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Tipos Psicologicos e Identidade



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Resumo: no presente estudo, procura-se identificar os
tipos psicológicos em estudantes de cursos universitários e
verificar se há correlação entre os tipos psicológicos e as áreas
do conhecimento. Os resultados mostram o perfil do ‘novo’
estudante universitário, que busca uma escola particular que
não impõe grandes exigências de conhecimento.
Palavras-chave: tipos psicológicos, educação superior
ANTONIO WILSON PAGOTTI, NATÉRCIA GUIMARÃES GOMIDE
TIPOS PSICOLÓGICOS E ÁREASTIPOS PSICOLÓGICOS E ÁREASTIPOS PSICOLÓGICOS E ÁREASTIPOS PSICOLÓGICOS E ÁREASTIPOS PSICOLÓGICOS E ÁREAS
DO CONHECIMENTDO CONHECIMENTDO CONHECIMENTDO CONHECIMENTDO CONHECIMENTO:O:O:O:O: EM B EM B EM B EM B EM BUSCAUSCAUSCAUSCAUSCA
T rabalhos de Kleine (1977), Pimenta (1984), Pelettieret al. (1982), Rudio (1982), Bohoslavisky (1977),Penteado (1986), Luck (1992), Levenfus e Soares
DDDDDA IDENTIDA IDENTIDA IDENTIDA IDENTIDA IDENTIDADE ADE ADE ADE ADE VVVVVOCAOCAOCAOCAOCACIONCIONCIONCIONCIONALALALALAL
(2002) e Figueiredo (2003), através de metodologias e bases
teóricas variadas, apontam para o fato de o aluno estar pouco
preparado, no sentido da orientação vocacional/profissional,
para vivenciar um curso universitário.
É evidente que a escolha de uma profissão preocupa o
jovem. Essa escolha recebe a influência de variáveis internas
e externas ao indivíduo. As variáveis externas são muitas, dentre
as quais pode-se citar os modelos percebidos das profissões;
as influências diretas do meio em que o aluno vive, as oportu-
nidades de cursos que estão ao seu alcance, o mercado de tra-
balho. Nas variáveis internas pode-se destacar a identidade
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vocacional (BOHOSLAVSKY, 1977), que faz referência a uma
tendência, desejo, inclinação, predisposição ou dom do indivíduo
através das afinidades com conteúdos teóricos que indicam a pos-
sibilidade de realização em determinadas carreiras. E ainda a iden-
tidade ocupacional (BOHOSLAVSKY, 1977), que é a integração
das diferentes identificações que conduzem a pessoa a assumir um
determinado papel, que determinará o seu estilo de vida, baseando-
se num enquadramento teleológico. Bohoslavsky (1977, p. 55) res-
salta que. “A identidade ocupacional é um aspecto da identidade do
sujeito, parte de um sistema mais amplo que a compreende, é deter-
minada e determinante na relação com toda a personalidade.”
Ajudar o jovem na identificação das identidades vocacional
e ocupacional tem sido tarefa dos psicólogos educacionais, e al-
guns caminhos para essa identificação passam pela compreensão
dos “tipos psicológicos”.
Jung (1976), baseado nos estudos sobre o inconsciente e o
consciente, considerando o conceito de energia psíquica, desen-
volveu uma classificação dos tipos psíquicos. Jung deu atenção
especial ao modo como o indivíduo se orienta na relação com o
mundo e classificou os tipos gerais de disposição, as quais distin-
guem-se pela direção dada a seus interesses e ao movimento da
libido.
As atitudes definem o rumo tomado pela energia psíquica,
determinando o foco preferencial de atenção de uma pessoa, ou
seja, o mundo interno ou o mundo externo.
Jung (1976) destaca que há duas orientações psicológicas
básicas: a introversão, na qual o indivíduo é dominado pelo mun-
do interior, sendo que a pessoa com essas características centra-se
mais em idéias (para ir em busca do objeto, hesita, medita), sua
conduta é governada por valores subjetivos em assuntos essenci-
ais; tende a ser discreto no que faz. O outro pólo é a extroversão,
o indivíduo com essas características é dominado pelo mundo
exterior; centra-se predominantemente em pessoas e coisas do meio
externo (para ir em busca do objeto, mostra confiança, parte rápi-
do); a conduta é governada por ações objetivas em assuntos es-
senciais, tende a ser expansível e menos impressionável.
A partir das duas orientações básicas, Jung aprofundou suas
observações e concluiu que os indivíduos buscam adaptações. Para
ele, quatro são as funções adaptativas que promovem o reconhe-
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cimento do objeto e orientam a ação: sensação, pensamento, sen-
timento e intuição. Silveira (2004) destaca que:
A sensação constata a presença das coisas que nos cercam e
é responsável pela adaptação do indivíduo à realidade obje-
tiva. 0 pensamento esclarece o que significam os objetos.
Julga, classifica, discrimina uma coisa da outra. O sentimento
faz a estimativa dos objetos. Decide do valor que têm para
nós. Estabelece julgamentos como o pensamento, mas a sua
lógica é toda diferente. É a lógica do coração. A intuição é
uma percepção via inconsciente. É apreensão da atmosfera
onde se movem os objetos; de onde vêm e qual o possível curso
de seu desenvolvimento.
Todos possuímos as quatro funções, entretanto sempre uma
dentre elas se apresenta mais desenvolvida e mais conscien-
te que as três outras. Daí ser chamada função principal.
Cada indivíduo utiliza de preferência sua função principal,
pois, manejando-a, consegue melhores resultados na luta pela
existência.
Jung (1976) definiu as funções psíquicas em irracionais (sen-
sação intuição) e racionais (pensamento sentimento). A função
irracional é relativa à forma como se adquirem as informações,
para posteriormente a função racional avaliar as informações re-
cebidas e elaborar um julgamento, auxiliando na tomada de deci-
são com base nas informações recebidas.
No campo “irracional”, a sensação se refere à experiência
direta, visual, olfativa, auditiva, táctil e cinestésica. Organiza-se
concretamente na relação senso-perceptiva. A intuição refere-se a
conhecimentos construídos na experiência já vivida, mas orienta-
do para uma dinâmica interior de que decorre uma expressão que
se revela por “pressentimentos” e inspirações.
 No campo racional, o pensamento se caracteriza por critéri-
os objetivos, lógicos, que se orientam no sentido da verdade
realística construída pelos processos reflexivos, o seu contra-ponto
é o sentimento, que se caracteriza por uma postura centrada nas
emoções e faz a apreciação através de valores relativisados.
Em virtude de não se encontrar os tipos descritos em suas
formas puras, Jung (1976, p.168) atribui funções de caráter prin-
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cipal e secundário de acordo com o consciente e inconsciente,
sendo que, “todos os produtos de todas as funções podem ser
conscientes, mas referimo-nos à consciência de uma função não
só quando seu exercício obedece à vontade, mas também quando
o seu princípio determina a orientação da consciência”
Os estudos de Jung foram adaptados para diversas situações
psico-sociais. Zacharias (1995) e Kersey e Bates (1990), entre
outros, desenvolveram escalas para abordar de forma mais sim-
ples a complexidade do fenômeno “tipos psicológicos”. Moraes
(2002) procurou verificar a validação e precisão de uma escala
junguiana e desenvolveu uma escala a partir das experiências já
adquiridas. Entretanto, os estudos que têm tido maior impacto, tanto
no meio educacional como psico-social, são os trabalhos de Myers
e Myers (1997) e Keirsey e Bates (1990), que, seguindo os acha-
dos de Jung, ressaltaram a existência de uma escolha entre uma
atitude perceptiva e uma atitude julgadora, na forma como a pes-
soa lida com o mundo a sua volta. Para eles, existem 4 preferên-
cias no desenvolvimentohumano que determinarão a expressão
do comportamento do indivíduo, quais sejam: extroversão/
introversão; sensação/intuição; pensamento/sentimento; julgamen-
to/percepção. A combinação dessas preferências conduz a 16
subtipos psicológicos através da identificação de seus processos
dominantes. As escalas criadas a partir desses estudos, embora
sendo bastante simples, tiveram grande impacto nas áreas da psi-
cologia e da educação. Pagotti e Pagotti (2005, p. 95) apresentam
uma breve explicação.
As 16 combinações refletem as preferências de cada pessoa.
O primeiro foco de análise recai sobre as relações Extroversão
(E) ou Introversão (I); a Sensação (S), ou a Intuição (N);
Pensamento (Thinking) (T) ou Sentimento (Feling) (F); Jul-
gamento (J) ou Percepção (P).
O segundo foco de análise refere-se a combinação das esco-
lhas e indicam o tipo psicológico. Uma pessoa ISTJ caracte-
riza-se por ser realista judicativo destacando o mundo interior
(I); obtém informações através dos sentidos (S); usa o pensa-
mento com objetividade e eficiência para tomar decisões (T);
e relaciona-se com os indivíduos e instituições através do
julgamento (J).A pessoa com essa combinação tende a ser
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caracterizada como fria e pouco sensível O oposto pode ser
identificado como ENFP, extrovertido envolve-se com pes-
soas e acontecimentos (E); procura obter informações e com-
preender as motivações alheias (N); usa o sentimento para
tomar decisões (F); relaciona-se através da percepção(P).
Busca autenticidade tende a ser independente e otimista.
No presente estudo, procura-se identificar os diversos tipos
psicológicos em estudantes de cursos universitários de quatro
grandes áreas do saber: Ciências Biológicas e da Saúde; Exatas e
Tecnológicas; Jurídicas e Empresariais; Sociais e da Educação, e
verificar se há correlação entre os tipos psicológicos e as áreas e
cursos universitários e, a partir dos dados, refletir sobre a identi-
dade vocacional.
Foram investigados 775 alunos, do Centro Universitário do
Triângulo – Unitri – ingressantes através do exame vestibular do
primeiro semestre de 2000, de 17 cursos distribuídos nas áreas de:
Ciências Jurídicas e Empresariais; Exatas e Tecnológicas; Soci-
ais e da Educação; Biológicas e da Saúde.
O instrumento de pesquisa foi baseado no questionário ‘Clas-
sificador de Temperamentos’ de Keirsey e Bates (1990). A escala
original conta com 70 questões de dupla alternativa para resposta,
mas para esta pesquisa optou-se pela versão reduzida, com apenas
26 questões, que em pré teste demonstrou fidelidade de resultados.
O instrumento foi aplicado em sala de aula pelos professores
das respectivas turmas. Como o questionário é auto-explicativo,
só eventualmente foi necessária alguma explicação adicional.
A distribuição dos 775 alunos ingressantes nos 17 cursos
pesquisados foi a seguinte: Administração (66); Arquitetura (24);
Biologia (48); Computação (54); Contábeis (38); Direito (89);
Enfermagem (61);Farmácia (31); Fisioterapia (50); Geografia (15);
Jornalismo (31); Nutrição (45); Odontologia (63); Pedagogia (32);
Psicologia (24); Publicidade (64); Turismo (40).
Verifica-se uma distribuição desigual entre os cursos, com
baixa freqüência para o curso de Geografia e alta freqüência para
o curso de Direito, mas, concentrando-se os dados por área, as
desigualdades são amenizadas. No quadro nº 1 estão demonstra-
das as freqüências e porcentagens dos alunos, de acordo com as
áreas pesquisadas.
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Como se observa, há um equilíbrio relativo entre os grupos,
sendo que a área de Ciências Exatas e Tecnológicas, por ter menor
de alunos em suas turmas, apresenta a menor freqüência.
A partir da organização dos dados apresentados nos questio-
nários verificaram-se os tipos psicológicos mais frequentes. A
Tabela 2 mostra a distribuição.
A combinação dessas preferências conduz a 16 subtipos psi-
cológicos através da identificação de seus processos dominantes.
Com relação aos resultados obtidos da amostra total, observa-se
que o tipo ESTJ é o que apresenta maior incidência, com 25,92%
do total dos sujeitos, seguido do tipo ESFJ, com 17,53%. A dife-
renciação entre esses dois tipos psicológicos se dá em virtude da
forma de julgamento adotado pelo indivíduo. Myers e Myers (1997
p.23) destacam que
a diferença básica de julgamento surge da existência de duas
formas distintas e altamente contrastantes de chegar a con-
clusões. Um caminho é através do pensamento (T), ou seja,
por um processo lógico dirigido a uma descoberta impesso-
al. O outro através do sentimento (F), ou seja, pela aprecia-
ção – igualmente razoável à sua maneira – , que agrega às
coisas um valor subjetivo e pessoal.
Essa diferenciação concede aos indivíduos padrões próprios
de comportamento, sendo que o referencial do ‘pensamento’ é
predominantemente impessoal, pautando-se no ponto de vista da
verdade objetiva; enquanto que para o ‘sentimento’ o enfoque é
Tabela 1: Distribuição de Frequências e Porcentagens dos Alunos,
da acordo com as Áreas em que estão Matriculados
Áreas Freqüências Porcentagens
Saúde 274 35,36
Ciências Exatas e Tecnológicas 78 10,06
Ciências Jurídicas e Empresariais 193 24,90
Social e da Educação 230 29,68
 Total 775 100,00
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 Saúde Exatas Jurídicas Sociais
 Tipos Freq % Freq % Freq % Freq %
Tabela 2: Distribuição de Frequências e Porcentagens de 775
Alunos, Matriculados nas Quatro Áreas de Ensino de
Acordo com a Classificação que Obtiveram, em Rela-
ção aos Tipos Psicológicos
ESTJ 71 25,92 16 20,52 59 30,58 49 21,30
ESTP 29 10,58 07 8,98 18 9,33 29 12,61
ESFJ 48 17,53 13 16,67 17 8,81 29 12,61
ESFP 27 9,85 11 14,10 18 9,33 32 13,92
ENTJ 07 2,55 00 0,00 06 3,11 03 1,30
ENTP 02 0,73 03 3,85 06 3,11 10 4,35
ENFJ 08 2,92 02 2,56 04 2,07 09 3,91
ENFP 14 5,11 09 11,55 05 2,59 17 7,39
ISTJ 21 7,66 03 3,85 29 15,03 14 6,10
ISTP 05 1,82 02 2,56 06 3,11 10 4,35
ISFJ 16 5,84 04 5,14 09 4,66 09 3,91
ISFP 10 3,65 03 3,85 03 1,55 05 2,17
INTJ 02 0,73 01 1,25 04 2,07 00 0,00
INTP 02 0,73 02 2,56 03 1,55 03 1,30
INFJ 06 2,19 00 0,00 03 1,55 05 2,17
INFP 06 2,19 02 2,56 03 1,55 06 2,61
Total 274 100,00 78 100,00 193 100,00 230 100,00
pessoal, aumentando o grau de subjetividade do julgamento,
incidindo sob o ponto de vista de ser ou não agradável, através de
valores pessoais do sentimento.
Como se pode notar na Tabela 2, há o predomínio do tipo (E)
extroversão sobre o tipo (I) introversão. O Tabela 3 mostra os ti-
pos nas áreas.
Os dados mostram, comparando-se as diversas áreas, que os
alunos identificam-se predominantemente com o tipo extroverti-
do, independentemente do curso. Entre os extremos, temos o
máximo de 78,20% dos alunos da área de exatas e o mínimo de
68,92% dos alunos da área jurídica-empresarial. Entre os identi-
ficados com o tipo introvertido, temos o máximo de 31,08% para
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a área jurídica-empresarial e 21,80% para a área de exatas e
tecnológicas.
Tabela 3: Distribuição de Frequências e Porcentagens dos 775
Alunos, Matriculados nas Quatro Áreas de ensino, de
Acordo com a Classificação que Obtiveram, em Rela-
ção aos Perfis Psicológicos Extroversão e Introversão
 Saúde Exatas Jurídicas Sociais
 TiposFreq % Freq % Freq % Freq %
Extrover. 206 75,18 61 78,20 133 68,92 178 77,39
Introver. 68 24,82 17 21,80 60 31,08 52 22,61
 Total 274 00,00 78 100,00 193 100,00 230 100,00
A figura 1, a seguir, compara as características dos tipos,
variando-se apenas a extroversão e a introversão.
Figura 1: Distribuição gráfica dos sujeitos, destacando-se os tipos
extrovertido e introvertido
0
20
40
60
80
100
120
140
160
180
200
ST
J
ST
P SF
J
SF
P
NT
J
NT
P
NF
J
NF
P
Introvertido
Extrovertido
Legenda:
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Nota-se, na Figura 1, que há proximidade entre os tipos E
e I quando a variável intuição (N) está presente. Parece que o
tipo intuitivo (N) condiciona esta proximidade.
Outro fato merecedor de atenção é a similaridade entre a
linha dos extrovertidos com os introvertidos, quando as carac-
terísticas ‘STJ’ são dominantes, tanto para o tipo extrovertido
quanto para o introvertido, com uma diferenciação de incidên-
cia percentual. O tipo psicológico ‘ST’ (Sensação mais Pensa-
mento) é uma combinação “caracterizada pelos interesses,
valores, necessidades, hábitos de pensamento e traços, que sur-
gem da interação da forma preferida de encarar a vida com a
maneira preferida de julgar o que é percebido” (MYERS; MYERS,
1997, p. 25).
Sensação (S) seria função principal que define a forma
como o indivíduo adquire as informações, e o Pensamento (T),
a função secundária de como são tomadas as decisões. Desta
forma, o tipo psicológico ‘S’ (Sensação) trabalha com a reali-
dade imediata, sendo prático e realista, e o ‘T’ (pensamento) se
utiliza da lógica e da ordem, buscando prever as consequências
lógicas baseadas em fatos para tomar as suas decisões. Com
relação ao ‘J’ (julgamento) é a atitude adotada para lidar com
o mundo exterior, o que, no atual quadro, reflete que o tipo “ST’
vive de maneira planejada e ordenada, na tentativa de manter
o controle sobre a vida, sendo mais rígido, gostando de uma
certa previsão.
O segundo tipo psicológico mais frequente é o ‘SFJ’ que
se diferencia do primeiro em sua função secundária, quando
opta pelo ‘F’ (sentimento), concedendo uma dimensão mais
valorativa e subjetiva na tomada de decisões, tendo uma pers-
pectiva própria de avaliação e tomada de decisões.
Nas próximas tabelas há o detalhamento das funções se-
cundárias.
O que se pode notar é que, também nessa área, não há di-
ferenças relevantes entre os diversos cursos. Predomina a vi-
são centrada na Sensação (S), que corresponde a uma forma
prática e realista de trabalhar a realidade. Mesmo na área “so-
ciais/educação”, na qual se espera a subjetividade e a intuição
mais presentes, não se diferencia da área de exatas/tecnológicas,
onde se espera que a objetividade e a praticidade predominem.
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A Tabela 5 mostra a existência de equilíbrio entre as opções
pensamento (T) e sentimento (F). É interessante notar que a área
que mais expressou a sensibilidade valorativa e subjetiva, repre-
sentadas por (F), foi a Exatas/Tecnológica. Era esperado, a prin-
cípio, que seria mais freqüente nas áreas Sociais/Educação e da
Biológica/Saúde. A área Jurídica / Empresarial foi a que mais se
orientou para o Pensamento (T), que se utiliza da lógica e da or-
dem, buscando prever as consequências baseadas em fatos para
tomar decisões.
Tabela 4: Distribuição de Frequências e Porcentagens dos 775
Alunos, Matriculados nas Quatro Áreas de Ensino, de
Acordo com a Classificação que Obtiveram, em Rela-
ção aos Perfis Psicológicos Sensação e Intuição.
 Saúde Exatas Jurídicas Sociais
 Perfis Freq % Freq % Freq % Freq %
Sensação 227 82,85 59 75,64 159 82,38 177 76,95
Intuição 47 17,15 19 24,36 34 17,62 53 23,05
 Total 274 100,00 78 100,00 193 100,00 230 100,00
Tabela 5: Distribuição de Frequências e Porcentagens dos 775
Alunos, Matriculados nas Quatro Áreas de Ensino, de
acordo com a Classificação que Obtiveram, em Rela-
ção aos Perfis Psicológicos Pensamento e Sentimento
 Saúde Exatas Jurídicas Sociais
 Perfis Freq % Freq % Freq % Freq %
Pensam. 139 50,73 34 43,59 131 67,88 118 51,30
Sentim. 135 49,27 44 56,41 62 32,12 112 48,70
 Total 274 100,00 78 100,00 193 100,00 230 100,00
A Tabela 6 aponta para relevantes diferenças entre as áreas.
Os alunos das áreas Jurídica/Empresarial e Biológicas/Saúde se
orientam predominantemente pelo Julgamento (J), que
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corresponde à necessidade de planejar e organizar para tomar
decisões. Enquanto as áreas de Exatas/Tecnológicas e Socias/
Educação equilibram as relações Julgamento e Percepção.
Tabela 6: Distribuição de Frequências e Porcentagens dos 775
Alunos, Matriculados nas Quatro Áreas de Ensino, de
Acordo com a Classificação que Obtiveram, em Rela-
ção aos Perfis Psicológicos Julgamento e Percepção
 Saúde Exatas Jurídicas Sociais
 Perfis Freq % Freq % Freq % Freq %
Julgam. 179 65,33 39 50,00 131 67,88 118 51,30
Percepção 95 34,67 39 50,00 62 32,12 112 48,70
 Total 274 100,00 78 100,00 193 100,00 230 100,00
Com o objetivo de verificar a existência ou não de diferen-
ças significantes entre os resultados obtidos pelos quatro grupos
de alunos, com relação aos perfis psicológicos, foi aplicado o
teste não-paramétrico de Kruskal-Wallis (SIEGEL, 1975).
O nível de significância foi estabelecido em 0,05, em uma
prova bilateral. Os resultados estão demonstrados na Tabeka 7.
De acordo com os resultados demonstrados Na Tabela 7, fo-
ram encontradas diferenças significantes entre os quatro grupos
de alunos, somente com relação aos perfis ISTJ e INTJ.
Para localizar essas diferenças, foi aplicado o teste não-
paramétrico U de Mann-Whitney (SIEGEL, 1975), aos resulta-
dos dos quatro grupos, combinados dois a dois.
O nível de significância foi estabelecido em 0,05, em uma
prova bilateral. Os resultados estão demonstrados no quadro 8.
De acordo com os resultados demonstrados na Tabela 8, fo-
ram encontradas diferenças significativas entre os resultados ob-
tidos pelos alunos dos cursos Biológica/Saúde e Ciências
Jurídicas e Empresariais, tanto com relação ao perfil ISTJ quan-
to ao INTJ, sendo que, nos dois casos, os resultados obtidos pelos
alunos dos cursos de Ciências Jurídicas/Empresariais foram os
mais elevados.
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Tabela 7: Probabilidades Encontradas, Quando da Aplicação do
Teste de Kruskal-Wallis aos Resultados Obtidos pelos
Quatro Grupos de Alunos, com Relação aos Perfis Psi-
cológicos
Tabela 8: Probabilidades Encontradas, Quando da Aplicação do
Teste de Mann-Whitney aos Resultados Referentes aos
perfis ISTJ e INTJ, Obtidos pelos Alunos dos Quatro
Grupos
Perfis Probabilidades
 ESTJ 0,270
 ESTP 0,881
 ESFJ 0,481
 ESFP 0,896
 ENTJ 0,094
 ENTP 0,259
 ENFJ 0,986
 ENFP 0,377
 ISTJ 0,043*
 ISTP 0,732
 ISFJ 0,195
 ISFP 0,639
 INTJ 0,027*
 INTP 0,402
 INFJ 0,356
 INFP 1,000
Legenda: (*) p < 0,05.
Variáveis Analisadas Probabilidades
 ISTJ
 Saúde x Exatas 0,314
 Saúde x Jurídicas 0,019*
 Saúde x Sociais 0,333
 Exatas x Jurídicas 0,076
 Exatas x Sociais 0,606
 Jurídicas x Sociais 0,019*
INTJ
 Saúde x Exatas 0,693
 Saúde x Jurídicas 0,048*
 Saúde x Sociais 0,138
 Exatas x Jurídicas 0,197
 Exatasx Sociais 0,083
 Jurídicas x Sociais 0,005*
Legenda: (*) p < 0,05.
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Foram encontradas, também, diferenças significativas entre
os resultados obtidos pelos alunos dos cursos de Ciências Jurídi-
cas/Empresariais e de Sociais/Educação, tanto com relação ao
perfil ISTJ quanto INTJ, sendo que, nos dois casos, os resultados
obtidos pelos alunos dos cursos de Ciências Jurídicas/Empresari-
ais foram os mais elevados
A partir dos dados, pode-se concluir que predomina no meio
universitário o tipo extrovertido, no qual 77,4% dos sujeitos fo-
ram assim classificados. Um indivíduo dominado pelo mundo
exterior, centrado predominantemente em pessoas e coisas do meio
externo, cuja conduta é governada por ações objetivas, tendendo
a ser expansível e menos impressionável. Nesta tipologia é impor-
tante destacar a dominância dos tipo ES (extroversão-sensação),
com, 63,88% dos sujeitos, que corresponde a quem encara a vida
sempre observando e exigindo a estimulação dos sentidos, sendo
dependente do ambiente físico e enfatizando o “aqui e agora”.
Esse modelo foge ao estereótipo do universitário mais refle-
xivo, mais crítico, menos dependente do meio, mais autônomo,
que era comum há poucas décadas, com alunos saídos das univer-
sidades públicas, como indica o estudo de Pagotti e Pagotti (2001).
Esses dados mostram o perfil do “novo” estudante universitá-
rio, que busca uma escola particular, que não impõe grandes exi-
gências de conhecimentos no exame vestibular, ou processo seletivo,
como atualmente é chamado o processo avaliativo de ingresso no
ensino superior, que apresenta uma razoável flexibilidade docente
e que oferece conhecimentos voltados mais para a dimensão técni-
ca que teórica. Este perfil parece adequado à filosofia comum das
Instituições de Ensino Superior Privadas, “preparar para o merca-
do”, mas que também se reflete nas avaliações nacionais, quando se
comparam as instituições públicas e privadas.
Como natural mecanismo de adaptação ao meio, o sujeito ten-
de a ajustar-se ao contexto e, se as características dos alunos forem
favoráveis ao modelo adaptativo, melhor a sua inserção no merca-
do. Em termos de educação isto significa dizer que se as atividades
educacionais enfatizarem a identidade ocupacional, estarão “ajus-
tando” a relação sujeito-contexto ao mercado de trabalho.
De outra parte, os tipos introvertidos, que se caracterizam por
indivíduos dominados pelo mundo interior, centrados mais nas
idéias, governados por valores subjetivos, tendendo a ser discre-
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tos no que fazem em assuntos essenciais, representam minoria no
meio universitário, 22,6%. Porém, aqui há um dado relevante:
apesar da introversão, predomina como segunda característica a
sensação (S), que aponta para o sujeito introspectivo mas depen-
dente do meio, o que ainda corresponde à característica da exi-
gência externa, da escola que forma para a profissionalização.
Nos tipos ISTJ e INTJ foram encontradas diferenças estatis-
ticamente significativas quando comparados os quatro grupos. Nas
áreas Jurídicas/Empresariais e Biológica/Saúde, os tipos secun-
dários Pensamento – Julgamento (TJ), participaram decisivamente
dessa diferenciação.
Ao que parece, com a população de estudantes universitários
iniciantes em cursos de graduação de uma instituição de ensino
particular, a determinação do meio, as exigências sociais e as
exigências auto-impostas, não permitem muita reflexão sobre a
identidade vocacional. Esses dados caminham na mesma direção
dos obtidos por Duarte (2002), ao pesquisar o estudante noturno.
Em síntese, o sonho ou uma ilusão persegue a grande parte da
população que vai à escola, fazer um curso superior. O estudante,
na medida em que vai superando os degraus educacionais, vai
redimensionando o seu sonho.
Se sua condição financeira é limitada, seu horizonte também
se limita e exige dele maior dedicação, esforço e trabalho. Se reside
na periferia de uma grande cidade e faz o ensino médio em escola
pública, terá limitadas possibilidades de ser aprovado nos vestibu-
lares mais concorridos. Se precisa trabalhar para sobreviver, as
chances são remotas para ingressar nos cursos da universidades
públicas, pois, normalmente, eles funcionam durante o dia e muitos
são em período integral. Se, além disso, o estudante morar numa
cidade de pequeno ou médio porte, no interior do país, tiver estuda-
do em escola pública, não pertencer a uma família abastada, preci-
sar trabalhar durante o dia, sua chance de cursar uma universidade
na profissão de sua escolha vocacional é quase “ganhar na loteria”.
Nesse caso, o que fazer com o sonho? Transformá-lo em re-
alidade possível? Neste sentido, a identidade vocacional será
mascarada pela realidade social, as exigências técnicas e de mer-
cado superarão as concepções “idealizadas”.
 Este estudo levanta pontos de reflexão para as atividades de
formação do estudante universitário, seu tipo psicológico (estilo
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de aprendizagem), sua identidade vocacional e instiga a pensar no
melhor perfil profissional para que se possa usar o potencial do
aluno a favor do aluno, da profissão e da sociedade, mais do que
modelá-lo para atender a uma expectativa de mercado para o exer-
cício profissional. É fundamental ampliar-se a atenção à identida-
de vocacional para construir-se uma nova identidade profissional..
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ZACHARIAS, J. J. M. Os tipos humanos.São Paulo. Paulus, 1995.
Abstract: the present study intends to identify the psychological
types in students of university courses, and verify if there is a
correlation between the psychological types and areas of
knowledge. The data show the profile of the “new” university
student; which searches a private school that doesn’t impose great
demands of knowledge.
Key words: psychological types, Higher Education
ANTONIO WILSON PAGOTTI
Doutor em Psicologia da Educação pela Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo. Professor no Programa de Pós-Graduação em Educação do Centro
Universitário do Triângulo. E-mail: apagotti@terra.com.br.
NATÉRCIA GUIMARÃES GOMIDE
Mestre em Administração de Empresa pelo Centro Universitário do Triângulo.
Professora no Curso de Administração de Empresas do Centro Universitário do
Triângulo. E-mail: natercia@uber.com.br.