliente; • Realização de um bom planejamento financeiro; • Elaboração de versões diferentes para o futuro da empresa. Diante das questões apresentadas sobre o planejamento estratégico nas pequenas empresas e dos elementos essenciais a um planejamento bem realizado, tem-se a dificuldade de aliar as limitações e particularidades da pequena empresa à realização de um planejamento estratégico que seja simples, apresente resultados práticos e a auxilie a tornar-se mais competitiva. Portanto, é totalmente relevante o estudo das características e dos obstáculos presentes no planejamento estratégico das pequenas empresas. Para aprofundarmos sobre a importância do planejamento estratégico em uma pequena empresa, utilizaremos como estudos de caso duas empresas de Lan House – uma em atividade há aproximadamente três anos e outra que encerrou suas operações com menos de dois anos de existência. Mas, primeiramente, é importante saber um pouco sobre o que é e como funciona uma Lan House. 7 - LAN HOUSE O conceito de Lan House foi difundido na Coréia em 1996 e chegou ao Brasil em 1998. Utilizando a moderna tecnologia como meio, uma Lan House (LAN significa rede local de computadores) está iniciando uma revolução na aérea de entretenimento, permitindo uma interação entre vários jogadores através de uma rede local de computador. 29 Fisicamente em uma loja encontram-se diversos computadores de última geração conectados em rede e na internet de banda larga. Sua estrutura caracteriza-se por um ambiente hi-tech, com ar condicionado e cadeiras ergonômicas, onde os clientes se divertem com as últimas novidades em jogos, conectados em um único ambiente virtual e acessando rapidamente a internet. Cada jogador pode jogar até contra todos os outros computadores da loja ao mesmo tempo. Em todas as Lan houses é necessária a utilização de um software que controla o acesso a todos os computadores da loja. Através deste aplicativo é possível também obter estatísticas de utilização, receita gerada por máquina e até mesmo é possível obter horários de maior e menor utilização dos equipamentos. Isto possibilita a extração de dados importantes para o gerenciamento do negócio e até mesmo para o planejamento estratégico da empresa no mercado, possibilitando, por exemplo, criar promoções nos horários de baixa utilização e redimensionamento da estrutura do negócio para atender aos picos de utilização. O público de uma Lan House é variado. À noite e de madrugada são os adultos que dominam o local para jogar, acessar a internet, consultar e-mails e entrar em salas de bate- papo. Durante o dia o público predominante é composto por jovens que têm preferência por serviços de jogos em rede. Diferente do passado, o negócio de jogos em rede é hoje bem mais profissional. Os clientes são todos cadastrados como associados da loja e, dependendo do seu desempenho podem até ser premiados com horas de diversão ou jogos originais. "O objetivo é criar uma comunidade. Aproximar os jogadores e atraí-los para nossa loja", comenta Fernando Leal, gerente da ClansBR10. Segundo o SEBRAE/MG (2004)11, uma Lan House pode ter um retorno bem significativo, visto o movimento diáriodos usuários. Mas ela exige um investimento pesado para sua abertura e manutenção. Metade do investimento vai para a aquisição de computadores e outros 30% para aquisição de software, não só de jogos como de sistemas operacionais. O retorno deste investimento é considerado como de médio prazo. O grande desafio do negócio está na atualização tecnológica. As empresas estão, constantemente, lançando novos títulos de jogos mais sofisticados, com a finalidade de atrair a 10 http://www.an.com.br/2003/ abr/01/0inf.htm 11 http://www.sebraemg.com.br/arquivos/pontopartida/Lan%20house.pdf 30 preferência dos apreciadores, exigindo assim computadores cada vez mais potentes. Segundo o SEBRAE/MG (2004)12, a receita de uma Lan house é proveniente essencialmente da locação de computadores para jogos em rede ou para navegação na WEB. Como fonte adicional, muitas lojas de Lan House oferecem também vendas de alimentos e bebidas não alcoólicas. Apesar de não haver uma lei que regulamenta as atividades de empresas de locação de máquinas e jogos de computadores em Belo Horizonte, verifica-se uma tendência para a profissionalização das Lan Houses seguindo algumas regras estabelecidas na Lei Municipal de São Paulo, em 2004. Todas as empresas que exploram esta atividade deverão ser registradas como contribuintes do ISS e possuir cadastro de todos os menores de 18 anos que freqüentam o local. Além disso, as Lan Houses deverão ter acesso para os portadores de deficiência física e fixar em local visível a classificação etária dos jogos. Com isso, a empresa a ser aberta para permitir o funcionamento de uma Lan House deve ser a de prestação de serviço de locação de produtos de informática no próprio local. É, também, necessária uma licença para venda de bebidas não-alcoólicas, lanches e produtos de software e hardware. A empresa poderá criar ambientes específicos para fumantes, mas não será permitido o acesso de menores de idade. Para a Lanhousing13, que presta consultoria para empresas de Lan House, neste momento estamos passando por um "boom" neste mais novo setor da economia. Há mais de 25 (vinte e cinco) mil casas na Coréia do Sul e 15 (quinze) mil nos EUA, no Brasil há pouco mais de 4(quatro) mil cyber cafés14 e Lan Houses. Ainda existe um público enorme para se explorar em todo país. 12 http://www.sebraemg.com.br/arquivos/pontopartida/Lan%20house.pdf 13 http://www.lanhousing.com.br 14 Estabelecimentos especializados simplesmente no fornecimento de serviços de acesso à Internet através de terminais de computadores, que estão disponíveis ao público, mediante o pagamento de um preço. 31 8 - PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS A metodologia de pesquisa utilizada nas duas empresas de Lan House foi dividida em duas etapas: entrevista semi-estruturada e estudo de caso. 8.1- ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA A entrevista foi realizada junto a um dos proprietários de cada empresa em questão, através de um questionário previamente escrito, e passado face a face com o entrevistado. Neste questionário foram levantados detalhes do planejamento estratégico utilizado pelas empresas e informações de planejamento que, eventualmente não foram documentadas. O questionário, baseado em ações de planejamento estratégico, foi semi-estruturado com o intuito de direcionar e focar no assunto tema da monografia, porém permitiu aos entrevistados abordarem outros temas pertinentes, obtendo-se informações além do que foi levantado pelo questionário. Foram abordados os seguintes tópicos na entrevista semi-estruturada: • surgimento da empresa e experiência dos proprietários; • abordagem sobre o plano de negócio: localização, estrutura da empresa, público alvo, tipos de produtos a serem oferecidos e fontes adicionais, preços e promoções, diferenciação em relação aos concorrentes e pesquisa do mercado; • dificuldades na implementação e gestão; • análise dos pontos fortes e fracos da empresa e ameaças e oportunidades em seu ambiente; • análise do mercado de Lan House em Belo Horizonte; • descrição sobre toda a trajetória da empresa. Como foram analisadas duas empresas que estão em situações diferentes, uma em atividade há aproximadamente três anos e outra que encerrou suas operações com menos de dois anos de existência, foi realizada uma pergunta específica para cada uma das empresas: • Empresa em atividade – Quais as estratégias que estão sendo utilizadas para que a empresa esteja sobrevivendo em um mercado altamente competitivo? Quais são seus planos para o futuro? 32 • Empresa extinta – Por que a empresa não sobreviveu? Mencione quais fatores que, em sua opinião foram relevantes, para o fechamento da empresa. 8.2- ESTUDO DE CASO A técnica de estudo de caso foi utilizada para que se pudesse analisar a situação das duas empresas. A primeira empresa funciona há três anos, e a segunda foi fechada com menos de dois anos de vida. Estas duas empresas foram avaliadas e comparadas, segundo os dados levantados, na tentativa de localizar pontos divergentes que foram fundamentais para o sucesso ou fracasso da empresa. O objetivo foi associar estes pontos divergentes com o planejamento estratégico e identificar se a sua utilização efetiva poderia ter evitado os prejuízos e fechamento da empresa extinta ou até mesmo permitir maior rentabilidade e lucratividade da empresa que ainda está em atividade. 33 9 - APRESENTAÇÃO DOS DADOS COLETADOS A importância do setor de serviços, atualmente, é demonstrada pela posição que ela ocupa na economia, seja na geração de empregos, na participação do Produto Interno Bruto ou nas alterações provocadas na economia brasileira e mundial. Considerando sua relevância sócio-econômica, é importante ressaltar que gerenciar serviços é muito diferente de gerenciar produtos. “Serviço é toda atividade ou benefício, essencialmente intangível, que uma parte pode oferecer à outra e que não resulte na posse de algum bem. Os serviços são, via de regra, intangíveis, inseparáveis, variáveis e perecíveis.” (KOTLER & ARMSTRONG, 1998, p.455) Segundo o SEBRAE (2004)15, 52% das pequenas empresas instaladas no Brasil concentram-se nas atividades de serviços, sendo que 61% destas empresas morrem com menos de dois anos de existência. Daí a importância de se utilizar um planejamento estratégico efetivo para que estas empresas mantenham-se ou, mesmo, aumentem a sua competitividade e rentabilidade. O setor de serviços a ser estudado é o segmento de entretenimento, aqui representado por duas Lan Houses, uma em funcionamento há mais de três anos e outra que encerrou as suas atividades com menos de dois anos de existência. Primeiramente, apresentaremos uma caracterização geral das empresas segundo informações coletadas durante a entrevista semi-estruturada com um dos proprietários de cada empresa. Em seguida, serão expostos todos aspectos levantados a partir do depoimento dos entrevistados nas duas empresas. Após a exposição dos dados, será feita uma análise comparativa das empresas, bem como apresentação de algumas recomendações para implantação ou melhoria no planejamento estratégico empregado na empresa em funcionamento, respeitando suas particularidades. Em relação à empresa extinta, faremos uma análise dos motivos que levaram ao fechamento da mesma antes de completar seus dois anos de vida e avaliaremos se um efetivo planejamento estratégico teria feita a empresa sobreviver.As empresas participantes deste estudo serão identificadas como Lan House X e Y, a fim de manter a confidencialidade do estudo. 15 http://www.biblioteca.sebrae.com.br/bte/bte.nsf/9A2916A2D7D88C4D03256EEE0089AB1/$File/NT0008E4CA.pdf 34 9.1 – LAN HOUSE X A Lan House X foi fundada em abril de 2001 por dois irmãos, com uma estrutura de 16 computadores conectados em rede. Sua capacidade, atualmente, é de 40 computadores todos ligados em rede 24 horas e com acesso em banda larga. Alguns equipamentos são altamente modernos com boas placas de vídeo e processadores. Além disso, tem-se um rateador de banda larga e acesso de rede sem fio que compartilha a banda larga para toda a Lan House. Sua receita é proveniente da locação de computadores para jogos em rede e navegação na WEB, venda de salgados e bebidas não alcoólicas e serviços de impressão e gravação de CD. Os jogos mais utilizados pela Lan House X são Counter Strike, Batterfield Vietan e Warcraft III. O faturamento anual da empresa foi de R$ 300 mil em 2004 e de R$ 200 mil em 2003 e 2002. Este aumento deu-se devido à ampliação da loja e crescimento na participação no mercado. Hoje, a Lan House X está instalada em uma loja com área de 300 m2 e possui 9 funcionários, sendo que 7 atuam em cargos operacionais. Um dos proprietários concentra a organização da empresa em suas mãos. Apresentando-se como polivalente, ele cuida da área administrativa, financeira, compras, recursos humanos, atendimento ao cliente, marketing e manutenção de hardware e software (programas instalados em cada computador). O outro proprietário fica responsável pela atualização e manutenção do software de gestão da Lan House, criado por ele mesmo. 35 Adminis- trativo Financeiro Compras Diretor 1 Atendimento ao cliente Recursos Humanos Marketing Manutenção Software Manutenção Hardware Diretor 2 Manutenção do software de gestão Operacio- nal Figura 1: Organograma da Lan House X Seu público alvo é, em sua maioria, composto por jovens adolescentes e adultos. A empresa é altamente competitiva e está entre as principais empresas no ramo de entretenimento. Seus principais concorrentes são as redes de franquias de Lan House, como a Monkey. De modo geral, os principais fornecedores da empresa são as distribuidoras de jogos e equipamentos. A competição entre elas é ainda modesta, já que se verifica a predominância de alguns jogos no mercado e uma baixa oferta de equipamentos a preços acessíveis. Por outro lado, a concorrência entre os fornecedores de bebidas e lanches é considerada bastante acirrada. 9.1.1 – CRIAÇÃO DA EMPRESA Segundo o proprietário entrevistado, a idéia de se criar uma empresa de jogos de entretenimento surgiu no final de 2000, quando o seu sócio fez uma viagem até São Paulo e 36 descobriu que naquele mercado já havia algumas empresas naquele segmento, considerado um “novo point” para os adolescentes entre 12 e 17 anos. Os dois proprietários já faziam o que aqueles jovens estavam fazendo desde 1997, informalmente, em casa. Segundo o proprietário, “por que não unir o útil ao agradável?”. Os dois proprietários já tinham uma grande experiência em jogos de computadores, sendo que um deles já era formado em Ciências da Computação. Além disso, verificou-se que as atividades necessárias para o funcionamento da empresa poderiam ser desempenhadas por eles mesmos, o que diminuiria bastante o custo operacional inicial. Após fazer um levantamento dos custos para a implantação de uma Lan House, o investimento veio através de “stakeholders” que acreditaram que aquele poderia ser um bom investimento, já que em São Paulo já se estava colhendo bons frutos. Ao ser questionado sobre quem e como foram localizados estes investidores, o proprietário apenas informou que são pessoas que tem relacionamentos pessoais com os dois proprietários. Para a abertura da empresa foram providenciados todos os procedimentos corretos e legais. Os sócios providenciaram toda a documentação necessária, inclusive o Alvará do Juizado Especial, específico para a exploração comercial de jogos em rede. Surgiu então em 2001, uma das primeiras Lan House de Belo Horizonte. Com uma estrutura de 16 computadores ligados em rede e com os jogos mais procurados pelos adolescentes, a Lan House X foi inaugurada em abril de 2001, em uma loja de aproximadamente 100m2, localizada na região central da Savassi. 9.1.2 – ESTRUTURA E PLANEJAMENTO INICIAL DA EMPRESA 9.1.2.1 – Definição do local de abertura e público alvo Segundo o proprietário, para a abertura da empresa foi feita uma análise de mercado muito informal, com visitas a algumas escolas, conversas informais com comerciantes locais e com alguns clientes em potencial. A escolha do local a ser instalada a Lan House foi baseada no público que se queria atingir. O seu sócio teve a oportunidade de visitar algumas Lan Houses em São Paulo e descobriu que suas instalações se localizavam, em sua maioria, próximas a grandes escolas. Foi exatamente o que foi feito. Verificou-se que na região da Savassi era possível atingir um 37 grande contingente de adolescente com faixa etária entre 12 e 17 anos, principal público-alvo das Lan Houses, pois ali se localizavam mais de dez escolas, entre públicas e particulares, gerando uma grande circulação diária de adolescentes nesta região. Constatou-se, também, que não havia nenhuma Lan House como qualquer outro tipo de estabelecimento de entretenimento para adolescentes. Além disso, segundo o proprietário, esta era uma região de pessoas com um poder aquisitivo maior, ou seja, os adolescentes estariam dispostos a pagar um preço diferenciado pelo serviço que seria oferecido. 9.1.2.2 – Definição da estrutura da empresa O dimensionamento da estrutura da empresa foi baseado através da análise de algumas estruturas de empresas que tinham pouco tempo de funcionamento em São Paulo e que foram visitadas por um dos proprietários. Foi detectado que uma estrutura de aproximadamente 16 computadores atenderia à demanda inicial, inclusive nos horários de maior circulação. Para efetuar a ligação dos computadores em rede era necessária também uma máquina servidora, onde estaria também instalado o software de gerenciamento da utilização dos computadores. Segundo o proprietário, cada computador com as configurações mínimas exigidas para o funcionamento dos jogos que se pretendia instalar custaria em torno de R$ 2.500,00, juntamente com o servidor. Além disso, foi preciso adquirir as licenças de software do sistema operacional, que custaram cerca de R$ 1.000,00 por máquina. Os jogos disponibilizados eram de gêneros variados e os mais populares, como o Counter Strike. Cada computador dispunha de uma média de 5 jogos diferentes instalados. O acesso à internet era feito por banda larga, utilizando o provedor Velox, e compartilhado entre os vários computadores. Para o funcionamento da loja foi necessária a compra de mesas, cadeiras do tipo presidente para maior conforto dos usuários, além da estrutura de bomboniere e lanchonete oferecida no local. Foi necessária, também, uma reforma na loja alugada (pintura, troca de piso, instalação de ar condicionado e iluminação). Segundo o entrevistado, foram gastos em torno de R$ 90.000,00 como investimento inicial na aquisição e montagem da estrutura da empresa. 38 9.1.2.3 – Definição dos produtos a serem oferecidosSegundo o proprietário, não se pode descartar que as Lan Houses cresceram basicamente com os jogos de computadores, mas hoje uma Lan House deve ser mais do que isso. Ela tem que seguir o conceito de uma loja de conveniência, oferecendo cada vez mais serviços com valor agregado como internet banda larga, lanchonete, serviço de escritório, terminal bancário, serviço de festas e aluguel do espaço para reuniões e treinamentos, entre outros. Atualmente, a Lan House X oferece os seguintes serviços: • jogos em rede; • acesso a internet; • office (Word, Excel, PowerPoint, Access); • lanchonete e bomboniere; • gravação de CD’s; • impressão. Um dos serviços que mais tem crescido é a procura por Office (Word, Excel, PowerPoint), tornando a Lan House uma boa ferramenta para que qualquer pessoa tenha contato com a tecnologia atual, principalmente porque a maioria dos usuários não tem interesse ou não podem desembolsar um valor muito alto para adquirir um computador. Outros serviços procurados são a gravação de CD e a impressão, oferecidos por um preço mais acessível do que nas copiadoras. Este tipo de serviço, em sua maior parte, não é feito na hora, já que o mesmo não é executado pelo usuário, mas por um funcionário da loja. Um diferencial que está sendo oferecido pela Lan House X e que tem dado certo é o aluguel da loja para festas de adolescentes, inclusive para menores de 12 anos que não podem entrar neste tipo de estabelecimento desacompanhados de um responsável. Segundo o proprietário, este serviço tem dado um grande retorno para a empresa. Eles alugam parte da loja ou a loja toda pelo tempo que o cliente quiser. O valor da hora cobrada, normalmente, é o dobro do preço da hora em horário normal. Além disso, os pais, se quiserem, podem contratar o buffet da loja. 39 9.1.2.4 – Definição do preço O preço dos serviços oferecidos pela Lan House X foi definido comparando-se os preços que estavam sendo praticados em São Paulo e aqueles cobrados pela primeira Lan House de Belo Horizonte instalada na região central. Foi detectado que o preço praticado em São Paulo era bem superior ao praticado na Lan House de Belo Horizonte, pelo fato do poder aquisitivo daquele público ser maior. Diante disso, optou-se por praticar um preço um pouco superior à primeira Lan House de Belo Horizonte, já que a Lan House X atenderia a um público diferenciado. O preço definido foi de R$ 2,50 a hora para a utilização da internet ou jogos em rede. Atualmente, o preço praticado pela empresa é de R$ 3,50 a hora para utilização de uma máquina. Segundo o proprietário, não foi feito nenhum estudo de período de payback e de lucratividade para a definição do preço. O único critério adotado para esta definição foi a concorrência com as demais Lan Houses, apesar de não haver ainda nenhuma loja instalada na região da Savassi. Segundo ele, se o preço fosse muito superior ao do concorrente, seus clientes potenciais poderiam preferir deslocar-se até ele. 9.1.3 – ESTRATÉGIAS PARA FUNCIONAMENTO DA EMPRESA E ANÁLISE DO AMBIENTE Após definidos todos os pontos para iniciar o funcionamento da loja, foram criadas algumas estratégias com o intuito de manter uma diferenciação de seus serviços em relação aos dos concorrentes que surgissem no segmento de entretenimento. Estas estratégias serão detalhadas abaixo, segundo informações do proprietário entrevistado da Lan House X. 9.1.3.1 – Estrutura organizacional e horário de funcionamento Quando a Lan House X iniciou suas atividades, o atendimento na loja era feito somente pelos dois proprietários, já que o funcionamento na loja era de 10:00 às 22:00 horas, o que se manteve por oito meses. Diante do aumento de usuários, os proprietários decidiram contratar duas funcionárias que ficariam responsáveis pelo atendimento dos usuários. Com a decisão de funcionar 24 horas nos finais de semana ( sexta-feira e sábado), a 40 empresa precisou contratar mais duas atendentes e um segurança noturno. Como as duas primeiras funcionárias já estavam treinadas, ficou decidido que as mesmas fariam o período noturno, não precisando da presença contínua de um dos proprietários. Com a ampliação da loja em 2004 e funcionamento 24 horas todos os dias, contrataram-se mais três funcionárias para atender a demanda criada. Durante todo o tempo de operação da empresa, o serviço de manutenção dos equipamentos (hardware e software) é feito por um dos proprietários. Além disso, ele acumula a função de gerenciar toda a empresa, tomando todas as decisões pertinentes a compras, investimentos, contratações, propaganda e atendimento ao cliente. A criação e manutenção do software de gerenciamento da empresa são de responsabilidade do outro proprietário, que tem uma empresa de consultoria na área de sistemas. Com este sistema as atendentes fazem o controle de acesso de todos os usuários. 9.1.3.2 - Estratégias promocionais e de divulgação Segundo o proprietário entrevistado, nunca foi feito qualquer tipo de promoção quanto à diferenciação de preço para os horários noturnos e de menor ocupação das máquinas. A empresa trabalha com um preço único, apesar de não considerar a situação ideal. Segundo ele, a Lan House utiliza somente uma promoção onde o cliente adquire 10 horas e ganha 1 hora adicional. Além disso, a empresa procura promover campeonatos individuais e entre clãs16, com freqüência, incentivando os adolescentes a virem jogar cada vez mais na loja, para “treinar”. Segundo o entrevistado, a empresa também faz a venda de pacotes pré-pagos, onde o cliente compra quantas horas quer jogar. Após o término do tempo, a máquina automaticamente bloqueia o acesso do usuário. Segundo ele, a venda do pacote pré-pago não é interessante para a empresa, já que o usuário limita o seu tempo de utilização. Entretanto é preciso ter este tipo de venda, já que a maioria de seus concorrentes a oferece. Um diferencial da empresa é em relação ao tempo de utilização do pacote pré-pago. Caso o cliente compre 2 horas e utilize somente 1:15 horas, ele fica com um crédito de 45 16 Equipe composta de dois ou mais jogadores que disputam com outras equipes através da rede, em campeonatos ou por diversão. 41 minutos a ser utilizado em outra oportunidade, o que não acontece na maioria de seus concorrentes. Em relação à divulgação da empresa quanto às novidades e promoções, nunca foi utilizado nenhum meio de comunicação voltado para o público não usuário deste tipo de serviço. A única forma de divulgação da empresa é o envio de informações e promoções para o mailing cadastrado, que atualmente está em torno de 16.000 e-mails. 9.1.3.3 – Consumidores em potencial Segundo o entrevistado, as pessoas tinham uma idéia que as Lan Houses eram apenas lojas de fliperamas modernos. Hoje elas encaram essas empresas como centros de inclusão digital que estão disponíveis a um custo muito baixo. O público predominante nas Lan Houses continua sendo o de adolescentes, em sua maioria do sexo masculino, com predominância entre os doze e dezessete anos. Mas ocorreu um aumento nítido na freqüência do público feminino neste ambiente. Verificou-se também um aumento significativo pela procura de serviços de internet e Office pelo público adulto, principalmente no período noturno, segundo informação do proprietário. Com relação ao atendimento oferecido aos clientes, o proprietário entrevistado fica presente, constantemente na loja, não deixando somente nas mãos das atendentes o contato com os clientes. Um feedback dos freqüentadores é muito importante para o negócio, pois
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